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A volta do guri questionador de cabelos azuis
Cem anos de histórias irresistíveis
CULTURA | PAG 11
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01 a 14 de fevereiro de 2019 distribuição gratuita brasildefato.com.br
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Ano 1 | edição 09
Será que mais armas significam menos crimes? Ou é justamente o contrário? Especialistas e ativistas discutem a decisão do governo Bolsonaro de facilitar a posse de armas de fogo. E avisam: um dos alvos serão as mulheres. PÁGINAS 6 e 7
BRUMADINHO
Mais um crime da VALE Página 3
Foto: Alex Garcia
BBB - Bangue-Bangue Brasil
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OPINIÃO
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
ARTIGO | A gasolina baixou, mas não por causa de Bolsonaro
CHARGE | Santiago
Fernando Maia da Costa - Presidente do SINDIPETRO-RS
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A sirene está tocando
Brasil começa fevereiro sob o peso de três tragédias. Uma relembrada, mas ainda sangrando, outras duas em andamento com toda a sua dor e agonia. A tragédia/crime de Brumadinho reavivou na memória de todos a catástrofe de Mariana, quatro anos atrás, também em Minas Gerais e envolvendo a mesma empresa. Controlada pela privatizada Vale, a Samarco deixou um rastro de destruição ambiental e humana quando se rompeu a barragem de rejeitos da mina do Fundão em 2015. Foi, então, o maior episódio do gênero no mundo, despejando 62 milhões de metros cúbicos de dejetos industriais. Dezenove pessoas morreram e rios, córregos, povoados, animais e matas foram assassinados. Brumadinho, a segunda calamidade, ainda não permitiu que se contassem todos os seus mortos. Há mais de 250 desaparecidos, corpos que as famílias, tudo indiwww.brasildefato.com.br redacaors@brasildefato.com.br (51) 99956.7811 (51) 3228-8107 /brasildefators @Brasil_de_Fato
ca, nunca virão a receber para velar e sepultar. Aqueles que salvaram a vida dizem que a sirene, avisando do desastre, não tocou. São dois traumas que a Vale nunca sofrera antes de ser vendida por um cacho de bananas em 1997 sob o governo FHC. A expressão não é gratuita. Foi leiloada por R$ 3,4 bilhões. Nove anos após, o mercado avaliou a empresa em R$ 84,4 bilhões, valor 25 vezes superior ao obtido com a venda. A terceira barragem de rejeitos que sufoca a consciência do país partiu-se no Rio e afoga Brasília. São as relações subterrâneas do clã Bolsonaro com as milícias – organizações que disputam o crime com o narcotráfico – que precisam ser investigadas e esclarecidas. Há patrimônios, intimidades e depósitos bancários inexplicáveis. E fartura de explicações que nada explicam. Aqui, a sirene está tocando faz muito tempo. Precisamos ouví-la.
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CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Miriam Cabreira, Fernando Maia, Jonas Tarcísio Reis, Rogério Ferraz, Adelto Rohr, Fábio Castro, Mariane Quadros, Carlos Alberto Alves, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Fabiana Reinholz, Eduarda Schein, Ayrton Centeno, Katia Marko, Marcelo Ferreira, Marcos Corbari e Simone Lersch | PRODUÇÃO DA FOTO DA CAPA Alex Garcia, Ronaldo Schaefer, Alexandre Garcia | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares
No final de 2018, a estabilidade cambial e a redução dos preços do petróleo no mercado internacional já deveriam ter promovido uma grande queda do valor nos postos. Mas o consumidor só sentiu a mudança no seu bolso bem mais tarde.
ção do preço interno, provocando fortes aumentos na gasolina e no GLP (gás de cozinha). De lá pra cá, essas oscilações provocaram a elevação do preço médio da gasolina, de R$ 3,646 a até R$ 4,717, em outubro de 2018, e do GLP, ambos próximos de 30%. Mas, a adoção dessas medidas trouxe impactos fortes à economia. Como resposta, em maio de 2018, eclodiu a greve de caminhoneiros que quase parou o País e, ao seu final, provocou a demissão de Parente. O movimentou forçou o já combalido governo Temer a abrir mão das oscilações quase diárias, amenizando a curva ascendente dos preços. No final de 2018, a estabilidade cambial e a redução dos preços internacionais do petróleo - caindo de US$ 70 até US$ 82 o barril para US$ 53 até US$ 60 o barril deveriam ter promovido um grande recuo nos preços. Porém, a redução somente foi repassada ao consumidor no final de dezembro de 2018, início de janeiro de 2019. Vale notar que tal redução não representa, nem de perto, a redução possível. Podemos dizer isto porque a maior parte do petróleo que processamos, a mão de obra e grande parte dos custos são de origem nacional e pagos em real. Logo, não há necessidade de se manter o vínculo direto às variações cambiais e do preço do petróleo no mercado externo. Ao atual governo, cabe mostrar se continuará com a gangorra, atacando o povo, ou buscará a estabilidade de preços.
Muitas das fotos que ilustram esta edição do Brasil de Fato são de profissionais da Agência Brasil, um importante canal da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que sofre ameaça de ser extinta pelo governo Bolsonaro. É fundamental a manutenção da EBC e de seu caráter público para a democracia no nosso país.
A POIO
EDITORIAL |
odo mundo percebe que o preço da gasolina recuou. Há quem atribua a mudança à posse de Jair Bolsonaro. Mas o novo governo nada tem a ver com isso. Para contar o que aconteceu precisamos retroceder um pouco no tempo. Desde que Aldemir Bendine assumiu a presidência da Petrobrás em 2015, a direção começou a implantar uma nova política para os derivados de petróleo (diesel, gasolina e gás de cozinha), visando alcançar os preços internacionais. Em junho de 2016, quando Pedro Parente passou a comandar a empresa, a equiparação foi adotada de forma imediata. Com isso, estabelece-se uma verdadeira gangorra nos preços do mercado interno. Todas as variações do mercado externo, provocadas pelo preço do petróleo e da taxa cambial, passaram a interferir, diretamente, na forma-
GERAL
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
BRUMADINHO | 'É a maior tragédia trabalhista do
Brasil', diz procurador-geral do Trabalho
Para Ronaldo Fleury, o país vive um processo de "sub-humanização" dos trabalhadores, e o caso ocorrido em Brumadinho é exemplo disso. VITOR NUZZI
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REDE BRASIL ATUAL
p r o c u r a d o r- g e r a l do Trabalho, Ronaldo Fleury, afirmou que o ocorrido em Brumadinho (MG) é não apenas um desastre ambiental e humanitário, mas "a maior tragédia trabalhista do Brasil, da nossa história". Segundo ele, o caso supera o ocorrido em fevereiro de 1971 em Belo Horizonte, quando o desaba-
mento de um pavilhão de exposições em obras deixou 65 operários mortos. O episódio ficou conhecido como a "tragédia da Gameleira", bairro da capital mineira. Para Fleury, o Brasil vive um processo de "sub-humanização dos trabalhadores", e o exemplo de Brumadinho é óbvio. Em alguns casos, afirmou, a dor será "definida" pela Justiça. "E a dor dos que estavam trabalhando? Essa dor está limitada pela reforma trabalhista." Ele se referia ao item da Lei 13.467 que fixa limite à indenização em 50 vezes o salário do empregado. Esse dispositivo está sendo questionado no Supremo Tribunal Federal (STF), na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6.050, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). O relator é o ministro Gilmar Mendes.
Bloqueio das contas da Vale Fleury lembrou que o Ministério Público do Trabalho (MPT) em Minas ajuizou no dia 27 de janeiro uma ação cautelar na Vara do Trabalho de Betim (MG) solicitando bloqueio das contas da Vale no total de R$ 1,6 bilhão. A liminar foi deferida parcialmente, com determinação do bloqueio de R$ 800 milhões. "O ser humano está na centralidade da nossa Constituição", disse o procurador-geral. O objetivo, segundo ele, é garantir, além de uma futura indenização por danos morais e materiais, o pagamento dos salários dos trabalhadores – tanto os desaparecidos como os resgatados. "A nossa ação visa que as famílias não fiquem desamparadas neste momento. A fonte de renda deve ser preservada", diz a procuradora Elaine Noronha Nassif, que assina a cautelar. Além do bloqueio, o MPT quer que a empresa siga pagando os salários, arque com despesas de funeral, traslado de corpos e sepultamento. Além disso, solicita que a Vale apresente, em
Foto: Sarah Torres
Crime da Vale em Brumadinho (MG): não é acidente!
10 dias úteis, documentos como programa de gerenciamento de riscos, convenção ou acordo coletivo e relação nominal de empregados diretos e terceirizados. "A Vale é reincidente", afir-
mou Geraldo Emediato de Souza, outro procurador a assinar a ação, referindo-se à tragédia de Mariana, três anos atrás. "É preciso arcar com as consequências da negligência", acrescentou.
PEC 300 | A nova ameaça aos direitos dos trabalhadores Foto: Arquivo
O texto altera o artigo 7º da Constituição, retirando mais direitos dos trabalhadores, além daqueles já modificados/extintos pela reforma trabalhista.
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deputado federal Luiz Fernando Faria (PP-MG) emitiu no dia 9 de janeiro um parecer favorável à admissibilidade, por parte da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 300/2016, da autoria do deputado Mauro Lopes (MDB-MG). Entre as alterações propostas estão a ampliação da jornada diária de trabalho para dez horas, respeitando-se o limite já estabelecido de 44 horas semanais, sendo “facultada a compensação de horários e a alteração da jornada, mediante convenção ou acordo
coletivo de trabalho”. A proposta também prevê o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho prevalecendo sobre as disposições previstas em lei. Ou seja, consolida-se constitucionalmente o que já foi disposto na “reforma” trabalhista aprovada em novembro de 2017, com
o negociado se sobrepondo ao legislado. Justiça do Trabalho A PEC 300 também pretende dificultar ainda mais o acesso do empregado à Justiça do Trabalho. De acordo com o texto, o prazo prescricional para se ingressar com uma ação, que hoje é de dois
anos para os trabalhadores urbanos e rurais após a extinção do contrato de trabalho, passaria para apenas três meses. O trabalhador também seria obrigado a, antes de impetrar uma ação, ter obrigatoriamente que passar por uma comissão de conciliação prévia. Em agosto do ano passado, o Supremo Tribunal Federal já havia decidido que demandas trabalhistas podem ser submetidas à apreciação do Poder Judiciário sem análise de comissão de conciliação prévia. A discussão era relativa à interpretação do artigo 625-D da CLT. A tramitação da PEC 300 havia sido paralisada por conta da intervenção federal que vigorava no Rio de Janeiro, o que impedia a análise de propostas que modificassem a Constituição. Ainda não há data para apreciação do parecer na Comissão de Constituição e Justiça.
Fonte: Rede Brasil Atual
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PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
Reforma de Bolsonaro cria mais risco para os assalariados PREVIDÊNCIA |
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Até agora, o que há de concreto é que o sistema desejado pelo ministro Paulo Guedes é o de capitalização, em detrimento ao atual, de solidariedade. FABIANA REINHOLZ E EDUARDA SCHEIN
PORTO ALEGRE
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evido à forte reação da sociedade, inclusive, com uma grande Greve Geral, a reforma da Previdência não avançou no governo Temer. A intervenção federal no Rio de Janeiro, que impede mudanças constitucionais, também foi um fator importante para barrar a reforma da Previdência que agora deve ser endurecida e enviada pelo governo Bolsonaro ao Congresso Nacional em fevereiro. Alterações no texto elaborado pela gestão emedebista devem ser mantidas. Hoje administrada pelo INSS, a Previdência pretendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, é a que ocorre através de capitalização, uma espécie de poupança. Atualmente, o Regime de Previdência Geral, válido para empregados privados, autônomos e profissionais liberais, é por repartição. Estado, empresas, trabalhadores e a sociedade financiam o sistema. Este montante é direcionado parte ao INSS, que gerencia, além do pagamento de aposentadorias, pensões e auxílios em função de morte ou invalidez, auxílio-doença, entre outras. No sistema desejado pelo ministro da Economia, cada trabalhador ficaria responsável pela própria aposentadoria e o dinheiro seria individual, e não mais faria parte de um “fundo coletivo”. Como esse conjunto de benefícios que dão corpo à chamada Seguridade ficaria com a mudança, é uma incógnita. Para o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul, Cláudio Augustin, o modelo apontado para a reforma representa uma ameaça a este sistema.
No Brasil inteiro os movimentos sociais se mobilizaram contra a PEC do Teto dos Gastos
Modelo visto como referência pela equipe de Bolsonaro é o adotado no Chile, o primeiro país do mundo a privatizar a Previdência, em 1981
“A Previdência faz parte do conceito de Seguridade Social, que inclui, além da própria previdência, a saúde e a assistência, porque esses três elementos são fundamentais para garantir a segurança da sociedade. Essa é a questão central. Tu não terias mais um sistema público, não teria mais o sistema solidário. Hoje o Brasil trabalha na previdência geral e na previdência própria no regime de solidariedade entre as gerações. Os aposentados têm seus benefícios em boa parte decorrente da contribuição dos atuais trabalhadores. Uma geração contribui para a aposentadoria de outra.” O principal argumento do Executivo é de que o atual modelo é insustentável e está deficitário, também em função da equação entre natalidade e mortalidade, já que o país está envelhecendo. Ou seja, o número de inativos vem crescendo. Cláudio Augustin contesta essa alegação de expectativa de vida. “A elevação da idade mínima é uma questão extremamente importante em um país que tem diferenças de expectativa de vida como as do Brasil. Uma pessoa que tem
boas condições de vida, vive mais, o trabalhador que faz trabalho pesado vive menos. Esses elementos mostram bem o caráter de classe dessa tentativa de reforma de Previdência”, defende.
É preciso cobrar os devedores O sindicalista vai além e argumenta que a solução para recuperar o equilíbrio passa por cobrar os R$ 450 bilhões devidos por empresas privadas, conforme apontou a CPI da Previdência, aprovada por unanimidade pelo Senado, em outubro de 2017. “O débito decorre do não repasse das contribuições dos empregadores, mas também da prática empresarial de reter a parcela contributiva dos trabalhadores. Só cobrando os devedores resolveria o problema.” O modelo visto como referência pela equipe de Bolsonaro é o adotado no Chile, o primeiro país do mundo a privatizar a Previdência, em 1981, durante a ditadura de Augusto Pinochet. Lá, ao invés de o trabalhador pagar ao governo, ele paga uma parte do salário a uma Administradora do
Fundo de Pensão. Quase 40 anos depois, porém, o país discute contrarreformas para corrigir distorções que provocaram a defasagem do salário de grande parte dos aposentados, que passou a viver com menos de 149 mil pesos, o que não chega a 700 reais. Para o jurista especialista em Previdência, Daisson
Portanova, é esse um dos riscos do modelo. “Não tem nenhuma proteção nesse sentido, não tem nada previsto. Ao menos, o que se avizinha ou o que se fala é que toda a relação de capitalização será de conta individual e com a relação eminentemente mercadológica. O risco é todo do trabalhador.”
Como é e o que pode mudar Atualmente, para receber o valor integral da aposentadoria, homens devem somar 95 anos entre tempo de idade e tempo de contribuição, e mulheres, 85 anos. O valor é calculado de acordo, também, com o salário, não podendo ser menor do que um salário mínimo e nem ultrapassar os R$ 5.839,45. Os trabalhadores ativos bancam os inativos.
No modelo de capitalização, cada trabalhador deposita para si. Quem administra a Previdência hoje é o governo, através do INSS. No modelo desejado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, essa administração ficaria a cargo de fundos de pensão, bancos e empresas privadas. Não há definição quanto ao valor que o contribuinte poderia receber. Também não há informação de como seria a transição de modelo, nem em relação a quem já contribui pelo atual modelo, nem como ficaria o pagamento de quem já é aposentado ou pensionista.
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PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
Centrais sindicais preparam resistência
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Foto: Tiago Macambira/RBA
Para os dirigentes das centrais sindicais, a Previdência é essencial e precisa ter a continuidade garantida.
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esmo sem ter acesso ao conteúdo exato do novo projeto da reforma, centrais sindicais começam articular a resistência. Em 2017, 44 milhões de trabalhadores, no dia 28 de abril, deflagraram a greve geral, que conseguiu barrar a votação da proposta do governo Temer. Agora, as entidades voltam a se unir em uma grande assembleia nacional, agendada para 20 de fevereiro, em São Paulo, com o objetivo de acompanhar os planos da equipe do governo Bolsonaro, e articular a classe trabalhadora. Abrir a "caixa preta" Guiomar Vidor, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), reivindica transparência e debate: “O que nós defendemos é que se existe problemas no sistema da Previdência, que o governo abra essa caixa preta. Que se constitua um fórum com trabalhadores, empregadores, governo, aposentados, onde se faça uma discussão séria, e, se for necessário, fazer algum tipo de reforma, que seja feita dentro da razoabilidade, do espírito de sustentação do sistema, porque para nós interessa que ele seja, sim, um sistema perene, e se dê continuidade com o passar dos anos.” Trabalhador prejudicado “Não sabemos o conteúdo
Centrais Sindicais se unem contra o fim da aposentadoria dos brasileiros
completo da reforma. Mas ela não vem para dar sustentabilidade e nem para combater os desvios da Previdência. Estamos reiterando de que o que vir não vai ser bom para os trabalhadores”, afirma Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT). Lucro para o capital financeiro Na avaliação de Bernadete Menezes, da Intersindical, a alteração sinalizada é prejudicial aos trabalhadores: “A reforma da Previdência faz parte de um conjunto de reformas, que vem desde a trabalhista e a Emenda 95, que estão sendo aplicadas para tirar o pouco que se tem de
bem estar social, e gerar lucro para o capital financeiro. Ou barramos agora essas reformas, ou vamos ser vítimas no futuro de um achatamento da classe trabalhadora.”
MP 871/2019: a reforma já começou
Judiciário e militares não podem ficar fora Para Érico Correa, da CSP-Conlutas, os trabalhadores deveriam ter todos o mesmo sistema. “Tem que debater sobre a desigualdade social, discutir quem são os privilegiados: por que os militares têm sistema próprio? Por que os juízes têm sistema próprio? Por que os parlamentares que vão votar isso tem sistema próprio? Trabalhador tinha que ter todos o mesmo sistema.”
No dia 18 de janeiro, o governo apresentou a Medida Provisória 871/2019, que estabelece regras de concessão com foco nos benefícios por incapacidade e com indícios de irregularidade. O governo justifica que a medida visa combater fraudes. Na avaliação do consultor Vladimir Nepomuceno, da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, a reforma já começou. A MP dificulta a manutenção e a concessão de benefícios previdenciários. Segundo ele, o alvo das ações propostas pelo chamado “pente fino” do governo são dois segmentos que sequer custam um centavo ao orçamento previdenciário, mas ao orçamento da Assistência Social. O primeiro são os beneficiários de Prestação Continuada, compostos por dois grupos: idosos a partir dos 65 anos e deficientes de qualquer idade com comprovada baixa renda. Outro segmento é o dos trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares, que produzem sem utilização de mão de obra assalariada, considerados segurados especiais no Regime Geral da Previdência Social. “O texto não menciona a gigantesca dívida, além de fraudes e sonegações, de grandes grupos empresariais. São esses grupos que certamente poderiam contribuir, senão sanar o alegado déficit mencionado na exposição de motivos da referida MP”, avalia.
Foto: Katia Marko
Porto Alegre se mobilizou na Greve Geral de 28 de abril de 2018
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VIOLÊNCIA |
Mais armas, menos segurança Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Mais armas significam menos crimes? Ou significam justamente o contrário? AYRTON CENTENO
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sta correlação imaginada entre "mais armas" e "menos crime" é apressada e carece de fundamento na realidade”, critica o cientista social Vitor Alessandri Ribeiro, membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania, da UFRGS. Armar o cidadão, como pretende o decreto presidencial nº 9.685, assinado em janeiro por Jair Bolsonaro, não inibirá os criminosos. E invoca o próprio Bolsonaro para ilustrar como o porte ou posse de arma não irá funcionar. “Em 1995, Bolsonaro, então armado, foi abordado na zona norte do Rio de Janeiro e lhe foram levadas não apenas sua moto, como também sua arma”, relembra. “Mais armas não representam mais segurança, mas o inverso”, concorda o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, professor da Escola de Direito da PUC/RS. A julgar pelo Datafolha, a maioria dos brasileiros aprova a conclusão de ambos. É o que apontou pesquisa realizada em dezembro. Nela, 61% dos entrevistados defendem a proibição das armas de fogo por representar ameaça à vida de outras pessoas. As crianças como vítimas As facilidades para o acesso a pistolas, revólveres, espingardas, rifles e carabinas devem agravar o panorama da selvageria no Brasil. Hoje, mata-se mais de 60 mil pessoas/ano. O Atlas da Violência, do Ministério da Saúde, aponta que, de 1980 para 2016, os homicídios por arma de fogo subiram de 40% para 70% do total de assassinatos. Logo, a tendência é de que tais percentuais avancem ainda mais. Azevedo adverte para o risco de aumento da violência interpessoal, também no ambiente domésti-
O Atlas da Violência aponta que, de 1980 para 2016, os homicídios por arma de fogo subiram de 40% para 70% do total de assassinatos
co tendo as crianças como vítimas. Sem esquecer das mulheres, as principais sacrificadas. Bolsonaro agiu assim “para agradar a parte do seu eleitorado que desacredita das instituições”, interpreta o professor. Transferindo a responsabilidade Há outro aspecto astuto na proposta do Estado armar o contribuinte: transfere aos particulares a tarefa de cuidar da segurança, que é constitucionalmente sua. “Não se pode crer que as forças de segurança abdiquem de suas missões constitucionais em garantir a paz e a segurança da sociedade sem que isso cause prejuízo para a própria sociedade”, acentua Ribeiro. “A maior parte das polícias do mundo é favorável à restrição do acesso às armas pelo cidadão”, reforça Azevedo. O Brasil vai na contramão da tendência predominante, pois “as polícias do país têm uma cul-
tura mais conservadora”. Engrossando o arsenal do crime Outro equívoco é supor que o cidadão armado até os dentes irá inibir a ação dos bandidos. “O aumento da presença de armas dentro de casa produzirá o aumento da probabilidade da certeza de que, quem queira invadir uma casa aleatoriamente para roubar armas, encontrará armas para serem roubadas”, comenta Ribeiro. As armas que a classe média ou classe média alta irá comprar poderão muito bem, em vez de propiciar a segurança esperada, ir engrossar o arsenal dos bandidos. É também o entendimento de Azevedo. Com isso, mais armas frequentarão o mercado ilegal. “Tornar as armas mais acessíveis a criminosos é o contrário daquilo que se apregoa quando se busca defender o armamento da população”, acrescenta Ribeiro.
Um tiro no bolso Comprar uma arma não é barato. Nas lojas, os preços oscilam entre R$ 2 mil e R$ 6 mil. Isto sem contar os valores para legalização. A Taurus, maior fabricante do país, está colocando no mercado em 2019 a pistola semi automática PT 138. Na fábrica, seu preço é R$ 4.369,88. Com o mesmo dinheiro é possível comprar uma geladeira com capacidade para 239 litros, um fogão de quatro bocas, um purificador de água, uma máquina de lavar roupa, um ventilador de teto de três pás, uma secadora de roupa, um ferro de passar, um forno de micro-ondas, um exaustor, um aspirador portátil, uma batedeira, uma máquina de costura portátil e, como ninguém é de ferro, uma churrasqueira elétrica portátil (*). Total: R$ 4.237,00. Ainda sobram R$ 132,88 que podem ser muito bem empregados em costela e picanha para o assado domingueiro, festejando a renovação dos eletrodomésticos da casa. Vale convidar os amigos para juntos celebrarem todos a paz. E que venham armados tão somente com a benvinda cerveja.
*Preços levantados no site Mercado Livre
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PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
FEMINICÍDIO |
Mulheres na mira das armas
7 Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Segundo pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Grande parte das mortes ocorre no ambiente doméstico e o assassino é, quase sempre, o marido ou companheiro. O que significará para as brasileiras o decreto flexibilizando e favorecendo a posse de armas de fogo? KATIA MARKO
PORTO ALEGRE
A
ntropóloga, cientista política e especialista em segurança pública, Jacqueline Muniz é hoje uma das vozes mais sóbrias no debate sobre a segurança pública no Brasil. Ela é professora do Departamento de Segurança Pública da UFF, fundadora da Rede de Policiais e Sociedade Civil da América Latina e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Para ela, a flexibilização da posse de armas é um problema de insegurança pública. “Já sabemos que o acesso facilitado às armas favorece a prática de suicídio, acidentes fatais envolvendo crianças e jovens e estimula o feminicí-
dio”, salienta. Na sua avaliação, o que está por trás disso se chama propriedade, poder de mando, poder de posse. “E no Brasil, quem é o dono da mulher? O homem. Quem é o dono do trabalhador? O patrão. Lugar tem dono, coisas tem dono”. Jacqueline acredita que estamos estimulando a conflitualidade social que se dá em um cenário extremamente desigual, de cidadania desigual. “Maximizar a ideia de que se pode ter quatro armas por pessoa, na verdade impõe um custo para o cidadão que pode comprar por R$ 40 mil. Quem pode ter isso? É disso que se trata. Nós estamos reafirmando poderes de mando, privilégios, poderes de posse. Arma tem cor, tem sexo, tem gênero. E é isso que os valentões politicamente incorretos não são capazes de dizer publicamente. Não se trata de melhorar a segurança nem de fazer o cidadão se sentir mais seguro no seu ambiente doméstico. Trata-se de reproduzir mecanismos desiguais.”
Feminicídios no RS aumentaram 41% em 2018 No ano passado, um relatório da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande
do Sul registrou o número de 117 feminicídios no estado em 2018. O número foi 41% maior do que no ano anterior, quando 83 mulheres foram assassinadas no estado por questões de gênero. É o número mais alto registrado desde 2012, quando 101 mulheres foram vítimas de feminicídios. A maioria dos casos são fruto de violência doméstica. As tentativas de feminicídio também registraram aumento, passando de 324 em 2017 para 355 em 2018. Para a advogada e coordenadora executiva da Ong THEMIS – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, Renata Teixeira Jardim, o decreto atinge diretamente a segurança das mulheres, as maiores vítimas da violência dentro de casa. “A ampliação do acesso a arma de fogo dentro das casas pode incrementar o número de mortes de mulheres, em especial porque muitos dos registros atuais são com armas não letais o que muitas vezes garante que estas investidas ingressem nas estatísticas de tentativa e não de consumação do feminicídio”. Renata também estima que muitas mulheres podem deixar de realizar denúncia e romperem com os relacionamentos abusivos por medo da reação de seus agressores. “A facilidade do acesso a
arma ou mesmo de sua presença em casa é um dos fatores de risco para feminicídio, sendo um dos sinais de perigo para as mulheres apontados por diferentes pesquisas e protocolos de risco. Somente nos primeiros 15 dias de 2019, os feminicídios já aumentaram 50%”, destacou. Segundo ela, as mulheres atendidas pela THEMIS já demostram preocupação com o novo cenário brasileiro, com um governo que não indica qualquer ação efetiva para a promoção dos direitos das mulheres. “Esta semana aten-
demos uma mulher com medida protetiva que seu agressor está preso pelo descumprimento da medida protetiva e ela nos disse que seu receio é acontecer algo pior com ela. Na semana anterior sua casa foi alvejada com mais de 20 tiros, que ela acredita que tenha sido a mando do seu ex-companheiro. Logo após o ocorrido ele telefonou para o vizinho dela perguntando como foram os tiros. Ela estava com muito medo, diz que todos os dias liga a televisão e há notícias de mulheres assassinadas”, relata a advogada.
Os números são assustadores Pesquisa realizada entre março de 2015 e março de 2017 pelo CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) traz resultados sobre os dois primeiros anos da Lei nº 13.104/2015, que tipifica o feminicídio. Os dados revelam que o Brasil abre um novo inquérito policial a cada três horas para apurar possíveis casos de feminicídio. São 5.611 inquéritos abertos, divididos em denúncias feitas pelo Ministério Público, investigações em processo, apurações já arquivadas e ocorrências desclassificadas da esfera feminicídio. Por dia, as delegacias em todo o país abrem oito inquéritos sobre o tema, número que é de 234 a cada mês e média de 2.806 nestes dois anos de aplicação da nova lei. Sancionada em 9 de março de 2015, a lei descreve como feminicídio as mortes de mulheres envolvendo violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de ser uma mulher.
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CIDADES
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
PORTO ALEGRE | Em conflito contra megaprojeto,
famílias Guarani Mbya são ameaçadas de morte Fotos: Douglas Freitas/Amigos da Terra Brasil
O tom agressivo dos discursos do presidente Bolsonaro (PSL) contra os povos indígenas já se materializa em violência de Norte a Sul do Brasil, com pelo menos oito conflitos acontecendo pelo país em 2019. MARCELO FERREIRA
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PORTO ALEGRE (RS)
madrugada do dia 11 de janeiro registrou um atentado contra a vida das famílias Guarani Mbya que realizam uma retomada de território na área de preservação ambiental conhecida como Ponta do Arado, na Zona Sul de Porto Alegre. Dois homens encapuzados dispararam contra os barracos dos indígenas e os ameaçaram de morte caso não desocupassem o local. “Foram muitos tiros”, relata o cacique Timóteo Karai Mirim. No dia seguinte, os indígenas e grupos apoiadores registraram um boletim de ocorrência e a polícia civil encontrou cápsulas e munição não deflagrada na areia, próximo à cerca que a Arado Empreendimentos Imobiliários instalou no local. A contenção confina o grupo a uma pequena faixa de marinha nas margens do lago Guaíba, sem acesso via terrestre, sem água potável e sob constante vigilância e ameaça de seguranças privados. A empresa, que é proprietária da fazenda Arado Velho e luta na justiça para iniciar a construção de um condomínio de luxo com cerca de 1,6 mil unidades habitacionais, diz que a cerca serve para “evitar o avanço do desmatamento do local e da caça dos animais silvestres”. Representantes do Ministério Público Federal (MPF) estiveram no local e encontraram os indígenas abalados, mas firmes na vontade de permanecer na área que abriga um sítio arqueológico pré-colonial que atesta a ocupação pelos guaranis. Retomada em área de disputa judicial Antes de ocuparem, em julho de 2017, os guaranis solicitaram ao MPF um grupo de estudos para demarcação da terra. Com isso, explica Carmem Guardiola, pesquisadora associada ao Núcleo de Antropologia das sociedades Indígenas e Tradicionais da UFRGS (NIT), o caso aguarda na alçada federal. “A Ponta do Arado fica em área considerada rural pela prefeitura, mas que, em virtude do megapro-
Indígenas e quilombolas fizeram ato em Porto Alegre, no dia 16/01, contra o genocídio dos povos originários e contra as medidas do governo
jeto da empresa, através de uma manipulação no legislativo, passou a ser uma área urbana para poder receber o condomínio. Quando os guaranis chegaram ali, já haviam muitos conflitos entre o setor imobiliário e a comunidade e ambientalistas”, afirma Guardiola. Roberto Liebgott, coordenador do Conselho Indigenista Missionário-Regional Sul (CIMI-SUL), aponta que a manobra que alterou o plano diretor foi contestada pelo Ministério Público Estadual (MPE) e o projeto está embargado por uma liminar concedida em 2017, que suspendeu as alterações da lei. “O local é rico em biodiversidade, rico em águas, ali há matas ciliares importantes, enfim, toda uma composição ambiental muito importante naquela região e que é foco de luta dos movimentos ambientalistas há anos. Se o condomínio acontecer vai causar uma
enorme devastação”, avalia Liebgott. Juridicamente, é um caso truncado, que aguarda decisão de um pedido de transferência da competência do processo da justiça estadual para a justiça federal, por se tratar de demanda indígena, de responsabilidade da União. A empresa conseguiu liminar impedindo a entrada dos indígenas em seu território, confinando-os na orla, mas teve negado o pedido de reintegração de posse. “Enquanto o processo está parado ninguém pode nem consegue dizer nada”, comenta Guardiola. “Quando fomos conversar com o procurador, eu disse que os caminhos judiciais existem e devem acontecer, e estão sendo percorridos. Mas e para hoje, no mundo real, que segurança os indígenas têm ao voltar para casa? Nenhuma!”, conclui a pesquisadora.
Crianças brincam sob vigilância
Demarcação na mão dos ruralistas A primeira medida de Bolsonaro retirou da Fundação Nacional do Índio (Funai) a atribuição de demarcar terras indígenas e a passou para o Ministério da Agricultura, comandado por Tereza Cristina (DEM). A ministra, deputada conhecida como “musa do veneno”, liderou a frente parlamentar da agropecuária em 2018. A Funai, esvaziada, passou para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, da ministra Damares Alves. No Twitter, Bolsonaro afirmou que vai “integrar” os indígenas. “É um retrocesso ao tempo da ditadura, de um tempo em que o Estado tentava aniquilar a cultura indígena”, desabafa Guardiola. O cenário fortalece grupos econômicos que historicamente se colocam contra os direitos indígenas, na avaliação de Liebgott: “O Estado acabava exercendo fiscalização para que esses setores não extrapolassem. Agora, passa a dar um aval para que esses setores retomem sua saga expansionista”.
Guarani Mbya na retomada Arado Velho. Na esquerda, cacique Timóteo
TERRA
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
Conceito de agricultura camponesa vira lei na capital dos minifúndios
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CONQUISTA |
Foto: Felipe Madeira / Prefeitura de Canguçu
Construção coletiva de movimentos sociais e poderes públicos garante ao município o reconhecimento como capital da agricultura familiar camponesa. MARCOS CORBARI
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PORTO ALEGRE (RS)
Foto: Arquivo/MPA
e em nível estadual e federal as últimas notícias não têm sido boas para a agricultura camponesa, no município de Canguçu (RS) as lideranças locais e movimentos sociais se mobilizaram para viabilizar investimentos no segmento que garante a produção de mais de 70% dos alimentos que de fato chegam às mesas dos trabalhadores e trabalhadoras. No município onde a zona rural conta com o maior número de minifúndios da América Latina, o somatório de esforços garantiu a aprovação de um instrumento de fomento decisivo: o Programa Camponês Municipal. Criado graças ao trabalho conjunto dos segmentos vinculados ao setor, o Programa foi aprovado pela Câmara de Vereadores e sancionado pelo Prefeito Municipal, Marcus Pegoraro, ficando vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Agrário. A assinatura do primeiro convênio que beneficia famílias pertencentes à base do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) aconteceu em ato público na primeira semana de janeiro. “O conceito de agricultura camponesa foi transformado em Lei em Canguçu”, enaltece o dirigente do MPA, Adilson Schuch. Conforme explicou, a partir da publicação da Lei que estabelece o programa e o respectivo fundo que o sustenta, o status do segmento passa a ser compreendido como uma política de Estado em nível local. “São três pilares que balizam esse conceito: produção de alimentos com base
Movimentos sociais e poderes públicos alinhavaram conquista camponesa
tecnológica de transição para agroecologia, viabilização de uma política pública prevê recursos desburocratizados e subsidia-
dos, e, ainda, a organização social que agrega força coletivamente e viabiliza essa conquista pioneira”, acrescenta.
Desenvolvimento social coletivo O titular da pasta de Desenvolvimento Econômico e Agrário, Paulo Peres, lembrou que o Programa prevê a mobilização de recursos para garantir operações de crédito, convênios ou outros instrumentos legais, para conceder financiamentos e subsídios com o objetivo de fortalecer as Associações, Cooperativas, Assentamentos de Reforma Agrária, Comunidades Quilombolas e Indígenas. “Destacamos a importância do programa para beneficiar a família camponesa, oferecendo amparo ao agricultor, é um instrumento construído em conjunto com os movimentos e tenho certeza que vai servir de exemplo para outros
municípios e para o estado todo”, comentou. Relembrando a experiência desenvolvida em nível estadual, especialmente no período sob a gestão do ex-governador Tarso Genro, o dirigente do MPA Darlan Gutierres comentou a respeito da experiência adquirida e a necessária adequação às particularidades do município ao se construir um instrumento de alcance localizado. “Estamos falando da implementação de políticas públicas de maneira direta para a agricultura e seus meios de representação, agora voltadas para trabalhar também as ações de nível local de acordo com a realidade dos camponeses e camponesas”, explicou.
A feira serve como extensão da mesa do camponês ao trabalhador urbano
Suporte decisivo para Agroecologia Citando as ações possíveis de serem executadas a partir do Programa Camponês de Canguçu, Gutierres reafirma a vocação dos pequenos produtores em trabalhar pela transição para o modo de produção agroecológico. O programa viabilizará repasse de recursos para assistência técnica e extensão rural, recuperação de solo, insumos agrícolas, incentivo à produção e beneficiamento de sementes crioulas e varietais, incentivo à produção de alimentos, apoio à comercialização, mecanização de pequeno porte, fortalecimento do programa troca-troca de sementes, produção de ervas medicinais bem como
a viabilização de agroindústrias familiares, camponesas e artesanais. O fundo que terá a função de manter o programa prevê captação de recursos com origem nas dotações orçamentárias específicas da prefeitura, repasses dos governos estadual e federal, investimentos de entidades parcerias privadas e públicas, bem como valores alocados a partir da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Agrário. Pelo menos mais cinco municípios já manifestaram interesse em conhecer e acompanhar a experiência de Canguçu ao implementar o Programa Camponês Municipal.
CULTURA & LAZER HORÓSCOPO
AQUÁRIO (21/1 A 19/2) É preciso aproveitar as energias emanadas pelo Sol, que transita em seu signo. Este é um bom momento para descobrir seus potenciais e conscientizar-se sobre as lições aprendidas até aqui. Avance.
PEIXES (20/2 A 20/3)
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HUMOR
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Não demora a Mercúrio visitar seu signo, a tendência é maior domínio de sua consciência. Este será um momento de preparar-se para os próximos períodos que exigirão decisões importantes.
ÁRIES (21/3 A 20/4) O tempo de agir é agora. Bom momento para alianças políticas. Cuide de sua concentração, preste atenção em todos os detalhes, mas foque somente naquilo que for realmente importante.
Momento propício para cuidar melhor de suas amizades. Lembre que a melhor amizade é aquela que carrega a verdade junto. Com Vênus em Capricórnio seu charme aumenta ainda mais.
GÊMEOS (21/5 A 20/6) Acredite na meditação. Você está em um ciclo em que seus relacionamentos poderão te ensinar muito. Lembre-se de ponderar antes de falar algo que poderá se arrepender mais tarde.
CÂNCER (21/6 A 22/7)
GRAFAR
TOURO (21/4 A 20/5)
Sua rotina tende a ficar cheia de compromissos neste período. Suas interações poderão gerar bons frutos, tanto no modo como você sente o mundo quanto no modo como ele sente você.
LEÃO (23/7 A 22/8) Nesta primeira quinzena do mês, você estará mais combativo em relação à segunda quinzena. Aproveite para completar todas as tarefas que estão sob sua responsabilidade. É momento de dominar.
VIRGEM (23/8 A 22/9) Você encontrará maior facilidade em transformar seus pensamentos e sentimentos em palavras. É um bom momento para o diálogo. Outrossim, tome cuidado com dramas desnecessários.
LIBRA (23/9 A 22/10) Lembre-se que a disciplina consciente não é um dom, é uma virtude. Com Vênus em Capricórnio você será influenciado a tomar as rédeas de sua conduta nos relacionamentos e com o dinheiro.
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11) Determinação e teimosia podem ser combustíveis para a realização dos seus desejos e anseios. Tome cuidado, entretanto, para não exagerar e acabar incendiando suas possibilidades. Seja estratégico (a).
SAGITÁRIO (22/11 A 21/12) Você é um grande entusiasta da vida e da luta, isto continua em evidencia neste período. Seus planos são grandiosos, porem a execução deles não depende só de você. Cultive a paciência.
CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) Vênus em seu signo reflete em um poder maior de sedução. Às vezes, é bom se deixar levar por experiências irreverentes, entretanto, é necessário envolver-se com responsabilidade afetiva.
Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.
TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)
CULTURA & LAZER
PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
Armandinho ganha novo livro e reforça caráter questionador
QUADRINHO |
Foto: Silvio Y. Sato
Nova compilação de tiras reafirma o menino de cabelos azuis como um intérprete mordaz de nosso tempo. MARCOS CORBARI
PORTO ALEGRE (RS)
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personagem Armandinho, criado pelo catarinense Alexandre Beck, está com livro novo lançado. A décima primeira compilação de tiras – Armandinho Dez – traz micronarrativas produzidas e publicadas em 2016, ano de forte ebulição política no país, que obviamente está expressa nas peças que compõem a publicação. “Foi inevitável que neste período tão turbulento as tirinhas ganhassem um tom mais crítico e menos ingênuo”, explica Beck. “Alguns leitores questionam porque o Armandinho aborda alguns temas mais incômodos e tenho insistido em explicar que assim como manifestar-se a respeito de um assunto é uma opção política, silenciar a respeito dele também seria”, aponta. Recentemente autor e personagem foram alvo de críticas de entidades corporativas e até de ameaças propagadas por segmentos conservadores. “Isso assusta e incomoda, é claro, mas não me sentiria bem se não tocasse nesses assuntos tendo espaço para propor reflexão a respeito”, comenta o autor. “Essas pessoas sentem que tem seu comportamento legitimado por vozes que estão em posi-
Lançamento de "Armandinho Dez" na CCXP, o maior evento de quadrinhos do Brasil
ções de poder e já não se importam em manifestar de forma aberta sua agressividade”, complementa.
Humor com crítica social O contraponto, porém, veio em forma de muitas manifestações de apoio por parte de leitores e até mesmo de gente ligada aos segmentos criticados e que compreendem a importância da crítica. Mas é bom registrar, o espectro de crítica social alinhavado ao longo da publicação vai além: através de Armandinho, seu sapo de estimação, família e amigos, Beck costuma abordar temáticas como a preservação do meio ambiente, a empatia com o próximo, os direitos humanos, o enfrentamento as diversas formas de preconceito, além, é claro, do coti-
diano das relações interpessoais no ambiente familiar, na escola e na sociedade como um todo. O leitor do Brasil de Fato/RS já se acostumou a ler a cada edição impressa do jornal as tiras do personagem. Agora fica o convite para conferir em Armandinho Dez e também nas compilações anteriores, os questionamentos deste menino que se tornou sinônimo de resistência. O livro é uma publicação da Artes & Letras Comunicação – selo controlado pelo próprio autor – e tem distribuição nacional através da Editora Belas Letras, de Caxias do Sul. Pode ser encontrado em livrarias ou adquirido diretamente na loja virtual da distribuidora: https://belasletras. com.br/. O valor de venda, sugerido pela distribuidora, é de R$ 29,90.
Uma noite de 12 Anos: Resistência à barbárie SIMONE LERSCH
Lançamentos Crônicas & Rabiscos
Crônicas & Rabiscos é o livro de crônicas de humor de Óscar Fuchs que está chegando às livrarias pela Editora Kazuá. Colunista e cronista em jornais como O Estado de São Paulo, A União, entre outros, Crônicas & Rabiscos traz textos já publicados e inéditos. Além dos textos, as ilustrações de capa e ilustrações internas também são do autor, que atua como cartunista em sites, blogs e no jornal Brasil de Fato.
A Caravana da Esperança O E-book A Caravana da Esperança Contra o Monstro do Fascismo reúne notícias, artigos, crônicas e imagens veiculadas pela Rede Soberania, Sul21 e site Lula.com. br durante a passagem da Caravana Lula pelo Brasil no Rio Grande do Sul, entre os dias 19 a 23 de março de 2018. O livro foi organizado por Frei Sérgio Görgen e Marcos Antonio Corbari. Download gratuito no site www.padrejosimo.com.br.
(Ó)cio
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PORTO ALEGRE (RS)
narrativa se passa durante a ditadura militar uruguaia e retrata a prisão, tortura, desumanização e resistência de três figuras importantes: José Pepe Mujica, que viria a se tornar presidente do Uruguai em 2010, Mauricio Rosencof, jornalista e escritor, e Eleuterio Fernández Huidobro, posteriormente, senador e ministro da Defesa no governo Mujica. Com roteiro e direção de Alvaro Brechner, Uma noite de 12 anos é baseado no livro “Memorias del Calabozo”, de autoria de Rosencof e Huidobro sobre a longa noite que passaram encarcerados, experiência também vivida por Mujica. Um forte filme que mostra a firmeza em acreditar na utopia da democracia pela qual lutavam. Eles resistiram e não se deixaram morrer. Para que ninguém jamais esqueça o que representou uma ditadura.
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Uma Noite de 12 Anos Título original: La Noche de 12 Años Direção: Alvaro Brechner Elenco: Antonio de la Torre, Chino Darín, Alfonso Tort, Mirella Pascual, César Troncoso, Soledad Villamil Biografia, Drama | 14 anos | 122 min | Uruguai, Espanha, Argentina Disponível nas plataformas Netflix e Now
O livro (Ó)cio, da Luiza Dorneles, traz poemas e textos pequenos sobre a realidade de um modo muito crítico. A Luiza fala sobre os sentimentos, mas sobre o capitalismo, a nossa mesmice cotidiana e as realidades excluídas. O vocabulário é esperto, não espere poesia frágil e bonitinha. O significado de cada uma bate forte e sem demoras. Indico para quem quer ler textos menos sentimentais e mais reais, de diálogo olho no olho. Editora: Nomos - Editora e Produtora Independente.
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ESPORTES
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PORTO ALEGRE, 1 A 14 DE FEVEREIRO DE 2019
Gauchão: cem anos de histórias
Com a participação do primeiro de seus campeões – Brasil, em 1919 – e do mais recente – Grêmio, em 2018 – está rolando o Campeonato Gaúcho. A cada começo de ano é a competição que concentra a atenção dos torcedores. Em 2019, o Gauchão está completando seu centenário. São cem anos de histórias irresistíveis. Escolhemos algumas delas para contar aqui.
Fotos: Stela Pastore
Equipe do Brasil de Pelotas, que conquistou o primeiro campeonato gaúcho da história. Na final, o Xavante goleou a equipe do Grêmio por 5 X 1, no Estádio da Baixada em Porto Alegre
AYRTON CENTENO PORTO ALEGRE (RS)
O campeonato que durou 90 minutos
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primeiro Gauchão foi o mais curto de todos. Resumiu-se a uma só partida. Tudo porque, em 1919, o título estadual deveria ser definido entre os campeões de várias cidades que se enfrentariam entre si. Acontece que os vencedores dos torneios de São Leopoldo, Bagé, Cruz Alta, Uruguaiana e Santana do Livramento nem entraram em campo. Foram eliminados ao perderem o prazo de inscrição dos atletas... Sobraram então o Grêmio, campeão da capital, e o Brasil, vencedor em Pelotas. O Brasil viajou a Porto Alegre no vapor Mercedes e, no dia seguinte, 9 de novembro, encarou o tri-
color no então chamado “Fortim da Baixada” – ao lado da área que abrigaria, no futuro, o Parcão, no bairro Moinhos de Vento. No temido fortim, dez anos antes, o Grêmio enfiara 10x0 no Internacional, até hoje a maior goleada da história dos Grenais. Mas o Brasil não deu maior importância ao fato, aplicou uma goleada de 5x1 no dono da casa e sagrou-se campeão. O craque do jogo foi o atacante Proença com três gols. Curiosamente, Grêmio e Brasil novamente mediram forças no último Gauchão que também terminou em goleada (3x0), de novo num estádio apelidado “da Baixada”, mas de Pelotas e com vitória do Grêmio.
O campeão que ficou pelo caminho
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e todos os campeões, apenas um não sobreviveu ao centenário da competição. Triunfante em 1928, quando arrebatou as taças em Porto Alegre e no Estado, o Americano desapareceu em 1941. Suas cores eram branco e grená. Na final, dia 24 de outubro, bateu o Bagé
por 3x0. Foi do Americano o primeiro jogador de clube gaúcho convocado para a Seleção Brasileira e que disputaria um mundial. O zagueiro Luiz Luz, o “Fantasma da Área”, vestiu a camiseta do selecionado nove vezes inclusive na Copa do Mundo de 1934, na Itália.
Uma tempestade de gols
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orria o ano de 1976 e o Ferrocarril foi enfrentar o Inter no Beira-Rio. O clima não era exatamente de tranquilidade. Antes, em Uruguaiana, tomara 5x0 do Grêmio. E o Inter vinha com Figueroa, Carpeggiani, Valdomiro entre outras feras. E era o campeão brasileiro. “Do Inter só o Manga não me preocupa”, confessou o rotundo Orlando do alto dos seus 106 quilos. Logo se viu que a preocupação do goleiro do Ferrocarril ti-
nha todo fundamento. Os narradores gritaram o nome de nove goleadores diferentes. Foi uma fuzilaria só desde que a bola rolou. Só cessou com o apito final do árbitro Nazarino Pinzon. Desde então, os 14x0 daquele 23 de maio nunca foram superados. Oito vezes os vencedores atingiram os dois dígitos, mas ainda longe da tempestade de gols que desabou sobre o clube da fronteira naquele final de outono.
Martial chuta contra a goleira vazia
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esfecho curioso teve o Gauchão de 1930. A começar que seu campeão somente foi conhecido em 1931. A bola parara de rolar devido à eclosão da Revolução de 1930 que levaria Getúlio Vargas ao poder. Na decisão em Porto Alegre, o Grêmio largou ganhando por 2x0, mas o Pelotas foi buscar o empate ainda no primeiro tempo com o meia Martial. Ele converteu os
dois pênaltis marcados pelo árbitro Ernesto Fortes. No começo da etapa final, o Grêmio marcou de novo, mas, aos 45 minutos, Fortes apitou outra penalidade. Na confusão, o Grêmio decidiu se retirar do campo. Então, Martial marcou pela terceira vez, arrematando contra a goleira vazia. O caso foi parar na justiça desportiva que confirmou o título do Pelotas.
A força do Interior
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rêmio e Inter tornaram-se as grandes forças do Gauchão, mas outros 15 clubes também levantaram o troféu. Um deles, o Guarany, de Bagé, por duas vezes. A força do Interior chegou a deixar colorados e gremistas sem tocarem na taça durante cinco anos. Aconteceu na segunda metade dos anos 1930. A lista começou com o Brasil em 1919, seguiu com Guarany (1920), seu rival Bagé (1925), os portoalegrenses Americano (1928) e Cruzeiro (1929), Pelotas (1930), o riograndino São Pau-
lo (1933), o pelotense Farroupilha (1935), Rio Grande (1936), Grêmio Santanense (1937), novamente Guarany (1938), e outro riograndino, o Riograndense (1939). Esta última conquista marca o começo do predomínio da dupla. Somente em 1954, com o Renner, o título fugiria de suas mãos. Quarenta e quatro anos mais tarde, em 1998, o Juventude bateria o Inter no Beira-Rio e levaria o troféu para o Interior. Dois anos depois, contra o Grêmio, o Caxias repetiu a façanha. Em 2017, o Novo Hamburgo também chegou lá.
TABELINHA GAUCHÃO Os próximos confrontos do Gauchão Sábado – 09/02 São José x São Luiz Pelotas x Novo Hamburgo Caxias x Veranópolis
Domingo – 10/02 Juventude x Internacional Grêmio x Avenida Brasil x Aymoré