Brasil de Fato PR - Edicao 226

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Resistência cultural

credito foto

Cultura | p. 7

Diretor paranaense ganha prêmios em Gramado com filme “Jesus Kid” (foto)

Esportes | p. 8

Brasil sem europeus?

Divulgação

Ligas impedem jogadores de irem para seleção Divulgação

Divulgação

PARANÁ

Ano 5

Edição 226

POR QUE COVID VOLTA A CRESCER No Paraná, nova variante e descaso de governos inflam os números Cidades | pág. 6 Brasil | p. Paraná| p.65

Pedágio para Bolsonaro Ratinho Jr., o mais bolsonarista dos governadores, concede rodovias

Brasil | p. Editorial | p.6 2

Ameaça de golpe País assiste a acenos golpistas de forças retrógradas

25 de agosto a 1 de setembro de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Mais de 4 mil vagas para negros e indígenas Proposta de vereadora institui cotas raciais na Prefeitura de Curitiba Cidades | p. 4 Lian Voigt


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 25 de agosto a 1 de setembro de 2021

Brasil de Fato PR

A nostalgia EDITORIAL Um balão de ensaio da branquitude golpista

ARTIGO

Carol Dartora,

primeira mulher negra eleita vereadora em Curitiba. Mestre em Educação, militante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro, secretária da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTI+ da APP-Sindicato

N

o trágico tempo da escravização, a violência física era uma das principais formas de negar e apagar os direitos das pessoas negras. Apesar da abolição, o que notamos ainda nos dias atuais é que o método apenas mudou. Atualmente, no lugar do chicote, o instrumento é a mordaça. No romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Machado de Assis exemplifica esse pacto da supremacia branca. Brás Cuba narra: “Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — algumas vezes gemendo, — mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: — “Cala a boca, besta!” Esta citação pode chocar de início, ao ver o relato de Brás Cubas, uma criança de seis anos já tão sabida das estruturas que sustentam seu lugar de superioridade, que permitem que ele faça o que bem entende com quem está abaixo. Mas, para além dos domínios ficcionais, não é tão diferente como a branquitude nacional se comporta: cínica, alheia ao sofrimento que lhe cerca, e certa de que os que gritam pela superação da desigualdade devem ser calados a todo custo. Não é de hoje que a dissimulação da branquitude dificulta (e muito) o avanço do país nas políticas sociais e de amparo aos que, por mais de três séculos, contribuíram com a vida pública sem receber um centavo, mas que foram vampirizados de toda a sua dignidade e direitos básicos de vida. As expressões físicas e materiais do racismo não são mais graves que a tentativa de jogar panos quentes em suas manifestações ou apagar a histórica opressão que assola o povo negro e direcionar para problemas manipulados. A supremacia branca brasileira ainda tem, e muito, de Brás Cubas.

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7 de setembro se aproxima. A um ano do bicentenário da independência do Brasil, que coincidirá com as eleições presidenciais, o país assiste aos acenos golpistas de Bolsonaro. O método do presidente oscila entre o cômico e o amedrontador. Põe tanques sucateados na rua, ao mesmo tempo que parece ter apoio – no mínimo tácito – das Forças Armadas. Como diria o filósofo, as coisas importantes na História ocorrem duas vezes, primeiro

como tragédia, depois como farsa. O golpe de 1964 instaurou a barbárie entre nós: retirada de direitos, perseguições, prisões, torturas. Agora, Bolsonaro e seus seguidores balançam a bandeira do golpismo para seguirem úteis ao neoliberalismo mais prejudicial contra os trabalhadores. Caso contrário, já teriam sido descartados pela burguesia brasileira. De todo modo, o que se vê são as forças mais retrógradas

apoiando o presidente farsesco. Militares da reserva, alguns agrupamentos de policiais militares, religiosos carismáticos e neopentecostais e até artistas ultraconservadores unem-se a políticos fisiológicos do Congresso para barrar o impeachment e acelerar nossas crises social, econômica e política. Apenas a superação do bolsonarismo trará ao Brasil motivos para comemorar o 7 de setembro, para além de seu balão de ensaio golpista.

SEMANA

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 226 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Carol Dartora e Eloisa Dias ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 25 de agosto a 1 de setembro de 2021

Geral

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

As constantes ameaças ao processo eleitoral brasileiro, a pandemia, o desemprego e a alta da inflação têm feito muito mais do que afastar investimentos do Brasil. O país viu muitos recursos gerados aqui deixando as nossas fronteiras. De acordo com o Dieese, a partir de dados do Banco Central, no primeiro semestre de 2021, as remessas enviadas ao exterior de lucros e dividendos das indústrias situadas no país atingiram a marca de US$ 4,5 bilhões. O valor, que se aproxima dos R$ 24 bilhões, é quase 5 vezes maior em relação ao primeiro semestre de 2020. No acumulado, essas empresas que obtiveram lucros no Brasil enviaram US$ 9,3 bilhões para o exterior. Aumento de 69% em relação ao mesmo período de 2020. Só a indústria metalúrgica fez a maior remessa: US$ 2,3 bilhões. Na indústria química também houve remessas expressivas: mais de US$ 1,1 bilhão. O setor de produtos químicos foi responsável pelo maior envio, com o volume de US$ 807 milhões (crescimento de cerca de 233% em relação a 2020). Chama atenção que outros setores não considerados industriais também enviaram para fora do país 4,7 bilhões de dólares.

“Cada artista é um soldado contra o fascismo”

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Com Bolsonaro, dinheiro deixa o Brasil

Diz o diretor de cinema premiado neste ano no Festival de Gramado, Aly Muritiba, em entrevista ao Brasil de Fato Paraná. Para ele, que está lançando dois filmes neste ano, esses trabalhos são “a forma de passar um recado para este governo fascista. Eles não nos calarão, não nos pararão, muito embora eles tentem nos destruir, vamos resistir”

EDITAL DE CONVOCAÇÃO A COOPERATIVA DE AGROINDÚSTRIA E COMÉRCIO TERRA LIVRE – COOPERATIVA TERRA LIVRE, vem através de seu Diretor Presidente, Sr. Paulo Cesar Rodrigues Brizola, no uso das suas atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto Social desta entidade e as leis vigentes, CONVOCAR as suas cooperadas e cooperados para participar da Assembleia Geral Ordinária a ser realizada no

dia 10 de Setembro de 2021 (Sexta-feira), na sede da Cooperativa, localizada no Assentamento Contestado, município de Lapa – PR, às 08:00hrs em primeira convocação, às 09:00hrs em segunda convocação e as 10:00hrs em terceira e última convocação, para deliberarem sobre a seguinte ordem do dia: 1 – Prestação de contas contendo: a) Relatório de Gestão; b) Balanço; c) Demonstrativo de sobras ou perdas apuradas; d)P l a -

no de atividades da Cooperativa para o exercício seguinte. 2 – Destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas. 3 – Eleição dos componentes do conselho fiscal. 4 – Outros assuntos de interesse social. LAPA/PR, 23 de Agosto de 2021 Paulo Cesar Rodrigues Brizola, Diretor Presidente, CPF: 839.667.069-20

EDITAL DE CONVOCAÇÃO A COOPERATIVA DE AGROINDÚSTRIA E COMÉRCIO TERRA LIVRE – COOPERATIVA TERRA LIVRE, vem através de seu Diretor Presidente, Sr. Paulo Cesar Rodrigues Brizola, no uso das suas atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto Social desta entidade e as leis vigentes, CONVOCAR as suas cooperadas e cooperados, para participar da Assembleia Geral Extraordinária, a ser realiza-

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da no dia 10 de Setembro de 2021 (sexta-feira), na Sede da Cooperativa, localizada no área comunitária do Assentamento Contestado, município de Lapa – PR, às 14:00h, em primeira convocação, com a presença de 2/3 dos cooperados(as); às 15:00h, em segunda convocação, com a presença de 50% mais um dos cooperados(as) e às 16:00h, em terceira e última convocação, com a presença de no mínimo 10 cooperados(as) para

deliberarem sobre a seguinte ordem do dia: Reforma do Estatuto Social, mediante alteração dos objetivos sociais e atividades econômicas principais, com inclusão de novas atividades econômica secundária. LAPA/PR, 23 de Agosto de 2021 Paulo Cesar Rodrigues Brizola, Diretor Presidente, CPF: 839.667.069-20

É ESSE? Eloisa Dias

Afinal, qual o papel do STF? O Supremo Tribunal Federal é a mais alta corte do Poder Judiciário brasileiro e guardião da Constituição. Composto por 11 ministros, sua principal função é garantir o respeito às normas constitucionais. Em geral, é a última instância a que se pode recorrer em um processo, para analisar se houve ou não violação à Constituição Federal. Excepcionalmente, alguns processos, em razão das pessoas envolvidas, são analisados diretamente pelo STF: é o caso das infrações penais comuns que envolvam o presidente da República, o vice-presidente, os membros do Congresso, ministros e o procurador-geral da República. Mas o que é a Constituição, que o STF deve defender? Em resumo, a Constituição organiza o Estado brasileiro - um estado democrático de direito - que tem por finalidade a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, com a redução das desigualdades sociais. Ela assegura uma série de direitos fundamentais aos cidadãos, com base na dignidade da pessoa humana. Além disso, é a Constituição que regulamenta o nosso sistema político e a organização dos poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – determinando qual a competência de cada um. Assim, cabe ao STF decidir se, em determinado caso, houve ou não uma “invasão de competência”. Eloisa Dias Advogada e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares


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Projeto pode garantir mais de 4 mil empregos a negros e indígenas Proposta da vereadora Carol Dartora destina 20% das vagas na Prefeitura a cotas raciais Gabriel Carriconde

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egundo números divulgados pela própria Prefeitura de Curitiba, em requerimento de informação da vereadora Carol Dartora (PT), no quadro atual de funcionários há apenas 21 pessoas que se declaram indígenas (0,09%) e 932, (3%), pretas. Contra 19.951 (78%) que se dizem brancas, num total de 25.265 servidores. Outro fator importante é a renda. A média salarial de servidores declarados brancos (6.283) é em mais de mil reais superior à dos negros (5.012), sendo maior a desigualdade se comparada aos declarados amarelos (9.486), sendo que este grupo representa pouco mais de 1% do total de funcionários em Curitiba. Estes são alguns motivos que levaram a vereadora a apresentar, na Câmara Municipal, proposta de política afirmativa para garantir equidade no acesso e oportunidades de empregos bem remunerados a negros e indígenas. Pelo projeto, 20% das vagas disponibilizadas em concursos públicos municipais seriam reservados para o sistema de cotas raciais. Estudo do IBGE sobre desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil, feito em 2018, apontou que 34% da população paranaense é negra e, em Curitiba, cerca de 21%. Apesar da significativa parcela, a desigualdade de oportunidades e o desemprego têm afetado com muita força, sobretudo na pandemia, essa parcela da população. Ainda de acordo com o estudo, a diferença salarial entre brancos e negros é de quase mil reais. Caso o projeto de Lei de Dartora seja aprovado, seriam gerados mais de 4 mil vagas para negros e indígenas, considerando o número atual de funcionários. Em 2014, lei federal parecida com a proposta da vereadora foi sancionada pela presidenta Dilma Roussef (PT). Na Câmara de Curitiba, apesar de parecer favorável na Comissão

de Constituição de Justiça (CCJ), o projeto corre risco de sofrer retrocesso em sua redação original. Proposta da vereadora Amália Tortato (Novo) altera para cotas sociais, reservando vagas por índice socioeconômico, e não racial. “Nós concordamos que existe racismo no Brasil, mas entendemos que o enfrentamento está equivocado”, afirmou Tortato durante debate com Dartora, no portal Plural. Amália acredita que o critério social já beneficiaria negros e indígenas. “Na nossa avaliação, o critério de cotas sociais atinge pessoas que não tiveram oportunidades de boa escolaridade e renda lá atrás, dentre elas as pessoas negras, e beneficiaria pessoas que também não tiveram oportunidades independentemente da cor da pele”, destacou. O PL atualmente está tramitan-

do na Comissão de Educação da casa, e ainda receberá parecer dos parlamentares da comissão. Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, Dartora destaca a importância do recorte racial da proposta, já que, de acordo com ela, as alterações não atacam as desigualdades raciais na cidade. “Qual a lógica que rege o fato de

Vereadora Carol Dartora é autora de projeto de cotas raciais para contratação de funcionários na Prefeitura de Curitiba

que, em um país em que 54% da população se declara negra, os lugares de poder estejam ocupados em sua quase totalidade por pessoas brancas? Quais mecanismos ideológicos estão em jogo para assegurar aos brancos a ocupação de posições mais altas na hierarquia social sem que isso seja encarado como privilégio racial?”, questiona. A proposta de Dartora é defendida por movimentos negros da cidade e por Ministério Público e Defensoria Pública da União e do estado. Em um parecer técnico divulgado em abril, os órgãos destacam que a prática “tem mostrado o sucesso da política de cotas, capaz de nos últimos anos quadruplicar o ingresso de negros no ensino superior, além de ampliar de modo significativo apesar de ainda insuficiente - o quadro de servidores públicos negros”. Divulgação


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Brasil

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Acordo do novo pedágio no Paraná tem “jabutis” na árvore Oposição acusa na Justiça que acordo entre governo do estado e federal manterá pedágio caro Rodrigo Felix Leal | ANPr

Gabriel Carriconde

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eputados estaduais do Paraná acionaram o Tribunal de Justiça para que o novo acordo de concessão dos pedágios, feito entre estado e governo federal, seja revisto. No início deste mês, o governador anunciou ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, o novo modelo, já que os atuais contratos vencem em novembro deste ano. O acordo, sancionado como lei no último dia 19, prevê que 15 novas praças de pedágio sejam instaladas em rodovias estaduais e federais, e cerca de 3,3 mil quilômetros de estradas paranaenses passem para o governo federal, para que este conceda ao setor privado. Porém, cerca de oito deputados, entre oposicionistas e até de partidos da base do governo, questionam a proposta por “falta de transparência e debate em torno do novo modelo.” Esse é um dos motivos que levaram os deputados Arilson Chiorato (PT), Gou-

ra (PDT), Luciana Rafagnin (PT), Mabel Canto (PSC), Professor Lemos (PT), Requião Filho (MDB), Soldado Fruet (PROS) e Tadeu Veneri (PT) a protocolarem Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no tribunal. De acordo com Chiorato, o projeto não resolve o problema das altas tarifas no Paraná, além do governo federal não ter especificado em documento como serão as regras do novo modelo, ou seja, o projeto é um “jabuti”, termo usado para designar quando uma proposta não está cla-

ra ou pode trazer surpresas inesperadas. “Temos uma discussão do pedágio sem regras claras e sem um documento físico, o que existe é um ‘Power Point’ divulgado pelo ministro Tarcísio semanas atrás. Quando o projeto chegou à Assembleia, veio sem nenhuma minuta de edital ou discriminação de quais serão os trechos rodoviários cedidos.” O deputado ainda critica a suposta queda de tarifa. “A média do pedágio no Paraná é de R$ 16,50, não é

simplesmente propor que ele baixe para R$ 11,50, R$ 11. O Ministério Público Federal já apontou em acordos de leniência que a tarifa no estado é 500% mais cara, nós queremos justiça no pedágio, que seja equiparado a Santa Catarina e ao Rio Grande do Sul”, critica. O valor do pedágio nesses estados varia entre R$ 4,70 e R$ 8,20. O mais bolsonarista Ratinho Jr, desde o início do mandato, vem se alinhando quase que automaticamen-

te às agendas do presidente Bolsonaro ou preferindo não se manifestar diante das crises criadas pelo mandatário. Na última semana, se recusou a assinar uma carta proposta por outros 14 governadores em solidariedade ao Supremo Tribunal Federal, diante do pedido de impeachment de Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes. O alinhamento também se dá em outras áreas, como a educação. O presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Leão, avalia que a falta de diálogo e a imposição de propostas como a militarização das escolas, bandeira da extrema-direita, têm sido marcas do atual governo. “Colocaram uma direção militar em 200 escolas públicas com proposta educacional extremamente equivocada, um processo de adestramento, condicionamento e autoritarismo, completamente ao contrário de uma escola que forme cidadãos com valores humanitários”, cita.

Após 22 anos de luta, famílias conquistam assentamento em Congonhinhas MST PR

Redação

S

entença do Tribunal de Regional Federal da 4ª Região confirmou a criação do assentamento Carlos Marighella, em Congonhinhas, norte pioneiro do Paraná, após 22 anos de luta dos Sem Terra. O Incra agora terá de dar continuidade à criação do assentamento, interrompida em 2015 por decisão da Justiça estadual.

A decisão, tão aguardada pelas 67 famílias Sem Terra que vivem no local, será comemorada com a “Festa da Reforma Agrária Popular”, em 28 de agosto, no espaço comunitário do assentamento. Está previsto ato público, às 10h, e almoço às 12h. Na véspera, dia 27, camponeses também farão uma doação de alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade da cidade. A ação também faz parte da campanha na-

cional do MST na pandemia da Covid-19, da qual a comunidade já participou em meses anteriores. José Damasceno, da coordenação estadual do MST, enfatiza a importância da criação do assentamento. “Esta conquista é muito simbólica porque vem num período crítico, de crise política e econômica, em que o governo Bolsonaro persegue os movimentos sociais e os pobres, e bloqueou a reforma agrária.”


Brasil de Fato PR 6 Cidades

Por que casos de Covid-19 voltam a subir no Paraná, mesmo com vacinação Omissão de governos, sensação de falsa de normalidade e variante Delta estão entre as causas Ana Carolina Caldas

O

Paraná tem, neste momento, novo crescimento do número de casos do coronavírus. Na terça (24), foram registrados 1.911 novos casos de pessoas contaminadas. Maior que no início do mês de agosto, com 481 casos confirmados. Já a média móvel de mortes está em 72 por dia. Para piorar, o Paraná está há mais de uma semana como o estado com a maior taxa de transmissão do vírus, com R.T de 1,11, em que cada 100 pessoas transmitem para outras 111. São números preocupantes, já que a expectativa era de que com o avanço da vacinação houvesse queda. O Brasil de Fato Paraná conversou com especialistas para entender as causas dessa situação. Uma delas é que, com o avanço da vacinação, mesmo lento, uma “sensação de normalidade” começou a ser gerada na popu-

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lação pelos próprios governos. Para o Professor Emanuel Maltempi, presidente da Comissão de Enfrentamento ao Coronavírus, da Universidade Federal do Paraná, “A culpa também é dos governos que começaram a passar para a população uma sensação bastante falsa de normalidade por causa de alguns dados que vieram pós-vacinação. Mas, com 25 a 70 mortes diárias e os casos aumentando, ainda é pandemia no pico. Não é situação normal”, explica. Variante Delta A outra causa apontada por Maltempi é o maior nível de transmissibilidade da nova variante, a Delta, que teve sua transmissão comunitária confirmada no Paraná no final de julho. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) confirmou na segunda (23) mais dois casos e um óbito dessa variante no Paraná. Agora, o Estado soma 58 casos e 19 óbitos da cepa.

“É preciso olhar para países que tiveram o avanço da Delta muito rápido, justamente porque flexibilizaram os protocolos de prevenção por causa da vacinação. Inclusive descartando o uso de máscara. O resultado foi uma explosão de casos no Reino Unido e Estados Unidos, por exemplo”, diz Maltempi. O professor destaca ainda que nesses países a vacinação está mais avançada que no Brasil, e assim mesmo houve aumento de casos. “A vacinação quanto mais rápida acontecer, mais ela protegerá a população desta nova cepa. Mas ela sozinha não é suficiente. Os governos precisam alertar sobre isso: você, vacinado, pega Covid 19 e transmite, por exemplo, para pessoas que não tenham ainda completado seu ciclo vacinal”, diz. A agência de saúde pública da Inglaterra divulgou levantamento acerca dos imunizantes e a eficácia contra a Delta. Na média, a efetividade ficou em 35% para casos sintomáticos da doença com uma dose, e em 79% com duas. Para a médica epidemiologista Denise Garrett, a tendência é que a onda provocada pela Delta seja curta, mas alerta para a demora na vacinação. “O grande problema é que no Brasil a grande maioria das pessoas ainda não completou o ciclo vacinal, o que garantiria maior proteção – entre os vacinados (duas doses ou dose única), o risco de infecção é três vezes menor e o de morte, no mínimo, dez vezes menor”, explica. O Paraná alcançou 66,67% (6.963.580) de vacinados com a primeira dose e 25,39% (2.651.981) com o esquema vacinal completo.

LIBEROU GERAL Na mesma semana da confirmação da transmissão comunitária da Variante Delta no Paraná, o governo estadual começou o que se pode chamar de fase “liberou geral”, autorizando o retorno presencial das aulas nas escolas públicas, com professores apenas com uma dose da vacina, além de outras flexibilizações, como a autorização de eventos para 500 pessoas. Já em Curitiba, a Prefeitura autorizou o retorno do público aos estádios de futebol e manteve a bandeira amarela, que indica menor risco que nas fases anteriores.

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Cultura 7

Filme de diretor paranaense leva 3 prêmios no Festival de Gramado

DICAS MASTIGADAS

Fritatta de legumes

“Jesus Kid”, dirigido por Aly Muritiba, ganha melhor direção, roteiro e ator coadjuvante Ana Carolina Caldas

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filme “Jesus Kid” foi o vencedor em 3 categorias na 46º. edição do Festival de Gramado: melhor direção e melhor roteiro para o diretor paranaense Aly Muritiba e melhor ator coadjuvante para Leandro Daniel. A obra trata da história de Eugê-

nio, que é um escritor de “western” em dificuldades. Seu personagem mais famoso, Jesus Kid, está indo mal de vendas. Então aparece o que poderia ser a sua salvação: a contratação para escrever o roteiro de um filme e, para isso, precisa ficar confinado em um hotel por 3 meses. Quando começa a ser visitado pelo

personagem do seu filme, Jesus Kid. Ao Brasil de Fato Paraná, o diretor e roteirista premiado contou que foram quase dez anos até pôr o filme de pé e destacou a importância de insistir na arte brasileira. Outro filme seu, “Deserto Particular”, concorrerá no Festival de Veneza, ainda este ano. Confira a entrevista abaixo. Divulgação

Brasil de Fato Paraná – Como foi o encontro com a história desse filme e o processo até chegar no Festival de Gramado, uma premiação tão importante? Aly Muritiba – “Jesus Kid” é a adaptação de um livro homônimo escrito por Lourenço Mutarelli, cujos direitos foram comprados pelo ator Sérgio Marone. Em 2012, conheci o Sérgio no Festival de Los Angeles e lá ele viu um curta metragem meu. Gostou e me convidou para escrever o roteiro e dirigir “Jesus Kid”. Eu nunca tinha feito longa metragem nem comédia. Achei que seria um ótimo desafio. Já são quase 10 anos trabalhando no roteiro até conseguir o recurso para fazer o filme.

BDF – Quais as alegrias e as dificuldades para colocar o filme em pé? O processo de filmagem foi uma grande alegria. A gente se divertiu todo o tempo, com muita gente de Curitiba, com um grupo que já vinha trabalhando há bastante tempo. Estávamos contando uma história divertida. Agora, até conseguirmos as condições para filmar, foi a grande dificuldade: quase dez anos batalhando para conseguir financiamento. BDF – Qual o sentimento ao ser premiado neste momento de pandemia e de descaso e ataques do governo brasileiro à arte e aos artistas? Estou com dois longas-metragens prontos, um deles é o “Jesus

Kid” e o outro é “Deserto Particular”, que trata de amor, encontros e desta sociedade conservadora que estamos metidos, que estreia no mês que vem no Festival de Veneza, um dos maiores do mundo. Acho que ter dois filmes neste momento é a forma de passar um recado para este governo fascista que eles não nos calarão, não nos pararão, muito embora eles tentem nos destruir, vamos resistir. Todo mundo que está fazendo arte neste momento é um resistente. Já que este presidente fascista gosta tanto da linguagem bélica, eu digo que cada fazedor de cultura é um soldado, cada um em suas trincheiras para enfrentar o fascismo cuspido diuturnamente por eles sobre nós.

Ingredientes 2 colheres (sopa) de azeite de oliva 1 cebola 1 dente de alho 1 batata 1 cenoura 1 abobrinha 1 tomate 8 ovos 3 colheres de parmesão ralado cheiro verde a gosto 50 gramas de muçarela em cubos Ervas finas desidratadas Sal e pimenta do reino moída a gosto Modo de Preparo Cortar todos os vegetais em cubos de tamanhos uniformes. Cozinhar a batata e cenoura no vapor até que a batata esteja macia (cerca de 8-10 minutos). Em uma frigideira que possa ir ao forno, colocar o azeite e refogar a cebola. Juntar o alho picado e refogar por 1 minuto. Colocar a abobrinha e refogar até que esteja cozida. Acrescentar a batata e a cenoura e temperar com sal e pimenta. Deixar apurar por alguns minutos, enquanto prepara os ovos. Em uma tigela, bater os ovos junto com o parmesão ralado e o cheiro verde, temperados com sal e pimenta. Colocar na panela e misturar para envolver os legumes. Esperar uns 2 minutos para começar a firmar e espalhar o tomate picado e os cubos de queijo sobre a mistura. Finalizar com ervas e levar ao forno até que esteja cozido. Deixei cerca de 10 minutos, sendo que nos últimos 2, ligue o gratinador do forno. Nunes Silveira


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Sem estrangeiros na seleção, e agora, Tite?

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Times da Inglaterra, Espanha e Itália decidem não liberar jogadores para data Fifa Frédi Vasconcelos

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o momento em que este texto é escrito, o técnico Tite havia perdido 13 dos 25 jogadores convocados para a próxima rodada das eliminatórias sul-americanas contra Chile, Argentina e Peru. Isso porque as ligas da Inglaterra, Espanha e Itália informaram que não vão liberar jogadores para países da “lista vermelha” da Covid, entre eles o Brasil. Porque, na volta, esses jogadores teriam de ficar confinados, em quarentena, perdendo treinamentos e jogos. Além disso a confederação alega que a Fifa e a confederação sul-americana aumentaram os dias em que os jogadores ficariam com suas seleções, com a janela passando de 9 para 11 dias porque serão disputadas três partidas, quando normalmente são duas. O que traz enorme problema para Tite, porque da lista de 25 convocados, além dos países que já declararam a proibição, outros europeus podem seguir o exem-

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Paraná, 25 de agosto a 1 de setembro de 2021

8 Esportes

plo. Na França, são mais quatro jogadores, entre eles Neymar. Com mais três entre Rússia, Alemanha e Portugal. Se a Fifa não interferir, a seleção só teria garantidos os atletas que jogam no Brasil, cinco, Weverton, goleiro do Palmeiras, os laterais Daniel Alves (São Paulo) e Guilherme Arana (Atlético -MG), e os atacantes do Flamengo Everton Ribeiro e Gabigol. Claro que podem ser convocados outros jogadores brasileiros, mas o que se veria em campo seria

uma seleção completamente desfigurada e que nunca jogou junto. Até arriscaria um time com Weverton, Rafinha (Grêmio), Nino (Fluminense) e Miranda (São Paulo), Arana, Danilo (Palmeiras), Zé Raphael (Palmeiras), Edenilson (Inter) e Everton Ribeiro (Flamengo), com Hulk (Atlético-MG) e Gabigol no ataque. Mas não deve chegar a tanto. O mais provável é que, se a Fifa não mudar a decisão dos europeus, a rodada das eliminatórias seja adiada. Lucas Figueiredo | CBF

“Mas por que ela não denuncia?” Eu estava pronta para escrever a coluna sobre a ida de 77 atletas do Afeganistão para a Austrália junto com suas famílias, mas as últimas notícias da CBF não me permitiram. Há 3 meses Rogério Caboclo foi afastado da presidência da instituição graças às denúncias de assédio moral e sexual formalizadas por uma funcionária. Pois bem, na terça (24) a Comissão de Ética do Futebol recomendou somente o afastamento de 15 meses (3 já cumpridos) e não enquadrou como assédio, mas como “conduta inapropriada”. A punição gerou revolta e precisa ser referendada ainda pela Assembleia Geral, composta pelas 27 federações. Mas a assembleia não pode propor uma punição mais rígida, ou seja, ou Caboclo volta em setembro de 2022, ainda no seu mandato, ou pode voltar imediatamente, caso a recomendação da comissão não seja aceita. A impunidade nesse caso é clara, e é impossível não pensar que são homens protegendo homens num corporativismo que atua em defesa de seu poder. Por isso, pensem muito bem antes de sair questionando por que uma mulher não faz denúncias nesses casos, pois muitas vezes o peso da situação recai somente sobre elas. Isso para não falar do vídeo em defesa de Caboclo que usou indevidamente a imagem da Formiga e da Pia. É tanto absurdo machista que cansa!

Prova de resistência

Batalha de Porto Alegre

8 ou 80...

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

O Coritiba largou na pole-position no 2º turno da Série B e, concluída a primeira volta da corrida final pelo acesso à 1ª Divisão, manteve a liderança com importante vitória (2x1) contra o Avaí. Não se pode perder de vista que, em outra analogia (com o atletismo), a competição não é de velocidade, mas de resistência. Exemplo claro disso é o time do Náutico, que deu um sprint inicial espetacular, liderando 75% da primeira volta, mas hoje amarga a 6ª posição, apenas dois pontos à frente no 9º colocado. O técnico coxa-branca Gustavo Morínigo dá mostras de compreender a necessidade da manutenção do mesmo desempenho linear até aqui alcançado, evitando quedas bruscas de rendimento. Um trunfo para o jogo em casa diante do Botafogo (sexta-feira, 27/8, às 21h30) é a possibilidade de repetir a mesma escalação das duas partidas anteriores. O entrosamento está crescendo.

No próximo domingo, às 18h, o tricolor joga suas últimas fichas na tentativa de evitar o pior. O adversário é o São José, concorrente direto na briga pela permanência e que manda seus jogos no Estádio Passos D’areia, em Porto Alegre. O estádio conta com gramado sintético, um estilo de grama artificial diferente do que existe na Baixada. Para tentar se adaptar a essa realidade, o Paraná fará um treino no Estádio do Pinhão, em São José dos Pinhais, onde o piso é parecido. Mesmo com a péssima campanha na competição, o time gaúcho ainda não perdeu em casa nesta série C, com três vitórias e três derrotas. A notícia boa para o Paraná é que o técnico Silvio Criciúma vai contar com ‘força máxima’ para o confronto. Que a força esteja com nossos guerreiros, que eles sejam valentes até o fim e possam manter o coração tricolor pulsando.

Inconstância tem sido a palavra de ordem dos últimos jogos do Furacão. Quando paramos para comparar o jogo emocionante que garantiu a equipe na semi da Sul-Americana, onde apresentou uma capacidade técnica e psicológica de campeão, com o fraquíssimo jogo contra o Corinthians no último domingo pelo Brasileirão, a impressão é que são dois Athleticos. Um deles tem espírito de campeão. O outro, caso fosse rebaixado, ninguém ficaria surpreso. Não sabemos qual dessas equipes vai decidir o destino na Copa do Brasil na semana que vem. O que dá para adiantar é que os reforços que chegaram (Fasson na zaga e Pedro Rocha no ataque) já entram com a necessidade de encaixar imediatamente na equipe titular, já que tanto o sistema defensivo quanto o ofensivo carecem de peças que assumam responsabilidades.


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