Revista Shot!

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sHOT! ANO 1, EDIÇÃO Nº 0. JUNHO DE 2013

ENTREVISTA

Sidarta Ribeiro fala de drogas, sono, capoeira. Só não fala muito do Palmeiras...

MÃOZADA NELES! Você lembra quem apelidou Micarla de Borboletinha? Miguel Mossoró está de volta!

DR. GONZO Onde estaria Hunter Thompson se ele estivesse vivo?

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Lorde Pavê te leva a uma viagem pela rave BOA!


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EDITORIAL

­MEDO E DELÍRIO NO UNIVERSO SHOT! A cada dia que passa você fica mais velho, o dinheiro está acabando, sua saúde só piora, e a ressaca parece ser eterna. Neste mundo só resta você e a sua falta de caráter. Um profissional treinado e lapidado por anos para finalmente depois de várias tentativas ter a responsabilidade de descobrir o que é pior: chegar ao fundo do poço, ou continuar caindo. Não espere que eu vá agradecer por você ter ido em meu lugar. Antes você que eu. Em um mundo onde a desordem governa só a desconstrução pode nos levar além. Dúvida? Olhem a sua volta, todos os que tentaram ajeitar algo falharam, e falharam feio. Sobre suas costas pesam milhares de vidas banalizadas pelo cotidiano. Eu por outro lado vou seguir outro caminho. Se é o melhor, não sei. A única certeza a qual carrego é de que estou me afastando da destruição. E na pior das hipóteses, estou me divertindo. A cidade lá fora está pegando fogo, na noite passada mais de 200 mil brasileiros foram às ruas pedir mais justiça. Não aquela justiça banalizada dos jornais policiais “Eu quero justiça”, ou “eu quero é JÛstiça”, que os sobreviventes insistem em clamar sem saber do que se trata. O povo parece estar bem revoltado com a situação do nosso país e cansou de deixar pra lá. Talvez isso dê certo. Talvez. O país está envolto

em uma esperança contagiante, e não é aquela esperança que vem logo após a conquista de um título mundial de futebol, é a esperança de fazer algo com as próprias mãos. Eu já estive em passeatas e sei bem o que é isso. Até de paralisação participei. Eu também já fiz algo com as próprias mãos. O desgraçado nunca mais voltou a ver a luz do dia. Políticos aparentemente loucos, são mais confiáveis que aqueles há 40 anos no mesmo cargo, um cientista professor de capoeira, estudioso do sono e da maconha. Gente estranha, com música estranha, em um universo paralelo de sensações, pessoas respeitáveis na casa de tolerância mais elitizada da cidade, jornalismo policial feito por jogador de futebol (se não entendeu assista a alguma entrevista de um jogador). Brasileiros que mesmo sem a melhor organização ainda vão para as ruas protestarem contra o governo. Nesse mundo abstrato Shot! te convida para uma viagem, você escolhe, é bala ou doce. Todo esse convite te pareceu estranho? Não hesite: “Existe um prazer na loucura que só os loucos sabem”. Não sei quem disse isso, muito provavelmente estava na ala psiquiátrica de algum hospital soviético, por isso não tenho o nome.

Edgar Sabinno - –O chefão

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ÍNDICE FUTEBOL PARA AMERICANO VER 06 Nosso repórter faz um tributo a George Plimpton e parte para cima dos adversários.

ACORDADO FAZ TEMPO 14 Se o gigante levantou agora a Revolta do Busão estava acordada desde o ano passado na terra do sol.

RUM 24 Ensaio fotográfico baseado no romance de Hunter Thompson, o jornalista

MÚSICA 49

mais bêbado do caribe agora em versão natalense.

Conheça alguns festivais bem porra louca! Mas vamos deixar para ir depois dos 60, que é mais legal!

YURI BORGES 31 Coluna de Yuri Borges te leva a ficar cara a cara com a Bazuca de Thomp-

JORNALISMO 54

son.

Genésio Pitanga, saímos a procura do jornalista que causa sensações antagónicas nas pessoas desta cidade.

ENTREVISTA 32 Sidarta Ribeiro, respeitado cientista e diretor do Instituto do Cérebro se

EMANOEL BARRETO 61

prestou a ser entrevistado por nossa equipe.

Uma perspectiva do futuro do hospital mais movimentado da capital potiguar, será que dessa vez vai?

FRACASSO 40 Acompanhe o fracasso de um repórter em fazer uma matéria, ele está

BOA 62

procurando um lugar para enfiar a cara até agora.

Lorde Pavê, se despiu do pudor da monarquia do jornalismo para seguir

FICÇÃO 44

gente estranha. Veja a sua análise totalmente excelente.

E se o Dr. Estivesse vivo? O jornalista Alexis consulta orixás e xamãs para decifrar o mistério dessa pergunta.

POLÍTICA 68 Nem Oscar Niemeyer poderia ter projetos tão ousados, o autor? Um tenente reformado do exército, por onde anda Miguel Mossoró?

TRIPINHAS 78

EXPEDIENTE - Diretor de Redação:

Edgard Sabinno

Emanoel Barreto

- Equipe Revista Shot!:

Ariston Bruno

Emanoel Barreto

Lorde Pavê

Yuri Borges

Sara Liuda

- Chefes de Redação:

- Projeto gráfico e diagramação:

Alexis Peixoto

Aureliano Meds

Felipe Galdino

Erick Attos de Andrade

Pedro Andrade

Edgard Sabinno

Everson Andrade

Everson Andrade

Aura Mazda

Juão Nin

Yanna Medeiros

Capa por; Yanna Medeiros

Diego Ciríaco

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TOUCHDOWN TEXTO POR FELIPE GALDINO FOTOS POR AURA MAZDA

Acabou o jogo e nós estávamos todos cabisbaixos, tristes... Não dava para entender o que tinha dado errado. Eram umas dez da noite. Não lembro exatamente porque no momento eu era um jogador do Natal Scorpions, e não um repórter preparado em registrar horas alheias. Aliás, nem mesmo queria olhar para a porcaria do relógio. A derrota havia sido um baque: 8 a 0, um placar apertado (sim... apertado, se você não conhece futebol americano, não estranhe), mas tínhamos perdido. E o pior era ouvir a torcida atrás da gente gritando; os adversários comemorando uma vitória que para mim simplesmente não era para ter acontecido... Não dava para engolir. Jogamos melhor que o Recife Pirates, eu sei que jogamos,

mas o placar não mostrava isso. Pelo contrário, o mascote ridículo deles (um pirata com barbicha e cabeção esquisito, como qualquer outro mascote, mas esquisito) pulava de alegria do outro lado do campo. O pior era cumprimentar os caras do outro time. “Bom jogo”, dizia um. “Jogou bem, cara”, falava outro. Mero fair play, sabemos. É complicado falar com um adversário, logo após o jogo, só um atleta sabe disso. Alguns, como os argentinos (rsrs) têm vontade de dar uma de político japonês, como aqueles que vemos de vez em quando na TV, e partir para a pancadaria. O sangue ainda fervendo. Mas isso é o esporte. Ok, é preciso se contentar, argentinos. Voltando para o relato. E quanto aos árbitros do jogo? Cara, para

mim, esses cidadãos erraram sim em alguns lances. Bem, não vou entrar em detalhes quanto a isso, vai que o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) está de olho nesse texto e me puna. Não chamo de filhos da puta pelo respeito que tenho a eles. Ah, mas quer saber? Desculpe-me o “mimimi”, acho que é o que parece; pense o que quiser. Mas não sou hipócrita! Essa historinha de que o que vale é participar não cola. Quero ganhar e pronto, porra! Bem, voltando mais uma vez; como eu dizia, o jogo acabou. O técnico nos chamou para um círculo na beira do campo. – Senta todo mundo aí! Senta todo mundo aí! – Pronto – pensei – agora que fodeu mesmo. Ele está puto.


Preferi ficar de joelhos. Pensei realmente que vinha um sermão daqueles do tipo: “Vocês são uns merdas!” ou “Não era pra termos perdido prum time merda desse!” ou ainda: “Viajei tudo isso pra perder? Mas que merda!”. Só sei que achei que tinha dado merda na história. Errei feio. Daniel Torres, o nosso quarterback (o cidadão que no jogo lança a bola), coach, e também presidente do time, nos elogiou... Sim, ele nos elogiou!

Concentração é fundamental

Tô muito feliz pelo futebol que jogamos; todos com vontade do inicio ao fim, ninguém baixou a cabeça ou desanimou, postura de campeões. Mesmo sem treino e tendo que reorganizar as coisas em pouco tempo, seguramos a onda. Vimos que a nossa união e a vontade que temos de jogar não vai atrapalhar nossa caminhada nesse campeonato. Mostramos pra quem achava que o Scorpions estava morto que nós estamos mais

vivos do que nunca e quem nos subestimar vai ficar pelo caminho! – Disse. E, cara, ouvindo essas palavras o time foi se animando, e o clima pesado aos poucos ficou leve. No final, todo mundo brincava como se a missão tivesse sido cumprida. E analisando o longo discurso do técnico, foi isso que aconteceu. Perdemos, mas vencemos...


No futebol americano é preciso fazer cara de mau Horas antes sabia que o jogo seria tenso para mim. Minha primeira partida como jogador de futebol americano, e ainda longe pra cacete de casa: Recife. Aliás, Recife porra nenhuma... Camaragibe (PE)! Era o Estádio Municipal Luiz Alexandrino. Minha posição (acabei virando atleta efetivo do time, não sei como, mas virei) é a de running back, ou seja, o cara que tem basicamente a função de correr com a bola para tentar avançar pelo campo e quem sabe conseguir o touchdown. Mas, além disso, é o maldito que leva mais porrada durante o jogo. Não que os outros jogadores não se choquem no gramado, mas o RB (como chamamos o running back no jogo) leva cada porrada segura! São pancadas fortes pra caralho! Pois é, baixinho como sou, em tese sou mais rápido que um jogador mais pesado, então me puseram nessa função. Ok...

Pasme, mas até que eu gosto. Vamos ao amistoso. O jogo começou às 19h. Fiquei no banco, obviamente por opção técnica, mas eu mesmo queria deixar a bola pros caras mais experientes do time. Tinha só acho que um mês de treino e tinha medo de cagar tudo. Fiquei na torcida. O jogo até que começou meio morninho pro meu gosto. Ninguém fez ponto.

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No segundo quarto, depois de uma corrida de umas 20 jardas do RB George Alcântara, os adversários abriram o placar marcando um touchdown. E no ponto extra, após um pequeno, porém mortal, vacilo da nossa defesa, os caras ainda marcaram mais um mini touchdown com Davidson Soares. Ficou 8 a 0 pra eles e acabou o primeiro tempo. Eu entrei na segunda etapa do jogo. No intervalo, enquanto ouvíamos as orientações de Torres, eu já falava que iria jogar. Passou o terceiro quarto e nada de a gente marcar ou pior, de eu entrar. A gente perdia e aí é que eu estava com medo de foder tudo de uma vez. E se eu levo um fumble (deixar a bola ciar) e os piratas pegam a bola? E se eu perder a chance de fazer um touchdown? E se... E se... E se... Essa maldição não saía da cabeça. Mas tive de esquecer tudo isso quando pintou a oportunidade de entrar

em campo, no último quarto do jogo. Nossa, a tensão era grande. Eduardo Madruga, nosso outro quarterback, estava em campo no lugar de Torres. Na jogada combinada eu deveria bloquear quem aparecesse na minha frente para dar chance de Madruga lançar a bola. Foi quando vi um brutamontes bem mais alto e forte que eu na minha frente. O cidadão parecia um armário. “Como danado vou parar esse cara, meu Deus?”. Foi inevitável não pensar isso. Não dava para vacilar, então resolvi ir com tudo na barriga dele. Errei, pois sabia que deveria ir nas pernas para derrubar e ser esmagado por ele no chão. Mas milagrosamente consegui parar o cara. Ele não caiu, só que também não avançou. Foi de certa forma um alívio. Na jogada seguinte, eu não precisava bloquear. Era só correr e se Madruga quisesse passar a bola para mim era

só fazer isso. Nesse momento veio meu primeiro e único estresse com os árbitros na partida. A bola foi lá para o outro lado do campo de onde eu estava, e tinha sido passe incompleto. O jogo já estava parado, mas de repente recebi um safanão pelas costas. Um filho da puta me derrubou com o jogo parado. Nem vi quem foi o desgraçado. Levantei já reclamando com o juiz, que só perguntou: – Você é jogador de linha? Você é jogador de linha? – indagou em meio aos cantos de incentivo da torcida pernambucana. – Mermão, sou running back! Isso é falta, o jogo já estava parado! – Vá pra lá... Foi nada não – respondeu. Ainda arrisquei reclamar mais com o FDP da arbitragem, que usava vermelho, mas vieram os colegas de time e mandaram eu me afastar.

Natal Scorpions x Recife Pirates

Terminei de me limpar de grama e areia que cobriam meu uniforme, e o jogo continuou. Joguei por alguns minutos ainda. Próximo do final do jogo, um pouco cansado (e confesso, temeroso de errar), resolvi pedir para sair. Voltei a ser torcedor até o apito final. Nesse último quarto é que começamos a atacar mais ainda com bons avanços tanto em passes quanto em corridas. Chegamos a marcar um touchdown com nosso quarter back, mas sinceramente, não sei porque foi anulado pela arbitragem (desgraça!). Disseram que fizemos falta na jogada. Aí veio o desânimo e já sabemos como tudo terminou. DOIS EM UM Uma coisa que percebi assim que entrei no time, aliás, assim que fiz o teste para entrar, em março deste ano, foi que no

futebol americano são duas equipes numa só. É impressionante a rivalidade entre os jogadores de ataque e os de defesa. É “pau no cú da defesa!” para lá; “ataque de merda” para cá. Impressionante as provocações! A rivalidade é toda passada nos próprios coletivos dos treinos. Os caras se bicam mesmo. O “trash talk” (as provocações) são intensos a ponto de às vezes ter até dedo na cara entre colegas do próprio time. Isso me estranhou muito no início porque como estava acostumado com outros esportes, não imaginava que um mesmo time tivesse essas coisas. Até para um jogo a rivalidade interna é levada. Lembro-me bem de contra os Pirates, quando nossa defesa estava em campo, o pessoal gritava: “Bora, defesa! Bora defesa!!”.

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– Que defesa porra nenhuma! É ‘Bora Scorpions!’, porra! – eu gritava de volta para os colegas. Mas não pense você que essa é uma particularidade do nosso time. Recordo-me de ouvir a torcida pernambucana fazer o mesmo. “Ataque! Ataque!” ou então: “Defesa! Defesa!”, berravam das arquibancadas. ESPORTE CARO, MAS PRAZEROSO O futebol americano é um esporte caro. Como não é tão praticado no Brasil, os custos dos equipamentos pesam no bolso. Eu sinto na pele isso. Para conseguir meu shoulder (armadura que protege seu peito e costas) desembolsei uma grana alta. E para achar não foi tão fácil. Pesquisa, pesquisa e mais pesquisa. Você, procurando, acha num preço mais em conta, porém, ainda salgado.



Ainda quero meu capacete e a calça pad (vestimenta com proteções na coxa, joelhos e outras partes) ainda não tive coragem de comprar. Meu bolso chora toda vez que tomo coragem, aí vem a covardia de volta. Prefiro ir me virando com uma calça leg feminina mesmo. É até irônico um esporte de brutamontes recorrer a calças femininas de ginástica. Mas cada um, assim como eu, se vira com o que pode. E ainda tem as luvas. Essa é que estou longe de adquirir. Um simples par pode custar uma centena e pouco de reais. Sim, luvas. O que ela tem de especial é uma cola que, digamos, prende a bola na sua mão e outra vantagem é que evita que seus dedos quebrem com o contato

com a bola. Isso me faz lembrar meu segundo treino nos Scorpions. O lance era o seguinte: tinha de correr tantas jardas, fazer uma rota de corrida (uma determinada trajetória), virar e receber a bola. Pois bem... Corri para receber a bola, fiz uma rota, como o combinado; mas demorei a me virar. Quando olhei, o quarterback já havia lançado e aquele ovo laranja pontudo já estava na minha cara. Tentei agarra-lo, só que não fui rápido o bastante. A maldita bola acertou meu dedo mínimo (o dedinho) esquerdo e caiu no chão. A dor foi instantânea, meu dedo latejava. Depois ficou numa espécie de dor com dormência. Não conseguia deixar ele esticado

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devido a uma dor desgraçada. Até hoje estou aleijado. São acidentes de jogo. Mas não pense que é um horror jogar o futebol lá do “Tio Sam”. É no mínimo interessante; para mim, é prazeroso. Você desestressa quando dá uma pancada forte noutro jogador. E o melhor, na maioria das vezes não há ferimentos. Devido à verdadeira armadura que o atleta usa, dificilmente as contusões vêm como resultado de um choque mais forte. Já levei encontrão de todo os lados e ainda estou vivo (é difícil de acreditar). Sem contar as boas amizades que você pode criar. Jogador de futebol americano, claro, fala muito do esporte, além das compras e vendas de assessórios e equipamentos de jogo. Mas tem outros assuntos também. Até sobre o futebol “brasileiro” se conversa. Fora isso, tem os assuntos normais do dia a dia. Com isso, dá para ter bons papos com a galera.


PERFIL INDEFINIDO Não há um padrão para se jogar futebol americano. Você pode ser gordo ou magro; alto ou baixo; forte ou “raquítico”; ser barbudo ou não. Cada posição tem suas especificidades. Eu, por exemplo, sou baixinho e então sou running back. Um dos nossos capitães de ataque, o vice-presidente do time, Felipe Dantas (ou “Poya”, como é mais conhecido) é um sujeito com um porte físico, digamos, maior. Por isso é nosso “center” (o cara que lança a bola para trás, para o quarterback) porque ele precisa bloquear os jogadores adversários. Bruno Morais é mais forte e bem mais alto. O garoto tem 16 anos, mas não tem que diga. Pela altura, ele é nosso tire end (jogadores de ataque mais altos). Por falar no vice-presidente, o nosso camisa #59 é uma das figuraças da equipe. Tem pouco mais de 1,70, tantos quilos, costuma usar barba, e é um dos caras mais hilários dos Scorpions. O destaque é seu temperamento: além de bem humorado e cheio de piadinhas, é pavio curto. Lembro-me do jogo contra os Pirates e dos gritos que ele dava. – Porra, mermão! Vamo atacar, vamo jogar, vamo dar o sangue nessa porra, mermão! – gritava Poya, na sideline

(tipo o banco de reservas), super nervoso. A versatilidade do futebol americano proporciona um fato que dificilmente vemos noutros esportes. Não precisa ser cheio de músculos, aquele estilo bombado de ser, ou magrinho feito palito, ou obeso para ser um jogador de futebol americano. Por isso, qualquer um pode praticar o esporte. E engana-se quem pensa que no Brasil, o futebol da bola oval é um mero coadjuvante. Não! Pasme, Unimed, mas a modalidade ocupa nada mais, nada menos do que a décima posição tanto no ranking de esportes mais praticados quanto de preferidos do

país pentacampeão de soccer. Segundo levantamento da empresa de pesquisa esportiva Delloite Touche Tohmatsu, feito em 2011, 3% dos entrevistados alegaram praticar FA, enquanto que 7% confessaram ser seu esporte preferido. No que se refere à prática, o touchdown está à frente de modalidades tradicionais como basquete (2%) e handebol (1%). Um verdadeiro tackle (quando se derruba o adversário) nos ignorantes que não dão valor à modalidade, que conta com mais de 100 equipes registradas pela Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA).


MEDO E DELÍRIO NA REVOLTA DO BUSÃO TEXTO E FOTOS POR EVERSON ANDRADE


“Podiam pedir de maneira educada, mas preferiram latir. Peguei a chave de roda que sempre resolve esse tipo de situação por aqui.” /Matanza/

“Bomba de efeito moral, pra quem não tem moral de falar nada.” /Emicida/

Eu estive na #RevoltadoBusão que aconteceu ano passado, estive naquela que foi “A vitória”. Quando o Opressor se curvou ante a luta popular. E foram dias maravilhosos aqueles. Os estudantes de Natal caminhavam pela Avenida Salgado Filho, enquanto papel picotado caia do céu, os cidadãos da cidade cantavam coros em homenagem àqueles que tão bravamente lutaram pela redução da passagem do ônibus. Os oprimidos eram carregados nos caminhões do Corpo de Bombeiros, a polícia abria o caminho entre os carros para a passagem dos heróis desta cidade. Nas capas dos jornais estavam fotografias com jovens impetrando palavras de ordem, e nas páginas interiores, o repórter relatou tudo o que viu, e até levou em consideração alguns pontos negativos, alguns atos de vandalismo causados por uma minoria. Até mesmo o diretor de

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jornalismo, quando não o próprio dono, escreveu um editorial de primeira página ressaltando a importância de a população ir às ruas reivindicar pelos seus direitos. Mas eu acordei logo depois, minhas pernas ainda estavam doendo da caminhada do dia anterior, minha pele ardia pelas queimaduras do sol, e eu não estava nenhum pouco disposto a mais um dia de trabalho depois de tudo o que caminhei. A verdade é que nada daquilo aconteceu. Principalmente a parte da vitória. Ela não aconteceu de fato, foi apenas um contra tempo, aliás, ela está tão longe de acontecer quanto o fim da corrupção neste país, ou em qualquer outro, principalmente aqueles que parecem perfeitos. Acredite se tudo está bonitinho, é porque o crime é muito bem feito, e não ficam pontas soltas.


Este ano a passagem aumentou outra vez, e mais uma vez, os estudantes foram às ruas para forçar a sua redução. Só que dessa vez, amigo, eu ia contar tudo o que estava vendo, ou só o desejado. Atrás da maioria das conquistas populares existe apenas a descoberta de um novo caminho para continuar dominando, ou pelo menos uma retirada estratégica. Mas isso não se deve à inteligência dos empresários e políticos, alguns até são espertos, entretanto, a maioria é um bando de desajustados, principalmente quando estão sob pressão. A sorte deles é que seus inimigos sempre estão um passo atrás, são desorganizados, não sabem o que querem, e ainda por cima, nadam na desunião. A nossa esperança no dia em que todos irão se cansar, e como bois correndo para arena vão descer pe-

las ruas quebrando tudo o que vêm pela frente, sem paciência para os bois que querem conversar. Quando o povo se irritar, tudo vai cair por chão. Motivados pela Primavera Árabe, Occupy Wall Street e outros movimentos sociais dos que tem acontecido nos últimos anos, uma parcela dos jovens com as bundas grudadas na frente do computador decidiu sair ao primeiro motivo de luta, o que não é um erro, muito pelo contrário, é muito importante, embora ainda algumas coisas precisem ser revistas, como a organização e o momento de se ter unidade. E o mais principal, artimanhas de defesa, contra aqueles que são pagos para defender. Alguns questionamentos devem ser levados em consideração como: Por qual motivo estou lutando? Qual a melhor forma de se chegar ao meu objetivo?

Quem eu estou seguindo? E o mais importante: Eu sei me defender da polícia? Ou saberei correr para direção certa quando o couro cantar? Como qualquer outro movimento nesta nossa geração, este surgiu na internet, Facebook e o Twitter foram as principais plataformas utilizadas para a disseminação das propostas, e a divulgação das atividades. Um dos resultados disso foi muita energia, e pouca sapiência no discurso e muito menos nas ações. É claro que dentro de um movimento heterogêneo tem muita gente embasada, mas isso não representa nem cinquenta por cento de todo ele. Para falar a verdade, o a Revolta do Busão é dividida em diversas facções, alguns deles não admitem isso, mas é a verdade, e não admitir é um erro grave.


Existem os filósofos, os estudantes de ensino médio, os radicais, os moderados, e uma senhorinha professora universitária, esta, sempre pertinente. Os filósofos são estudantes universitários que se refugiaram no paraíso da biblioteca Zila Mamede, e passaram tanto tempo lá, entre Marx e Rousseau, estudaram teses, argumentações, livros, artigos e todo tipo de alimento, que suas mentes se transformaram em verdadeiras fábricas de boas ideias, porém todo esse tempo voltado para o estudo, não os ensinou a ler com clareza a realidade onde vivem, por este motivo, suas ideologias não são aplicáveis na sociedade X, nem na Y. Outro problema desta facção é o ego, muitos deles reclamam dos políticos, e de quem os coloca lá, neste caso os mais pobres e sem educação. Mas eles não saem da frente de seus livros para transmitirem seus conhecimentos para essas comunidades. Claro, sigam o mestre, neste caso eu e toda a minha arrogância de inteligência. Os estudantes de ensino médio, em sua esmagadora maioria, algo em torno de 99,98% estão apenas para somar número, e para não ter aula. Isso de acordo com o meu Contador para Assuntos de Dados de Matérias Nada Parciais, um homem careca e com bigode, que também faz levantamentos de manifestantes para a Polícia Militar do RN.

Eles ainda não têm uma formação política formada, por isso é a única facção “temporária”, pois logo mais eles se tornarão qualquer uma das outras, ou então um ou outro vai ganhar um carro logo depois de passar no vestibular, e desses, uma parte vai ficar em casa xingando os protestos, que deixa o trânsito lento. Mas eles tem a sua importância para dar aquele volume. E isso numa fotografia de jornal conta muito. A classe dos radicais, ou como alguns se denominam Anonymus, só recentemente fizeram uma intervenção cibernética. Seria no mínimo engraçado ver no site da Seturn algo como: “Perdeu playboys!” Ou “Obrigado Natal, nós te amamos por encher os nossos bolsos”. Até onde a minha ausência de ignorância pode me levar, Anonymus se refere ao anonimato das pessoas que compõem este grupo, mas só eu conheço um quarto dos seus integrantes, e não duvido que qualquer outra pessoa não tenha conhecidos no movimento.


Esta categoria gosta da guerra, eles e os moderados são os únicos que enfrentam a polícia, de maneiras diferentes, pois estes ainda tentam reagir, ou outros desafiam nos argumentos, clamam por direitos humanos enquanto são espancados, mas não existe conversa quando um policial do Batalhão de Choque está munido de cassetete, balas de borracha, e botinas bem lustradas. Ainda assim, com toda essa agressividade, na hora do pega pra capá, eles afinam, como todo mundo que não é besta. Se você questiona tudo, ou é da família Guarani Kaiowá, ou votou em Amanda Gurgel para vereadora na última eleição, muito provavelmente seria um moderado. Essa é a gelara que fica mais perto do “normal” ou racional. Tirando a chatice de alguns nas redes sociais. Os moderados são os fiscais da mídia, sempre com opiniões contrárias aos jornais da cidade, e quando a imprensa “acerta” não fez mais que a obrigação. A palavra acerta veio com aspas, pois tudo varia de acordo com a intenção comunicativa. Bem, isso é uma coisa que se aprende na universidade, a qual eu poderia resumir explicando como “o que se quer dizer”, o que é bem óbvio. O problema não está na crítica feita, e sim como ela acontece. Estes críticos conhecem muito de comunicação na hora de falar mal dos jornais e da parcialidade dos mesmos, entretanto, na hora de construírem seus posicionamentos.


A maioria deles são agressivos, generalistas e mal embasados. A mídia comete seus erros, muitos deles por interesses, outros por construções socioculturais dos jornalistas, ou então por se apegarem demais às regras da conduta do profissional, como, por exemplo, a da fonte oficial. A mídia televisiva é ainda pior, seu posicionamento é ainda mais agressivo. Outro dia acompanhei a entrevista com um cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e o entrevistador fez aquela típica entrevista, que deverá ser usada por toda a eternidade, durante todas as aulas de jornalismo, como uma maneira de não se entrevistar, a menos que a sua inteção seja deixar na cara a sua intenção comunicativa. Em outro caso, no meio do confronto com a polícia, um militar, chegou para o cinegrafista e apresentou um paralelepípedo, daqueles que são usados para calçar as ruas, ele afirmou ter sido arremessado por estudantes, os quais estavam há mais de 50 metros de distância.Sério, nem o campeão mundial de arremesso de peso vai conseguir arremessar este objeto a esta distância. Conclusões que eu tirei com essa matéria: 1-ESTUDANTES VÃO PARA A ESCOLA OBTEREM SUPERFORÇA. 2-POLICIAIS VÃO PARA A ACADEMIA APRENDEREM A MENTIR DESCARADAMENTE.


Entretanto, boa parte dos moderados que criticam a mídia, gostam de acessar, e se embasar de informações tiradas de veículos nada imparciais, muito pelo contrário, eles são tão parciais, ao ponto de só existir uma opinião certa. A deles. Este veículo foi fundado por um misto de pessoas que podem ser consideradas moderadas, e filosóficas, que agora já se formaram e acham que não tem mais idade para apanhar.Todas essas diferenças são

mais perceptíveis nas plenárias. Ou pelo menos naqueles que estive presente, e o tempo de enrolação não passou do limite do suportável. Você pode achar que é preguiça minha, pode até ser, mas a verdade é que muitas pessoas usam movimentos como estes de trampolim para alguma coisa. E essa alguma coisa tem nome: polííiítica. Ou pelo menos para aparecer. Ainda mais a Revolta do Busão. Os movimentos que a inspiraram como a Primavera Árabe, e

o Occupy Wall Street não tinham líder. Nos debates, e conversas internas, algumas pessoas se destacam mais que as outras, porém não existia a instituição de liderança formada. Ou pelo menos uma comissão a quem deveria se recorrer. Isso funcionou muito bem lá. Até em São Paulo teve um sucesso. Aqui também dá para ver alguns pontos positivos, principalmente na boca dos componentes, mas ainda assim algumas deficiências são claras.


Primeiro: não tem organização. Toda essa diversidade de pessoas e interesses leva a discrepância de ações, enquanto algumas pessoas apenas caminham com faixas, outras quebram os ônibus. E quando as pessoas do movimento são questionadas sobre essas ações, elas sempre respondem dizendo não poder fazer nada, pois o movimento é aberto, mas eu me pergunto, não seria necessário pegar um vândalo desse, e botar para fora, para

ele deixar de prejudicar um bem maior, que o seu interesse de destruir? Eu sou a favor do caos, mas na hora certa. Segundo: não ter alguém que fale pelo ato. Isso é uma colher de sopa para quem for da imprensa e tiver alguma intenção contrária ao movimento, claro, pois é só pegar uma pessoa sem uma formação política decente e abrir a tampa da privada, para que esta solte suas merdas no bojo do microfone.

Terceiro, e o mais preocupante: a falta de liderança é o sinônimo de uma cadeira vazia, e algumas pessoas vão querer sentar nela, ou apenas aparecer para a mídia. No ato do dia 21 de maio, um jovem relativamente alto, com sobrepeso, cabelo louro e cacheado, em todos os momentos que eu o vi ele estava se comportando como um líder, dando ordens, dando ordens, dando ordens. Bem essa era a parte da liderança que ele estava exercendo.


Mas ele não tinha essa competência, não o conheço, mas sei que ele não tinha a cara de um líder. Sim, líder tem cara, eu mesmo sou capaz de achar alguém que nasceu para ser um, na Avenida Rio Branco, com todas aquelas pessoas passando. Neste mesmo dia, este jovem lançou a regra, gritando para todos os que passavam pela portaria da governadoria: NINGUÉM FALA COM A IMPRENSA! NINGUÉM FALA COM A IMPRENSA. Cerca de 300 metros depois a mesma criatura estava falando com todos os representantes da imprensa, menos eu. Esse tipo de gente deveria procurar um psicólogo, dentre os milhões de problemas que esta ação pode diagnosticar, a ausência de senso é escolhida na mesa de apostas aqui. Com toda sinceridade, não compreendo o medo que todos eles tem da imprensa, os jornalistas são como alguns advogados, ele não mente, apenas encontram brechas nos fatos e discursos, e omitem informações. E você manifestante é o culpado disso também, afinal, as brechas foram deixadas por alguém. Então a preocupação deve ser de não deixar nenhuma ponta solta. Mas confesso isso é quase impossível. Ainda assim ele não deve deixar de falar de um manifestante quebrando um ônibus, uma parada, ameaçando

o poodle de uma desavisada senhoria passando na rua. Neste mesmo dia após fazer a passeata pelas avenidas da cidade, pois um juiz proibiu a interdição da BR 101, os manifestantes seguiram para o centro administrativo aproximadamente ao meio dia, com o sol a pino, quando debaixo de uma árvore, no centro administrativo do governo do estado os estudantes preparam outra plenária, nesta, eles deveriam tomar a decisão do que fazer, entre algumas propostas a que mais me chamou a atenção foi de voltar, e fechar a BR 101, é claro que contrariar uma recomendação duvidosa, de um juiz me agrada, entretanto, eu prefiro ficar com a facção moderada “não adianta ir para a BR, só apanhar!”. Já os filósofos, argumentaram dizendo numa revolução, algumas baixas são necessárias. Eu não sou contra ir para um protesto sabendo que a polícia estará lá, sedenta para descer o cacete em estudante desarmado. Mas se você sabe do projeto da Choque, aliás, não é segredo para ninguém, eu não gostaria de ir desarmado, ou desprotegido. E isso não é incitar a violência, é autodefesa. Incitar a violência é falar para um policial “manter a ordem”. Mas você ir às ruas, sabendo que não será recebido com doces e chá, e sim com botina na cara e balas de borracha na perna, é melhor levar, no mínimo um escudo, afinal, onde existe ordem dentro de uma pancadaria ou massacre?


Estar preparado é sim trabalhar para manter a ordem e o equilíbrio, pois policiais armados e manifestantes de peito aberto, não tem cara de equilíbrio, é a mesma coisa de um Barcelona jogar contra o América no Barretão. O fato é que a luta não deve se concentrar em fatores pontuais como a redução de tarifas. Pois lutar por passagens mais baratas é uma espécie de tiro no pé, os empresários até podem baixar, e daqui

há mais 8 meses ou um ano, ela vai subir outra vez, os estudantes tomarão as ruas, e apanharão, e brigarão, e ela vai baixar. E em menos de um ano tudo vai acontecer outra vez. Enquanto no meio disso tudo, eu continuarei pegando ônibus velhos, esperando horas por veículos nos finais de semana, sendo mal tratado por alguns motoristas que cumprem duas funções, vendo empresários mandarem mais que vereadores. Outro

dia peguei um veículo, e alguns bancos foram tirados, para caber mais pessoas em pé. Sinceramente não vejo a hora de caminhões boiadeiros se tornarem transporte de primeira classe nessa cidade onde as pessoas são verdadeiro bezerros prontos para o abate, e o voraz predador não vai deixar nada, nenhum pedaço de osso, ou gota de sangue. É por isso que eu digo, vamos lá, vamos pegar tudo, pois é melhor eles que eu.

Nota do editor Esta matéria foi escrita antes dos eventos do mês de junho, os quais enchem de esperança os mancebos brasileiros, aguardando dias melhores no horizonte. Esse editor também espera que esse dia chegue, mas prefiro pegar a cadeira e esperar sentado.

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Abandonar a vida em Nova York para trabalhar no San Juan Daily News, um jornal decadente da capital porto-riquenha, não parecia ser a melhor ideia para o jornalista Paul Kemp. Com grande afinidade e relação próxima com a bebida, especialmente, o rum, a vida na ilha caribenha não foi tão árdua, principalmente devido às bebedeiras ao lado de colegas do jornal e dos momentos de amor vividos no Caribe. As fotos a seguir mostram um pouco do cotidiano de Paul Kemp em San Juan, capital de Porto Rico. Dominada pela crescente especulação imobiliária e pelos negócios de empresários norte-americanos, a ilha caribenha apresentava,

ao mesmo tempo, os novos prédios voltados aos turistas, e as antigas construções, abandonadas e extremamente deterioradas, junto à realidade de pobreza de grande parte da população local. Com dia-a-dia nas praias de San Juan, transitando pelas ruas estreitas com prédios um dia ocupados, hoje deixados de lado, Kemp não costumava passar muitos de seus dias sem interagir com sua máquina de escrever, onde pôs muitos de seus pensamentos, sua rotina e efeitos de suas bebedeiras.


Memórias de San Juan

Personagem principal de “Rum: diário de um jornalista bêbado”, primeira ficção escrita pelo jornalista Hunter Thompson, Kemp é servido aos leitores como criatura moldada pela cabeça do pai do jornalismo gonzo. A semelhança do jornalista fictício com o estilo de vida do próprio Thompson, consumidor de todo tipo de drogas e admirador da contracultura, mostra uma personalidade forte daquele inspirado no também norte-americano Ernest Hemingway – membro da “geração perdida”, comunidade de escritores expatriados em Paris, e contestador do fascismo espanhol, onde também viveu parte de sua vida. Nesse relato fotográfico, o leitor é convidado a conhecer um pouco mais de Paul Kemp e dos dias que passou em terras paradisíacas extremamente visadas pelos Estados Unidos em meados do século passado.

FICHA TÉCNICA DAS FOTOS: Fotos: Pedro Andrade e Yanna Medeiros Modelo: Juão Nin


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A bazuca contracultural de Hunter Thompson POR YURI BORGES, JORNALISTA

“Uma noite, no inverno de 1965, eu levei a minha moto – e um passageiro – pro lado mais alto de uma estrada escorregadia por causa da chuva ao norte de Oakland. Eu entrei numa curva obviamente perigosa a uns 110 Km/h, esticando a minha segunda marcha. A pista molhada impediu que eu inclinasse o suficiente para compensar a tremenda inércia e, em algum lugar no meio da curva, percebi que a roda traseira não estava mais seguindo a dianteira. A moto estava indo para o lado na direção de uma rampa de trilho de uma ferrovia e não havia nada que pudesse fazer a não ser esperar. Por um instante, a sensação era de muita paz… E depois foi como ser atirado para fora da estrada por uma bazuca, mas sem nenhum barulho.”O trecho acima, do livro Hell’s Angels, em que o jornalista e escritor Hunter S. Thompson narra como se esbagaçou em sua moto, pode ser considerado como uma síntese de duas modalidades de jornalismo surgidas quase que no mesmo período e profun-

damente inspiradas pelo movimento de contracultura das décadas de 50 e 60: o Novo Jornalismo e o Jornalismo Gonzo . Mas Hell’s Angels, por ser uma espécie de obra de transição de Thompson, ajuda a demonstrar mais do que isso: explica as diferenças entre o Novo Jornalismo e o Gonzo e explica porque foi ele, Thompson, – e não Capote, Talese ou Mailer, por exemplo – quem levou a contracultura às últimas conseqüências em sua obra jornalístico-literária. O livro foi publicado originalmente em 1967 e trata dos grupos ou gangues de Hell’s Angels, que na década de 60 foram alvo de grande estardalhaço por parte da imprensa americana e povoaram o imaginário da população do país como perigosos malfeitores. Thompson desvenda os exageros e mitos criados pela imprensa da época a respeito deles e explica como surgiram e o que eram essas gangues de motoqueiros. Mas o grande lance é que o livro não é um amontoado de relatos

de segunda mão – como tão freqüentemente costuma continuar a ser o jornalismo – nem uma tese de antropologia, apesar de ser tão profundo quanto uma e com certeza muito mais vibrante. Hell’s Angels é um livro feito a partir de uma técnica chamada “imersão na realidade” ou “captação participativa”.Isso quer dizer simplesmente que, para escrever sobre os caras, Thompson praticamente virou um deles: passou a conviver com eles diariamente durante cerca de um ano, a rodar em cima de sua própria motocicleta e a ver pessoalmente como eles viviam e o que faziam. Até aí se trata da mesma técnica fundamental do Novo Jornalismo, que incluía, ainda, outros procedimentos constitutivos. Mas Thompson ainda extrapolaria ainda mais na “imersão” e é aí que se encontra a pedra de toque que iria distingui-lo dos novos jornalistas. Ele terminaria por se tornar o protagonista de suas histórias, invertendo completamente a lógica jornalística. Isso fez com que inclusive outras

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características – presentes em Hell’s Angels – se exacerbassem depois, em livros como Medo e Delírio em Las Vegas (1972). Dentre elas está 1.) a utilização do narrador em primeira pessoa, 2.) o consumo de drogas e a descrição dos acontecimentos a partir deste ponto de vista, 3.) o uso do sarcasmo e/ou vulgaridade como forma de humor, 4.) a dificuldade de discernir ficção de realidade e 5.) a tendência de se distanciar do assunto principal ou do assunto por onde o texto começou, ou seja, o mote jornalístico inicial. Thompson teve colhões suficientes para, primeiro, renegar o jornalismo convencional – e simultaneamente afrontar os literatos. Mas isso já havia sido feito pelos novos jornalistas. Ele, então, resolveu ir além do que se faziam no Novo Jornalismo e foi fundo na subjetividade, a ponto de mandar a regra número um do jornalismo, a referencialidade, pras cucuias. Sua obra foi parar num limbo entre jornalismo e literatura e literatura confessional, confrontando, ao mesmo tempo, as regras de todos eles e demonstrando quão frágeis podem ser vários de seus parâmetros. Assim como queriam vários dos movimentos contraculturais, ele consegue questionar discursos sociais (nos quais se incluem discursos profissionais também) cristalizados e desfazer determinados limites ou linhas divisórias pré-estabelecidas pela tradição. É claro que tudo isso teve seu preço, que pode ter a ver com a sua morte por suicídio, com um tiro na cabeça, em fevereiro de 2005.


Entrevista

CIENTISTA CABEÇA

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Os anseios, lembranças, opiniões, declarações do famoso e polêmico neurocientista brasileiro, Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da UFRN. TEXTO POR FELIPE GALDINO FOTOS POR AURA MAZDA

Saí da redação apressado... Não podia me atrasar. A assessora de imprensa foi bem clara ao telefone: “Chegue na hora porque ele é muito atarefado”. Pois bem. Dirigindo mais rápido que podia em Natal, a cidade em que estrutura de trânsito parece trafegar num caminho distinto da organização, acabei por chegar dez minutos antes da hora marcada. Era 13h50 em Natal e a Cidade do Sol fazia jus a sua alcunha. Estava um calor danado naquela tarde. Não sei ao certo se porque eu estava um tanto quanto nervoso. Eu era acompanhado da fotógrafa Aura Mazda e iríamos entrevistar um dos caras mais fodásticos do país, quiçá do mundo. Chegamos, estacionei minha Parati ano 1997 nos confins da Avenida Nascimento de Castro no cruzamento com a Avenida Xavier da Silveira. Estávamos no Instituto do Cérebro e nossa intenção era

conversar um pouco com o neurocientista, capoeirista e legalizador Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro. Rapidamente fomos atendidos, mas não pela figura que seria a entrevistada da tarde. Corri na minha velha Parati para nada. O homem ainda estava dando uma aula. Passado alguns minutos, quando ela finalmente acabou, pensei que fosse a hora. Não foi. A assessoria dele disse que o cientista estava com fome e iria almoçar antes. Minutos depois, chegou a hora. Fomos para a biblioteca do prédio e esperamos um pouco mais. Então surgiu um homem de pouco mais de 1,70 metros, cabelo bem curto, grisalho. Lá pros seus 40 anos. Descobri que são 42 anos. Ali era Sidarta Ribeiro, o brasiliense que cursou Biologia na universidade local, se mudou para o Rio de Janeiro para fazer mestrado em Neurociência, saiu do país para ser doutor na Uni-

versidade de Rockefeller, em Nova York, e fazer uma pós na Universidade de Duke, na Califórnia. Ele cumprimentou a todos na sala e sentou, demonstrou simpatia. Pronto, a entrevista iria começar. Antes de conhecê-lo imaginava que Sidarta fosse como quase todo cientista ou professor universitário, que parecem ter a “Síndrome de Estrelismo”. Os caras se acham o próprio Sol. Não o cientista de Brasília. Antipatia não dá para dizer que faz parte de sua personalidade. Bem, vem agora uma pequena entrevista com Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte desde 2011, quando o prédio foi inaugurado. - EU: O nome do senhor é um pouco diferente... “Sidarta”... O senhor sabe o porquê seus pais optaram por ele? = Sidarta Ribeiro: “Minha mãe escol-

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heu esse nome. Ela veio de uma família meio ligada ao budismo e meu avô era da teosofia, uma espécie de religião, não sei, e tem um livro chamado ‘Siddharta’, do Hermann Hesse, que é a história do Buda e meu pai gostou”. - O senhor é religioso? SR: “Não, sou cientista. Na verdade eu acredito em todos os deuses, mas todos eles moram dentro da minha cabeça; não acho que tenha nada [espiritual] fora de mim”. - O senhor é capoeirista, não é? Como o senhor entrou nessa? SR: “Eu entrei quando estava no doutorado lá em Nova York. Lá é que comecei a aprender capoeira. Agora sou professor, mas lá pros 50 anos, se der certo sou mestre... Se o joelho aguentar (risos).


Acho que isso é uma coisa nova... Brasileiros que aprenderam capoeira fora do Brasil e hoje em dia dão aulas de capoeira no Brasil. A capoeira tá no mundo todo. Quando eu tava no Brasil, eu me sentia velho demais, gordo demais e não flexível suficiente pra

fazer capoeira; e quando eu tava lá com os gringos pensei: ‘Bom, se eles podem, eu também posso’ (risos)”. - Mas a capoeira trouxe algum benefício pra o senhor como cientista? SR: “Muitos. Sempre digo isso: capoeira e ciência têm dois pilares comuns, que é a

alegria e a disciplina. Você não faz ciência sem alegria e não faz sem disciplina. Você também não faz capoeira sem as duas coisas. A capoeira te dá a capacidade de cair e levantar.... vencer é fácil, todo mundo sabe vencer, o difícil é perder, e a capoeira é um treinamento

“Não sou favorável à legalização da maconha, sou favorável à legalização, regulamentação e taxação de todas as drogas. Não tem nenhuma razão pra algumas drogas serem liberadas e outras não”

Cigarro SR: “Acho que um bom exemplo é o que acontece com o tabaco. Ele é a única droga cujo consumo realmente decresce nos últimos dez anos, isso acontece não porque foi proibido, acontece porque ele foi submetido a uma campanha de esclarecimento. Você vai comprar se cigarro e vê lá a infor-

mação que aquilo causa câncer, e isso tem efeito. Doze anos atrás o consumo de cigarro no Brasil era de 47%, hoje é de menos de 15%. Você não consegue isso com a proibição, mas com a informação. A proibição é a pior das formas de acabar com as drogas porque toda droga tem três eixos de

ação: a substância, que é o que a pessoa ingere; o corpo do cara que vai receber a substância, e a terceira é o contexto social. A proibição agrava o eixo da substância porque a pessoa nunca sabe o que tá ingerindo e qual a dose certa e é aí que vem a overdose; o eixo do corpo é péssimo porque haven-

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de perder e levantar sorrindo e continuar jogando”. - Uma coisa que foge um pouco, mas nem tanto, da ciência é a questão da legalização da maconha. O senhor é bem engajado nisso. O senhor acha que o Brasil está preparado para essa mudança? SR: “Acho que o Brasil está despreparado para manter a proibição. A proibição custa muito em perdas de vidas... Tem muita gente na cadeia à toa, morta à toa. A proibição é um desastre; qualquer mercado negro é um desastre. E não sou favorável à legalização da maconha, sou favorável à legalização, regulamentação e taxação de todas as drogas. Não tem nenhuma razão pra algumas drogas serem liberadas e outras não. Todas elas tem benefícios e maleffícios e isso tem que ser informado pra população. Uma das drogas mais perigosas que temos é o álcool, por outro lado é uma droga com benefícios maravilhosos... Você faz uma festa sem álcool e veja como é chata. Esse discurso moralista de ‘Ah, essa droga é o demônio’ e a outra ‘Ah, que maravilha’... O álcool e o tabaco são uma maravilha e o outro é o demônio tá errado.

do a proibição não há debate aberto sobre os tipos de risco, não há um estudo pra saber se o cara é alérgico a cannabis; e no eixo da sociedade não preciso nem dizer porque pra proteger o usuário a polícia vai e mata... que beleza. Eu faço parte de um grupo que é a favor da mudança”.


OEA SR: “Tem um documento da Organização dos Estados Americanos [OEA] dizendo que a proibição não dá certo, ela é muito mais deletéria do que as drogas; com as drogas a gente lida, a humanidade só é o que é por causa das drogas. Sempre vai haver o individuo que abusa... tem o abusador de álcool e de açúcar, uma droga pesada, altamente viciante que as pessoas compram livremente”. - Para o senhor o que faz a sociedade ser tão “paranoica”? SR: “Isso é uma realidade histórica, não foi sempre assim. Isso aconteceu nos anos 1910, nos Estados Unidos, no protecionismo americano... Eles primeiro proibiram o álcool, e os resultados foram desastrosos, o maior índice de criminalidade nos Estados Unidos foi durante a proibição, com Al Capone e toda a máfia ligada ao mercado negro, e depois que eles voltaram atrás, passaram a proibir as drogas que eram utilizadas pelas classes marginalizadas. A maconha era usada por mexicanos e negros, e a cocaína principalmente por negros, então demonizaram essas drogas e passaram a glorificar o álcool como a droga de todos. As pessoas não fazem ideia que nem sempre foi assim. Se você for em 1972 perguntar sobre o divórcio, as pessoas iriam falar que era do demônio, e no entanto o divórcio virou lei. A mesma coisa do homossexualismo, que era um tabu enorme há 20 anos e hoje em dia não é mais”. - O senhor usa essa questããããao das drogas nas suas pesquisas? SR: “Eu não pesquiso can-

nabinóide ou tenho trabalhos publicados, não por falta de curiosidade, mas porque é muito difícil obter essas substâncias. A gente consegue substâncias ilícitas um tempo atrás, mas foi uma dificuldade. Há um problema danado e isso gera coisas engraçadas porque eles dizem que não podem legalizar porque não há pesquisa, mas não há pesquisa porque não é legalizado (risos). Boa parte do que fazemos na neurociência é estudo de substâncias no cérebro. Por isso pra a gente é muito estranho que umas sejam proibidas e outras não, porque a gente sabe que são todas elas substâncias com ações específicas. No meu cérebro e no seu cérebro está cheio de substâncias cannabinóides, a gente produz essas substâncias”. - Por que o senhor resolveu seguir pela área do sono, do sonho e da memória? SR: “Fui fazer doutorado em Nova York pra trabalhar com canto dos pássaros, como os pássaros aprendem a cantar e como guardam na memória. Mas logo quando cheguei eu tive um período de uns dois meses em que eu não conseguia ficar acordado; ia pras aulas e dormia, ia pro laboratório e dormia, cheguei a dormir 16 horas por dia. Eu ia pras aulas e não entendia direito, foi muito difícil. Foi num inverno, cheguei em janeiro. Fiquei assustado, achando que não fosse conseguir. Eu chegava a ficar calado pra ninguém perceber que eu não tava entendendo nada; aí quando veio a primavera passei de um estado de nenhuma adaptação pra um de muita adaptação. Em uma semana saí de um desconforto

enorme pra um conforto de entender tudo, saber o que tá fazendo e as coisas darem certo no laboratório. No início pensei: ‘Ah, o sono tá me sabotando’. Só que depois eu percebi que o sono não estava me sabotando, tava me preparando. Eu tava passando por um momento difícil: eu tava longe da família, sozinho, num país diferente com língua diferente, um frio danado, cheio de neve com pouca luz. Meu corpo tava sofrendo e o sono tava me preparando. Me interessei por isso e fui procurar um livro do famoso [Eric] Kandel. O livro dizia que a gente sabe bem o mecanismo que leva ao sono, mas não sabe o porquê do sono existir. Pensei que se um cara como ele, que ganhou um Nobel, tá dizendo que ninguém sabe, então é um bom lugar pra trabalhar, já que ninguém

sabe de nada. Comecei um projeto em paralelo onde usava a expressão gênica em ratos dormindo pra saber como o sono trabalha com a memória. Aconteceu que ao final de cinco anos e meio, tempo do meu doutorado, acabei optando por esse outro caminho”. - Houve outros problemas de adaptação no exterior? SR: “Quando eu estava no pós-doc, na época do ataque de 11 de setembro, em 2001, passei a ver coisas que eu não gostava. O país ficou muito conservador, repressivo, muita paranoia e violência. Não me atrapalhou diretamente, mas senti que algo mudou. Meu vizinho na Carolina do Norte, após o ataque botou um adesivo no carro dele que dizia algo do tipo: ‘Pega a gasolina deles e joga uma bomba no traseiro deles’.


E ele sabia que eu era brasile- referência internacional”. iro, aí passei a ficar preocu- - E o que falta pra estar enpado como esse cara estaria tre os melhores? me olhando. Eu morava no SR: “Ah, falta muito. A gente sul, mais conservador e essa está pros americanos assim foi a experiência de estar no como a Bolívia está pro nosso meio daquilo”. futebol brasileiro”. - O Instituto Cérebro vem - Mas isso é por falta de insendo seu foco pessoal e centivo do governo? profissional. Como está o in- SR: “Não, o governo está stituto após esses dois anos? dando incentivo, estamos SR: “Estamos muito bem di- com dinheiro. Não tá faltanante das circunstâncias. Há do dinheiro, não tá faltando dois anos esse prédio aqui equipamento... A questão era uma casa vazia, hoje os é da formação intelectual laboratórios estão todos do povo brasileiro. Temos montados, tá tudo funciona- um ensino básico péssimo, ndo, estamos num processo ensino médio péssimo, unide crescimento acelerado. versidades que também Quando a gente começou não são tão boas... Não tem eram 90 pessoas, hoje são como ter uma pós-gradu157. E atrai pessoas de fora ação de alto nível se a base é do país, aqui no prédio tem ruim. Hoje em dia tenho uma pessoas da Suécia, Ale- visão mais crítica. Quanmanha, Argentina, Portugal, do vim pra cá há sete anos, Tunísia, Colômbia; então é eu tinha um discurso muium ambiente muito interna- to utópico: ‘Vamo fazer isso cionalizado. Existe um mov- aqui, vai ser revolucionário imento de neurociência hoje e vamo tomar a liderança!’, em Natal fortíssimo e isso mas hoje depois de sete anos, não existia antes; existia al- vejo que a gente avançou, só guma pesquisa de neurociên- que falar que vamos ganhar cia na UFRN, na fisiologia, o campeonato é diferente. mas era um pessoal fazendo No Brasil o que não falta é neurociência num ambiente dinheiro, a gente compra um que não é de neurociência. equipamento e eles só chega Agora temos um grupo só daqui a um ano. Nos outros dessa área”. países se eu pedir chega em - Eu: Podemos dizer que um dia. Assim fica difícil, e a mesmo com apenas dois ciência é baseada em quem anos de existência o in- chega primeiro à verdade. O stituto do cérebro já é uma caminho pro Brasil se tornar referência nacional ou até cientificamente forte é lonmundial? go, mas estamos caminhanSR: “Nacional sim, claro que do nessa direção” não são dois anos porque na - Enquanto às pesquisas do verdade esse projeto tem 15 instituto, estão avançadas? anos. Foi um processo que SR: “Vemos um monte de culmina na criação do in- resultado. O trabalho da stituto há dois anos. Mas, pesquisa é algo que culmina internacional não. Nossa no artigo científico. Um ano produção é de nível interna- de trabalho que se transforcional porque a gente publica ma em quatro ou cinco pánas melhores revistas que ginas. Cada professor tem existem, só que enquanto a várias pesquisas rolando e gente faz um gol, os gringos uma hora chega ao ponto fazem 100 gols; então se- de conclusão e é publicada. ria uma ingenuidade minha Temos tido uma produção a gente falar que somos bastante alta, mas na ver-

dade o que conta pra a gente não é o número de artigos, mas sim o impacto que eles promovem. A qualidade é que é relevante. Um pouco do problema do Brasil é que privilegiamos por muitas décadas a quantidade. O pessoal comemora sermos o 13º país do mundo em número de artigos publicados, mas o número de artigos publicados não significa absolutamente nada porque se você escrever algo que ninguém cita, do que adianta fazer? Nossa ênfase aqui é na qualidade; não quero publicar 20 artigos por ano... Se eu puder publicar um artigo por ano, mas que ele seja revolucionário, tá ótimo.

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Então vamos nessa direção, que é um pouco contrária ao que o pessoal faz em outros lugares por aí”. - Já há aplicações práticas, professor? SR: “Tem... Uma, que é meu xodó porque é um trabalho nosso, é um método pra fazer diagnóstico diferencial em psiquiatria, no caso, de pacientes psicóticos utilizando apenas a fala. Aquilo que eles falam é gravado e analisado matematicamente, um programa totalmente feito aqui pelos nossos técnicos. A gente descobriu que se você perguntar pro paciente como foi o seu sonho, o que ele fala é altamente revelador sobre o tipo de paciente que ele é. Mas se eu perguntar a esse paciente ‘como foi seu dia ontem?’, isso não acontece. Em outras palavras: tenho um maníaco, um esquizofrênico e uma pessoa ‘normal’... se eu perguntar a eles sobre o dia, é mais ou menos parecido o resultado, mas quando você vai falar do sonho, aí os resultados são completamente distintos”. - Como é a situação científica do Brasil na América Latina? SR: “Hoje o Brasil é mais importante cientificamente na América Latina do que há 20 anos. Mas o problema do Brasil é como transformar todo o dinheiro em ciência boa. Por muitos anos achávamos que o problema fosse a falta de dinheiro, e agora que o dinheiro é um problema menor, estamos vendo que tem outras questões que o dinheiro não resolve. Agora, o que acho que resolveria isso em um longo prazo seria colocar os salários dos professores do Ensino Fundamental num mesmo patamar dos professores universitários. Num longo prazo atrairia pessoas com vocação e talento para

o básico, e em vez de um fim de carreira, a profissão seria uma carreira promissora; eu acho que no final das contas essa é a diferença; não são os métodos pedagógicos, mas sim o fato de as pessoas que estão dando aula pras crianças serem pessoas ou totalmente idealistas e loucas ou que não tem perspectiva pra vida porque o salário é muito baixo”. minha opinião, paciência; então vamo trabalhar pra que na próxima tenham 20 mil estudantes. Quando o governo fala que vai mandar 100 mil pessoas ele tá pensando: ‘Tá bom, mesmo que 80 mil não deem em nada, 20 mil vão dar’. É nisso que tão falhando. É um investimento em educação, mas é a melhor forma de fazer? Acho que não. Acho errado que falte bolsa dentro do Brasil e você tenha bolsa pra trabalhar em qualquer lugar lá fora sem a pessoas estar qualificada. Mas é um programa ajustável”. - Será que a questãao religiosa tão predominante aqui atrapalha esse desenvolvimento? SR: “É possível que sim, mas eu acho que essa não é a causa. Nos EUA tem muito conservadorismo religioso e a ciência é muito boa. A Argentina que é nossa vizinha tem uma ciência muito boa e lá o catolicismo é fortíssimo. Claro que se a pessoa é muito religiosa e anti-ciência ela não vai se voltar pra ciência, mas o problema é a educação ruim. Se a gente tivesse o mesmo número de religiosos, mas tivesse uma educação boa, não seria assim”.

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“Temos um ensino básico péssimo, ensino médio péssimo, universidades que também não são tão boas... Não tem como ter uma pós-graduação de alto nível se a base é ruim”


- E como é a relação do Instituto do Cérebro com a UFRN? SR: “No âmbito das universidades brasileiras e no âmbito das universidades pequenas, porque a UFRN é pequena, a universidade tá bem; há dez ou doze anos ela era uma das últimas no ranking e hoje no Nordeste é a primeira, e tá subindo. Recebemos um grande apoio da universidade pra construir o que temos hoje e pra construir o que queremos ter daqui a cinco anos. Por outro lado, se olharmos criticamente pras universidades federais, que são as melhores no país, tirando a USP e Unicamp, é tudo muito ruim, comparado

a Estados Unidos e Europa Ocidental. Isso tem que ser dito pra chegarmos onde a gente quer chegar. Se você quer comprar um equipamento no Brasil, demora, é uma burocracia danada, você tem que comprar o mais barato, que é o pior; isso só pra dar um exemplo. Então estou muito feliz por ser professor da UFRN, fico feliz por ser de uma universidade que quer evoluir. Só que querer é uma coisa, e conseguir de fato é outra. Mas é uma coisa que vai mudar na prática, com o tempo. O que temos que criar no Brasil é uma ‘nova cultura’ e isso começa no segmento público. O público tem que ser melhor que o

privado” - O que o senhor acha que deva mudar no Programa Ciência Sem Fronteiras? SR: “O projeto é correto e a direção correta, a gente tem que internacionalizar nossa ciência: mais gente daqui lá fora e vice versa, agora, o governo fez isso numa escala muito grande e isso faz com que exista um descompasso no número de pessoas desqualificadas que podem ir. Não adianta você oferecer a um aluno algo que ele não está apto a aproveitar. Você tem uma pessoa que não tá preparada e joga ela na melhor universidade do mundo, ela vai sofrer muito e não dar conta; você pega um cara

que só joga bola num campinho aqui do lado e bota ele num time de futebol grande, ele não vai durar. Então é um pouco isso que tá acontecendo. Outra coisa que aconteceu e tá sendo corrigida é que as pessoas começaram a receber bolsa pras universidades que não são muito boas, pra laboratórios não muito bons em país que não são referência na ciência. É um equívoco. Isso foi identificado, eu senti que estão falando disso. O Ciência Sem Fronteira deveria ser voltado pras universidade de excelência e pros alunos também. Ah, mas aí se tem 10 mil, não tem 100 mil... na

“Há um problema danado e isso gera coisas engraçadas porque eles dizem que não podem legalizar porque não há pesquisa, mas não há pesquisa porque não é legalizado (risos)” 38


minha opinião, paciência; então vamo trabalhar pra que na próxima tenham 20 mil estudantes. Quando o governo fala que vai mandar 100 mil pessoas ele tá pensando: ‘Tá bom, mesmo que 80 mil não deem em nada, 20 mil vão dar’. É nisso que tão falhando. É um investimento

em educação, mas é a melhor forma de fazer? Acho que não. Acho errado que falte bolsa dentro do Brasil e você tenha bolsa pra trabalhar em qualquer lugar lá fora sem a pessoas estar qualificada. Mas é um programa ajustável”. - Será que a questãao religiosa

tão predominante aqui atrapalha esse desenvolvimento? SR: “É possível que sim, mas eu acho que essa não é a causa. Nos EUA tem muito conservadorismo religioso e a ciência é muito boa. A Argentina que é nossa vizinha tem uma ciência muito boa e

lá o catolicismo é fortíssimo. Claro que se a pessoa é muito religiosa e anti-ciência ela não vai se voltar pra ciência, mas o problema é a educação ruim. Se a gente tivesse o mesmo número de religiosos, mas tivesse uma educação boa, não seria assim”.


A MINHA VAQUEJADA FOI: TEXTO E IMAGENS POR EDGAR SABINNO

Antes de tudo, queria avisar, esta é a matéria que eu mais sonhei para essa revista, por isso, leia-a com respeito, ou então se você leu Crepúsculo tenha o escrúpulo de ir até o final.Durante as reuniões de pauta para a revista eu sugerir, acatei e me pautei de fazer uma matéria sobre as vaquejadas. Não sei se essa ideia veio mais influenciada pelo clássico do gonzo “The Kentucky Derby Is Decadent and Depraved”, ou ainda pelo livro O Sol Também se Levanta, de Ernest Hemingway, o qual estava lendo naquele período, ou ainda influência de meus tios que correm em bolões amadores no interior do estado. Independente disso ela foi aceita, e eu me deleguei para fazê-la. A primeira corrida selecionada para cobrir foi a grande Vaquejada de Macaíba, porém, devido a contratempos não foi possível acompanha-la Então ficou decidido: Vou cobrir uma etapa do maior circuito amador do Brasil, no dia 26 de maio, em Monte Alegre. Porém, meu amigo, esta viagem começou no dia anterior, no sábado. Um dos maiores grupos de samba estava escalado para fazer o seu primeiro show em Natal, o Casocomsuaprima, se apresentaria na Praia Sol, na Via Interiorana de Natal, e isso se tornou uma preocupação para mim. Como conciliar as duas coisas? Você pode dizer: -Mas é vai ser uma num dia e outra em outro, não tem problema. Jovem andarilho do caminho do conhecimento, cada um conhece a vida e o carma que carrega..

Ainda assim não deixei de ir, afinal, este é o jornalismo gonzo, quando você deixa de fazer alguma coisa por causa de uma matéria? Se fosse assim não estaria sendo sincero com o meu trabalho. E se tem uma coisa que eu tenho de cumprir aqui, e a originalidade com o estilo. Devido à essa matéria fiquei com responsável por um fusca 79, vermelho, o qual já teve dias melhores, logo depois da reforma passada por ele há uns 7 anos atrás. Agora ele voltou aos anos das vacas magras. Por incrível que pareça, ele ainda chama a atenção de algumas pessoas quando passa. Detalhe, a minha habilitação foi tirada em agosto de 2012, e desde esse dia, nunca tive o carro liberado para sair sozinho para Natal. E essa deveria ser a primeira vez. O plano é o seguinte: ir de ônibus até a casa de Cassius, um amigo meu, e de lá ir para o show, na volta, eu deveria passar a noite lá, e logo cedo voltar para casa, para esperar o meu pai, e ir com ele para a vaquejada. Simples e claro. No primeiro momento foi tranquilo, fui até a casa de Cassius sem muito imprevistos, deveria chegar lá de tarde para vez a final do campeonato europeu de tênis de mesa. É difícil das pessoas entenderem, mas você pode ter toda a confiança do mundo, entretanto se algumas pessoas específicas, não depositam a mesma fé em você, tudo o que você e seu psicólogo trabalharam vai por águam abaixo. E por isso deixei o carro morrer em um dado momento. Mas isso não foi nada, comparado ao fato de ele não querer ligar mais e uma fila de pessoas buzinando logo atrás. Sem falar desta cena acontecer num cenário de um trecho em reformas.

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Mas nós passamos por cima disso, superamos as barreiras e chegamos à casa de Cassius. Não encontrei ninguém lá. Estava todo suado, pois o Fusca ainda vem com um bônus de estar numa sauna, o sol parecia estar a 30 metros de altura, era possível sentir minha pele borbulhando de calor. A casa estava vazia e onde estava todo mundo estava na casa de Edmundo, primo de Cassius e amigo nosso. Uma coisa é ir para um lugar que você conhece, outro é seguir para outro que você não sabe onde fica, ainda mais nas minhas condições. Prestar atenção no trânsito e procurar um lugar desconhecido é demais para mim. Mas chamei a responsabilidade e saí. Chegando à casa de Edmundo, todos estavam reunidos assistindo ao jogo e, como é de lei tomando cerveja. Fui logo servido, e com todo aquele calor, ela desce saborosamente, veio a próxima, e a próxima, até que todos atentaram para um detalhe: eu estava dirigindo! Vamos lá ver o fusca, beleza, a chave está aí na mesa. NÃO! ELA NÃO ESTÁ AQUI! ONDE ESTÁ ESSE CARALHO?! Desesperei, porém um lugar era certo... Dentro do carro. Saí desesperadamente enquanto na minha cabeça algo falava, sorrindo: -Sua primeira vez, e já vai fazendo merda! Kkkkkkkkkkkkkkk Seu bosta! Kkkkkkkkkkkkk


UM FUSCA, ALGUMAS CERVEJAS, SAMBA, E UM PNEU FURADO Quando cheguei ao lado do carro olhei nos bancos e nada. A luz atrapalhava, pois o reflexo não me deixava ver o que tinha dentro do carro, ainda assim consegui ver, muito mal, a chave ainda na ignição. Neste momento voltei para a casa, e avisei o que tinha acontecido. Entre risadas sugeriram esperar a chegada de um bugy, quem sabe a chave funcionaria. Mas eu sabia que não ia dar certo, pois as chaves da ignição e da porta são diferentes, e qualquer Bugy Selvagem não tem porta. Eu estava ferrado. Adeus vida social! Parabéns seu idiota! Fui para a rua tentando usar alguma habilidade criminosa, oriunda do lugar de onde eu venho, quem sabe tenha pego algo por osmose, ou pelo ar. Mesmo não sendo a melhor pessoa do mundo, para algumas mães da vizinhança, eu sou um exemplo a ser seguido pelos filhos. Deixe-as pensando assim. O segredo de não ser condenado é ter um bom histórico, e sempre testemunhas de seu comportamento impecável. Tentei puxar os vidros para baixo, mas eles eram elétricos, por isso seria quase impossível. Já estava desistindo quando fiz minha última investida. Dessa vez, nos quebra vento. Se você não sabe o que é um, é uma parte do vidro, porém ele é separado e tem movimento independente, e trava separada também. Para a minha sorte, um deles estava quase aberto, bastava fazer uma pequena força, e a gravidade faria o resto puxando a trava para baixo.

Desta vez o meu plano funcionou. E consegui abrir a porta. A chave estava salva. Travei tudo novamente e saí. Novamente suado, sentei e fui tomar mais uma, dei um gole, e parei. PUTA QUE PARIU!!!! Percebi que estava usando a minha carteira de motorista provisória, estava bebendo e tem uma maldita de uma lei seca fudendo qualquer um desgraçado que saia de casa dirigindo e bêbado. Bêbado nada, basta ter cheirado antisséptico bucal. E tenha uma boa estadia na cadeia, ou pague a fiança para responder em liberdade. Se você não tem a grana o jeito é vender o seu carro para pagar ou então fazer amizades com a nova vizinhança. Parei naquele momento. Além do mais não deve ter muita sorte. Eu estava no bairro vizinho, o máximo que faria seria cruzar a BR.Durante o jogo conversávamos sobre várias coisas. Então surgiu a primeira questão: qual é o motor desse fusca? 1600. E qual é o ano? Não sei, mas deve ter no documento. NÃAAAAAAAAAAAAAO JÁ CHEGA DE SURPRESAS! CADÊ O DOCUMENTO? Decidi que não sairia mais de carro por toda a minha vida! Esqueci a porcaria da documentação. Algumas pessoas deixam os documentos dos veículos no para sol, fui conferir e nada: uma última olhada no porta luvas, vai que dá certo, né?! E acreditem, estava lá!

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Pude respirar outra vez. Agora é só ir para a casa de Cassius, deixar o carro lá e pegar só no outro dia. O retorno para a casa dele foi tranquilo, nada de polícia, apenas deixei o carro morrer no mesmo lugar onde eu já tinha feito isso mais cedo. E sim, foi a mesma cena. O resto da noite foi tranquila, sem mais pedras no caminho, uma bela apresentação, como era de se esperar, e tomei algumas cervejas para acompanhar o clima. Voltamos e fui dormir. A nível de material para estimular o leitor o resto da noite não teve nada de interessante. Refiro-me a algo que interesse ao senhor leitor, pois a grande maioria gosta de ver o circo pegando fogo, a giripoca piando, o chamboque do dedo, o sangue escorrendo pela face. Resumindo, alguém se fudendo. Então para não contar coisas legais para mim, e nada interessante para você, eu preferi resumir o resto da noite naquele parágrafo, pois é melhor do que ler um bocado de coisas legais, mas exclusivamente para mim, que não influenciam em nada neste texto, e partir para o que interessa. Como disse a giripoca piando. Confesso que estava ansioso para a vaquejada, nunca estive neste ambiente, talvez o meu tênis Converse vermelho não fosse lá muito aceito, ou outras atrações planejadas por mim. Algo como todos os bois saíssem correndo desembestadamente pelo pátio entre as pessoas. Pois por algum motivo do além, o curral onde eles estavam reunidos foi aberto. Assim, do nada.


Mas vamos lá, separar os elementos: Estepe – Ok Chave de roda - Ok Macaco - ... Macaco? - Cadê a porra do macaco? Devido a todo esse nervosismo acordei aproximadamente 23 vezes antes da hora programada para o despertado acordar. Às 05h da manhã. A cada momento que eu acordava e dava uma olhada no relógio imaginava ser a última vez em que voltaria a dormir. Três minutos antes de ser acordado por “Walk” de Foo Fighters, eu não dormi mais. liguei para Cassius, pois tinha de tirar o carro da garagem, até aí foi tranquilo, tirando o barulho ensurdecedor na garagem da casa dos outros. me despedi e fui. Sem dúvida nenhuma, em se tratando de trânsito, não tem horário melhor para andar de carro por qualquer lugar que entre 00h30 e 06h. As avenidas e rodovias estão sempre vazias e tranquilas. E comigo não foi diferente. Chegaria em casa em dez ou quinze minutos, não mais que isso. Seria apenas entrar, tomar um café, e esperar meu pai voltar da pescaria, estava tudo definido. Só faltou combinar com o acaso. Logo antes de chegar ao viaduto de Parnamirim o pneu dianteiro, direito furou. E o pior, estava na entrada do viaduto. Não sei você, mas não indico a parar o carro numa região como esta, se der para levar até um ponto com acostamento seguro, é bem melhor. Cansei de ver ultrapassagens ali, imagine parar um carro, e trocar o pneu. Obrigado, não. Saí de toda a área que corresponde ao viaduto, algo em torno de uns 500 metros. Parei e constatei o estrago. Muito bom para uma primeira vez. E talvez a última, depois que o dono do veículo constatasse o tamanho do estrago. Trocar o pneu é uma coisa fácil pra mim. Meu pai é funileiro, e sempre que eu o ajudava no serviço, nunca foi dificuldade fazer esse serviço. Exceto quando os parafusos estavam muito presos.

Aos leigos o macaco é uma ferramenta de tração usada para levantar o veículo, tirando o contato de um ou dois pneus do chão. Seja para trocar um pneu ou para um reparo sob o veículo. Neste último caso é sempre bom usar um cavalete, pois o macaco pode quebrar e o peso de uma tonelada sobre os seus peitos ou seu joelho vai fazer um estrago memorável. Isso se você findar com a massa cefálica dentro do crânio. E esta peça tão importante para a minha missão estava faltando. Revistei todo o carro, o que não é dificultoso. Afinal, um fusca não tem muitos espaços para se esconder um objeto como este.

Decidi ligar para a minha casa, e de alguma forma trazerem um de lá para mim. Mas antes disso acontecesse parou um vizinho de bairro. Ele disse que estava passando do outro lado e notou o inconfundível fusca vermelho parado. Voltou para ver se poderia ajudar com algo. Em incrível como se dão essas relações nas camadas mais baixas da sociedade. Não tem ninguém aqui afirmando que em outras não acontece o mesmo, porém é muito mais comum essa vontade de ajudar. Eu relatei o problema a ele, e ele foi olhar no carro se tinha um macaco, porém estava quebrado. Ele foi à minha casa pegar um. Enquanto isso o calor começou a apertar, decidi fechar o carro, e ir até o posto há uns 40 metros na frente comprar uma água com os 2,50 reais que me restaram. Mas o desespero do outro dia voltou. - Onde está a chave do carro?

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Como eu poderia perder uma chave, num carro, aberto, e só tinha ele, revirei o fusca mais uma vez e nada da chave – legal, o pneu será trocado, mas eu continuarei aqui, pois perdi a porcaria da chave. A essa altura a minha pauta já estava em segundo plano. Depois que o meu vizinho voltou com a minha irmã e o macaco eu disse a ela o ocorrido. Não acreditei quando ela encontrou a chave em 1 minuto. O pior, estava na minha bolsa. COMO ASSIM NA MINHA BOLSA? Entreguei o segundo item, e quando a chave de roda encaixou no parafuso, e começou a ser rodada, ela girava em torno dele, sem fazer o melhor efeito. A PORRA DA CHAVE DE RODAS ESTAVA QUEBRADA!

Já com a do meu vizinho o trabalho correu mais tranquilamente. O mais triste é que enquanto isso, ônibus passavam ao lado. Os quais eu poderia ter pego, e já estaria em casa, sem ter me queimado ao sol, tranquilo, sem ter passado por nada que passei. Finalmente depois de algumas horas, uma hora e meia ou duas, o serviço ficou completo, agradeci ao meu vizinho. Como não tinha nada para ajudar na gasolina, pedi para ele passar lá em casa depois, e seguimos nossos rumos. Depois de tudo isso só precisava descansar e esperar o meu pai. Quando ele chegou tomei a postura de um bom filho e disse o que acontecera. Definitivamente ele não ficou muito feliz, olhou a hora e não me levou mais para a casa do meu tio, de onde sairíamos para o parque. Infelizmente, se você é fã deste esporte e leu até aqui esperando que eu fosse falar alguma coisa sobre a minha experiência, eu lamento e peço desculpas. Por outro lado, eu posso te garantir essa matéria na próxima edição desta revista. Ou pelo menos outra história em algum outro fusca qualquer.

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Enterrem meu coração na beira do rio TEXTO POR ALEXIS PEIXOTO EDIÇÃO DE IMAGENS POR DIEGO CIRÍACO


Ficção

Um dos livros que impressionaram o jovem Hunter Thompson, ainda na adolescência, foi O Coração das Trevas, de Joseph Conrad. A jornada do sujeito que parte em busca de outro na selva africana atingiu fundo o peito do rapaz, então apenas mais um candidato ao prêmio de Delinquente Juvenil do Mês, em Louisville, Kentucky. A descrição daquele mundo sombrio e misterioso por trás das árvores despertou um desejo adormecido. “Quando eu crescer”, pensou o jovem Hunter, “quero ir lá”. “Lá”, nesse caso, não era exatamente a África, mas qualquer lugar que não fosse aquela cidadezinha chata. Thompson se imaginava o próprio Marlow, esquadrinhando mapas com o olhar, procurando pelas formas estranhas das outras bandas da Terra. Em 1960 foi Porto Rico, regado à rum; de 1962 à 64 foi a América do Sul, quente & brutal. Em 1968, retorna aos Estados Unidos, a verdadeira selva de perigos e trevas. Aqui vai começar a “jornada ao coração selvagem do Sonho Americano”. Montado numa Harley Davidson ou cavalgando o Grande Tubarão Vermelho no deserto, Hunter procurava o rio de Marlow, o rio que parecia “uma cobra desenrolada, com a cabeça no mar e o corpo em descanso, serpenteando sobre a vastidão, com a ponta da cauda perdida nas profundezas do interior”.1

Eventualmente, ele encontrou não um, mas vários rios e seguiu todos. Rios que cortavam o Kentucky Derby ao meio; que nasciam em Los Angeles e desaguavam em Las Vegas; que levavam à campanha presidencial de 1972 e ao Zaire, onde perdeu a oportunidade de assistir à Luta do Século. Em cada uma de suas aventuras, ia mais fundo para provar a teoria de Faulkner de que a melhor ficção é mais verdadeira do que qualquer jornalismo. Não que concordasse totalmente com isso: para ele ficção e jornalismo eram “dois meios diferentes para alcançar o mesmo fim”. A ideia era forçar os limites entre as duas linguagens e criar um novo monstro, híbrido, no qual a própria subjetividade serviria como prova de autenticidade. Em teoria, “o olho e a mente do jornalista funcionariam como uma câmera. O texto seria seletivo e necessariamente interpretativo – mas, uma vez que a imagem fosse registrada, as palavras seriam definitivas”. 2

No final, Hunter Thompson conseguiu o que queria. Criou uma nova forma de escrever, a meio caminho entre o jornalismo e a ficção delirante dos autores beats. Mas a viagem havia cobrado um preço: alienação, paranoia, delírios de grandeza alimentados por um exército de seguidores malucos que o colocavam num pedestal de guru. Tendo chegado ao fim do rio, Marlow se transformara em Kurtz. Hunter Thompson puxou o gatilho em 2005, deprimido e cansado de tudo. Foi o ponto final em um texto que se alongara além do previsto. “Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de caminhadas. Chega de diversão”, escreveu em seu bilhete de despedida.3 Vamos deixar as verdades biográficas de lado por um momento. E se o velho Hunter tivesse segurado a barra? E se o bom Doutor Gonzo ainda estivesse entre nós? O que estaria fazendo/escrevendo? Hunter poderia ter sobrevivido, mas seu alter ego Raoul Duke, não. Sua falta de modos e de limites hoje estariam obsoletas em um mundo mais depravado e, ao mesmo tempo, mais paranoico. Autodestruição é o prato do dia no mundo inteiro e o cinismo, artigo de brinde em qualquer compra acima de 5 dólares. E seria o próprio Duke, em um raro momento de lucidez, o primeiro a reconhecer o fim da linha. “Chega de falar de drogas, né? Até falar em drogas pode acabar pondo você na prisão. Os tempos mudaram drasticamente, e não foi para melhor”.4 Sem Duke, Hunter Thompson ainda tentava manter a fama de mau, mas também havia se tornado um sujeito pacífico, devotado à família. A cirurgia corretiva que fizera no quadril há alguns anos ainda doía nas noites frias de fevereiro. Era um saco, mas a dor não parecia tão ruim quando pensava nos pequenos prazeres abandonados. Nada de andar de moto, dirigir ou jogar futebol. Caçadas? Nem pensar. Disparar qualquer coisa maior que um revólver exigia um esforço que seu corpo não estava mais disposto a aguentar. Ah sim! Toda a dor do mundo pela chance de ser jovem outra vez! E para o inferno com os analgésicos prescritos!

1 CONRAD, Joseph. No Coração das Trevas. Tradução de José Roberto O’ Shea. São

2 THOMPSON, Hunter S. Texto de Capa para Medo e Delírio em Las Vegas: uma Jorna-

Paulo: Editora Hedra, 2008. p. 30.

da Selvagem ao Coração do Sonho Americano. Tradução de Camilo Rocha. In:­­______ A Grande Caçada aos Tubarões. São Paulo: Editora Conrad, 2004. p. 46.


Quase nunca saia de Owl Farm, seu pedaço de Paraíso no Colorado. Passava a maior parte do dia assistindo aos jogos na tevê e alimentando seu blog no portal da ESPN. Claro, ele ainda acompanhava política, assistia aos noticiários como todo mundo. Votou em Obama em 2008, mais porque temia entregar outros quatro anos nas mãos dos republicanos do que por acreditar no otimismo cego do “Yes, We Can”. Mas hoje em dia só falava em política se alguém perguntasse a respeito – e eles raramente perguntavam. A última vez que saiu de casa foi para assistir Rum, filme produzido e estrelado por

seu velho amigo Johnny Depp, baseado em um livro seu. As críticas não haviam sido das melhores, mas Hunter nunca foi de ligar para a opinião dos outros. Aos detratores, dizia que o filme poderia ter saído muito pior, caso não tivesse exigido mudanças drásticas no roteiro. “Queriam dar uma porra de final feliz de Hollywood pro meu livro!”, resmungava. “Sem chance, cara”. Ainda que não fosse nenhuma maravilha, o filme impulsionara uma nova onda de interesse nele e naqueles livros “estranhos & brutais”, escritos há tanto tempo.

3 BRINKLEY, Douglas. Footbal Season is Over. Rolling Stone Magazine, 8 set. 2005.

4 THOMPSON, Hunter S. Reino do Medo. Tradução de Daniel Galera. São Paulo:

Disponível em http://tinyurl.com/hunterRIP. Acesso em: 4 jun. 2013.

Companhia das Letras, 2007. p.22.

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Agora, além de regar as plantas e polir sua coleção de armas, suas atividades cotidianas incluíam afugentar os cretinos das editoras, que não paravam de urubuzar atrás de uma migalha do velho Hunter. Só no mês passado, recebera três propostas para publicar Prince Jellyfish, seu romance rejeitado, escrito em 1960. Uma das editores oferecera até um contrato combinado, que além do livro incluía a produção de outro filme. Hunter rejeitara todos. Não porque desgostasse da grana ou da atenção, mas porque acreditava que já havia

se passado tempo demais para que alguém pudesse achar aquele livro bom. Ultimamente, vinha relendo todos os seus heróis – Conrad, Hemingway, Faulkner, Kerouac - e dizia ter encontrado o sentido da vida em uma frase de Mark Twain: “A diferença entre a palavra correta e a palavra quase correta é a diferença entre o vaga-lume e o relâmpago”.


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Festivais para ir depois dos 60 TEXTO POR DIEGO CIRÍACO Universo Paralelo – BA - BRA Mais um destinado para aqueles que curtem música eletrônica. Uma semana em Pratigi, praia paradisíaca da Bahia. O que acontecia todo ano, passou a ser de dois em dois. O festival acontece no final de dezembro até o início de janeiro, sendo assim, quem vai passa o réveillon por lá. Além da música, o festival oferece uma decoração psicodélica, artistas circenses e atores convidados que dão ao público um espetáculo à parte. Gente do mundo todo, trocando experiências, drogas e o que mais trouxerem em suas mochilas.

Wacken (Alemanha) Nem só de festivais de música eletrônica vive a Europa. Para os fãs de Metal, rola na Alemanha o Wacken. Wacken Open Air, chamado de WOA por quem curte, é o maior festival de heavy Metal da Europa. Com sua primeira edição em 1990 e até 2001 com apenas um dia de duração, de 2002 pra cá ele passou a ter 3 dias de duração. O Público recorde do WOA foi de 70.000 pessoas. Para a edição 2013, os 75.000 ingressos colocados a venda esgotaram-se dois meses após o início das vendas. Headbangers a solta.


Reading and Leeds Festival (UK) Um dos mais tradicionais da europa, o Leeds and Reading Festival, acontece anualmente nas cidades que dão nome ao festival. O evento ocorre nas duas cidades com o mesmo line up em dias diferentes durante o feriado bancário na Inglaterra no mês de agosto. Hoje o line up tem bandas de rock alternativo, indie rock, punk rock e metal. O festival já é um cinquentão, acontece desde 1961 até os dias de hoje. Só pela história, vale a pena conferir.

Coachella (EUA) Mulheres e homens seminus com a chegada da primavera na Califórnia – EUA. As temperaturas chegam aos 38º tranquilamente durante o dia, o que faz com que as moçoilas usem biquininhos e os rapazes apenas bermudas. Rock, Indie, Hip Hop e Música Eletrônica é o que rola por lá. Atualmente o Festival recebe cerca de 225.000 pessoas por ano, cerca de 75.000 por dia em cada edição. Então, com tantos ingredientes deliciosos, simbora conhecer!

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Tomorrowland (Bélgica) Sonho de consumo de gente do mundo todo o Tomorrowland rola na Bélgica durante o verão europeu e reúne muita gente bonita e de todo o mundo. O Festival a cada ano tem atraído um público maior e mais fiel, principalmente, porque além dos top DJs, a estrutura é uma coisa digna de um filme Hollywoodiano. A decoração todo ano surpreende como por exemplo, quando o palco que é uma coisa extremamente gigantesca é todo inspirado em contos de fadas. O Festival rola três dias seguidos, pra quem gosta de festa, gente bonita e um som de primeira, comece a organizar sua viagem pro próximo ano.

Oktoberfest – Alemanha Uma festa típica e que lembra de longe uma festa nos interiores do Brasil. Um desfile com 7 mil participantes e carros alegóricos pelas ruas de Munique marca o início da tradicional festa da cerveja na Alemanha. O local onde acontece a Oktoberfest parece uma cidade de tão grande e reúne atrações como barraquinhas de bebidas, shows, concertos a céu aberto, estandes de tiros, e muito mais. Ao som de músicas típicas, cerca de 6.000.000 pessoas do mundo todo consomem mais de 5.000.000 litros de cerveja. Uma ótima oportunidade para se divertir e ver como se faz uma festa marcada pela tradição e culturalismo. Ao todo, a festa dura 16 dias, começando em um sábado e terminando no primeiro domingo de outubro. Pagar pra entrar? Que nada, a entrada é gratuita, você só vai pagar pelas cervejas que consumir, e como foi dito ali em cima, haja cerveja.


Burning Man 50 mil pessoas se reúnem no deserto para viver por uma semana em uma comunidade temporária. Um lugar onde dinheiro não é necessário. No deserto de Nevada todos os anos, os participantes do Burning Man levam tudo que irão consumir e mais um pouco, para trocar com os demais participantes. O Burning Man aos poucos está mudando a cultura (Ou a contracultura) estadunidense. O festival tem seus fundamentos e desafios, veja aqui, alguns deles: 1) É proibido circular de carro dentro da cidade temporária, exceto os carros alegóricos quando autorizados. 2) A organização não oferece nenhuma lixeira, então, tudo que você utilizar e deixar algum rastro, tem que ser levado de volta com você. 3) Não leve seu cachorro, ou você ou ele não entrarão. Tudo isso para a segurança dos participantes e do seu bichinho. 4) Ingressos: Violar as regras ou ter um comportamento violento antissocial invalida na hora seu ingressos; 5) Leis: Drogas nem pensar, bebidas alcoólicas para menores de 21 anos, também não. Atos sexuais são proibidos em locais públicos. É uma comunidade e das mais incríveis que eu já ouvi falar.

Boom Festival (PT) O Boom é o maior festival da cultura trance e rola de dois em dois anos. Pessoas das mais variadas faixas etárias frequentam o festival. O Boom não aceita propaganda, é totalmente independente ante ao sistema comercial, o festival não aceita qualquer tipo de patrocínio, garantindo um maior contato com a natureza já que não tem poluição visual nenhuma. Por falar em natureza, o Boom também se destaca. De 2004 pra cá o Boom começou a desenvolver projetos de auto sustentabilidade de forma a não contaminar a natureza e educar o seu público para uma consciência ecológica. Não se usa banheiro químico, faz-se o tratamento da água do festival através de biotecnologias, utiliza-se energia solar e éolica e tudo que é coletado por lá, é reciclado. Em 2010 o festival foi convidado pela ONU a fazer parte do projecto United Nations Environmental and Music Stakeholder Initiative, que visa promover a consciência ambiental junto do grande público. Dá maior vontade de conhecer, né não?


Sonar – BAR / ESP Além de música de vanguarda, o festival aposta também em arte. Criado em 1994 em Barcelona, acontece por lá todos os anos desde então. Estava tudo certo para a edição brasileira, que aconteceria em São Paulo, entre os dias 24 e 25 de maio de 2013, quando de repente , foi cancelado em anúncio divulgado pelas produtoras Dream Factory e Advanced Music, no perfil do festival no Twitter. É o jeito ir para a Espanha no ano que vem.

Ultra Music Festival Um dos festivais mais conhecidos do mundo, o Ultra Music Festival já passou pelo Brasil. O UMF, como é conhecido no cenário mundial ganhou o prêmio de Melhor Evento de Música pela Dance Awards International, seis anos consecutivos, de 2005 a 2011 e Melhor Festival pela mídia Village Voice Times New por cinco anos consecutivos de 2005 a 2009. Sendo reconhecido e renomado no cenário mundial, com tanta premiação e com tanta gente falando desse danado, dá vontade de coloca-lo na lista de festivais para conhecer em breve.

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PERFIL

GENÉSIO PITANGA: O PÉ QUENTE TEXTO: EVERSON ANDRADE ILUSTRAÇÕES: AURELIANO MEDS

“A imprensa é uma gangue de covardes impiedosos. Jornalismo não é profissão, não é nem mesmo um ofício. É uma saída barata para vagabundos e desajustados – uma porta falsa que leva à parte dos fundos da vida, um buraquinho imundo e cheio de mijo, fechado com tábuas pelo inspetor de segurança, mas fundo o bastante para comportar um bêbado deitado que fica olhando para a calçada se masturbando como um chimpanzé numa jaula de zoológico.” “Em uma sociedade onde todos são culpados, o único delito é ser pego.” - Hunter Stockton Thompson

Pela primeira vez vou escrever um texto sem saber como ele será feito. Não cabra cheio de gracinha, eu sei escrever: porque, caso contrário, estão me enganando até hoje. Será? Acho que não, na verdade ninguém chegaria ao final do curso sem saber o que está fazendo. E se for para considerar o verbo “enganar”, eu fico com a hipótese de eu estar passando todos para trás. A essa altura do campeonato vocês já devem ter lido algum texto meu; pegaram

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essa revista e estão investindo algum tempo na leitura dela. E mesmo confessando não ter a menor noção de como escrever este texto você vai até o final desta matéria. Alguns esperando o meu sucesso, outros contando com o meu fracasso. E a maioria não está nem se importando se o leite fervido está caindo da caçarola. A única verdade são duas: eu sei o que estou fazendo; e estou enganando todos vocês.


E JORNALISMO DE FURO

Da mesma forma que ele, o meu personagem, sabe o que está fazendo. Ninguém pode acumular tantos anos de carreira, numa profissão repleta de abutres à procura de carcaças humanas e sobrar vivo para contar a história contando histórias. E sim, ele está enganando. Ele me enganou. Claro que sim, ele é um jornalista. E jornalistas são treinados para deixar a melhor parte nas conversas informais com os amigos nas mesas do bar. Quando essa pauta foi sugerida fiquei surpreso. Numa conversa com os amigos, algumas histórias surgiram: olhares tortos, enquanto os meus olhos se fechavam desconfiados, como quem passa a desconfiar da própria sombra. Depois de conseguir o contato, liguei. E

do outro lado um homem muito solícito respondeu, confirmando a entrevista para quando eu quisesse. Fácil assim. E aí eu disse: - Ok Genésio, eu ligo essa semana para fechar um local. Obrigado. Para o local da nossa conversa nada melhor que o próprio local de trabalho. Na SimTV, onde trabalha o repórter policial Genésio Pitanga, o meu personagem. O dia prometia algo de diferente Surpresa: pois eu estava lá na hora marcada. Sou conhecido pelo meu atraso: muitas vezes pela indecisão se é hora ou não para sair. E eu vou ficando nessa, ficando nessa até chegar atrasado. Mas neste dia não; às 15h eu estava lá.

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Mas ele, não. Entrei na sala de esperar, para... esperar. (Sinceramente, não acredito que eu fiz essa péssima piada. Se isso foi publicado, é a prova da ausência de escrúpulos em mim). Cerca de quinze minutos depois uma voz muito parecida com a dele pode ser ouvida na porta de entrada da emissora. Pensei, agora vai. Mas não foi. Ele saiu novamente. Passados vinte minutos resolvi ligar. A minha real intenção era saber se ia rolar mesmo, ou se ele tinha esquecido, poderíamos marcar para outro dia, e eu não tenho nenhum problema quanto a isso. Durante a ligação ele disse que não tinha esquecido, e estava chegando em 15 minutos.


Nesse meio tempo chega um homem gordo, branco; daquela espécie que não basta ser apenas branco, mas aparentemente nunca tomou sol, chegou carregando a carteira de cédulas e mais dois celulares na mão. Bermuda e uma camisa estilo outdoor. Se você não entende o que é isso, é uma daquelas camisas básicas que carregam em letras garrafais a marca dela coisas como Hollister ou Abercrombie. Sinceramente, é muito mais estético uma camiseta básica. Esse tipo de produto é a mais pura ostentação. Pois mesmo com um tecido e costura melhores, com certeza eles devem ter uma versão com um logo mais simples. Além do mais existe uma etiqueta interna para essa identificação. Na região do extremo do Nordeste brasileiro, também conhecida como esquina do Brasil, ou ainda Natal-RN. Esse homem, aparentando seus 32 anos, queria falar com Genésio também. Aí sim, o meu gene da disputa entrou em ação, e pensei comigo mesmo: estou esperando há mais tempo,

camarada. E pelo tempo que vou precisar você vai esperar muito. Se eu fosse você, iria embora. Pobre de mim, mal sabia eu que ele iria abordar meu entrevistado antes de mim, subiria comigo, acompanharia toda a entrevista sentado ao lado, e eu iria sair de lá antes mesmo dele se levantar da cadeira. Durante toda a entrevista ele foi até gentil, mas sempre dava a sua opinião, que era repetir exatamente as palavras do meu entrevistado. Sabe quando você acha que sabe de letra da música, e fica cantando, mas você só canta a última palavra de cada verso? Até parece que você está cantando, dá para enganar, mas com o tempo você se pergunta? A quem estou tentando enganar com essa dublagem de filme americano. O nosso colega, desconheço seu nome, mas vamos chamá-lo aqui de senhor Classe Média Natalense. Como eu estava dizendo, o nosso colega foi à procura de Genésio para tentar recuperar o seu veículo roubado. Ele tinha sido assaltado há

alguns dias na Avenida João Pessoa. Segundo disse, seria morto, mas toda a sua malemolência evitou essa fatalidade quando ele disse que não era de Natal e estava aqui apenas de viagem. Seu carro? Um jaguar. Uma figura como o Sr. Pitanga tem muitos conhecidos, muitas pessoas nas mais diversas escalas da sociedade potiguar. Por isso ele é uma pessoa indicada para solucionar problemas como este. Você, leitor da classe média, sobreviveu à leitura deste texto. Pronto, este é o seu prêmio preliminar. Agora, o presente de verdade está no final, é para os fortes. Os que chegarem até lá. Uma das poucas frases formuladas pelo sujeito de bermuda foi: “Pitanga não tem medo de nada”. Quanto a essa afirmação não temos a mesma opinião. Nem eu nem Genésio. O jornalista diz ter medo. Ele tem família e tem uma vida, mas isso não pode deixar o seu


compromisso de lado. Já eu considero o fato de ele não bater muito bem da cabeça. Durante a entrevista ele me contou coisas que não se conta a qualquer um. Pelo menos não se conta a um jornalista que veio fazer um perfil da sua pessoa. Ele podia estar mentindo, e eu não pretendia tirar a prova. Mas ele pessoalmente me apresentou alguns números de cidadãos brasileiros sob custódia em penitenciarias. Nessa tentativa absurda de dar continuidade à matéria, o perfil de Genésio Pitanga, acabei de acordar tirei duas semanas de folga para escrever e cheguei agora nesta pauta. Não consegui escrever mais merda nenhuma. Voltando a falar do meu carismático personagem, a imagem que se tem de Genésio é que ele sabe muito, mas ele

deixa uma dúvida: ele sabe muito por quê? Ele sabe muito? Ou está querendo passar a ideia de saber muito? Sei lá, um estudante de comunicação, acabando de se formar, vai escrever uma revista, e decide fazer um perfil dele, talvez seja uma boa presa para o ego de alguém. Mas no caso de Genésio eu não sou o prato do dia, ele realmente é o que diz não importa o que é certo ou não, se eu concordo, acho legal o maneiro o que ele diz ser, e fazer, pouco importa. Ele é autêntico na sua personalidade. Graças a Deus, eu não estava no cardápio como o prato em promoção daquela quarta-feira. Com tanta acessibilidade à sua vida, muito provavelmente, era eu escolhendo que forma degustaria aquela presa recheada de informações. Genésio ressalta muito que é jornalista investigativo. Mas quando vai dizer o que faz, quando vai argumentar, na ver-

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dade não se trata de jornalismo investigativo amigo, mas sim de jornalismo de furo. Porque o fato de alguém ligar para você, no meio da noite falando que vai prender alguém, não faz de ninguém um jornalista investigativo. Pois você não investigou nada, apenas recebeu o contato para um furo. Esse é o lado positivo dele, ele tem muitos contatos. Muitos contatos. Contatos estes que estão em todas as camadas da sociedade. E só uma pessoa com muito samba no pé sabe lidar e caminhar muito bem pelos grupos da nossa sociedade cheia de truques e mutretas. Ele confunde jornalismo investigativo com o jornalismo de furo. Porque, pelo que ele falou para mim, ele faz jornalismo de furo. Não o vi falar que estava investigando.


Não que ele falasse o que estava investigando, mas, até sobre os trabalhos anteriores, essa investigação era apenas chegar antes na notícia. Ele se mostrou muito egoísta com as suas pautas. Não que isso seja negativo: o jornalismo é uma jaula com todas as espécies mais bizarras. Juntas e famintas. Então, quem se comporta como ser humano acaba se tornando a refeição do dia. Por isso ele está certo, mas... Ele tá certo. O pessoal manda pauta para ele e ela não é dividida com ninguém, como ele diz que sempre acontece entre os outros profissionais da área, e até de veículos concorrentes. E quando alguém liga no meio da noite, afinal no meio da noite tá todo mundo dormindo ou bebendo, só ele está esperando uma ligação para fazer um furo de reportagem. Genésio se dá muito para o trabalho, sempre a procura da melhor maneira de se produzir uma matéria, entretanto eu tenho dinheiro, ele sempre O interessante é que mesmo chegando antes de todo mundo, gravando e entrevistando as matérias de todas as TVs vão ao ar quase na mesma hora, pois os jornais em todas as emissoras

vão ao ar mais ou menos no mesmo horário. A informação que ele tirou com um policial pela manhã vai ser a mesma de um colega entrevistando o mesmo militar uma hora depois. Quando percebi a abertura do meu entrevistado, optei por questionar sobre alguns temas polêmicos do nosso tempo, para saber mais sobre o seu posicionamento acerca destas coisas. Como já imaginara, Genésio é uma pessoa de opinião formada. Porém, o embasamento dele está no campo do lugar comum e simplista. Afirmações como a ausência da falta de solução para qualquer bandido, por isso, uma limpeza geral seria o melhor caminho, ou então de que a maconha é a porta de entrada para outras drogas, podem ser rebatidas por estudos, histórias, e contra argumentações. E não me venha com aquela conversa de cada um tem a sua opinião, pois eu sei, mas um jornalista deve ter bastante cuidado com a dele, afinal ele é um formador de opinião, goste você ou não essa é a melhor dádiva que essa raça pode receber. Ele pode criar uma legião de pessoas com as suas mesmas ideias. Mas tudo isso expõe uma marca de Genésio, ele procura justiça, procura

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ser fiel, principalmente com ele mesmo e com os seus princípios. E tem o jornalismo como uma grande dádiva em sua via, ele é capaz de ir a qualquer lugar do mundo para buscar a informação, e seja preciso pegá-la com quem for.


Sem o conhecimento acadêmico, Genésio credita o conhecimento das técnicas do jornalismo à prática com, segundo ele, grandes nomes do jornalismo potiguar entre eles J. Gomes, o famoso repórter de algumas matérias clássicas, entre elas o assassino de São Gonçalo, quando o assassino escreveu uma carta endereçada ao então apresentador. Pauta esta que Genésio Gomes cobriu, e mais tarde produziu um documentário falando sobre o acontecido,

anos depois, confesso que este trabalho é um dos melhores documentários produzidos no RN. Nele contem imagens da época quando o jornalismo era cheio de imagens quentes e marcantes. O sangue escorria pela TV da sala, enquanto a família almoçava aquele pedaço de bife mal passado. Sim o povo adora isso. Esta caçada marcou o jornalismo potiguar, um homem sai armado por uma cidade do interior do estado a procura de justiça, desejando lavar a sua honra

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e no seu caminho fica um grande rasto de corpos. Esta foi uma das pautas feitas por Genésio, o que anos depois ajudou na produção documentário Sangue de Barro. De pensar que ele sonhava em ser jogador de futebol, até se tornou, jogou em times profissionais do nordeste e do estado, mal sabia ele que o futebol era apenas um caminho para a sua real carreira.


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POR EMANOEL BARRETO

HITLER VAI DIRIGIR HOSPITAL WALFREDO GURGEL: PACIENTES SERÃO DEPENDURADOS DE CABEÇA PARA BAIXO (Alemanha – Urgente) O chanceler Adolf Hitler deverá assumir a direção do Hospital Walfredo Gurgel nos próximos dias, a fim de dar início a um amplo programa de reformas que inclui sua transformação em campo de concentração modelo. A proposta de Adolf Hitler é desenvolver experiência inovadora no setor: transformar o hospital em ambiente de teste de venenos e outras substâncias deletérias, a fim de estimar a capacidade humana de suportar dores e sofrimentos intensos. Segundo o ministro Joseph Goebbels, a situação do Walfredo em termos de humilhações, falta de ética e descasos com a saúde e dignidade humanas é elogiável, mas isso pode ser bastante ampliado com a vinda de Hitler para dirigir o hospital. Citando um exemplo, disse que em vez de os doentes ficarem estirados no chão à espera de atendimento que nunca é feito, com a nova direção eles serão amarrados pelos pés com grossas correntes e dependurados de cabeça para baixo. Quando não houver mais espaço os doentes serão levados a subterrâneo a ser especialmente construído. Lá também serão dependurados de cabeça para baixo. Os que se revoltarem serão processados na forma da lei, disse Goebbels e acrescentou: “Deitados no chão eles ocupam precioso espaço. Dependurados, haverá possibilidade de grande acumulação de corpos num mesmo espaço”, acentuou, considerando que isso é um “grande avanço” em termos de atendimento hospitalar. Acrescentou que com tal procedimento pretende amentar em muito a mortalidade. O objetivo é criar nova fonte de rendas para o erário, e explicou:

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“Todos os que morrerem serão vendidos ao Haiti. Ali serão transformados em zumbis e terão emprego garantido em filmes de terror classe B, nos Estados Unidos. Como se vê, um campo de concentração também fomenta cultura.” Hitler, por sua vez, garantiu que os doentes do Walfredo Gurgel terão direito a chibatadas e choques elétricos. Os mais privilegiados serão levados a câmaras de gás, que utilizarão os mais modernos e mortíferos gases recentemente descobertos. Quem escapar receberá a medalha de “Grande sobrevivente” e terá direito de participar da propaganda oficial que enaltece a qualidade da administração do Rio Grande do Norte. Quanto aos médicos, caso não queiram colaborar serão metidos a ferros, terão os diplomas cassados e em seguida serão considerados “insanos e temíveis”. A seguir, serão internados em clínica psiquiátrica sob a direção do conceituado Dr. Hannibal Lector, de onde somente sairão após total cura. “Coisa bem difícil”, destacou. Hitler manifestou grande interesse e disposição em dar ao Rio Grande do Norte essa grande colaboração em termos de saúde pública. Segundo assegurou, quando o Walfredo começar a funcionar sob sua direção, os novos métodos, moderníssimos, serão grandemente aplaudidos. Especialmente quando tiver início a segunda fase, a ser desenvolvida no restante da rede oficial de saúde, interior do RN. Ali, o objetivo é dotar os hospitais de câmaras de torturas a fim de que os doentes morram o mais rápido possível. “Com isso economizaremos verba oficial, que poderá ser utilizada na construção de estádios de futebol e clubes de dança, onde as pessoas irão comemorar as grandes vitórias esportivas.”


FESTA ESTRANHA COM GENTE ESQUISITA POR LORDE PAVÊ ILUSTRAÇÕES: SARA LIUDA


No entanto, nossa desvairada idéia original evidencia o espírito de afronta e deboche com o qual estávamos tratando a Boa. Éramos seres superiores, e iríamos participar dessa rave sebosa motivados exclusivamente pelo fervor jornalístico de se produzir uma boa reportagem. Finalizado este longo preâmbulo, passemos agora ao relato em si. Era a tarde do dia era 31 de maio. Após gastarmos cento e vinte reais em nossos ingressos em uma loja de roupas para playboys, eu e Sara Liuda – minha amante e desenhista – fomos para a casa de um amigo e traficante de segunda instância nos preparar para a rave. Adquirimos um papelote de doce por trinta pratas e ficamos de dividi-lo na festa. Mais do que isso poderia ser perigoso. Nosso amigo ainda não havia provado o LSD daquela cartela e não estava certo da potência da droga. Não queríamos correr o risco de consumir uma parada forte demais e começar a delirar naquele ambiente hostil, repleto de lunáticos e sem nenhum conhecido por perto. Compramos o papelote e fomos para a o meu apartamento. Esse foi o único preparativo necessário. Ficamos de bobeira no meu apartamento até por volta das 22h, quando fomos de carona com o meu velho para o lugar onde aconteceria o evento, um terreno cercado ao lado

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do Hotel Imirá. Após sermos deixados na calçada, decidimos colocar logo as metades do papelote na boca antes de nos encaminharmos para a entrada. O rosto de Sara se contorceu numa careta. - Isso daqui tá amargo demais. - Também tô sentindo. Isso quer dizer que esse doce tá cheio de anfeta. - Ai meu Deus! É sério isso? Sério mesmo? - Não, relaxa, é mentira. Às vezes o doce é amargo, não tem nenhum problema. Eu estava mentindo. Minha parca experiência psicodélica era suficiente para saber que LSD não tem gosto. Quando o doce vem com gosto amargo é porque de fato existe anfetamina misturada junto no papel – o que, no caso, poderia até ser considerado uma vantagem. Nosso plano era ficar até o sol nascer, por isso as propriedades estimulantes da anfetamina eram bem vindas. Contudo, eu não queria deixar Sara nervosa com a perspectiva de estar consumindo uma parada bichada e potencialmente mais perigosa, então falei essa mentirinha para tranqüilizá-la e logo a puxei para a entrada da festa. Após entregarmos nossas entradas e sermos revistados, entramos na festa e demos uma boa olhada no local onde passaríamos as próximas oito horas.


Quando eu me dei conta já era tarde demais; o pior havia acontecido. Eu estava gostando da música que estava sendo tocada. Se eu havia começado a dançar de maneira esculhambada e só pra tirar uma onda, agora o meu corpo se movia de uma maneira estranhamente natural, plenamente entregue ao ritmo. A barreira que eu havia erguido entre mim e os outros, aquela massa suada de gente bizarra se debatendo incontrolavelmente à minha volta, havia sido derrubada. Eu me tornara um deles. Pouco importa se foi pelo efeito hipnótico do batidão ensurdecedor ou simplesmente pela influência lisérgica do doce que eu havia tomado horas antes. O que importa é que, ainda que tenha sido apenas por alguns momentos, eu fui um genuíno reiveiro. Essa minha transformação foi,

sem sombra de dúvidas, o acontecimento mais inesperado da rave – afinal, eu fui para o Bug Open Air (Boa, para os mais íntimos) já com o intuito de odiar ou pelo menos desprezar a festa. É bem verdade que o meu editor não me deu nenhuma instrução explícita a esse respeito. A única pauta que me foi dizia que eu deveria fazer um relato do evento e ponto. No entanto, certos indícios me levaram a crer que o meu trabalho consistiria em ir para a festa, ficar muito doido e denunciar a corrupção moral e intelectual de quem freqüenta esse tipo de ambiente. Para dar um exemplo, basta relatar a maneira como eu e o tal editor planejamos participar da Boa. Como o evento aconteceria numa área cercada na praia e os ingressos estavam sendo vendidos a exorbitantes sessenta contos, tivemos a brilhante idéia de

arranjar um barco e invadir a festa pelo mar. O plano incluía ainda mil outros elementos retardados e irresponsáveis, como falsificar duas daquelas pulseiras que garantem a seus usuários livre circulação em festivais do tipo. Foi sorte nossa que tenhamos amarelado e abandonado essa ridícula empreitada. Para começar, a festa era completamente cercada. Uma grade enorme e vários seguranças impediam o acesso ao mar. Além do mais, as tais pulseiras nem sequer existiam. Bastava entregar o ingresso para poder circular desimpedido, pelo menos fora da área VIP. Aconteceu que o editor preferiu desembolsar a grana para a compra do meu ingresso e acabou ficando de fora da brincadeira. Nossa entrada triunfal se tornou o mais banal possível.

A cena era deprimente. O ambiente, com suas duas tendas rodeadas por barracas de comida, bebida e banheiros químicos, estava quase vazio, e a maioria dos gatos pingados presentes não parecia sequer estar gostando da música que explodia das caixas de som. Havíamos chegado por volta das 22h30, o que mais tarde descobrimos ser bem cedo para os padrões de uma rave. Ainda assim, o evento estava marcado para começar às 18h. Era para ter mais gente. Sem ter muito mais o que fazer, eu e Sara caminhamos até uma barraca e compramos a primeira das três latas de Budweiser da noite, por cinco reais. Com apenas cinqüenta paus nos bolsos tivemos que nos controlar. Só o taxi de volta para casa custaria por volta de trinta reais. Uma longa madrugada se estendia pela nossa frente. A partir desse ponto não há muito sentido em desfiar uma narrativa linear do que nos aconteceu na Boa. Os acontecimentos transcorreram de maneira cíclica, não muito diferente do psytrance interminável que embalava

o ambiente. Todas as músicas seguiam a mesma estrutura rígida, começando com uns sons meio etéreos que se transformam numa batida regular que depois de algum tempo vai ficando cada vez mais rápida e rápida e rápida até culminar num silêncio de fração de segundo repentino seguido mais uma vez do tuntz-tuntz-tuntz mais despojado. Diferentes DJs iam e vinham, mas a música tocada continuava a mesma. Eu e Sara nos vimos presos em uma rotina igualmente repetitiva. Após tirar uma onda dançando, nós nos cansávamos e passávamos eternidades sentados nas escadas na entrada do cercado, descansando e tentando curtir os suaves (no caso dela, fortes) efeitos visuais proporcionados pelo doce. Quando finalmente conseguíamos quebrar o marasmo, voltávamos para a muvuca. As únicas variações que aconteceram nesse esquema aconteceram nas poucas vezes em que nos deslocamos para as barracas atrás de comida ou bebida. Sendo assim, o relato a seguir consistirá em uma breve análise das dif-

erentes espécies que podiam ser encontradas no grande zoológico que foi a Boa. Ao contrário do que minha despreparada mente de virgem de raves concebia, o público da festa estava longe de ser uma massa uniforme de reiveiros entupidos de psicodélicos dispostos a dançar por dezenas de horas a fio. Existiam esses, é claro, e é com os integrantes desta categoria que eu começo o meu estudo. Em linhas gerais, o reiveiro true é aquele que estava lá pela música e possuía energia suficiente para aguentar longas sessões na pista de dança sem fraquejar em nenhum momento. O espécime mais representativo dos reiveiros true que eu e Sara encontramos foi um sujeito que nós apelidamos de O Robô. Avistamos essa figura solitária ainda no começo da festa, dançando com movimentos lentos, duros e robóticos, o que lhe rendeu a alcunha que lhe demos. Durante o desenrolar da rave, no entanto, o apelido adquiriu uma outra significação e se tornou ainda mais apropriado.

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O Robô simplesmente nunca parava de dançar. Ele não saía de lugar, não comia, não bebia, não conversava e sequer chegava a olhar para a multidão que pouco a pouco se estabeleceu em sua volta. Aquele autômato dançante com olhos inexpressivos não podia ser um humano. Era um robô. E aquele era um robô sabia o que estava fazendo. O segundo tipo que eu irei descrever é um subgênero do reiveiro autêntico. O bizarro também estava lá pela música e pela dança, mas apresentava algum desvio comportamental ou de vestimenta que o tornava inferior em relação aos reiveiros de verdade. Marca-Texto foi o exemplo mais gritante dessa categoria. Ela trajava uma indumentária composta por legging e top amarelo-limão com padrão de oncinha. Como se a vestimenta absurda não chamasse atenção o suficiente, a mulher constantemente interrompia a própria dança para, aos gritos e pulos, conclamar os que estavam ao seu redor a dançar mais e com mais força. Para mim e Sara, que fizemos questão de sempre nos manter a uma distância saudável da dita cuja, Marca-Texto era uma inesgotável fonte de hilaridade. Para os que tiveram o infortúnio

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de se encontrar perto dela, no entanto, os acessos da bizarra reiveira devem ter sido experiências bastante desagradáveis. Antes Marca-Texto e os bizarros, porém, do que os playboys e as periguetes. Ao contrário das duas espécies descritas até agora, que possuem em comum a quase nobre característica de frequentarem raves pelo batidão que se passa por música, os playboys e periguetes estavam na Boa apenas em busca de sexo. O conjunto de roupas curtas e justas com os saltos e maquiagem excessiva das mulheres, totalmente inapropriados para uma maratona de dança, não deixavam mentir quanto as suas intenções. Já os homens desse grupo podiam ser identificados pela ausência de camisa. Um personagem que eu retrospectivamente decidi chamar de Johnny Bravo talvez tenha sido o playboy-mor da rave. Sua dança parada e insossa servia apenas para que ele pudesse exibir o seu corpo descamisado e esculpido em anos de academia enquanto seus olhos esquadrinhavam o ambiente e detectavam as mais gostosas periguetes disponíveis. Johnny não ficou muito tempo debaixo da tenda principal. Certamente sua meta foi atingida em dois tempos.


Há, em meu sistema classificatório, ainda mais uma categoria. São os párias, os dalit, os absolutamente fracassados. Assim como os playboys eles estavam lá porque queriam foder, mas as semelhanças param por aí. Ao contrário dos orgulhosos machos alfa que exibiam seus grandes músculos e abatiam a presa que queriam, os fracassados se esgueiravam sozinhos pelos cantos, olhando desejosos para o sexo oposto e, vez por outra, arriscando alguns passos de dança – e falhando miseravelmente, é claro. A imagem que me vem a cabeça enquanto escrevo essas inclementes palavras é a de um pobre coitado com uma pança enorme e uma lata de cerveja colada na mão com quem eu e Sara topamos diversas vezes na festa, indigno de qualquer apelido. Não que eu nutra ódio pelo homem. Sua figura não me despertava mais do que pena. É envaidecido que eu declaro que a metamorfose que eu relato no início desta reportagem foi referente à minha transformação de observador neutro para reiveiro true. Durante aquele mo-

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mento eu pude, pela primeira vez na vida, perceber todas as sutilezas do trabalho de um DJ. Acho que se tratava de um tal de Ace Ventura, mas bem que podia ser um dos outros tantos que tocaram na Boa. Não tenho certeza de nada. O fato é que, para mim, cada textura nova e quebra de ritmo e seja lá mais o quê que o cara fazia pareciam sublimes. Eu passei a compreender o Robô. Eu cheguei até a ficar puto ao perceber que a grande maioria das pessoas se animava mais com o batidão mais despojado e banal do que com o tour de force técnico realizado pelo DJ em seus mais supremos acessos de inspiração. Ao contrário de mim, nenhum daqueles babacas entendia porra nenhuma de rave. Permaneci um longo tempo estático com a mudança que se havia se operado em mim. Só recobrei minha consciência plena quando o sol finalmente despontou no horizonte. Eu e Sara decidimos que era hora de ir. Forramos o estômago com um espeto de queijo coalho, saímos da área cercada e pegamos um táxi para casa.


O taxista começou a puxar um papo. - Tava boa a festa, hein? - Ô, boa demais. - Mas ir pra casa também é muito bom, né não? O negócio aí vai até de tarde, é muito tempo. E eu vi que já tava começando uma confusão, o pessoal fica lá tomando drogas e acaba arranjando briga. - É verdade. Tem gente que não sabe brincar. Só fui perceber o quanto estava cansado após saltar do táxi. Assim que cheguei ao meu apartamento, corri para o meu quarto, fechei as cortinas e desabei na cama. O efeito do doce havia pas-

sado e a exaustão causada pela noite de dança se fez sentir. Sara, no entanto, ainda estava alucinada e, embora não tenha dito nada, obviamente queria dar uma trepada. Para mim não dava. Antes que ela tivesse tempo de se insinuar de qualquer maneira mais evidente, anunciei que estava muito cansado e caí no sono. Naquele momento eu não queria saber de sexo. Os ecos da música tocada pelo suposto Ace Ventura ainda retumbavam na minha cabeça e causavam uma sensação de quase orgasmo em todo o meu corpo. Eu era, afinal, um reiveiro de verdade e a única coisa que me excitava era o som.



"Quem tem medo de cagar não come" POR EVERSON ANDRADE FOTOS: EVERSON ANDRADE

Eu não tinha nada que me fizesse chegar até Miguel Mossoró: nada de números telefônicos, ou endereço, um parente próximo, mas tinha amigos, amigos na grande imprensa potiguar. Fazendo o apanhado de tudo, consegui seis números diferentes para falar com o líder do PTC (Partido Trabalhista Cristão) no Rio Grande do Norte. Mas por incrível que pareça nenhum funcionou. Veio aquela gota de desespero “será que não vai rolar?”. Alguns dias depois, numa quinta-feira,

Ela foi muito solícita ao telefone, eu informei a motivação da chamada, o desejo de entrevistá-lo para uma revista. Ela disse que ele não estava, mas que quando chegasse, ia ligar para marcar um horário. Era mais ou menos 10h30 da manhã, ainda estava no trabalho, preparando para sair. Fui para a aula, fui para outra, fiquei até a noite pela universidade conversando besteira, e nada dele chegar. Me convenci de retonar a ligar no dia seguinte, peguei o ônibus e fui para casa. Como

é de costume dormindo no caminho, o celular toca, atendo, e uma voz do outro lado, pergunta se sou Everson. -Sim, é ele. Quem é? -Aqui é Miguel Mossoró, tudo bem? (Dando um pulo, acordo e respondo) -Opa! Tudo bem, então, não sei se sua assessora já te adiantou alguma...

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eu mando uma mensagem para o meu amigo, e parceiro de revista, Galdino, dizendo: Cara, arrume um telefone de Miguel Mossoró que funcione, pois os que tenho aqui são o mesmo que nada. Em poucos minutos ele mandou dois números, um deles eu já tinha na minha agenda, o outro seria a última chance. Já era, seria agora ou nunca. Liguei, chamou e nada. Liguei, chamou, e uma mulher atendeu, era a sua assessora, e por coincidência, filha.


Falei para ele qual era a intenção da matéria, ele topou fazer a entrevista e marcamos para a segunda-feira da outra semana. Na hora de decidir um local para a entrevista eu disse que não tinha um papel a minha disposição. Na verdade estava bêbado de sono. Marcamos de ligar no dia seguinte, e fechar um local, ele concordou e eu desliguei o telefone. Quando olhei a hora, eram 21h59. Ótimo! Fiquei animado, se eu tivesse um bloqueio na hora de escrever, poderia começar por isso. Já no dia seguinte, saí com a equipe da TVU para cobrir uma coletiva sobre

o mutirão da justiça, o qual adiantou muitos processo. No meio da gravação das sonoras o telefone começa a tocar no bolso. Toda a imprensa da cidade reunida, com suas câmeras ligadas em direção aos juízes, que não se sentem montados sobre o poder e a lei, e o telefone de um estagiário tocando no meu bolso. O meu braço estava esticado ao extremo, e cansado, e o telefone não parava de tocar. Ao fim de tudo, vou conferir quem ligou: 1 ligação de um número qualquer, e outras 30 mil de casa. Todas com a mesma proposta: podemos remarcar a entrevista para...

Era a hora marcada, e eu esperava na frente da TV Universitária pela chegada de Miguel Mossoró, a recepcionista da emissora já tinha me adiantado que ele tinha passado pela portaria uma vez, então decidi aparecer lá na frente, quem sabe ele estivesse à espreita me

esperando. E estava. Ele tinha voltado ao carro e me esperava lá mesmo. Veio em minha direção com passos firmes, como se desconhecesse sua idade já avançada. Quando entrei com ele pelos corredores da TVU as pessoas paravam e olhavam para aquela figura icónica da

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-...HOJE! - Ok! Claro. Onde o senhor prefere? - Não sei, diga aí você. - Não tenho nada em mente, pode ser na sede do partido, ou algo assim. - Olha, irei hoje para a UFRN, ajuda? - Claro, então te espero aqui.

política potiguar, mesmo sem nunca ter ganhado uma eleição seu lugar estava garantido no hall da fama, infelizmente neste hall ele não estava acompanhado das figuras mais éticas de nossa política.



Ele me seguiu pelo estreito corredor que leva para os estúdios, fiquei temeroso dele ter confundido o tipo de entrevista, ao invés da TV, era uma revista de jornalismo gonzo. “Que diabos é esse negócio de gonzo? Eu deveria demitir a minha assessora se ela não fosse a minha filha”. Quando entramos num local mais silencioso, liguei o gravador e disse: - Olha seu Miguel, essa entrevista é para... – E repeti a mesma ladainha pela milésima vez, como alguém que dizendo “essa é a sua última tentativa de desistir, de agora em diante, eu não respondo pelos meus atos, estou gravando para que eu tenha isso como prova. Pois não confio em políticos, mesmo que eles sejam idosos com cabelos mais alvos que a neve. O homem escolheu seguir. Para compreender essa figura, pensei em começar pelo começo, então já fui questionando de onde ele veio, e funcionou. Lembra daquela famosa “mãozada”? Aquela que ele prometeu dar nos gringos de visita em Natal, mas com intenções de visitar os pontos turísticos mais carnais de nosso povo.


Toda essa brabeza veio de sua profissão, pois Miguel Mossoró nem sempre foi político, ele era um sargento do Exército Brasileiro. Para não atrapalhar a minha entrevista, eu não comentei a minha aversão a tudo o que o envolve a cultura do militar, principalmente os mandos e desmandos de quem está uma patente acima de você. Eu estudei em uma escola militar, sei o que estou falando, pessoas que não sabem falar a não ser se for gritando como dementes a procura de alguma afirmação, ou então buscando algum poder que não teriam sobre ninguém se não fosse aqueles traços na manga da roupa, marcando sua patente. E para acabar de piorar você nunca deve perguntar nada a um militar mais fissurado por poder, pois ele pode te prender por desacato a autoridade.


Em pleno ano 2013 de nosso Senhor Jesus, o cidadão ainda se refere ao Golpe Militar que afundou o Brasil nos anos mais sombrios de ditadura como a Revolução de 64. Já estava sendo demais para mim, mas preferi não contestar por dois motivos: 1- Poderia fugir do foco da minha matéria; 2-

evento um pouco antes da campanha perguntou a ele sobre a ponte Newton Navarro, que ainda estava sendo construída, o que ele faria com o dinheiro investido nela. E a sua resposta foi que com aquele dinheiro ele faria uma ponte daqui para Fernando de Noronha. Só isso. Notem que a sua habilidade para comparar as coisas o gabaritam para escrever nesta revista. Olhando aqui nas fi-

Eu poderia ser preso por isso.

Segui adiante com o cronograma, eu não poderia deixar faltar a oportunidade de perguntar sobre o seu maior feito na política: - Miguel Mossoró, e a história da ponte Natal-Fernando de Noronha? - Essa história eu falei uma coisa e entenderam outra completamente diferente. Ele se refere a uma ocasião em que um senador do Rio Grande do Norte, em um

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chas, parece que ele é o único candidato interessado. Humm Ok Contratado!


Mas Mossoró não contou com um detalhe, a presença de jornalistas naquele evento. E no outro dia, os jornais de Natal estampavam a frase de que o candidato do PTC tinha prometido fazer uma ponte sobre o mar com destino ao arquipélago pernambucano. Ufa! Agradeci a Deus, pelo menos não estava sozinho com um desvairado qualquer. Muito pelo contrário.

Ele era mais esperto que todos nós, e assim como numa manobra de guerra, ele usou aquela arma a seu favor. Do dia para a noite ele deixou de ser um candidato qualquer para se tornar o candidato do cofre de ideias. Miguel Mossoró percebeu ali a formação de uma grande onda, e nela ele surfou durante toda a campanha, e não se engane, ele esteve na crista dela o tempo

todo, o fato dele ter ficado em terceiro não significa que ele caiu no meio do caminho, e sim que os seus concorrentes surfavam nos melhores pontos da praia. Ainda assim, ele não ficou em terceiro a toa. Segundo o próprio, sua parcela de votos se deve a votos conscientes, assim como ele. E eu posso afirmar que ele não estava errado, pelo menos quanto à segunda afirmação.

Depois de conversar com ele, Miguel Mossoró se mostrou um candidato que eu não votaria, mas me faz acreditar nele. Ele não tem as artimanhas dos políticos por formação, como também tem sinceridade, e sua vontade de ajudar é sincera. Embora sua íntima ligação com o militarismo, e com a religião sejam uma jogada arriscada ao optar por ele numa eleição.

Uma coisa é certa, ele ia lutar com todas as suas armas, talvez literalmente, para fazer uma limpeza ética, onde quer que estivesse. O engraçado é que essa palavra “limpeza” me lembrou duas coisas antagônicas: primeiro a campanha do último presidente do Brasil antes da Revolução de 64, aquela campanha da “vassourinha”. Como também puxou na memória a limpeza

feita pelo governo golpista, “jogando para fora” de uma forma ou de outra, todos aqueles que não concordavam com sua ideologia. Mas que ideia a minha, só pode ter saído de uma cabeça paranoica como a minha. Acho melhor parar por aqui, antes que eu seja preso por falar essas coisas.

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COM A PALAVRA O CIENTISTA A cada dois anos quem senta à frente da televisão para assistir ao Horário Eleitoral Gratuito Obrigatório, ou não tem nada mesmo para fazer, ou está querendo acompanhar por alguns momentos o festival de tosquices, bizarrices, anomalices - e cretinices por parte de alguns medalhões da política que ainda tem a cara de pau de voltarem para à TV com o mesmo discurso de quatro ou dois anos atrás. Não estou aqui para falar das deficiências de nossa construção e educação do sistema eleitoral, e realmente não espero terminar este texto e ver um artigo argumentativo querendo te convencer disso, pois só de pegar essa revista, por osmose você já deveria saber disso. Na verdade estou, pois não vai adiantar eu falar sobre o sistema de democracia representativa, e todo o nosso sistema eleitoral, sem não questionar as suas deficiências. Até parece que o único sucesso deles foram as urnas eletrônicas.

tos são comuns são até bom. Por isso perdemos de ver os grandes confrontos de ideias, o que nós vemos hoje no período das eleições é uma verdadeira ceia eleitoral, em que o prato do dia vai desde uma ajuda na feira, uma nova dentadura, até um plano de saúde, uma guitarra. Ficou perdido aquele confronto de ideias, o debate entre os candidatos, mesmo com ideologias diferentes era até fácil manter um diálogo neste caso. Resumindo: é como se a falta de recurso aliado à falta de necessidade de trabalhar a imagem para o eleitor em casa. Diferentemente dos políticos com muitos recursos, este usa a melhor forma de aparecer. Mas Miguel Mossoró enganou a todos nós com a sua história da ponte Natal-Fernando de Noronha. Ainda hoje ele tem boa consciência sobre os problemas políticos do estado. Mas sem esclarecer bem os seus planos

Segundo o professor Antônio Spinelli, um dos principais fatores que levam ao aparecimento de políticos assim é a razão histórica. Por muitos anos as instituições ligadas à política perderam seu valor. Com uma política desvalorizada aqueles tipos de baques e confron-

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PARA DIAS FELIZES, NADA DE SEGUIR FELICIANO Diferente da imagem puxada da memória de doido varrido ou algo do tipo, Miguel Mossoró é um politico sério e digno de confiança. Porém, como eleitor, ele não teria o meu voto devido à junção política, direitos gerais de uma nação e religião, o que na verdade não se junta, quando a intolerância religiosa se manifesta não tem nada que uma essas coisas. Pensando bem agora o presidente do PTC lembra muito irmão Manoel, até a fisionomia. Manoel era pastor de uma igreja a qual eu fazia parte, um militar aposentado, ele devia passar a maior parte do seu tempo lendo a bíblia. Isso deu um vasto conhecimento a ele, o tipo

de conhecimento que faz de você a pessoa ideal para viver na época de Moisés. A religião tem suas regras próprias, e não estou aqui questionando-as, mas ela são obrigatórias para quem opta por fazer parte do corpo daquela igreja. O que acontece é de todos os seres viventes da face da terra serem obrigados a seguir essas normativas. Ainda hoje a comissão dos Direitos Humanos aprovou um projeto intitulado de “cura gay”, no geral ele autoriza psicólogos a indicarem tratamentos para homossexuais. Ok, você deve está com a mesma pulga atrás da orelha que eu. Como assim? A Comissão dos Direitos Humanos aprova um projeto deste? É amigo, a política desgraçada desta nação, coloca José Genuíno na comissão de Ética e Justiça, e crentes

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insensatos na comissão já citada. Neste ponto, meu novo amigo Miguel Mossoró perde o meu voto, não só pelo fato dele não apoiar a homossexualidade, o que é bem compreensível, ele vem de outro tempo, e ainda foi militar durante a Ditadura, não se deve pedir muita flexibilidade e compreensão de uma pessoa que passa por traumas como estes. Infelizmente ele teve poucas chances de provar o contrário do que a maioria das pessoas pensam sobre ele. E muito provavelmente não vai ter, essa é a prova, que assim como outros políticos diferentes do estereótipo de um deputado ou vereador, surpreenderam a sociedade. Como dizia o Dr. Gonzo: “Quando as coisas ficam estranhas, os estranhos viram profissionais.”


TRIPINHAS

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JEAN MOURA


AURELIANO

GABRIEL VASCONCELOS

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