Uma cidade se pergunta: foram fraudados os exames pré-câncer?
Onde encontrar e comprar os orgânicos mais baratos
Milhares de mulheres submetidas ao exame de câncer de colo de útero em Pelotas são assombradas por uma dúvida: aquele resultado negativo era verdadeiro?
Livres de agrotóxicos, os produtos orgânicos têm custo superior aos convencionais. Mostramos onde estão os orgânicos mais baratos, melhores para a saúde e para o bolso do consumidor.
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01 a 14 de agosto de 2018 distribuição gratuita brasildefato.com.br
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Ano 1 | edição 02
De volta ao tempo da lenha A escalada dos preços do botijão após o golpe de 2016 fez 66 mil famílias gaúchas trocarem o gás pela lenha ou o carvão para cozinhar. No ano passado, só em Porto Alegre, 18 mil casas registraram esse retorno no tempo.
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Enquanto o prefeito dança o Despacito, seis homens que administraram Porto Alegre, da direita e da esquerda, criticam a gestão caótica do PSDB, apontando a fartura de buracos e a escassez de bom senso.
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O julgamento dos ex-prefeitos da capital sobre Marchezan Jr: diálogo de menos e brigas demais
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RIO GRANDE DO SUL
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OPINIÃO
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE AGOSTO DE 2018
De volta ao passado EDITORIAL |
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esta edição, contamos como milhões de famílias de baixa renda estão de volta a um passado que imaginavam nunca mais voltar: estão cozinhando com lenha, restos de obra, carvão ou álcool. É o resultado da nova política de preços da Petrobras que encareceu o gás de cozinha. Ambição e desprezo pela vida humana se unem no escândalo que chocou Pelotas: as mulheres que faziam o exame pré-câncer de colo de útero estariam sendo enganadas. Segundo denúncia, só era realizado um em cada 20 exames solicitados. Os demais eram fraudados e as pacientes informadas de que o resultado era negativo e, portanto, tudo estava bem. Mostramos também que não é apenas a oposição que percebe o caos da prefeitura de Porto Alegre tocada pelo tucano Nelson Marchezan Jr. Seis ex-prefeitos da capital também se queixam das brigas do prefeito
e dos buracos nas ruas. Todo mundo sabe que os produtos orgânicos são os melhores por não conterem venenos e serem, assim, mais indicados para a saúde. Mas há um problema: custam mais caro. Fomos procurar e achamos os locais onde comprar orgânicos também é mais saudável para o bolso. Contamos ainda, o sucesso que foi o duplo lançamento do Brasil de Fato RS com presença e apoio de muita gente boa do Rio Grande e do Brasil. Vale conhecer, na contracapa, a incrível história do clube de operários que derrotou a dupla Gre-Nal e conquistou, de forma invicta, o campeonato gaúcho. E, com o apoio solidário da Grafar, a associação dos cartunistas, abrimos um novo espaço para o cartum gaúcho. Destaque também para uma nova revista virtual, a Clandestina. Tudo isso e ainda mais. Vamos à leitura, pessoal!
CHARGE | Santiago
Judicialização da Política e Tradição Antidemocrática no Brasil
ARTIGO |
José Carlos Moreira da Silva Filho, professor na Escola de Direito da PUCRS. Membro Fundador da Associação Brasil de Juristas pela Democracia - ABJD.
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judicialização da política pode ser entendida como a ampliação dos espaços de cidadania. Mas também pode sinalizar a captura da esfera política, esvaziando a representação popular. O judiciário pode ele mesmo se tornar um violador da Constituição. Qual a garantia de que os juízes respeitarão, eles mesmos, os limites constitucionais? No Brasil, paira enorme sombra de desconfiança quanto ao poder popular. A solução dos problemas tende a ser delegada às elites burocráticas. Se ontem essas "soluções" pelo alto aconteciam através de arranjos oligárquicos, hoje se apresentam como “técnicas”: o arbitramento judicial. Torna-se natural que, em decisões distantes das demandas populares, com funcionários na maioria oriundos das classes abastadas, com valores diferentes daqueles das maiorias populares, seja impossível identificar compromisso com a Constituição de 1988.
No Brasil, paira enorme sombra de desconfiança quanto ao poder popular. A solução dos problemas tende a ser delegada às elites burocráticas. www.brasildefato.com.br redacaors@brasildefato.com.br (51) 99956.7811 (51) 3228-8107 /brasildefators @Brasil_de_Fato
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CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Dary Beck Filho, Fernando Maia, Jonas Tarcísio Reis, Rogério Ferraz, Adelto Rohr, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO Katia Marko, Marcos Corbari, Ayrton Centeno, Marcelo Ferreira e Catiana de Medeiros | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares
Um texto que traz, no seu preâmbulo um claro norte político, além do raciocínio “técnico”. Não deixa dúvidas sobre a centralidade dos direitos de liberdade, sociais e políticos; sobre a imperiosidade dos objetivos de diminuição da desigualdade, de eliminação da miséria e da proteção dos direitos fundamentais. Agora, contudo, parcela expressiva do judiciário chancela um projeto político oposto. Destaque-se o ataque aos direitos políticos. É claríssimo na validação de um processo de impeachment sem crime de responsabilidade. Como bem lembrou o jurista Mauro Noleto, naquele episódio o STF, então empenhado em "legislar" sobre a fidelidade partidária, foi no mínimo leniente com a maciça infidelidade exibida pela base do governo Dilma. Que “mudou de lado” sob o pretexto das "pedaladas fiscais", violando o sistema presidencialista, consagrado no plebiscito de 1993. E sacrificou a eleição majoritária de 2014. Em 2018, o judiciário viola os direitos políticos de um modo muito mais ativo, condenando em velocidade vertiginosa o ex-presidente Lula, em processo bizarro e sem provas suficientes. Infringe seu direito de recorrer em liberdade e cerceando seus direitos políticos, além de descumprir decisão judicial desautorizando juiz competente para sua soltura. Caso se confirme a inelegibilidade de Lula, será a maior fraude aos direitos políticos já patrocinada pelo judiciário brasileiro, confirmando a tradição antipopular e antidemocrática na qual o Brasil volta a se afundar. Resistir é um imperativo ético.
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PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE AGOSTO DE 2018
Na capital dos buracos, seis ex-prefeitos criticam Nelson Marchezan Nunca dantes na história de Porto Alegre, a capital gaúcha viu uma administração assim. Entrando no 20º mês de mandato, o prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB) arrumou encrencas, semeou inimizades e disseminou provocações. AYRTON CENTENO
PORTO ALEGRE (RS)
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le brigou até com sua base na câmara municipal e um pedido de impeachment sobrevoa seu mandato. Como pano de fundo, ruas às escuras e crivadas de buracos, praças tomadas pela macega e o funcionalismo em pé de guerra com salários parcelados. Diante desse quadro, o Brasil de Fato RS perguntou aos ex-prefeitos da capital(1) como veem o cenário municipal. À esquerda ou à direita, nenhum está contente. “Ele não ouve ninguém. Acha sempre que é o certo. Tem que respeitar a Câmara. A cidade está toda esburacada, as obras não vão em frente. Nunca tinha visto uma administração desse jeito”, responde João Dib, 88 anos, militante do PDS e hoje no PP, que tocou a cidade entre 1983 e1985, nomeado pela ditadura civil-militar. “O atual governo não tem nenhum carinho pela cidade”, avalia Olívio Dutra, do PT, prefeito entre entre 1989 e 1993. “Ele não reconheceu os servidores como fundamentais. Comprou briga com todo mundo”, acrescenta José Fortunati, do PDT, hoje no PSB, à testa da cidade de 2010 a 2017. “Ninguém está contente”, admite Guilherme Villela, referindo-se à situação da capital. Prefeito nomeado por dois mandatos, de 1975 a 1983, ele optou por se manifestar apenas através dessa frase, argumentando enigmaticamente que “os tempos são outros e a gente é outra...” Raul Pont, do PT, repara que
Para muita gente, o prefeito dançarino, portase mais como um adolescente, enquanto a cidade vive o caos
o tucano surgiu como “a glorificação do novo”. Marchezan, porém, fora eleito deputado federal em 2002, portanto 14 anos antes da eleição na qual se apresentou como novidade. Prefeito nos períodos de 1993-97 e 2001-02, Tarso Genro concorda. “Parte do eleitorado embarcou na sua candidatura iludido pela imagem “do novo”. Agora, está reduzindo drasticamente as politicas sociais, aplicando uma politica salarial de redução de direitos”. Marchezan gerou “uma situação de enfrentamento com os servidores e o legislativo. Não tem como governar desse jeito”, critica Pont. “Ele tem que receber os municipários não para concordar com suas propostas mas para debater soluções. Dizer que não tem dinheiro não é desculpa. O Loureiro da Silva (1960-64) assumiu a prefeitura com quatro meses de salários atrasados e botou tudo em dia”, recorda Dib. Solicitado, através de sua assessoria, a avaliar sua gestão, o prefeito Marchezan Jr. não respondeu ao pedido até o fechamento da edição. (1) Os ex-prefeitos Alceu Collares e José Fogaça, adoentados, não puderam responder à questão. Foto: Guilherme Santos | Sul21
Novidade na era Marchezan Jr: o pelotão de choque dentro do legislativo espancando funcionários
“Cagões”, ataca o prefeito. "Bunda-mole”, responde o vereador Aconteceu no 3º Congresso do MBL, no ano passado, em São Paulo. Estimulado pelo ambiente de parceria, Marchezan chamou os vereadores de Porto Alegre de “cagões”. Como se fosse pouco, agrediu lideranças do PT, PCdoB e PSol, classificando-as de “erva daninha”. Citando Tarso Genro, Olívio Dutra, Manuela D'Ávila, Luciana Genro, Maria do Rosário e Henrique Fontana, comentou ter “raízes (de erva daninha) para arrancar lá (no Rio Grande do Sul)”. Depois, com os vereadores furiosos, tentou corrigir a tirada: os “cagões” não eram eles especificamente mas os parlamentares em geral. O estrago, porém, estava feito. Tanto que Cláudio Janta, do Solidariedade, retrucou no mesmo nível, chamando o prefeito de “bunda-mole”. Janta chegou a ser líder do governo mas a convivência azedou. No seu lugar, Marchezan botou o vereador Moisés Barbosa, do PSDB, cujo apelido é “Maluco do Bem”... Sua base se esfarelou. Teve só seis votos na votação do projeto que cortava direitos dos municipários. E 22 contrários. Isso embora, no começo da gestão, possuísse 11 vereadores fiéis distribuídos por PSDB, PP, PTB, PROS e SD. Foi seu maior tombo. A briga com o Simpa, o sindicato dos municipários, é ainda mais encarniçada. Para Marchezan, trata-se do “sindicato do mal”. Jonas Reis, diretor do Simpa, retruca que a cidade regrediu na educação, saúde, conser-
vação das ruas e praças. Faltam professores e enfermeiros. “Hoje o prefeito nos deve mais de 7% de inflação de 24 meses”, acrescenta. “A cidade está abandonada”, repara. Pela buraqueira disseminada, “quem anda de carro tem prejuízo. É melhor andar de carroça. Porto Alegre voltou ao século 16”. O conflito levou a episódio de violência explícita não visto nem na ditadura de 1964, à qual o pai do prefeito, deputado Nelson Marchezan, prestou seus serviços. Durante votação de projetos do executivo, o choque da BM lançou bombas de gás e espancou municipários dentro da câmara municipal Na visão de seus adversários, Marchezan com porta-se muitas vezes mais como um adolescente ou youtuber do que um gestor. Nas visitas aos bairros, costuma dançar o reggaeton-pop Despacito. Retrucando, o Simpa lançou a paródia Marchezito. Um trecho: “Marchezitooo/Porto Alegre está no prejuízo/Acabando com o funcionalismo/E tu acha que está tudo lindo!/Marchezitooo/Porto Alegre tu tá destruindo/A cidade virou um abismo/Tu não passa de um playboyzito!/Marchezitooo...” As postagens do prefeito, não raro provocativas, levaram o PT a acusá-lo de usar a estrutura da administração em proveito próprio. Nas redes, Marchezan reagiu ao seu modo:“No fundo, esses caras estão com inveja porque eu sei dançar o Despacito e eles não. Morra de inveja!”
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Atos históricos marcam o lançamento do Brasil de Fato RS Foto: Leonardo Melgarejo
Dois atos importantes repletos de força e simbolismo demarcaram o lançamento do jornal Brasil de Fato em formato impresso no RS nos últimos dias. O primeiro aconteceu no interior, na cidade de Santa Maria, em meio a maior feira de economia solidária do mundo, no dia 14. O segundo, sob o abrigo do Memorial Luiz Carlos Prestes, em Porto Alegre, no dia 17. MARCOS CORBARI
PORTO ALEGRE (RS)
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Com música e palavras, o Brasil de Fato RS chegou reunindo muita gente boa, da terra e da cidade, de todo o Rio Grande Foto: Alexandre Garcia
Distribuição do Brasil de Fato Fotos: Alexandre Garcia
o ato em Porto Alegre se realizou um resgate de sonhos e utopias propostos em 2003, quando o jornal teve sua criação em nível nacional anunciada em pleno Fórum Social Mundial, tempo em que a capital do RS era considerada uma referência ao campo progressista. Passados 15 anos, com a democracia brasileira sob franco ataque do campo conservador, com a luta de classes reconfigurada após o golpe de 2016, o jornal finalmente ganha sua edição impressa no estado onde nasceu. Em Santa Maria pronunciaram-se o representante do conselho editorial Frei Sérgio Görgen e a jornalista Katia Marko, que faz parte do coletivo de jornalistas que assinam a edição. As apresentações culturais ficaram por conta do bloco do Levante Popular da Juventude e dos músicos Antônio Gringo e Zé Martins. Mais de 10 mil jornais foram distribuídos na 25 FEICOOP e nas ruas da cidade. Os lutadores e lutadoras sociais não podem vacilar na batalha das ideias -, expressou Görgen no ato. “Existem vários meios de comunicação a serviço dos ricos, nós estamos criando meios para a libertação dos que trabalham”, acrescentou. Marko destacou o viés diferenciado que a equipe dá para a informação, fundamentando um jornal feito por e dirigido para trabalhadores, diferente do que pratica a mídia empresarial.
Foto: Catiana de Medeiros
Foto: Alexandre Garcia
Liciê Scolari, 18 anos, é estudante e militante do Levante Popular da Juventude. Para ela, que fez parte do grupo que distribuiu a primeira edição do Brasil de Fato RS nas ruas de Porto Alegre, este primeiro momento de contato com as pessoas foi positivo: "Os trabalhadores e trabalhadoras, de maneira geral, se mostraram bem receptivos à primeira edição gaúcha do jornal. Mesmo com a correria diária cotidiana, adquiriram exemplares para a leitura posterior e, em vários momentos, conversaram sobre a publicação com os entregadores."
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Memorial Prestes foi palco da celebração
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m Porto Alegre algumas personalidades que estavam presentes em 2003, marcaram presença também no ato político e cultural de 2018, como o ex-prefeito de Porto Alegre e ex-governador do RS, Olívio Dutra, o dirigente do MST João Pedro Stédile, o também ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, o dirigente político Raul Carrion e o músico Pedro Munhoz, entre outros. Cerca de 300 pessoas lotaram o espaço coletivo do Memorial Prestes, oportunizando uma bonita celebração que contou ainda com debate sobre o papel da comunicação durante o golpe de 2016 à tarde, poket show de Munhoz e do Grupo Unamérica, além de exibição do documentário “O Processo”. As atividades fizeram parte da Feira Brasileira de Opinião - Contragolpe. As falas ficaram por conta da professora doutora Maria Helena Weber do núcleo de Comunicação Pública e Política da UFRGS, do representante do conselho político e editorial Claudio Augustin, do jornalista Ayrton Centeno, além do dirigente do MST Stédile, que fez uma breve análise de conjuntura a partir do papel da comunicação na luta de classes. - O que pode ser dito, depois de abrir o jornal, é que o povo precisa construir a sua comunicação -, expressou a professora Maria Helena. “Todos nós louvamos a existência desse meio, muito mais do que todos os livros e teses com que vamos preenchendo nossas bibliotecas”, acrescentou ao final de sua fala. Ao concluir, relembrou Boaventura de Souza Santos, citando que todos precisamos de utopias, assim como a boca precisa de alimento. - O Brasil de Fato se coloca como um instrumento de combate na atual conjuntura, para contribuir no trabalho de base, se firmando como meio de comunicação voltado à luta e à educação política -, avaliou João Pedro. “O nosso tablóide precisa ser uma arma de combate na mão do trabalhador, da juventude, da militância para fazer esse diálogo necessário para demarcar nossa posição na luta de classe e construir
Foto: Leonardo Melgarejo
a unidade necessária para o enfrentamento”, concluiu. - Nós temos hoje a grande mídia falando muitas vezes sozinha na defesa do grande capital, nossas iniciativas de resistência nesse campo tem sido ainda muito pequenas, por isso precisamos reunir forças para disputar a consciência dos trabalhadores com todos os meios que temos à disposição – desafiou Augustin, citando a mídia impressa, a radiodifusão, os meios digitais e até mesmo a televisão como formatos e tecnologias que o trabalhador precisa acessar não apenas como audiência, mas também como produtor de conteúdo. - Temos um compromisso voltado para a informação da maioria dos cidadãos, estamos comprometidos com este país tão maltratado e tão vilipendiado, que teve um momento de esperança e agora parece afundar nessa crise sem fim -, comentou Centeno. “Sabemos o que nos espera nesse desafio de construir uma visão popular da vida, dos fatos e do mundo, esse é o papel do Brasil de Fato RS e nós vamos exercer esse papel”, arrematou.
Foto: Catiana de Medeiros
Fotos: Catiana de Medeiros
Foto: Leonardo Melgarejo
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Fotos: Catiana de Medeiros
Pedro Munhoz
Antônio Gringo
Grupo Unamérica
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CRISE | “Aqui, 80% cozinham com lenha” Avivando as brasas com um graveto, Júlio Camilo explica: “A gente usa muito pouco gás. Pagar 70 e poucos reais por um botijão é um absurdo para uma família que nem a minha”.
Fotos: Ayrton Centeno
AYRTON CENTENO (*)
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asado, três filhos, o mais velho de 10 anos e o mais novo de três meses, Júlio mora com a esposa Denise na ocupação Rincão dos Coqueiros, bairro Belém Velho, zona sul de Porto Alegre. Jardineiro, 37 anos, Camilo ganha “em torno de mil reais por mês” e não vê como usar gás diariamente para cozinhar. É situação idêntica a da sua vizinhança. “Aqui, 80% por cento cozinham com lenha”, calcula Braudelino Calixto, 65 anos. Pedreiro, juntou-se à comunidade há um ano. “Passei a usar lenha pela economia”, concorda Paulo César Matos, 43, servente de obra, outro vizinho. Cleocir Lima, 41, dois filhos, pedreiro, é outro que deixou o botijão após a disparada do gás. “Uso lenha direto. Só uso gás no forno para assar o pão”, conta Paulo Antonio Oliveira, 54. Ele é o padeiro da ocupação. Ali abriu o bar e padaria Te Liga! Bem na entrada da comunidade, que reúne cerca de 100 moradores. Ao lado do fogão de lenha e em torno do fogo de chão, os vizinhos fazem arroz de carreteiro, também massa, assam batatas. De quando
Na ocupação, Calixto é mais um a cozinhar com lenha
em quando, desfalcam a criação de patos e põem um na panela e, vez que outra, até aparece um salsichão para compartilhar com a vizinhança na roda de mate.
Pesquisa aponta maior uso de lenha Embora a PNAD, a Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílio, do IBGE tenha constatado, em maio,
que mais 1,2 milhão de brasileiros apelaram à lenha ou carvão em 2017, nem um nem outro é barato na periferia das grandes cidades. O caso do Rincão dos Coqueiros é peculiar porque está situado no meio da mata, onde é mais fácil coletar madeira. Nos dados da PNAD, mais de 12,3 milhões de domicílios -- 17,6% do total do Brasil -- recorreram à lenha ou carvão vegetal em 2017 para preparar suas refeições. Ou seja, 1,2 milhão a mais do que em 2016, um aumento de 11%. No Rio Grande do Sul, de 2016 para 2017, o consumo de gás em botijão ou encanado acrescentou mais 30 mil domicílios. Cifra que representa, porém, menos da metade das famílias que aderiram ao carvão ou à lenha para cozinhar. Foram 66 mil. Na Grande Porto Alegre, 33 mil famílias apelaram ao binômio lenha e carvão, enquanto na capital a adesão alcançou mais 18 mil domicílios. O crescimento ocorreu em todas o país, com destaque para o Nordeste. Lá, 24% das famílias abandonaram ou deixaram temporariamente o gás em favor de soluções mais acessíveis para cozinhar sua comida. No ano passado, 411 mil domicílios nordestinos adotaram a lenha ou o carvão. Não quer dizer que este contingente tenha desistido do gás de cozinha. Na verdade, usou menos o botijão e adotou alternativamente combustíveis como lenha, carvão, álcool e até restos de obras como forma de reduzir custos. (*) Colaborou Ronaldo Schaeffer
Com Dilma, o gás baixava; com Temer, passou a subir Bastou Michel Temer assumir de vez a presidência para o botijão de gás liquefeito de petróleo começar a subir. Já no seu primeiro mês, o preço médio ao consumidor ficou R$ 2,00 mais caro. E praticamente não cessou de avançar. Desde sua posse, em agosto de 2016, o botijão de 13 quilos encareceu 24%, muito acima da inflação do período. Como termo de comparação, basta dizer que o IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, é de apenas 4,4% nos últimos 12 meses. Em dezembro de 2016, o botijão já estava em R$ 55,60. Pulou para R$ 57,19 em maio, R$ 59,45 em outubro e em dezembro atingiu R$ 66,53. Em junho de 2018, bateu na marca dos R$ 68,77. E, caso siga o padrão dos últimos dois anos, continuará aumentando nos próximos meses. É exatamente o contrário do que
acontecia no primeiro semestre de 2016, quando Dilma Rousseff estava no poder. Um exemplo: em julho de 2016, com Dilma ainda presidente, o botijão custava menos do que em janeiro do mesmo ano. Antes era R$ 53,95 e caíra para R$ 52,88... E mais uma mudança de preço está a caminho. Vai acontecer em outubro. É o que acentua Ronaldo Tonet, presidente do Singasul, o sindicato que reúne as revendas de gás no Rio Grande. Ele não prevê o percentual do reajuste, argumentando que existem muitas variáveis. “Pode até diminuir”, arrisca. A escalada do preço do gás de cozinha – e de outros combustíveis, como a gasolina e o diesel – ocorreu quando a Petrobras mudou a política seguida até então. Reduziu sua produção de derivados em 300 mil barris/dia. Se, em 2013, atendia 90% da demanda interna, em 2017 baixou para 76%. Sob o governo Temer, a
Gráfico: Marcelo Ferreira/Freepik
Petrobras favoreceu as importações, tornando os preços internos mais dependentes das oscilações do mercado exter-
no. A alta dos preços estimula os interessados no mercado nacional e na privatização da Petrobras.
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Altos salários de executivos brasileiros revelam abismo entre ricos e pobres
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Enquanto o salário mínimo brasileiro é de R$ 954, há quem receba um salário maior do que R$ 3 milhões mensalmente. É o que mostram dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acerca dos valores estratosféricos dos salários de executivos do alto escalão de algumas companhias brasileiras. LU SUDRÉ
SÃO PAULO (SP)
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presidente do Itaú Unibanco Holding S.A, por exemplo, encabeça a lista e teve uma remuneração anual de R$ 40,9 milhões. Em contrapartida, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, metade dos trabalhadores brasileiros teve uma renda mensal 19,5% abaixo do salário mínimo, de R$ 937, com remuneração anual menor que R$ 12 mil. O cargo desses executivos pode variar conforme a em-
presa. A agência de viagem CVC Brasil, ocupa o segundo lugar entre as companhias que pagam seus dirigentes com altos salários, com remuneração anual maior que R$ 32 milhões. O Banco Santander, a Kroton, o Bradesco, a Vale, a Oi e a Ambev são algumas outras que estão entre as dezenas de empresas que tiveram seus valores revelados. A divulgação só aconteceu após uma decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região que derrubou liminar obtida, em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), que dava permissão para que essas empresas omitissem os valores dos salários. Em comparação com o salário de muitas outras categorias, por exemplo, como a dos professores, a diferença é abissal. De acordo com a Lei 11738/08, que regulamentou o piso salarial nacional para os profissionais da educação básica, o salário é de R$ 2.455,35, para jornada de 40 horas semanais. Na avaliação de Rosilene Corrêa, da coordenação da
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a disparidade evidencia que a educação não está nas prioridades da sociedade. “Vivemos no país da injustiça, das desigualdades, é essa é uma prova concreta. Estampa
pra sociedade que modelo de país nós temos, como as profissões são vistas e em que nível de prioridade se encontra a educação, principalmente a educação pública”, afirma Rosilene. Na rede privada, a situação também está longe da
Injustiça social Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), comenta que a disparidade salarial apresentada pelos dados caracteriza uma desigualdade monumental que acontece em diversos países. “Essa desigualdade não é só perversa como é tributariamente injusta e o que nós deveríamos ter era o contrário. Essas remunerações deveriam ser pesadamente tributadas para que haja um desincentivo estrutural desse tipo de remuneração”, continua o diretor do Dieese. Ele define como hipócrita o discurso dos próprios executivos e de comentaristas econômicos que se posicionam a favor da reforma da previdência, defendem o estado mínimo e criticam o programa Bolsa Família, por exemplo, mas que não enxergam problemas em receber salários tão exorbitantes enquanto grande parte da população enfrenta grandes dificuldades. Informações da PNAD Contínua, do IBGE, mostram que o número de pessoas em situação de extrema pobreza no país passou de 13,34 milhões em 2016 para 14,83 milhões em 2017, um aumento de 11,2%.
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O ideal Periodicamente, o Dieese divulga o salário mínimo ideal para a população brasileira, indicado para cobrir gastos de uma família de quatro pessoas, sendo 2 adultos e 2 crianças. A última estimativa, do mês de maio, é a de que o salário mínimo deveria ser de R$ 3.747,10, número quase quatro vezes maior do que o salário mínimo atual, de R$ 954. Se entre o salário real e ideal a diferença já é considerável, entre o salário de um trabalhador comum e de um executivo é brutal. "A remuneração mensal do diretor do Itaú equivale, aproximadamente, a 3.500 salários mínimos. Quantos anos um trabalhador que ganha um salário mínimo precisaria trabalhar para conseguir acumular o trabalho mensal desse dirigente? Ele precisaria trabalhar 290 anos para poder ter a remuneração acumulada equivalente ao que o executivo do banco ganha em um mês”, calcula o diretor técnico do Dieese.
ideal. "Mesmo em escolas particulares, tem uma boa parte que exploram seus profissionais e inclusive pagam salário mínimo, dependendo do atendimento, da localidade geográfica.”, diz a representante da CNTE.
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CIDADES
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Suspeita de fraude paira sobre exames de pré-câncer PELOTAS |
O que você faria se soubesse que aqueles exames pré-câncer que vem fazendo há anos estão sob suspeição? Que aquela análise com resultado negativo – e que a deixou tão tranquila – pode nunca, de fato, ter sido realizada? Que seja apenas uma amostragem? E que você pode simplesmente ter sido enganada durante todo esse tempo? Esta é a situação vivida agora por milhares de mulheres em Pelotas, 350 mil habitantes, uma das maiores cidades gaúchas. PAULO OTÁVIO PINTO
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fato gerador de temor e desconfiança sem precedentes na história da administração municipal foi revelado em memorando assinado por médicos e enfermeiros da UBS Bom Jesus. Datado de 10 de julho de 2017, só veio à tona um ano depois. No documento, eles manifestam a suspeita de que exames de pré-câncer de colo de útero (Papanicolau) não es-
As mulheres que não têm condições de pagar um exame ginecológico, em sua maioria negras e que estão na periferia, não mais poderão confiar no serviço oferecido pelo SUS.
tariam sendo analisados na totalidade mas sim por amostragem ou de forma incorreta. Expõem suas dúvidas, informando que se sentiam "inseguros quanto a veracidade" dos laudos. Desconfia-se que, durante seis anos, de cada lote de 500 amostras, apenas cinco tenham sido analisadas. Às restantes estariam sendo atribuídos laudos-padrão atestando normalidade. “No período de janeiro de 2014 a junho de 2017 poucos exames apresentaram resultados alterados", acentua o memorando. Como exemplo, cita-se que uma usuária foi submetida a duas coletas para exame na UBS Bom Jesus nos anos 2015 e 2017 e "ambas apresentaram resultado normal". Ainda que o último exame não tivesse detectado alterações, a médica responsável encaminhou a paciente a uma ginecologista que diagnosticou "lesão vegetante no colo uterino". Encomendada, a biópsia constatou "carcinoma epidermóide invasor de colo uterino", um tipo de câncer bastante invasivo.
Foto: Paulo Otávio Pinto
Privatização da Saúde A aparente negligência do poder público em relação aos indícios que chegaram ao seu conhecimento há cerca de um ano, constrange a gestão da atual prefeita, Paula Mascaranhas e a de seu antecessor e pré-candidato ao governo estadual, Eduardo Leite, ambos do PSDB. Reforçando a suspeição, apareceu um traba-
lho acadêmico produzido em 2014, período em que a atual prefeita era vice de Leite. De autoria da médica Júlia Kanaan Recuero, a tese já detectava disparidades nas conclusões dos exames pré-câncer realizados através do SUS na cidade. A terceirização de um serviço essencial de saúde pela prefeitura, sus-
tentada nas duas gestões do PSDB, também levanta críticas. Chama a atenção que, já no início do mandato de Leite, as taxas de câncer de colo de útero no município tenham caído a quase zero, resposta muito abaixo da média nacional, sem que os governantes se preocupassem em verificar as razões.
“Como é que fica, como vou fazer?” pergunta Cristiane Cristiane Dias de Andrade, de 30 anos, acompanha apreensiva a situação. Ela teve sangramento em julho de 2017, procurou uma UBS para fazer o exame. Deu negativo. Em novembro, ainda com os mesmos sintomas, refez o exame com diagnóstico igual. Desconfiando de algo errado, a médica do SUS que a atendeu pediu-lhe um exame de ultrassonografia. Que apontou uma alteração significativa. "Eu tenho uma vida toda pela frente e ando correndo para lá e
para cá... não sei o que eu tenho”, protesta Cristiane. “Se chego a descobrir que eu tenho algum tipo de doença grave e já num estágio mais avançado, como é que fica? Como é que eu vou fazer?", pergunta. Enquanto Cristiane espera uma resposta, os vereadores resolveram abrir uma CPI para apurar responsabilidades. Já o Ministério Público Estadual instaurou inquérito, embora não possuísse ainda documentação para apoiar a denúncia. Em férias no exterior, a
prefeita retornou da viagem, afastando a secretária de saúde, Ana Costa, e assumindo interinamente o posto. Pediu relatórios atualizados do SEG e contratou outro laboratório, de forma emergencial, para refazer cerca de mil exames escolhidos aleatoriamente. Entre os movimentos sociais, o grupo Alicerce, integrado por jovens e trabalhadores, além da militância negra e popular, tachou de “revoltante” o comportamento da prefeitura no episódio. “Não é de
hoje o desprezo às políticas para mulheres empenhado pelo governo tucano em Pelotas”, assinalou em nota nas redes sociais. Criticou “a violência institucional” movida contra “a população que mais precisa de políticas públicas”, enfatizando ainda que “as mulheres que não têm condições de pagar um exame ginecológico, em sua maioria negras e que estão na periferia, não mais poderão confiar no serviço oferecido pelo SUS, que deveria ser de máxima qualidade”.
TERRA
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE AGOSTO DE 2018
Quanto custa comer orgânicos em Porto Alegre?
ALIMENTAÇÃO |
Foto: Leandro Molina
Quem deixa os supermercados de lado e opta pelas feiras ecológicas tem economia de 58% na mesma quantidade e tipos de produtos. CATIANA DE MEDEIROS
PORTO ALEGRE (RS)
A
resposta para a pergunta acima depende de um único fator: o local em que esses alimentos são adquiridos. No dia 23 de julho, o Jornal Brasil de Fato visitou uma unidade de uma das maiores redes de supermercado do país, que trataremos nesta reportagem como Supermercado X. Também esteve nos últimos dias em feiras ecológicas da capital. O objetivo foi comparar o preço dos orgânicos e quanto o consumidor desembolsa ao comprá-los. Na seção de produtos orgânicos do Supermercado X, 1kg de pimentão verde custa R$ 15,97 e 1kg de cenoura R$ 15,58. O consumidor pode adquirir 1kg de tomate italiano por R$ 26,62 e 1kg de beterraba por R$ 12,98. Já nas feiras, os preços são menores: 1kg de pimentão
Com preço muito mais em conta, as feiras atraem o consumidor de produtos orgânicos
custa em média R$ 10,00; 1kg de cenoura R$ 4,00; 1kg de tomate italiano R$ 8,00; e 1kg de beterraba R$ 4,00. Ao comprar esses produtos no Supermercado X o gasto foi de R$ 71,15. Já nas feiras, o consumidor desembolsa R$ 26,00. Uma economia de R$ 45,15 (63,4%).
Diferenças de Preços
Alimento
Supermercado X
Feiras Ecológicas
1 kg de polpa de tomate R$ 42,12 R$ 17,64 1 molho de rúcula R$ 4,49 R$ 3,00 1 kg de Inhame R$ 17,30 R$ 7,00 1 kg de cenoura R$ 15,58 R$ 4,00 1 alface crespa R$ 4.49 R$ 2.50 1 molho de couve R$ 4,28 R$ 2,50 1 kg de pimentão verde R$ 15,97 R$ 10,00 1 molho de salsinha R$ 3.85 R$ 2,50 1 molho de cebolinha R$ 3.85 R$ 2,50 1 kg de couve-flor R$ 25,11 R$ 4,00 1 kg de repolho verde R$ 11,90 R$ 3,00 1 kg de tomate italiano R$ 26,62 R$ 8,00 1 molho de espinafre R$ 4,45 R$ 4,00 1 kg de beterraba R$ 12,98 R$ 4,00 1 kg de abobrinha R$ 13,07 R$ 5,00 1 kg de banana prata R$ 6,23 R$ 4,50 1 kg de arroz integral R$ 8.69 R$ 5,00 1 dúzia de ovos R$ 19.90 R$ 12,00 TOTAL R$ 240,88 RS 101,14
(Economia de 58%)
Escolha do preço Uma das organizações sociais que mais aposta na produção orgânica é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que participa de mais de 40 feiras somente na região Metropolitana de Porto Alegre. O assentado Joice da Silva, que vem de Nova Santa Rita para vender orgânicos na capital, explica como é calculado o preço dos alimentos. “As feiras de Porto Alegre não se baseiam nos mercados como padrão de preços, elas têm autonomia e propõem seus preços pela tabela de custo. Nós consideramos os gastos com mudas, sementes, hora/máquina para fazer um canteiro, adubo e
produtos”, conta. Arnaldo Soares, também assentado em Nova Santa Rita, reforça que nas feiras os preços são decididos coletivamente, são mais baixos que os orgânicos dos supermercados, têm uma média geral e não sofrem alterações com frequência. “Avaliamos o tamanho dos alimentos e a quantidade dos molhos. Dentro do combinado e das características do produto, determinamos o preço”, afirma. No entanto, em casos de superprodução, são feitas promoções com preços menores que os tabelados. Conforme Soares, pechinchar também pode gerar economia no bolso.
Contato com o produtor
Mais saúde, menos veneno
Quem opta pelas Feiras Ecológicas tem ainda outras vantagens, como comprar direto do produtor e tirar suas dúvidas sobre a origem dos alimentos. Essa possibilidade, que não há em supermercados, fez com que Sandra Fonseca, há 18 anos, passasse a frequentar a Feira Ecológica do Bom Fim. Agora, ela vai a várias feiras pelo menos uma vez por semana e integra, como consumidora, o Conselho de Feiras Ecológicas de Porto Alegre. “O consumidor precisa saber de onde vem o seu alimento, como ele é produzido e conhecer de perto quem o produz, precisa entender que a agroecologia pode sim alimentar o mundo”, defende.
De acordo com o médico Jonas Pretto, estudos comprovam que várias doenças, principalmente o câncer de mama, de próstata e de intestino grosso, têm ligação direta com o uso abusivo de venenos nas lavouras. Enquanto o Brasil lidera o ranking dos países que mais consomem veneno no mundo, as Feiras Ecológicas são alternativas para quem procura mais saúde e qualidade de vida.
Leia a reportagem completa com a relação das feiras no site www.brasildefato.com.br
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CULTURA & LAZER HORÓSCOPO
LEÃO (23/7 A 22/8) É momento da ação. Aproveite as energias revigorantes que o novo Ciclo Solar em seu signo, iniciado no dia 22, traz para sua caminhada. Lembre-se que, a sociedade que lutamos em construir é baseada em valores coletivos, por isto aproveite sua imponente personalidade para incentivar as pessoas a sua volta. Escute-as com atenção e carinho. Você estará em destaque pelos próximos dias, então aproveite e encante a todos(as) para a luta popular. Pátria livre.
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE AGOSTO DE 2018
HUMOR
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VIRGEM (23/8 A 22/9)
A característica principal das pessoas virginianas é o desejo de que os ambientes, os relacionamentos e a vida, de modo geral, mudem para melhor. Assim, neste período, aproveite para manifestar-se contra a PL do Veneno, queremos comida livre de agrotóxicos.
LIBRA (23/9 A 22/10)
Sua comunicação estará favorecida. Isto potencializara o surgimento de novas alianças e boas notícias chegarão. Possibilidades de mudanças nas questões afetivas. Nas questões ideológicas você estará mais firme do que nunca. #LulaLivre
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)
Você precisara de paciência, pois, percebera tudo passando com mais lentidão, mas não deixe de agir. A profundidade com que você lida com seus sentimentos será muito importante para reavivar a mística necessária para resistir este momento. Ajude-nos nisto.
SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)
Praxis. Esta é sua nova palavra de ordem para os próximos dias. A sua pratica não deve contradizer sua fala e para isto você deve estar consciente das tarefas que precisa realizar. Bom momento para descobrir novos caminhos espirituais. Lulastê.
CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1)
O golpe esta instalado, isto todo mundo já sabe, o que você pode fazer agora é usar da sua criatividade pratica para encontrar novos métodos de atuação, inclusive para sua vida pessoal. Redobre sua atenção e bom senso.
AQUÁRIO (21/1 A 19/2)
O grande desejo da humanidade é atingir a liberdade plena. Você mais do que ninguém entende isto. Mas é preciso muita paciência. Nestes dias que virão você sentira mais apreensivo(a) e ansioso(a), tenha cuidado. Os amigos poderão te ajudar.
PEIXES (20/2 A 20/3)
Todos(as) acreditam em você e respeitam suas concepções. Pode ser que você sinta a necessidade de ter ajuda para resolver alguma situação, não excite em pedir. Não estamos sozinhos(as) nesta marcha. Às vezes é preciso paciência para lidar com os outros. Lembre que todos(as) estamos aprendendo, mais do que nunca, é preciso dialogo. Ótimo momento para defender a Petrobras, afinal, o Pré-sal tem que ser do povo.
TOURO (21/4 A 20/5)
Lembre-se da importância de cultivar o espírito de sacrifício. Você esta vivendo um bom momento astral e, por isto, é importante entender que para evolução acontecer é necessário deixar alguns desejos individuais de lado.
GÊMEOS (21/5 A 20/6)
Você estará sem paciência para conversas vazias. Por isto procurará estar nos círculos da vanguarda política dos lugares onde frequenta. Novas oportunidades surgirão.
CÂNCER (21/6 A 22/7)
Aproveite que você esta com as energias renovadas e convoque um ato político. É tanto desmonte nos nossos direitos sociais e na soberania nacional que não vão faltar temas. Mas lembre dos encaminhamentos. Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.
GRAFAR
ÁRIES (21/3 A 20/4)
TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)
CULTURA & LAZER
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Uma revista digital para dar conta da diversidade cultural de Porto Alegre
CLANDESTINA |
Foto: Benedictas | Fotocoletivo
A iniciativa, dinâmica e plural, quer ultrapassar fronteiras e democratizar o acesso à informação SIMONE LERSCH
L
PORTO ALEGRE (RS)
ançada no mês de julho, a revista digital Clandestina pode ser acessada no endereço www.clandestina.com.br. A ideia surgiu de um sonho da jornalista e produtora cultural Amanda Zulke, em parceria com o geólogo e especialista em gestão sustentável de projetos Rodrigo Fontana, de reunir em um só lugar a diversidade da programação cultural de Porto Alegre. A proposta se materializa tanto em uma agenda de fácil uso e visualização, que contempla as diferentes expressões culturais, quanto conteúdo sobre a cena da capital, com reportagens, entrevistas e textos de opinião. Diversificada, a programação abrange cinema, música, literatura, artes cênicas, gastronomia, artes visuais, dança, eventos de rua e festas. Para tanto, a equipe conta com a jornalista
A redação da Clandestina: abrindo espaço para os eventos de menor visibilidade mas sem esquecer dos maiores
Marília Lima e com a designer Lídia Brancher, além de colaboradores e curadores de diferentes segmentos culturais. Em tempos de desmonte da cultura, a iniciativa quer contribuir no fortalecimento da cena local Acreditando na potência da cultura, um motor transformador da vida cotidiana, o coletivo busca conhecer e reconhecer o potencial criativo das pessoas e da cidade, amplifi-
cando as belezas do que é inédito e resgatando o que forma suas raízes. “Queremos fomentar uma cena cultural que possa ser autoral, criativa, provocadora e destemida. Assim sendo, a ideia é estimular artistas, eventos e espaços culturais a seguirem firmes nessa área que está desassistida pelos governos atuais e por setores da sociedade, mas que para nós é de extrema relevância para a construção de uma sociedade sem preconceitos e com igualdade de oportunidades”, coloca
Amanda. A publicação busca primordialmente dar espaço para eventos, artistas e atividades menores, com menos apoio e investimento e, consequentemente, menos divulgação, mas também contempla atrações maiores ou atrações provenientes de outras regiões ou países, pela importância da pluralidade. A idealizadora complementa: “Acreditamos muito que a oferta dessa agenda possa fazer com que as pessoas se sintam mais convidadas a sair de casa,
a se encontrar, socializar, desfrutar da cidade e, consequentemente, fazer com que a cidade possa pulsar e vibrar novamente”. Ainda em fase de criação, o coletivo trabalha em projetos como o Clube Clandestina e as Noites Clandestinas, que visam reunir pessoas para discussões e encontros itinerantes que envolvam o universo da cultura. Essas atividades terão diferentes formatos, desde rodas de conversa, saraus e pequenos espetáculos até festas e shows maiores.
Dica Literária
Ricos, podres de ricos de Antonio David Cattani*
Ricos se apropriando dos bens comuns como nunca na história da humanidade. Milhões de pessoas trabalhando pa ra enriquecer algumas centenas; milhões de trabalhadores desperdiçando parte importante de suas vidas para que poucos privilegiados pos sam gozar do bom e do melhor de forma irresponsável e sem merecimento. Tradições, religiões e ideologias contribuem para esconder as bases da exploração e as origens de fortunas desmedidas.
Esta obra busca analisar como isso acontece na atualidade tentando responder algumas perguntas essenciais: - Por que as análises científicas raramente estudam os multimilionários? - Riqueza e pobreza são fenômenos separados ou existe uma dimensão relacional entre eles? - Por que a posse da riqueza extrema é mitificada e mistificada? As grandes fortunas provêm da competência exerci-
da em mercados livres ou do poder obtido graças ao capital concentrado? Elas contribuem para o bem comum ou corrompem as normas morais da sociedade, fragilizam a economia e deturpam a democracia? É possível promover uma repartição mais justa da renda?
Divulgação
*Professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e no Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
Ilustrações de Edgar Vasques e edição em parceria da Marcavisual e Tomo Editorial
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ESPORTES
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE AGOSTO DE 2018
Os operários que derrotaram a dupla Gre-Nal FUTEBOL |
Muita gente que chega a Porto Alegre pela avenida Farrapos provavelmente não sabe que, naquela esquina com outra avenida, a Sertório, havia o estádio dos operários que bateram todos os adversários e se tornaram campeões gaúchos. Aconteceu em 1954 e seu time era o da fábrica onde trabalhavam, o Grêmio Esportivo Renner. MIGUEL STÉDILE
Q
PORTO ALEGRE (RS)
uando o futebol chegou à Capital era um passatempo de elite, as partidas incluiam até bailes da alta sociedade depois dos jogos. Mas, rapidamente, como em todo Brasil, o esporte foi se popularizando. Novos clubes surgiram, principalmente nas fábricas, porque eram em torno delas que os bairros cresciam e onde se juntavam os milhares de trabalhadores vindos do Interior ou de outros países e que sentiam falta dos laços comunitários que tinham deixado para trás. Em Porto Alegre surgiram, pelo menos, 18 times de trabalhadores, entre eles o Grêmio Esportivo Força e Luz, da companhia Carris. Mas o grande time dos operários foi o Renner, fundado pelos empregados na confecção de mesmo nome que depois se expandiu para outras áreas como tintas, cimento e varejo. A fábrica e o clube funcionavam no chamado Quarto Distrito – hoje São João e Navegantes – onde
Atlético-MG X Internacional 06/08 | 20h | Brasileirão Fluminense X Internacional 13/08 | 20h | Brasileirão Internacional X Paraná Clube 19/08 | 11h | Brasileirão
viviam e trabalhavam a maior parte dos operários de Porto Alegre. Por isso, logo o Renner ficou conhecido como “O time dos industriários”. O estádio “Waterloo” No início, o clube disputava torneios amadores, mas logo a empresa percebeu que o time poderia ser uma boa propaganda e passou a financiar a equipe. Em 1935, inaugurou o Estádio Tiradentes, com capacidade para 10 mil pessoas, mais tarde apelidado de “Waterloo”, em referência a batalha que derrotou Napoleão, porque ali era “onde os grandes (clubes) eram derrotados”. O Renner foi se profissionalizando. Por um lado, disputando campeonatos mais importantes, por outro, os trabalhadores foram perdendo o controle do clube para os donos da fábrica. A partir de 1945, os operários-jogadores passaram a ter o privilégio de sair do empego uma hora antes para treinar, mas é nesse ano também que jogadores profissionais são contratados e empregados na fábrica, como Ênio Andrade, que trabalhava na sessão de discos da loja ou o goleiro Valdir Moraes, formado em contabilidade, que trabalhava neste departamento. Depois de vencer torneios menores e amistosos nacionais e internacionais, em 1954, o Renner bateu Grêmio e Inter e faturou o campeonato municipal. Na época, o campeão de cada cidade disputava o Estadual. E foi assim que o Renner se consagraria campeão gaúcho. De-
Grêmio X Flamengo 04/08 | 19h | Brasileirão Estudiantes X Grêmio 07/08 | 21h45 | Libertadores Grêmio X Vitória 12/08 | 19h | Brasileirão Flamengo X Grêmio 15/08 | 21h45 | Copa do Brasil Flamengo X Grêmio 18/08 | 19h | Brasileirão
pois deste feito, a dupla gre-nal se revezaria nos títulos por 44 anos até o título do Juventude em 1998. Em 1959, porém, a fábrica decidiu não bancar mais os altos custos de manutenção do clube e fechou o departamento de futebol. Os operários voltaram a disputar partidas
só nas várzeas e ruas. Mas a façanha do time dos operários que conquistou a capital e o estado permanece na história.
O meia-direita que virou ator internacional O “Papão”, outro apelido do Renner, foi avassalador em 1954. Naquele ano, o campeonato da Capital juntou, além de Grêmio, Inter, Cruzeiro, Nacional e Força e Luz, também Aimoré, Flamengo (hoje Caxias), Juventude e Floriano (hoje Novo Hamburgo). Disputou 18 partidas, ganhou 15 e empatou três. Levantou o troféu invicto. No quadrangular que definiria o campeão estadual, enfrentou e superou os campeões regionais Brasil (de Pelotas), Gabrielense e Ferro Carril. O clube produziu craques como o goleiro Valdir de Moraes e o meia-esquerda Ênio Andrade, que seguiram carreira no Palmeiras. Mais tarde, já treinador, Ênio venceria o Brasileirão dirigindo três equipes diferentes: Inter, Grêmio e Coritiba. A trajetória mais fantástica com origem no Renner foi a do meia-direita Breno Mello. Saindo do Sul para o Fluminense carioca, acabou descoberto pelo cinema. Estrelou Orfeu Negro, do cineasta francês Marcel Camus, fazendo dupla com a atriz norte-americana Marpessa Dawn. O filme arrebatou a Palma de Ouro do festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro de 1960.