Brasil de Fato / RS - Número 03

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Fome contra a fome! Sete ativistas ligados a movimentos sociais estão em greve de fome desde o dia 31 de julho. Pedem por justiça no STF, julgamento justo para Lula e respeito ao direito do povo escolher nas urnas o seu governante. GERAL | PAG 3

RIO GRANDE DO SUL

Foto: Catiana de Medeiros

Agora, golpe de Temer quer atingir as sementes crioulas Grupos de agricultores familiares são os “guardiões das sementes”. Guardam e semeiam aquelas que produzem o alimento mais sadio. Agora, porém, estão sob ataque das forças que assaltaram o poder em 2016. TERRA | PAG 9

15 a 31 de agosto de 2018 distribuição gratuita brasildefato.com.br

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Ano 1 | edição 03

Foto: Ricardo Stuckert

Como as eleições vão afetar a sua vida Mais do que as anteriores, a disputa de 2018 pode significar um grande ganho para os trabalhadores. Mas também, em caso de triunfo dos partidos alinhados com Temer, uma tremenda perda de direitos e de perspectivas para a maioria do país.

GERAL | PAG 6 e 7

Empresas privadas estão de olho na gestão do saneamento. Mas e a tarifa não vai aumentar? Oito municípios da Grande Porto Alegre já aprovaram a entrega do serviço de esgotos para as PPPs, as parcerias público privadas. E mais um, Canoas, está prestes a aderir. GERAL | PAG 4 e 5

Ameaça da “Escola Sem Partido” ronda uma cidade gaúcha São Lourenço do Sul pode ser a primeira cidade do estado a adotar a proposta do MBL. Mas, por enquanto, a vitória é da resistência cidadã. CIDADES | PAG 8


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OPINIÃO

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

A mais bizarra das eleições EDITORIAL |

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campanha está nas ruas. Partidos, candidatos e coligações podem agora usar carros de som e fazer comícios. Estão envolvidos na mais bizarra das corridas eleitorais. Nela, o grande protagonista está preso. Mas lidera todas as pesquisas. Essa estranha eleição é nosso assunto de capa, sobretudo pelo que tem de ameaça para o trabalhador. Silenciosamente, o governo Sartori promove ao redor da capital a passagem para a gestão privada do serviço de esgotos até agora gerido pela Corsan. Oito municípios já aderiram. Resta saber como ficará o valor da tarifa. São Lourenço do Sul pode se tornar a primeira cidade gaúcha a adotar a “Escola Sem Partido”. A proposta acabou vetada pelo prefeito. Mas a briga ainda não acabou.

Em Brasília, cinco homens e duas mulheres põem sua saúde e sua vida em risco por uma causa maior. É a greve de fome. Que não se esgota na libertação de Lula, mas denuncia o retorno da fome ao país. Muita gente acha que esporte e política não se misturam. É um engano como mostram as torcidas antifascistas de Grêmio e Inter. Os “antifas” já levaram suas vozes e faixas aos estádios contra o machismo, a homofobia e a ditadura. Guardiões das sementes crioulas, grupos de agricultores familiares preservam o patrimônio genético e a diversidade. Agora, porém, estão ameaçados pelo governo Temer e por um projeto nascido de sua base. Como pano de fundo, golpear e extinguir o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). E muito mais. À leitura.

CHARGE | Santiago

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Queremos mineração no Pampa?

ARTIGO |

Jaqueline Durigon – Professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Carlos Alberto Seifert Jr. – Pesquisador na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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ofensiva da mineração sobre os territórios brasileiros durante o chamado boom das commodities, no início dos anos 2000, bate à porta do RS. Este avanço tardio é atribuído à crise internacional que freou a expansão da atividade entre 2011 e 2014. Da mesma forma, culminou na diminuição do controle das atividades minerarias, com intuito de manter o ritmo de exploração, tendo como resultado crimes socioambientais, como aquele protagonizado pela Samarco, em Mariana/MG. O reaquecimento do mercado põe a atividade em um novo ciclo de crescimento e o Pampa é uma nova fronteira. A apresentação de novos projetos de megamineração, a retomada de antigas propostas e mais de 100 pedidos de prospecção mineral na metade sul do estado demonstram o interesse do setor no Pampa. Três projetos de maior vulto protagonizam o cenário atual: Retiro, em São José do Norte; Caçapava do Sul; Fosfato, em Lavras do Sul. As áreas-alvo são territórios de alta diversidade e fragilidade ecossistêmica, e detêm um conjunto de populações tradicionais produtoras de alimentos - como é o caso da cebola e da pesca, em São José do Norte, e da pecuária familiar, no Alto Camaquã. Assim, um grande risco se sobressai: a incompatibilidade da mineração com a produção de alimentos, devido à rejeição do mercado aos produtos originários de zonas com potencial de contaminação pela mineração. No trato da questão, destaca-se: 1) O que dita a exploração e seu ritmo atual são, via de regra, as demandas do mercado inter-

A POIO brasildefators

CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Dary Beck Filho, Fernando Maia, Jonas Tarcísio Reis, Rogério Ferraz, Adelto Rohr, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Marcos Corbari, Wálmaro Paz, Ayrton Centeno, Katia Marko, Marco Weisscheimer, Simone Lersch e Marcelo Ferreira. | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares

Assim, um grande risco se sobressai: a incompatibilidade da mineração com a produção de alimentos nacional, desconsiderando o interesse social e nacional, ferindo a soberania do país; 2) A simples existência do recurso tem determinado sua exploração, não sendo observadas as variáveis socioambientais e potencialidades do território no planejamento da atividade – é necessário pré-determinar zonas de exclusão da atividade onde há incompatibilidade; 3) A cadeia econômica que se estrutura no entorno da mineração é dela dependente, com vários empreendimentos que se somam ao atendimento de suas demandas - não podemos incorrer no erro de nos tornamos mínero-dependentes. Por fim, eleições importam. Os rumos do nosso estado, de como, onde e com quem vamos construir nossa economia dependem das decisões das representações eleitas este ano, em âmbito legislativo e executivo. Os projetos destacados, se aprovados, serão abre-alas para o fortalecimento da atividade mineraria no estado, o que reforça a urgência da democratização do debate e da consideração das vontades dos sujeitos do nosso território. Pela soberania dos povos do Pampa!


GERAL

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

3 Foto: Adilvane Spezia | MPA e Rede Soberania

Da esq. para a direita: Leonardo Soares, Zonália Santos, Rafaela Alves, Jaime Amorin, Vilmar Pacífico, Frei Sérgio Görgen, Gegê Gonzaga

Fome contra a fome! Greve de fome denuncia utilização política do STF e pede por respeito à Constituição. MARCOS CORBARI

BRASÍLIA (DF)

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ete ativistas ligados a movimentos sociais estão em greve de fome desde o dia 31 de julho. Pedem por justiça no STF, julgamento justo para Lula e respeito ao direito do povo escolher nas urnas o seu governante. O protesto, realizado em Brasília, ainda denuncia a situação caótica em que os autores do golpe - que derrubou a presidenta Dilma Rousseff sem crime e condenou o ex-presidente sem prova colocaram o país. Com a saúde física e psicológica fragilizada, os sete tomam apenas água ou recebem soro de reidratação. No dia 13 de agosto completaram duas semanas sem receber nenhum tipo de alimento. Sentem cansaço, fadiga muscular e dores de cabeça. A equipe de saúde é composta por três médicos populares e um grupo de psicólogos voluntários, que os acompanham por praticamente 24 horas. “Eles estão cada vez mais fracos, o que nos leva a ficar atentos para sinais de alerta”, afirmou Ronald Wolff, médico.“O cuidado

blicas e até a Amazônia. O pernambucano Jaime Amorin, 58 anos, dirigente do MST e também da Via Campesina, recorda que todas as pautas passam pela defesa da democracia: “Nós defendemos o direito do povo escolher livremente, pelo voto, seu próprio destino, elegendo à presidência o candidato de sua preferência”.

e monitoramento médico precisou ser intensificado”, acrescenta Maria da Paz Sousa, médica. Quem não trata a hipertensão começa a apresentar quadros de hipotensão, ou seja, a redução da pressão arterial. Outros tem sinais de hipotermia. Apesar de tudo, todas as manhãs os sete realizam leves alongamentos, que alivia dores, previne contraturas e ativa a circulação do sangue. Fé e luta Homem de fé e luta, Sérgio Görgen, 62 anos, gaúcho, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), participa deste tipo de ato pela quinta vez. O frei franciscano relembra com indignação os tempos em que era quase uma rotina sepultar crianças que morriam vítimas da desnutrição. “Não podemos admitir que um país como o Brasil corra o risco de retornar ao mapa da fome”. Fome de justiça Rafaela Alves, 32, sergipana e também militante do MPA explica que a “fome” em questão vai além do alimento concreto: “Nossa fome é sobretudo de justiça, por isso denunciamos o sofrimento e o abandono dos mais pobres, sobretudo as pessoas em situação de rua, das periferias, os negros, indígenas,

camponeses, sem-terra, assentados, quilombolas e desempregados”. Aniversário na luta Completando 69 anos em meio ao ato, o paraibano Gegê Gonzaga integra a Central dos Movimentos Populares (CMP). Já foi preso político, torturado e perseguido no período militar. “As mudanças que queremos precisam começar a partir de cada um de nós, o povo precisa se organizar e ir às ruas para fazer acontecer”, acentua. Relembra que os grevistas também denunciam a violência contra mulheres, jovens, negros e LGBTs. E a situação dos doentes, das pessoas com

deficiência, além do perigo da volta das epidemias. Os três do MST O MST tem três militantes no grupo. Zonália Santos, 58, assentada em Rondônia, aponta “a volta da carestia, o aumento do preço do gás, da comida e dos combustíveis”. A “vó-coragem” do grupo preocupa-se também com os jovens ao citar os ataques à educação pública. Já Vilmar Pacífico, 60, paranaense, critica “as tentativas de aniquilamento da soberania nacional, através da entrega de nossas riquezas ao capital estrangeiro”. Cita como exemplos a terra, o petróleo, a energia, a biodiversidade, a água, os minérios, as empresas pú-

A presença da juventude Leonardo Soares, 22 anos – militante do Levante Popular da Juventude - agregou-se ao grupo em 6 de agosto. “Essa greve de fome tem a função de fomentar a participação e a organização do povo”, explica. Para ele, a luta é por uma causa justa, que aglutina os trabalhadores e propõe a organização como ferramenta principal na disputa que se configura. Com a palavra o STF Até o fechamento dessa edição, dia 14 de agosto, apenas o ministro Lewandowski havia recebido os grevistas em audiência, afirmando de modo formal que “a justiça vai ser feita”, porém sem demonstrar qualquer empatia para com os sete ou atenção às suas pautas. Espera-se por novidades entre os dias 14 e 16, que o leitor do BdF/RS poderá acompanhar pelo site www.brasildefato.com.br.


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GERAL

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Depois do investimento federal, empresas privadas vão ficar com “filé do saneamento” Foto: Divulgação Sindiágua-RS

Um ambicioso projeto de privatização do serviço de esgotos está em andamento na Grande Porto Alegre. Mais de um milhão de moradores de oito municípios terão seu ser­ viço administrado por empresas privadas conveniadas com as prefeituras.

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Na Capital, houve uma tentativa no ano passado. Porém, a PPP proposta para o DMAE pelo prefeito Nelson Marchezan Jr., do PSDB, foi negada pelos vereadores.

Só a Capital escapou O deputado estadual Nelsinho Metalúrgico (PT), também de Canoas, acha

de custo calculado em R$ 153 milhões. A Corsan fez o projeto para a primeira etapa e recebeu os recursos, mas não teria concluído - segundo ele - os demais projetos. Com o fim do prazo dado, o Ministério das Cidades recolheu os valores. Na sua interpretação, assim foi feito para facilitar a adoção da PPP para concluir a obra. A oposição suspeita que, com a aceitação das PPPs, aconteceria o aumento das tarifas arcadas pela população. A Corsan aposta que não haverá reajuste. A companhia tem defendido a criação das PPPs, alegando falta de recursos para investimentos. Sustenta ainda que o processo foi iniciado ainda no governo anterior e que não se trata de discurso ideológico, mas de uma necessidade administrativa. Trata as PPPs como apenas uma alternativa de financiamento mais barato.

WÁLMARO PAZ

PORTO ALEGRE (RS)

s municípios são Viamão, Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí, Esteio, Sapucaia, Eldorado e Guaíba. Agora, Canoas está prestes a adotar a mesma providência, também induzido pela própria Corsan, a Companhia Riograndense de Saneamento, que deveria executar o trabalho. Tentando barrar a proposta do governo Sartori de criar PPPs, as tais Parcerias Público Privadas, para tratar os esgotos da região Metropolitana, a oposição da Câmara de Vereadores de Canoas apresentou requerimento à mesa da casa, propondo que se aguarde a conclusão das análises do Ministério Público de Contas e do Ministério Público Federal. Defende que só depois do parecer dos dois MPs parta-se para a votação da proposta que permite a entrega do esgotamento sanitário. A informação é da vereadora Maria Eunice Wolf (PT) que protocolou a entrega e espera a aprovação do requerimento.

Sindiágua denuncia uma política de privatização mascarada com o conceito de parceria público privada

que se tornou prioridade para o governo Sartori entregar “o filé do saneamento da região a empresas amigas”. Argumenta que a Corsan já investiu cerca de R$ 700 milhões na região, dinheiro liberado pelo PAC Saneamento do governo federal. Realizou obras de infraestrutura como a construção de redes de coleta e as ETEs, as estações de tratamento de esgoto. E, agora, vai deixar para o setor privado a parte menos custosa e mais rentável. Ou seja, a finalização da obra e a cobrança da taxa. A PPP seria por 30 anos. A taxa, exigida dos consumidores, equivaleria a 70% daquela cobrada pela água. A conta será bancada pela população. Na região metropolitana, ficaria de fora das PPPs so-

mente Porto Alegre. Na Capital, houve uma tentativa no ano passado. Porém, a PPP proposta para o DMAE pelo prefeito Nelson Marchezan Jr., do PSDB, foi negada pelos vereadores. Privatização mascarada A denúncia partiu da direção do Sindiágua, que representa os trabalhadores do setor de água e esgoto no estado. Segundo Rogério Ferraz, diretor do sindicato, trata-se de uma política de privatização mascarada com o conceito de parceria público privada. Na maioria dos municípios da área, as obras estavam praticamente prontas. Como exemplo cita Esteio, onde já é coletado 95% do esgoto residen-

cial. Além disso, a Fepam havia exigido a construção de emissário que segue até o rio dos Sinos. Não permitiu que os efluentes, embora tratados, fossem despejados num afluente do Sinos. Mais uma obra que o administrador privado receberá pronta. Obra dividida O sindicalista explica ainda que somente em Canoas estava previsto aporte de R$ 216 milhões pelo PAC2 no Orçamento Geral da União. Porém, a prefeitura preferiu dividir a obra em três etapas, sendo a primeira delas a construção da estação de tratamento. Seu custo foi de R$ 66 milhões. Haveria mais duas fases envolvendo a rede de coleta cloacal


GERAL

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5 Foto: Walter Campanato

Brasil anda na contramão na história

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este século, foram registrados 267 casos de “remunicipalização”, ou reestatização de sistemas de água e esgoto. No ano 2000, só se conheciam três casos do tipo. É o que aponta mapeamento realizado por onze organizações majoritariamente europeias e publicado pelo site da BBC Brasil. O que mostra que o país anda na contramão da história nessa questão. A pesquisa assinala que a reversão vem sendo impulsionada por um leque de problemas reincidentes, entre eles tarifas altas, serviços ineficientes e baixo investimento. O estudo detalha experiências de cidades que recorreram a privatizações de seus sistemas de água e saneamento nas últimas décadas, mas decidiram voltar atrás - uma longa lista que inclui lugares como Berlim, Paris, Budapeste, Bamako (Mali), Buenos Aires, Maputo (Moçambique) e La Paz. Dezoito estados A tendência, vista com força sobretudo na Europa, vai no caminho contrário ao movimento que

vem sendo feito no Brasil para promover a concessão de sistemas de esgoto para a iniciativa privada. O BNDES tem incentivado a atuação do setor privado na área de saneamento, e, no fim do ano passado, lançou edital visando a privatização de empresas estatais, a concessão de serviços ou a criação de

parcerias público privadas. À época, o banco anunciou que 18 estados haviam decidido aderir ao Programa de Concessão de Companhias de Água e Esgoto – do Acre a Santa Catarina. Crise financeira O Rio de Janeiro foi o

primeiro a se posicionar pela privatização. A venda da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) é uma das condições impostas pelo governo federal para o pacote de socorro à crise financeira do Estado. O “mapa das remunicipalizações” foi traçado em parceria com o Observatório Corporativo Europeu

em 2007. A análise das informações coletadas ao longo dos anos resultou no estudo. Entre 2000 e 2015 foram identificados 235 casos de remunicipalização de sistemas de água, abrangendo 37 países e afetando mais de 100 milhões de pessoas. De 2015 a 2017, foram listados mais 32 casos.

Foto: Walter Campanato

Novas áreas Noventa por cento dos sistemas de água mundiais ainda são de gestão pública. Mas as privatizações, empurradas por crises fiscais e a adoção da chamada austeridade, seguem como forte tendência. O mesmo grupo de pesquisadores expandiu seu estudo para outras seis áreas buscando observar os sinais de reestatização. Então, passou a monitorar os setores de energia elétrica, coleta de lixo, transporte, educação, saúde e serviços sociais. Encontrou 835 casos de remunicipalização entre 2000 e 2017. Mas a grande maioria das reversões 693 - aconteceu entre 2009 e 2017, indicando um aumento na tendência.


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GERAL

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

2018 | A eleição mais perigosa do século No primeiro domingo de outubro, dia 7, mais de 147 milhões de brasileiros e 8,3 milhões de gaúchos serão chamados a transformar sua história. Terão um instrumento para tanto, o voto. Resta saber como irão usá-lo diante da eleição presidencial mais estranha e perigosa do século. AYRTON CENTENO

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PORTO ALEGRE (RS)

ssa eleição será estranha porque o seu principal personagem e o líder de todas as pesquisas está preso numa cela de Curitiba. Perigosa porque a mesma maioria do eleitorado que apoia Lula - composta por pequenos assalariados, agricultores familiares, trabalhadores informais, estudantes pobres, moradores da periferia - corre o risco de perder direitos conquistados há décadas. É o que já está ocorrendo agora. Candidatos do campo conservador, como Geraldo Alckmin, que tem 40% do horário eleitoral, prometem, por exemplo, extinguir o Ministério do Trabalho, Jair Bolsonaro ataca o regime de cotas e ambos defendem as reformas de Michel Temer e as privatizações. A vitória de qualquer um deles significará o prosseguimento da agenda do golpe e mais perdas para o mundo do trabalho. “É preciso conversar com o povo, esclarecer”, propõe o jornalista e profissional de marketing político, Pau-

Foto: Ricardo Stuckert

lo Cézar da Rosa. Mas ele tem uma visão otimista da cena política. "As pesquisas têm mostrado que os setores de menor renda estão compreendendo o que está acontecendo. E nos de maior renda, muitos que apoiaram o golpe, já estão se dando conta de que foram enganados”, avalia. E prossegue: “Começam a perceber que existem dois projetos de Brasil e que é preciso ver de que lado está o candidato. Não é uma tarefa simples, mas precisa ser feita”. Trabalhismo x conservadorismo Para Rosa, o pleito de 2018 não pode ser entendido como “normal”. Mesmo assim, sustenta que, no plano federal, algo se manterá inalterável: a velha polarização entre PT e PSDB. É o que também assinala o cientista político Benedito Tadeu César. “Vai se repetir aquilo que já acontecia no passado, quando se confrontavam o trabalhismo de Getúlio-Jango-Brizola e o conservadorismo de Carlos Lacerda e da UDN”. A partir de 1989, o trabalhismo passou a ser encarnado pelo PT e seus aliados, inclusive o PDT, enquanto a dupla PSDB & DEM incorporou o lacerdismo. De um lado, a proposta de desenvolvimento autônomo; do outro, o neoliberalismo dependente. Tanto César quanto Rosa não acreditam no fôlego de Jair Bolsonaro. “Vai estacionar, talvez cair”, diz César. Nos últimos dias, Rosa percebeu um fenômeno: “Vi Lula crescendo e a di-

Candidatos do campo conservador, como Geraldo Alckmin, que tem 40% do horário eleitoral, prometem, por exemplo, extinguir o Ministério do Trabalho.

Lula, o líder de todas as pesquisas está preso numa cela de Curitiba

reita com medo de que qualquer candidato que venha a substituí-lo ganhe a eleição. Por isso este movimento de reforço do Alckmin e esvaziamento do Bolsonaro”. César enfatiza que, apesar da candidatura de Henrique Meirelles, do MDB, gestada para defender o governo federal, Alckmin não conseguirá se descolar de Temer e seu governo, o mais impopular da história do país. “Além disso, nunca ninguém se elegeu presidente com uma plataforma de privatização e de retirada de direitos. O próprio FHC, quando candidato, nunca disse que ia privatizar”, repara. Ao citar Alckmin, Rosa trata-o como “uma operação internacional”. Tais ações - argumenta - são do tipo “jurídico-político-midiáticas” e com os Estados Unidos sempre por trás. “O lavajatismo - continua - insere-se nisso. É uma operação de guerra não convencional - híbrida - infinitamente mais barata do que aquela do Oriente Médio. Após a primeira fase, necessitam proteger o processo através de ‘novos políticos’ alinhados com a agen-

Após o linchamento midiático da classe política, há um grande temor do avanço da abstenção em 2018. da”. É onde entra o candidato tucano. “O PSDB e não o MDB, como alguns pensam, é o partido do golpe. O Alckmin agora vai entrar de “chefe das operações”, dizendo que o gerente que eles botaram - o Temer - não deu conta do recado”, acredita. “E, aqui no Rio Grande, o Eduardo Leite vai dizer a mesma coisa do Sartori”, prevê. Disputa no estado César considera a disputa gaúcha mais nebulosa do que a nacional. Salienta que o fato de José Ivo Sartori controlar a máquina governamental, ter bastante visibilidade e do MDB estar presente em todos os municípios pode favorecê-lo numa campanha curta. Aliás, o tempo escasso para afirmar novos candidatos deve beneficiar as figuras mais conhecidas. No pas-

sado, os gaúchos apostaram na novidade, o que aconteceu com Germano Rigotto em 2002 e mesmo Sartori em 2014. “Agora, o Eduardo Leite vai tentar ocupar este lugar do ‘novo’, mas terá inúmeros problemas para fazer isso...”, entende Rosa. Após o linchamento midiático da classe política, há um grande temor do avanço da abstenção em 2018. “Vamos ter muita abstenção e votos brancos e nulos”, admite Rosa. Mas acha que, para a esquerda, o pior já passou. “Em 2016, o eleitor de esquerda não foi votar e o PT perdeu sete milhões de votos. Não perdeu para outros partidos, mas para a abstenção, a desilusão. De lá para cá, muita coisa mudou. Agora serão os eleitores da direita e da centro-direita que terão dificuldade”, imagina.


PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

Na corrida pelo Planalto Álvaro Dias – Podemos Cabo Daciolo - Patriota Ciro Gomes – PDT Eymael - DC Geraldo Alckmin – PSDB Guilherme Boulos - PSOL

Henrique Meirelles - MDB Jair Bolsonaro – PSL João Goulart Filho - PPL João Amoêdo - Novo Lula – PT Marina Silva – Rede Vera Lúcia - PSTU

A disputa do Piratini Eduardo Leite – PSDB Jairo Jorge – PDT José Ivo Sartori - MDB

Júlio Flores - PSTU Mateus Bandeira – Novo Miguel Rossetto – PT Roberto Robaina – PSOL

Olho vivo, eleitor! Com 35 partidos legalizados, o Brasil complica e muito a vida dos eleitores. Além dessa sopa de letrinhas, é preciso escolher entre milhares de candidatos a deputado federal e estadual, senador, governador e presidente. Não é fácil, ainda mais quando nem tudo é o que parece ser. O novo pode representar o velho e aquilo que se apresenta como avançado pode ser muito mais atrasado do que se pensa. Na hora do voto, é preciso atentar, por exemplo, para duas armadilhas: o candidato que vive trocando de partido e o partido que troca de nome. No primeiro caso, a responsabilidade é da legislação eleitoral. Tolerante com a infidelidade partidária, permite que o eleito carregue seu mandato para outra agremiação e desta para uma terceira sem maiores problemas, desconsiderando sigla e eleitor. No caso dos partidos, o exemplo mais emblemático é o do PP, o Partido Progressista que, apesar da denominação, pertence ao campo conservador. Já foi Arena, mudou para PDS, virou PPR, depois PPB e converteu-se em PP. Enquanto Arena, foi quem sustentou a ditadura de 1964. Geralmente, a mudança se dá pelo desgaste do nome anterior. Funciona assim: filme queimado, nome trocado. Filho também da Arena e irmão

gêmeo do PP, o DEM antes era PFL. Apesar de batizado como “Democratas”, se formou na base civil da ditadura quando era Arena. O Patriota, nanico que tem candidato à presidência, é o mesmo PEN, o antigo Partido Ecológico Nacional. Mudou sua graça para abrigar Jair Bolsonaro. Abandonou também a causa ambiental e adotou as bandeiras anti-aborto, pela liberação de armas de fogo e pela redução da maioridade penal. Mas Bolsonaro não veio. Se o PEN mudou para Patriota, o PTN transformou-se em Podemos. De novo, o nome mais esconde do que revela. A inspiração veio do Podemos espanhol, sigla de esquerda. Mas o Podemos brasileiro coloca-se à direita do jogo político. Seu candidato à presidência é o senador Álvaro Dias, ex-PSDB. No Rio, sua cara é a do ex-jogador Romário. Um e outro votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff. Ambos, portanto, são responsáveis pela situação atual do país. Também o PMDB alterou o nome. Sob Temer e após o golpe que ajudou a desfechar em 2016, tornou-se novamente MDB, nome que recebeu como uma das duas agremiações políticas consentidas pelo regime militar, quando era proibido usar o termo “partido”.

GERAL

O novo pode representar o velho e aquilo que se apresenta como avançado pode ser muito mais atrasado do que se pensa. Estreando nas eleições presidenciais, o Partido Novo é, na verdade, um representante do velho liberalismo do século 19. Afirma-se como “de direita” e contra as cotas nas universidades. Defende a privatização da Petrobras e do Banco do Brasil e a “flexibilização” do porte de armas de fogo. Dos 35 partidos que vão disputar a preferência dos brasileiros, o mais jovem é outra evidência de como as aparências podem enganar. O PMB, Partido da Mulher Brasileira, teve uma bancada de 20 deputados federais. Nela, havia apenas duas mulheres. Afirma-se como antifeminista e anti-aborto. A sigla das mulheres chegou a lançar candidatura ao governo gaúcho em 2018, mas desistiu. Concorreria com um homem...

Mulheres são maioria no eleitorado, mas pouco mais de 10% no Congresso As mulheres são maioria entre os eleitores brasileiros, somando 77.337.918 cidadãs aptas a votar, o que significa 52,5% do eleitorado. No entanto, a representação feminina é pouco superior a 10% das cadeiras do Congresso. Os homens são 69.901.035, ou seja, 47,5% do total. Mas ocupam mais de 90% das vagas do Senado e da Câmara de Deputados. Os dados são do TSE, o Tribunal Superior Eleitoral. A diferença a favor das mulheres é de 7.436.883, número superior à soma de todo o eleitorado de nove capitais, a saber Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Florianópólis, Aracaju, Teresina, João Pessoa, Palmas e Maceió.

O maior contingente de mulheres está situado na faixa entre 45 e 59 anos. São 18,7 milhões. Logo depois, vem a faixa entre 25 e 34 anos com 16,1 milhões, seguindo-se as eleitoras com idade entre 35 e 44 anos, com 15,8 milhões. O eleitorado masculino também é mais concentrado nessas três faixas. Quase quatro milhões e meio de eleitores votarão pela primeira vez nas eleições do dia 7 de outubro, quando serão eleitos, além dos cargos de presidente e vice-presidente da República, deputados federais, estaduais ou distritais, dois senadores por estado e os governadores dos 26 estados, mais o Distrito Federal. Houve um crescimento de 3,14%

em comparação às eleições de 2014. Nos segmentos sem obrigação de votar, a faixa de 16 a 18 anos registrou queda de 14,5% do eleitorado na comparação com 2014. Entre os eleitores acima de 70 anos, ao contrário, ocorreu um aumento de 11,1% em relação às eleições presidenciais anteriores. Hoje, representam um contingente de 12,1 milhões de cidadãos aptos a votar. A maior parte do eleitorado possui ensino fundamental incompleto. Representam 25,8% dos eleitores. Ou seja, 38 milhões de cidadãos. Outros 33,6 milhões, ou 22,7%, concluíram o ensino

médio. Com ensino superior são 13,5 milhões ou 9,1%. E seis milhões de eleitores – 4,4% – são analfabetos. Uma inovação de 2018 refere-se à condição dos transexuais e travestis. Pela primeira vez, eles poderão usar o nome social para a identifi-

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Fonte: TSE

cação no processo eleitoral. A norma foi aprovada pelo TSE no dia 1º de março deste ano e, desde então, 6.280 pessoas fizeram a escolha de se registrarem ou atualizarem seus dados para ter acesso a esse direito.


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CIDADES

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

EDUCAÇÃO | “Escola Sem Partido” sofre derrota

mas disputa continua em São Lourenço do Sul Após a Câmara de Vereadores aprovar a chamada “Escola Sem Partido”, prefeito veta e projeto retorna ao legislativo. Cidade do sul gaúcho, de 44 mil habitantes, pode ser a primeira do estado a aprovar a proposta do Movimento Brasil Livre (MBL). Mas a resistência à ideia permanece atenta e mobilizada. KATIA MARKO

O

PORTO ALEGRE (RS)

prefeito de São Lourenço do Sul, Rudinei Harter (PDT), vetou, no dia 30 de julho, o projeto aprovado duas semanas antes pelos vereadores. A prefeitura considerou que a proposta é inconstitucional. Metade dos votos a favor da inciativa do MBL, vieram do PSDB. De acordo com a nota do executivo, a Constituição é clara “ao estabelecer, em seu art. 22, XXIV, que as diretrizes e bases da educação nacional tratam-se de matérias de competência privativa da União.” O promotor de Justiça Paulo Roberto Charqueiro encaminhou ofício ao prefeito lembrando que a proposta já havia sido considerada inconstitucional por decisão liminar do STF. Agora, o projeto tem até 30 dias para permanecer na câmara. Segundo a presidente da casa, Carmem Rosane Roveré (PSB), no momento está

em análise nas comissões. O PL foi aprovado com seis votos: três do PSDB, dois do PDT e um do PP, partidos proponentes junto com o MBL. “O debate está intenso. Tivemos sessão com casa lotada, com representantes dos movimentos sociais, da FURG, do CPERS, dos professores, que estavam pressionando para que os vereadores aprovem o veto do prefeito”, diz Carmen. ” No dia da votação – prossegue – eu não tinha direito ao voto, por ser presidente, mas me coloquei de forma contraria a este PL, pois entendo todo o retrocesso na educação que ele causará, principalmente na formação do senso crítico dos nossos alunos. Ela defende que os professores e a educação pública sejam valorizados “com uma educação plural, de qualidade e de livre pensamento, para formarmos uma sociedade mais justa”, argumenta. Todas as sessões e reuniões, desde o dia 9 de julho, são transmitidas em tempo real pela WebTV Câmara. É possível também acompanhá-las pelo Facebook, o Youtube e o site da Câmara. “Nosso site atende a todas as normas de transparência, podendo acompanhar onde está o projeto, as deliberações, quando foi votado, e como votou cada vereador. Somos uma das únicas câmaras da zona Sul com este recurso”, informa.

Fotos: Caco Argemi

Educadores acompanharam sessão na Câmara de Vereadores

Entidades criam Frente de Resistência à “Escola com Mordaça” A discussão é seguida por dezenas de educadores(as), estudantes, pais, representantes de universidades e entidades da cidade e região, como o CPERS estadual, o 24º Núcleo, o 6º Núcleo (Rio Grande), a Aprofurg – seção sindical do Andes, o sindicato dos professores das universidades, entre outras. Para Márcia Umpierre, professora da FURG e vice-presidente da Aprofurg, o veto foi a primeira grande vitória da recém-criada Frente de Resistência à Escola com Mordaça - São Lourenço do Sul. “O veto do prefeito se deu pela inconstitucionalidade, mas também muito pela força dos sindicatos e pelos movimentos sociais, que realizaram um trabalho incansável de mobilização nessas últimas semanas”, destacou. Marcia ainda explica que o veto foi uma grande conquista, mas o movimento de resistência segue mobilizado e atento para os desdobramentos do assunto.

O professor e representante da Frente Brasil Popular no município Carlos Alberto Junior lembrou que a cidade registrou o maior número de moções de repúdio já visto na casa, sem qualquer manifestação favorável por parte de organizações educacionais. “Vocês, vereadores que apoiam este projeto, assumem uma posição medieval, colocando o professor em uma fogueira pública em um verdadeiro tribunal de exceção. Os professores não são o verdadeiro problema, porque o problema são vocês”, afirma. A presidente do CPERS, Helenir Schürer, entende que o projeto manipula a opinião pública e transforma a escola em um território hostil para educadores(as), que passam a lidar com um ambiente de perseguição e denuncismo. “Não resolveremos nossos problemas com patrulhamento e coerção. A escola deve ser o espaço privilegiado da cidadania, do espírito crítico e da igualdade”, defende. “Os vere-

adores que aprovaram o texto preferiram escutar o MBL, movimento que prega a liberdade enquanto sobrevive de notícias falsas e propostas tão antidemocráticas que fariam inveja aos generais da ditadura militar”, ataca. E nota que a rede pública gaúcha está precarizada “graças à política de terra arrasada do governador Sartori e ao congelamento do orçamento federal (apoiado pelo mesmo MBL). Assim, “a opinião pública é manipulada para acreditar em ameaças imaginárias”. Para os criadores da proposta, debates que visam estimular o senso crítico dos estudantes se resumem a doutrinação ideológica. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a mordaça “solidifica a barbárie e todos os preconceitos, fanatismos religiosos, ignorância, falta de civilidade e de solidariedade, além de promover e fomentar o machismo, o racismo e a xenofobia”.

Com informações do Cpers – Sindicato e Aprofurg – Seção Sindical do Andes


TERRA

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

Guardiões das sementes sem veneno enfrentam ameaças de Temer

ALIMENTAÇÃO |

Foto: Leandro Molina

Nos últimos anos, vem crescendo no Rio Grande do Sul e em outros estados do Brasil o trabalho de um grupo de pequenos agricultores que se dedicam a manter saberes tradicionais e o patrimônio genético que marcam a própria história da agricultura. MARCO WEISSHEIMER

PORTO ALEGRE (RS)

O

s guardiões e guardiãs de sementes crioulas vêm resgatando e preservando não só sementes, mas também saberes e práticas agroecológicas que buscam diminuir a dependência da agricultura em relação aos atuais pacotes tecnológicos das grandes empresas transnacionais do setor, marcados pelo uso intensivo de agrotóxicos e outros insumos químicos. Um dos princípios que orienta o trabalho dos guardiões de sementes crioulas é a busca da autossuficiência nas propriedades agrícolas, condição necessária para uma maior independência econômica e para assegurar a qualidade do que está sendo produzido. Franciele Menoncin Bellé, cuja família tem propriedade em Antonio Prado, destaca a importância desse trabalho de resgate e plantio de sementes para garantir a autossuficiência. “O que é fundamental na agricultura, principalmente quando se trata de sementes, é buscar a autossuficiência, garantindo à propriedade tudo o que ela necessita para produzir. Isso é importante porque aí você sabe exatamente o que está usando e tem a noção do que está produzindo.” A família de Franciele Bellé resgata e planta sementes crioulas de milho, feijão, melancias, melões, abóboras, pimentas, alfaces, tomates, flores comestíveis e diversas plantas alimentícias não convencionais (as PANCs), entre outras. Ela destaca o caso do tomate para ilustrar o valor do que é produzido com essas sementes. “Uma das nossas principais sementes são as de tomate. São poucas as propriedades que ainda preservam e plantam as suas sementes. A maioria compra esses híbridos, que são aqueles tomates durinhos que a gente encontra em mercados. A minha mãe chama esses tomates de plástico. Eles são durinhos e não tem sabor. O crioulo, em compensação, apesar de ser um

Juarez Antonio Felipe Perreira cultiva sementes de arroz crioulo em Barra do Ribeiro

pouquinho mais mole, é carregado de sabor. A qualidade dele é completamente diferente”. Sementes de arroz crioulo Juarez Antonio Felipe Perreira cultiva sementes de arroz crioulo em Barra do Ribeiro. Neste trabalho, já resgatou algumas variedades que estavam praticamente extintas. Ele descobriu uma diversidade de sementes e variedades nas mãos de pequenos agricultores que as cultivavam para seu próprio sustento. “Esse agricultor, na nossa região, nunca se preocupou em purificar uma semente. Ele cultiva o que gosta de comer. Havia um verdadeiro banco genético na mão desses agricultores”, conta.

Por meio desse trabalho de pesquisa nas propriedades de pequenos agricultores, ele foi resgatando diversas variedades de arroz crioulo. Algumas foram descartadas, relata, mas outras se multiplicaram e deram uma resposta muito boa em termos de adaptação, produção e satisfação no prato do consumidor. “Essas variedades têm mais sabor pois, normalmente, são adaptadas ao cultivo sem fertilizantes, sem adubos. Elas têm ainda muita inteligência de se relacionar com o meio onde vivem. A minha família cultiva o arroz farroupilha (uma dessas variedades) há mais de 85 anos. Pelo que sei, há pelo menos duas variedades, o farroupilha e o japonês, que estão aqui no estado há mais de cem anos”.

Franciele Menoncin Bellé, de Antônio Prado

Ameaças no horizonte O conhecimento envolvido no cultivo das sementes crioulas vem sendo passado de geração para geração e representa um movimento de resistência diante do modelo de produção proposto pelo agronegócio. Esse trabalho, porém, está ameaçado. Um parecer jurídico assinado pelo Procurador da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Ricardo Augusto de Oliveira, proíbe e impede que sementes crioulas sejam utilizadas no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, que vem ocorrendo desde 2004. Caso isso ocorra, alertou a Via

Campesina em nota oficial, “muitas toneladas de sementes produzidas se transformarão em grão para consumo e milhares de famílias pobres do campo, entre elas indígenas e quilombolas, ficarão sem sementes para produzir sua subsistência”. Essa proposta, acrescenta a nota, representa “mais um rosto da fome se expressando no campo: impedir de plantar o que comer”. Na avaliação das entidades que integram a Via Campesina, o objetivo real dessa proposta é extinguir o PAA. O governo Temer, assinalam, “serve aos grandes proprietários rurais e às multinacionais das sementes que querem extinguir o controle popular da biodiversidade

agrícola. E assim, com aparência de legalidade, o golpe atingiu as sementes crioulas e quem as produz e utiliza”. Uma ameaça similar paira sobre as chamadas cultivares. O Projeto de Lei 827/2015 propõe o pagamento de royalties sobre espécies de plantas que foram alteradas, como as híbridas. Essa proposta ameaça a troca, a livre distribuição e o armazenamento de sementes em comunidades tradicionais. Caso aprovado, o PL, de autoria do deputado ruralista Dilceu Sperafico (PP-PA), passaria o controle sobre o uso de sementes, plantas e mudas modificadas para grandes empresas do setor agropecuário.

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CULTURA & LAZER HORÓSCOPO

LEÃO (23/7 A 22/8)

Com o Sol ainda em seu signo, você sente uma forte energia vital. Você tem uma luz própria e se cultivar o senso coletivo poderá ajudar muitas pessoas. Você gosta da liderança, mas não será nem seu discurso, nem sua força que o colocarão em lugar de poder, mas sim, o exemplo. A palavra convence, mas o exemplo arrasta, já diz o ditado. Frase de Confúcio: "Coloque a lealdade e a confiança acima de qualquer coisa; não te alies aos moralmente inferiores; não receies corrigir teus próprios erros".

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

HUMOR

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VIRGEM (23/8 A 22/9)

Momento de você voltar-se para dentro. Quais são seus propósitos? Quais suas projeções para o futuro? Momento ideal para revisar estas questões. Frase de Confúcio: "A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido".

LIBRA (23/9 A 22/10)

Fique de olho em suas necessidades primarias. Lembre-se: não há nada mais satisfatório para um militante que uma tarefa cumprida. Você estará com boa autoestima. Frase de Confúcio: "Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida".

ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)

Você poderá ter o reconhecimento que tanto batalhou ter. É aconselhável tomar cuidado para seu humor não ter muitas alterações com as mudanças que virão. Frase de Confúcio: "O silêncio é um amigo que nunca trai".

SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)

Vida social em alta. Sagitário é um signo de alma jovem, por isto, esperançoso. A esperança é muito necessária nestes tempos de grande indecisão política, ajude-nos nisto. Frase de Confúcio: "Se você tem uma ideia e troca com outra pessoa que também tem uma ideia, cada um fica com duas".

CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1)

Marte entra em seu signo na segunda quinzena deste mês. Vitalidade em alta e muita disposição. Aproveite este momento para fazer trabalho de base. Frase de Confúcio: "Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha".

AQUÁRIO (21/1 A 19/2)

Seus relacionamentos pessoais trarão muitas mudanças nos próximos dias. Palavras importantes: disciplina e unidade; procure entender o significado de cada uma. Frase de Confúcio: "Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo".

PEIXES (20/2 A 20/3)

Finalmente, você estará mais consciente de sua tarefa. Não tenha medo das mudanças e pare de discordar tanto das pessoas a tua volta. Tome muita agua. Frase de Confúcio: "Aja antes de falar e, portanto, fale de acordo com os seus atos". Não haja com precipitação. Toda e qualquer ação exigem pelo menos três períodos: o do planejamento, o da ação e o da avaliação. Um bom planejamento já é meio caminho andado. Frase de Confúcio: "Não corrigir as próprias falhas é cometer a pior delas".

TOURO (21/4 A 20/5)

Se o novo sempre vem, é necessário abandonar o que não serve mais. Ótimo momento para fazer uma síntese das lições aprendidas até aqui. Frase de Confúcio: "É mais fácil vencer um mau hábito hoje do que amanhã".

GÊMEOS (21/5 A 20/6)

Você se comunica muito bem. Esta qualidade estará em maior evidencia. Luta de classes é um ótimo assunto para iniciar uma conversa. Você estará mais estratégico. Frase de Confúcio: "A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros".

CÂNCER (21/6 A 22/7)

Muito cuidado para não estagnar sua consciência. Você fez uma boa caminhada até aqui, mas ainda tem muito a avançar. Aproveite sua sensibilidade para ter uma consciência organizativa. Frase de Confúcio: "Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem". Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.

GRAFAR

ÁRIES (21/3 A 20/4)

TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)


CULTURA & LAZER

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

Cinema gaúcho retrata os caminhos do golpe

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DOCUMENTÁRIO |

Foto: Divulgação

Dois novos filmes produzidos no Rio Grande do Sul juntam-se à onda de produções que percorrem os caminhos do golpe político-jurídico-midiático de 2016. SIMONE LERSCH

PORTO ALEGRE (RS)

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oncebidas a partir de Porto Alegre, capital com história na defesa da legalidade e da democracia, ambos chegam à tela do Cinebancários, em Porto Alegre, neste mês de agosto. GOLPE (70 minutos), de Guilherme Castro e Luiz Alberto Cassol, ganha exibição nos dias 14, 15 e 16 e Já Vimos Esse Filme (78 minutos), de Boca Migotto, tem lançamento no dia 24 no mesmo espaço e mais na Casa da Democracia, em Curitiba. Os documentários reúnem testemunhos de cientistas sociais, historiadores, jornalistas, artistas e ativistas de movimentos sociais. Analisam desde o sistema eleitoral, até a influência do judiciário, da mídia e das redes sociais na crise política. GOLPE faz uma cronologia e reflexão sobre os fatos que culminaram na deposição de Dilma e na prisão de Lula. “O documentário parte de um conceito narrativo de que vivemos em meio a uma sociedade midiática, onde o fluxo de imagens e informações é tão intenso, que dificulta uma interpretação clara, ainda mais nesse esquema das bolhas, que propiciam a desinformação”, pontua Castro. “Como cineasta continua - me deparo constantemente com o seguinte impasse: que imagens produzir num ambiente que tem câmera por todos os lados?” Seu

Já Vimos Esse Filme retrata a divisão do país simbolizada pelo muro colocado no gramado da Esplanada dos Ministérios

objetivo é apresentar uma narrativa consistente e que contribua para a discussão política. País sem memória Produzido por um coletivo interdisciplinar em defesa da soberania popular, o documentário Já Vimos Esse Filme retrata, também, a divisão do país simbolizada pelo muro colocado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no dia da votação na Câmara que consagrou o golpe. O diretor ouviu tanto manifestantes pró-impeachment, quanto da resistência ao golpe. Ele entende que os apoiadores da ruptura democrática não assistirão ao filme. “Hoje - diz Migotto - mesmo com todas as evidências de que houve um golpe, eles se agarram a fatos aleatórios, evitando uma análise conjuntural. Só para justificar que estavam certos”. Já Vimos Esse Filme ainda estabelece um paralelo com o quadro político de 1954 e de 1964. Ou seja, com a tentativa de golpe contra Getúlio Vargas e, dez anos depois, quando as mesmas forças derrotadas conseguem derrubar João Goulart e implantar a

ditadura militar. Questionado se o Brasil está fadado a repetir a sua história, o diretor argumenta que a história é cíclica. “Ela tem nos mostrado que, sempre que avançamos um pouco, em seguida, acontece um retrocesso e, dessa forma, repetimos o curso da história”, sustenta. “E isso normalmente acontece com povos que não valorizam memória, educação e cultura”, acrescenta. Seu propósito é registrar para as gerações presentes e futuras as semelhanças entre os golpes políticos no Brasil e a fragilidade da formação democrática da sociedade.

Serviço

Nove títulos sobre o tema Outros diretores também dirigiram seu olhar para o golpe à brasileira. A relação inclui, pelo menos, nove títulos, a saber: Filme Manifesto – O Golpe de Estado, de Paula Fabiana; Excelentíssimos, de Douglas Duarte; O Processo, de Maria Augusta Ramos; Brasil: O Grande Salto para Trás (Brésil: Le Grand Bond en Arrière), das diretoras Frédérique Zingaro e Mathilde Bonnassieux; Tchau, Querida, documentário produzido pelos Jornalistas Livres e dirigido por Gustavo Aranda e Vinícius Segalla; O Muro, de Lula Buarque de Holanda; Esquerda em Transe, Renato Tapajós. E os inéditos Alvorada, de Anna Muylaert e Impeachment: Dois Pesos, Duas Medidas, de Petra Costa.

Já Vimos Esse Filme (78 minutos). Direção: Boca Migotto. O lançamento do documentário acontecerá no dia 24 de agosto, às 21h, de forma simultânea no CineBancários, na Casa da Democracia, em Curitiba, no Youtube, no portal Brasil 247 e na Mídia Ninja. A data marca a morte de Getulio Vargas, em 1954.

Golpe (70 minutos). Direção: Guilherme Castro e Luiz Alberto Cassol - 14, 15 e 16 de agosto às 19h no CineBancários.


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ESPORTES

PORTO ALEGRE, 15 A 31 DE AGOSTO DE 2018

Quando os rivais no campo se unem contra o fascismo FUTEBOL | MARCELO FERREIRA

PORTO ALEGRE (RS)

Torcedores cantam, sorriem, choram, xingam e se emocionam pelo seu clube. O futebol desperta paixões que, muitas vezes, acabam em violência. Foi pela paz dentro e

fora dos estádios que, nos últimos anos, surgiram as torcidas antifascistas no Brasil e no mundo. A depender desses coletivos, racismo, homofobia, machismo e opressão estão com seus dias contados na cultura do futebol. Na dupla Gre-Nal, através de

ações nos estádios e nas redes sociais, torcedores unem a paixão ao seu clube com denúncias contra o fascismo, empunhando seus trapos e bandeiras que recordam que o futebol é do povo. Por mudanças nos espaços esportivos, os rivais já estiveram do mesmo lado

No Grêmio, a Tribuna 77

A

Tribuna 77 é um coletivo multicultural de torcedores do Grêmio que se reúne na arquibancada superior norte da Arena. Foi embrionada no último ano do Olímpico Monumental, em 2012, dentro do contexto histórico e social que a transferência de estádio representava. Desde então, foram muitas experiências, debates e encontros em busca da transformação de um não-lugar em um espaço com identidade, história, memória e de lutas por um estádio e um mundo melhor. Entre as principais pautas do movimento, estão a redemocratização dos espaços de futebol, o res-

gate e manutenção do patrimônio histórico e cultural do clube, além do combate ao racismo, LGBTfobia, machismo, misoginia e todos os tipos de preconceito, explica o mediador da Tribuna 77. Ele prefere não ser identificado para, segundo entende, manter a horizontalidade do coletivo. “O antifascismo é um dispositivo problematizador das práticas de poder. Isso significa que nossa preocupação é com aquilo que compreendemos como fascismo em todos os âmbitos: negação da diferença, supressão do outro, afirmação de uma verdade única, imposição de determinados modos de

na roda de conversa “Mobilização na arquibancada – o combate ao preconceito no futebol”, realizada no Museu da UFRGS, em abril de 2018. E ambos garantem que mais momentos como esse vão acontecer, inclusive junto a movimentos de outros clubes. Fotos: Divulgação / Facebook

existir e se relacionar em detrimento de outros.” O nome, assim como a motivação, fazem referência ao ano de 1977, na gestão do patrono Hélio Dourado, que avançou com ações progressistas dos gabinetes até as arquibancadas, em plena ditadura militar. Também serviram de inspiração a experiência da Coligay,

primeira torcida abertamente formada por homossexuais no Brasil, a campanha do cimento (onde o Olímpico se tornou Monumental pelas mãos de torcedores e torcedoras de todo o país) e o projeto que formou milhões de torcedores ao permitir a entrada gratuita de crianças com até 12 anos nos estádios.

No Internacional, a Frente Inter Antifascista

E

m 2015, integrantes da torcida colorada Guarda Popular criaram a Frente Inter Antifascista, aberta a qualquer torcedor que deseje partilhar o mesmo objetivo de combater a elitização e o fascismo dentro e fora dos estádios. Com o recrudescimento dos movimentos golpistas e suas consequências em 2016, a Frente cresceu. Hoje, conta com integrantes de torcidas, sindicatos, movimento estudantil e torcedores em geral do Inter, unidos pelo amor ao colorado e contra as opressões. “Algumas músicas de arquibancada acabam descambando pra homofobia, machismo ou racis-

mo”, explica o mediador da Frente, que também não se identifica devido à horizontalidade do grupo. “O torcedor, na média, não interpreta esse tipo de ofensa como opressão no contexto do futebol. Nesse sentido, nossa Frente tem um caráter pedagógico também, ao se aproximar de outros colorados e fazê-los refletir sobre esses temas que, como sabemos, não estão circunscritos aos estádios.” As arquibancadas e as redes sociais do grupo, já testemunharam manifestações a favor das ocupações nas escolas e pela qualidade do ensino público, contra a venda da Petrobras, de-

nunciando o assassinato de Marielle Franco, afirmando o #Fora Temer, entre outras. Seus integrantes também são combativos dentro do clube, em relação a temas como a elitização. “Obtivemos recentemente uma grande

vitória junto a institucionalidade do clube, com o ‘Sócio Academia do Povo’, modalidade popular e acessível de associação para abrir mais espaço às camadas de menor renda dentro do Beira-Rio”, observa o mediador.

TABELINHA GRENAL Não perca as datas dos próximos jogos da dupla

Internacional X Paraná Clube 19/08 | 11h | Brasileirão

Corintians X Grêmio 18/08 | 19h | Brasileirão

Bahia X Internacional 22/08 | 19h30 | Brasileirão

Grêmio X Cruzeiro 22/08 | 21h45 | Brasileirão

Internacional X Palmeiras 26/08 | 16h | Brasileirão

Atlético PR X Grêmio 25/08 | 19h | Brasileirão

Cruzeiro X internacional 02/09 | 19h | Brasileirão

Grêmio X Estudiantes 28/08 | 21h45 | Libertadores


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