Jornal Brasil de Fato / RS - Ediçaõ Especial Humor

Page 1

INTERROGATÓRIO Porto Alegre 20/12/2019

Distribuição gratuita

Quando a ignorância é plena, a Terra é plana. (Fraga)

FALA, VERISSIMO! CALA, BOLSONARO!

4

páginas exclusivas

O Desmanche: Eu vim para destruir Consulta com Mãe Milícia Bolsonário, o dicionário de bolsonarês Dossiê: como o Brasil mergulhou na escuridão e muito mais para rir Nesta edição Santiago / Laerte/ Bier Edgar Vasques / Bennet Ernani Ssó / Rafael Sica Ayrton Centeno / Moa Hals / Schröder / Fraga Eugênio Neves / Solda Kayser / Jota Camelo Rafael Corrêa / Zimbres Alexandre Beck e muitos outros

JORNAL DE HUMOR #1


EDITORIAL

Fascismo diário é uma bosta pra democracia. Se Bozonaro fosse fascista dia sim, dia não, a bosta seria bem menor. (Fraga)

RI MELHOR QUEM RI AGORA

SANTIAGO

Aquele ano que não terminou ­­­– 1968 – foi o Ano do Macaco no calendário chinês. No Brasil, embora submetido ao calendário gregoriano, também foi um período simiesco. Foi o Ano do Gorila. Deve-se a variação a fato ocorrido numa sexta-feira 13, a decretação do Ato Institucional 5, mais conhecido como AI-5, ou seja: como uma interjeição de dor. Aquela sexta 13 não espalhou vampiros ou lobisomens. Abriu a jaula de monstros reais. Não há consenso se 1968 acabou ou não. Porém, cada dia mais gente desconfia que 1968 recomeçou em 2019. Até pela volta à moda da expressão “AI-5”. Na semana passada, o ato completou 51 anos – uma má ideia. E novamente numa sexta 13. Este Brasil de Fato muito bem humorado não é uma homenagem mas uma reação. Não de raiva mas de desprezo. Não vem com tristeza mas com uma risada. E com a esperança de preservar o direito de continuar rindo. O Brasil de Fato Humor nasceu de uma parceria entre a edição gaúcha e a Grafar, a Grafistas Associados do RS. A origem da aproximação foi a mostra censurada – e depois liberada judicialmente – da Grafar na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Agora, para esta edição risonha, a Grafar chamou gente do traço crítico de todo o país. Todos toparam este mutirão do riso. Quanto ao Ano da Desgraça de 2019, vale notar que ele não é feito só de horror, vergonha e aflição. Também registra o cinquentenário de nascimento de O Pasquim, que ousou rir da ditadura em plena ditadura. Apesar da censura, das perseguições e prisões, vingou-se de tudo ao sobreviver seis anos ao regime de exceção que combateu. Aliás, esta edição tem a honra de contar com quatro antigos colaboradores do velho pasca, a saber Luis Fernando Veríssimo, Fraga, Edgar Vasques e Santiago. Lembrar do semanário Achamos que o riso carioca que revolucionou o jornalismo no Brasil evoca a pode ser tanto uma arma lembrança dos bravos jornais defensiva – quando nos alternativos que encararam os conscientiza e ilumina – anos de chumbo – que, para a quanto de ataque. maioria da imprensa empresarial, foram anos de vinho e rosas. Assim, também prestamos nosso tributo a nanicos como Movimento, Versus, Ex, Opinião e, especialmente, ao gaúcho Coojornal. São nosso estímulo nestes tempos sombrios. Alguém poderá achar que, em época tão sinistra e trágica, rir da loucura que nos assola seria uma atitude descabida. Não pensamos assim. Achamos que o riso pode ser tanto uma arma defensiva – quando nos conscientiza e ilumina – quanto de ataque – ao escancarar o ridículo de quem nos oprime. Em vez de tanques, balas, gás lacrimogêneo e cassetetes, nosso arsenal é o humor. Que também mata. De riso. Então, não deixe para amanhã a gargalhada de hoje. Ri melhor quem ri agora.

CARTAS

UBERTI

Os Editores

Envio para vocês um lindo desenho da minha lavra. É obra muito superior a qualquer coisa que comunas, petralhas, psoleiros, anarcos e outros esquerdopatas como vocês seriam capazes de esboçar. Morram de inveja, gentalha! Heil Eu! (A.Hitler, Ninho das Águias, Alpes) R – Caro Adolfinho, teríamos prazer em publicar sua obra prima não fosse a má vontade do Fraga. “Não há espaço”, declarou o antifa. Ao saber do boicote, milhares de admiradores hoje morando em Brasília solidarizaram-se com você. Enviaram milhares de e-mails, whats e instas dizendo que estão ao seu lado no combate à arte degenerada. Deutschland Uber Alles! Brasil Acima de Tudo! VTNC%¨&*((($)##2+},{ çh  ç~]&-Z|{`POUYHJGT%¨¨&*& *)_+)&¨%$@112$%¨&*( L+9* (O. de Carvalho, Virgínia, EUA) R – Vá lavar essa sua boca, Olavinho!

nome como apelido do presidente de vocês. Chega! É um desrespeito comigo que tenho mais de 50 anos de carreira! Sou palhaço mas não aceito palhaçada. Tenho um nome a zelar! (Bozo) R – Querido Nariz de Bolota, juramos que não fomos nós que inventamos essa maldade daí. Compreendemos o seu drama. Deve ser terrível, embora incomparável a viver no país presidido pelo Boz... quer dizer por aquele cara lá, talkey? Envio esta missiva para felicitar nosso grande presidente que já entregou o Pré-Sal e a base de Alcântara e quer entregar a Amazônia, mais a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa etc. É um Brasil assim que sempre sonhei. Parabéns! ( Joaquim Silvério dos Reis, Minas) R – Sim, nobre traidor, se depender de vocês dois, esta terra vai cumprir seu ideal e voltar a ser um território colonial...

Informo a vocês que não aguento mais o processo de ridicularização que estou sofrendo. Nasci em 1946, nos EUA, e trabalhei em circos e TVs do mundo inteiro. Sei que virou moda usar meu

EXPEDIENTE Uma publicação eventual movida a maus ventos, piores eventos e baixos proventos. Suplemento de humor editado por Brasil de Fato RS Editores > Katia Marko, Ayrton Centeno, Fraga, Schröder Projeto gráfico > Hals Diagramação > Marcelo Souza Textos > Ayrton Centeno, Ernani Ssó, Fraga

#2 JORNAL DE HUMOR

Cartuns e charges > Bier, Dóro, Edgar Vasques, Eugênio Neves, Fabio Zimbres, Hals, Kayser, Moa, Rafael Correa, Rafael Sica, Santiago, Schröder, Uberti, Vicente. Convidados > Adão Iturrusgarai, Alexandre Beck, Bennet, Jota Camelo, Laerte, Latuff, Odyr, Orlando Pedroso, Solda Participação Especial > Luis Fernando Verissimo Fotografia > Tânia Meinerz © 2019 > Todos os direitos reservados Impressão > Gazeta do Sul Tiragem > 25 mil exemplares

tania.meinerz@gmail.com

Não há mais dúvida: Bozonaro é o político que melhor se despreparou para presidir o Brasil. (Fraga)


DOSSIÊ

Não existe concurso de brasileiros desequilibrados. Se existisse, com certeza Bozonaro desequilibraria a competição. (Fraga)

Como entramos neste túnel escuro sem fim?

BIER

Linha do Tempo: desde quando Roberto Jefferson sai da linha até o fim da linha dos dias atuais.

Até uma cor, o vermelho, foi estigmatizada nas passeatas pró-golpe

T

em aquelas perguntas que todo mundo faz sem uma resposta definitiva e satisfatória, tipo “Qual o sentido da vida?”, “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”ou “Onde estava o Carlucho naquela noite de 14 de março de 2018?” Mas há uma pergunta que todo mundo faz e achamos que podemos responder: “Como viramos isso daí?” É a pergunta essencial. Como a pátria amada passou a acreditar em mamadeira de piroca, terra plana, nazismo de esquerda, satanismo dos Beatles, kit gay e cocô dia sim, dia não para salvar a Amazônia? Pois é, a gente poderia iniciar contando esta história a partir da Revolução Francesa, mas morreríamos todos antes de chegar ao final. Então, vamos fazer um trajeto mais curto e começar com uma palavra engraçada com resultados nem tanto: Mensalão.

BIER

O pai do Mensalão é Roberto Jefferson. Quando um funcionário dos Correios, indicado pelo PTB, apareceu na TV recebendo propina, Jefferson sentiu-se com o alvo nas costas. Pediu proteção ao PT, não levou e chutou o balde. Mensalão seria uma grana que parlamentares receberiam para votar com o governo. O que nunca se confirmou mas não vinha ao caso.

2006

2005

Foi uma farra para os tucanos e a imprensa corporativa que, no fundo e na superfície, eram -- e continuam sendo -- a mesma coisa. FHC achou tudo tão engraçado que mandou deixar Lula sangrar, mas Lula não só reelegeria como elegeria e reelegeria sua sucessora, Dilma Rousseff.

2009

Enquanto a economia bombava e descobria-se o Pré-Sal, algo acontecia nos subterrâneos da política internacional. Um obscuro juiz de Curitiba, Sérgio Moro, era treinado em seminário bancado pelos EUA. No programa, a troca de informações secretas e a tecnologia das forças-tarefa. Logo teríamos mais notícias sobre o tema.

SCHRÖDER

Base de Sarney, Itamar, FHC e Lula, o PMDB trairia Dilma em 2016

Encurralado, Jefferson criou uma narrativa própria para a maior crise do governo Lula

O problema não é a tomada de três pinos. É Bozonaro ter um pino a menos na cabeça. (Fraga)

JORNAL DE HUMOR #3


DOSSIÊ

Tem quem ache que deviam fazer lobotomia no Bozonaro. E tem quem ache que já foi feita. (Fraga) EDGAR VASQUES

Nas jornadas de 2013, provocadores causaram tumulto e atraíram a repressão

SCHRÖDER

Praticando a justiça penal do inimigo, o nome Moro ganhou a mídia e as manchetes

EDGAR VASQUES

Uma coisa muito estranha aconteceu em 2013: manifestações de esquerda contra o aumento das tarifas do transporte urbano converteram-se, de uma hora para outra, em atos da direita e da ultradireita. Do nada, apareceram figuras e faixas pedindo a volta da ditadura militar. Descobriase um novo termo: guerras híbridas.

Empunhadas por madames, as panelas ecoaram a trilha sonora do golpe

2013

2015

KAYSER

Sem nenhum problema com a corrupção de Cunha, multidões vestiram verde e amarelo para ir às ruas e combater a corrupção. Socialites batendo panelas de grife e patos patrocinados pela Fiesp foram a nota pitoresca.

2015 Dilma era presidente mas existia um problema chamado Eduardo Cunha. Poupado pelo Supremo, apesar de seus rolos, o presidente da Câmara ganhou uma sobrevida para abrir um processo de impeachment sem crime de responsabilidade. EDGAR VASQUES

Com a complacência do STF, Cunha produziu e presidiu o impeachment de Dilma

KAYSER

A partir de 2014, o termo “Golpista” ganhou um sinônimo: “Coxinha” EDGAR VASQUES

Bancados eleitoralmente por Cunha, seus deputados seguiram fielmente o chefe

#4 JORNAL DE HUMOR

Em 2016, muitos patos achavam que lutavam contra a corrupção. Nunca foram tão patos

Há coisas na evolução que Darwin não conseguiu explicar. Aí veio o Bozonaro e tornou tudo mais inexplicável. (Fraga)


DOSSIÊ

Bozonaro já decretou: em vez de projetos, projéteis sociais. (Fraga) O assalto ao poder por Temer e seu grupo começa com a entrega do Pré-Sal

KAYSER

Desfechado o golpe, camisas amarelas e patos viraram sinônimo de pilhagem do país

SCHRÖDER

EDGAR VASQUES

EDGAR VASQUES

No Senado, confirma-se o golpe parlamentar

Traidor de Dilma, o vice Michel Temer forma, num país mestiço, um governo de homens, velhos, ricos e brancos. Vira motivo de espanto no mundo. De saída, congela gastos em saúde e educação. E começa a vender o Pré-Sal. É a “ponte para o futuro”, elogiam os jornais.

Um total de 359 deputados aprovou o impeachment, jogando no lixo 54 milhões de votos

2016

2016

2017

EDGAR VASQUES

A ponte vai se partir ao meio quando Temer é gravado sugerindo manter o silêncio de Cunha, preso em Curitiba. “Tem que manter isso aí, hein...”, diz na gravação. Ao contrário das previsões, Temer sobrevive até o final do mandato embora politicamente morto.

Cinquenta e quatro milhões de votos rumaram ao lixo na noite de 17 de abril de 2016. Foi a inacreditável sessão da Câmara dos Deputados que sacramentou o golpe contra Dilma, com personagens de tragicomédia votando e mandando recados para a mamãe, a titia, o vovô e o papagaio

EDGAR VASQUES

EDGAR VASQUES

O procurador Deltan Dallagnol virou astro da Lava Jato. Mas seu power point foi um fiasco Apesar da derrota, Dilma demonstrou força pessoal para suportar os ataques. EDGAR VASQUES

Mesmo com o apoio da mídia, ruralistas, empresários e banqueiros, Temer fará um péssimo governo

Bozonaro dorme com uma arma ao lado da cama. Daí nossos pesadelos. (Fraga)

Temer assumiu sob o ôba-ôba da mídia mas o país terminou 2016 mal das pernas

JORNAL DE HUMOR #5


DOSSIÊ

Brasil pré Bozonaro, Witzel, Crivella: quem tem cu tem medo. Brasil pós Bozonaro, Witzel, Crivella: até quem não tem cu tem pavor. (Fraga)

HALS

SCHRÖDER

Causa e consequência: sem Cunha não haveria Temer; sem Moro não haveria Bolsonaro

SCHRÖDER

Manipulada, parte da opinião pública viu em Lula a soma de todos os males do Brasil

ORLANDO PEDROSO

EDGAR VASQUES

Com Temer, o Brasil se dobrou a Trump. E agravaria sua submissão com Bolsonaro

O país levaria ao Planalto um deputado inexpressivo que costumava cochilar no plenário Depois do golpe, a cultura passou a ser desprezada e perseguida

2019

2018

HALS

Lula é o franco favorito das eleições. Mas o golpe não está concluído. Não faria sentido afastar Dilma e permitir a volta de Lula. Lula é preso e condenado pela propriedade de um sítio e de um apartamento que não são seus. É impedido de disputar a presidência, o que abre caminho para a ultradireita. Casualmente, Bolsonaro chama o homem que garantiu sua vitória para seu ministério. Sem querer querendo, Moro aceita. Depois de Temer e Bolsonaro, muita gente, que os apoiou, caso do cantor Lobão, percebeu a mancada. Mas era tarde demais.

Assim chegamos aonde estamos. Com a demonização da política e dos políticos e a criação do inimigo interno. Com os espertos produzindo fake news e os menos espertos engolindo cada uma delas. Com a ajuda imprescindível da mídia de uma nota só. Uma nota que nunca é dissonante. Com um presidente com apelido de palhaço dirigindo um governo que é um circo. E isso não tem graça nenhuma. SCHRÖDER

#6 JORNAL DE HUMOR

Pela apologia à tortura, incentivo às armas e às milícias, a próxima data nacional glorificada por Bozonaro deve ser Finados. (Fraga)


CONSULTÓRIO SENTIMENTAL

Bozonaro é um presidente que frequentemente viaja. Às vezes, de avião. (Fraga)

Ele diz, desdiz, contradiz. Não seria sinistro se não fosse nem juiz nem ministro. Sei, você nem imagina de quem falo. Melhor imaginar, a seu modo, o que ele ainda não disse. Mas nada impede que ele venha a dizer, desdizer, contradizer. “Quando o acusado não quer se locomover, a condução coercitiva é o sistema ideal de transporte do judiciário. Mas, se assim preferir, o acusado pode ir de táxi.” “Não abandonei a Lava-Jato. O fato de não frequentar a piscina não quer dizer que não se dá valor ao trampolim.”

MÃE MILÍCIA, AO SEU DISPOR

SANTIAGO

“Vazamentos, legais ou não, ajudam a ampliar a visão tanto da legalidade quanto da ilegalidade. Por isso acontecem.” “Critério, além de superestimado, é também muito relativo. Por outro lado, a falta de critério não está sujeita a essas distorções. Fora esses dois, tenho o meu próprio critério. Trouxe de Curitiba.” “Pode-se divergir e ser amigo e pode-se convergir e ser inimigo. É tergiversando que a gente se entende.” “Na interpretação da lei entram a objetividade e a subjetividade de cada um. Isso acrescenta elasticidade às leis. Acho que se todos interpretassem o Código Penal de uma única maneira isso seria extremamente tendencioso.” “A justiça é sempre justa. Mesmo com margem mínima, digamos 1% ou 2% de justeza, ainda assim não deixa de haver justiça, não é?”

Diciomoro

Por Fraga

“O projeto do governo de porte de armas não fere a lógica pacifista. O cidadão deve mirar apenas nos marginais, criminosos e outros inimigos da paz.” “Alianças podem ser feitas com aliados e com não–aliados. O importante é o ritual de aliar-se sob uma mesma discórdia.” “Cair em contradição é normal, mesmo entre anormais. Nos atos contraditórios, o positivo é a mudança de posição. Nas declarações e pronunciamentos que fazemos, devemos conviver bem até com a contradicção.” “A cegueira da justiça é altamente isenta: não se fixa em ninguém e vê mal a todos indistintamente.” “Não incentivo nem desestimulo milícias. Penso que preenchem um papel inibidor em meio a gente tão desinibida. Numa terra sem lei, a milícia pelo menos leva para lá uma semi–lei.” “Coerência, coerência, coerência. Tanta ênfase nessa coisa só a torna incoerente.” “A judicialização da política é irreversível, uma via de mão dupla: cada vez mais os políticos pedem nosso parecer e, em troca, nos parecemos cada vez mais com eles.” “As instituições vão bem, mesmo que não voltem.” “Minha ambição não é desmedida. O sistema métrico é que é incapaz de oferecer referência.” HALS

Trago seu amor em sete dias ou seu dinheiro de volta. Desfaço mandingas, bato tambor, afasto vício de carta e cachaça. Fale com Mãe Milícia e o Sol fará mais uma volta em torno da Terra e voltará a brilhar para você. Diga, meu filho, o que o aflige? Querida Mamãe, escrevo debulhando-me em lágrimas. Tinha emprego vitalício em Curitiba, onde fazia e acontecia, prendia e arrebentava. Larguei tudo, fui pra Brasília e agora ninguém me respeita. Vou tomar um pontapé nos fundilhos a qualquer momento. O que faço, mamãe? (Arrependido dos Pinhais) MM – Pára com isso, chorão! Toma jeito e prende o Queiroz! Ele tá aí embaixo...    Valei-me Mãe Milícia, Protetora dos Milicianos e Afins. Depositei muita grana nas contas daquela família, onde me chamam

Bozonaro voltou inspirado de Washington D. C. Quer renomear a capital federal para Brasília A. C. (Fraga)

de O Grande Benfeitor. Mas dizem por aí que vão entregar minha cabeça e livrar a deles. Estou inseguro, mamãe... (Quequé, compro, troco e vendo carros e faço rolos em geral) MM – Fuja, seu tramposo! Mas antes deposite algum pra mim...    Mãe Milícia, gostaria que olhasse na sua bola de cristal para saber quando teremos aquela cadeira vaga naquele palácio lá que a senhora sabe qual. Estou pronto para atender ao chamamento da nação. (H. Mourão) MM – O Queiroz taí em cima, Olho Gordo. Faz ele cantar e aquela cadeira vai vagar.    Ô, Mãe Milícia, seguinte ó: tô a fim de implodir aquele vagabundo, viu? Implodo ele, tá sabendo? (Delegado Waldir) MM – Mamãe tem dinamite pra você, Vavá. Passa aqui e pega.    JORNAL DE HUMOR #7


MEIO-AMBIENTE SANTIAGO

SANTIAGO

HALS

RAFAEL SICA

Bozonaro não precisava ir a Israel: nosso muro de lamentações já é bem maior que o de lá. (Fraga) KAYSER

FABIO ZIMBRES

Hoje é subversivo ou histérico ou delirante lutar contra o fim do mundo. Legal, como disse a pirralha, é acreditar no conto de fadas do crescimento ininterrupto – crescimento, aliás, que é muito bom pra 1% da população. Legal é apoiar grileiros, defender veneno, atribuir

INCENDIÁRIO, DESASTROSO, DESUMANO

todos os crimes aos pobres, incluído aí a própria pobreza. Do jeito que vai, não vai sobrar nenhuma goiabeira em que a Damares, no alto de seus galhos, possa ver Jesus ou hordas de bebês sendo masturbados por holandeses ferozes.

BENETT

KAYSER

BENETT

DÓRO

HALS

LAERTE

#8 JORNAL DE HUMOR

Só tem um jeito do Bozonaro topar ir ao Vaticano: basta o papa Francisco canonizar a Santa Ignorância. (Fraga)


Os empresários têm razão em temer as ideias sobre iniciativa privada de Bozonaro: ele entende mais de privada que de iniciativa. (Fraga)

ENTREVISTA

O nosso lado está com a razão mas o lado deles está armado Ao redor de Luis Fernando Verissimo, da esquerda pra direita: Fraga, Ernani Ssó, Schröder, Katia Marko, Edgar Vasques, Santiago e Ayrton Centeno.

P

or que o maior cronista brasileiro vivo aceitou esta entrevista? Não oferecemos grana nem glória – que glória, aliás, poderíamos oferecer a quem acaba de ter o romance O Clube dos Anjos traduzido para o mandarim? Aceitou pelo combate, o melhor deles, o combate à estupidez. Aí, deu no que deu: Luis Fernando Verissimo concedeu sua maior entrevista, tanto em número de perguntas como de respostas – para quem fala pouco, o homem fala pra chuchu. De quebra driblou, com brilho, não apenas o Bolsonaro como a malícia dos entrevistadores. Enfim, todos saímos ganhando, exceto o governo. Governo? Pobre palavra, como tantas outras, nas mãos dos brilhantes ustras da incomunicação. (Fotos: Tânia Meinerz) Ayrton Centeno – Lembro que, lá na virada do milênio, no auge do neoliberalismo, você disse que estávamos entrando em um novo século só não se sabia qual. E agora, já descobriu? Luis Fernando Verissimo –

A gente só conhece o futuro quando ele chega, e aí não é mais futuro, é presente, e irreversível. Quem diria que o século em que estávamos entrando, no Brasil, era o 19? Ernani Ssó – Quando Bolso-

naro disse I love you ao Trump não deveria estar vestido de rosa, conforme orientação da ministra Damares? Verissimo – Dizem que o mais constrangedor foi o Bolsonaro pedir uma mecha do cabelo do Trump e oferecer, em troca, a Petrobras. Centeno – Além do amor trumpiano, não lhe parece contraditório que o presidente, um homofóbico explícito, insista em tiradas como aquela quando disse querer “continuar transando” com o Alexandre Frota ou declare que “casou errado” com o vice Mourão e deveria ter “casado” com o príncipe? Verissimo – O presidente estava obviamente usando linguagem figurada, como quando afirmou que mataria um filho que aparecesse namorando um bigodudo, ou o mandaria para um exilio

Se dinheiro na mão é vendaval, o cartão corporativo do Bozonaro é ciclone tropical nos cofres públicos. (Fraga)

na nossa embaixada em Washington. Só não ficou claro o que o presidente tem contra bigodudos. Ernani – A propósito, é verdade que o Carlucho se tratou com o Analista de Bagé? O senhor teve acesso ao diagnóstico? Verissimo – O Analista aceitou analisar o Carlucho e o recebeu com um joelhaço, causando inveja em grande parte da população. Fraga – Pra fazer arminha, Bozo usa um marco evolutivo, o polegar opositor, e o indicador, o dedo mais acusatório de todos. Como o Analista de Bagé interpretaria esse gesto? Verissimo – O dr. Freud diria que tem alguma coisa a ver com a tal inveja do pênis. Santiago – No embalo em que vamos, achas que chegaremos a um estado teocrático

JORNAL DE HUMOR #9


ENTREVISTA

Bozonaro revê aposentadoria: quem não alcançar em vida o tempo de se aposentar terá direito ao benefício após a exumação do cadáver. (Fraga)

Centeno – Paulo Guedes declarou que os pobres não sabem poupar. Como mais da metade da população vive com até R$ 413 mensais, parece que o ministro da economia fez faculdade sempre colando na prova de matemática. Ou não? Verissimo – Guedes tem razão. Se todos os pobres do Brasil poupassem seu dinheiro nossos problemas estariam resolvidos, sem necessidade de um ministro da Economia. Mas os pobres insistem em gastar seu dinheiro em supérfluos, como comida. Assim não dá.

O dia em que Luis Fernando Verissimo falou quase tanto quanto ouviu.

evangélico com obrigatoriedade de saias maria-mijona para mulheres e proibição de Darwin nas escolas? Verissimo – Deus criou o mundo em seis dias e aproveitou a folga do sétimo para calcular quanto as igrejas lucrariam não tendo que pagar impostos, não Lhe sobrando tempo para fazer a Terra redonda em vez de plana, como era no projeto original. Se você não acredita nisso prepare-se porque a Inquisição vem aí. Fraga – Bozonaro morre (eba!) e, por engano qualquer na passagem da alma pro além, ele vai pro céu. Imagine o seguinte: como Ele receberia ele? O que Bozonaro ouviria de Deus? Verissimo – Deus cobraria do presidente: “Que ministério é esse, seu Bolsonaro? Assim, nem Eu posso ajudar, o que dirá o dr. Olavo”. Celso Schröder – Se o aquecimento global é marxista podemos deduzir que o período glacial tenha sido um momento weberiano da história? Verissimo – Todo o mundo sabe que a Era Glacial teve inspiração comunista e os vulcões são controlados pelo Greenpeace. E que o óleo que deu nas praias grã-finas era um claro episódio da luta de classes. Ernani – Que medidas pode-

#10 JORNAL DE HUMOR

mos tomar para que o reino miliciano-evangélico saia do Velho Testamento e chegue, pelo menos, ao Novo? Verissimo – Não sei qual seria a vantagem. O Velho Testamento tem pelo menos personagens mais interessantes e variados. O Novo é só Jesus, Jesus, Jesus... Enjoa. Fraga – Vamos supor o clássico clichê com o Bozonaro: que um dia ele fosse, de espontânea vontade, pruma ilha deserta. Que livros, discos e filmes tu achas que o deprimente da república levaria? Verissimo – Gibis do Capitão América.

LFV e Ernani Ssó

Ernani – Por falar em clichê, digamos que você, num desses acasos tão comuns nas anedotas, está em um elevador com o Bolsonaro, o Moro e o Guedes e a joça tranca entre dois andares. Você daria uma bolacha em cada um e depois alegaria escusável medo, surpresa ou violenta emoção? Verissimo – O difícil seria decidir em quem bater primeiro. O Guedes não porque

só ele sabe como fazer o elevador funcionar, ou diz que sabe mas não conta? O Moro porque nem registraria o golpe, continuaria com a mesma cara de “o que é que eu estou fazendo aqui?” e saudade de Curitiba? Ou o Bolsonaro por qualquer razão? Centeno – Como um amante da natureza, você também segue aquela incrível receita presidencial – um dia sim, outro não – para preservar o meio-ambiente? Verissimo – Dias intercalados para fazer amor, é essa a receita para preservar a natureza? Se der para acumular os dias de abstinência da semana para dar seis seguidas no sábado, sou a favor. E ainda dizem que este governo não tem ideias! Schröder – No teu entendimento, qual o ministro realiza melhor o projeto de gestão intelectual e técnica anunciada pelo Bolsonaro? Verissimo – A competição entre ministros e secretários de governo é grande e fica difícil escolher o pior. No momento a liderança está entre o novo chefe da Funarte, segundo o qual o rock leva ao satanismo, e a conselheira cultural que disse que dois minuto de sexo bastam para impregnar uma mulher e mais do que isso causa dependência e socialismo.

Ernani – Li que só nos primeiros 271 dias de governo, Bolsonaro, enquanto repetia o versículo bíblico de que devemos saber a verdade porque a verdade nos libertará, deu 360 declarações falsas ou inconsistentes. Se Bolsonaro fosse o Pinóquio, quantos metros de nariz teria? Verissimo – O nariz do nosso Pinóquio estaria dando a volta na quadra. Centeno – Agora, falando mais sério: você algum dia na sua vida imaginou que o Brasil se transformaria nisso daí? Verissimo – Sou otimista. Ainda acredito que acordaremos e descobriremos que foi tudo um sonho ruim, e estamos na Dinamarca.

LFV e Santiago

Santiago – Tu achas, como eu, historicamente imperdoável as lideranças democráticas do centro até a esquerda não terem se unido e criado um frentão-alternativa para evitar a evidente eleição do monstro? Quer dizer, não aprenderam nada com a história da Alemanha de 1930 nem com a tentativa do Le Pen ser presidente na França... Verissimo – A história da esquerda no Brasil é uma história de oportunidades perdidas. A desunião permitiu que a direita vendesse a ficção da esquerda como cul-

Bozonaro ano passado na Fiergs: “Sou capitão do Exército, minha especialidade é matar.” Imaginem a dos seus eleitores. (Fraga)


ENTREVISTA

Muitos mentem sobre seu diploma de Harward. Bozonaro, não: o dele é de Backward. (Fraga) pada de um atraso que ela mesma criou, em sucessivas derrotas de qualquer alternativa progressista a uma elite inconsciente, desde o Descobrimento. Em resumo. Centeno – Tem gente que acha que Bolsonaro e sua trupe nos prestaram um serviço: destamparam a face mais estúpida, sórdida e violenta do país que nunca havia aflorado até então. Você acha que devemos dizer “Obrigado” para ele? Verissimo – A estupidez não é novidade no Brasil, temos uma história de ódio e violência que vai longe. A novidade é a estupidez com acesso às redes sociais.

LFV e Fraga

Fraga – Faz de conta que dá pra fazer um amigo secreto com o povo todo e tu, por imenso azar, é sorteado com o nome do Bozonaro. Considerando o clima natalino, que presente tu escolherias pra ele? E por que justamente esse? Verissimo – Um presente de amigo secreto para o Bolsonaro? Se o preço não for empecilho, uma passagem de ida. Para onde? Se a passagem for

só de ida, quem se interessa? Centeno – A sociedade brasileira está, como nunca, polarizada. Amigos rompem relações, famílias se dividem. Pior é que pessoas que você pensava que conhecia, de repente, aparecem falando em terra plana e votando em Bolsonaro. Você viveu esta experiência? Verissimo – Sei que já tem gente usando faixas na testa com os dizeres “Estou com o Bolsonaro”, “Sou contra o Bolsonaro” e “Não quero falar de política”, sem as quais nenhum tipo de vida social será possível. Centeno – Voltando àquela outra questão: lembra daquele clássico B de ficção científica, Invasores de corpos, do Don Siegel? Aquele onde as pessoas, ao dormirem, são substituídas por vagens vindas do espaço e se transformam em cópias sem empatia alguma. Não lembra algo familiar? Verissimo – Estamos nos transformando em vagens. Hmmm... De certa maneira é um futuro menos assustador do que a reeleição do Bolsonaro com o Alexandre Frota como vice. Ernani – Se o governo Bolsonaro tem razão e a Terra é mesmo plana, o que será dos antípodas? Verissimo – Pois é. E não explicam como os ursos brancos do Norte e os pinguins do Sul ainda não se encontra-

ram no vortex da Terra plana, para confraternizar. Schröder – Para ti, o centro da bandeira brasileira está composto por uma esfera azul representando o universo ou um disco azul como a terra plana representando o Olavo de Carvalho? Verissimo – Não devemos fazer pouco do dr. Olavo, que pode nos desintegrar com uma descarga do seu bastão energizado por emanações de Júpiter. Com certas coisas não se deve brincar, gente. Centeno – Durante muito tempo, nossas elites sentiram-se afrontadas por Marx, homem do século 19. Hoje, parece que se sentem afrontadas por Copérnico, homem do século 16, que comprovou que nosso planeta gira em torno do Sol. Qual será a próxima conclusão secular da ciência que iremos afrontar? Verissimo – Dizem que Copérnico, Galileu, Darwin e todos os opositores do criacionismo serão banidos dos livros escolares brasileiros e substituídos pela nova teoria do evolucionismo militar, segundo a qual toda a raça humana começou como soldados rasos e foi subindo de grau. Santiago – Alguns humoristas da Alemanha avaliaram, no pós-Segunda Guerra Mundial, que as críticas mais folclorizaram o führer do que diminuíram sua imagem jun-

to ao povão. Corremos também esse risco? Verissimo – Há esse perigo. Não dou duas gerações para que “bolsonaro” vire adjetivo, como elogio ou danação, dependendo de quem o usar e da memória de cada um. Ernani – Todo governo mente, claro, mas o caso do reinado Bolsonaro é especial: os mentirosos não apenas mentem como parecem, eles próprios, acreditar nas mentiras que dizem... Verissimo – No caso do Bolsonaro o rei não só está nu como desfila com uma radiografia computadorizada do seu interior, e mesmo assim poucos, curiosamente, gritam “Ele está nu!” Fraga – Bozonaro tem uma fraquejada e pede aos cidadãos cartas com sugestões pra melhorar seu modo de governar o Brasil. Tu também fraquejas e atende ao pedido. Quais enviarias? Verissimo – “Renuncia!”

LFV e Katia Marko

Katia Marko – Não tem um momento em que a gente olha ao redor e pensa que virou personagem de um novo gênero literário, a comédia de horror? Verissimo – É verdade. E o pior é que ninguém nos perguntou se queríamos estar no elenco. Ernani – Como se explica que o anticomunismo tenha sobrevivido ao comunismo? Verissimo – Vê-se tão poucos comunistas hoje em dia porque estão todos embaixo das camas dos anticomunistas, como urinóis esquecidos.

Júbilo e regozijo pela volta da Terra ao seu formato original

A Censura é algo impensável. Mas Bozonaro só pensa nisso. (Fraga)

Centeno – “Agora é guerra” você escreveu recentemente sobre a loucura que estamos vivendo. O problema é que, do outro lado, estão as milícias... Verissimo – O nosso lado está com a razão mas o lado deles está com os AK 154, certo. Mas lembrem-se que o

JORNAL DE HUMOR #11


ENTREVISTA

Vergonha alheia todo mundo pode sentir. Mas quem sente as piores são as ex-professoras do Bozonaro e do seu sinistro da educação. (Fraga) talvez desenvolva uma lógica para explicá-lo. Para a História, o tempo acaba explicando até o ilógico. Quanto ao papel da mídia, não existe uma mídia só. Entre coniventes, subservientes, bem e mal-intencionados, heroicos e bandidos, tivemos de tudo. Acho que com o tempo a História também nos compreenderá.

Encontro memorável na casa da Felipe Oliveira em 12/11/2019

David não precisou de mais do que um estilingue. Fraga – Dá pra imaginar como são as reuniões do condomínio do Bozo, com ele presente? Qual seria uma pauta típica? Verissimo – Discutiriam, certamente, a contratação de porteiros mais confiáveis.

LFV e Edgar Vasques

Edgar Vasques – Será que a sala de reuniões lá no condomínio do capitão tem detector de metais? Verissimo – Além de detector de metais e câmeras, a sala de reuniões do condomínio deve estar cheia de gravadores, esperando a hora de serem ouvidos na hipotética comissão que um dia investigará tudo isto, ao menos em sonho. Santiago – Millôr disse que nós, humoristas, somos muito importantes para sermos presos, porém não tão importantes para que nos soltem. E então? Verissimo – Humoristas presos e humoristas soltos são uma tradição no Brasil

#12 JORNAL DE HUMOR

desde o Barão de Itararé. Infelizmente, humoristas, jornalistas e intelectuais presos e mortos também são uma tradição, menor mas não menos lamentável. Entre presos e soltos ninguém deveria estar nessa estatística tétrica num país civilizado. Fraga – Quando o Bozo chega tarde em casa, por causa de um dia problemático no palácio, que tipo de desculpas ele daria pra Michele? Ou ele contaria tudo que se passa lá? Verissimo – “O Congresso me sacaneando de novo, a imprensa não largando meu pé, e você pergunta se o meu dia foi bom, Michele? Você anda vendo seriado da TV americana demais, querida”.

LFV e Schröder

Schröder – Entre o Cabo Anselmo, o Tenente Bolsonaro e o General da Banda, quem representa melhor a tradição militar brasileira? Verissimo – Sem dúvida o General da Banda, que nos impede de desesperar por completo dos nossos militares.

Ernani – Naquela velha comédia One, two, three (no Brasil, como sempre, ganhou um título “criativo”: Cupido não tem bandeira) do Billy Wilder, um jovem acha justo que a humanidade seja varrida da terra. Então, o personagem do James Cagney responde: “Não se saiu tão mal uma espécie que deu o Taj Mahal, Shakespeare e a pasta de dentes com listinhas”. Bom, Bolsonaro não criou a estupidez que se vê do Oiapoque ao Chuí, apenas levou as pessoas a ostentarem ela na rua e baterem no peito com orgulho. A pergunta é: depois disso a espécie tem alguma defesa, apesar da pasta de dente com listinha? Verissimo – Além de Shakespeare, do Taj Mahal e da pasta de dente com listinha eu teria uma enorme relação de justificativas para a passagem do homem sobre Terra, começando pelo pudim de laranja e terminando pelo Charlie Parker. A espécie não é culpada pelos seus dementes e torturadores. Edgar Vasques – Como imagina que os historiadores descreverão este período que enfrentamos? Que começou em 2016 e virou demência em 2018. E qual o papel da mídia na abertura das portas do inferno? Verissimo – A História terá dificuldade em entender o fenômeno Bolsonaro, mas

Centeno – A propósito, o jornalista H. L. Mencken tinha uma definição implacável do jornal médio dos EUA. Diz que tinha “a inteligência de um carola caipira, a coragem de um rato, a imparcialidade de um fundamentalista, a informação de um porteiro de ginásio, o gosto de um criador de flores artificiais e a honra de um advogado de porta de cadeia”. E os nossos? Verissimo – Mencken era um misantropo genial. O que ele pensava da espécie humana se multiplicava quando comentava a imprensa do seu país. Não sei se a nossa imprensa merece um rancor parecido. Ou talvez não mereça outra coisa. Ernani – Bolsonaro quer transformar todas as escolas em escolas militares. Mas, considerando o nível intelectual do general Heleno, do general Mourão e do próprio Bolsonaro, não é de se pensar que a inteligência militar é uma contradição em termos, como dizia Gore Vidal? Verissimo – Escolas militarizadas são a consequência natural do espírito que se instalou no país, com a eleição do Bolsonaro. Vamos ver qual será a primeira a receber o nome Coronel Ustra.

LFV e Ayrton Centeno

Centeno – Admitindo-se a hipótese criacionista – o que parece ser questão de tempo nas escolas públicas ou não – onde Deus errou ao criar o Brasil? Verissimo – Deus criou um paradoxo, um país gigantesco e menor ao mesmo tempo.

“Só sei que nada sei.” (Atribuída a Sócrates) “Só sei que acima de tudo ignoro todos.” (Distribuída por Bozonaro) (Fraga)


Se não fossem os esforços do Bozonaro pai e Bozonaro filho, diplomacia e gafe ainda seriam coisas muito diferentes. (Fraga) BENETT

A OFICINA DE DESMANCHE DO SEU JAIR

ARTIGO

SCHRÖDER

Por Ernani Ssó

SANTIAGO

VICENTE

ORLANDO PEDROSO

KAYSER

O governo Bolsonaro é uma oficina de desmanche. Os carros são roubados à luz do dia, sob a indiferença ou aplauso de pistoleiros da milícia mediática, que no máximo estão chocados com as grosserias do seu Jair, como se elas não estivessem no ar há quase trinta anos. Todas as frotas estão em perigo, mas os carros do trabalho são dos mais visados. É que os passageiros são de uma idiotice sem remédio. Pra você ver, 104 milhões deles ganham 413 reais ou menos por mês. Daí, o que fazem? Economizam pra investir na Bolsa? Não, não, torram nos vícios mais sórdidos, como uma ou duas refeições diárias. Então a milícia vai lá e rouba os carros e passa para os banqueiros, que comprovadamente sabem o que fazer com dinheiro. Os carros da educação, da ecologia e da ciência também são depenados. É simples: esses carros só criam problemas, como negar o criacionismo, ou levar inocentes a antros de marxismo cultural, onde aprendem coisas libidinosas como serem os mafiosos os únicos neoliberais que manjam de lógica: sem um Estado pra atrapalhar, o mercado se autorregula, com a livre concorrência garantida pelos fuzis Kalashnikov. Diante de pecados desse naipe, só mesmo despedaçando os carros todos e passando adiante. Sem falar que sem educação, sem arte e sem ciência será mais fácil manter o povo no mesmo nível de estupidez do dono da oficina. Mas esses carros não estão dando lucro? O que se arrecada por eles não é bem menos do que valem e infinitamente menos do que o lucro que proporcionariam? Ora, quem se importa com detalhes? Vá fazer um curso de economia em Chicago, depois a gente fala, seu zé mané. Nem os carros da justiça escapam da oficina do seu Jair. Esses carros têm um modelo especial desde sempre: carcaça de Ferrari e motor de Gordine. Devido a um milagre tecnológico, funcionam melhor em certos bairros e enguiçam em outros. Mas agora os mecânicos do seu Jair estão trocando o motor por jegues de última geração pra que os carros fiquem mais confortáveis pra seus familiares.

Coerente, o Bozonaro: um presidente sem visão que isenta o visto dos americanos. (Fraga)

KAYSER

VICENTE

SCHRÖDER

JORNAL DE HUMOR #13


CRÔNICA

Trump e Bozonaro enfim juntos. Imperdível oportunidade para a construção de um muro - em volta dos dois. (Fraga)

PROMISCUIDADE

BENETT

Luis Fernando Verissimo

N

o mesmo condomínio da Barra, no Rio, onde mora o presidente da República, quando não está em Brasília, mora um filho do presidente, mora um dos suspeitos de ter matado a Marielle (preso, no momento), mora o dono até agora não identificado da casa onde encontraram todas aquelas armas, moram os três porquinhos pobres e o lobo mau, que compreensivelmente não se falam quando se cruzam na área social do condomínio, moram Cinderela e suas irmãs invejosas, que também não podem se enxergar, e uma lista de condôminos inimagináveis que só agora começa a ser conhecida. A lista é enorme e cheia de surpresas. No estranho condomínio, Batman e o Coringa são quase vizinhos. Quem se espanta com a presença do suposto assassino da Marielle morando tão perto de um presidente da República vai se espantar ainda mais com a revelação de que as armas – sobre as quais nunca mais se ouviu falar – tinham chegado para a milícia da zona, via Sedex, e recebidas pelo porteiro do condomínio. Mais tarde o porteiro diria que vira o tamanho dos pacotes e as pontas de ferro aparecendo e concluíra que eram patinetes.

JOTA CAMELO

LATUFF

Lá estão Zorro e o Sargento Garcia, lá estão Eliot Ness e Al Capone, lá estão Tom e Jerry morando na mesma casa, mas em eterna briga pelo uso da piscina. Lá estão desafetos históricos vivendo numa promiscuidade improvável da qual ninguém tinha ideia. Sherlock Holmes e o dr. Moriarty! A intervalos, há trégua entre os vizinhos para tentar diminuir a tensão causada pela promiscuidade insana. Os Montecchios e os Capuletos, que ocupam lados opostos do condomínio e vivem em constantes choques dos quais nunca ficamos sabendo, unem-se para fazer uma macarronada comunitária. A ideia original era fazer um churrasco, mas os espetos acabariam fatalmente transformados em espadas. O banho de sangue seria inevitável.

#14 JORNAL DE HUMOR

SCHRÖDER

O que Bozonaro foi fazer no G20? Ele nem sabe como funciona o G4! (Fraga)


IDEOLOGIA

A lógica do desrespeito ao luto: Se Bozonaro não tem compaixão pelos vivos, por que teria com os mortos? (Fraga) JOTA CAMELO

KAYSER

MOA

ADÃO ITURRUSGARAI

ORLANDO PEDROSO

Ideologia, segundo o bolsonarês, é a defesa dos crimes do comunismo e a ignorância das virtudes do capitalismo, mesmo na forma de milícias. Comportamento ideal, para os inimigos, é seguir os Dez Mandamentos. Para os amigos e para si mesmo, basta

ODYR

JOTA CAMELO

FASCISTA, GROSSO, HIPÓCRITA

recitar os Dez Mandamentos em público. Religião? Desde que Deus esteja acima de todos, dando lucro para as igrejas, e a saia das mulheres esteja abaixo dos joelhos, tudo irá bem, os anjos da guarda não deixarão você despencar na borda da Terra.

KAYSER

KAYSER

EDGAR VASQUES BENETT

BENETT LAERTE

Bozonaro disse que pretende pacificar o país. Taí uma promessa de grosso calibre. (Fraga)

JORNAL DE HUMOR #15


ECONOMIA / EDUCAÇÃO / CULTURA

O pior prognóstico sobre a saúde do Bozonaro é o seguinte: ele continua saudável e presidente. (Fraga) JOTA CAMELO

RAFAEL CORRÊA HALS

BENETT

Cada vez que Bolsonaro ouve falar em cultura faz arminha. Quando ouve falar em educação, chama o Abraham Weintraub que chama educação de “balbúrdia”. Quando Bolsonaro ouve falar em cultura, chama um tal Alvim que chama a Fernanda Montenegro de “sórdida”. E o tal Al-

EDGAR VASQUES

ORLANDO PEDROSO

MESQUINHO, INCULTO, ESTÚPIDO

vim chama um cara chamado Mantovani que chama o rock de coisa demoníaca, chama John Lennon de amigo do Capeta e chama a CIA de infiltrada pela KGB para distribuir LSD em Woodstock e destruir a família ocidental e cristã. E ninguém chama um psiquiatra pra esses caras...

RAFAEL SICA

EDGAR VASQUES

BENETT

LAERTE

HALS

ALEXANDRE BECK

#16 JORNAL DE HUMOR

Em 2019 Bozonaro teve alta várias vezes. Ainda bem que nenhuma foi de popularidade. (Fraga)


Tá na hora de aportuguesar aquela familiar associação racista, troglodita e homofóbica: a Cu Clux Clã dos Bozonaro. (Fraga) SCHRÖDER

EDGAR VASQUES

FAKE NEWS / LAWFARE FABIO ZIMBRES

SANTIAGO KAYSER

ADÃO ITURRUSGARAI

BENETT

SANTIAGO

Na falta de outra facada, Bolsonaro diz que tem câncer. É desmentido em horas. Nada mau, pra quem foi eleito cantando contra a corrupção e espalhando mamadeiras de piroca. Suas mentiras nada têm de astúcia, são folclóricas de tão toscas. O perigo são os que tiram vantagem de tamanha estupidez.

MENTIROSO, IRRESPONSÁVEL, MANIPULADOR

KAYSER

EDGAR VASQUES

Aos amigos tudo, aos inimigos a Justiça? Isso foi aperfeiçoado, porque a Justiça dá trabalho, leva tempo – uma verdadeira chateação. Melhor seguir as convicções, fortemente embasadas em falta de provas e apoio da mídia com quem compartilha a inimizade.

RAFAEL CORRÊA

Bozonaro homenageou Schwarzenegger com certificado pela trajetória. Faz todo sentido: são dois exterminadores do futuro. (Fraga)

JORNAL DE HUMOR #17


DITATURA / VIOLÊNCIA JOTA CAMELO

Bozonaro na Hebraica de SP foi infeliz contradição: afinal, o que ele propõe são novos holocaustos pra outras minorias. (Fraga) SOLDA

SANTIAGO

HALS

Falem o que quiserem falar, mas Bolsonaro é um crítico da ditadura de 1964. Acha, como declarou publicamente, que o grande erro do regime foi torturar e não matar. O que revela certa ignorância presidencial já que a ditadura praticou as duas coisas com grande competência, além de desmembrar,

DÓRO

BENETT

MILICO, AUTORITÁRIO, VIOLENTO

retalhar e queimar corpos em fornos, como certo senhor de bigodinho também fez algumas décadas antes. Mesmo assim, como cara generoso que é, Bozo empregou 2.500 milicos no governo. Deve ser uma espécie de segunda chance. Deus, acima de todos, nos acuda.

SANTIAGO

KAYSER

ORLANDO PEDROSO

BENETT

#18 JORNAL DE HUMOR

Agora se sabe quanto é profunda a homofobia de Bozonaro: foi pânico que o cuspe de Jean Wyllys transmitisse ética. (Fraga)


DICIONÁRIO

Bozonaro redefiniu a Amazônia: de pulmão do mundo a enfisema do planeta. (Fraga)

Aprovado pela ABL (Academia Brasileira de Laranjas), trata-se de documento pioneiro a revelar a nova língua do poder. Nela, acontecem dois fenômenos: 1) palavras passam a ser pronunciadas e escritas de modo diferente; 2) palavras e termos preservam a escrita mas trocam seu significado. Tornou-se instrumento essencial para entender o idioma falado na Esplanada dos Ministérios Acepipes – Asseclas, na compreensão do ministro Abraham Weintraub, da Educação. Barack Obama – Agente russo, segundo a sacada do xamã bolsonarista Olavo de Carvalho. Bob Esponja – Gay, para a ministra Damares Alves. Canclomo – Conclamo. É a maneira de dizer “conclamo” de Jair Bolsonaro. Ele também fala “conclomo”.

usou esse neologismo fétido, Bolsonaro respondeu: “Não sei, me veio na cabeça...” Estadista – Alfredo Stroessner, antigo ditador pedófilo do Paraguai. Como “estadista” foi lembrado por Bolsonaro. Flácidas – Plácidas, segundo Jair Bolsonaro, o que significa que aprendeu no quartel a cantar “Ouviram do Ipiranga as margens flácidas...” Goiabeira – Árvore que produz goiabas e jesuses. Insitar – Incitar. O ministro da educação educa o país, “insitando-o” a escrever besteira. Isso daí – Qualquer coisa desde uma unha encravada até as oscilações da Bolsa de Chicago. Kafta – Kafka, no falar de Weintraub. Para o ministro, o escritor Franz Kafka e o espetinho árabe são a mesma coisa, tipo “universidade” e “balbúrdia”.

Paraíba – Qualquer morador do Brasil acima de Minas Gerais, na definição presidencial.

Satélite da Terra – Sol, de acordo com a descoberta do astrônomo Olavo de Carvalho.

Novaiorquines – Novaiorquinos são chamados assim por Bolsonaro.

Show de besteiras – Definição do governo Bolsonaro pelo general Santos Cruz.

Peixe – Animal cuja inteligência supera a da família Bolsonaro somada e multiplicada por 17. Pepsi – Refrigerante adoçado com fetos, segundo Olavo de Carvalho. Pinochet – Saudoso general chileno, cujo erro foi matar pouca gente, na opinião presidencial.

Síndrome de Drown – Ou seja, síndrome de afogamento. No dizer de Bolsonaro, é assim que devemos chamar a alteração genética conhecida como síndrome de down. Testo – Texto (Sérgio Moro)

Planeta Terra – Gigantesca superfície achatada em forma de pizza, composta de água, rochas e terra, em cujas bordas os navegadores correm o perigo de despencarem no perau cósmico.

Bolsonário, o primeiro e único dicionário de bolsonarês

Por Ayrton Centeno e Santiago

Ladrão – Brasileiro quando viaja. Foi como nos definiu o ex-ministro Vélez Rodriguez.

Chavão – Bordão ( Jair Bolsonaro) Cidadão de bem - Pai de família cristão e caridoso que, ao encontrar um bandido, enche-o de tiros, esquarteja-o, espreme-lhe os miolos, faz guisado e mija no que sobrou. Cidadões - Neologismo obrado pelo ministro da educação. Colheita – Coleta (Sérgio Moro) Conge – Cônjuge (Sérgio Moro) Dejeitos – Paçoca de dejetos e rejeitos. Perguntado porque

Laranja – Fruto da laranjeira que, no governo Bolsonaro, ganhou muitas novas variedades entre elas a Queiroz, difícil de encontrar pois está sempre encoberta; a Ministro Marcelo, que dá muito em Minas; a Candidata Fake, comum em todo o Brasil. Liquidificador – Arma de última geração desenvolvida pela indústria bélica Walita e mais temível que revólver, pistola ou fuzil, de acordo com o ministro Ônix Lorenzoni. Mancha a xuxa, zé – Massachusetts, na pronúncia de Sérgio Moro. Nataniel – Netanyahu, primeiro-ministro de Israel ( Jair Bolsonaro)

Ponta da praia – Na ditadura, “ponta da praia” era uma prisão clandestina onde se praticava tortura, assassinato e desova de cadáveres. “Petralhada, vai tudo vocês pra ponta da praia”, prometeu Bolsonaro. Posso – Poço, na escrita do senador Eduardo Bolsonaro. Vê se posso!

Theodor W. Adorno – Filósofo marxista alemão e verdadeiro autor de todas as canções dos Beatles por ele criadas para destruir a juventude ocidental, branca e cristã. Antes desta revelação de Olavo de Carvalho, os tolinhos acreditavam que as músicas eram de Lennon&McCartney.

Prova – Convicção (Sérgio Moro)

Ventrículo – Ventríloquo (Eduardo Bolsonaro)

Provisões – Previsões (General Heleno)

Termostato – Termômetro (Ernesto Araújo)

Rugas – Rusgas, no palavreado de Sérgio Moro. “Estas com muitas rusgas na cara, minha conge...”, poderá comentar.

Tonho da Lua – Carlos Bolsonaro. Tonho da Lua é um personagem de novela da TV Globo perturbado e com rompantes de raiva.

Nazismo – Doutrina de esquerda que teve como maior divulgador um cabo austríaco de bigodinho, conhecido como Adolf, o Vermelho.

Na maioria das pessoas, a raiva é passageira. No caso do Bozonaro, é condutora. (Fraga)

EUGÊNIO NEVES

O dicionário aumenta a cada dia. Está aumentando agora no exato momento em que você lê estas linhas. É uma obra aberta e em progressão. A gente sofre mas se diverte.

JORNAL DE HUMOR #19


AUTOCRÍTICA

PERDÃO, LEITORES

P

erdão, leitores, mas o suplemento nem tentou entrevistar o astronauta e ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, para esclarecer de uma vez por todas a esfericidade ou chatura da Terra. Também não

se empenhou em encontrar os professores que alfabetizaram ministros e assessores, começando pelo do Abraham Weintraub e do Moro e respectiva conja. Deixou ainda de confrontar a dona Damares com uma verdade simples: os criacionistas são a prova de que boa parte dos homens ainda descende do macaco e que governo algum precisa de uma ala símia. O suplemento não abriu suas páginas para a autocrítica da mídia. Pelo menos as Organizações Globo podiam explicar como chamam de jornalismo isento suas campanhas de apoio, desde sempre, ao que há de mais sórdido no Bananão. Também não deu um parágrafo para FHC, que se diz sociólogo e é o queridinho da elite bananense, explicar como a abolição da escravatura se chama abolição se apenas aperfeiçoou a escravidão. Não ofereceu nem uma linha para o Judiciário explicar para os leigos o significado de prova num processo, nem aos militares para pedirem socorro para escapar da lavagem cerebral da guerra fria. Perdão de novo, leitores, porque o suplemento não tratou direito banqueiros e evangélicos. Os banqueiros poderiam dar um depoimento humano, afinal todos nós queremos saber como dormem, com o que sonham e que sobremesa preferem, já que a especialidade deles é fazer dinheiro com dinheiro e lucrar com a crise dos outros e com as próprias, pois não é coincidência sempre serem salvos pelos governos. Os evangélicos deveriam explicar até que ponto é cristão espoliar os pobres em nome de Cristo e explicar que raios de Cristo é esse que permite uma canalhice dessas. Enfim, se o suplemento não tratou de nada disso como convém – isto é, com um direto no plexo –, devia ter aberto pelo menos uma página para os eleitores arrependidos, do contrário ia faltar papel. Sim, uma página de xingamentos nivelados pela escala Bozo. Os Editores

#20 JORNAL DE HUMOR

“Viemos do pó, para o pó voltaremos.” Mas não no avião do Bozonaro carregado com 39kg de droga. (Fraga)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.