Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 21 a 27 de outubro de 2021
Golpismo na linha do Equador?
EXPEDIENTE
EDITORIAL
A
história recente da América Latina é marcada por grande instabilidade institucional. Dentre os acontecimentos mais recentes estão o assassinato do presidente do Haiti, a tentativa de golpe contra o governo de Miguel Díaz-Canel em Cuba e a descoberta de que o ex-presidente neoliberal da Argentina, Macri, participou do golpe na
Bolívia, em 2019, enviando armas ao país. Em 20 dias, o palco passou a ser o Equador. Sob a presidência do direitista Guillermo Lasso, foi decretado estado de sítio a 30 de setembro e, agora, estado de exceção, a 18 de outubro. A razão inscrita no decreto presidencial é a grave comoção interna gerada pelo aumento da taxa de homicí-
dios dolosos. Ocorre, porém, que o estado de exceção mobiliza as forças armadas equatorianas no intuito de limitar ou suspender os direitos fundamentais da população. Isto se deu no contexto de fortes greves camponesas e urbanas no país, bem como de denúncias de envolvimento do presidente em corrupção, por con-
ta de dinheiro enviado a paraísos fiscais. Curioso é que, no mesmo dia da decretação, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, se reuniu com Lasso e o navio diplomático da Marinha do Brasil, Cisne Branco, sofreu um acidente em águas equatorianas. Há grandes chances, portanto, de um ensaio golpista na linha do Equador.
SEMANA
OPINIÃO
O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 234 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Paula Cozero e Roberto Barbosa ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO
A ciência brasileira e seus inimigos Roberto Barbosa,
pesquisador e professor de Física da Universidade Federal do Paraná
E
Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016
ntre as vítimas da guerra silenciosa nas instituições e nas desigualdades econômicas, está hoje a ciência brasileira, as universidades, os centros e os institutos de pesquisa públicos e os próprios pesquisadores/as. Vale destacar que a ciência nacional se estabelece somente no século vinte, por volta de 1909, resultado de quatro séculos de recusa
da coroa portuguesa e da elite luso -brasileira em fundar universidades em território nacional. Com isso, o Brasil foi das últimas nações da América Latina a ter uma instituição dessa natureza, ficando atrás, por exemplo, de nações como o México (1551), Peru (1555) e Argentina (1613). Um quadro que evidenciava que a ciência não era considerada prioridade nacional, pelo menos do ponto de vista das elites imperiais e republicanas, que, sob a lógica econômica do atraso e da submissão ao
estrangeiro europeu e estadunidense, sempre procuraram um meio de interrompê-la, assim como fazem hoje com o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), a única fábrica de semicondutores do Hemisfério Sul, localizada em Porto Alegre, encarecendo os preços dos automóveis no país. Para o filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto, as elites dominantes comportam-se como animais irracionais: depredam a natureza para subsistir. O ser humano alienado
depreda a cultura. Toma seus bens, ideias, que armazena no espírito, mas é incapaz de produzir com elas algo original. Paulo Guedes, ministro da Economia, representa essa elite. No dia 7 de outubro, na calada da noite, cortou 92% da verba do Ministério da Ciência e Tecnologia destinada a bolsas e projetos de pesquisa, verba da já combalida e sucateada ciência brasileira, que acumula reduções recordes desde meados de 2016 com Michel Temer. (Edição de Pedro Carrano para o jornal)