Brasil de Fato PR - Edição 224

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Brasil de Fato PR 4 Especial Trabalho

Paraná, 12 a 18 de agosto de 2021

Brasil de Fato PR

“A plataformização é a transformação mais radical do trabalho desde a 2ª revolução industrial”, diz pesquisador Davi Macedo, da Clínica Direito do Trabalho da UFPR

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diagnóstico é de Marcelo Manzano, professor e doutor em economia (Unicamp). Ele faz parte do Grupo de Pesquisa da Clínica Direito do Trabalho da UFPR sobre Plataformas Digitais de Trabalho e entende que o estudo é fundamental para conhecer esse modelo de negócio e seus mecanismos de mobilização do trabalho. A entrevista completa está no site do BDF Paraná. BdF - Em 2021, a Clínica Direito do Trabalho da UFPR decidiu pesquisar sobre as plataformas digitais de trabalho. O que despertou o seu interesse nesse objeto de pesquisa?

Tem muita gente fazendo isso e competindo em escala global. Uma pessoa do interior de Goiás disputando com alguém que está na Índia. Tem desde esse tipo de trabalhador até profissionais com atividades muito sofisticadas que fazem atendimentos on-line”

Manzano - Sou pesquisador do mercado de trabalho e considero fundamental a análise das plataformas digitais. Elas transformam o mercado de trabalho de forma muito radical. Eu diria que é a transformação mais radical desde a segunda revolução industrial. É uma grande transformação que precisamos conhecer melhor, cujos efeitos são difíceis de captar por envolver questões difusas, justamente pela forma como está organizada a produção do capitalismo hoje em dia. A pesquisa está em andamento, mas já é possível ter as primeiras impressões sobre essa modalidade de trabalho virtual? A pesquisa permite mostrar que a pandemia teve impacto forte em algumas atividades que resistiam ao trabalho por plataformas digitais, em especial o setor de saúde. As próprias categorias profissionais resistiam em assumir o teletrabalho. A pandemia acabou minando essas resistências. De fato, a nossa pesquisa vai demostrar isso. É uma primeira questão que vale a pena destacar. Vale ressaltar também que as plataformas são muito dinâmicas. A pesquisa não completou seis meses e já pudemos observar transformações ocorrendo. As empresas e os modelos de negócios são muito dinâmicos. Sofrem mutações rápidas porque estão em contexto fluído e competitivo. As plataformas têm que criar constantemente novas formas de organização. Isso dificulta a pesquisa, mas um dado que já se percebe é o dinamismo. Um ambiente de transfor-

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mações contínuas dos negócios. As empresas vão evoluindo muito rapidamente ao longo do tempo, inclusive mudando de setor e de atividade. Empresa que começa como uma simples marketplace, que põe em contato o vendedor com o consumidor, percebe que a partir do momento que ela reuniu as duas pontas e tem muitos dados, pode fazer muito mais. Aí começa a incluir serviços e termina virando um banco. Formam-se diferentes tipos de trabalhadores e de exploração do trabalho? As plataformas também surpreendem pela expansão. Estão em todas as atividades. É um verdadeiro novo mundo que surge e a pandemia contribuiu muito para isso. Ela rompeu as barreiras, forçou a aceitação dessas tecnologias. Até para as coisas mais banais, como os trabalhadores chamados de clickworkers, que têm apenas que confirmar conteúdo, ou seja, apertar o enter quando vê uma imagem, em atividades de calibragem de inteligência artificial. Tem muita gente fazendo isso e competindo em escala global. Uma pessoa do interior de Goiás disputando com alguém que está na Índia. Tem desde esse tipo de trabalhador até profissionais com atividades muito sofisticadas que fazem

atendimentos on-line. Está crescendo também a atividade virtual entre bancários, os chamados personal bankers. É muito diverso, é difícil hoje imaginar um setor no qual as plataformas não estão inseridas. E destaco, a pandemia ajudou muito nessa generalização, nessa disseminação. Qual é a dimensão do trabalho por plataformas digitais no Brasil? É possível quantificar? Essa é uma dificuldade que nós temos e que existirá ainda por muito tempo. Não é só no Brasil, mas no mundo inteiro. Tem alguns números que circulam até por órgãos internacionais, como a OIT, mas são estimativas, eu diria, muito precárias. Não há base segura para dimensionar esse mercado. Isso porque as pessoas não são registradas como trabalhadores, são simplesmente freelancers, atuam de forma precária, muitas vezes sem passar por uma empresa ou mesmo algum cadastro. Não temos como saber se a pessoa está trabalhando ou não, há quanto tempo está trabalhando, se não está, quantas horas por dia. Quanto ela recebe, como ela recebe. Tem muitas pessoas que trabalham para empresas internacionais, então recebem o pagamento por meio do paypal, em dólar.


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