razão
#3 3 03#2008 03 2008
emoção prazer
devaneio
CAROL DA RIVA
Aprecie sem nenhuma moderação
CAROL DA RIVA
Chegue mais perto!
expediente Eurobike magazine é uma publicação do Grupo Eurobike de concessionárias BMW, Land Rover, Porsche e Volvo. Av. Wladimir Meirelles Ferreira, 1600 14021-630 - Ribeirão Preto - SP Tel.: (16) 3965-7000 www.eurobike.com.br Editorial: Heloisa C. M. Vasconcellos, Eduardo Rocha Direção de arte: Eduardo Rocha Coordenação e Produção gráfica: Heloisa C. M. Vasconcellos Administração: Patricia Miller Comercial: Guilherme Araujo Produção: R&M Editora Tiragem desta edição: 5500 exemplares Impressão: Gráfica Bandeirantes Distribuição: Eurobike Proibida a reprodução, total ou parcial, de textos e fotografias sem autorização da Eurobike. As matérias assinadas não expressam, necessariamente, a opinião da revista.
colaboradores
Carol da Riva, Eduardo Petta, Edu Simões, Lalo de Almeida, Lucas di Grassi, Patrícia Cornils, Percy Faro, Sérgio Chvaicer e Victor Rebouças Foto da capa: Sérgio Chvaicer
www.rmeditora.com.br 4 . Eurobike magazine
carta do editor
Caro leitor, Neste terceiro número da Eurobike magazine, voltamos um pouquinho no tempo para lembrar vinte anos de BMW M3. Apaixonados que somos, queremos dividir com você nossa emoção ao rever essas preciosidades, lado a lado com o mais novo lançamento da BMW: o M3 2008, um show à parte. Também gostaríamos de contar que Eurobike agora é um Grupo, que, além das concessionárias Eurobike BMW, Land Rover, Porsche e Volvo, congrega as concessionárias Toyota Viscaya, em Ribeirão Preto, e Audi One, em Campinas, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. Este crescimento, acreditamos, é fruto de muito esforço e da incansável busca pela qualidade dos nossos serviços. E por esta parceria agradecemos aos nossos clientes e amigos. Um grande abraço, Henry Visconde Diretor Presidente magazine@eurobike.com.br
Eurobike magazine . 5
#3 03 2008
10. razão 12. Júlio Bierrenbach 17. Os vários caminhos para o carro “limpo”
18. Lounge Summer no Rio Grande do Sul
6 . Eurobike magazine
20. emoção 22. Vinte anos de BMW M3
38. Perfil BMW M3 40. Expedicionários 42. Karol Gehlen testa o Volvo C30
46. prazer 48. Cachaça Duplo Ouro
58. devaneio 60. No caminho das nuvens
Eurobike magazine . 7
EDU SIMĂ•ES
10 . Eurobike magazine
razão
Dar razão ao espírito – uma questão de liberdade
Eurobike magazine . 11
raz達o
12 . Eurobike magazine
Há luz no fim do túnel! Júlio Bierrenbach, o executivo bem-sucedido a serviço da cultura da paz POR VICTOR REBOUÇAS | FOTOS EDU SIMÕES
No sistema solar, a maior parte dos seres vi-
história, pelas quais muitos tombaram sob
vos sente natural atração pela luz e por tudo
a crença de que assim se produziriam me-
o que é luminoso, pois nada poderia ser mais
lhores condições de viver, passou-se à explo-
atraente. Iluminar-se se torna vital!
ração dos recursos naturais do planeta, de
No caso dos animais irracionais que vivem
forma que a idéia de conquistar, criar valores
sobre a terra, a simples presença da lumi-
e acumular riquezas iluminou-nos por com-
nosidade e do calor que o sol oferece satis-
pleto. Mas o que isso tem a ver de fato com
faz plenamente. E é fácil perceber isso obser-
o destino do homem que precisa evoluir?
vando os hábitos e costumes de quase todos os bichos. Ficar deitado no solo recebendo
Lembro que, certa vez, ao receber flores em
o delicioso carinho dos raios solares parece
um aniversário, o cartão enviado pelo amigo
que é o bastante para que possa executar
Júlio Xavier dizia mais ou menos o seguinte:
suas principais tarefas de proteção, procriação, defesa... por toda uma existência.
“Se nada podemos fazer para garantir
Mas e o homem, contenta-se apenas em
o
iluminar-se sob o sol?
a oportunidade que temos para fazer tudo
Parece que não, pois sua capacidade de
o que pudermos pela sua profundidade...”
comprimento
da
vida,
aproveitemos
racionalizar, raciocinar ou transcender e ir além apresenta infinitas outras maneiras para
Foi definitiva prova de luz, um pensamento
que ele possa buscar seus objetivos naquilo
para a reflexão sobre a dimensão da vida
que o faz sentir-se iluminado.
que queremos e podemos ter, além do con-
Pode-se encarar as missões sob o domínio
vite generoso para buscar cada vez mais co-
do valor material, cartesiano e quantificável,
nhecimentos, novas experiências, e outras
ou transitar pelo espiritual, genuinamente im-
formas de produzir claridade.
ponderável. Aspectos tão distintos entre si, mas que fazem parte de um mesmo todo.
Mais recentemente outro Júlio, profissio-
Entre o trabalhar com firmeza para agir
nal do alto escalão do mercado financeiro,
com certa liberdade no mundo dos bens de
a quem tive oportunidade de conhecer em
consumo ou investir no acesso a campos
uma pequena entrevista sobre a sua radical
mais interiores e espirituais, determinada
mudança profissional, fez-me ouvir uma co-
a encontrar a paz, segue a humanidade em
locação muito interessante sobre a arte de
busca de sua realização.
caminhar na direção daquilo que esclarece
Das conquistas territoriais ao longo da
a própria vida, dizendo o seguinte: Eurobike magazine . 13
razão
E é esta a instituição que começa a ser ad-
que estava em pauta, ao mesmo tempo em
ministrada pelas mãos de Júlio Bierrenbach,
que nos oferece um posicionamento tão es-
“Minha carreira de presidente da Real Se-
que pretende, segundo diz, devolver com
tratégico quanto moderno na arte de admi-
guros atingiu o máximo e o mais espetacu-
trabalho e dedicação um pouco do que a As-
nistrar empresas:
lar dos lugares a que eu poderia aspirar ou
sociação lhe proporcionou durante os anos
desejar. A partir dali, para ir em frente e con-
em que atuou como aluno nos diversos cur-
“Infelizmente a maioria das lideranças das
tinuar crescendo, não havia alternativa me-
sos freqüentados.
entidades e empresas procura a semelhança nas pessoas com as quais vão interagir. Pro-
lhor disponível do que aceitar o convite para gerenciar a Associação Palas Athena...
Diante de sua objetiva colocação, ficou fa-
curar entre os pares de uma diretoria aquelas
O que pode ser mais importante para a so-
cilitada a compreensão das principais razões
pessoas que fazem a imagem e semelhança
ciedade brasileira do que viabilizar a econo-
que o levaram a este caminho, deixando em
da liderança é de uma miopia determinante
mia e a administração de uma associação de
um outro patamar a força e o poder de insti-
e de uma ignorância total das bases susten-
estudos filosóficos e da difusão das culturas
tuições como Bradesco, Sul América Se-
táveis para que uma estrutura possa crescer
da paz? É sem dúvida um desafio maravi-
guros e Banco Real, órgãos nos quais tra-
saudável e flexível...”
lhoso!”
balhou e comandou. Foi de saída que posicionou seu objetivo:
Após fazer a declaração sobre a diversidade, percebi um Júlio bastante mais presente
Em apenas dois homens, dois Júlios, pude encontrar os sinais evidentes de que pode-
“Vim devolver à Palas Athena, com minhas
e cuidadoso no uso de suas expressões
mos sempre ir além e fazer melhor pela
experiências, um pouco do que recebi dela
e conceitos, e pude contemplar então uma
busca da nossa realização, que agrega va-
nestes últimos oito anos como aluno. Minha
delicada luminosidade que começava a se
lores e que pode servir de exemplo para toda
mudança se intensificou aqui e eliminou mi-
fazer presente, em ritmo, tom e pensamen-
a humanidade.
nhas inquietações. Você pode perceber me-
to. Seria, portanto, este um dos momentos
lhor o que está acontecendo e percebe que
mágicos em que o homem conspira a fa-
Por isso vale a pena conhecer alguns dos
esta mudança é maravilhosa. A selvageria do
vor da evolução e começa a exalar sua luz
pensamentos que norteiam Júlio Bierren-
passado fica aqui consagrada como coisa
interior.
bach, este carioca de 60 anos cronológicos,
do passado...” Estava, bem diante de mim, um sujeito que
aparência bem mais jovem, advogado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um
Questionado sobre as dificuldades mais
se organizava para falar de seu destino, que
dos nomes mais respeitados do mercado
emergentes que poderiam se tornar empeci-
deixara o ego em algum outro lugar para va-
financeiro que passou seus últimos 25 anos
lho aos seus planos, Júlio falou abertamente
lorizar cada detalhe envolvido.
profissionais a exercer a função de CEO nas
a respeito de suas próprias limitações do
maiores empresas de seguros que atuam
conhecimento filosófico, alma e essência da
Deveria eu ter filmado sua fisionomia quando
no Brasil e que hoje ocupa com muita honra
Associação, e assim ponteou mais um as-
relatou a qualidade existente na Associação
a função de Gerente Geral da Associação
pecto de extrema importância para o cresci-
com o cuidado no uso da palavra.
Palas Athena, um centro de estudos e di-
mento e a sustentabilidade de qualquer or-
Foi como um êxtase perceber a relevância
fusão impressa e falada das filosofias e da
ganização, ou seja, a diversidade.
que trazia ao detalhe, sobre a definitiva importância de cada palavra dita, como se es-
cultura da paz, e que há mais de trinta anos oferece uma série de cursos, palestras, ensi-
“Neste início de 2008 a Lia Diskin, co-fun-
tivesse ali, ao mesmo tempo, fazendo uma
namentos, publicações... sempre fundamen-
dadora, fez o convite para que eu viesse as-
frontal crítica à maneira informal e descom-
tados na história evolutiva do homem.
sumir esta responsabilidade, e isso foi a pro-
prometida que fazemos de seu uso comum,
va final da melhor e principal característica
na empresa, na família, enfim, na vida.
A Associação Palas Athena foi fundada e é
da Palas Athena, que é a multiculturalidade,
coordenada por filósofos atuantes, e foi re-
pois aqui se acredita na diversidade. Eu mes-
“As pessoas que aqui transitam, como esta
centemente escolhida para fazer a gestão e
mo não acreditei que pudesse ser convidado
senhora que você tão bem conhece (referin-
organizar o processo de apresentação, junto
para administrar a parte não pedagógica da
do-se à fundadora Lia Diskin), são de uma
ao Comitê do Prêmio Nobel, da candidatura
Associação.”
precisão verbal fora dos padrões. Eu não
do professor e sociólogo norueguês Johan
Ainda sob influência do que acabara de dizer,
estava acostumado com esse tipo de gente
Galtung pela disputa do título de Prêmio
ficou pensativo por um instante e fez uma
tão cuidadosa a ponto de não jogar conversa
Nobel da Paz.
consideração bem apropriada para o tema
fora!
14 . Eurobike magazine
Os detalhes na Palas Athena, o cuidado, o
uma série de palestras e ensinamentos
versa, foi se aproximando o momento em
carinho, o respeito, a multiculturalidade de
custa, e é preciso estar preparado para
que teríamos de falar em ética, verdade e
que falei... enfim, há aqui uma religiosidade
esses investimentos.”
confiança, como alicerces nos processos de
superior que não é templária... Fico hon-
transformação e evolução humana, temas
rado em estar aqui, e preciso dar à casa a
Aos poucos, tijolo a tijolo, foram surgindo
recorrentes nas aulas, nos cursos e nas pa-
condição de poder fazer as mesmas coisas
idéias e conceitos no sentido de inspirar a
lestras da Palas Athena. E não me assustou
até então conflitantes.
percepção de que conciliar as diferenças
a determinação que meu anfitrião demons-
“Quando o dinheiro nasce, após o período
soma e fortalece qualquer estrutura, pois não
trou, nem da vassoura que passou indireta-
feudal dos escambos, nasce ao mesmo
há melhor nem pior, senão um todo, com-
mente nas estruturas empresariais que visam
tempo o horizonte para uma democracia
posto por tudo!
apenas a seus interesses, para as quais os
que faz sem mudar sua essência.” E, fechando, disse: “Isso eu não li em lugar nenhum, pois acho que não foi escrito! Vamos transformar o espaço com a mesma capacidade de acolher com o saber e as palavras... As pessoas não virão se o ambiente não estiver mais acolhedor e a nossa missão é levar este saber ao maior número de pessoas, das diversas classes sociais...” Ouvir isso, frontalmente, gerou uma emoção imediata, até certo ponto óbvia, pois diante dos meus olhos havia um sujeito egresso do mundo financeiro, onde tudo ou quase tudo é permitido em nome da realização do lucro, a me mostrar no interior da sua caixa-forte o valor da palavra... Meu Deus, se palavra pode ter valor, então estamos todos potencialmente milionários! Curiosamente, foi ao responder uma cutucada minha, perguntando se o sucesso gerava culpa, que o Gerente Geral da Palas Athena processou mais uma reflexão sobre o dinheiro, aproveitando para dar foco e tornar mais nítida a questão que o envolve, um dos maiores entraves na administração de uma associação ética e sem fins lucrativos. “Até pouco tempo, no mundo filosófico, o dinheiro era considerado menor! “Uma das tarefas que acredito estar desempenhando bem é aproximar estas realidades
econômica, tão importante quanto a internet
objetivos justificam os meios.
é para a democracia intelectual!
À medida que o tempo passava e os con-
“Trazer Sua Santidade o Dalai Lama para
ceitos surgiam para estruturar nossa con-
“Hoje em dia o empresário que mente para Eurobike magazine . 15
razão
dade de uma associação filosófica sem fins
nhecimento fechasse a cortina, pude captu-
lucrativos, uma excepcional oportunidade de
rar mais dois recados de grande importân-
os seus funcionários desacelera seu negócio
aprendizado para aqueles que sonham com
cia:
e quebra!
mudanças, mas que por razões de apego
“O mundo está evoluindo na medida em que
valorizam apenas o que é tangível.
“As pessoas que buscam o conhecimento
a verdade se estabelece como meio, porque
Nosso entrevistado demonstra, em sua es-
filosófico para ampliar suas capacidades
subir na vida pisando no outro é definitiva-
colha, tanto habilidade tática como visão de
ainda são poucas, mas o traço mais comum
mente mortal.
futuro, ao optar por um desafio que poderá
entre elas é um certo incômodo e uma von-
“Deve ser insuportável descobrir que você
multiplicar muito e oferecer, para cada vez
tade de acessar o novo.
chegou a algum lugar pisando nos outros.
mais pessoas, os mesmos instrumentos de
“E o mais incrível é que aqui dentro não tem
“Mas a empresa que adquire valores morais
que se utilizou para provocar o seu próprio
nada difícil, por isso qualquer pessoa que
para provocar a atenção do consumidor está
crescimento.
vier, vai crescer. “E pessoalmente desejaria que viessem as
na direção certa!” Mas como se tudo já parecesse bastante
pessoas mais normais possíveis e que muitos
Fez, por sua conta, contaminado que estava
elevado naquela conversa, havia de fato
fossem jovens, cada vez mais jovens...”
pela questão da verdade e da ética, uma
uma última revelação do entrevistado que se
digressão sobre a sua religião católica que
tornou na principal e a mais espetacular de
Como a política ainda não havia sido tratada
afirmou ser especialista em criar limites que
todas. Nem tanto pelo desejo expressado,
em nossa conversa, Júlio Bierrenbach emen-
aprisionam, pois tudo o que é proibido está
mas pela inequívoca percepção da luz que
dou dizendo:
visivelmente escrito, e disse:
todos nós buscamos encontrar e que Júlio demonstrou ter captado.
“Para mim, o Brasil é a própria evolução,
“Compreender nossa missão é a base de
Estávamos a navegar pelo conceito dos de-
e vamos acabar elegendo pessoas apenas
tudo, e aqui na Palas Athena a missão é
safios a que todos devem se submeter, no
por suas posições éticas, pois a mentira está
reescrita o tempo todo, por todos os que es-
curto, médio e longo prazo, para podermos
derrubando todos os mentirosos...”
tão aqui. É a prisão que liberta!
viver em razoável felicidade, quando ouço
“Como católico, estou acostumado com os
o seguinte:
E a conclusão da entrevista foi dedicada inteiramente a todos aqueles que se interessam
tais limites que aprisionam, e é evidente, porque tudo o que é proibido está bem es-
“Minha missão de vida, hoje, seria conseguir
pelo lado econômico da vida, em sinal de res-
crito e aparente, já o que é permitido está
ser budista!”
peito aos tantos anos em que vibrou suas ações como executivo máximo de grandes
escondido, temos de descobrir...” E explicou o porquê:
corporações financeiras:
na Associação Palas Athena, guardou em si
“As conspirações cosmológicas que presen-
“A vida fica extremamente mais barata
diversas boas surpresas. No ambiente sóbrio
ciei na última visita de Sua Santidade o Dalai
e econômica depois que você freqüenta
e sereno do casarão da metade do século
Lama foram extraordinárias...
a Palas Athena...
passado, na Rua Leôncio de Carvalho, literal
“Parece que tudo se concentra e gera um
“Aqui a gente descobre que os valores são
e fisicamente no Paraíso, no sublime reen-
fluxo único e positivo, pois as dificuldades
outros!”
contro com Lia Diskin, de ritmo profissional
vão delicadamente se transformando em
alucinante e impacto zero, na descoberta
meio e as coisas mais complexas e difíceis
E foi por tudo isso que resolvi começar di-
do cartazete criado por mim em 1999, para
acontecem quase que por milagre! Eu pre-
zendo que, no sistema solar, a maior parte
a vinda de Sua Santidade o Dalai Lama,
senciei isso em vários momentos.”
dos seres vivos sente natural atração pela
Aquela manhã ensolarada, dedicada à visita
luz e por tudo o que é luminoso, pois nada
e que está pendurado com destaque na biblioteca, e ainda premiada pelo bate-pa-
Nosso primeiro encontro estava chegando
poderia ser mais atraente. Iluminar-se se
po com um sujeito tão interessante quanto
ao fim, pois se havia dúvida de conseguir
torna vital! Eu mesmo aprendi muito e tornei
sábio.
material suficientemente forte para escrever
mais claras algumas questões, a ponto de
consciência,
esta matéria, ela havia evaporado como as
poder garantir, para quem quiser saber, que
o exemplo do Júlio Bierrenbach em sua re-
gotas de orvalho sob o sol da manhã. E, no
de fato há luz no fim do túnel.
volução profissional, ao deixar de lado um
começo de nossa despedida, quando ape-
mercado milionário e pulsante pela austeri-
nas um aperto de mãos e um olhar de reco-
Considero,
com
16 . Eurobike magazine
absoluta
Os vários caminhos para o carro “limpo” “Não importa muito qual seja a tecnologia que nos ajude a diminuir as emissões de gases poluentes na atmosfera. O que interessa é a drástica redução da poluição ambiental”
DIVULGAÇÃO
POR LUCAS DI GRASSI
Pense nisto: como seria nossa vida se não pudéssemos mais contar com carros, motos, ônibus ou trens para ir de um lugar a outro? A economia mundial, da forma como a vemos hoje, simplesmente não poderia existir, já que produtos, serviços e pessoas não conseguiriam chegar aonde deveriam. E é por isso que, apesar da ameaça do superaquecimento global, ainda continuamos a usar nossos veículos: nossa vida depende demais deles. As mudanças climáticas, no entanto, exigem alterações de hábitos urgentes (sim, usar o carro somente quando necessário) e também irão nos forçar a optar por novas tecnologias para nossos veículos. Entre as idéias para a redução do uso de combustíveis fósseis, os principais candidatos são os motores movidos a energia elétrica, a célula de combustível e os híbridos. O motor elétrico é uma grande esperança. O objetivo de seus defensores é fabricar carros que utilizem baterias que possam ser recarregadas em pontos de força (tomadas) comuns na garagem de casa. Isso seria uma vantagem incrível, pois você poderia reabastecer seu veículo de energia em praticamente qualquer lugar dentro das cidades. Mas há dois problemas: primeiro, o tempo
de recarga das baterias costuma ser longo. E, também, a autonomia geralmente é pequena se comparada com a oferecida por um motor de combustão interna. Por este último motivo, a indústria investe no carro elétrico inicialmente como um veículo essencialmente urbano, destinado a viagens curtas, como a ida de casa para o trabalho ou para o supermercado. O motor movido por energia gerada em célula de combustível na verdade também é um propulsor elétrico. A diferença está no fato de que a energia é gerada na célula por meio de reações químicas provocadas pelo uso de hidrogênio em estado gasoso. A grande vantagem ecológica é que esta reação libera apenas vapor de água. Seu principal problema é o custo da célula de combustível, que até o momento o torna inviável em termos mercadológicos. O motor híbrido tem muitos adeptos entre os pesquisadores. Na verdade, o carro híbrido usa dois motores, um elétrico e outro a combustão interna, como nos veículos convencionais. A unidade elétrica é quem normalmente trabalha, enquanto a versão a gasolina ou a diesel só entra em ação quando a carga da bateria acaba ou o obstáculo a ser superado exige mais esforço. Uma boa vantagem dessa parceria é que o motor elétrico pode ser recarregado pelo convencional, quando este entra em ação para garantir a continuidade do movimento do veículo. Há ainda as tecnologias de combustão interna que não usam gasolina. São os carros a diesel e os a álcool, mais populares aqui no Brasil. Na Europa, os motores a diesel atingiram grande sofisticação e hoje poluem menos que seus pares a gasolina. Os benefícios do álcool também são bem conhecidos. Este tipo de motor polui menos, mas a tecnologia ganhou mais força com o desenvolvimento das unidades bicombustíveis álcool-gasolina para combinar a força da gasolina com a menor agressão am-
biental do álcool. O Brasil é líder na tecnologia e na aplicação desse conceito, que ainda precisa avançar muito para ganhar adeptos nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. As pessoas em geral esperam que surja um tipo de tecnologia que simplesmente desbanque a gasolina. Mas boa parte dos especialistas acredita na substituição diversificada e gradual baseada em vários fatores. Os mais importantes são disponibilidade de tecnologia, insumos regionais e cultura local, baseada na credibilidade da tecnologia junto a determinado povo. Isso já acontece em algumas partes do mundo, como vemos nos casos citados acima: assim como no Brasil somos adeptos da tecnologia bicombustível álcool-gasolina, pois a temos em abundância – plantamos canade-açúcar e atingimos grande produção de petróleo – e ela conta com nossa credibilidade por já nos ter provado suas vantagens, na Europa países como a França têm mais de 50% de sua frota movida a diesel, um combustível que conquistou a aprovação daquele povo. Não importa muito qual seja a tecnologia que nos ajude a diminuir as emissões de gases poluentes na atmosfera. O que interessa é a drástica redução da poluição ambiental. Até mesmo a Fórmula 1 está voltada para este objetivo. No futuro, teremos carros de competição ecologicamente corretos. E isso se espalha por outras categorias, como o WTCC (Campeonato Mundial de Carros de Turismo), no qual já existem carros a diesel – bem ao gosto do mercado europeu. Como a gente sabe, em qualquer situação, o marketing e as vendas nunca são esquecidos pela indústria. No entanto, a nova consciência ambiental é cada vez mais um fator decisivo na hora da compra. Com os carros, não é diferente. Que bom. O planeta e as futuras gerações agradecem.
Lucas Di Grassi é piloto de testes de F1 patrocinado pela Eurobike
Eurobike magazine . 17
razão
Lounge Summer no Rio Grande do Sul O empreendimento pioneiro, que completou quatro anos em 2008, se transformou no maior complexo de lazer e negócios do litoral gaúcho, reunindo tecnologia e sofisticação
ANDRÉ LARRÊA
NILTON SANTOLIN
POR KÁTYA DESSESSARDS
Um complexo sazonal, no verão, que reunisse grandes marcas, proporcionasse oportunidades comerciais e promovesse o relacionamento de empresas com o público classe “A”. Esse era o sonho cultivado pelo empresário Adão Bellagamba da ABN – Produção & Marketing, idealizador do empreendimento Lounge Summer. A primeira edição do Lounge Summer aconteceu em 2005, na praia de Atlântida, a mais sofisticada do Rio Grande do Sul, e foi fundamental para estabelecer a imagem de credibilidade e sucesso que seria consolidada nas edições seguintes. Em 2006 o Lounge Summer ganhou um grande parceiro, o Grupo Eurobike, que iniciava suas atividades no mercado gaúcho, tendo como desafios fidelizar a marca Land Rover e reposicionar a marca Volvo no Rio Grande do Sul. O evento foi redesenhado e ampliado, recebendo, inclusive, o prêmio de marketing institucional “Verão 2006” da Rede Pampa de Comunicação. As ações desenvolvidas no Lounge Summer prepararam a Eurobike para o início de suas atividades em maio do mesmo ano. 18 . Eurobike magazine
Em 2007, a parceria entre o Lounge Summer e o Grupo Eurobike se tornou mais forte. Re-presentado pelo seu diretor presidente, Henry Visconde, e por seu diretor executivo no Rio Grande do Sul, Claudio Janotti, o Grupo realizou, no Lounge Summer, o pré-lançamento da primeira concessão oficial da marca Porsche no mercado gaúcho. Mercado este que se tornou um dos maiores compradores da marca no Brasil. Na edição de 2008 o Lounge Summer, que ganhou o sobrenome Boulevard, investiu forte em tecnologia e na ambientação sofisticada do evento que se tornou um dos mais importantes do mercado de luxo no Rio Grande do Sul, reforçando seu caráter de relacionamento comercial entre as marcas e seu público, além de manter sua especialização no mercado automotivo premium. Para Claudio Janotti, esta parceria com empresas que cultuem a mesma visão de mercado e que tenham o mesmo perfil de cliente é muito importante, principalmente quando conseguimos desenvolver ações personalizadas, dividindo um mesmo local e com ga-
nhos reais para todos. O executivo considera o Lounge Summer um excelente negócio. Nesses quatro anos, as ações do Lounge Summer (www.loungesummer.com.br) movimentaram o verão do litoral norte gaúcho através de eventos sociais, esportivos e culturais. O complexo funciona como um clube fechado, direcionado para um público de alto nível cultural e econômico, gerando um impressionante retorno de mídia espontânea em jornais, revistas e internet. Ocupando mais de 4 mil m² de uma charmosa área verde entre os mais luxuosos condomínios residenciais da praia de Atlântida, o Lounge Summer 2008 Boulevard superou todas as expectativas, segundo Adão Bellagamba. “A projeção de crescer 30% em volume de negócios em relação a 2007 foi superada. Na verdade, o crescimento foi de 45% nessa edição. Nosso objetivo de criar o maior e mais sofisticado complexo sazonal de lazer e negócios do Sul do Brasil foi atingido, e isto foi possível graças a parcerias como a do Grupo Eurobike. Em 2009 muitas outras novidades virão”, declarou o empresário.
Eurobike magazine . 19
SÉRGIO CHVAICER
20 . Eurobike magazine
emoção
As coisas boas não passam, ao contrário, estão sempre a nos trazer de volta as emoções
Eurobike magazine . 21
emoção
22 . Eurobike magazine
Vinte anos de BMW M3 Uma coleção muito especial. Coisa de quem tem verdadeira paixão por esses ícones da indústria automobilística. Os modelos 1988, 1998 e, em primeira mão, o 2008 POR EDUARDO ROCHA | FOTOS SÉRGIO CHVAICER
Eurobike magazine . 23
emoção
24 . Eurobike magazine
O que atĂŠ entĂŁo era extremamente conservador, ganha motor mais potente e roupagem esportiva. 1988
Eurobike magazine . 25
emoção
26 . Eurobike magazine
TrĂŞs grandes saltos: no design, no motor e na performance. 1998
Eurobike magazine . 27
emoção
28 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 29
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30 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 31
emoção
32 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 33
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34 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 35
emoção
36 . Eurobike magazine
A sĂntese de um superesportivo. Um carro de pista na rua. 2008
Eurobike magazine . 37
SÉRGIO CHVAICER
emoção
M3, a evolução inteligente de um conceito POR PERCY FARO
Diga-me com quem andas e eu te direi quem és! Quando o assunto é esportividade e performance, o ditado popular cai como uma luva para o dono de um BMW M3. O avanço tecnológico incorporado ao modelo alemão ao longo de mais de duas décadas caminha de mãos dadas com o gosto pela velocidade que corre nas veias do motorista que sabe exatamente o que tem nas mãos quando está ao volante deste automóvel. Aliás, não seria exagero afirmar tratar-se do casamento que deu certo para quem gosta de grandes emoções mas não deixa de lado a sofisticação, o conforto, o desempenho e a segurança. A filosofia mundial do fabricante alemão – o prazer de dirigir – está presente em cada detalhe, em cada ação, em cada conquista da história de sucesso de exatos 22 anos de comercialização da Série M3. Do hoje modesto propulsor de 4 cilindros de 194 cv de potência em 1986 – porém ousado e já respeitado na época – à verdadeira usina de força do atual V8 de 420 cv, muitas páginas foram escritas pela BMW e acrescentadas à memória da indústria automobilística mundial. Até porque um mito
38 . Eurobike magazine
não é feito do dia para a noite. Muito menos com milagres. No caso de um automóvel exigem-se fatos concretos, projetos inteligentes e resultados práticos que preenchem de maneira satisfatória todas as expectativas do usuário, o consumidor final. Todos esses quesitos são transparentes e estão refletidos na trajetória de conquistas do M3. Criado pela divisão Motorsport da montadora, o M3 veio ao mundo com a missão de intensificar a participação da BMW nos Campeonatos de Turismo europeus, uma vez que no início dos anos 1980 a marca alemã liderava a Fórmula 1. Do début, realizado em clima de grande admiração no Salão de Frankfurt de 1985, à apresentação, no ano passado, da quarta geração do modelo, o M3 notabilizou-se pelos quatro cantos do mundo. O M3 V8 é a garra afiada da BMW para fazer frente a modelos do mesmo naipe, inclusive os “primos” em primeiro grau, também alemães. Ele esbanja performance – faz de zero a 100 km/h em apenas 4,8 segundos. A velocidade máxima de 250 km/h é limitada eletronicamente – a limitação faz parte de um acordo informal estabe-
lecido entre fabricantes de automóveis e o governo da Alemanha. O velocímetro do carro, entretanto, revela na escala a marca de 330 km/h. Entre outras soluções avançadas de segurança, o teto do novo M3 tem reforço em fibra de carbono, material leve e extremamente resistente. O mesmo acontece com os braços da suspensão, produzidos em alumínio forjado. Rodas aro 19, tomadas de ar de grandes dimensões e escapamento duplo com duas ponteiras em cada saída arrematam o perfil nervoso de um autêntico puro-sangue da mais refinada linhagem. Cronologia das conquistas 1985 – é apresentado no Salão de Frankfurt de 1985 o primeiro M3, equipado com motor de 4 cilindros e 194 cv de potência. Ele chega ao mercado no ano seguinte. 1987 – o M3 domina as corridas de carros de turismo em nível mundial e o piloto Roberto Ravaglia volta a trazer o título de campeão mundial para Munique. Neste ano chega também a série limitada Evolution, denominada Evo I, com 200 cv de potência. 1988 – o cobiçado modelo da série
ARQUIVO BMW SÉRGIO CHVAICER
ARQUIVO BMW
de Motor do Ano. Outro pioneirismo do M3 é a incorporação, como item de série, do bloqueio de diferencial. 2001 – a segunda geração da caixa de câmbio seqüencial (SMG II) passa a ser oferecida também na versão Cabrio, aumentando significativamente o prazer de dirigir do conversível. 2002 – com o M3 CSL, de 360 cv de potência, a marca alemã mostra como um automóvel de alta performance pode ser ainda mais otimizado, com a utilização de materiais leves em sua construção, além de outros processos inteligentes, como por exemplo o assistente de aceleração SMG, que possibilita a mudança automática de uma marcha mais alta no modo S (esportivo) pouco antes do regime máximo de rotações. 2007 – o mito fechou o seu ciclo no primeiro semestre do ano passado com o lançamento da quarta geração da Série M3. Pela primeira
vez o modelo ganhou um motor de 8 cilindros, em V, que gera nada mais, nada menos que 420 cv de potência máxima.
SÉRGIO CHVAICER
Evo II, agora com 220 cv, oferece a opção para quem gosta de dirigir sem “nada por cima”, ou seja, a versão Cabrio (conversível). 1989 – o M3 conquista 16 títulos nacionais e europeus, incluindo o Campeonato Europeu de Montanha para Carros de Turismo. Também é lançada a série especial Cecotto, com propulsor de 215 cv. 1990 – o sucesso do modelo acontece nas pistas e no mercado. Neste ano, o M3 conquista 15 campeonatos nacionais e internacionais e a edição limitada da série Evo III, de 238 cv de potência, é rapidamente esgotada pelos consumidores. 1992 – a segunda geração do M3 chega equipada com motor de 6 cilindros em duas configurações, de 240 cv e 286 cv. A BMW utiliza pela primeira vez a tecnologia VANOS, um sistema que ajusta os tempos de abertura e fechamento das válvulas de admissão e de escape, o que garante mais potência em baixos regimes de rotação. 1993 – a “geração dois” passa a disponibilizar também a versão Cabrio. 1994 – além do título de campeão dos Carros de Turismo, a família do M3 cresce com a versão berlineta de 4 portas. A série do M3 GT (na versão Coupé) desenvolve nada menos que 295 de cv de potência. 1995 – a versão destinada para o mercado europeu passa por profunda reformulação. Além de materiais compósitos nos freios, é incorporada a tecnologia VANOS II, que permite ao motor desenvolver 321 cv – a versão para o mercado norte-americano continua com potência de 240 cv. 1996 – a principal novidade fica por conta da disponibilidade da caixa de câmbio seqüencial (SMG I). 2000 – a terceira geração continua com motor de 6 cilindros, porém com novo conceito de altas rotações, o qual impressiona especialistas. É distinguido, inclusive, com o título
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emoção
Expedicionários A bordo do Porsche Cayenne V6, jornalistas, fotógrafos e cinegrafista refazem rotas dos grandes expedicionários POR HELOISA VASCONCELLOS | FOTOS FIFI TONG
Com patrocínio da Stuttgart Sportcar e da Eurobike, a Auana Editora está em fase final de produção do livro e do DVD “Expedicionários”, que refaz cinco roteiros de viajantes do passado: Cabeza de Vaca (1500) – de Florianópolis até Foz do Iguaçu; Padre Antônio Vieira (1600) – Lençóis Maranhenses e Delta do Parnaíba; Paulo Bertran – Planalto Central: da Chapada dos Veadeiros ao território dos Calungas; Percy H. Fawcett (1900) – Rota Pantaneira e das Chapadas de Mato Grosso; e Marechal Rondon (1900) – o deserto do Jalapão. As equipes são formadas por jornalistas experientes – Ana Augusta Rocha (da série Brasil Aventura e idealizadora do projeto), Marcelo Macca, Victor Rebouças e Eduardo Petta, pelos fotógrafos Fifi Tong, Roberto Linsker e Ruy Faquini, e pelo cinegrafista Guto Carvalho. “O livro ‘Expedicionários’ está sendo feito com tripla paixão: pelo Brasil e seus caminhos, pelos expedicionários que nos inspiram e pelo Ferdinando. 40 . Eurobike magazine
Ferdinando é o apelido que o Porsche Cayenne, que nos conduz, ganhou em homenagem ao criador da Porsche, Ferdinand Porsche. O Ferdinando acaba sendo o tema sempre presente nas conversas durante viagens, pois sua performance e conforto são notáveis. Acabamos de voltar de Goiás, onde andamos em estradas coloniais esquecidas pelo tempo: muito barro, muita pedra e cerrados ainda intactos. Buscávamos as trilhas do ouro a bordo de nosso Ferdinando prateado. E o cerrado verdíssimo de chuvas. Imaginem as fotos...”, conta Ana Augusta Rocha. “Tive a feliz oportunidade de embarcar como jornalista nesse projeto junto com o Linsker, o Guto, a ‘alma porsche’ do motor do Ferdinando e a incrível figura fantasma do espanhol Cabeza de Vaca. Poucas pessoas na história tiveram uma vida tão intensa como a do meu agora amigo Cabeza. Em 1527, após naufragar na costa da Flórida, e dar à praia nu, ele percorreu 18 mil quilômetros a pé
por nove anos até encontrar com cristãos no México e regressar à Espanha. De lá, voltou ao Novo Mundo, dessa vez em solo tupiniquim. Atravessou os campos do Sul do país, desde Floripa até Foz do Iguaçu, tornando-se o primeiro homem branco a relatar a existência das cataratas. Nós repetimos parte de seu itinerário brasileiro e topamos com muitas surpresas e semelhanças pelo caminho. Conforme o próprio Cabeza me soprou ao pé do ouvido, em quase 500 anos nem tudo mudou”, relata Eduardo Petta. Vale ressaltar que o carro utilizado nas viagens é um modelo normal, que recebeu apenas pneus para “fora-de-estrada”, integrantes da linha de opcionais oferecidos pela própria Porsche. Os expedicionários, porém, receberam treinamento especial para conhecer o funcionamento e as capacidades do Cayenne V6, que passou com facilidade em todos os testes a que foi submetido.
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emoção
E quem diria que a mulher era pilota? Karol Gehlen testa o Volvo C30 POR EDUARDO PETTA | FOTOS CAROL DA RIVA
14 de fevereiro de 2008, quinta-feira, quatro da tarde, Porto Alegre, loja da Eurobike. No horário marcado, a fotógrafa Carol Da Riva e eu aguardamos a chegada de uma das mais festejadas paisagistas gaúchas, Karol Gehlen. A convite da revista, ela testa o novo C30 da Volvo no seu cotidiano há 24 horas. 4h30. Ligo no celular de Karol. “Estou chegando”, ela diz. 4h40. Ligo de novo. Não atende. Estou ansioso, nosso vôo para São Paulo parte às 20 horas. 4h50. Finalmente Karol chega. Ela tira os enormes óculos escuros, desce do carro e desculpa-se pelo atraso. Gostou do C30, Karol? “Eu me apaixonei! 42 . Eurobike magazine
Tenho uma caminhonete alta que adoro e estou sempre viajando com ela, mas na cidade esse carro é perfeito. É compacto, extremamente macio, confortável, muito gostoso de dirigir. Ele desliza, voa. Me senti nas nuvens.” Pausa. Dez minutos de conversa nos sofás também macios do lounge da Eurobike. Café expresso e água gelada. Sorriso de orelha a orelha, Karol fala da sua “drive experience”. “Olha, acho que é um carro para mulheres, por causa desse design exótico. Não pensei que fosse fazer tanto sucesso. Por onde passei, as amigas perguntavam: que carro é esse, mulher? Esse C30 preto cintilante ficou muito charmoso.” Então, partimos por Porto Alegre no encalço de Karol, a fotografar. A outra Carol, a fotógrafa, segue com ela no carro clicando,
e eu vou no carro de trás, de apoio, observando. Seguimos pela freeway e vamos até a sua casa, bela casa. Ela estaciona o C30 na garagem justa. “Parece que o carro sempre esteve aqui. Ele é muito prático. Cabe bem em qualquer vaga, superfácil de manobrar e estacionar. Achei fantástico o tamanho dele.” Voltamos ao C30. Karol vira à direita e pára no posto para abastecer. Estica a chave. O frentista estica o pescoço para ver o painel do carro. Karol comenta: “Esse C30 é um esportivo que os casais, jovens ou não, vão adorar. Olha só esse painel. O som, o acabamento interno”. O frentista do posto devolve a chave, Karol confere o consumo. “Bem econômico, hein?” E vamos ao seu clube na beira do Guaíba, onde nos perdemos nas fotos e nos fatos da vida.
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emoção
Papo animado, de repente o relógio mostra 19 horas e me dou conta. Karol, nosso vôo é às 20 horas. E agora? “Xi. Estamos do outro lado da cidade. Vocês vão ter de acelerar.” Ela explica o caminho e nos despedimos. Toca o celular, ela muda de idéia. “Não vai dar tempo. Vou levar vocês por dentro, pelo centro de Porto Alegre. Me sigam.” Começa a perseguição. Karol arranca e o carro segue cruzando a cidade vorazmente. Sai à esquerda e ultrapassa três caminhões carregados ao mesmo tempo, voltando a pegar a direita para en44 . Eurobike magazine
trar na saída do mesmo lado, rápida como uma flecha, fazendo a curva fechada, o pneu grudado no chão. Continua ultrapassando. E eu começo a suar frio para não perdê-la de vista. O C30 some algumas vezes no trânsito por instantes e depois reaparece na frente, rugindo pelos cartões-postais da cidade. Em incríveis 20 minutos, num piscar de olhos, leio a placa: AEROPORTO, nosso destino. Mansamente, Karol estaciona o C30 brilhando na porta do embarque e dispara marota: “Impressionante a estabilidade da máquina.
Respostas rápidas. Esse carro tem atitude, hein?”. Agradecemos a “carona” e nos despedimos apressados. Karol liga o carro e zarpa sorridente. Empurrando o carrinho com as bagagens amontoadas, fico a pensar cá com os meus botões: e quem diria que essa mulher era pilota?
LALO DE ALMEIDA
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prazer
Cultivar o que sabemos fazer melhor, buscar a excelência, pura satisfação!
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prazer
Cachaça Duplo Ouro Geração após geração, a família Rocha produz cachaça Super Premium POR PATRÍCIA CORNILS | FOTOS LALO DE ALMEIDA
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prazer
saca, presentes no mosto fermentado. E se torna cachaça. Depositada em vel-
Depois do morro, do canavial, uma via-
hos barris de madeira, a bebida envel-
gem pelo tempo. A 150 metros da bar-
hece, para ganhar aroma e sabor. Cada
ulhenta pista da Via Dutra, estrada entre
etapa da produção, desde a escolha da
Rio de Janeiro e São Paulo, está a sede
va-riedade de cana até os barris em que
da Fazenda Cachoeira, erguida em
a bebida envelhece, é composta de de-
1717. Ali vive, à beira do Ribeirão da Di-
talhes elaborados ao longo de quatro
visa, desde 1890, a família Rocha, que
gerações. A memória dessa seqüência
produz, há 105 safras ininterruptas, a
de receitas e o apego a métodos tradi-
cachaça Rochinha. Sempre da mesma
cionais são o maior patrimônio da fa-
maneira: engenho, roda d’água, dornas
zenda. Ali não há interferências artificiais
de madeira, caldeira a vapor, barris,
para apressar o processo ou aumentar
aduelas. Essas palavras velhas, que se
a produção. A cachaça Rochinha pode
referem a coisas antigas, fazem parte
ser chamada de artesanal por isso.
do dia-a-dia da fazenda desde 1902, quando saiu do alambique a primeira
Além de artesanal, é especial. No
cachaça de seu Rocha, Antônio Gon-
concurso San Francisco World Spir-
çalves, e de dona Maria Fontes Rocha.
its Competition, foi escolhida a melhor
São usadas até hoje, continuam vivas,
entre 589 bebidas de 49 países. O
ali, como está viva a memória da famí-
prêmio diz muito sobre a qualidade da
lia. “Minha avó perdeu os pais cedo
cachaça, porque o concurso é um dos
e foi obrigada a pegar no batente,
mais importantes dos Estados Unidos,
cuidar dos irmãos. Conseguiu formar
na área de destilados. A maneira de
o irmão mais novo médico. Era ela
esco-lher o vencedor, no entanto, pode
quem chefiava a fazenda”, conta Ângela
dizer ainda mais. Foi assim: as bebidas
Maria Rocha Silva, nascida em 1946.
foram servidas a jurados connaisseurs
Assim como a avó, ela aprendeu este
sem que soubessem seu tipo ou marca.
ofício tão pouco comum para mulheres:
Rochinha recebeu duplo ouro. Quem
fazer cachaça.
vai à Fazenda Cachoeira vê que isto é resultado de um esmero secular.
E faz por gosto. Menina, dona Ângela
Quem bebe a cachaça, sente.
brincava de escorregar nas tábuas por onde o bagaço da cana, saído das
Seguem as gerações, alternam-se ho-
moendas, ia para o depósito, para ser
mens e mulheres à frente da fazenda.
usado como combustível no alambique.
O pai de dona Ângela, Antônio Fontes
Moer a cana é uma das coisas de que
Rocha, nascido em 1918, sucedeu à
ela mais gosta, no longo e delicado pro-
avó dela na lida. Agora outro Antônio,
cesso de manufatura da bebida. Depois
Fontes Rocha também, é o respon-
da moagem, a garapa é depositada em
sável pela produção da cachaça. Filho
dornas, grandes tonéis de madeira, onde
de Ângela e João, neto e bisneto de
passa por um processo de fermentação,
Antônios, um olho no alambique, o
em que os açúcares da cana são trans-
outro nas matas nativas da fazenda.
formados em álcool. Este líquido, então,
Antônio, o terceiro, estuda como as ár-
é destilado. O álcool evapora e goteja,
vores preservadas, e outras em áreas
separado da água e de substâncias tóx-
a serem reflorestadas, podem gerar
icas que causam dor de cabeça e res-
créditos de carbono. Há oito anos ele
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Eurobike magazine . 51
prazer
cesso de fabricação de cachaça. Incomum
Dona Ângela gosta de admirar a fermenta-
é Antônio ter se recusado, há alguns anos,
ção da cana nas dornas, um processo bio-
armazena a cachaça de cabeça do alam-
a substituir as dornas de madeira tapinuã
químico, microscópico, que ela consegue
bique e pretende usá-la, no futuro, para
por outras, de aço, a fim de receber um selo
enxergar. Aprendeu do pai, que aprendeu
produzir etanol e abastecer os veículos usa-
de qualidade do governo do Rio de Janeiro
da avó. “Fico olhando para as dornas e vejo
dos no plantio e na colheita. Cachaça de
para as cachaças feitas no estado. Dornas
o caldo mudando, fazendo movimentos
cabeça é a primeira que sai do alambique,
de aço, imaginaram técnicos criteriosos,
diferentes, é bonito ver o açúcar mudando
no início da destilação. Não é própria para
são mais higiênicas. Dornas de madeira,
em álcool”, sorri. A fermentação é o momen-
consumo, pelo alto teor alcoólico e pela
sabe Antônio, são mais aconchegantes para
to mais importante na produção da cachaça.
concentração compostos como aldeídos
o fermento caipira usado na Rochinha.
O tipo e a quantidade do levedo, além do
e ésteres, tóxicos. Nenhuma destilaria que
“A assepsia não depende do material de que
tempo de fermentação, definem os elemen-
se preze engarrafa esta primeira leva. Nem
as dornas são feitas, tem de ser garantida
tos presentes na bebida. E definem seu sa-
a última, a cauda, com baixo teor alcoólico
ao longo de todo o processo”, ensina ele. A
bor e qualidade. Na Rochinha, a fermenta-
e rica em ácidos orgânicos, como o acético,
mágica da Rochinha está nos detalhes do tal
ção é feita com a levedura, o microrganismo
que lhe dão um gosto ruim. A diferença,
processo, cuja invenção faz parte da inven-
transformador dos açúcares em álcool, da
na Rochinha, é que 30% são considera-
ção do Brasil.
raiz das canas. Nas dornas, o levedo con-
dos cabeça, enquanto, em outros lugares,
some todo o açúcar da garapa, durante 24
a prática é separar 10%. Outros 30% são
Com termos científicos, Antônio explica o
a cauda. Somente os 40% do coração, com
passo a passo entre a cana e a bebida. Ele
46% de álcool em volume, são usados na
é químico, mas, para garantir a qualidade
Observar é um dos dons de dona Ângela.
cachaça de lá.
da cachaça, conta, segue mesmo os con-
Olhando, aprendeu a dirigir. Começou a
selhos da mãe. “Meu conhecimento téc-
guiar trator e caminhão com dez anos, e aos
Um bom site explica a seqüência cabeça-
nico somente desvendou por que o que ela
onze, doze carregava o bagaço de volta para
coração-cauda, comum a qualquer pro-
me ensinou sempre deu certo”, explica ele.
o pasto, sozinha. Observando, ela aprendeu
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a 30 horas.
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prazer com o pai os segredos da cachaça. Quando Antônio começou a filtrar o caldo da cana antes de vertê-lo nas dornas, para impedir que os bagacilhos entupissem tubos e bombas da destilaria, a fermentação começou a dar errado. Não parava, como se houvesse fermento a mais na mistura. “Você não pode coar o caldo”, disse a mãe. “Por quê?” “Não sei, sei que dá certo assim”, respondia ela. Não se pode filtrar porque os bagacilhos são leves, descobriu Antônio depois de estudar o caso. Bóiam e levam embora consigo, ao final do processo, parte da levedura presente na cana. Se for filtrado, o caldo decanta todo, aumenta a concentração de fermento no fundo da dorna e desanda a receita. O mosto fermentado vai para os alambiques de cobre, onde o álcool da mistura é evaporado e condensado novamente, para gotejar, livre da água e de outras substâncias, na forma de cachaça. A bebida será colocada para dormir, por pelo menos dois anos, em barris de madeira. Os barris também são antigos, para não passarem um gosto excessivo do tanino, presente na madeira, para a cachaça. Na Rochinha, são de amendoim, tapinuã, carvalho francês, cerejeira, comprados de outros produtores de bebidas e usados anteriormente na produção de uísques, conhaques, cervejas. O mais novo tem 50 anos. O mais velho não tem idade. No envelhecimento da cachaça, as 1,2 mil substâncias remanescentes do processo de destilação entram em contato com minúsculas moléculas de oxigênio, pequenas o bastante para atravessar a madeira dos barris. Essa interação com o ar transforma os elementos químicos presentes na cachaça em aroma e sabor. Ela leva tempo, não pode ser apressada nem replicada, por meios químicos, com os mesmos resultados. A produção acontece entre os meses de junho e novembro, na seca, e pode ser vista
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prazer por visitantes na Fazenda Cachoeira. De lá saem, todos os anos, cerca de 150 mil litros de cachaça Rochinha. Os preços variam de acordo com a idade da cachaça. Há garrafas de R$ 15,00 (a clássica, envelhecida dois anos), R$ 35,00 (cinco anos), R$ 350,00 (doze anos) e R$ 1.780,00 (25 anos). “Mais caro que uísque!”, às vezes dizem as pessoas, espantadas. Sim. Por que uísque teria de ser mais caro? A Rochinha de 25 anos foi a última leva fabricada por Antônio, pai de Ângela, avô de Antônio, em 1978, ano em que ele morreu. Dormiu nos barris até 2003, quando Ângela foi convencida pelo filho a engarrafá-la, como homenagem ao seu produtor. No tempo dele, de Antônio segundo, a Cachoeira era quase auto-suficiente. Dava café, feijão, açúcar, gado, frutas. Até arroz, no revirado das várzeas, se plantava ali. Hoje, a fazenda produz gado e cachaça, em consórcio, porque o esterco do gado aduba os canaviais, com o vinhoto que sobra ao fim da fermentação da cana. Quando o álcool for usado para alimentar os tratores e caminhões nos canaviais, praticamente toda a energia usada na produção será gerada e consumida ali mesmo: a água do ribeirão gira a roda d’água do engenho, o bagaço da cana alimenta a caldeira que gera vapor para o alambique, o vinhoto e o bagaço alimentam o gado, o esterco volta para o canavial. Para usar uma palavra nova, a produção será sustentável. Exatamente como era, sem que eles soubessem, no tempo dos bisavós.
Para agendar uma visita acesse www.rochinha.com.br
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CAROL DA RIVA
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devaneio
Amanhã, ninguém sabe O tempo pode parar É sol É mar É luz É tudo fora de lugar Posso não estar aqui Pode amanhecer Pode chover, anoitecer Posso até gostar Posso até Me recriar
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devaneio
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No caminho das nuvens Entre o céu e as entranhas da terra, a morada dos cânions. Entre araucárias e a solidão dos gelados campos de cima da serra, o calor humano da gente gaúcha. Uma viagem sob o testemunho do tempo, do vento e do novo Free Lander POR EDUARDO PETTA | FOTOS CAROL DA RIVA
São cinco horas da manhã de uma sexta-feira preguiçosa em Cambará, interior do Rio Grande do Sul. Ainda está escuro e, apesar do frio, Daniel Velho levanta da cama quentinha, se arrasta até o fogão e coa o café. Veste a bombacha, o poncho, o lenço vermelho farroupilha, o chapéu de peão, calça as botas, aperta a fivela de prata do cinturão de couro, ajeita o laço e vai ao galpão apear o cavalo. Faz um carinho, escova, encilha, monta e dá início à ronda pela fazenda do Parador, a conferir as surpresas da noite. O leão-baio não atacou. Uma ovelha deu à luz. Nove da manhã de sexta-feira, Porto Alegre. Recebo a chave do todo novo Free Lander 2, acelero suave e o carro rola suas rodas para fora da loja, alongando os músculos para a longa viagem. Gingo o volante à esquerda e logo o carro está zunindo pela infinita freeway até tomar o rumo da serra ladeada de hortênsias, ganhar o planalto e aterrissar nos campos de cima da serra gaúcha.
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devaneio Inspira, respira. O Free Lander é muito silencioso. Parece movido a vento. O mesmo vento que balança o capinzal e brinca de empurrar grandes nuvens brancas no céu, jogando sombra nos campos. Dá vontade de parar e fotografar pelo caminho, mas fica a divisão entre a entrega ao momento presente ou chegar rápido ao futuro prometido. Ao som de 14 alto-falantes, tocando do zen ao jazz, aproveito até o último dos 233 cv de potência do motor. A libertação da mente ainda engatinha. Prazos, projetos, filho, trigo, pinus, ovelhas. Tudo se mistura ao asfalto. A paisagem na janela é clara: grandes áreas rurais para pouca gente. Talvez pelo rigor do inverno mais frio do país. Vazios demográficos. Três horas e 190 quilômetros depois chegamos a Cambará, colonização portuguesa, 5 mil almas. As primeiras famílias a fincar raiz, como os ancestrais de
zade com o animal, a conversa.” Meia
Daniel Velho, se estabeleceram ainda no
hora depois, consegue passar-lhe o freio
tempo dos tropeiros. Viviam encruadas
e iniciar a doma racional.
em velhos ranchos à espera de a tropa passar. A eles proviam abrigo e carne
Daniel faz um recreio e me alcança o
para assar no fogo de chão. O local era
chimarrão. Antes dos europeus, os gua-
bom de travessia: rios rasos, fartura
ranis já tomavam “caá-i”, a bebida da
de nascentes, pinhões nas araucárias.
erva mágica que espanta o cansaço.
E abastecia os valentes tropeiros em
Seu nome inca era “mátti”. Os espa-
sua missão de levar, sertão adentro, as
nhóis o chamaram de cimarrón, pelo
mercadorias do Brasil Colônia: escra-
gosto selvagem. Em terras gaúchas,
vos, ouro, açúcar, muares, o charque
levado de boca em boca, o mate amar-
gaúcho.
go serve mesmo como elemento cordial de acolhimento humano.
Passamos rápido por Cambará e partimos, agora por estrada de chão, até
Com a cuia nas mãos, Daniel nos leva
o Parador, onde encontramos Daniel
para passear pelas terras de sua infân-
na lida com os cavalos. “Meu pai é
cia e seguimos viagem para o cânion
domador dos mais antigos dessa que-
Fortaleza, o maior do Brasil. Os abis-
rência. Aprendi com ele desde piá.” Há
mos no meio do nada. A terra separada
dois dias Daniel tenta domar um baio
por mãos de gigantes, o mundo em
chucro. Chama o cavalo pelo nome e
duas bordas, distantes até 3 quilômetros
devagar se aproxima. “Antes, a doma
uma da outra.
era no chicote e na espora. Prefiro a ami62 . Eurobike magazine
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devaneio
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A fenda é tão imensa, que só um avião
no fundo do penhasco, comprimido pelas
ser qualquer lugar. A viagem é interna. Abre-
poderia dar a escala mais próxima de seu
muralhas, dentro do rio, coberto por céu.
se o cânion, abre-se o mundo de possibili-
tamanho. Nas rochas basálticas, os vestígios
Diversos céus: azul, com nuvens carrancu-
dades, as retinas disparam, a viagem é para
visuais da separação entre a América do Sul
das, a gotejar, tipo dilúvio, com sol a pino. O
fora, pela terra rachada, ou pelas minúsculas
e a África há 150 milhões de anos.
céu no cânion imita a vida. Nada dura muito
flores e plantas que desafiam as gigantescas
tempo. No pequeno intervalo de abaixar e le-
proporções. Nos dias claros, pode-se tam-
Estamos no cume do Fortaleza, em cima
vantar a cabeça, pode ter mudado de humor.
bém olhar para além do planalto, do abismo,
de paredões cobertos pela matinha nebular,
Sem nuvens: desanuviado. Cheio de nuvens:
e mirar a planície costeira até bater no mar.
a vegetação mantida pela umidade constante
ranzinza, mente nebulosa. Com sol: alegre,
Um oceano atlântico tão distante, que não
dos cânions. Umidade que vira nascente,
colorido, crânio iluminado.
permite enxergar ondas ou espuma, só o
que vira riacho, rio e despenca pelas bordas,
azul, e imaginar a maresia.
em incríveis cachoeiras. O sol entra e sai das
Na hora da viração, a espessa neblina que
nuvens. Ora inspira, ora expira. E aventa a
sobe do litoral, não é possível enxergar um
idéia de estar lá embaixo, a mil metros dali,
palmo diante do nariz. O topo do cânion pode
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devaneio De volta à estrada. O sol está se pondo. Motor e barriga roncando. No GPS, a direção do Parador, refúgio de charme no campo, com 12 barracas de madeira e lona interligadas por passarelas à beira-rio. Lareira crepitante, cachaça caseira, sopa fumegante, salada da horta, a bela polenta, pratos elaborados com arte. E, sempre à mesa, docinhos campeiros: pudim de leite, sagu, doce de abóbora e a imbatível ambrosia, feita com leite, gemas, canela, cravo e muito açúcar para adoçar os sonhos. Sábado. Acordamos ao som da chuva. Som de pingos que se mistura ao perfume silvestre da mata. Delicioso esticar de manhã, acordando de pouco em pouco para bocejar, se espreguiçar e voltar a fechar os olhos, sem pressa de levantar, até o cheiro do café tirar da cama. A chuva parou. Daniel sorri e sugere “rodeio” na vizinha Jaquirana. Na estrada, entre campos e mais campos, navegamos em mar de pinus onde era mar de araucárias. Árvore jurássica, a araucária resistiu a mudanças climáticas, divisões de continentes, invasões e recuos marinhos, mas dobrou-se ao aço da motosserra. Hoje, restam apenas 2% dessa mata que cobria quase todo o Brasil meridional, a chamada floresta negra. A boa-nova: elas estão voltando, agora protegidas do abate por lei, para alegria dos animais da floresta, como a gralha-azul, acostumada às delícias do “Na boca do brete, eu chamei o galego.
O galego que errou o pênalti, digo,
Pode chegá galego, agora é tudo con-
o laço, um piá de 12 anos de idade,
Finalmente, Jaquirana. Platéia alvoroça-
tigo. Galego pediu liberdade ao boi,
chora e chuta o cavalão. Fico ressabia-
da, gaúchos pilchados, locutor empol-
disparou, vai no reboqueio do laço, vai
do. Daniel me consola: “É a vida deles”.
gado. Os cavalos, inquietos, escarvam
no seu estilo campeiro, leva o boi para o
o chão. Não é futebol. É rodeio. É a pátria
fundo da cancha, gira o laço, vai laçar...
de bombachas. Prova do laço: “quem
errou! Ô corda velha descarada! Nunca
erra, sai”. O narrador aumenta o volume:
vi tanta tourada e tão pouco chifre”.
pinhão.
66 . Eurobike magazine
É rodeio. É a pátria de bombachas. Prova do laço: “quem erra, sai”.
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devaneio Do rodeio, regressamos a Cambará, vamos à missa e, de lá, para onde todos seguem, a tradicional festa da comunidade de Morro Agudos. Ao ver estrangeiros na multidão, Hernanes Fernandes, o comandante da grelha, nos chama para saborear a carne. Dois trovadores disputam rima. Dentro do galpão começa o bailongo. A sanfona toca alto, o arrasta-pé esquenta. Calor humano nos vazios demográficos. É dia de arrumar namoro, casamento, companhia para afastar a solidão. O gaúcho leva a prenda guiada no folgazão balaio e vai roseteando, dançando e batendo as esporas. Dança rancheira, bugio, chamamé, milonga, vaneirão. Aproxima e afasta o corpo. Os pares a girar pelo salão. Não é dança para todos dançarem. Dança quem tem pé, sabe sapatear. “Quem não dança, segura a criança.” E seguro a lasca de costela que Seu Hernanes oferece, suculenta, assada sem pressa, aproveitando a própria gordura para amaciar o tecido, à boa distância da brasa. A noite cai. Festa e gaiteiro continuam de pé. Domingo. Finalmente, céu estrelado. A hora era aquela. Não havia escolha. Foi bulir com o pedal e arrancar pela madrugada sonolenta para ver o dia romper nos cânions. “O melhor lugar é a Serra do Faxinal”, recomendara Daniel. Um grande clarão avermelhado no céu anuncia a glória e permite o vislumbre súbito dos cânions. Curva para a esquerda e o abismo do fim do mundo se revela à direita. Braços rijos na direção, curva agora para a direita e o precipício aparece à esquerda. Flutuamos ondulantes em direção ao vale, virtualmente o assoalho febril e tropical da mata atlântica, onde serpenteia o rio do Boi, no fundo do cânion do Itaimbezinho. Na face dos paredões, me sinto um grão de areia. E a gente acha que controla a nossa vida. “Não controla totalmente, mas quase”, diz Adão, o subchefe do Ibama, sobre a
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preservação ambiental dos cânions. Graças à batalha do Padre Rambo Balduíno, um ambientalista dos anos 1950, o Itaimbezinho, o Fortaleza, o Malacara, o Churriado e tantos outros cânions estão protegidos. Padre Rambo foi o mentor da criação do Parque Nacional de Aparados da Serra, em 1959, com 10.250 hectares. Em 1992, reforço: Parque Nacional da Serra Geral, com 17.500 hectares. Além da preservação, os parques despertaram a conscientização dos moradores sobre o potencial das belezas naturais da região. Uma rica flora composta de matas de araucárias, capões, campos, banhados, vegetação rupestre e mata atlântica. Diversidade traduzida em nirvana para os ornitólogos diante do desfile cotidiano de aves como gaviões, pica-paus, papagaios e curicacas a cruzar o espaço aéreo. Raros de avistar são mesmo os mamíferos. Topar com o leãobaio, o lobo-guará, a jaguatirica ou a lontra demanda pesquisa ou muita sorte. No nosso dia pleno pelos parques, vimos o graxaim, o veado-campeiro e o rabo de um tatu entrando na toca. Segunda-feira de sol radiante. Nos despedimos de Daniel, de Cambará, da nossa “toca” no Parador, e pulamos para outra vizinha, São José dos Ausentes. Depois de 100 quilômetros de estrada pedregosa, espalhando poeira e lama, chegamos ao ponto mais alto do Rio Grande do Sul, o pico do cânion Monte Negro, com 1.403 metros de altitude. Confiro o desempenho do com-
Graças à batalha do Padre Rambo Balduíno, um ambientalista dos anos 1950, o Itaimbezinho, o Fortaleza, o Malacara, o Churriado e tantos outros cânions estão protegidos.
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bustível: 11 por 1, ótima performance para
O princípio budista de que os meus defeitos
um seis cilindros. Consumo de acordo com
e qualidades são também os seus. E evoluir
o lugar que acabamos de chegar, a Arca
nisso.” Lá fora, o sol evoluía veloz para além
Verde, comunidade “paz e amor” encravada
do horizonte e fomos todos ao mirante vê-
na borda do Monte Negro, onde a filosofia
lo desaparecer na beira do perau. Um último
é economizar o planeta. Energia solar, capta-
clique e mergulhamos na estrada, cabelos
ção de água da chuva, telhado verde, horta
ao vento, pensamento e carro nas nuvens —
orgânica e muita reciclagem. Um antigo tonel
eternas viajantes dessas paragens.
de vinho de 5 metros de diâmetro tornou-se o lar da moçada. “Viver dentro desse conceito é fácil. Difícil é o convívio humano”, diz Leonardo, o Noé da Arca Verde, enquanto nos serve um pão integral maravilhoso com patê de berinjela, e explica as quatro regras do “bem-relacionar” na comunidade: “transparência, feedback, não triangular (fofocar) e mudhita”. Mudhita? “É.
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Informações Turísticas Parque Nacional de Aparados da Serra: (54) 3251-1277 Visitas: de quarta a domingo, das 9h às 17h. Ingresso: R$ 6 por pessoa. Estacionamento: R$ 5. Na sede há um centro de visitantes. Atrações: A principal atração é o cânion do Itaimbezinho, que pode ser visto de diferentes pontos através
da Trilha do Vértice e da Trilha do Cotovelo. Outra opção é fazer sua travessia pela trilha do rio do Boi, a partir da portaria de Praia Grande, em Santa Catarina, no sopé do cânion. Parque Nacional da Serra Geral: (54) 3504-5289 Visitas: todos os dias, das 9h às 18h. Não possui infra-estrutura de visitação. Atrações: Cânion Fortaleza, Cachoeira do Tigre Preto e Pedra do Segredo; Trilha do Malacara e Trilha do Churriado. Outras atrações da região: Cachoeira dos Venâncios: bonita e boa para banho. Passo do S: para passar de carro por dentro do rio. São José dos Ausentes: vale pela viagem e pelo cânion Monte Negro. Como chegar: A partir de Porto Alegre, siga pela RS020 até São Francisco de Paula. Dali até Cambará do Sul são 85 km.
Onde ficar e comer: Parador Casa da Montanha. É o único local de hospedagem charmoso da região. Inclui as três refeições na diária, preparadas por um chefe de cozinha. Promove os passeios pela região com guias excelentes
e cavalos bem cuidados. É “o lugar” em que ficar, principalmente nas cabanas com hidro. (54) 3504-5302 www.paradorcasadamontanha.com.br
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devaneio Dicas de compras: Mel. O Apiário Cambará produz um nativo, sensacional. Rua Dona Úrsula, 879, Centro. (54) 3251-1101 Roupas de lã. A Kantu Kente produz cobertas, ponchos, meias, gorros e blusas. Av. Getúlio Vargas, 1527, Centro. (54) 9915-2771 Dicas do editorial: Entre maio e agosto, durante o inverno, o céu está mais azul e os dias, mais claros. No verão, vale pelos
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banhos nas cachoeiras, mas a cerração aumenta. No inverno, vá preparado para o frio. Leve botas, roupas de lã, inclusive as de baixo, luvas, gorro e cachecol. Não esqueça óculos escuros, protetor solar e chapéu. Para caminhadas, um bom tênis e mochila de ataque. No verão, capa de chuva, roupa de banho e bermudas. Cuidado com as estradas de terra da região. Pedras afiadas saltam da superfície e podem furar os pneus. Defenda-se das pedras, ande devagar. Procure visitar os cânions no primeiro horário do dia,
antes de a viração chegar. A chance de encontrá-los sem nuvens é maior. Leve sempre um bom lanche e água para os passeios para poder curtir o visual por mais tempo. Lugares para ver o nascer do dia: Cânion Fortaleza, Serra do Faxinal, Cânion Monte Negro. Para ver o sol se pôr: a cavalo no morro do leão-baio, do Parador. O Parador é inspiração para um bom livro. Leve vários. E boa viagem.
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