Eleições RS
Com alta rejeição, Sartori encara a maldição de ser governo. ENCARTE ESPECIAL
Privatizações
Como o Rio Grande “quebrado” devolveu R$ 153 milhões para Temer. PÁGINA 7
RIO GRANDE DO SUL
20 de setembro
Farrapos, a história sonegada da traição aos soldados negros. CULTURA | PAG 11
15 a 30 de setembro de 2018 distribuição gratuita brasildefato.com.br
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Ano 1 | edição 05
HADDAD
A vez do vice que virou Lula ENCARTE ESPECIAL
Foto: Ricardo Stuckert
Foto: Fabiana Reinholz
ECONOMIA
MULHERES
Polo Naval, onde o golpe transforma o futuro em sucata.
O desafio de jogar futebol no país do... futebol.
PÁGINAS 4 e 5
PÁGINA 12
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OPINIÃO
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
Gilmar Mendes, quem diria, tem razão
Sem teto e sem terra não têm direito à moradia?
EDITORIAL |
A
facada em Jair Bolsonaro deu ao candidato susto, medo e dor. E uma nova narrativa a ser usada num espaço midiático que jamais pensou desfrutar. Do ataque muito se falou. Há um contingente expressivo que jamais deixará de considerá-lo armação. Outro apenas suspeita. Um terceiro está convicto e, em parte, acha que foi obra das esquerdas. Parcela da opinião pública entende que o candidato da ultradireita colheu o que semeou. Outra acredita que não se pode, nunca, culpar a vítima pela agressão sofrida. O fato é que o incidente levou a uma reflexão sobre os motivos da violência nas eleições, numa intensidade que se assemelha aos costumes da República Velha - e até nisso regredimos após 2016... Afinal, antes do episódio de Juiz de Fora, tivemos o assassinato de Marielle e Anderson, os tiros contra a caravana de Lula e mais tiros contra o acampamento de Curitiba. Todos sem apresentação de culpados, testemunho de inépcia ou cumplicidade das polícias. No fragor do
ARTIGO |
debate, as opiniões quase se repetiram. Condenou-se o ataque, suspenderam-se as campanhas, pediu-se paz. Mas uma voz foi além desse discurso, a do ministro do STF Gilmar Mendes que atrapalhou a harmonia do coro. Autoritário, conservador, algoz dos seus adversários e amigo de seus amigos em apuros, o ministro reparou que “os órgãos de mídia são instrumentos que açulam. A mídia não foge à responsabilidade por esse tipo de situação”. Melhor do que isso, só lembrando o papel do Judiciário seletivo e partidarizado na mesma semeadura. Mas aí já seria pedir demais... O punhado de famílias que controla os principais jornais, revistas, rádios e TVs tem rigorosamente tudo a ver com o clima de conflagração. Sobretudo a partir de 2013, quando apontou o inimigo interno para ser incansavelmente execrado, humilhado e perseguido, o que culminaria no golpe parlamentar de 2016. Como alguém já disse, Bolsonaro é um sintoma apenas. A doença foi inoculada no coração da sociedade bem antes.
Jacques Távora Alfonsin - Advogado especializado em direito de moradia
A
s estatísticas relativas às pessoas sem teto no Brasil variam muito conforme os critérios de pesquisa sobre essa grave questão. Se todas as sub habitações ou só o fato de se residir em favela forem mensurados, por exemplo, os números revelarão uma quantidade bem diferente de outros que contem pessoas desatendidas por serviços públicos essenciais à saúde, como os ligados ao saneamento básico. A atualização das pesquisas não se encontra com facilidade. No site Aprendiz, lê-se que a população favelada no país subia a quase 7 milhões de pessoas, em 2007, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). A Fundação João Pinheiro, examinando dados da mesma fonte, aí já em 2015, estimava que o Brasil possuía 7,906 milhões de imóveis vagos, 80,3% dos quais localizados em áreas urbanas e 19,7% em áreas rurais. Mesmo com essa diferença de tempos e critérios de pesquisa, é notável a proximidade dos números entre pessoas faveladas e imóveis vagos. Mediando oito anos entre 2007 e 2015, existiria, talvez, uma quase coincidência entre as necessidades de moradia das/os brasileiras/os pobres com os imóveis disponíveis. A urgência dessa injustiça social inaceitável ser enfrentada não tem preocupado o Poder público, Judiciário inclusive, com raras exceções; geradora
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CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Dary Beck Filho, Fernando Maia, Jonas Tarcísio Reis, Rogério Ferraz, Adelto Rohr, Mariane Quadros, Carlos Alberto Alves, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Marcelo Souza, Franco Magroski Dutra, Ayrton Centeno, Wálmaro Paz, Simone Lersch, Oscar Fucks, Marcelo Ferreira, Fabiana Reinholz e Luiz Dorneles. | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares
A POIO
CHARGE | Santiago
A Fundação João Pinheiro, examinando dados da mesma fonte, aí já em 2015, estimava que o Brasil possuía 7,906 milhões de imóveis vagos, 80,3% dos quais localizados em áreas urbanas e 19,7% em áreas rurais. de conflitos diários sobre terra, multidões têm sido desapossadas sem considerar-se o cumprimento da função social da propriedade e da posse que toda a terra em disputa deve cumprir. A Constituição Federal, o Estatuto da Terra e o da Cidade, de regra, nem são lembrados nessas ações. Assim, só lhes resta exercer o legítimo direito de resistência, fazendo justiça pelas próprias mãos, ocupando terras, vencendo a parcialidade de aplicação das leis pela defesa material de suas vidas, liberdade e cidadania, pois outra não pode e não deve ser a função do Estado de direito e da democracia.
GERAL
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
Cidades do interior se tornam reféns do “Novo Cangaço” VIOLÊNCIA |
Foto: José Leal | Rádio Sarandi
Quando pensamos em cidades do interior, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de uma praça bem cuidada, com pessoas reunidas e uma tranquilidade e segurança que não encontramos nas capitais e nos grandes centros urbanos. MARCELO SOUZA PORTO ALEGRE (RS)
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ssa realidade, hoje, não passa de uma vaga lembrança para os gaúchos. No lugar da tranquilidade e da segurança, os moradores convivem com quadrilhas fortemente armadas, que invadem cidades para assaltar bancos. Durante a ação, usam pessoas como escudo humano, atacam delegacias e quartéis da Brigada Militar, evitando, assim, a reação das forças de segurança. Em 2017, foram quase 70 assaltos a banco no estado. A maior parte ocorreu em pequenas cidades interioranas. Essa nova modalidade de crime já tem apelido. É o Novo Cangaço. A situação alarmante do interior gaúcho não é um acaso. É resultado do desmonte da segurança pública realizada pelo governo estadual. O corte dos
Moradores de Sarandi, no norte do estado, também viraram escudo humano para a ação de assaltantes de bancos
investimentos e as políticas equivocadas, aparentemente com a principal preocupação de satisfazer a mídia, levou o estado a uma espiral de violência. Aconteceu assim: no começo de 2017, reagindo a uma onda de latrocínios, o governo Sartori deslocou um grande contingente de policiais do interior para fortalecer o policiamento em Porto Alegre. Naquele momento, crimes cometidos na capital ganhavam as manchetes da mídia. Na ocasião, já se alertava que o Palácio Piratini aparentava ter maior preocupação com a sua imagem do que com a vida dos gaúchos. Retirar policiais de locais
Bancos também devem ser responsabilizados O governo do estado não é o único omisso, os bancos também têm sua parcela de responsabilidade. O setor, que é o que mais lucra no país, sempre impôs forte resistência a adotar normas básicas de segurança nas suas agências. Em 2017, a Assembleia Legislativa gaúcha promoveu uma Audiência Pública para discutir os assaltos a banco no interior do estado. De todos os convidados, o único que se recusou a comparecer foi o representante da Febraban. As recomendações aprovadas na Audiência foram solenemente ignoradas pelos banqueiros. O resultado é que se tornam alvo fácil para os bandidos, colocando a população e seus funcionários em risco. O Ministério Público deve obrigar os bancos a estabelecerem planos eficientes de segurança, com os custos bancados por eles mesmos. Não se pode admitir que a população arque com a segurança de um setor que lucrou mais de R$ 60 bilhões em 2017.
que, muitas vezes, contam somente com dois agentes equivale a entregar cidades inteiras aos ladrões. O mais grave é que essa situação cria um ciclo vi-
cioso. Os assaltos a bancos capitalizam o crime organizado. Capitalizados, os assaltantes compram armamentos cada vez mais sofisticados e se tornam
ainda mais perigosos e eficientes. Essas quadrilhas, mais capacitadas, ampliam ainda mais sua área de atuação. Em breve, estarão atacando grandes cidades.
Casos se multiplicaram nos últimos meses JULHO Dia 05 | Jaquirana: assaltantes fizeram um cordão humano com moradores do município durante o roubo a dois bancos, uma lotérica e um posto de combustíveis. Na fuga, levaram dois reféns, libertados em seguida. Dia 05 | Canguçu: uma quadrilha explodiu a agência local do Banco do Brasil, aproveitando-se de um apagão na energia elétrica. Na mesma ação, roubaram um caminhão, incendiaram e atravessaram o veículo na BR-392, para evitar chegada de reforço policial. No quartel da Brigada Militar espalharam miguelitos (pregos retorcidos) para furar os pneus das viaturas. Dia 05 | Maximiliano de Almeida: ataque à agência do Banco do Brasil. Na fuga jogaram miguelitos na estrada. Alvejaram os vidros da agência, utilizando espingardas calibre 12. Dia 06 | Novo Hamburgo: quadrilha armada com pistolas e fuzil invadiu uma agência do Santander, no centro da cidade. Rendeu funcionários e clientes que aguardavam atendimento e recolheu o dinheiro dos caixas. Na fuga, trocou tiros com guardas municipais. Dia 06 | Boa Vista do Incra: quatro homens armados atacaram com ex-
plosivos a agência do Banrisul. A cidade, com 2,5 mil habitantes, estava sem policiamento. Um veículo da BM e um caminhão tiveram pneus furados.
AGOSTO Dia 09 | Dilermando Aguiar: quatro homens fortemente armados, detonaram a agência do Banrisul. Após o assalto, os bandidos fugiram antes da chegada da polícia. Dia 11 | Canguçu: assaltantes usaram explosivos contra uma agência da CEF e atacaram o batalhão local da BM. Na fuga, um policial civil foi ferido com um tiro de fuzil. Dia 14 | Vila Nova do Sul: assaltantes utilizaram explosivos para atacar as agências do Banco do Brasil e do Banrisul. Na fuga, a quadrilha abordou um ônibus na BR 290, tomando o motorista como refém. O coletivo foi atravessado na pista para evitar uma eventual perseguição policial. Dia 30 | Entre Rios do Sul: grupo armado invadiu a cidade e explodiu as agências do Sicredi e do Banrisul. Moradores foram feitos de reféns e obrigados a formar um cordão humano, impedindo qualquer reação da polícia.
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GERAL
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Golpe faz esperança virar sucata em Rio Grande POLO NAVAL |
No Sul do Estado, o golpe de 2016 se traduz em destruição do Polo Naval gaúcho, a maior esperança de superação do atraso secular da Metade Sul do Rio Grande que, agora, está sendo transformado em sucata. FRANCO MAGROSKI DUTRA
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RIO GRANDE (RS)
té 2003, a Metade Sul gaúcha estava relegada a segundo plano em termos de investimentos pesados. Porém, a partir do Governo Lula isto começou a mudar. A inauguração do Polo Naval colocou a cidade de Rio Grande como protagonista da indústria brasileira. Com a adaptação do casco da plataforma P-53 e a construção do maior dique-seco do Hemisfério Sul, o Rio Grande do Sul passou a figurar, entre os anos de 2014 e 2014, no mapa mundial da construção naval. Os empregos e os empreendimentos brotavam, o comércio lucrava, a construção civil crescia e a receita municipal teve um crescimento espetacular. Um exemplo vem da arrecadação do ISSQN, o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Em 2013, no auge do Polo, o município arrecadou R$ 140 milhões. Em 2017, baixou para R$ 91 milhões, uma perda de R$ 49 milhões. No caso do ICMS, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, outro tombo brutal. A arrecadação caiu de R$ 215 milhões em 2015 para R$140 milhões no ano passado. Não apenas Rio Grande e os municípios vizinhos de Pelotas e São José do Norte foram beneficiados com a presença da indústria naval. Todo o Estado ganhou, fornecendo matéria prima. O polo metalmecânico de Caxias do Sul, por exemplo, foi um dos fornecedores de insumos, criando um ciclo de produção industrial sustentável no Estado.
Foto: STIMMMERG
Quadro de depressão O golpe sofrido pelo Polo Naval, com a queda de Dilma Rousseff, fez com que seu vice, Michel Temer, realizasse mudanças drásticas e na contramão do conteúdo produtivo nacional. Seu governo promoveu o desmonte da indústria, que havia sido estimulada e alavancada. Hoje, em Rio Grande e arredores, o quadro é de depressão. Investimentos paralisados, comércio fechando, empregos extintos e uma plataforma que enferruja a céu aberto. Antes de Temer, a indústria naval de Rio Grande oferecia 24 mil empregos diretos e 108 mil indiretos espalhados pelo Estado. Dos 24 mil postos de trabalho fechados do Polo, 11 mil ainda foram recuperados, com os trabalhadores sofrendo defasagem de salários. O restante deixou a cidade ou caiu na informalidade. Antes com falta de operários e técnicos, Rio Grande hoje
possui cerca de três mil desempregados. Nos estaleiros Ecovix, EBR e QGI restam apenas 150 trabalhadores. É uma situação que obriga quem se qualificou para o Polo a tomar outras medidas para sobreviver. É o caso de Paulo Roberto da Silveira, de 32 anos. À época do boom da indústria naval, ele pediu demissão da loja em que trabalhava para fazer um curso de soldador no Senai. Passou a receber R$ 3,4 mil por mês. No final de 2016, foi demitido. Hoje, sustenta a família fazendo bicos na construção civil. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico de Rio Grande e São José do Norte (STIMMERG), Benito Gonçalves, protestou diante da decisão da Petrobrás, após o golpe de 2016, de demitir o pessoal que atuava nas plataformas P-75 e P-77. Na época, foi cancelado o contrato para construção des-
Trabalhadores cobram providências do governo
sas plataformas no Brasil. Temer optou por finalizá-las na China. Para Gonçalves, a presidência da Petrobrás não levou em consideração a geração de empregos e toda a cadeia produtiva ativada em torno da construção naval. Salário pela metade Em Rio Grande, as mudanças para pior saltam à vista. Uma breve caminhada pelo centro chama a atenção pelo número expressivo de lojas de portas cerradas. O presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio local, Paulo Francisco da Silva Arruda, explica que parte dos co-
merciários foi atraída pelos benefícios oferecidos na construção naval e, desempregados, tentaram recuperar seus antigos postos. “Muitos deles não encontraram seus antigos empregos e partiram para o comércio informal”, comentou. O secretário municipal de Desenvolvimento, Inovação, Emprego e Renda, Marcos Mazzoni, revela que a média salarial dos trabalhadores nos bons tempos do Polo Naval era de R$ 2,5 mil. Hoje, porém, caiu para a média de R$ 1,3 mil, praticamente a metade do salários anterior. O impacto para Rio Grande tem sido brutal.
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R$ 62 milhões de impostos perdidos
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Foto: Marcos Jatahy
cidade perdeu de arrecadar cerca de R$ 62 milhões em impostos somente no ano de 2017, além de uma queda vertiginosa do PIB per capita que antes era R$ 17 mil reais, mas chegou a atingir o patamar dos R$ 40 mil reais no auge do polo naval”, revela Mazzoni. A rede hoteleira de Rio Grande e região é uma das que mais sofre com a ausência de profissionais de outras cidades que também atuavam na indústria naval. A rede de hotéis Atlântico, com três unidades na cidade, chegou a ter uma taxa de ocupação em 2015 de 70%, de trabalhadores do polo naval. Atual-
O prefeito do Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT), acentua que, para retomar a indústria naval gaúcha, será preciso interesse político.
mente, não passa de 30%. Quem também voltou ao passado foram as imobiliárias. Após um período de euforia, retrocederam ao patamar anterior à instalação do Polo. O prefeito do Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT) acentua que, para retomar a indústria naval gaúcha, será preciso interesse político. “Ao primeiro olhar, é mais barato produzir na China, o que é uma leitura simplista e equivocada, pois não leva em consideração todo o valor agregado na implantação e consolidação da indústria, toda a rede de fornecedores de bens, a qualificação e formação profissional nas instituições de ensino”, avalia.
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para os navios saírem da barra, é necessário esperar que a maré suba... O impacto também é sentido na FURG, a Fundação Universidade de Rio Grande. A instituição aderiu a programas estratégicos, criados para qualificação de mão-de-obra especializada como o Prominp, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural e o Pronatec, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Segundo o vice-reitor Danilo Giroldo, que também é diretor-presidente do Arranjo Produtivo Local (APL), a comunidade acadêmica
Foto: STIMMMERG
Navios só saem com ajuda da maré
ara o prefeito, o desmonte promovido por Brasília leva à constatação que o atual governo gaúcho é fraco na política de desenvolvimento, optando pela majoração de impostos, principalmente através do ICMS, o que afasta novos investimentos. Enquanto outros estados criaram legislações adequando-se à questão fiscal da politica nacional, o Rio Grande do Sul afugentou qualquer possibilidade de investimentos futuros. A falta de ação já é refletida na manutenção da dragagem do Porto do Rio Grande, uma responsabilidade do governo Sartori que não a cumpre. Hoje em dia,
acompanhou desde o início o processo de criação do Polo, participando dos polos regionais do Prominp, coordenados pela própria Petrobrás. Paralelamente, em 2007, a FURG aderiu ao Reuni, o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades. Com investimentos do Reuni, foram criados cursos de graduação e pós-graduação voltados para as áreas de atuação do Polo. “Um estudante que ingressou no curso de Mecânica Naval em 2013 e o conclui em 2018, vai encontrar um cenário totalmente diferente e adverso na sua área de atuação”, exemplifica.
Trabalhadores da Ecovix fizeram vigília na frente do Estaleiro Rio Grande em defesa dos seus empregos
Sucata para a Gerdau
O Foto: STIMMMERG
Luta dos trabalhadores da Ecovix em defesa do estaleiro Rio Grande vem desde 2017
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corte nos investimentos e nas políticas públicas frustrou todo o planejamento do sistema de educação técnica e de empresários e fornecedores, inclusive de outras regiões do estado. Em meados de agosto, a Ecovix, proprietária do Estaleiro Rio Grande, conseguiu aprovar o plano de recuperação judicial da empresa, afastando a possibilidade de sucateamento de todo estaleiro. Agora, a empresa busca interessados na compra do complexo, avaliado em cerca de R$ 4 bilhões. Ainda assim, com o cancelamento do contrato de montagem da P-72, por parte da Petrobrás, os blocos de aço que integrariam a plataforma, estão sendo vendidos como sucata para a siderúrgica Gerdau,
mesma empresa que forneceu a matéria-prima num primeiro momento para a Ecovix... Rio Grande tem um legado que traz esperança pela retomada das atividades de construção naval, por possuir três estaleiros consolidados na região, o que permite uma grande capacidade para docagem e reparo de navios e plataformas. A diversificação de atividades pode ser uma alternativa viável, ajudando no esforço para que a participação do conteúdo local atinja um nível razoável mais elevado que os 25% atuais. Já existe um projeto de lei no Congresso para elevá-lo a 40%. O que ainda é pouco, mas já poderia garantir a sobrevivência da construção naval no país. Ainda existe esperança.
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Entidades lançam nota de repúdio à violência no processo eleitoral Diante dos episódios de violência que estão acontecendo na campanha eleitoral, 20 organizações da sociedade civil lançaram manifesto denunciando a ameaça que tais eventos representam para a democracia. Abaixo, o texto integral do documento
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ataque contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro é um ato inadmissível. Expressamos nosso desejo de rápido e pleno restabelecimento da vítima e de justa punição de seu agressor. É preciso, acima de tudo, estancar a espiral de violência instalada no país. Figuramos, hoje, entre as nações mais violentas do mundo, com maior número de mortes violentas, maiores taxas de feminicídio, de assassinatos de homossexuais, de militantes sociais e de jornalistas e, ainda, com a terceira maior população carcerária. Somos o quinto país socialmente mais desigual do mundo, situação que nega oportunidades à ju-
ventude e gera a marginalização, principalmente da população negra e dos povos indígenas, e o aumento da criminalidade. Vemos a intolerância crescente dividir as mais diferentes comunidades em todo o país e a violência invadir a vida política nacional. A vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram executados em março deste ano, no Rio de Janeiro, em plena ocupação militar da cidade, e suas mortes continuam sem esclarecimento. A caravana do ex-presidente e, então, pré-candidato à Presidência da República Luís Inácio Lula da Silva, também em março deste ano, teve participantes atacados com chicotes e foi atingida por tiros, quando passava pelos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, e nenhum dos envolvidos nos atos de violência e nos atentados à bala foi sequer investigado. O acampamento em solidariedade ao ex-presidente Lula, em Curitiba, foi alvo de, ao menos, quatro atentados, sendo que um deles,
à bala, deixou como saldo dois feridos, sem que tenha havido qualquer indiciamento pelos atos. Uma integrante da equipe de campanha do candidato à Presidência da República Guilherme Boulos foi ameaçada com arma de fogo, em agosto. O avanço da violência política vem ocorrendo no ambiente de profunda crise institucional do país, cuja raiz é a falta de legitimidade. Os poderes Executivo e Legislativo federais estão sob o controle de políticos implicados em graves episódios de corrupção e as cúpulas do poder Judiciário e do Ministério Público agem de forma parcial e contraditória, segundo suas preferências políticas, desrespeitando claramente a Constituição e, inclusive, acordos internacionais assumidos livre e soberanamente pelo país junto à ONU. A sociedade brasileira precisa estancar a violência contra seus cidadãos. O candidato ora agredido tem incentivado a violência, enaltecido torturadores e estimulado a agressão a homossexuais e a mulheres,
além de prometer exterminar seus adversários políticos. Nada disso, no entanto, deve obscurecer o fato de que houve um ataque à vida de um cidadão e que este ato deve ser repudiado. É urgente pacificar o país, afastar os ódios e restabelecer o respeito mútuo entre os diferentes, principalmente entre aqueles que defendem caminhos diversos para o país. É hora de restabelecer o respeito à diversidade, o diálogo e o retorno do Brasil à normalidade democrática. Conclamamos todas as instituições, organizações, movimentos, integrantes de tradições religiosas, partidos e pessoas que acreditam no respeito ao outro e no diálogo a manifestarem-se publicamente contra o avanço da violência e a favor da manutenção da democracia. Assinam este documento as seguintes entidades e movimentos: M3D – Movimento em Defesa da Democracia, do Diálogo e da Diversidade Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democráti-
co de Direito Projeto Brasil-Nação ABJD-RS – Associação Brasileiras de Juristas pela Democracia EDUCAFRO – SP LIERGS - Associação Quilombo Sociocultural Afrobrasileiro Coletivo Levante Gremista Portal de Hip Hop Bocada Forte Comitê em Defesa da Educação Pública Movimento Fé e Política RS Articulação em defesa da Educação do Campo do Estado do Rio Grande do Sul Amigxs de Esquerda na Resistência MUSAs – Mulheres na Universidade e na Política Associação Educadores Sociais de Porto Alegre – AEPPA Movimento de Educação Popular – MEPE Instituto Social Brava Gente SINDAERGS – Sindicato dos Administradores do RS Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RGS Frente Democrática Ibitinga|SP ADUFRGS-Sindical, Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre Akanni- Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Gênero, Raça e Etnias
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PRIVATIZAÇÃO | Governo Sartori até devolve
dinheiro para entregar esgoto à iniciativa privada
WÁLMARO PAZ
PORTO ALEGRE (RS)
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penas no que refere a Canoas, foram devolvidos R$ 153 milhões. O dinheiro já estava disponível na Caixa Econômica Federal e serviria para concluir as obras locais de esgotamento sanitário. A denúncia foi feita pelo Sindiágua, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto/RS ao Ministério Público de Contas do Estado (MPC-RS) e também ao Ministério Público Federal (MPF). O diretor do Sindiágua, Rogério Ferraz, observa
que até 2014, o governo do Estado, na época Tarso Genro, assinou contratos com a União no valor de R$ 4,4 bilhões para obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Somente numa ocasião, foram firmados acordos com o Ministério das Cidades no valor de R$ 521,9 milhões. Montante direcionado para nove cidades da região metropolitana sendo que, para Canoas, o valor foi o mais significativo: R$216 milhões, a serem usados na ampliação do sistema de esgotamento sanitário. “Toda esta verba veio a fundo perdido, isso é, sem nenhum ônus para o Estado”, acentua. De acordo com Ferraz, com o cancelamento das licitações das outras etapas, a Caixa suspendeu todo o repasse do restante do dinheiro para as nove cidades, chegando ao valor de R$ 233 milhões. “Além disso, a Corsan, como não levou adiante todo o projeto, dá para afirmar que o prejuízo total chega a RS 521,9
Foto: Carol Ferraz | Sul21
Com o intuito de entregar o filé do saneamento básico para empresas privadas, o governo Sartori chegou até a devolver recursos obtidos a fundo perdido do PAC II, a segunda fase do Programa de Aceleração de Crescimento.
milhões”, diz ele. E enfatiza: “Para um estado que afirma não ter recursos, perder esta quantia é um despropósito”. Faltou projetos No final do governo Tarso estavam prontos os projetos com as primeiras etapas e já aprovados pela Caixa. Para receber o resto do dinheiro, a Corsan, a Companhia Rio-grandense de Saneamento,
deveria elaborar projetos e orçamentos e enviar à Caixa para aprovação. As licitações da primeira etapa das obras estavam até com data marcada. Ocorreriam em junho de 2015. Caso fosse seguido aquele encaminhamento, Canoas alcançaria o índice de cobertura de esgotos tratados de 70%, considerado ótimo pelas autoridades sanitárias. Em vez disso, porém, a
Corsan, obedecendo a linha do novo governo, optou pela privatização da gestão de esgotos através de PPPs, as parcerias público privadas. Para justificar a falta de recursos, devolveu aqueles R$ 153 milhões ao Ministério das Cidades. É o que comprova o ofício nº 24/2017 da pasta remetido à Superintendência Nacional de Transferência de Recursos Públicos da Caixa.
TCE abre auditoria especial sobre a PPP Uma Auditoria já foi deflagrada pelo Tribunal de Contas do Estado a pedido do Ministério Público de Contas. O MPC emitiu parecer sobre a PPP. De sua parte, o MPC emitiu parecer sobre as contas da Corsan de 2015. No documento, afirma que “as irregularidades antes descritas revelam a prática de atos administrativos e de gestão contrários às normas de administração financeira e orçamentária”. Repara ainda que tal fato acontece “especialmente em relação às deficiências verificadas nos procedimentos licitatórios (contratações emergenciais) e a morosidade na implantação e ampliação dos sistemas
de esgotamento sanitário, com a dificuldade em atender as demandas de engenharia junto ao financiador Caixa Econômica Federal”. Registra ainda “a fragilidade dos projetos apresentados, e se reveste de relevância bastante para ensejar a irregularidade das contas”. Segundo Ferraz, é isto “exatamente o que a Caixa e o Ministério as Cidades vem dizendo: os recursos estão sendo perdidos em decorrência dos projetos que, “ou não foram apresentados ou, quando apresentados, são tão deficientes que não conseguem aprovação”. Aconteceu que a direção da Corsan suspendeu os editais de licitação das primeiras etapas das obras do PAC e não enviou os projetos
das etapas seguintes. Com isso, deixou de receber R$ 233 milhões para as nove cidades, gerando um prejuízo direto de R$ 521 milhões já assinados e contratados pela administração anterior. Cálculos do Sindiágua indicam que a capacidade de arrecadação nas nove cidades da PPP, após concluídas as obras do PAC, ultrapassará R$ 10 milhões mensais. E este será o grande trabalho da empresa privada participante: arrecadar os recursos. Isto porque, a maior parte das obras já foi realizada com recursos públicos. Cidades como Esteio já tem 90% da obra concluída, enquanto Cachoeirinha e Gravataí contam com 70% finalizados. Em agosto passado, os
Trecho do Parecer do MPCE/RS
vereadores de oposição em Canoas conseguiram barrar a votação que aprovaria a PPP. A votação ocorrerá após as investigações dos ministérios público de
contas e federal. Procurada e questionada sobre a polêmica, a diretoria da Corsan não deu a sua versão dos fatos até o fechamento desta edição.
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CIDADES
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
Congresso do Povo percorre o Rio Grande do Sul com sua “pedagogia da escuta” ORGANIZAÇÃO |
Fotos: Divulgação MST
Iniciativa da Frente Brasil Popular discute caminhos para a soberania popular. SIMONE LERSCH
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PORTO ALEGRE (RS)
Congresso do Povo, convocado pela Frente Brasil Popular, está percorrendo as cidades do Rio Grande do Sul. “É uma maneira das pessoas organizarem seu próprio congresso, como parte de um processo pedagógico popular. Procuramos descobrir e formar novas lideranças”, explica Eliane Silveira, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), um dos grupos que integram a FBP. Na pauta, a compreensão do atual momento político e o desafio de construir um “Projeto de Brasil”, baseado na soberania nacional, no respeito à democracia e no combate às desigualdades. “O Congresso do Povo retoma trabalhos de diálogo com as bases populares para debater os problemas
Brigadistas já passaram por Gravataí, Canoas, Passo Fundo e alguns bairros da Capital, como Cruzeiro e Lomba do Pinheiro.
locais e apontar suas soluções, em comunidade. E o estágio que nós estamos é a construção do debate”, comenta Eliane. Educação popular O diálogo é realizado com base em métodos de escuta, herança dos ensinamentos do educador Paulo Freire. “Não existe educação popular sem diálogo, sem partir-
“A esquerda tem que chegar na periferia” Lançado no final de 2017 em Guararema/SP, numa reunião com 350 representantes dos movimentos sociais do país, o Congresso do Povo Brasileiro desenvolve-se em etapas: primeiro os encontros nos bairros, após no município, depois no estado, até à fase nacional. “Nós vamos fazer uma mobilização ampla, com reuniões que acontecerão nos salões paroquiais, nos ginásios e escolas para discutir a situação em que o povo está vivendo e quem são os culpados desse quadro”, anunciou então o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. Além da proposta de debater, construir e aprovar um projeto popular, Stédi-
le citou três desafios para o congresso. O primeiro seria mobilizar os trabalhadores dos bairros e vilas. “A esquerda não está chegando na periferia, só chega o PCC e os evangélicos, que poderiam se tornar evangélicos de esquerda”, comentou. O segundo desafio é a necessidade de a esquerda fazer uma autocrítica do seu modo de fazer política. “Nós temos que dizer para os partidos e para os nossos candidatos: ‘não é discurso que faz voto’, advertiu. O terceiro é a formação política. “Nós temos que aproveitar este período para formar militantes. Como é que se forma militante? Com a práxis, com a teoria e a prática. Este é o tempo de nós rejuvenescermos”, acentuou.
mos da nossa realidade. Esta perspectiva valoriza a experiência de cada pessoa como ponto de partida”, esclarece. “Isso implica também em um processo muito mais horizontal, que não é essa ideia de que um fala e o outro escuta, mas que todos possamos falar e nos escutar", destaca Paulo Almeida, um dos coordenadores da Brigada do Congresso do Povo. Realidade local Os diálogos com as comunidades locais já acontecem em diversas regiões do país. No Estado, estão sendo visitadas as cidades
acima de 50 mil habitantes. Almeida conta que os brigadistas chegam e se estabelecem na comunidade durante duas ou três semanas. Conversam com a população e promovem ações que envolvam os moradores como mutirões, assembleias, além de atividades culturais. “Já passamos por municípios da região metropolitana (Gravataí, Canoas), do Interior (Passo Fundo), além de alguns bairros da Capital, como Cruzeiro e Lomba do Pinheiro. Nesta semana e até as eleições, a Brigada estará em Ijuí e Erechim”, pontua.
O congresso é aberto para ouvir opiniões, inclusive, que possam despertar uma análise mais ampla. A Brigada espalha os convites e os interessados podem aderir a partir de sua associação comunitária ou do movimento social do qual participam. E quem não tem vínculo pode procurar as lideranças de seu bairro. Almeida comenta que visitando uma ocupação num bairro alagado de Gravataí, em situação muito precária, algo chamou sua atenção. A brigada estimulou a comunidade a reivindicar melhor infraestrutura e convocou uma atividade na subprefeitura. “Os adultos não participaram, mas as crianças e os jovens aderiram à ideia de que é fundamental a mobilização para melhorar suas condições de vida.” Ele exemplifica com outro episódio na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre. Os moradores depositavam o lixo no pátio de uma residência, localizada em área de risco. A brigada fez um mutirão para limpar o local, mas não conseguiu concluir a tarefa. “No dia seguinte, os próprios vizinhos perceberam a importância da coleta e do descarte adequados e se integraram à continuidade do mutirão”, reparou.
Objetivo é conversar com a população e promover ações que envolvam os moradores
TERRA
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
ALIMENTAÇÃO | Rótulos nas embalagens
deverão trazer mais informações
O que você e seu filho comem sem saber, ao ingerirem alimentos industrializados? OSCAR FUCHS
PORTO ALEGRE (RS)
S
egundo pesquisa do IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), 40% dos entrevistados não sabe. E por que não sabe? Porque não consegue entender as tabelas nutricionais impressas nas embalagens desses alimentos. O próprio IDEC diz que esse percentual é maior que 40%, em virtude do nível de instrução: mais de 70% dos entrevistados tinha nível superior. É sabido que a desinformação afeta mais os menos instruídos. Essa desinformação deve-se às confusas tabelas de ingredientes e propriedades nutricionais impressas nas embalagens, que não esclarecem ao público o que está consumindo. Com base nisso, o IDEC, apoiado por diversas instituições e entidades ligadas à saúde, propôs a mudança dos rótulos. Indicou um modelo elaborado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) que é recomendado pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e que já é adotado no Canadá, Israel, Chile e Peru. Desde 2014 um Grupo de Trabalho da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está estu-
dando essa mudança de rótulos. São dois modelos sugeridos: o do IDEC, frontal e com mais informações; e o das indústrias alimentícias. Recentemente o modelo das indústrias foi excluído do processo, mas os fabricantes de alimentos já apresentaram um novo modelo para contrapor ao apoiado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), USP (Universidade de São Paulo), Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e outras entidades. Selo do IDEC busca informar danos à saúde O modelo de rotulagem do IDEC tem um selo frontal, ao contrário do que é hoje, às costas da embalagem. O selo informará que se trata de alimento processado ou ultraprocessado, como refrigerantes, sopas e massas instantâneas, biscoitos, salgadinhos, nuggets, pizzas congeladas, salsichas e assemelhados. Esses produtos são os responsáveis pela epidemia de obesidade e de pressão alta que está acometendo até crianças em idade pré-escolar. Este selo também indicará se há excesso de componentes prejudiciais à saúde. Alimentos com esse selo não poderão usar apelos de venda a crianças, tais como personagens, desenhos e brindes. Também não poderão exibir informações como “rico em fibras” ou “0%
gordura trans” no intuito de transmitir uma imagem de “produto saudável”. Outras informações que devem constar no novo rótulo são: Ingredientes culinários: sal, açúcar, óleos vegetais e gorduras como a manteiga, deverá haver uma advertência para usar o produto com moderação. Texto legível: tamanho mínimo da letra, tipografia específica, fundo branco, espaçamento adequado. Porções reais e comparáveis: as informações deverão ser apresentadas por 100g ou por conteúdo completo da embalagem, facilitando comparações. Lista de ingredientes mais visível: declaração do número total de ingredientes.
Indústrias pressionam por rótulos menos “alarmistas” Temendo perder vendas de seus produtos, a indústria propõe um modelo de rotulagem menos “alarmista”, como frisa em seu site a ABIA (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação). O rótulo apresentado inicialmente pela ABIA foi excluído do processo, mas a associação da indústria alimentícia apresentou uma nova versão que mantém o modelo semáforo. O novo modelo continua com os alertas verde, vermelho, amarelo, em semáforo, e acrescenta apenas as palavras baixo, médio, alto para açúcares, gordura saturada e sódio, “que é o que importa”, nas palavras da assessoria de imprensa da ABIA. O novo selo
segue sem citar outros componentes. Em essência, o selo dos fabricantes de alimentos é o mesmo que o apresentado anteriormente e que havia sido rejeitado pelo grupo de estudos da Anvisa. Segundo Noemia Goldraich, coordenadora e fundadora há 4 anos do Núcleo Interdisciplinar de Prevenção de Doenças Crônicas na Infância da UFRGS, a nova rotulagem é uma determinação da ONU para melhor informar a população. Noemia adverte que diabetes, sobrepeso e pressão arterial alterada foram constatados em todos os níveis de pesquisa. “Essas alterações estão diretamente associadas a uma alimentação com ex-
cesso de sal, açúcar e gorduras, encontradas em produtos ultraprocessados, que passaram a fazer
parte da nossa alimentação, em substituição à comida de verdade”, salienta.
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CULTURA & LAZER HORÓSCOPO
VIRGEM (23/8 A 22/9)
Virginiana que fez história: Anita Garibaldi. “A heroína dos dois mundos” como é conhecida, Anita representa a síntese dos nascidos sob o signo de Virgem. Sai-se bem desempenhando qualquer papel, seja ao utilizar um armamento pesado em meio a uma guerrilha, seja no carinho e cuidado com os filhos. Agora, para as próximas semanas a vida dos virginianos (as) será intensa, maiores responsabilidades serão assumidas. As pessoas contarão com você. Reserve um momento para desopilar.
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
HUMOR
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LIBRA (23/9 A 22/10)
Libriano que fez história: Victor Jara. Como o cantor chileno você entende a importância de colocar sua alma a serviço de transformações sociais profundas. Explore este seu lado nas próximas semanas, você estará mais criativo.
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)
Escorpiano que fez história: Léon Trotski. Você é polêmico pela profundidade de suas convicções, assim como o dirigente revolucionário. Nas próximas semanas, tome cuidado com provocações e com o que sai de sua boca. Marte viajando por Aquário é um prato cheio para a impaciência.
SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)
Sagitariano que fez história: Carlos Marighella. Como o líder comunista você realmente não tem tempo para ter medo, coragem é seu segundo nome. Nas próximas semanas você estará mais interessado nos estudos, aproveite para ler mais sobre Marighella, inclusive.
CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1)
Capricorniano que fez história: Luiz Carlos Prestes. Só alguém que trabalha com afinco e responsabilidade poderia realizar um feito do tamanho da Coluna Prestes, liderado pelo ex-senador. Para as próximas semanas, tenha atenção com gastos inesperados.
AQUÁRIO (21/1 A 19/2)
Aquariano que fez história: Antonio Gramsci. Aquarianas (os) são pessoas revolucionárias por natureza, inclusive na luta contra o sistema hegemônico, como fez o pensador italiano. Determinação é palavra de ordem para as próximas semanas, apenas tome cuidado com os exageros.
PEIXES (20/2 A 20/3)
Pisciana que fez história: Rosa Luxemburgo. Quando quer, você consegue explicar assuntos muito complexos com frases muito simples: “Quem não se movimenta não sente as correntes que a aprisionam”. Seus relacionamentos serão o foco das próximas semanas, algo novo sempre pode acontecer.
ÁRIES (21/3 A 20/4)
Ariana que fez história: Marisa Letícia. Sem você, não chegaríamos onde estamos. Assim como a ex-primeira-dama, a lealdade das (os) arianas (os) sempre será lembrada. A próxima semana será de concretização de parcerias políticas que você vem construindo há tempos. Sua rotina tende a ficar agitada.
TOURO (21/4 A 20/5)
GÊMEOS (21/5 A 20/6)
Geminiano que fez história: Toussaint Louverture. Simplesmente, o maior líder negro revolucionário das Américas, líder da independência do Haiti. Como ele, você não gosta de pessoas se metendo em sua vida. Seu otimismo e sua fé serão renovados para as próximas semanas, aproveite.
CÂNCER (21/6 A 22/7)
Canceriana que fez história: Frida Kahlo. Sua beleza fica ainda mais complexa diante de sua melancolia, em suas mãos as artes tornam-se uma ótima válvula de escape. Você sentirá sua sensualidade mais aflorada nas próximas semanas. Estará mas assertiva (o) e agressiva (o).
LEÃO (23/7 A 22/8)
Leonino que fez história: Jorge Amado. Como o escritor de Gabriela Cravo e Canela você tem uma mistura de ousadia e dramaticidade, e gosta que as pessoas entendam quem você é. Para as próximas semanas você viverá uma forte agitação social, cuidado para não ficar exausto e também com a agressividade. Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.
GRAFAR
Taurino que fez história: Karl Marx. A teimosia e o gosto pelo trabalho foram os combustíveis principais para Karl Marx entender as relações na sociedade capitalista. Para as próximas semanas: romance a vista e cuidado para não passar por cima de ninguém.
TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)
CULTURA & LAZER
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
TRADIÇÃO | Porongos, a traição aos
negros farroupilhas O 20 de setembro é o Dia do Gaúcho. Nesta data, milhões de pessoas festejam seus costumes e bravura, recordando com orgulho a Revolução Farroupilha. Mas essa história é só orgulho? Nossas façanhas são realmente um modelo a toda a terra? MARCELO FERREIRA
PORTO ALEGRE (RS)
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ezenas de pesquisadores já se debruçaram sobre as versões da Guerra dos Farrapos. O historiador e ex-diretor técnico do extinto Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF), Luiz Claudio Knierim, recorda que memória coletiva não é um espaço neutro, mas de discurso político. “Quando se esconde ou não se conta bem o Massacre de Porongos, por exemplo, temos uma razão ideológica, o enaltecimento da figura mítica do gaúcho.” Foi “a maior infâmia já praticada no Rio Grande do Sul”, segundo o jornalista Juremir Machado da Silva, autor do livro “História Regional da Infâmia: o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras”. Foi uma traição aos negros que guerreavam com a promessa de liberdade no final do
conflito, já que a maioria dos farroupilhas não era abolicionista. “Um ou outro pode ter sido, mas a maioria esmagadora não foi. Não era uma bandeira da revolução. Bento Gonçalves, por exemplo, quando morreu tinha muitos escravos”, revela o autor. Com a derrota dos rebelados em vista, o Império não aceitava a prometida libertação. Ao mesmo tempo, os farrapos anistiados não sabiam o que fazer com aqueles homens que deveriam ser devolvidos aos seus antigos patrões. A solução foi costurada no Massacre de Porongos, o último conflito da guerra, uma emboscada aos Lanceiros e Infantes Negros combinada entre David Canabarro e Duque de Caxias. No dia 14 de novembro de 1844, mais de 100 negros foram assassinados e os que sobreviveram foram enviados à corte brasileira. “Foi um massacre! Não foi uma batalha em que as duas partes estavam posicionadas para combater. Foi um ataque surpresa, como era na maior parte do tempo dessa revolução de guerrilhas. Nesse caso, o acampamento foi atacado de surpresa ao amanhecer e essas pessoas estavam sem munição”, esclarece Juremir. As munições haviam sido retiradas pelo comandante Canabarro, mesmo com aviso da proximidade das tropas imperiais.
Foto: Divulgação/Piquete Lanceiros Negros Contemporâneos
Cavalgada dos Lanceiros Negros Contemporâneos
Resgate da importância do negro na formação do RS
“N
ós, Lanceiros Negros Contemporâneos, somos negros que nos identificamos com o gauchismo, não necessariamente com o tradicionalismo”, diz o manifesto do Piquete Lanceiros Negros Contemporâneos, fundado em 2003, nos 160 anos do episódio de Porongos. “[...] queremos fazer parte desta história, nos reencontrar com o nosso passado e redescobrir os laços que nos ligam a essa cultura gauchesca que também nos pertence e que muito nos orgulha porque em muito contribuímos para a sua existência.” Este piquete se soma a outros que participam dos festejos gaúchos de setembro e buscam ressignificações. O grupo realiza uma cavalga-
da em pontos históricos de Porto Alegre, no dia 14 de novembro, marcando o início da Semana da Consciência Negra. Knierim avalia como fundamental o entendimento dessa história para o combate ao racismo do estado. “As vezes, o gaúcho acha
Livro-reportagem narra história de resistência das fundações estaduais Chega às livrarias este mês uma minuciosa cobertura jornalística sobre o processo de extinção das fundações públicas estaduais, organizada no livro Patrimônio Ameaçado, com selo da JÁ Editores. O jornalista Cleber Dioni Tentardini acompanhou durante três anos os movimentos de resistência que se mantêm e ainda ques-
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tionam na Justiça a drástica decisão e a falta de argumentos razoáveis do governo Sartori para o encerramento das atividades de oito fundações estaduais e uma companhia – Cientec, Piratini (TVE/ FM Cultura), FEE, Metroplan, FZB, FDRH, Fepagro, Feeps e Corag. O livro-reportagem traz entrevistas com dirigentes, servidores e comunidade intelectual.
A obra conta um pouco da história de pioneirismo dessas instituições e mostra que a extinção pura e simples, feita de forma improvisada, com a distribuição de suas atribuições, serviços e funcionários estáveis para outros órgãos da administração direta, representa grave ameaça a um patrimônio público, material e imaterial, cujo valor é incalculável.
que é melhor que o restante dos brasileiros por causa desta história mal contada. Não olha os defeitos dos seus chamados heróis. Aí saem combatendo negros refugiados que chegam aqui, esquecendo que seus avós também foram imigrantes vindos de uma Europa que passava fome”, pondera. Isso não quer dizer que não se possa celebrar a cultura gaúcha, como faz qualquer povo com seu folclore e identidade. Para Knierim, é importante “desvincular os festejos de celebração e costumes gauchescos do episódio histórico”. Na Guerra dos Farrapos, lembra Juremir, “houve de tudo. Teve banditismo, corrupção, traição, mas também momentos de bravura e heroísmo”.
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ESPORTES
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
PRECONCEITO | Brasil: o país do
futebol... masculino “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza.” As palavras são do artigo 54 do decreto-lei número 3.199, assinado em 1941, que proibiu a prática do futebol feminino por quase 40 anos, até 1979. FABIANA REINHOLZ E LUIZA DORNELES PORTO ALEGRE (RS)
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ara o governo da época, o esporte era considerado violento, e a natureza da mulher, frágil. Hoje, conhecemos Marta: a primeira pessoa a ser eleita por cinco vezes consecutivas a melhor futebolista do mundo. Frágeis, elas já provaram que não são. Futebol, elas já mostraram que jogam. Por que não ouvimos falar sobre as jogadoras profissionais? Aos sete anos, a menina alegretense começou a jogar bola com seus irmãos e primos. Aos dezesseis, saiu da casa dos pais para viver o sonho de se tornar uma atleta profissional. Elisandra Madeira Guerra, ca-
Campo molhado não é impedimento para o aquecimento
Apesar da falta de profissionalização, dedicação é diária
rinhosamente conhecida como Taba, hoje é meio campista do Grêmio, em Porto Alegre, e só no segundo semestre desse ano começou a viver exclusivamente da profissão. “Anteriormente, mais da metade das jogadoras se dividiam entre treinamento e trabalho, isso prejudicava bastante o desempenho, porque não é fácil tu ter que trabalhar o dia todo e à noite ter que viver uma rotina de atleta, competir, estar em alto nível”, comenta. A paixão de Georgia Balardin, 22 anos, vem desde os 5. Ainda na infância entrou nas categorias de base do Internacional, de onde saiu aos 14 para jogar na Associação Carlos Barbosa de Futsal. Com um convite da ex-jogadora e gerente de futebol feminino do Inter Duda Luizelli, retornou ao clube no ano passa-
do. Para Georgia, a principal dificuldade que as esportistas enfrentam é a falta de patrocínio. “É difícil, porque se não tem o público, não tem a mídia. Se não tem a mídia, não tem o patrocinador, e se não tem patrocinador a gente também não cresce”, desabafa. A atleta acredita que o novo regulamento da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) possibilitou maior visibilidade à modalidade. Profissionalização Apesar da lei da Conmebol ter facilitado a criação de departamentos femininos nos clubes, as atletas ainda enfrentam a falta de profissionalização. Das dez equipes inscritas no Gauchão 2018, apenas a do Internacional assina a carteira de somente 9 das 27 jogadoras. Segundo a Fede-
Falta de visibilidade Elas não aparecem na mídia nem tem seus passes vendidos por milhares de dólares. Para as jogadoras, a modalidade ainda não chegou ao patamar da masculina por conta da falta de visibilidade. “A gente não tem a mesma mídia, não tem a mesma transparência. Para muitos, futebol feminino não é muito atrativo e por conta disso não aparece o apoio necessário”, aponta Taba. Apenas 3% do noticiário esportivo é voltado para a cobertura de atletas e competições femininas segundo pesquisa da Women’s Sports
Fotos: Fabiana Reinholz
Foundation. No Brasil, a organização de mídia Gênero e Número analisou pouco mais de 24h da programação esportiva e o levantamento apontou que apenas 12% desse tempo, um total de 2 horas e 55 minutos, foi dedicado às atletas mulheres. Todas as dificuldades que as meninas enfrentam não diminuem sua vontade jogar. Cabe a nós, cidadãos, continuar questionando e cobrando que elas apareçam nos noticiários, que seus jogos sejam transmitidos, que seu futebol seja devidamente reconhecido.
ração Gaúcha de Futebol (FGF), o Grêmio pretende regulamentar 10 das 21. Profissionalizar é o clube assinar carteira e contrato de trabalho, além de oferecer condições e estrutura para que as mulheres possam fazer desse esporte a sua profissão. “Essas meninas têm sangue nas veias, vontade de dar certo, mas não depende delas. Depende do clube realmente investir”, afirma Carlos Alberto de Souza (Neco), presidente da Associação Gaúcha de Futebol Feminino (AGFF). Para ele, a profissionalização não pode valer só para três, quatro, e às outras não. Silvana Goellner, pesquisadora referência nos estudos sobre a inserção das mulheres nos esportes, acredita que as federações esportivas deveriam investir em novos cam-
peonatos para que tenhamos maior circulação de jogadoras. “Elas jogam por amor, elas são resilientes, elas são persistentes, elas perseveram, em que pese toda a diversidade de condições com as quais elas encontram o futebol de mulheres no Brasil. É muito diferente do que ter carteira assinada, plano de saúde, férias, aposentadoria, ou seja, vínculos duradouros com as equipes”, afirma Silvana. Para o presidente da FGF, Francisco Noveletto, quem deveria financiar as competições são o Ministério do Esporte e a Secretaria de Esporte do Estado. De acordo com ele, a média dos salários das jogadoras no RS não chega a 100 reais. Grêmio e Inter representam 1% da realidade do Estado e oferecem uma média de 3 mil reais.
TABELINHA GRENAL Não perca as datas dos próximos jogos da dupla Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Grêmio X Paraná 15/09 | 16h | Brasileirão Tucuman X Grêmio 18/09 | 21h45 | Libertadores Grêmio X Ceará 23/09 | 11h | Brasileirão Fluminense X Grêmio 29/09 | 16h | Brasileirão
Chapecoense X Internacional 17/09 | 20h | Brasileirão Corinthians X Internacional 23/09 | 16h | Brasileirão Internacional X Vitória/BA 30/09 | 16h | Brasileirão
Grêmio X Rio Grande 16/09 | 16h | Gauchão Oriente X Grêmio 20/09 | 10h30 | Gauchão Grêmio X Black Show 23/09 | 16h | Gauchão João Emílio X Grêmio 30/09 | 16h | Gauchão
Internacional X Estrela 16/09 | 16h | Gauchão Internacional X Ijuí 23/09 | 16h | Gauchão Brasil de Farroupilha X Internacional 23/09 | 16h | Gauchão
RIO GRANDE DO SUL
15 a 30 de setembro de 2018 distribuição gratuita brasildefato.com.br
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brasildefators
Ano 1 | edição 05
Agora, Haddad é Lula Foto: Ricardo Stuckert
Enfim, começou a campanha. Agora, Fernando Haddad é Lula e Lula é Fernando Haddad. Tudo o que aconteceu até então era somente um ensaio para o que virá pela frente. Os dados estão lançados. "Agora Haddad será Lula para milhões de brasileiros", afirmou o ex-presidente em carta que já ganhou o status de documento para a História do país. AYRTON CENTENO *
A
PORTO ALEGRE (RS)
largada aconteceu no dia 11 de setembro, diante do prédio da Polícia Federal, em Curitiba, onde Lula, condenado sem provas e até então líder disparado de todas as pesquisas eleitorais, é mantido há quatro meses como preso político. O ex-prefeito de São Paulo, tendo a deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) como vice, foram os escolhidos para assumir a chapa da coligação liderada pelo PT. Cumpriu-se a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que impediu Lula de concorrer, contrariando decisão oriunda de comitê da ONU, a Organização das Nações Unidas, e confrontando acordo internacional assinado pelo Brasil. Haddad entra em cena com o potencial de herdar grande parte dos votos que iriam para o ex-presidente. Especialistas avaliam que o PT tem como desafio confirmar a tendência sinalizada pelas pesquisas, apresentando Haddad para o eleitor e obtendo novos votos em meio a um quadro de vários concorrentes e de um eleitorado fragmentado. “Voto retrospectivo” A cientista política Maria Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos, pondera que a substituição de Lula ocorre por uma imposição do Judiciário. “Se sabe que se permanecesse com essa situação poderia haver alguma outra guina-
da do Judiciário, inclusive impugnando a própria chapa", acentuou. Entende, porém, que as articulações para inibir a candidatura de Lula podem beneficiar a transferência de votos para Haddad. Pontua ainda que a agenda de retrocessos do governo de Michel Temer gerará os chamados "votos retrospectivos", ou seja, angariados por causa de uma memória positiva dos governos anteriores. "Qualquer governo que assumir o país vai encontrar uma situação crítica. Então, se ele [Haddad] conseguir colar sua imagem ao ex-presidente Lula e às principais políticas sociais, de aumento do salário mínimo e de outras condições necessárias para que as pessoas tenham uma vida melhor, maior a chance desse eleitorado votar na proposta petista", avalia.
afirma que o PT teve ganhos políticos e eleitorais com a estratégia de levar o nome do ex-presidente como candidato até o último momento possível pelo calendário eleitoral. Secco avalia como "inegável" que Lula permaneça como ator político determinante para transferir votos a Haddad, mas que há outros fatores que influenciam a disputa. "É muito difícil que um partido que tenha essa transferência do eleitorado não tenha um candidato no segundo turno, qualquer que seja ele. Mas não é só uma questão de transferência de votos do Lula. É a força que o Lula representa, e também a capilaridade nacional que o PT possui." De acordo com o Ibope, o PT é o partido preferido de 29% da população brasileira. O índice supera as demais 34 legendas registradas no TSE somadas, e é o maior desde 2014.
Força partidária O historiador Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo (USP),
Políticas sociais "A direita enveredou pelo caminho do golpe parlamentar; depois, de
aplicação de reformas altamente impopulares sem legitimidade do governo para fazer isso. Então, é óbvio que uma parte expressiva da população se voltaria para aquele instrumento político que ela já reconhece como representante de políticas sociais, de uma posição progressista de esquerda, que é o PT", diz Secco. Para o historiador, o grande desafio de Haddad, de perfil mais moderado, é conquistar votos em redutos não tradicionais do partido - o que, na sua visão, foi o que determinou a sua escolha para substituir Lula. Acha que Haddad, pelo seu perfil, tende a fazer uma campanha conciliadora, o que estaria em contradição com o programa atual do PT. “Vamos ver como ele vai equilibrar a imagem de moderado com a radicalidade do programa", comenta. O papel de Manuela Já Maria Socorro Braga afirma que, para chegar ao segundo turno, o PT e os partidos coligados têm que definir uma estratégia para dar resposta a um eleitorado muito fracionado. "É um eleitorado que não se diz de direita, de esquerda, nem de centro. Ele se coloca como 'quem fizer melhor ou quem propor condições políticas para que minha vida melhore ou mantenha o patamar que eu alcancei' é a tendência do eleitor se voltar para essa força", afirma. "Eles têm que conseguir passar essa certeza para um eleitorado que é volátil." Por isso, a professora pontua a importância do papel de Manuela D'Ávila na coligação O Brasil Feliz de Novo. Repara que, hoje, são as mulheres que bloqueiam a ascensão da candidatura de Bolsonaro. Manuela, então, seria importante no trabalho para atingir o eleitorado feminino. É algo que as pesquisas têm detectado: a dificuldade de Jair Bolsonaro (PSL) angariar votos entre os eleitores mais pobres, com menor nível de instrução e entre as mulheres. * Com informações de Lu Sodré, Rute Pina e Julia Dolce do Brasil de Fato SP
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ENCARTE ELEIÇÕES 2018
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
Quem está no poder perde, diz a tradição ELEIÇÕES NO RS |
Quando outubro chegar, o Rio Grande do Sul colocará à prova uma velha escrita: quem está no poder perde a eleição. Isto vale para o partido ou para o candidato. Tem sido assim desde a redemocratização do país - e mesmo antes da ditadura de 1964, quando PTB e PSD se alternavam no Palácio Piratini. AYRTON CENTENO
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PORTO ALEGRE (RS)
esta vez quem desafia a rotina é o atual governador José Ivo Sartori, do MDB. Ele lidera as pesquisas, porém a mais recente delas (Ibope/RBS) não lhe trouxe boas notícias. Nela, aparece com 25% de intenções de voto, mas com 39% de rejeição, percentual três vezes maior do que seus adversários, capaz de travar sua caminhada no segundo turno. A reprovação resulta de seu governo desastroso em que afaga o empresariado e castiga o trabalhador. Desde seu começo, por exemplo, atrasa o salário dos servidores. Em-
penha-se na venda do patrimônio público e no fechamento de fundações estaduais. Paga aos professores estaduais o pior salário do país (R$ 620 por 20 horas semanais), como denuncia o Cpers. Ainda segundo o sindicato dos professores, reduziu em 15 mil os funcionários na ativa. Na área da segurança, sucedem-se os casos em que pequenas cidades do interior são tomadas por bandidos que assaltam bancos e fazem reféns. Não é para menos. A Ugeirm, o sindicato dos agentes da polícia civil, indica um déficit de cinco mil policiais no Estado. “Questões como o parcelamento dos salários do funcionalismo público vão cobrar seu preço. Não acredito que Sartori se reeleja e, dependendo das circunstâncias, quiçá nem mesmo chegue ao segundo turno”, opina o cientista político Alfredo Gugliano, da UFRGS. “Pode acontecer algo bastante novo, um segundo turno entre dois candidatos do mesmo campo político ideológico - a centro direita “, nota a cientista política Céli
Pinto, também da UFRGS. Se tal ocorrer, mostrará “uma nova composição de forças bastante distinta das que até aqui vivenciamos”, acrescenta. Ela se refere ao crescimento da candidatura do ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite (PSDB), que se aproxima de Sartori nas intenções de voto (25% x 18%), faltando poucas semanas para a votação. O terceiro colocado, Miguel Rossetto, do PT, avançou de 8% para 14%.
O voto que sempre condena o governo 1950
1994
1954
1998
Governo Walter Jobim (PSD) Vitória – Ernesto Dornelles (PTB) Governo Dornelles (PTB) Vitória – Ildo Meneghetti (PSD)
Governo Collares (PDT) Vitória– Antonio Britto (PMDB) Governo Britto (PMDB) Vitória– Olívio Dutra (PT)
Radiografia de um desastre Alguns números do governo do MDB escancaram as dificuldades que Sartori deve enfrentar na hora das urnas: Funcionalismo – 32 meses de salários atrasados ou parcelados; Economia – Tarifaço no ICMS, que saltou de 5,9% para até 20%; queda do PIB (7,5%) em nível ainda mais baixo que o governo Temer, tido como o mais impopular da história; Segurança - Aumento de 35% dos homicídios dolosos; 52,3% dos roubos de carros; 41,3% dos latrocínios. Redução de 68 milhões/ano nos investimentos em segurança pública e diminuição de 4.815 servidores no setor;
2002
Educação – Nenhum reajuste, nenhum concurso e redução de 17.301 funcionários; fechamento de sete mil turmas na rede do Estado;
1962 – Governo Brizola (PTB) Vitória– Ildo Meneghetti (PSD)
2006
Saúde – Quedas na vacinação contra o sarampo (76,3%), a pólio (72%) e a meningite (73,1%); avanço da mortalidade infantil pela primeira vez em 12 anos;
1986
2010
1990
2014
1958 –
Governo Meneghetti (PSD) Vitória– Leonel Brizola (PTB)
Governo Jair Soares (PDS) Vitória– Pedro Simon (PMDB) Governo Simon (PMDB) Vitória– Alceu Collares (PDT)
Governo Olívio (PT) Vitória– Germano Rigotto (PMDB) Governo Rigottto (PMDB) Vitória– Yeda Crusius (PSDB) Governo Yeda (PSDB) Vitória– Tarso Genro (PT) Governo Tarso (PT) Vitória– José Ivo Sartori (PMDB)
1) Antes de 1947, não havia eleições para governador. Estes eram nomeados pelo presidente. Na República Velha, havia eleições para “presidente do estado”. No Rio Grande, em diversas reconduções, Borges de Medeiros manteve-se no poder durante 25 anos. 2) Igualmente, no período entre 1962 e 1982, os governadores eram nomeados por Brasília. Em 1982, Jair Soares (PDS) foi eleito pelo voto direto. Sua eleição seria o único caso em que o mesmo partido permaneceu no comando. Mas há duas diferenças: 1) seu antecessor, Amaral de Souza, chegou ao governo nomeado pelos quartéis; 2) Não havia eleição em segundo turno. Somados, os votos de seus adversários, Simon e Collares, superaram em muito a votação do candidato do governo.
Agricultura - Corte nos financiamentos à agricultura familiar, tendo como exemplo o programa de irrigação que caiu de R$ 8,2 milhões/ano para R$ 2 milhões/ano; redução drástica do apoio aos assentamentos; Mulher – Fechamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres; esvaziamento das delegacias especializadas de apoio à mulher; Minorias – Paralisação ou sucateamento de ações de apoio às populações negras, quilombolas, indígenas e LGBTs.
PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
ENCARTE ELEIÇÕES 2018
Servidores lotam Casa do Gaúcho para debate com candidatos
A
ausência de Sartori no debate chamado pelo Movimento Unificado dos Servidores (MUS) e o Fórum dos Servidores Públicos Estaduais (FSPE-RS) não o ajudou. Ele e Mateus Bandeira, candidato do Partido Novo, que também não compareceu, foram representados por cadeiras vazias. O governador, embora ausente, foi recebido pelo coro de “Fora Sartori”. PT, PDT, PSDB, PSOL e PSTU mandaram seus candidatos. Único nome claramente de direita no palco da Casa do Gaúcho, Leite enfrentou as vaias e conseguiu falar, mesmo constrangido pela faixa “Dia M pela vida das mulheres - Justiça para as pelotenses vítimas da fraude nos exames pré-câncer” erguida durante sua exposição. Lembrava o chamado “Escândalo dos Exames”, ocorrido durante sua gestão. Centenas ou milhares de mulheres teriam sido enganadas pela clínica contratada pela prefeitura para aplicar os testes de detecção precoce da doença. Apenas 5% dos exames teriam sido feitos. Os demais resultados teriam sido obtidos “por amostragem”. Médicos estranharam a queda brusca de resultados positivos e fizeram a
Os cinco candidatos que compareceram ao debate. Da esquerda para a direita: Júlio Flores (PSTU), Miguel Rosseto (PT), Eduardo Leite (PSDB), Roberto Robaina (PSOL) e JairoJorge (PDT).
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Fotos: Caco Argemi/Cpers
denúncia em 2017. Leite procurou se defender argumentando que o contrato foi firmado bem antes de assumir a prefeitura. Além de Miguel Rossetto (PT), Jairo Jorge (PDT), Júlio Flores (PSTU) e Roberto Robaina (PSOL) comprometeram-se, se eleitos, a não extinguir nenhuma estatal, especialmente aquelas na linha de tiro do atual governo: CEEE, CRM e Sulgás. Robaina criticou a doação de armamentos e viaturas por instituições privadas, que vê como um começo de privatização da segurança pública. “Exterminador do futuro”, disse Jairo Jorge sobre Sartori, acusando-o de “destruir o potencial de futuro do Estado que são as suas fundações”. Rossetto recordou que “gente do PMDB e do PSDB quando assumimos, em 1999, disse que, se não vendêssemos o Banrisul, não teríamos como pagar a folha de abril... E o Sartori era líder do governo Britto na Assembleia”. Rossetto trouxe a discussão o uso de parcerias público-privadas na gestão do saneamento na Grande Porto Alegre. “Vou revogar essas PPPs”, avisou. E emendou: “Estado sem serviço público é estado do século 18 ou 19”.
O latifúndio de Sartori Uma coligação de nove partidos deu a José Ivo Sartori 3min.12s em cada bloco do horário eleitoral no rádio e na TV. É um latifúndio que supera a soma do tempo atribuído a cinco dos seis adversários. As alianças dos candidatos Miguel Rossetto (PT), Jairo Jorge (PDT), Roberto Robaina (PSOL), Mateus Bandeira (Novo) e Júlio Flores (PSTU) totalizam apenas 2min.58s. Somente Eduardo Leite (PSDB) rivaliza com o atual governador. Dispõe de 2min.42s., resultado de uma coligação de sete partidos.
Leite tirou vantagem da adesão a última hora do PP. Seu candidato ao governo estadual, Luiz Carlos Heinze, trocou a candidatura pela do Senado na chapa de Leite quando a senadora Ana Amélia - que puxaria votos para o PP - abandonou a ideia de reeleição ao converter-se em vice de Geraldo Alckmin. Uma derrota, naquele momento, para Jair Bolsonaro a quem Heinze apoiaria e cederia o palanque. Uma vitória para os tucanos no Estado que, no mesmo movimento, removeram um concorrente da disputa ao Palácio Piratini.
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PORTO ALEGRE, 15 A 30 DE SETEMBRO DE 2018
"Agora Haddad será Lula para milhões de brasileiros", afirma ex-presidente em carta Foto: Ricardo Stuckert
"Se querem calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o País, estão muito enganados. Nós continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora é Haddad", afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em carta que oficializou Fernando Haddad como candidato da chapa petista à presidência. Leia carta na íntegra.
"M
eus amigos e minhas amigas, Vocês já devem saber que os tribunais proibiram minha candidatura a presidente da República. Na verdade, proibiram o povo brasileiro de votar livremente para mudar a triste realidade do país. Nunca aceitei a injustiça nem vou aceitar. Há mais de 40 anos ando junto com o povo, defendendo a igualdade e a transformação do Brasil num país melhor e mais justo. E foi andando pelo nosso país que vi de perto o sofrimento queimando na alma e a esperança brilhando de novo nos olhos da nossa gente. Vi a indignação com as coisas muito erradas que estão acontecendo e a vontade de melhorar de vida outra vez. Foi para corrigir tantos erros e renovar a esperança no futuro que decidi ser candidato a presidente. E apesar das mentiras e da perseguição, o povo nos abraçou nas ruas e nos levou à liderança disparada em todas as pesquisas. Há mais de cinco meses estou preso injustamente. Não cometi nenhum crime e fui condenado pela imprensa muito antes de ser julgado. Continuo desafiando os procuradores da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro e o TRF-4 a apresentarem uma única prova contra mim, pois não se pode condenar ninguém por crimes que não praticou, por dinheiro que não desviou, por atos indeterminados. Minha condenação é uma farsa judicial, uma vingança política, sempre usando medidas de exceção contra mim. Eles não querem prender e interditar apenas o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Querem prender e interditar o projeto de Brasil que a maioria aprovou em quatro eleições consecutivas, e que só foi interrompido por um golpe contra uma presidenta legitimamente eleita, que não cometeu crime de responsabilidade, jogando o país no caos. Vocês me conhecem e sabem que eu jamais desistiria de lutar. Perdi minha companheira Marisa, amargurada com tudo o que aconteceu a nos-
sa família, mas não desisti, até em homenagem a sua memória. Enfrentei as acusações com base na lei e no direito. Denunciei as mentiras e os abusos de autoridade em todos os tribunais, inclusive no Comitê de Direitos Humanos da ONU, que reconheceu meu direito de ser candidato. A comunidade jurídica, dentro e fora do país, indignou-se com as aberrações cometidas por Sergio Moro e pelo Tribunal de Porto Alegre. Lideranças de todo o mundo denunciaram o atentado à democracia em que meu processo se transformou. A imprensa internacional mostrou ao mundo o que a Globo tentou esconder. E mesmo assim os tribunais brasileiros me negaram o direito que é garantido pela Constituição a qualquer cidadão, desde que não se chame Luiz Inácio Lula da Silva. Negaram a decisão da ONU, desrespeitando o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos que o Brasil assinou soberanamente. Por ação, omissão e protelação, o Judiciário brasileiro privou o país de um processo eleitoral com a presença de todas as forças políticas. Cassaram o direito do povo de votar livremente. Agora querem me proibir de falar ao povo e até de aparecer na televisão. Me censuram, como na época da ditadura. Talvez nada disso tivesse acontecido se eu não liderasse todas as pesquisas de intenção de votos. Talvez eu não estivesse preso se aceitasse abrir mão da minha candidatura. Mas eu jamais trocaria a minha dignidade pela minha liberdade, pelo compromisso que tenho com o povo brasileiro. Fui incluído artificialmente na Lei da Ficha Limpa para ser arbitrariamente arrancado da disputa eleitoral, mas não deixarei que façam disto pretexto para
aprisionar o futuro do Brasil. É diante dessas circunstâncias que tenho de tomar uma decisão, no prazo que foi imposto de forma arbitrária. Estou indicando ao PT e à Coligação “O Povo Feliz de Novo” a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de candidato a vice-presidente. Fernando Haddad, ministro da Educação em meu governo, foi responsável por uma das mais importantes transformações em nosso país. Juntos, abrimos as portas da Universidade para quase 4 milhões de alunos de escolas públicas, negros, indígenas, filhos de trabalhadores que nunca tiveram antes esta oportunidade. Juntos criamos o Prouni, o novo Fies, as cotas, o Fundeb, o Enem, o Plano Nacional de Educação, o Pronatec e fizemos quatro vezes mais escolas técnicas do que fizeram antes em cem anos. Criamos o futuro. Haddad é o coordenador do nosso Plano de Governo para tirar o país da crise, recebendo contribuições de milhares de pessoas e discutindo cada ponto comigo. Ele será meu representante nessa batalha para retomarmos o rumo do desenvolvimento e da justiça social. Se querem calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o País, estão muito enganados. Nós continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora é Haddad. Ao lado dele, como candidata a vice-presidente, teremos a companheira Manuela D’Ávila, confirmando nossa aliança histórica com o PCdoB, e que também conta com outras forças, como o PROS, setores do PSB, li-
deranças de outros partidos e, principalmente, com os movimentos sociais, trabalhadores da cidade e do campo, expoentes das forças democráticas e populares. A nossa lealdade, minha, do Haddad e da Manuela, é com o povo em primeiro lugar. É com os sonhos de quem quer viver outra vez num país em que todos tenham comida na mesa, em que haja emprego, salário digno e proteção da lei para quem trabalha; em que as crianças tenham escola e os jovens tenham futuro; em que as famílias possam comprar o carro, a casa e continuar sonhando e realizando cada vez mais. Um país em que todos tenham oportunidades e ninguém tenha privilégios. Eu sei que um dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida minha inocência. E nesse dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo e da esperança. Nós todos estaremos lá, juntos, para fazer o Brasil feliz de novo. Quero agradecer a solidariedade dos que me enviam mensagens e cartas, fazem orações e atos públicos pela minha liberdade, que protestam no mundo inteiro contra a perseguição e pela democracia, e especialmente aos que me acompanham diariamente na vigília em frente ao lugar onde estou. Um homem pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não. Nenhum opressor pode ser maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão chegar a todo mundo pela voz do povo, mais alta e mais forte que as mentiras da Globo. Por isso, quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim, que votem no companheiro Fernando Haddad para Presidente da República. E peço que votem nos nossos candidatos a governador, deputado e senador para construirmos um país mais democrático, com soberania, sem a privatização das empresas públicas, com mais justiça social, mais educação, cultura, ciência e tecnologia, com mais segurança, moradia e saúde, com mais emprego, salário digno e reforma agrária. Nós já somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros. Até breve, meus amigos e minhas amigas. Até a vitória! Um abraço do companheiro de sempre,
Luiz Inácio Lula da Silva"