Brasil de Fato / RS - Número 04

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Vitória contra o preconceito

Um milhão de mulheres se submetem a abortos a cada ano no Brasil. É uma estimativa do Ministério da Saúde. O maior risco de morte quem corre são as mulheres negras, jovens, solteiras e de baixa escolaridade. Já passou da hora de discutir essa questão fundamental de saúde pública.

TERRA | PAG 9

RIO GRANDE DO SUL

Foto: Fabiana Reinholz

Pobres, enfrentando os olhares de repúdio e as piadas, sem poder repetir nenhuma disciplina, 44 sem terra fizeram história em Pelotas: formaram-se em Medicina Veterinária na UFPel.

Precisamos falar sobre aborto

GERAL | PAG 4 e 5 1 a 14 de setembro de 2018 distribuição gratuita brasildefato.com.br

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Ano 1 | edição 04

A caminhada da esquerda para o 2º turno

É o que indica a leitura das sondagens eleitorais e a opinião de quem entende de eleição. Falta definir quem será o nome que a direita irá escolher para o confronto do voto. GERAL | PAG 6 e 7

Foto: Leonardo Milano

A poesia importada de Chicago também se transforma em modo de expressão dos jovens das grandes cidades do Sul. É um espaço de fala e de escuta onde se trata tanto de política quanto de corações partidos e todo mundo permanece atento. CULTURA | PAG 11

Foto: Diana Freitas

Slam, o grito de resistência que vem da periferia

Crise da indústria calçadista provoca milhares de demissões No último mês, duas indústrias fecharam as portas e demitiram perto de mil trabalhadores. Em sete anos, foram 26 mil demissões. É o quadro triste da indústria calçadista do Vale do Rio dos Sinos. CIDADES | PAG 8


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OPINIÃO

PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE SETEMBRO DE 2018

O impeachment antes da eleição EDITORIAL |

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ois anos atrás, Dilma, eleita com 54 milhões de votos, foi removida do poder através de um impeachment sem crime de responsabilidade. Portanto, um golpe. Em 2018, o impeachment vem antes da posse e mesmo antes do pleito. É o que observa um de nossos entrevistados na matéria de eleições desta edição. O golpe, aqui, é desferido pelas mesmas forças que depuseram Dilma, porém contra Lula. Sua prisão, depois de processo canhestro, só aconteceu para impedir que vença já em primeiro turno. É o que, aos poucos, fica claro até para alguns daqueles que se iludiram com as ruas verde-amarelas e os atos de “combate à corrupção”. É um dos elementos dissonantes que permeiam a campanha de 2018, crivada de disparates. Que não se tornam ainda mais aberrantes por obra e graça da imprensa empresarial que esconde os detalhes

mais reveladores do absurdo que estamos vivendo. Desprezou, por exemplo, os gestos do Papa Francisco ao revelar sua simpatia por Lula. Procurou desacreditar o comitê das Nações Unidas que afirmou o direito do ex-presidente concorrer. Ocultou – e prossegue ocultando – as manifestações de juristas, políticos, chefes de estado, intelectuais e artistas de todo o mundo em favor de Lula. Sonegou as imagens da grande marcha que coloriu Brasília de vermelho para registrar sua candidatura. Menos mal que, como apontam as pesquisas, o enlace mídia&judiciário e seu punitivismo seletivo, estão perdendo credibilidade. A ponto de não conseguirem impulsionar o candidato que mora no lado esquerdo do seu peito, hoje sob risco de não alcançar o 2º. turno. Talvez nem mesmo o impeachment antecipado possa resolver seu drama.

CHARGE | Santiago

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Sem tributos não há direitos sociais

ARTIGO |

Dão Real Pereira dos Santos - Auditor-Fiscal da Receita Federal e diretor do Instituto Justiça Fiscal

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uando se discute gastos sociais, políticas públicas, investimentos e sistema tributário surge uma clara contradição no discurso usual. A demanda por mais segurança, saúde, educação, etc. é acompanhada por uma narrativa pela redução da carga tributária, como se impostos elevados fossem a causa da baixa qualidade dos serviços públicos. Ora, se os direitos são garantidos por políticas públicas e estas são financiadas por tributos, mais direitos implicariam em mais tributos e não o contrário. A carga tributária é uma consequência direta da quantidade necessária de serviços para fazer frente a um conjunto de direitos que resolvemos ter. Os países europeus, referência da Constituição de 1988, construíram seus Estados de Bem-estar elevando impostos. No Brasil, a pressão contra os tributos esconde, de fato, uma resistência à implementação do nosso estado de bem-estar ainda em fase de construção. Comparada com a de outros países, nossa carga tributária (32,6% do PIB) não é das maiores. Está abaixo da média da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 37 países que praticam a economia de mercado. Na OCDE a média é de 34%. E, para quem espera de nossa carga a entrega do mesmo nível de serviços públicos dos europeus, é preciso notar que a arrecadação brasileira é de 3 mil dólares por ano por habitante. Ou seja, cinco vezes inferior aquelas do Reino Unido e dos

A POIO brasildefators

CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Dary Beck Filho, Fernando Maia, Jonas Tarcísio Reis, Rogério Ferraz, Adelto Rohr, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Marcos Corbari, Fabiana Reinholz, Suzana Pires, Ayrton Centeno, Katia Marko, Walmaro Paz, Catiana de Medeiros, Adilvane Spezia e Miguel Stédile | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares

Comparada com a de outros países, nossa carga tributária (32,6% do PIB) não é das maiores. Está abaixo da média da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 37 países que praticam a economia de mercado. EUA e três vezes menor que a do Japão. Este é o valor que se transforma em políticas públicas. E só pode aumentar com mais tributos ou com crescimento econômico. Acontece que nossa carga tributária é profundamente injusta, não pelo seu tamanho, mas pela sua distribuição. Pesa muito sobre o consumo (mais de 50%) e pouco sobre a renda e o patrimônio (menos de 24%). Faz com que os mais pobres paguem mais do que os ricos. Onera a quem produz e trava o desenvolvimento. Antes de criticar os impostos, urge promover uma reforma tributária solidária, reduzindo as desigualdades e criando condições para a retomada do crescimento econômico. Saiba mais em http://reformatributariasolidaria.com.br/


GERAL

PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE SETEMBRO DE 2018

Com certeza de dever cumprido, ativistas encerram greve de fome Depois de 26 dias de ato, grevistas conclamam povo a seguir mobilizado, construindo a resistência democrática a partir das ruas

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Foto: Michelle Calazans

MARCOS CORBARI E ADILVANE SPEZIA BRASÍLIA (DF)

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Sete camaradas de sonho passaram 26 dias em um ato extremo, onde colocaram a própria vida como instrumento de luta.

cerrou a greve de fome não representa um final nesta jornada, ao contrário, é uma nova etapa que começa. Alojados no Centro Cultural de Brasília (CCB), os sete receberam de suas organizações e também das instituições e grupos que os apoiaram desde o primeiro dia ou que somaram-se ao ato ao longo da atividade, uma celebração que reflete a gratidão pelo exemplo e reafirma o compromisso popular de multiplicar a mensagem e o desafio que foram apontados ao longo de toda a greve. “Ao longo dos 26 dias

nós conseguimos fazer um grande debate com a sociedade brasileira. Denunciamos a volta da fome. Mostramos para o mundo as consequências do golpe, o aumento da violência, o abandono dos mais pobres por parte do estado e o papel que o poder judiciário exerceu para que isso acontecesse”, declarou Amorim. “O judiciário cumpriu um papel decisivo a favor do golpe e contra o povo, conduzindo à judicialização da política e a politização da justiça, o que é incompatível com uma sociedade democrática”, acrescentou. Solidariedade e consciência Para os sete ativistas tão importante quanto dialogar com os ministros do Supremo, foi conquistar a solidariedade ativa da população, que ampliou através de suas redes pessoais as mensagens dos grevistas que repercutiram quase que exclusivamente pelos canais de mídias progressistas, sendo propositalmente bloqueados pelos principais canais de comunicação da

Foto: Vani Souza

e 31 de julho a 25 de agosto os ativistas Jaime Amorim (MST), Zonália Santos (MST), Rafaela Alves (MPA), Frei Sérgio Görgen (MPA), Gegê Gonzaga (CMP), Vilmar Pacífico (MST) e Leonardo Soares (LPJ) mantiveram-se em greve de fome em Brasília. Não receberam nenhum tipo de alimentação. Evocaram um dos instrumentos mais extremos de luta e resistência popular para mobilizar o povo. Despertar o contraponto político. Forçar o debate com o poder judiciário em sua mais alta instância e reafirmar que em um Estado Democrático a vontade popular deve sempre ser respeitada. Ao decidir pela interrupção da greve, os sete acolheram o chamado de suas organizações para retornar às bases e fomentar com o potencial simbólico do ato praticado a luta popular. Conforme explicaram os grevistas, o ato que en-

Gabriel, de Bodocó (PE), resume o sentido desses dias de luta.

mídia burguesa. “Ao sair da greve temos consciência de que cumprimos um papel importante, ajudamos a mobilizar e organizar o povo, colocamos em pauta novas perspectivas para esse país. Evocamos a ideia de um Brasil-Nação para todos os brasileiros”, afirmou Frei Sérgio. “Nós saímos da greve para um outro patamar da luta. Seguiremos lutando pela liberdade de Lula, mas olhamos para a frente vislumbrando o Congresso do Povo e a consolidação da Frente Brasil Popular como

um instrumento de desenvolvimento político e social para toda nossa gente. Onde vamos abrigar a nova militância que surgiu da resistência ao golpe e vem crescendo cada vez mais. Uma militância sem vícios, que está disposta a ajudar a construir uma nova história possível e necessária. Ao declarar o encerramento da greve, os ativistas tornaram público um manifesto e uma carta ao povo brasileiro, que podem ser lidos na íntegra nos sites e fanpages do MPA, MST, MAB, LPJ e CMP.

Diário da greve: O Brasil de Fato/RS esteve presente do começo ao fim da greve dando ampla cobertura aos atos praticados pelos sete grevistas e às organizações que representam. No site www.brasildefato.com.br você confere todo esse material em uma página especial.


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GERAL

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DIREITOS | Movimento pelo Aborto Legal defende

a vida das mulheres Provavelmente você conheça alguma mulher, amiga, colega, filha que engravidou fora de hora, mesmo usando método anticoncepcional. Que mesmo já sendo mãe, não pôde levar a gestação adiante.

Foto: Fabiana Reinholz Foto: Divulgação Sindiágua-RS

FABIANA REINHOLZ

PORTO ALEGRE (RS)

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uando mencionada a palavra aborto, há todo discurso moral/religioso, punitivo e condenatório da mulher. Esquecendo que atrás dele há sofrimento emocional, discriminação e até exclusão social. Rafaela*, 35 anos, mãe de duas crianças pequenas, planejadas, relacionamento estável, não esperava a vinda de um terceiro filho, há cinco anos. Diante de circunstâncias adversas, tê-lo não era opção. Junto ao seu companheiro, com o uso de medicamento, realizou o procedimento em casa. Ingriane Barbosa Carvalho de Oliveira, negra, pobre, 31 anos, não teve a mesma sorte. Mãe de três crianças pequenas, e grávida de quatro meses, sem apoio do pai da criança, fez o abortamento. Com a ajuda de uma mulher, a quem pagou R$ 300,00, pôs um talo de mamona no útero para interromper a gravidez. Ingriane morreu no dia 16 de maio com infecção generalizada depois de ficar sete dias internada no hospital. Histórias distintas, que retratam a realidade de como a questão do abortamento reflete na vida de muitas mulheres, onde a clandes-

Frente Pela Legalização do Aborto RS realizou atos em Porto Alegre

tinidade afeta a todas. Segundo Maria de Fátima Marinho de Souza, do Ministério da Saúde, uma em cada cinco mulheres no Brasil já se submeteu a aborto. A estimativa do Ministério da Saúde é que ocorram, por ano, cerca de 1 milhão de abortos induzidos. A estimativa é extremamente alta, independe da classe social, apesar das mais afetadas serem as mulheres mais vulneráveis. “Nos últimos dois anos, 2 mil mulheres morreram por esse motivo. Quem mais morre são mulheres negras, jovens, solteiras e que têm até o ensino fundamental.” Questão de saúde pública Por que a mulher não se cuidou? É a frase que se ouve quando se fala em gravidez não planejada. “Não existe nenhum método-anticoncepcional 100% seguro, temos taxas de 99% de eficácia no melhor dos casos, mesmo assim uma em cada 100 engravidaria. Todas conhecemos alguém que engravidou utilizando algum método como pí-

lula, DIU, camisinha”, aponta Ana Maria Bercht, psicóloga, integrante da Frente Pela Legalização do Aborto RS. As possibilidades de falha dos métodos podem se dar por inúmeros motivos, como por exemplo, médicos receitam remédios que interferem na eficácia da pílula e não avisam. Maridos e namorados que obrigam as companheiras a fazer sexo sem camisinha, ou a retiram sem avisar. “Os métodos contraceptivos são falíveis, as mulheres ainda têm dificuldade de negociar com os parceiros, muitas não se adaptam ao uso do anticoncepcional, acham que a culpa é delas por não ter prazer. Há muito mais nesse debate do que simplesmente a prática do aborto, ou a manutenção da ilegalidade”, complementa Claúdia Prates, da Marcha Mundial das Mulheres. Para ela, o tema do aborto não está vinculado à religião, a conceitos morais, é uma questão de saúde pública, porque as mulheres continuam fazendo e morrendo.

Leis restritivas não impedem a prática Renata Jardim, advogada, coordenadora-executiva da ONG Themis, lembra que a lei do aborto no Brasil é uma das mais restritivas no mundo. O Código Penal que trata o tema é de 1940. A prática é permitida somente em três situações: decorrência de estupro, risco de vida à gestante e, recentemente feto anencéfalo. A manutenção do aborto como crime, a exceção dos três casos previstos na lei, faz com que milhares de mulheres estejam, neste momento, na clandestinidade. “A questão do aborto fora dos casos permitidos é tratado pela sociedade e pelo Estado como questão de polícia, não de saúde e educação. Nós precisamos reverter essa lógica”, afirma Zadi Zago, da Frente Pela Legalização do Aborto RS. “Mesmo que não estejam presas, só o fato de serem processadas, de que o Estado reconheça que isso é um crime, afeta de uma forma bastante significativa essas mulheres, faz com que passem por situações de clandestinidade, causando mais riscos à saúde”, afirma Renata. Para Marilu Goulart, psicóloga, e integrante da Frente, as mulheres querem um sistema de justiça que as escute e que olhe para a realidade sem os véus românticos ou morais que pairam anos-luz acima da realidade. “Mulheres estão morrendo ao abortar na clandestinidade e continuarão morrendo se o Estado assim permitir, pois a questão não é abortar ou não, a questão é: aborto legal ou aborto clandestino?


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Aborto, o futuro pertence ao "SIM"

GERAL

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MOBILIZAÇÃO |

Em nenhum país da América Latina, a questão do aborto envolveu tanto a cidadania quanto na Argentina. De um lado, as marchas pró-aborto que adotaram a cor verde. De outro, os contrários, mobilizados pelas igrejas, com o azul celeste. Foram imensas manifestações, sobretudo as “verdes”. Após vitória na Câmara, a descriminalização foi derrotada no Senado em 8 de agosto pela diferença de sete votos. Só poderá voltará a ser debatida em 2019. Os conservadores, porém, tiveram uma vitória precária, como observou o senador Michel Pichetto: “O Não ganha esta noite, mas o futuro não lhe pertence”. A repórter e fotógrafa Suzana Pires esteve na Argentina e dá o seu relato pessoal sobre o embate. SUZANA PIRES

BUENOS AIRES (ARG)

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ão fui para trabalhar. Queria viver. Estar presente neste momento tão incomum. Mas, uma vez lá, comprometi-me a fazer fotos para que algumas mídias pudessem publicar em tempo real os acontecimentos. Teria que fazê-lo com o celular para enviá-las rapidamente. Fotografei com celular e com minha amiga e companheira câmera fotográfica. Num certo momento, cheguei a pensar que era muito para lidar ao mesmo tempo: uma cidade e uma cultura desconhecidas; o clima e aquela massa gigantesca de pessoas forma-

da de individualidades que expressam suas diferenças na pintura do rosto, no penteado, nas diferentes cores de seus guarda-chuvas, nos cartazes. Em comum a convicção de que legalizar o aborto é impedir que as mulheres morram e tirar do Estado o poder de legislar sobre seu corpo! O símbolo que identifica a todas e todos, e que gera acolhimento, sensação de pertencimento e empoderamento, é o panuelo verde, onde se lê: "Educação sexual para decidir, contraceptivos para evitar o aborto, o aborto legal para evitar a morte." “E agora estamos juntas” Mães de braço dado com suas filhas, avós, mães e netas caminham juntas expressando no rosto e na pose para a foto, o orgulho desta impressionante união das mulheres de tantas gerações. No canto ou grito das meninas a palavra patriarcado, que até pouco pertencia à sociologia e outras “ias”, salta dos livros para a boca e volta como vômito de rejeição à violência de gênero, à dominação dos homens e do Estado. Ao cantar e gritar e dançar "Poder, poder, poder popular.../ E agora que estamos juntas / e agora que eles nos veem / abaixo o patriarcado / se vai cair, se vai cair. /Acima o feminismo que vai vencer que vai vencer..." revelam consciência e já investigam e começa a compreender as estruturas sociais e políticas dominadas por homens ricos e brancos. Num dado momento do dia, um grupo de meninas

Debate levou milhares de mulheres às ruas de Buenos Aires

olhava para o prédio do Senado e uma delas falou num tom reflexivo, lá estão os 72 que legislam sobre nossos corpos. E eu vi aquela cúpula como uma torre medieval, mas percebi que aquelas “gurias” já haviam jogado um pó de trigo branco sobre a invisibilidade do poder! O que fazer desta energia gerada pela potência deste movimento, agora que a derrota no Senado tornou-se o tema mais forte para discussão do próximo Encontro Nacional de Mulheres, nos dias 13, 14 e 15 de outubro de 2018. Por ora, sem a aprovação do aborto legal e seguro, elas têm a si mesmas com as redes que criaram, um número de telefone e o apoio nos momentos de solidão e medo. Depois de viver esta experiência de estar com mais de dois milhões de pessoas nas ruas, a Buenos Aires dos meus sonhos românticos e seus locais turísticos (que não pude desfrutar), passa a ser também a referência da luta das mulheres no mundo! Fotografias, mais que as palavras, são as minhas verdades!


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Com Lula ou Haddad, esquerda caminha para o 2º turno

2018 |

Foto: Ricardo Stuckert

Com Lula na disputa, todas as pesquisas indicam a real chance da eleição ser decidida em primeiro turno com uma vitória consagradora do candidato mesmo preso numa cela de Curitiba. Mas e se o Judiciário impedir o eleitor de votar no candidato que escolheu? AYRTON CENTENO

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PORTO ALEGRE (RS)

esmo sem Lula, o PT mostra que é o partido atualmente com maiores chances de estar no segundo turno”, sustenta o cientista político Paulo Sérgio Peres, da UFRGS. O candidato, então, seria Fernando Haddad. “Tenho a convicção de que a esquerda estará no segundo turno”, entende o pesquisador e economista Pedro Paulo Dutra Fonseca, também da UFRGS. “A grande dúvida está em quem será o adversário, se Bolsonaro ou Alckmin”, assinala. Peres acredita que 2018 repetirá as campanhas desde a primeira eleição de FHC em 1994: um embate bipolar com a presença de alguma terceira força com certo capital eleitoral. “Essa terceira força já foi o Garotinho, o Ciro Gomes e a Marina Silva”, agrega. “O que temos, portanto, é uma disputa pelo polo antipetista no segundo turno, opondo Alckmin a Bolsonaro”. Enquanto isso, permaneceria aberta a briga pela terceira força, envolvendo Marina, Ciro e o próprio Alckmin, caso não decole mesmo dispondo de uma vasta coligação, mais estru-

Fernando Haddad e Manuela, a solução do PT se Lula for impedido

tura, mais dinheiro e 40% do horário eleitoral. Isto sem mencionar a mídia empresarial, maciçamente engajada na campanha do PSDB. A disputa virtual “Vai haver um embate entre as redes sociais e a TV”, antecipa Fonseca, citando o grande trunfo de Bolsonaro. Ao contrário de Alckmin, o candidato do PSL tem forte presença no Facebook, Youtube e Twitter. Apesar de uma pesquisa do Instituto InternetLab ter apontado que 33% dos perfis que seguem Bolsonaro são perfis falsos controlados por computadores, o que se chama de robôs. Seus apoiadores avaliam que o tempo mais curto de campanha favorecerá o deputado. Os tucanos, enquanto isso, manobraram para colocar a senadora Ana Amélia como vice da chapa, evitando que o PP gaúcho apoiasse Bolsonaro. "Como o

Uma das características de 2018 é a fragmentação do bloco conservador. “Há uma divisão na direita como nunca antes”

PT tem um capital eleitoral consolidado no Nordeste – observa Peres - o Sul tornou-se um mercado fundamental para o PSDB e isso demandava anular a entrada de Bolsonaro no eleitorado pelo menos do Rio Grande do Sul.” Uma das características de 2018 é a fragmentação do bloco conservador. “Há uma divisão na direita como nunca antes”, registra Fonseca. “Mas a esquerda também não conseguiu se unir”, acrescenta. Peres pondera que “os partidos de esquerda, movimentos sociais, esquerda social pulverizada, todos estão extremamente atrelados à força gravitacional do Lula”. Argumenta que, para a esquerda, a centro-esquerda e parte significativa do centro “Lula está sendo impedido de ser candidato para se evitar que a agenda social volte ao poder. Está sendo visto como um perseguido político, inclusive fora do país”. E prossegue: “Se essa percepção for verdadeira, então, temos outro fato inédito na teoria política advindo do caso brasileiro: um impeachment do futuro presidente”. Ou seja, diante da iminência de Lula ser eleito, estaria ocorrendo “uma espécie de impeachment antecipado, evitando-se que seja candidato”.

As notícias encarceradas A grande marcha para registrar a candidatura de Lula, a ampliação da sua vantagem nas pesquisas e a decisão da ONU em prol de sua candidatura despertaram irritação ou silêncio na mídia empresarial. Porém, o artigo de Lula no New York Times denunciando o golpe e sua prisão injusta talvez tenha tocado mais fundo na ferida. Tanto que a imprensa nativa repetiu um velho comportamento diante do grande jornal norte-americano. Defensor de outro regime ilegítimo - o de 1964 - O Globo se enfureceu com a edição do NY Times de 4 de janeiro de 1969 contendo o editorial “As notícias encarceradas da América Latina”. Coincidentemente, denunciava prisões ilegais no Brasil, além da censura e da violência. O jornal da família Marinho retrucou também em editorial, empunhando seu tacape na defesa da ditadura. Acusou o NY Times de “apresentação exagerada dos fatos” e “pérfida exploração da meia verdade", chamando-o de "fonte da campanha antibrasileira" e de promotor de Cuba e Fidel Castro... Órgão oficioso da ditadura, O Globo atacou também os jornais franceses Le Monde e L`Express, que haviam

criticado a censura às palavras do Papa Paulo VI no Brasil. Definiu a França como “imatura politicamente” com sua “hilariante democracia parlamentarista”. Bem, para um jornal apoiador de uma tirania, O Globo só poderia achar “hilariante” uma democracia fosse qual fosse. Em 2018, a colunista Miriam Leitão entendeu que Lula iludiu o NY Times com uma “simplificação” do que ocorreu no país. Considerou que o ex-presidente contou “uma ficção”. Lições de jornalismo que somente O Globo poderia dar ao diário dos EUA... Na sua cruzada, o jornal da família Marinho recebeu a adesão do Estadão. Seu editorial entendeu como “inexplicável” a postura do NY Times. E ressuscitou até uma expressão em desuso desde o final dos anos 1970 referindo-se a “uma campanha internacional de difamação das instituições brasileiras”. Era exatamente assim que os jornais acumpliciados com a ditadura tratavam as notícias do exterior que expunham a censura, a tortura e os assassinatos praticados de 1964 a 1985. A mostrar que, também hoje, as notícias continuam encarceradas.


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PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE SETEMBRO DE 2018

7 Fotos: Leonardo Milano

2018 | Mais de 50 mil pessoas registraram a candidatura de Lula e denunciaram a retirada de direitos Nunca antes na história do país, o registro de uma candidatura reuniu tanta gente em Brasília. KATIA MARKO

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PORTO ALEGRE (RS)

rabalhadores e trabalhadoras, organizados em diversos movimentos populares, sindicatos e partidos de esquerda se somaram à Marcha Nacional Lula Livre, organizada pela Via Campesina, no dia 15 de agosto, para realizar o registro coletivo da candidatura do ex-presidente Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília. Além disso, se posicionaram contra a retirada de direitos, as privatizações, o sucateamento dos órgãos públicos e as diversas investi-

das antipopulares do governo Temer. Um grande Ato Político em frente ao TSE reafirmou a candidatura de Lula. Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), disse que essa caminhada é pelos direitos do povo. “Lula é um preso político, a maior liderança política do país. O registro dessa candidatura é uma vitória para nós. Nós vamos entrar no TSE e vamos registrar Lula e quando saírmos vamos festejar a vitória de ter Lula presidente do Brasil”, afirmou. Uma marcha para a história A Marcha Nacional Lula Livre, organizada por movimentos populares que integram a seção brasileira da

Via Campesina, que ocorreu entre os dias 10 e 15 de agosto, partiu organizada nas colunas Tereza de Benguela, Ligas Camponesas e Luiz Carlos Prestes, dos municípios de Formosa, Engenho das Lajes e Luiziânia, em Goiás, rumo a Brasília. Além da defesa do direito de Lula ser candidato, a marcha teve como objetivo denunciar o contexto político brasileiro, marcado, segundo os organizadores, por retrocessos sociais e ataques à soberania nacional. Segundo Marina dos Santos, integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), “é uma marcha em defesa dos direitos da classe trabalhadora, do campo e da cidade. Nosso pessoal chegou de ônibus do Brasil inteiro, com a participação de 24 estados. Todos os movimentos que fazem parte da Via Campesina Brasil estão conosco”, disse. Marcas da resistência Tereza de Benguela foi uma liderança da resistência quilombola durante o século 18. O dia 25 de Julho é legalmente dedicado a ela e às mulheres negras. A coluna, em sua

homenagem, foi composta majoritariamente por militantes das regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. As Ligas Camponesas foram um importante movimento pela reforma agrária, com atuação a partir de 1945 até o golpe militar de 1964. Militantes nordestinos marcharam em sua memória. Já Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, foi um líder tenentista e, mais tarde, quadro comunista. Ele foi celebrado por marchantes do Sul e Sudeste. Alexandre Conceição, também do MST, explica que a Marcha é uma iniciativa dos trabalhadores em um “grave contexto” que se soma

a outras frentes de luta, como o Dia Do Basta, a Greve de Fome e festivais culturais pedindo a liberdade de Lula. “A crise política no Brasil nos trouxe até aqui. Marchar novamente é preciso para manter a esperança. Nós estamos em mobilização permanentemente para que se liberte o presidente Lula e, ao mesmo tempo, o povo tenha direito a seu voto e de escolher livremente o seu candidato. Aquilo que eles prometeram com o golpe, a Ponte para o Futuro, a população já entendeu que foi a ponte para a miséria, para a volta da fome e do desemprego”, afirma. Com informações do Brasil de Fato e Imprensa MST


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CIDADES

PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE SETEMBRO DE 2018

A crise da indústria calçadista: 26 mil demitidos em sete anos TRABALHO |

A indústria calçadista do Rio Grande do Sul fechou 26 mil postos de trabalho nos últimos sete anos. É o que aponta levantamento da Federação Democrática dos Trabalhadores da Indústria de Calçados/ RS. Seu presidente, João Batista Xavier da Silva, observa que, apenas em julho passado, duas empresas cerraram as portas: a Botero, de Parobé, e a Crisale, de Três Coroas. “A primeira demitiu 500 trabalhadores e a segunda 400.” WÁLMARO PAZ

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PORTO ALEGRE (RS)

orém, na visão do diretor da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abical), Heitor Klein, não se trata de uma grande crise, mas somente uma dispensa sazonal. Ele admite que, desde 2016, o número de desempregados está aumentando em todo o Brasil. “Em junho de 2017, o

Fotos: Divulgação-Abicalçados

setor utilizava a mão de obra de 297,6 mil trabalhadores e, no mesmo mês de 2018, esse número baixou para 291,2 mil”. No mesmo período, segundo o IBGE, a venda de sapatos também caiu 3,5%. As exportações que, em 2008, somavam 2 bilhões de dólares, despencaram 50%. Klein acrescenta que atualmente as exportações absorvem apenas 15% da produção brasileira. “Oitenta e cinco por cento segue para o mercado interno e esta também está caindo”, registra. Para o empresário, a aguardada retomada da atividade econômica está demorando demais. E, por conta disso, há empresas fechando algumas plantas ou diminuindo a produção em algumas linhas. Os industriais ainda mantem as fábricas abertas na espera de uma reação das vendas, mas algumas das empresas já tiveram a falência decretada.

Mesmo com as fábricas abertas algumas das empresas já tiveram a falência decretada.

Uma atividade envelhecida Tiago Souza, vereador e secretário de Formação do Sindicato dos Sapateiros de Campo Bom, conta que, desde seus 16 anos, trabalha no setor. Já esteve em vários departamentos. Sua última atividade é como mecânico de manutenção de máquinas. Diz que o setor está muito envelhecido, embora com alguma modernização nas máquinas, e os trabalhadores têm em média idade acima de 45 anos. “Os mais novos querem estudar e por isso procuram estágio em outras atividades. A indústria calçadista tem horário muito estendido”, afirma. Lembra que, na década passada, os

jovens tinham que trabalhar e, se possível, estudar. Mais tarde, com a criação de muitos cursos técnicos, a situação se inverteu. “As famílias querem que os filhos estudem e ‘se der’, trabalhem”, repara. O grande problema que Souza percebe é que pessoas que trabalharam 20 ou até 30 anos como sapateiros, “quando são dispensados, como está acontecendo agora, não encontram mais trabalho por causa da idade e também por não saberem fazer outra coisa”. Alguns dos desempregados colocam ateliês de artesanato para oferecer serviços terceirizados, mas ficam dependentes da situ-

ação do mercado e das outras grandes empresas. Explica que, mesmo com a modernização da maquinaria, o calçado segue sendo um produto artesanal que tem que ter cortador, costurador, montador, etc. E quando reacender a economia não haverá mais mão de obra capacitada. Lembra que grandes marcas estão terceirizando os serviços para ateliês que empregam de 50 a 100 pessoas, de acordo com as encomendas. Com a diminuição das vendas alguns desses ateliês vão sendo fechados e, dificilmente serão reabertos com um novo aquecimento do mercado.

Não é mais o principal setor da economia da região Embora até o final do século passado o setor coureiro-calçadista representasse a principal atividade do Vale do Rio dos Sinos e até atraísse grandes contingentes de trabalhadores do interior gaúcho em busca de emprego, desde os anos 1990, com o Plano Real, perdeu esta condição. O presidente da Câmara de Vereadores de Cam-

po Bom, vereador Victor de Souza (PCdoB), que também trabalhou na indústria de calçados, lembra que, naquela década, com a desvalorização do dólar, houve uma quebradeira geral das indústrias que tinham sua produção voltada para o exterior. “Somente sobreviveram as fábricas como a Beira Rio e Usaflex que produziam para o mer-

cado brasileiro.” Souza explica que, em Campo Bom, o setor representa hoje somente 33% da receita do município. No passado, porém, esse percentual era de 90%. Município de 64 mil habitantes, Campo Bom tinha oito mil pessoas atuando no segmento. Em 2015, já eram somente quatro mil e hoje tem me-

nos de duas mil pessoas. Segundo ele, existem grandes grupos como Arezzo e Usaflex que contratam muitas empresas terceirizadas. “Mas grande parte dessas indústrias migraram para o Nordeste em busca de menos impostos e mão-de-obra mais barata”, explica. Na atualidade, o ramo de serviços é o mais importante da economia local.


TERRA

PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE SETEMBRO DE 2018

Quarenta e quatro sem terra conquistam diploma em Medicina Veterinária

EDUCAÇÃO |

Foto: Maurem Silva

Trabalhadores são de oito estados e ajudarão na qualificação dos assentamentos da Reforma Agrária CATIANA DE MEDEIROS

PORTO ALEGRE (RS)

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O sonho de cursar Medicina Veterinária se tornou realidade em 2002 para Natiele Veeck, oriunda de Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul, após abertura do edital para ingresso da segunda turma especial para beneficiários da Reforma Agrária. O curso acontece via Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). À época, ela era estagiária de uma cooperativa que atua em assistência técnica em Tupanciretã. “Veterinária sempre foi uma opção de curso que eu tive, mas sabia que seria difícil, porque é bem concorrido. Quando saiu o edital eu me inscrevi e fui selecionada junto a outras 59 colegas”, recorda. Na turma de Natiele, batizada de Hugo Chávez, está Fernando Vieira, de Cáceres, no Mato Grosso. Antes de Pelotas se tornar a sua nova cidade, ele produzia alimentos no lote da família. “Fui indicado para o vestibular num encontro estadual do MST. Achei uma proposta bastante interessante para melhorar a produção dos assentamentos, principalmente a bovinocultura de leite”, acrescenta. Dificuldades e superação Os 60 acadêmicos tiveram que encarar inúmeros desafios em cinco anos de curso. Além de não poderem repetir nenhuma disciplina, enfrentaram preconceito de estudantes e professores, simplesmente por serem sem terra, e condições inadequa-

Festa na hora do diploma depois de cinco anos sem repetir matéria

das de alojamento. Ainda sofreram com a morte, por doença, de uma colega, Kenia Ferreira da Silva, do Mato Grosso. Mas os acadêmicos também guardam boas lembranças. Eles conquistaram amigos e apoio de professores, integrantes do curso de Agronomia e Diretório Central de Estudantes. “Nós formamos

uma família. Isso fez com que seguíssemos as metas da turma, com que víssemos as dificuldades de outra forma”, conta Giovana Pivotto, de São José do Cedro, Santa Catarina. Formatura A segunda turma especial de Medicina Veterinária ficou constituída por 44 acadêmicos do Pará, Rio

Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. A formatura de 39 — cinco se formaram em gabinete — aconteceu no dia 16 de agosto em Pelotas, onde familiares e amigos se reuniram para celebrar a conquista coletiva. Vieira e Ritieli dos Santos, oradores da turma, lembraram o quanto foi ár-

dua a caminhada até chegar à formatura. “Nós resistimos aos olhares de repúdio, às piadas por sermos pobres e sem terra, às críticas ao método de ingresso. Mas saímos preparados para avaliar nosso paciente e contribuir com a nossa base enquanto médico veterinário e militante da classe trabalhadora”, ressaltaram.

O desmonte do Pronera O curso especial de Medicina Veterinária começou a ser pensado em 2005 pelo MST, quando foi encaminhado ao Pronera, um projeto para capacitação de jovens na área. Em 2007, 60 trabalhadores ingressariam na primeira turma, porém, o Ministério Público de Pelotas entrou com ação civil contra a realização do curso. As aulas iniciaram em 2011, após parecer favorável do Superior Tribunal de Justiça ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Essa luta é lembrada pelo paraninfo da turma, professor Luiz Filipe Schuch. Na formatura, ele falou da parceira UFPel e Incra, que já formou via Pronera 89 Sem Terra em Medicina

Veterinária. A terceira turma está em andamento e a quarta ingressou no final deste mês. Na colação de grau, Schuch alertou para o desmonte do programa. “Em 2018 o investimento à educação no Pronera foi restrito a quatro novas turmas no RS. E o orçamento nacional, que já foi próximo de R$ 70 milhões, é de R$ 3 milhões. A UFPel está incluída com a quarta turma de Medicina Veterinária. Isso é motivo de felicidade, mas também de grande preocupação, pois precisamos garantir a liberação dos recursos para reforçar o programa”, apontou. Em 20 anos de existência, o Pronera já beneficiou no país 187 mil acampados e assentados da Reforma

Agrária, além de quilombolas e outros beneficiários. Numa metodologia de estudos em regime de alternância, as aulas oferecidas pela iniciativa ocorrem em

sua maioria em universidades federais. De 1998 a 2011, foram realizados 320 cursos de vários níveis em parceria com instituições de 880 municípios.

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CULTURA & LAZER HORÓSCOPO VIRGEM (23/8 A 22/9) O Sol acaba de iniciar o passeio anual em seu signo. Esta fase será marcada por grande reconhecimento pessoal e prestígio social. É preciso um pequeno esforço para sistematizar todas as experiências até aqui, a fim de qualificar ainda mais seu modo de realizar tarefas. Tome cuidado para não cobrar-se de mais, até o erro é importante no processo de aprendizado. Mas, não se devem cometer os mesmos erros. Suas habilidades te trarão novas possibilidades, aproveite.

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HUMOR

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LIBRA (23/9 A 22/10)

Tenha determinação. Este é um momento de reflexão e ação. Você será desafiado (a) a refletir e agir ao mesmo tempo, por isto tenha cuidado para não ser incoerente. Resista.

ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)

Júpiter está retrógrado em seu signo. Isto faz com que algo sempre dê errado, mesmo com todas as oportunidades que a vida tem te dado. Você terá mais chances se trabalhar no coletivo.

SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)

É preciso ter prudência neste momento. Lembre-se que em nossa marcha toda tarefa é importante, por isto faça tudo com empenho. Este é um momento de construir alicerces seguros para as conquistas que você almeja.

CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1)

Às vezes é preciso novas abordagens. É momento de utilizar sua criatividade para resolver conflitos. Ser militante nestes tempos é um desafio muito grande, mas tudo poderia ser pior. Ótimo momento para defender a nossa democracia.

AQUÁRIO (21/1 A 19/2)

Ouça com atenção os conselhos que lhe dão. Você terá que mudar sua tática e precisará desses conselhos. Já sua estratégia deve ser protegida, preste muito atenção com quem você a socializa.

PEIXES (20/2 A 20/3)

Aprenda que, quanto mais subjetivista você for mais você se decepcionará com a realidade material. Momento de usar todos os seus talentos. Dica: seu maior talento é a adaptação.

ÁRIES (21/3 A 20/4)

Momento de usar sua praticidade. Obviamente você sabe que a pratica sem uma reflexão teórica é cega. Por isto, tenha calma e seja observador (a). Você tem muitas chances de crescer pessoalmente nesta fase.

TOURO (21/4 A 20/5)

GÊMEOS (21/5 A 20/6)

Momento de cuidar de sua vitalidade. Por você ser do elemento ar, um bom começo é prestar atenção em sua respiração. Oxigene seu cérebro. Precisamos de militantes com saúde e cientes de suas tarefas.

CÂNCER (21/6 A 22/7)

Você é muito emocional e deve tomar cuidado para não ser absorvido (a) demasiadamente por questões desta natureza. Canalize-as, afinal, temos a soberania nacional a defender e precisamos de sua sensibilidade cativante.

LEÃO (23/7 A 22/8)

O Sol saiu do seu signo e entrou em Virgem, signo relativo à materialidade. Tenha paciência e respeite as hierarquias, você se destacará na luta da classe trabalhadora se escutar estas dicas. Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.

GRAFAR

A energia que Urano emana pra você deve ser usada com afinco. É necessário ter autoconfiança, você tem muito potencial. Momento de colocar em pratica o que tanto vem planejando, principalmente se for de incidência politica.

TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)


CULTURA & LAZER

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JUVENTUDE | SLAM cresce e se torna um

novo espaço de resistência nas periferias O Slam, um campeonato de poesias faladas, foi criado nos anos 1980 em Chicago, nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que a cultura hip hop tomava forma, mas só chegou ao Brasil em 2008 KATIA MARKO

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PORTO ALEGRE (RS)

Slam das Minas foi pioneiro no RS Inspiradas pelo movimento de Slams no Brasil e principalmente pelo Slam das Minas de São Paulo e Distrito Federal, no dia 10 de dezembro de 2016 aconteceu na Praça da Matriz em Porto Alegre a primeira edição do Slam das Minas/ RS. "Reunimos representatividades de diversos núcleos culturais da Capital e região metropolitana, além de ouvintes e observadores", conta Daniela Alves da Silva, a Dani, 28 anos, estudante de Educação do Campo – Ciências da Natureza de Eldorado do Sul. Na sequência, outros slams surgiram por aqui. Marina Minhote, 24 anos, é uma das idealizadoras do Slam Peleia. No início, os encontros reuniam cerca de cinco competidores.

Bruna Ancelmo é slammaster do Slam RS

Hoje, já chegam a 20. “Não queríamos batalhar, não era nosso perfil. E o sarau ainda é muito acadêmico. O slam devolve a poesia para a rua”, ressalta Marina. Foi através de Marina, sua vizinha, que Cristal Rocha ouviu falar pela primeira vez dos Slams. "A pirralha que já nasceu poesia", como é chamada, só têm 16 anos, mas é uma gigante dos versos. Corpo de menina, com língua afiada, Cristal já faz parte da história do Slam no RS. A primeira vez que participou como competidora, levou a vaga, e na final regional se consagrou a 1ª Campeã Gaúcha de Slam, em 2017. Ela foi representar o estado na final nacional SLAM BR – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, junto com Bruno Ne-

Levante da Juventude cria o Slam Nós por Nós O Levante Popular da Juventude também está organizando o seu Slam. Segundo Eduíno do Nascimento, o Bilo, de Ijuí, ele se

chama “Nós por Nós”, inspirado no lema da Frente Territorial que é “se eles lá não fazem nada, nós fazemos por aqui!”. “Essa mensagem carregamos na Semana de Solidariedade Nós por Nós que o levante constrói desde 2015, que esse ano acontece de 1 a 11 de novembro. Com isso queremos contribuir para que a juventude se dê conta que a iniciativa deve vir de nós, que apenas com organização podemos

mudar nossa realidade”, destacou. O Levante da Juventude tem como desafio nacional a construção dos campeonatos de Slam. Em maio na Escola Nacional Florestan Fernandes aconteceu o 1° Curso Nacional da Frente Territorial, onde se decidiu construir a rede nacional do Slam Nós por Nós, com intuito de futuramente realizar campeonatos em nível municipal, estadual e nacional.

Slame r Crista l "Atura ou surta! A mídia que quando não te ignora te deturpa, Te estupra! 'Nega maluca' te rotulará Banaliza tua luta, mas não vão me gongar. Preta é sambar? Só se for na tua cara! Se antes virávamos o rosto Hoje é a gente que te encara." (Poema Negra História, do Zine de Poesias Quando o Caso Escurecel) gão, em São Paulo. Bruna Anselmo, professora de Inglês e Slammaster (organizadora) do Slam RS, explica que em Porto Alegre existem várias batalhas de rap, onde os jovens também se expressam. “Mas nem todo mundo consegue se expressar no improviso ou encaixar no beat. O Slam oferece esse espaço e os/as slammers têm até 3 minutos para falar tudo o que tem pra dizer. Já que o Slam é livre.” Segundo ela, o slammer pode falar tanto de problemas políticos do país quanto falar de coração partido e todo mundo vai ouvir da mesma forma. “Pra mim, o Slam muito além de um espaço de fala, é um espaço de escuta. Claro que muitos participam pela competição em si, mas tem gente que vai por ter en-

contrado um espaço para se expressar livremente.” Hoje, há quatro grupos que promovem as competições de poesia falada na Capital: o Slam Peleia, o Slam das Minas, o Slam RS e o Slam Chamego. Além dos grupos da Capital, há também os coletivos do Interior: o Slam da Montanha, de Caxias do Sul, o Slam Liberta e o Slam Maria, de Esteio, o Slam Poesia, de Pelotas, e o Slam Novo Hamburgo. As edições ocorrem mensalmente e com entrada gratuita. A final regional dos Slams será na ELIPA, uma feira literária periférica que será realizada nos dias 12, 13 e 14 de outubro, na Quadra da Escola de Samba Imperatriz Dona Leopoldina (Av. Martins Felix Berta, 38). Será o encerramento do evento no dia 14.

Foto: Diana Freitas

s campeonatos de Slam no Brasil foram introduzidos por Roberta Estrela D’Alva, através do ZAP, Zona Autônoma da Palavra, em São Paulo. A slammer (poetisa) brasileira é a mais conhecida pela mídia e referência no país, pois conquistou o terceiro lugar na Copa do Mundo de Poesia Slam 2011, em Paris. Segundo a historiadora e educadora popular Adenilde Petrina, de Juiz de Fora, os Slams se tornaram um importante espaço onde os jovens de periferia expressam sua visão de mundo, do cotidiano, ao mesmo tempo que é um grito de resistência e de denúncia. “É um meio de dar visibilidade à periferia, suas dificuldades, seus sonhos. É um grito de existência que dá visibilidade e sentido à vida do jovem da periferia. É a voz dos excluídos e estratégia de sobrevivência. A poesia ressignifica a rua, seu

Foto: Josemar Afrovulto

povo, sua luta. É uma forma poderosa de comunicação que trabalha o sentimento”, afirma. Adenilde acompanha o Coletivo Vozes da Rua, que realiza um evento mensal nas periferias da cidade denominado Slam de Perifa. “O local de formação de base, na cultura da favela e das periferias é o da escuta. As manifestações de rua não representam a gente, pois não ouvem a periferia. Se você não ouve, você não tem o que falar e você não tem estratégia para nos puxar para a rua”, nos ensina.


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ESPORTES

PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE SETEMBRO DE 2018

O futebol ao pé da letra LITERATURA |

A grande paixão nacional também pode ser encontrada nas prateleiras MIGUEL STÉDILE

PORTO ALEGRE (RS)

Quando a Copa do Mundo se iniciava, o escritor uruguaio Eduardo Galeano colocava uma placa na porta da sua casa: “fechado por motivo de futebol”. Conhecido por livros que

retratavam a realidade latino-americana, como o clássico “As veias abertas da América Latina”, Galeano se definia como um “mendigo do futebol”, sempre implorando por uma boa partida. A paixão de torcedor se transformou em um livro “O futebol sob sol e sombra” (L&PM) onde conta histórias que ouviu ou testemunhou. A cada Copa, acrescentava um novo capítulo.

As histórias reais do futebol Para os que preferem ler sobre histórias reais, também há muitas opções. O jornalista Juca Kfouri foi editor da revista Placar e trabalhou em diversos veículos e programas esportivos. Se tornou conhecido por denunciar a corrupção na CBF e na FIFA. Sua autobiografia, “Confesso que perdi” (Companhia das Letras), conta sua trajetória com o esporte, mas também sua atuação política. O ex-jogador e atualmente comentarista Walter Casagrande também publicou sua autobiografia, onde além da passagem pela Democracia Corintiana, conta sua luta contra a dependência química. Casagrande, aliás, é tema também de “Casagrande & Sócrates – uma história de amor” de Gilvan Ribeiro, que retrata a parceria dentro de campo e amizade fora dele entre os dois jogadores desde a época em que jogaram no Corinthians. O Dr. Sócrates, conhecido por suas convicções políticas – prometeu não jogar na Europa se o país aprovasse a emenda das Diretas Já em 1984, campanha em que se envolveu pessoalmente – é tema de

outros livros, como a biografia escrita por Tom Cardoso e o testemunho de sua última esposa Kátia Bagnarelli. Outros livros partem do futebol para entender o mundo e a sociedade, como faz o historiador Hilário Franco Junior, que já escreveu “A Dança dos deuses”, comparando a história política do Brasil com a do próprio esporte no país. Já o historiador Gerson Fraga partiu da derrota do Brasil para o Uruguai na Copa de 1950, para discutir o racismo e a visão que o brasileiro tem sobre si mesmo em “O Maracanazzo – uma triste história de futebol no Brasil”. Com tantas opções, o certo é que quando as letras invadem a linha do campo, quem ganha são os torcedores-leitores.

Falecido em 2015, seus amigos e editores decidiram homenageá-lo, reunindo outros textos sobre futebol numa nova coletânea, justamente batizado de “Fechado por motivo de futebol”. Galeano não foi o único craque das letras a escrever sobre o futebol. Seu conterrâneo, Mario Benedetti também escreveu contos sobre grandes jogadores ou sobre o futebol amador, como “O Ponta Esquerda”,

em que o craque de um time deve decidir se ganha a final de um campeonato ou aceita o dinheiro do time adversário para entregar a partida e ajeitar a sua vida. Os argentinos também têm longa tradição de histórias sobre o futebol, porém não são traduzidos para o portu-

guês e autores como Roberto Fontanarossa e Eduardo Sacheri são poucos conhecidos aqui.

Seleção de escritores no Brasil Mas a seleção brasileira de escritores também é admirável. Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, João Ubaldo Ribeiro estão entre os que já escreveram sobre esta grande paixão nacional. Entre os gaúchos está Aldyr Schlee, reconhecido e admirado tanto no Brasil quanto no Uruguai, com uma curiosidade: morador da fronteira, Schlee torce para a seleção uruguaia, mas na juventude foi ele quem criou a camisa canarinho, verde-e-amarela da seleção brasileira. Um dos primeiros integrantes deste time foi o jornalista e dramatur-

go carioca Nelson Rodrigues (1912-1980). Torcedor do Fluminense, as crônicas que escreveu fugiam do simples relato dos acontecimentos e eram verdadeiras declarações de amor ao futebol. Foi ele quem disse que o Brasil havia superado o seu complexo de vira-lata, o sentimento de inferioridade, ao conquistar a Copa do Mundo pela primeira vez em 1958. Suas crônicas foram reunidas em livros como “A Pátria de Chuteiras” e “Somos o Brasil”. Seu irmão, Mario Filho, também foi importante em defender o futebol na imprensa, foi ho-

menageado com o nome oficial do Estádio do Maracanã

TABELINHA GRENAL

Não perca as datas dos próximos jogos da dupla

Masculino

Masculino

Cruzeiro X Internacional 02/09 | 19h | Brasileirão

Grêmio X Botafogo 01/09 | 16h | Brasileirão

Internacional X Flamengo 05/09 | 21h45 | Brasileirão

Santos X Grêmio 06/09 | 20h | Brasileirão

Internacional X Grêmio 09/09 | 16h | Brasileirão

Internacional X Grêmio 09/09 | 16h | Brasileirão

Feminino

Feminino

Palestra X internacional 02/09 | 15h30 | Gauchão

Oriente X Grêmio 02/09 | 15h30 | Gauchão

Internacional X Estrela 16/09 | 16h | Gauchão

Grêmio X Rio Grande 16/09 | 16h | Gauchão


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