ENTREVISTA | 09 Levante POpular da juventude
EDUCAÇÃO Prepare-se para a redação do ENEM!
Bahia
Cícero Félix dos Santos Coordenador da
Florian Kopp
BAHIA | 5
Articulação do Semiárido Brasileiro - ASA, explica os desafios para a implementação desta política.
Salvador, outubro de 2019 ano 2 edição 15 distribuição gratuita
BRASIL|07
EM XEQUE
Gleisi afirma que procuradores da Lava Jato agora têm “grande problema”
OPINIÃO | 10
ARTIGO
Criação da sensibilidade humana, literatura elabora questões individuais e coletivas Maria Eugênia
QUAIS OS IMPACTOS DO FECHAMENTO DA PETROBRAS NA BAHIA?
CULTURA | 11
HISTÓRIAS
Corpo, mente e espírito
nutridos no Caruru de sete meninos
Salvador, outubro de 2019
OPINIÃO | 2
Brasil de Fato BA
EDITORIAL
Governo Bolsonaro quer entregar nossas riquezas SOBERANIA. Prestes a completar 66 anos, a Petrobrás sofre ameaças de privatização
N
o dia 03 de outubro a Petrobrás completa 66 anos. Um marco na história do Brasil e na disputa pela soberania nacional. Era um período de grande efervescência política, havia um amplo debate sobre a indústria e o desenvolvimento brasileiro, Getúlio Vargas, sobre pressão popular, já havia criado a Vale do Rio Doce e outras empresas de base estatal para impulsionar o Brasil na disputa internacional de mercado. O petróleo já jorrava no Brasil desde 1939 no poço de Lobato, em Salvador, e, logo depois, em 1941, em Candeias. Porém não estava definido de quem deveria ser a responsabilidade da exploração dessa riqueza. A proposta da classe política conservadora e de militares anti-nacionalistas era de entregar ao setor privado que já atuava no país, como
ataque as empresas estatais sobre o argumento da corrupção e da baixa eficiência esconde o verdadeiro debate da privatização que é a entrega das riquezas naturais Além de a perca de soberania estratégicas, enacional. as estatais são O Brasil é o segunmaior produtor de extremamente do energia hidrelétrica do lucrativas mundo, possui a maior reserva de água doce do planeta e com o Esso, Shell e Texaco. Pré-sal podemos chegar A reação popular foi a terceira maior reserimediata, a população se va mundial de petróleo. coloca contrária a pro- Tudo isso sobre o controposta e inicia a campa- le do estado, que adminha ”O Petróleo é Nos- nistra de forma estratéso”. As grandes empresas gica a exploração desses internacionais realizam recursos. uma contra campanha Um exemplo é a Eletronos meios de comunica- brás, que exerce o conção, mas são derrotadas. trole do uso da água para A campanha “O Petróleo a geração de energia mas é Nosso” vence e inter- distribui para o abastecirompe a participação do mento humano, animal, capital estrangeiro nas irrigação de lavouras e atividades petrolíferas. lazer. As duas maiores Quando o Governo Bol- economias do mundo, sonaro assumiu a presi- Estados Unidos e China, dência seu discurso de seguem processos seme-
Expediente Brasil de Fato BA O jornal Brasil de Fato circula periodicamente com edições regionais na Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Paraíba, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mensalmente visibilizamos as vozes, as lutas e o cotidiano do povo baiano. Contra o monopólio da comunicação, na disputa das idéias e na construção de uma comunicação popular. Conselho Editorial: Áttila Barbosa, Ivo Saraiva, Edmilson Barbosa, Gabriel Oliveira, Allan Lusttosa, José Carlos Zanetti, João Carlos Salles, Vitor Alcantara, Emiliano José, Luciene Fernandes, Elen Rebeca, Moisés Borges, Leomarcio Silva, Leila Santana, Sebastião Lopes, Beniezio Eduardo, Allan Yukio, Amanda Cunha, Lucivaldina Brito, Marival Guedes. Redação: Bárbara Lima, Jamile Araújo e Lorena Carneiro Edição: Elen Carvalho (0005818/BA) Diagramação: Diva Braga Tiragem: 30.000 exemplares Escreva para nós: redacaobahia@brasildefato.com.br Rede Social: facebook.com/brasildefatobahia Contato/Publicidade: redacaobahia@brasildefato.com.br
chegar até o fim do ano a R$ 100 bilhões, é essa grande riqueza que está em disputa. Ele poderá ir para a população ou Relembrar a ser usurpada pelas empresas estrangeiras socampanha bre a conivência do go“O Petróleo verno. Cabe o povo brasileié Nosso” é ro retomar seu protaresgatar a gonismo, sindicatos, partidos progressistas luta popular sociais que mudou os etemmovimentos enfrentado duras rumos do país batalhas para defender a soberania nacional, mas ainda são inlhantes de defesa dos sesuficientes diante dos tores estratégicos através ataques do atual goverde empresas estatais, imno orquestrado pelo capedindo que o setor pripital internacional. Revado defina os rumos do desenvolvimento huma- lembrar a campanha “O no e da econômica de Petróleo é Nosso” é resgatar a luta popular que seus países. Além de estratégicas, mudou os rumos do as estatais são extrema- país, forçando as camamente lucrativas, no pri- das conservadoras a remeiro semestre de 2019 cuar e impulsionar o deas cinco maiores empre- senvolvimento nacional. sas estatais do Brasil de- Debate tão necessário ram um lucro de R$ 60,7 para o Brasil de agora e bilhões e a estimativa é do futuro..
Charge
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GERAL l 3
FRASE do mês
mandou
BEM
Não houve tiroteio nenhum. Foram dois disparos que ele deu. Falou que foi tiroteio de todos os lados. É mentira, é mentira!”.
Valdemiro Lope
Reprodução
Afirma, em depoimento, o motorista da Kombi onde a menina Ágatha, de oito anos, foi atingida por um tiro de fuzil e morreu.
Você concorda com o fechamento da Petrobras na Bahia? Por quê?
N
ão há como concordar. Nosso estado sempre se destacou na produção e refino do petróleo, sendo a RLAM a primeira refinaria do Brasil, fonte de emprego e renda para milhares de famílias baianas”. Resposta Thalisson Andrade - Professor
Nota
SERVIÇ0S
laro que C não. A partir do prin-
cípio que ela foi fundada aqui na Bahia. Petrobras é sinônimo de desenvolvimento econômico e social para o povo baiano”.
Iorubá: patrimônio imaterial de Salvador projeto de lei que torna a língua O iorubá patrimônio imaterial da cidade de Salvador foi aprovado no
plenário da Câmara Municipal, no início de setembro, por unanimidade, a partir de um acordo entre o Legislativo e o Executivo. O projeto é do Vereador Edvaldo Brito e teve texto anterior vetado pelo Prefeito ACM Neto.
mandou
MAL
Anistia Internacional
Resposta Leni Edilza Alves - Artesã
I Seminário Baiano do BR Cidades s desafios da organização nas cidades têm se tornado O cada vez maiores e exigem formas criativas e realistas de pensar alternativas para as demandas do meio urbano.
Divulgação
É urgente o avanço na formulação em torno das experiências organizativas e dos acúmulos já existentes sobre o direito à cidade. Nesse sentido, dia 11 de outubro será realizado o I Seminário Baiano do BR Cidades, em Salvador, com o objetivo de unificar as lutas urbanas em torno de um Projeto Popular para a Bahia. O BR Cidades é um dos GTs do Projeto Brasil Popular para se pensar um Projeto Urbano Popular correspondente às necessidades e anseios da população urbana. Informações: https://www.brcidades.org/
Assassinatos no campo evantamento da Comissão PasL toral da Terra (CPT), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), revela que apenas 117 dos 1.468 casos de assassinatos em conflitos de terra entre 1985 e 2018 foram avaliados por um juiz em alguma instância. Os conflitos, neste período, resultaram em 1.940 mortos. Porém, como mostram os dados, só 8% dos casos foram julgados em mais de três décadas.
4 I CIDADES
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Juventude realiza semana de solidariedade NÓS POR NÓS. Acontece nas periferias de várias cidades do país há cinco anos Levante Popular da Juventude.
Bárbara Lima
“SE ELES LÁ NÃO FAZEM NADA, NÓS FAZEMOS POR AQUI!” com esse lema que É a semana de solidariedade NÓS POR
NÓS chega a sua 5º edição em 2019. A iniciativa é do Levante Popular da Juventude e acontece anualmente nas periferias de todo o país. Cinedebate, sarau, aulões pré-vestibular, oficinas de batucada, graffiti, batalha de rap e serviços comunitários como a feira de saúde, revitalização de praças, construção ou fortalecimento de bibliotecas comunitárias são algumas atividades que fazem parte da semana. A partir dos diálogos com escolas, centros comunitários e moradores das comunidades, são pensadas e construídas as ações da semana de solidariedade. Isso permite que a comunidade se envolva diretamente no processo. Além da denúncia da ausência do trabalho do Governo e da falta de políticas públicas, a semana NÓS POR NÓS possibilita que os problemas dos espaços onde acontece possam ser debatidos coletivamente, o que permite mostrar como a organização popular pode transformar o cotidiano e as vidas das pessoas. Djeriz Bonfim, militante do Levante e integrante da frente territorial conta que “as iniciativas de solidariedade são parte fundamental no trabalho de um movimento social como o
:Serviços comunitários como a feira de saúde fazem parte da programação.
paços culturais abertos e gratuitos para a população, que incentivem o lazer, a prática esportiva, a formação e exercício da cidadania , Djeriz pontua que “o objetivo, a cada vez que se constrói as atividades em novas periferias, é ser uma porta que se abre para encher o espaço comunitário com novas possibilidades, possibilidades de vida e desenvolvimento da juventude, com objetivo de fortalecer o que há de melhor no povo brasileiro e reduzir as grandes dificuldades e desigualdades que já permeiam nossas vidas todos os dias”.
Levante Popular da Juventude. das atividades, além de contribuir para a formação de lideranças comunitárias. Como afirma Ana Catarina, estudante e militante do Levante na cidade de Seabra, interior do Estado: “a ideia é que a juventude dos bairros que a gente atua, contribua desde a organização quanto a participação das atividades durante o O protagonismo da juventude local e a valorização da periferia são evento. Isso soma elementos importantes da semana. para que eles e elas contribuam para a organização dos seus bairros, formem novas lideranças, fortaleçam a solidariedade e trabalhem a identidade entre os jovens periféricos, transformando as realidades das comunidades.” No último ano, a NÓS POR NÓS chegou em mais de 70 cidades, em 19 estados do país. Na Bahia, são mais de 15 locais/cidades nas quais a semana acontece. Através da inexistência ou escassez de es-
O que permite mostrar como a organização popular pode transformar o cotidiano e as vidas das pessoas. Levante. Elas permitem reforçar valores como companheirismo, cooperação e coletividade. Mesmo em momentos de dificuldade, o povo brasileiro expressa sua capacidade de se solidarizar com o próximo em ações pequenas e cotidianas.” O protagonismo da juventude local, a valorização da periferia, das pessoas que moram ali e o que nela é produzido culturalmente são elementos importantes para o fortalecimento
A ideia é que a juventude dos bairros que a gente atua, contribua desde a organização quanto a participação das atividades durante o evento.
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Prepare-se para a redação do ENEM! Levante Popular da Juventude
EDUCAÇÃO. Fique por dentro de alguns temas possíveis para a prova deste ano Lorena Carneiro
os dias 03 e 10 de N novembro, milhões de estudantes em todo o Brasil farão as provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2019, foram 5.095.308 inscrições confirmadas, o menor número desde 2012. A redação é realizada no primeiro domingo e é uma das provas que deixa os estudantes mais apreensivos, já que a diversidade de temas possíveis é bastante ampla. Para ajudar na preparação para a prova, conversamos com duas professoras da área de Linguagens de uma escola pública e outra privada de Feira de Santana para saber quais temas podem cair na redação do ENEM 2019. Um dos dilemas desse ano é a possibilidade de ingerência do governo Bolsonaro no tema da prova, que em geral traz assuntos de conteúdo crítico. Em julho, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que uma das exigências para a elaboração da prova é que se tire qualquer “viés ideológico”: “A pessoa tem que ter tranquilidade de
Cursinhos populares têm realizado aulões gratuitos de preparação para o ENEM na Bahia.
Um dos dilemas desse ano é a possibilidade de ingerência do governo Bolsonaro no tema da prova que a única coisa que ela precisa fazer é estudar: ciência, matemática, ler e escrever corretamente, sem se preocupar com viés ideológico. Se nós não atendermos isso, as cabeças dos responsáveis vão rodar”, afirmou. A professora Patrícia Lima, que ensina no Centro Integrado de Educação Assis Chateaubriand, afirma que diversas questões sociais podem ser assunto da redação, mas questiona: “No governo dele [Bolsonaro], é possível colocar esses temas?”. Apesar disso, ela e a professora Ana Paula Guedes, da Escola Juscelino Kubitschek, elencaram alguns temas possíveis para a prova:
Saúde mental: “A questão do suicídio é um tema que tem tido bastante destaque atualmente, então pode ser um assunto escolhido”, afirma Patrícia. O aumento dos índices de depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental e sua relação com o uso das redes sociais ou com as condições de vida da população podem ser enfoques trabalhados; Meio ambiente: As queimadas na Amazônia e a Greve Mundial pelo Clima tornaram a pauta ambiental um assunto na ordem do dia dos meios de comunicação. O debate sobre a sustentabilidade, mudanças climáticas ou desmatamento são pos-
sibilidades de assuntos para discussão no texto. Segurança Pública: É um tema central da política hoje e que pode trazer
diversas questões para discussão, como o porte de armas, a atuação da polícia e o extermínio da juventude negra.
Aulas gratuitas para o ENEM a Bahia, diversos cursinhos populares têm N realizado aulões gratuitos para preparação para o ENEM. Confira alguns deles:
Salvador: sábados a partir do dia 05/10 na sede da CUT (Nazaré) Feira de Santana: sábados pela manhã a partir do dia 05/10 na Paróquia São José Operário (George Américo) Itabuna: Dias 05, 19 e 26/10 no Colégio CETEP (São Caetano) Porto Seguro: De segunda a quinta, às 19:30h, no Colégio Municipal Governador Paulo Souto (Complexo do Baianão)
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IMPACTOS DO FECHAMENTO DA PETROBRAS NA BAHIA Jamile Araújo
Sindipetro BA
Você sabia? A
I
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té 1950, a economia baiana era predominantemente primária exportadora, com uma tendência evidente de concentração de riqueza, alta suscetibilidade às flutuações de demanda externa e baixa contribuição ao dinamismo econômico; sem a implantação de outras atividades que possibilitassem a diversificação da estrutura produtiva. A partir da década de 1950, a Bahia sofre mudanças nesta configuração e surgem os primeiros movimentos de expansão do processo de industrialização do estado. Destacando-se, em 1956, a implantação da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), da Petrobras, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).
A
expansão das atividades da Petrobrás garantiu o crescimento da indústria química baiana e a criação do polo petroquímico de Camaçari nos anos 70. A expansão da indústria química foi motivada, entre outras razões pelo fato de ser a Bahia o maior produtor de petróleo naquela década, bem como da necessidade de aumentar a produção de alguns insumos básicos usados pela indústria de transformação do Centro-Sul do país e também uma estratégia do Governo Federal para reduzir as desigualdades regionais, estimulando o desenvolvimento na Região Nordeste.
D
e acordo com o Boletim de Contas Nacionais da Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI), em 2016 a Bahia respondia pelo 6º maior Produto Interno Bruto (PIB) entre os estados brasileiros e o 1º PIB do Nordeste, com o correspondente a 4,1% do PIB brasileiro e 29% do PIB do nordeste. A atuação da Petrobrás na Bahia envolve: exploração de petróleo, refino, comercialização, transporte, distribuição de derivados, gás natural, gás-química, biocombustíveis, petroquímica, fertilizantes e energia elétrica. A Bahia é o único Estado do país que possui toda a cadeia de produção do setor petróleo.
III
Ato em defesa da Petrobras na Assembleia Legislativa da Bahia em 24 de setembro
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construção das refinarias e a produção de derivados de petróleo, a partir dos anos 1950, possibilitou ao Brasil uma maior independência do mercado externo, tendo maior autonomia e soberania tanto na oferta quanto no controle de preços, não ficando refém das especulações dos mercados financeiros mundiais. Na Bahia, a RLAM responde por 20% da arrecadação de ICMS no estado, de acordo com dados da (SEI).
m 2018, o número de trabalhadores empregados diretamente pela Petrobras estava em torno de 63 mil em todo o país. Após a saída de cerca de 20 mil trabalhadores nos últimos anos. O enxugamento de postos de trabalho perdura até hoje e deve continuar. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais – Rais, do Ministério da Economia, em 2017 a Bahia possuía 6.090 trabalhadores na indústria do petróleo, em sua grande maioria ligados à Petrobrás. Isto significava 7,6% do contingente de trabalhadores dessa indústria no país, o terceiro maior contingente. Sem contar os empregos da área administrativa, terceirizados e os gerados de forma indireta em setores que gravitam em torno da indústria do petróleo.
privatizaA da PeVI trobras,çãoalém da
venda de suas subsidiárias, pode levar a uma situação de maior insegurança em relação aos preços de produtos essenciais. Portanto, defender uma Petrobras pública e forte é também zelar pelo bem-estar da população. É zelar pelos trabalhadores e pela qualidade de seus empregos, pelo desenvolvimento das economias locais, pelas nossas reservas de petróleo e por uma das melhores empresas do mundo em produção e refino de petróleo, especialmente em águas profundas. *Baseado em texto elaborado por Ana Georgina Dias, supervisora técnica do Dieese na Bahia e Cloviomar Catarina, técnico do Dieese na Subseção do Dieese na FUP.
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Gleisi afirma que procuradores da Lava Jato agora têm “grande problema” Ricardo Stuckert
EM XEQUE. De acordo com dirigente, Lava Jato construiu uma mentira e não sabe como se livrar dela Pedro Carrano
o final da tarde N da segunda-feira (30), lideranças do Par-
tido dos Trabalhadores (PT) e advogados do ex-presidente Lula dirigiram-se à Vigília Lula Livre para explicar à militância a decisão de ex-presidente tomada nesta mesma tarde de recusar e denunciar o pedido dos procuradores da Lava Jato, direcionado à juíza substituta da 12ª Vara Federal, Carolina Lebbos, indicando a ida de Lula para o regime
Fernando Haddad ressaltou que está pendente a votação no STF do habeas corpus que tem como pauta a suspeição.
semi-aberto de pena. A leitura é de que não há confiança em integrantes de um Operativo como a Lava Jato, cada vez mais desgastado diante da opinião pública, devido a várias irregularidades. A proposta assinada por Deltan Dallagnol não contempla a exigência de Lula por revogação completa da sua prisão e habeas corpus – como foi solicitado na mesma tarde por seus advogados. “Os que oferecem meia liberdade para ele é os
está atrás de favor, está a favor de sua inocência. Ele disse que não vai sair daqui de cabeça baiO gesto de Lula xa”, afirma Emidio de Souza, do diretódenuncia rio nacional do PT. Nem mais convice ao mesmo ções tempo coloca O gesto de Lula deos procuradores nuncia e ao mesmo tempo coloca da Lava Jato os procuradores da em contradição Lava Jato em contradição, o que denuncia uma condenaque o colocaram preso. ção frágil, sem provas, O presidente Lula não de acordo com a presi-
denta do PT, Gleisi Hoffmann. “Eles têm um grande problema. Eles não tinham a dimensão do tamanho do Lula e com quem estavam lindando. E agora têm um problema, porque estão presos em uma mentira que eles construíram e não conseguem sair dela. Essa turma foi a mesma que fez aquele power point, lembram? Diziam que não tinham provas, mas convicções”, critica Gleisi. O candidato à presidência em 2018, Fernando Haddad, ressaltou que está pendente a votação no STF do habeas corpus que tem como pauta a suspeição de Sergio Moro. O STF a qualquer momento pode decidir que o chamado processo do triplex do Guarujá pode ter sua sentença anulada. “Estamos dizendo que esse julgamento tem que terminar porque, se essa sentença for anulada, vamos levar o Lula para casa, de cabeça erguida, olhando para cada um de nós”, afirmou Haddad. Anúncio
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Entidade defende na ONU a agricultura camponesa como solução climática ALTERNATIVA. Via Campesina participou da Cúpula para o Desenvolvimento Sustentável, em Nova Iorque Via Campesina/Divulgação Da Redação
ma representante U da Via Campesina, entidade internacional
que articula organizações de camponeses de todo o mundo, participou da primeira Cúpula dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Paula Gioia, representante da Via, apontou a agricultura camponesa como saída para a crise climática, afirman- “A agroecologia camponesa e a agricultura camponesa sustentável oferecem vias concretas”, disse do que “agora é urgente representante da Via Campesina. colocar a humanidade e rania alimentar, incluina natureza acima do ludo os pequenos produtocro”. res de alimentos. “Nós, os camponeses, A agroecologia campotemos a solução imedianesa combina séculos ta para o que nossos fide conhecimento e exlhos e jovens demanperiência com princídam atualmente nas pios científicos e ecológiruas. Podemos ajudar a cos para desenvolver sisesfriar o planeta!”, disse temas alimentares locais Gioia ao convocar os govibrantes que podem envernos que se somassem frentar a pobreza e a marefetivamente no enfrenginalização. Promove alitamento da a questão. mentos nutritivos, sauOs ODS são parte da dáveis e culturalmente chamada Agenda 2030, apropriados, melhora a estabelecendo uma sébiodiversidade e responrie de metas e diretrizes dade de poder compara Via Campesina, o mode aos efeitos da crise clipara um modelo de detilhar com vocês aqui. vimento camponês glomática. senvolvimento econôPrecisamos reconhecer bal de mais de 200 mi“Excelências, os campomico social e ambientalas soluções dos campolhões de pessoas e que neses são os principais mente justo. neses e assimilá-las. A compreende camponeagentes de mudanças, Confira abaixo o discurso proferido por Gioia ses, pessoas sem terra, agroecologia campone- mas muitas vezes somos na Cúpula, que ocorreu povos indígenas, imi- sa e a agricultura cam- marginalizados e destrabalhado- ponesa sustentável ofe- pojados de nossos direiem paralelo à abertura grantes, res agrícolas, mulheres recem vias concretas tos fundamentais, como da Assembleia Geral da camponesas e jovens. para alcançar os objeti- o direito à terra, à água e ONU. Somos essenciais para vos do desenvolvimen- às sementes. Assim, é esMuito obrigada, Senhoque se alcance os ob- to sustentável. Para se sencial promover, utilires/Senhor presidente, chegar à fome zero, a zar e aplicar a Declaração jetivos do desenvolviEstimadas excelências, produção de alimen- das Nações Unidas somento sustentável. AsObrigada por esta Cúpula e pelo convite. Sou sim, muito obrigada tos deve se basear na bre os direitos dos camapicultura e represento por nos dar a oportuni- agroecologia e na sobe- poneses e de outras pes-
Nós, os camponeses, temos a solução imediata para o que nossos filhos e jovens demandam atualmente nas ruas.
soas que trabalham em áreas rurais. Inúmeros relatórios de organismos das Nações Unidas, assim como a recentemente iniciada Década da Agricultura Familiar das Nações Unidas, reconhecem os pequenos produtores de alimentos como um pilar fundamental em nossa sociedade. Temos alimentado a maioria da população mundial durante séculos e continuamos a fazê-lo. Excelências, agora é urgente colocar os direitos humanos e a natureza acima dos lucros. Nós, os camponeses, temos a solução imediata para aquilo que nossos filhos e jovens demandam atualmente nas ruas. Podemos ajudar a esfriar o planeta! Para isso precisamos que vocês, nossos governos, sejam corajosos, nos representem realmente e se comprometam conosco. Para tanto, devem ser fortalecidas as instituições de governança inclusiva, como o Comitê de Segurança Alimentar Mundial. Temos o conhecimento e a visão para contribuir na formulação de políticas públicas e investimentos necessários para uma transformação agroecológica exitosa. Globalizemos a luta, para globalizar a esperança por todo o mundo”!
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ENTREVISTA | 9
Você sabe o que é a Política Estadual de Convivência com o Semiárido? Florian Kopp
DIREITOS. Sancionada e regulamentada, lei que garante direitos da população do semiárido baiano depende de inclusão em orçamento público
Qual a abrangência?
Deve ser aplicada em todo o território baiano que compõe o semiárido
Jamile Araújo
C
onversamos com Cícero Félix dos Santos, da coordenação da Articulação do Semiárido Brasileiro - ASA, sobre os desafios das comunidades e povos dos semiárido baiano na implementação da Política Estadual de Convivência com o Semiárido. Confira a entrevista. Brasil de Fato - Quais são as demandas/particularidades dos povos e comunidades do semiárido baiano no atual momento? Cícero: Na Bahia, dois terços do território do estado é semiárido. São cerca de 700 mil famílias de agricultores/as familiares. Estima-se que 2/3 dessas famílias estejam vivendo no semiárido. Nessas famílias, além de agricultores/as familiares, boa parte são de comunidades tradicionais (quilombolas, comunidades de fundo e fecho de pasto, geraizeiros, pescadores,etc.). As demandas são, principal-
A política de convivência com o semiárido nasce da experiência das comunidades, das vivências junto às organizações populares e aos movimentos sociais mente, garantia de acesso à terra e seus territórios; de acesso à água água para consumo hu-
dades que vivem na região, e propor uma política pública de Estado. Então a política estadual de convivência com o semiárido é um instrumento político-jurídico aprovado pela Assembleia Legislativa do estado da Bahia - ALBA, mano, produção e diver- e que nos dá um ampalegal/institucional sos usos; garantia do di- ro reito à educação de qua- para que as ações que lidade e contextualiza- nos interessam na gada; direito à moradia e rantia das condições de vida das populações do saúde. semiárido sejam viabiO que é a política es- lizadas; deixando de ser tadual de convivência ação de governos e pascom o semiárido? sa a ser política de Estado. Nas últimas décadas, os governos implementa- Qual a importância ram, a partir de proposi- de ser implementada ções da sociedade civil, essa política? vários programas e projetos na direção da con- A política de convivênvivência com o semiá- cia com o semiárido rido. Como o programa nasce da experiência água para todos - para das comunidades, das consumo humano, pro- vivências junto às ordução e água na esco- ganizações populares e la; e projetos de apoio aos movimentos sociais. à produção agroecoló- A grande importância gica. Nós da socieda- dessa política é que a de civil, depois de mui- agora o estado da Bahia tas reflexões, avaliamos tem um instrumento leque era chegada a hora gal para garantir orçade articular essas ações, mento público para as que são muito impor- ações de convivência tantes para as comuni- com o semiárido.
É muito abrangente. Ela tem proposições para o uso do recurso público em diversas áreas que, de forma direta ou indireta, interessam à população. A questão da terra e dos territórios, a questão da água, produção, temática da educação, cultura, agroecologia; ela abrange diversas áreas dessas comunidades. Deve ser aplicada em todo o território baiano que compõe o semiárido. Como anda o processo para execução dessa política? A política já foi aprovada. Foi um processo participativo de construção, envolvendo organizações e movimentos da sociedade civil; com organismos do governo do estado. Foi apresentada à ALBA como um projeto de iniciativa do executivo, ou seja, do governador do estado. Foi apreciada e aprovada pelos parlamentares, sancionada pelo governador e foi regulamentada. Está pronta para ser colocada em prática. Mas só pode ser executada se a sociedade civil organizada e o poder público considerar a política na construção dos orçamentos. Isto acontece principalmente na construção do Plano Plurianual - PPA e na construção dos planos das leis orçamentárias anuais. A política está pronta para ser executada, mas precisa de orçamento público para viabilização das ações.
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Artigo
Brasil de Fato BA
Salvador, outubro de 2019
Criação da sensibilidade humana, literatura elabora questões individuais e coletivas
Raquel Nery* er é importante e vessaram milênios até ninguém duvida. chegar a nós; outros esQuem lê (de maneira tão sendo criados hoje, competente e crítica) se por indivíduos ocupados movimenta no mundo em reescrever o mundo com autonomia, aces- de um modo especial e sa informação de fontes necessário. As artes em variadas e consegue reu- geral, a literária em espenir elementos para to- cial, são criações da imamar decisões, como vo- ginação, do engenho e tar, assinar um contra- da sensibilidade humato, traçar uma rota segu- nas. Nelas estão elabora para uma viagem. É radas as grandes queso lado público da leitu- tões da nossa existênra, por onde a cidadania cia como indivíduos (o se exercita. Mas há ou- amor, a dor, as fases da tra experiência de leitu- vida e a morte, a ternura, estética e quase sem- ra, a ferocidade e todas pre solitária: é a da lite- as contradições que aí ratura, arte da palavra. cabem) e como sociedaQuando nos livros, se de (as histórias de nossos apresenta em versos po- heróis, reais ou imagináéticos ou prosas narrati- rios, nossas conquistas e vas aguardando a com- derrotas, nossas guerras, panhia de quem vá des- violações e violências, as frutá-las. Muitos desses melhorias coletivas que poemas e histórias atra- realizamos ou a que as-
L
Artigo
expressando a complexidade e diversidade da experiência humana em temas muitas vezes interditados pelo medo e preconceito piramos). Num verso você pode encontrar a síntese de uma vida (“em que espelho foi parar minha face?”, interroga Cecília Meireles) ou de uma nação inteira (“Ó mar Salgado, quanto de teu
sal são lágrimas de Portugal?”, questiona Fernando Pessoa, no século XX, sobre o destino heroico/trágico de sua Pátria nas explorações marítimas do século XV). A literatura também fornece à nossa cultura impulso civilizatório e humanista, expressando a complexidade e diversidade da experiência humana em temas muitas vezes interditados pelo medo e preconceito, depois como violência e repressão, por parte de indivíduos ou instituições. Foi assim que a Bienal do Livro do Rio de Janeiro se viu às voltas com um prefeito censor, disposto a recolher livros sob o pretexto de “proteger crianças” do seu conteúdo. Na cidade em que a popu-
lação é alvejada a partir de helicópteros da polícia, até julho deste ano, 3.566 pessoas morreram de forma violenta e até o dia 21 de setembro, 16 crianças tinham sido baleadas, 5 delas indo a óbito. Sim, as crianças do Rio precisam de proteção. Mas o que as ameaça não estava na Bienal, nem está nas livrarias e bibliotecas da cidade. Dados do ISP RJ *Professora da Faculdade de educação Ufba, Presidente do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia
E se o Consórcio Nordeste compreender a
importância da comunicação pública?
Ivan Moraes*
magina você ligar I a televisão e poder ver num só canal produções vindas de diversos lugares do Nordeste. Tudo isso pode acontecer em breve. Basta que os governadores e a governadora que lançaram o Consórcio Nordeste compreendam a importância estratégica de uma rede que possa fortalecer essas interações e dar voz a narrativas que vão além dos interesses dos governos – mas da diversidade de nossas populações. É o que deseja o Fórum das Emissoras Públicas do Nordeste, composto inicialmente por representações de veículos de rádio e tevê de oito estados, que já se reuni-
É o que deseja o Fórum das Emissoras Públicas do Nordeste ram três vezes (em Salvador, Recife e Fortaleza) para debater sobre as bases da formação de uma rede que não apenas poderá facilitar a troca de conteúdos. Se o fortalecimento da comunicação pública era uma necessidade antiga para a construção de um país mais democrático, a conjun-
tura atual tornou-a uma pauta urgente. As iniciativas públicas de comunicação, simbolizadas pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foram as primeiras a sentirem os efeitos da ruptura democrática: o presidente (com mandato) foi exonerado, o conselho curador foi extinto e as verbas, aos poucos, minguando. Na região Nordeste, há particularidades, naturalmente. Enquanto Piaui, com três milhões de habitantes, investe R$ 6 milhões anuais em sua TV Antares (R$ 2 por habitante), Pernambuco, onde vivem 10 milhões de pessoas, coloca no máximo
R$ 4 milhões por ano em sua EPC (R$ 0,4 por habitante) e, nesta década, já chegou a gastar perto de R$ 100 milhões num só ano com propaganda.
Embora cada vez mais as pessoas utilizem-se de ferramentas digitais para obterem informação, a radiodifusão continua sendo o principal meio acessado pela população brasileira. Para isso, é fundamental que haja investimento real e integrado. É preciso que se invista tanto em equipamentos de captação e transmissão quanto em pessoal capacitado e com independência para produzir informação, debate e entretenimento. Mas não estamos falando só de dinhei-
ro. A comunicação pública não pode ser confundida com propaganda de governo. A rede a ser criada precisa ser um instrumento à disposição da sociedade em sua diversidade. Neste mês de outubro, em São Luís (MA), será realizado o 4º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, realizado pelo Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação. Pense numa ocasião arretada pra se lançar uma rede dessa? *Ivan Moraes é escritor, jornalista, defensor de direitos humanos e está vereador do Recife pelo PSOL.
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CULTURA | 11
Corpo, mente e espírito nutridos no Caruru de sete meninos HISTÓRIAS. Na partilha da preparação do alimento, Vovó Cici conta a história dos Ibejis e dos orixás
Maria Eugênia
Silara Aguiar
Elen Carvalho
hegamos na FundaC ção Pierre Verger no início da tarde da quinta-feira (26), dia que as pessoas católicas comemoram Cosme e Damião, os santos gêmeos protetores das crianças. No dia posterior, 27, é que as pessoas adeptas das religiões de matriz africana ofertam o Caruru dos sete meninos. Os preparos do Caruru já tinham começado. Vovó Cici, contadora de histórias que se dedica, há mais de uma década, a transmitir a sabedoria ancestral afro-brasileira para as crianças e quem mais queira, estava sentada cortando quiabos. Entre uma pausa e outra para dar uma instrução sobre como cortar os alimentos, dar a benção para quem chegava, ela foi contando como surgiu a oferta de caruru nesta data. Como quem vai tecendo fios de uma grande rede de memórias e saberes, Vovó Cici falou sobre os orixás, ressaltando que “todos os orixás reverenciam crianças, porque ninguém nasce adul-
tem preceito para preparar cada um deles e que o caruru pode ser ofertado com 3 até 21 pratos
todos os orixás reverenciam crianças, porque ninguém nasce adulto to”. Explica que o Caruru dos Ibejis é uma forma de reverenciar o Egbé Orum, a sociedade das crianças do céu. Depois de cortados os quiabos e do nosso passeio pelo espaço, voltamos para ouvir a história dos Ibejis, filhos gêmeos de Xangô. Sentados em
roda, ouvimos e vimos Vó Cici contar como as crianças, com sua criatividade, ajudaram o pai a se livrar das artimanhas de Exu, que roubava sua comida antes dele comer. Entre uma história e outra que foi se costurando, aprendemos os toques e as danças de alguns orixás.
No iniciozinho da noite, as pessoas foram chegando, a mesa já estava posta. Mas o que tinha mesmo nessa mesa? O prato com quiabo que ajudamos a cortar estava lá. Tinha também vatapá, feijão preto, feijão fradinho, arroz branco, xinxin de galinha, acaraSilara Aguiar
jé, abará, banana da terra, pipoca farofa, cocada.... Babá George Hora, líder religioso e professor, explicou, em conversa anterior por telefone, que “não existe uma origem precisa para o que conhecemos como Caruru. Há relatos escritos por missionários na África, no século XVI, chamando um guisado por esse nome”. Ele conta ainda que “os ingredientes também variavam e até hoje variam, inclusive, por regiões. No interior e no sudeste ainda é possível encontrar o caruru de Taioba, que não leva quiabo ou dendê”. Vó Cici explica que tem preceito para preparar cada um deles e que o caruru pode ser ofertado com 3 até 21 pratos, sempre em número ímpar. As crianças são servidas primeiro, diferente de outros momentos, quando são servidos inicialmente os mais velhos. Entre uma conversa e outra, algumas pessoas comentam como oferta de caruru nesta data tem ficado mais rara. As hipóteses giram em torno do aumento das religiões evangélicas, especialmente as neo-pentecostais. Babá George observa que o “caruru de preceito foi, em especial na Bahia, um ponto de convergências de expressões de religiosidade sincréticas: pessoas do candomblé, católicas ou até mesmo não ligadas a nenhuma dessas expressões, ofertavam, no mês de setembro, esse prato. Fosse para Ibeji, Cosme e Damião/Crispim e Crispiniano/Doum e Alabá, fosse para agradecer o livramento em um parto difícil ou nascimento de gêmeos”.
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O que
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tu indica
Obatalá - uma homenagem à Mãe Carmem”
Bahia Meu País
Jamile Araújo
o mês de setembro, foi N lançado no Terreiro do Gantois, em Salvador, o álbum
“Obatalá - uma homenagem à Mãe Carmem”. Mãe Carmem de Oxaguian é filha de Mãe Menininha de Oxum e é a atual Yalorixá do Gantois. O álbum do Grupo Ofá tem 17 faixas e contou com a participação de grandes nomes da música brasileira e baiana, como Gilberto Gil, Alcione, Gal Costa, Margareth Menezes, Mateus Aleluia, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Marisa Monte, Lazzo Matumbi, Zeca Pagodinho, Márcia Short, entre outros. Em tempos de diversas manifestações de ódio e racismo religioso, Obatalá, que faz referência ao orixá da criação da huma-
Espaço literário
Reprodução
Cachoeira de Pancada Grande nidade, vem tocar o coração de quem ouve, vem trazer o branco da paz de Oxalá para enfrentarmos o momento atual. Vem nos fazer refletir, através de cantos em iorubá de reverência
aos orixás, sobre o passado, presente e futuro, e sobre os desafios da vida. Obatalá é homenagem e força, mas é também emoção e aprendizado.
EXTRA EXTRA pra cá que é promoVem ção corpo preto no chão
Desgraca Como não se comover? É mais uma família sem saber Você diz que é a favor da vida o que fazer. Mas não se manifestou Extra da família Mas com o cachorrinho do Extra da promoção Carrefour Extra também de sangue na Até filtro no Facebook você mão colocou Até quando nossos corpos vão ser alvo? Eu estou cansado de ver corpos negros estirados Cadê seu antirracismo nesse momento? Cadê sua militância sem fundamento?
L
ocalizada na Costa do Dendê, a 180 quilômetros da capital, está a cidade de Ituberá. Com uma população pequena e mais distante da rota de destinos turísticos, tem parte da floresta ao redor da cidade ainda preservada por ser Área de Proteção Ambiental. E é na Reserva Ecológica Michelin que encontramos a cachoeira de Pancada Grande. O caminho é bem sinalizado com olacas, desde o centro de Ituberá até a cachoeira. Com uma queda d’água de aproximadamente 50 metros, uma escadaria de 290 degraus na lateral do rio leva ao topo da cachoeira. É aberto para visitação todos os dias, das 8h às 17h, com acesso gratuito. A dica é levar a família, os amigos, comidas e bebidas para passar o dia. Bom passeio e cuidado com a correnteza!
VISITE NOSSA PÁGINA
Extra genocida Extra que tira vida Extra que se você vacila Destrói a sua família 24 horas por dia Sete dias por semana Do acordar ao dormir Sua comoção não me engana Bruna Silva
facebook.com/ brasildefatobahia
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VARIEDADES | 13
www.malvados.com.br
DE OLHO NA MÍDIA Olhar Digital / Wikimedia
82%
Dos brasileiros acreditam que “informações falsas ou notícias falsas foram disseminadas para influenciar os resultados das votações”. Ou seja, quatro em cada cinco cidadãos ouvidos pela pesquisa da Transparência Internacional creditam o resultado eleitoral às fake news.
CPMI
Nesta semana, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga as notícias falsas e assédio virtual aprovou a convocação de nove empresas de serviços de comunicação digital e cinco provedoras de telecomunicações para prestarem depoimentos. Segundo a Agência Senado, foi aprovada também uma audiência pública com participação de executivos da Google, Twitter, Facebook. Executivos do Instagram, WhatsApp e Telegram também serão convocados.
Eles não param
A difusão intensiva de mentiras na internet não foi uma tática apenas da campanha. Os Bolsonaros seguem fazendo uso da artimanha. Nesta semana, o filho escolhido para ser embaixador do Brasil em Washington postou uma foto e uma mensagem falsas sobre Greta Thunberg, a ativista sueca que desafia a ONU, o Congresso dos EUA e as grandes corporações que lucram com a destruição do meio ambiente. Eduardo postou em seu perfil em uma rede social uma montagem tosca de uma foto da jovem de 16 anos. Na versão do deputado, Greta toma café enquanto crianças africanas passam fome do lado de fora de uma janela. Ele ainda replica outra mentira: de que ela seria financiada por George Soros. Depois ainda fez troça com o discurso de Greta na cúpula do clima na ONU. “Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu tenho sorte. Pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso”, continuou. Pois Eduardo Bolsonaro postou uma imagem de seu pai comendo o doce conhecido como sonho. Enfim, dá até vergonha. Nos somamos ao pedido de muitos brasileiros: desculpa, Greta.
4ENDC
O 4º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (4ENDC) será realizado em São Luís, capital do Maranhão, entre os dias 18 a 20 de outubro de 2019. O evento é organizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) para debater os principais temas da área de comunicações. Acompanhe mais notícias na página do FNDC: http://fndc.org.br Joana Tavares – Escreva suas sugestões e impressões para: joanatavaresc@gmail.com.br
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Dica da Saúde
Direitos de Fato Quantos mais corpos negros precisam morrer para que nos importe?
D
e acordo com o Anuário Nacional de Segurança Pública os homicídios decorrentes de intervenções policiais somaram-se em 6.220 em 2018. Dessas vítimas 99,3% são homens e cerca de 75% de indivíduos negros. Um crescimento de quase 20% em relação a 2017. Os crimes de feminicídio, com um aumento de 4% em relação ao ano anterior, fizeram 1.206 vítimas. Dessas, 61% de mulheres negras. No Rio de Janeiro, só esse ano, 16 crianças foram baleadas no que a polícia chama de “confronto armado”. Para o Estado, Agatha, criança negra de oito anos, estava em confronto. Bolsonaro defende que policiais assassinos não sejam culpabilizados. Defende que mais Ágathas morram pelas mãos de um Estado racista. Nas redes sociais e mídia os vídeos das queimadas na Amazônia e o sofrimento dos animais são repercutidos e geraram até mesmo uma crise diplomática para o Brasil. Essa crise tem lado: o do mercado e o do agronegócio. O assassinato de Ágatha, nas mesmas redes, é recebido com uma apatia e resignação estarrecedora. Não interessa ao mercado mobilizar o mundo contra o genocídio da população negra. Quantos mais corpos negros precisam morrer pra que nos importe o extermínio da juventude negra? *Clarissa Nunes é advogada criminalista e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD)
Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173
Primavera, outubro rosa e saúde da mulher através do uso de plantas medicinais Itana Scher e Mayara de Queiroz *
O
utubro chega inaugurando o último trimestre do ano. Junto com ele temos o Outubro Rosa, que é uma campanha de alerta internacional contra o câncer de mama. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado (SESAB), entre 2014 e 2018, 4.064 mulheres perderam a vida por conta do câncer de mama na Bahia. E até o fim de 2019, 59,7 mil pessoas devem receber o diagnóstico da doença no Brasil, conforme estimativa do Instituto Nacional do Cancer (Inca). Desta forma, o auto-cuidado através do toque diário das mamas e o diagnóstico precoce são imprescindíveis no combate da doença.
É importante que busquemos perceber e escutar o nosso próprio corpo, suas dores, seus anseios e, através da ancestralidade, reforçar o cuidado com ele. Assim, o uso de plantas medicinais reforça este resgate das práticas populares de saúde, sua força e sua ligação com o sagrado feminino. Plantas como a camomila, que nos acolhe, acalma e ajuda nas cólicas menstruais; a aroeira e o barbatimão, que, com um banho de assento, ajudam a manter longe infecções ginecológicas são importantes aliadas das mulheres. Lembrando sempre de procurar um profissional de saúde caso tenha dúvidas de como utilizar as plantas, evitar seu uso junto com medicamentos e ter cuidados redobrados caso esteja grávida. Aproveite a estação das flores e floresça o amor ao seu corpo. Primavere-se! Itana Scher e Mayara Queiroz são farmacêuticas.
Nossa cozinha Quibe de Panela INGREDIENTES: 1/5 kg de carne moída 1/5 kg de farinha de trigo para quibe 2 colheres (sopa) de manteiga 2 cebolas picadas 1 cabeça de Alho amassado Sal a gosto pimenta do reino a gosto hortelã a gosto Diva Braga
MODO DE PREPARO Coloque a farinha de trigo para quibe de molho por aproximadamente 3 horas, depois escorra e esprema a farinha de trigo. Depois misture a carne moída, a manteiga, a cebola picada, o sal, a pimenta e o hortelã; Retire uma parte e forre o fundo da panela, numa espessura média e cubra com manteiga ou azeite e frite dos dois lados; Se quiser pode fazer bolinhos e fritar em óleo bem quente ou assar em forno médio por 30 min bem regado de azeite. Uma salada fria acompanha bem!
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ESPORTES | 15
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Diversas barreiras atravessam o futebol feminino Reprodução.
Reprodução.
ENTRAVES. Na Bahia, apenas dois times femininos são consideradas equipes profissionais Jamile Araújo
futebol foi tido por O muito tempo, de forma preconceituosa e
machista, como um esporte exclusivamente masculino. Os pais incentivam os filhos homens desde pequenos a gostarem, dando presentes como bolas, blusas de times e chuteiras. Além de todo um ritual de assistir aos jogos nos fins de semana reunidos em casa, bares ou nos estádios. Mas, as mulheres vem, cada vez mais, reivindicando esse espaço como uma arena que elas podem estar e atuar tão bem quanto os homens. De acordo com Lizandra Nunes, atleta de futebol e estudante de Educação Física, no Brasil, muitos times da série A do campeonato brasileiro, passaram a “adotar” o futebol feminino após as novas demandas da FIFA, juntamente com o novo regulamento da CONMEBOL. “Estes documentos determinam que os Clubes da Amé-
O futebol reflete a sociedade, onde ainda o machismo, racismo, lgbtfobia, classissismo e outros preconceitos estão nas linhas de impedimento rica do Sul precisam ter e manter um time de futebol feminino para jogar a Copa Libertadores da América. No entanto, há alguns clubes que ainda não cumpriram com essas exigências e outros estão tentando estruturar suas equipes, seja criando uma ou realizando parcerias com equipes amadoras existentes”, explica. Quanto ao estado da Bahia, existem alguns times de futebol femini-
no, como o São Francisco do Conde, Bahia, Lusaca, Galícia, Olímpia, Flamengo de Feira e também havia a equipe do Vitória até o mês de setembro de 2019. Das equipes citadas anteriormente, apenas o São Francisco e o Bahia são consideradas equipes profissionais. “Temos diversas equipes amadoras e profissionais, treinadoras, árbitras e atletas de referência da Bahia atuando e sendo conhecidas no Brasil e no mundo”, afirma Maria Angélica Lima, professora de Educação Física, e membro da Comissão técnica de futebol feminino sub-20 da Associação Desportiva Lusaca-BA. Apesar do grande potencial, diversas barreiras atravessam o futebol feminino. Maria Angélica afirma que começa com o discurso preconceituoso e machista atrelado a ideia de que mulheres não podem jogar futebol, e culmina com a falta de investimento em estrutura, falta de trabalho de base (através de escolinhas, divisão de base
As mulheres vêm, cada vez mais, reivindicando esse espaço como uma arena que elas podem estar e atuar etc.). “Há falta de compromisso dos clubes esportivos, cumprimento das leis trabalhistas, renda salarial, carteira assinada, apoio de saúde. Ausência, obstrução ou o pouco espaço ofertado para a participação das mulheres nas comissões de arbitragens e técnicas (treinadoras, preparadoras físicas, assistentes técnicas, fisioterapeutas, massagistas), visibilidade midiática com ações que promovam a publicidade e propaganda do futebol feminino, coberturas de jogos, notícias em canais esportivos, incenti-
vo as torcidas irem prestigiar nos campos oficiais ou amadores”, pontua. Os principais desafios para o avanço e crescimento do futebol feminino, “serão superados a partir de uma mudança estrutural sobre o conceito e a presença da mulher na sociedade, sua importância para a história, para o esporte. Vai desde a desconstrução do papel da mulher como submissa, inferior, incapaz ou despreparada. O futebol reflete a sociedade, onde ainda o machismo, racismo, lgbtfobia, classissismo e outros preconceitos estão nas linhas de impedimento, interferindo no avanço dentro do campo”, ressalta Maria Angélica. Ainda de acordo com Maria Angélica, há a necessidade de um “avanço organizativo e estratégico pensados para fazer o contra ataque, vencer o machismo e fazer o gol, não de um time ou de uma seleção, mas o gol que dê vitória à toda a modalidade, toda menina-mulher, de todos os grupos profissionais ou amadores e de toda sociedade”, finaliza.
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16 | ESPORTES
GOL DE PLACA
NA GERAL glayson de castro - fotos públicas
Lucas Figueiredo - CBF
Lucas Figueiredo - CBF fotos públicas
Megan discursa contra os preconceitos Marco Bertorello - AFP
Promessas baianas
D
ois jogadores do Bahia foram convocados para seleção brasileira para disputa de torneio internacional sub15. O goleiro Gabriel e o zagueiro Kauã Davi competem na Granja Comary, em Teresópolis, no Rio de Janeiro, no torneio quadrangular contra Bolívia, Peru e Uruguai. A competição é preparatória para o campeonato Sul-Americano, e a estreia da seleção foi no dia 23, com vitória do Brasil sobre a Bolívia por 2 a 1.
Marta entre as melhores
Voo alto
S
anta Teresinha, município a cerca de 220 km de Salvador, sediará a 2ª etapa do Campeonato Baiano de Voo Livre. A competição, que será realizada nos dias 19 e 20 de outubro, irá reunir cerca de 50 participantes dos estados de Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, São Paulo e Rio de Janeiro. O campeonato é organizado pela Federação Baiana de Voo Livre em parceria com a Confederação Brasileira de Voo Livre.
NOTAS Vai que eu vou Tiago-Giordani
estando R menos de um ano até as
Olimpíadas de Tóquio, o Comitê Olímpico Internacional (COI) não alterou as regras para inclusão de pessoas transgênero nas competições. A definição mais recente é de 2015, permitindo que atletas trans possam competir sem necessidade de cirurgia, desde que mantenham controle hormonal. Há uma pressão por mais rigidez. Mas como o tema é politicamente delicado, o COI tem adiado a definições e acabou passando para federações nacionais criarem suas próprias regras. As federações, por sua vez, jogam a responsabilidade de volta para o COI.
jogadora Marta foi A eleita pelo FIFPro, o sindicato mundial dos jo-
gadores, para a seleção feminina da temporada. Ela foi a única brasileira das onze atletas que compõem o “time dos sonhos” divulgado durante a cerimônia Fifa The Best, em Milão, na Itália. Mais de 3.500 futebolistas do sexo feminino de 40 países participaram da votação. A seleção ideal é também composta por cinco jogadoras dos Estados Unidos, que venceram a última Copa do Mundo.
futebol do mundo, a artilheira americana Megan Rapinoe fez um discurso contra o preconceito racial e LGBTfobia. “Se quisermos mudar, outras pessoas têm que ficar indignadas com o racismo. Outras pessoas, que não os LGBQTs, devem se revoltar com a homofobia. Para todas as pessoas aqui, usem este belo jogo para realmente mudar o mundo para melhor. Temos um poder incrível nesta sala”, enfatizou a meia.
GOL
CONTRA
De olho nas irregularidades Wagner Carmo - CBA
falta de apoio e más condiA ções de trabalho tem afetado a atuação do nossos atletas. Ro-
drigo Nascimento, o segundo homem mais veloz do Brasil nesse momento, Campeão Mundial de Revezamento com a equipe brasileira do 4x100m e medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos deste ano na mesma prova não disputou a principal competição entre clubes do Brasil, o Troféu Brasil, por falta de patrocínio. Em 2019, ele ainda não recebeu salário do seu clube, a Orcampi, e para disputar a competição teria que arcar com todas as suas despesas.
Futebol nordestino Divulgação
o receber o prêmio A The Best da FIFA como melhor jogadora de
Declaração da Semana
pesar do A aumento da desigualda-
de no futebol brasileiro, os clubes do Nordeste resistem. Das quatro equipes na Série A, só o CSA-AL está na zona de rebaixamento. Ceará e Fortaleza lutam por vaga na Sul-americana, enquanto o Bahia sonha com Libertadores. Na Série B, dois dos três nordestinos estão no G4 para classificar à Série A: Sport e CRB-AL. O Vitória-BA, em crise, luta contra a queda. Na Série C a final é entre dois clubes da região: Sampaio Corrêa-MA e Náutico. Além deles, o Confiança-SE também beliscou vaga na Série B 2020.
Leonardo Fernandez - Getty Images
uando eu olho em volta, vejo in“Q justiça racial, sexismo, ódio inspirando violência e xenofobia. Está na
hora de nós, privilegiados o suficiente para não sermos pessoalmente atingidos por esse ódio, sendo atletas ou não, começarmos a falar”. -Race Imboden, esgrimista americano, que se ajoelhou no pódio durante o hino após conquistar a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos