Brasil de Fato PR - EDIÇÃO 278

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Na final do

Linguagem

Cultura | p. 7 Com governo Bolsonaro, preço de alimentos sobe o dobro da inflação Brasil | p. 5 A luta para pôr comida na mesa
indígena Racismo sem cura A verdade libertará? História de resistência História em quadrinhos retrata língua de sinais e concorre a prêmio Segurança retira criança negra de farmácia enquanto mãe paga a conta A produção de notícias falsas continua sem limites nesta eleição Aos 81 anos, sacerdotisa conquista título de doutora na Federal
mundial Vôlei feminino do Brasil busca primeiro título Esportes | p. 8 Cidades | p. 4 Editorial | p. 2 Opinião | p. 2 Ano 5 Edição 278 14 a 19 de outubro de 2022 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.brPARANÁ Divulgação Quanto subiu a comida com Bolsonaro (R$) dez/18 set/22 variação 81,9% 91,53% 55,74% 53,15% Leite integral Carne de primeira Feijão preto Arroz parboilizado 23,32 3,54 4,18 2,54 42,42 6,78 6,94 3,89

Qual verdade nos libertará?

Émentira que não há fome no Brasil. Os dados alarmantes, diversas vezes questionados por Bolsonaro em entrevistas e debates, expressam uma catastrófica realidade a ser enfrentada com seriedade e urgência.

Há um provérbio bíblico que diz que os lábios mentirosos não ficam bem ao governante. Mas o bolsonarismo, assumindo as nítidas feições de um particular projeto de poder, tem como pilar de sua força social a crença de que apenas o discurso de seu líder é verdadeiro, por mais crua que a realidade se apresente.

Por outro lado, a produção de notícias falsas contra os adversários não tem limites. A menos de vinte dias do se-

gundo turno, uma guerra de informações começa a se intensificar, e não sabemos até onde irá. O disparo de mensagens em massa, apesar de proibido pela justiça eleitoral, é uma prática recorrente do bolsonarismo, constituindo grave ameaça à democracia.

Combinadas a este mecanismo abusivo, fantasiosas mentiras propagadas nas redes sociais e nas ruas podem ser decisivas nesta reta final. Eleitoras e eleitores devem redobrar a atenção e sempre buscar a verificação dos fatos. Combater as notícias falsas e denunciar práticas de campanha ilegais serão atos em defesa da democracia fundamentais nas próximas semanas.

SEMANA

Uma história de resistência e conquista

Marcel Malê, Ator e professor licenciado em Artes Cênicas. Tem atuação no teatro, no cinema e performance. Atuou como embaixador da campanha Juntos pela Transformação, da fi lósofa e escritora Djamila Ribeiro

Em tempos de eleições que arrastam as possibilidades de um país melhor para o segundo turno, uma fresta de esperança: uma das matriarcas do candomblé em Curitiba, a sacerdotisa Iyagunã Dalzira, conquistou recentemente (23 de setembro) aos 81 anos de idade, o título de Doutora pela UFPR.

No país cuja primeira lei (1837) proibiu o acesso à Educação para pessoas negras, a aprovação da tese, considerada exemplar pela universidade, aconteceu num auditório (com transmissão online) composto majoritariamente por pessoas negras, lideranças do movimento negro e do candomblé, filhas e filhos de Iyagunã, onde a universidade reconheceu se

tratar apenas de um protocolo, pois os saberes trazidos pela sacerdotisa evidenciam seu amplo conhecimento.

As ações afirmativas e lutas de enfrentamento das desigualdades sociais do Movimento Negro estão mudando a história das mulheres negras no Brasil. Iyagunã é prova disso. Segundo o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná (NEAB-UFPR), Iyagunã Dalzira iniciou os estudos regulares aos 47 anos, no programa de Educação de Jovens e Adultos, o EJA. Aos 63, iniciou o curso de Relações Internacionais. Aos 72, defendeu seu mestrado na Universidade Tecnológica

Reprodução

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 278 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Federal do Paraná, com uma dissertação sobre os saberes do Candomblé na contemporaneidade.

Agora, no doutorado, sua tese na UFPR foi intitulada “Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública”. Mais que mestre, doutora ou mãe de santo, Iyá é hoje uma personalidade do movimento negro. Ela faz parte da 7ª geração de africanos que chegou ao Brasil e representa um dos principais símbolos na luta pela defesa da tradição africana, da religiosidade africana e contra o racismo no Paraná.

As terras do sul também são de axé.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano

REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORAROU

NESTA EDIÇÃO Marcel Malê ARTICULISTAS

Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg

ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin FOTOGRAFIA Giorgia Prates DISTRIBUIÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO

Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO

Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com

REDES SOCIAIS

Paraná, 14 a 19 de outubro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR
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2 Opinião editorial opinião

A de ação pelo terceiro mês seguido pode ser prejudicial para as negociações trabalhistas. Com a queda arti cial e temporária do preço dos combustíveis, o INPC, índice de inação, é menor, o que inuencia nos acordos coletivos de trabalho, mas não diminui o custo de vida dos trabalhadores.

Segundo o DIEESE, as taxas de in ação dão sinais de arrefecimento, mas seguem em alta, consumindo a baixa renda dos mais pobres e contribuindo para o elevado endividamento das famílias e a inadimplência. No mercado de trabalho, o desemprego cai, mas às custas de precarização e informalidade, salários baixos.

Ainda se avalia que, se de um lado o mercado de trabalho tem apresentado melhora na taxa de desemprego, por outro isso ocorre mediante manutenção e aprofundamento de desigualdades estruturais de renda e oportunidades. “O rendimento médio real do trabalho evolui muito pouco. Os salários não crescem e ainda são corroídos pela in ação”, avalia o estudo do Dieese, que conclui que se vive em um cenário com “emprego desprotegido e instável, gerando renda instável e, assim, a vida dos brasileiros ca mais difícil”.

“Hoje não é dia de pedir voto. É dia de pedir benção”...

Disse o Padre Camilo Júnior, durante celebração de missa em Aparecida, no dia da Padroeira, depois de Bolsonaro e seus apoiadores terem transformado em ato de campanha sua passagem pela cidade e pela Basílica. À tarde, no mesmo local, apoiadores de Bolsonaro xingaram jornalistas da TV Vanguarda, da TV Aparecida, ligada à Igreja Católica, do SBT e do UOL.

Briga com a santa

Os incidentes na visita do presidente Jair Bolsonaro a Aparecida no dia da Padroeira do Brasil não caíram bem nas redes. Segundo monitoramento em 15 mil grupos abertos do WhatsApp feito pela empresa Palver, para cada oito menções negativas, houve apenas uma positiva. O impacto ruim para a campanha do candidato à reeleição já se equivale às imagens que viralizaram de Bolsonaro em um templo com os símbolos da maçonaria, principalmente entre os eleitores evangélicos.

Lista de incidentes

Na homilia da missa principal na Basílica, o arcebispo Dom Orlando Brandes mandou o recado sem citar o nome de Bolsonaro de que é preciso combater: “O dragão do ódio, da mentira, do desemprego, da fome e da incredulidade.” Um dos vídeos mais compartilhados de maneira negativa nas redes também mostrou quando Bolsonaro foi ovacionado aos gritos de “mito.”

“Na casa de Deus, seus seguidores idolatraram um homem acima da própria adoração a Cristo”, cita a legenda ao exibir as imagens.

Campanha nos bairros

A associação de moradores da Vila Formosa, no Novo Mundo, é um dos pontos de encontro para pan etagens e avaliações das atividades de campanha no segundo turno. No dia 11, reuniram-se lideranças das comunidades, militantes do PT, do MTD, segmentos evangélicos, sindicalistas locais e Jorge Samek, candidato a vicegovernador pelo PT.

História de lutas

Pesquisas não se movem

Outra má notícia para a campanha de Jair Bolsonaro é o resultado das últimas pesquisas, que mostram a manutenção da vantagem de Lula no segundo turno. Na quinta, 13, saíram os resultados do Instituto Atlas, que mostram o ex-presidente Lula com 52,4% de intenções de votos válidos. Bolsonaro (PL) tem 47,6%. No instituto Quaest, Lula aparece com 54%, e Bolsonaro tem 46%. Houve pequenas variações na margem de erro.

Cade atrás das pesquisas

Como os número não se movem, o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Alexandre Cordeiro Macedo, determinou ao superintendente do órgão, Alexandre Barreto, que abra uma investigação contra o

“Datafolha, Ipec, Ipespe, entre outros” institutos de pesquisa, por conta das diferenças de resultado das sondagens realizadas no primeiro turno em relação ao resultado real das urnas.

A associação da Vila Formosa é um dos berços do movimento popular em Curitiba e hoje integra a União de Moradores e Trabalhadores (UMT). Ali surgiu, nos anos 1980, uma série de ocupações no chamado Bolsão Formosa, o que forjou lideranças como Jairo Graminho, que também esteve presente na chamada Revolta dos Colonos, de 1957, no sudoeste do Paraná. Outra atividade do movimento social neste período é a pré-organização da Feira de Saúde, iniciativa do Levante Popular da Juventude, da União de Moradores (UMT) e do Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD). Em 15 de outubro, na Rua Julião Guião Queirolo Russo, 106, acontece a atividade, que envolve médicos populares, entrega de Dia das Crianças, debates sobre Fé e Política, trabalho com tranças, karatê e outros serviços populares.

Feira da Saúde

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FRASE DA SEMANA Geral 3
NOTAS BDF Por Frédi Vasconcelos
Arquivo|ABR
Queda da inflação piora condições dos trabalhadores Divulgação Agência Brasil

Criança negra é retirada de farmácia por segurança após funcionários acionarem botão do pânico

Caso aconteceu em uma unidade da rede Panvel, no bairro Portão, em Curitiba

Gabriel Carriconde correto, mas que haveria um “suspeito” andando pelo lugar, o que fez os funcionários acionarem o botão do pânico. “Eu não entendo qualquer outro motivo se isso não é um ato velado de racismo, eu duvido que se fosse uma criança branca, de olhos azuis, teria sido enquadrada”, disse Patrícia. A mãe ainda relata que seu filho foi retirado do estabelecimento pelo segurança e questionado “por que estava tão agitado, e o que estava fazendo ali.”

Com crescentes casos de racismo e injúria racial, Curitiba foi palco de mais um episódio na segunda-feira (10). De acordo com a mãe da vítima, a psicóloga Patrícia Marluce, durante a ida a uma farmácia da rede Panvel, no bairro Portão, seu filho de 11 anos foi parado pelo segurança da loja após funcionários terem acionado o “botão do pânico”, enquanto a criança andava pelos corredores. Patrícia relata que outras pessoas também estavam no local, mas seu filho foi o único a ser perguntado por que estava ali. “Tinha outras pessoas ali dentro, queria saber por que ele [segurança] foi justamente no menino negro?”, questiona.

Ainda de acordo com a mãe, a gerente da loja tentou justificar que aquele não era um procedimento

Tanto a mãe quanto a criança prestaram depoimento no Núcleo de Proteção à Criança (Nucria) e fizeram boletim de ocorrência. Para o advogado da família, Volnei França, é impossível deslocar de racismo o que aconteceu.

“O segurança coagiu uma criança negra, menor de idade, para sair da loja e questionou por que ele estava

ali, por que estava tão agitado. Obviamente ele deve ter considerado que o menor estava com uma atitude suspeita dentro da loja. Não dá para deslocar do racismo já que havia outras pessoas no lugar, mas ele foi o único a ser abordado enquanto aguardava a mãe terminar de fazer suas compras”, afirmou.

Para Juliana Mittelbach, Coordenadora Executiva Adjunta da Rede de Mulheres Negras, o caso é mais um que demonstra o racismo estrutural, que leva a criminalizar a simples presença de negros e negras. “São os corpos negros que são identificados como ‘suspeitos’ por causa da cor. (…) É resultado de racismo estrutural quando uma mãe está pagando no caixa e seu filho que é negro é retirado pela segurança. É racismo quando questionam o lugar onde supostamente não deveríamos estar”.

O Nucria, via assessoria de imprensa da Polícia Civil, a rmou que “a ocorrência foi registrada e a Polícia Civil realiza diligências preliminares para apurar as circunstâncias dos fatos.” A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Farmácias Panvel e pediu explicações sobre o que ocorreu. Reproduzimos a seguir a nota enviada pela rede: “A Panvel repudia qualquer tipo de preconceito ou discriminação, seja racial ou de qualquer outra origem. Todos os nossos colaboradores são treinados e orientados a prestar o melhor atendimento aos nossos clientes e reforçamos sempre com nossas equipes o compromisso da empresa pelo respeito a todos.”

De volta à Câmara, Renato Freitas “agradece” a vereadores por levantarem debate sobre racismo

Na retomada do mandato como vereador em Curitiba, na segunda (10), Renato Freitas afirmou que sua volta à Casa é uma vitória na “batalha contra o racismo” e “contra a hipocrisia”. Freitas voltou à Câmara após decisão do STF e de ser eleito deputado estadual, cargo que deve assumir em 2023.

papel das casas legislativas, da sociedade, especialmente da sociedade curitibana, na luta contra o racismo?”, questionou.

“Quero agradecer especialmente aos vereadores que tentaram me cassar. Afundados em sua própria cobiça, cegueira e ódio tornaram possível e pública uma questão tão importante: qual o papel da igreja na luta contra o racismo?

o

Após a forte fala de Freitas, que chegou a citar nominalmente alguns colegas que trabalharam pela sua cassação, vereadores que se sentiram atacados pediram a palavra para rebater o discurso. Os discursos que se seguiram tentaram afastar a acusação de racismo. Osias Moraes (Republicanos), chamou Freitas de “experimento da esquerda” e afirmou que o vereador “não foi cassado por ser negro” e que nunca viu um vereador cometer racismo na Câmara.

Presidente do Conselho de Ética da Câmara, Dalton Borba (PDT) alertou que os discursos poderiam atacar a credibilidade jurídica da Câmara, lembrando que o parecer do relator do processo contra Freitas deixou provada apenas a acusação de fazer ato político dentro da igreja. “Não se deve, em prol da segurança jurídica e da própria credibilidade desta casa, imputar nenhum outro tipo de acusação, especialmente de ter cometido crime, porque crime ele [Freitas] não cometeu”, afirmou. Na sexta (7), a Câmara de Curitiba entrou com recurso no STF contra a decisão que permitiu a volta de Freitas à Casa.

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4 Curitiba
Qual é
Lia Bianchini Giorgia Prates
RESPOSTAS OFICIAIS

Por que a mesa dos mais pobres está vazia

Amesa dos brasileiros com renda mais baixa está cada dia mais vazia. É o que se pode ver ao comparar o aumento dos preços nos supermercados com os dados de consumo. Entre os preços que mais subiram desde o início do governo Bolsonaro estão os produtos da cesta básica. Os alimentos, na média, subiram 62% em Curitiba, mais que o dobro da inflação oficial, o INPC, que foi de 26,6% até setembro deste ano.

O estudo do Dieese “Inflação Alta e Renda em Queda” mostra que do começo de 2019 a setembro de 2022, os preços que mais subiram foram do leite (91,53%), a carne (81,9%), o feijão (55,7%) e

91,53%

quando recebo, e das carnes

mais baratas. Tenho vivido muito com cesta básica. Vamos ver se daqui pra frente vai melhorar, porque cada vez que se vai ao supermercado, as coisas estão mais caras”, explica.

O aumento dos preços e a queda no que as pessoas ganham ajuda a explicar por que Brasil voltou ao Mapa da Fome.

o arroz (53,15%). Para comprar uma cesta básica, quem ganha um salário mínimo teve de trabalhar 124 horas só para adquirir os produtos básicos.

Como conta Neusa Felisberto, trabalhadora de con-

O susto no mercado

Uma pesquisa rápida da reportagem em aplicativo que permite comprar produtos mais baratos em Curitiba, mostra o tamanho da conta.

Um quilo de carne moída de segunda, sai em média 25 reais. A caixa com 12 leites longa vida, fica em torno de 60 reais. Um pacote de 5 quilos de arroz fica por volta de 15 reais e o quilo do feijão passa dos 5 reais.

Até por conta desses preços, que sobem a cada dia, o Dieese calcula que o salário mínimo necessário para uma família de quatro pessoas se alimentar, pagar água, luz e outras despesas seria, em setembro deste ano, de 6,3 mil reais. Bem

distante do atual valor do mínimo, de R$1.212.

Do lado do consumo, dá para ver como esses preços estão afetando a vida das pessoas. Em 2021, o consumo de carne bovina no país foi o menor em 25 anos. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foram 26,5 quilos por habitante ao ano, 40% menos que na comparação com 2006, último ano do primeiro mandato do ex-presidente Lula, quando eram 42,8 quilos por pessoa. No leite a mesma coisa. O consumo atual é de 167 litros por pessoa, quando era de 175 em 2013, segundo a Associação Brasileira de Leite Longa Vida, ABVL.

servação e asseio e moradora de área de ocupação em Curitiba. “Foi complicado agora na epidemia, porque eu ganho um salário mínimo para sustentar três pessoas. Carne na minha casa não entra... É uma vez por mês,

Mesma situação descrita por Aline Damiana, a “Polaca”, moradora da área de ocupação Dona Cida, também em Curitiba. “A minha dificuldade nesses quase quatro anos é grande. Sou mãe-solo e está bem mais complicado porque a minha filha se separou e está também comigo. Sobre a comida e a mistura, está bem difícil. Vivo de ajuda, de doação, faço uns biquinhos. Carne é uma vez na vida e outra na morte. Mistura em casa é ovo e o ‘cabo de reio’, o salsichão”, conta.

Pesquisa da Rede PENSSAN, feita entre novembro de 2021 e abril de 2022, mostra que 33,1 milhões de pessoas estão passando fome no Brasil. Mais da metade da população brasileira também está em insegurança alimentar, não sabe se vai ter o que comer no dia seguinte.

A pandemia piorou a vida de muitas pessoas, mas só isso não explica por que está tão difícil comprar comida e pagar as contas. No caso dos alimentos, o estudo do Dieese mostra que o maior consumo de outros países (exportação) e a subida do dólar foram algumas das causas do aumento dos produtos, além da queda de financiamento e de programa de estímulo a produtores, com cortes de verbas do governo federal.

“A cesta básica subiu mais que o dobro da inflação média no governo Bolsonaro. Isso afeta principalmente quem tem rendimento menor, que gasta mais com alimentação. E isso piora com a queda na renda, por conta da queda na qualidade das ocupações, aumentando o trabalho informal e por conta própria. A consequência disso é uma queda na renda, que hoje é similar à de 2012. Tudo isso afeta os mais pobres”, diz Sandro Silva, economista do Dieese no Paraná.

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Com Bolsonaro, carne, leite, arroz e feijão, entre outros alimentos, subiram mais que o dobro da inflação Agência Brasil Divulgação
QUEDA NA RENDA
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aumento do preço do leite do começo de 2019 a setembro de 2022 Dálie Felberg | Alep

Moradores e pesquisadores pedem que área de exhospital vire bosque, não supermercado

Para pesquisador ambiental, Curitiba precisa de mais bolsões ecológicos

tampouco diálogo entre os moradores e o poder público.

Gabriel Carriconde lista Eloy Casagrande, o terreno cumpria uma função social e o local poderia ser mais bem aproveitado com áreas verdes. “Ali foi um espaço de cura, inclusive com o uso dos antigos pacientes do bosque. E quando olhamos para os espaços da cidade que deveriam ser preservados, com o aumento de bolsões verdes para reduzir os impactos das mudanças climáticas, percebe-se que, nesse caso, se privilegia mais o asfalto e o concreto”, diz.

Na rua Nilo Peçanha, no coração do bairro São Francisco, área central de Curitiba, até 2012 um amplo terreno servia de sede do Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro. Após seu fechamento, a área está prestes a se tornar mais um supermercado da rede Angeloni. Contudo, ambientalistas, pesquisadores e moradores da região defendem que ali seja criado um bosque com área verde pública.

Por isso, no domingo (9), manifestantes protestaram em frente ao terreno e pediram para que a empresa reveja o empreendimento, e que a Prefeitura de Curitiba faça uma área de lazer no espaço. Para o professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e ambienta-

Eloy ainda cita ainda os impactos ambientais da obra. “Ali existem lençóis freáticos, ao lado do bosque há três nascentes e vão cavar por perto, o que deverá afetá-las. Inclusive já existem outros mercados na região”, diz. O professor conta que não existiu preocupação no impacto social e ambiental e

O Grupo Angeloni afirmou em nota à imprensa, que “o processo de licenciamento para a construção da loja incluiu todos os estudos ambientais necessários para concessão de licença.” Ainda afirma “que os 4 mil metros quadrados formados por bosques nativos, dentro dos 17 mil metros quadrados adquiridos, serão integralmente preservados e mantidos, conforme compromisso assumido junto aos órgãos ambientais”, diz a nota.

A Prefeitura de Curitiba, via Secretaria de Urbanismo, cita que o terreno é formado por dois lotes de propriedade particular, “e num deles foi autorizada a construção do hipermercado. O alvará foi emitido em 25 de julho deste ano e determinou, segundo a pasta, a manutenção do bosque, situado na parte dos fundos do terreno”.

Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público e pela Promotoria de Meio Ambiente chegou a questionar o uso do terreno, mas a Justiça acabou negando o pedido do órgão.

Viatura da Rone invade área de ocupação e agride moradores

Na manhã da quarta (13), por volta das 9h30, uma viatura da Rondas Ostensivas de Natureza Especial - Polícia Militar (Rone) entrou de forma irregular dentro da ocupação Independência Popular. A ocupação é recente, iniciada no dia 7 de setembro, e fica localizada no barracão abandonado da antiga Companhia de

Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar), do governo do Paraná, na BR 277, no bairro Cidade Industrial (CIC).

Sem autorização judicial, a viatura passou o portão de entrada do local e quatro policiais dirigiram-se até a casa de um morador, em busca de supostos objetos ilícitos e informações do seu celular, chegando a agredi-lo.

Sem encontrar nada suspeito,

a viatura sinalizou deixar o local, mas, no caminho, ainda coagiu outra família, perguntando sobre as doações de alimentos da cozinha comunitária, ameaçando voltar à noite e pressionando as famílias sem justificativa. A reportagem do Brasil de Fato Paraná tentou contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, mas até o momento não obteve retorno.

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6 Cidades

Redação

Uma história em quadrinhos (HQ) que retrata a língua indígena de sinais utilizada por pessoas surdas do povo Terena está concorrendo ao 34º Troféu HQMIX, considerado o Oscar dos quadrinhos. A HQ foi desenvolvida em formato plurilíngue e sinalizada também na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

O material inédito é resultado do

Cine adaptado

A partir da terça (11), duas salas do Cine Passeio terão equipamentos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva. Com a nova tecnologia, pessoas com deficiência poderão assistir a filmes nos locais comuns a todos os espectadores. Será o primeiro cinema público do Sul do Brasil a contar com essa tecnologia.

Como funciona O acesso ao equipamento é indi-

História que retrata língua indígena de sinais concorre ao “Oscar dos quadrinhos”

trabalho de conclusão de curso de Ivan de Souza, na licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A história disputa o prêmio na categoria “Produção para outras linguagens”. O resultado do prêmio deverá ser divulgado no final do mês de novembro.

A pesquisa que resultou na HQ começou em 2017, quando Ivan estudava a história de pessoas surdas no Paraná na iniciação científica. Todo o

vidual e deve ser solicitado pelo espectador no momento da compra do ingresso na bilheteria. Os clientes com deficiência visual recebem um fone de ouvido e um aparelho para regular o volume. O equipamento narra as falas, expressões e os cenários do filme em tempo real. Quem tem deficiência auditiva recebe uma pequena tela que é acoplada na poltrona, em que o filme é descrito em libras.

40 anos da Gibiteca

No aniversário da Gibiteca de Curitiba, ocorre a exposição “Gibiteca de Curitiba – 40 Anos de História, Nerds e Personagens”, uma retrospectiva das quatro décadas de atividades desse espaço da Fundação Cultural de Curitiba, que foi o primeiro do Brasil dedicado exclusivamente às HQs e que detém hoje o segundo maior acervo de quadrinhos do país. Informações no site da Fundação Cultural.

processo teve acompanhamento de pesquisadoras que já desenvolviam atividades com usuários da língua terena de sinais. A comunidade indígena também teve participação ativa no desenvolvimento e, depois, na validação da obra junto ao seu povo.

“Sinto-me muito feliz por conseguir atingir, mais uma vez, um dos objetivos ao criar esse material multilíngue que era levar ao máximo de pessoas possível o conhecimento

sobre a existência da diversidade linguística e cultural que temos presente em nosso país”, conta Souza.

A história integra o projeto da UFPR “HQ’s sinalizadas”, que trabalha com temas transversais dos artefatos da cultura surda – história, língua, cultura, saúde. A proposta é criar, aplicar e analisar histórias em quadrinhos sinalizadas como uso de sequências didáticas bilíngues para o ensino de pessoas surdas.

DICAS MASTIGADAS | Bolo de banana com aveia

Ingredientes

4 bananas caturra orgânicas bem maduras 1/2 xícara de uva passa preta 3 ovos orgânicos 1/3 de xícara de óleo 1 xícara de farinha de arroz 1/3 de xícara de aveia em flocos 2 colheres de sopa de fermento químico 1 colher de chá de canela em pó 1/2 meia xícara de nozes e amêndoas (quebradas grosseiramente)

Modo de Preparo

Unte com manteiga e farinha uma fôrma de mais ou menos 25 cm de diâmetro e preaqueça o forno a 180°. Enquanto isso, bata no liquidificador as bananas, passas, ovos e óleo até incorporar. Coloque essa mistura em uma tigela e acrescente farinha, aveia, canela, nozes, amêndoas e o fermento, misturando delicadamente com uma colher até ficar homogêneo. Coloque a massa na fôrma untada e asse por 20 minutos em forno a 180°. Retire do forno e deixe esfriar para desenformar.

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Material inédito é resultado do trabalho de conclusão de curso de estudante da UFPR
Cultura 7Paraná, 14 a 19 de outubro de 2022Brasil de Fato PR Reprodução

Data FIFA: dois jogos, duas vitórias

O mês de outubro trouxe mais uma Data Fifa, com dois jogos para a Seleção Brasileira. Outra oportunidade para a treinadora Pia Sundhage pensar e preparar o elenco. Já estamos praticamente em contagem regressiva para a Copa do Mundo de 2023 – o sorteio dos grupos ocorrerá no próximo dia 22. Por isso essas partidas são tão importantes. Na sexta-feira, 7, o Brasil foi até a Noruega enfrentar as donas da casa no Estádio Ullevaal, em Oslo, e saiu com uma vitória animadora por 4x1. Adriana, Jaqueline e Bia Zaneratto (duas vezes) balançaram as redes. As norueguesas não perdiam um jogo em seu país desde 2017, com 13 partidas de invencibilidade. Quebrada agora pelo Brasil. Na segunda-feira, 10, as brasileiras voltaram a campo contra a Itália, em Gênova, e também venceram as an triãs. Agora por 1x0, com gol de Adriana, que garantiu a freguesia italiana. Nos 8 confrontos entre Brasil e Itália, ganhamos 7 e empatamos 1. Mas não foi somente essas marcas que foram alcançadas. Essa foi a décima vitória consecutiva da Seleção. E desde junho de 2017 o Brasil não garantia duas vitórias seguidas contra seleções do Top 20 do ranking da FIFA.

Brasil chega à final do Mundial (de vôlei)

Time treinado por Zé Roberto vence a Itália e agora encara a Sérvia, atual campeã

Brasil pode marcar história e buscar pela primeira vez o título de campeão mundial de vôlei feminino. O penúltimo passo foi dado com a vitória por 3 sets a 1 na semifinal diante da favorita Itália, que derrotara o time tupiniquim na final da Liga das Nações, em julho.

O

Na semifinal, na quinta (13), em Apeldoorn, na Holanda, o Brasil começou bem, venceu o primeiro set por 25 a 23, perdeu o segundo por 22 a 25, e garantiu a vitória nos dois sets seguintes por 26 a 24 e 25 a 19. Cabe lembrar que, neste Mundial, o Brasil foi o único que conseguiu derrotar as italianas, que disputarão com os Estados Unidos o terceiro lugar.

Na final, no sábado, às 15h, com transmissão pelo SporTV, o Brasil enfrentará a atual campeã mundial, a Sérvia, depois de jogos duríssimos e em que não era o time favorito. Principalmente pelo trabalho de renovação que vem sendo feito.

Destaque, neste Mundial, para jogadoras como a meio de rede Ana Carolina, uma das melhores bloqueadoras do campeonato, para a levantadora Macris e para, provavelmente, a melhor ponteira do mundo, Gabriela (Gabi), que vem sendo o principal destaque da competição.

A disputa contra a Itália não foi fácil. Do outro lado estava a oposta Egonu, provavelmente a principal atacante do vôlei no momento, que fez na semifinal 30 pontos. Pelo lado brasileiro, a principal pontuadora foi Gabi, com 20 bolas no chão. Carol teve 17 pontos, sendo 10 deles de bloqueio.

Japão, o jogo mais difícil Contra a Itália, a partida não foi fácil, mas nada se compara ao drama contra as japonesas nas quartas-de-final. O Brasil saiu perdendo por 2 sets a zero, o que obrigou Zé Roberto a trocar mais da metade do time. Saíram a levantadora Macris, a ponteira Pri Daroit,

a oposta Tainara e a líbero Natinha. Nos seus lugares entraram Roberta, Rosa Maria, Lorenne e Nyeme e veio a vitória por 3 a 2.

Ao final da partida, o veterano técnico Zé Roberto vibrava como uma criança e foi comemorar com a família nas arquibancadas: “Não teve jeito. Depois, quando eu vi a família, a última bola caindo. Depois de sair de 2 a 0, aquele sufoco todo. Dificuldade o tempo inteiro, a bola não caía. Foi uma loucura. Mas, ao mesmo tempo, estou feliz por ter acontecido desse jeito. Fico feliz por termos achado forças do fundo da alma, do coração. Para ganhar um jogo desses, só dessa maneira”, disse ao site GE.

Atlhetiba: 98 anos pesarão?

Por Cesar Caldas

No clássico de domingo (16/11) o que interessa é o ano que vem, ainda que pesem os 99 anteriores. O Coritiba, com um jogo adiado, está quatro pontos acima da Zona do Rebaixamento (poço) e a cinco de vaga na Sul-Americana (seu teto). O CAP, para não depender de Guayaquil, precisa do 6ª ou do 8º lugar para ir à fase de grupos ou à eliminatória da Libertadores de 2023 – está um ponto acima do Galo e três do Coelho, respectivamente. A superioridade técnica do rubro-negro é incontroversa. O resultado? Imprevisível. Desde a inauguração da Arena, o Furacão tropeçou 19 vezes – oito derrotas (algumas por goleada) e 11 empates. Retrospecto negativo que é exclusividade em confrontos com o alviverde e que só encontra explicação na psicologia social. Exceto por rara casualidade, o único o de esperança do Coxa reside nesse pavor histórico que sua camisa provoca no rival.

Domingo é dia de clássico! Por Douglas Gasparin Arruda

Um clássico é feito de histórias e, neste domingo, mais uma página do Athletiba será escrita. O momento é importante para as duas equipes. Pelo lado alviverde, desde a chegada de Guto Ferreira o time embalou, está invicto em sua casa e conseguindo se afastar da ZR. Contudo, até aqui não venceu nenhum jogo fora de casa, e uma derrota no clássico pode ser um balde de água fria na luta contra a degola. No Athletico, muitas questões estão em jogo. É fato que a equipe não está jogando bem desde a conquista da vaga para a final da Libertadores. Em resposta ao momento delicado, a torcida passou a vaiar o time, o que gerou incômodo até em Felipão, que se pronunciou sobre o caso. Que este clássico sirva para reforçar os vínculos entre time e torcida rumo ao título inédito da Libertadores.

Paraná, 14 a 19 de outubro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR8 Esportes ELAS POR ELA Fernanda Haag
Divulgação

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