Esporte Terra
16ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico mostra força da Reforma Agrária.
Futebol e política na ditadura militar brasileira ESPORTE | PAG 8
TERRA | PAG 6
RIO GRANDE DO SUL
26 de março a 9 de abril de 2019 distribuição gratuita brasildefato.com.br
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Ano 1 | edição 12
Como você vai pagar duas vezes a conta das privatizações
Foto: Alex Garcia
Sonho dos neoliberais é vender a Petrobras, o que inclui a refinaria Alberto Pasqualini, de Canoas (foto). Mas, como você verá, quem vai ficar com a conta, pela segunda vez, serão os trabalhadores. Foram os recursos de sua previdência e de outros fundos sociais que bancaram a indústria de base nacional agora, novamente, sob ameaça. Páginas 3, 4 e 5.
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OPINIÃO
PORTO ALEGRE, 26 DE MARÇO A 09 DE ABRIL DE 2019
ARTIGO | Previdência Social não é um negócio, é um Direito
CHARGE | Santiago
Dão Real Pereira dos Santos*
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Sem razões para festejar
quilo que já foi chamado “Revolução Redentora de 31 de Março” está completando 55 anos no final deste março de vergonhas, matanças e patuscadas. Grande parte da desgraça foi produzida ou inspirada por um governo que tem à testa um ex-capitão, um general como vice e mais de 100 oficiais em postos de primeiro e segundo escalão. Durante 47 anos, a Redentora foi brindada com bravatas e fanfarras nos quartéis. As charangas só pararam por intervenção de Dilma Rousseff em 2011. Brindar à ditadura era uma bofetada repetida nas famílias dos mortos que até hoje buscam os restos dos seus filhos assassinados na tortura para, enfim, dar-lhes sepultura. Agora, porém, com os ventos da violência que voltaram a soprar, a moda poderá retornar. Para prosseguir o escárnio trombeteado em ordens do dia. Pode haver vontade política para tanto, mas nem um pingo de apreço pela verdade histórica. Quando exalou seu último suspi-
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ro, no seu 21º ano, a Redentora despediu-se sem choro nem vela. Ao irromper, prometia acabar com a corrupção. Fracassou engolfada por escândalos como os da Capemi, Coroa-Brastel, Lutfalla, Adubo Papel e tantos outros. Acabaria com a carestia. Mas assumiu o país com inflação de 48% ao ano para devolvê-lo com taxa de 235% anuais. Só foi eficiente ao investigar meio milhão de brasileiros e prender, condenar, torturar e assassinar milhares deles. Hoje, por ironia, o velho golpe civil/militar tem como agente publicitário mais notório um ex-capitão que cogitou explodir bombas nos quartéis. Era considerado “mau militar” pelo ex-presidente Ernesto Geisel e escapou por um triz de ser expulso da corporação. Embora alinhada aos EUA, a Redentora tinha algumas fumaças nacionalistas, algum apego à soberania e um projeto de Nação. Seu herdeiro bastardo não tem nada disso. No 55º aniversário, no regresso ao poder dos militares, mais do que nunca não há razões para comemorar.
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CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Miriam Cabreira, Fernando Maia, Jonas Tarcísio Reis, Rogério Ferraz, Adelto Rohr, Fábio Castro, Mariane Quadros, Carlos Alberto Alves, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Maiara Marinho, Marcelo Ferreira, Walmaro Paz, Catiana de Medeiros | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares
A previdência é um direito, assim como a saúde, a educação, a assistência, etc., que devem ser financiados por tributos. A POIO
EDITORIAL |
ão tantos os argumentos contra a Reforma da Previdência que é difícil compreender a insistência dos que continuam a defendê-la. O tal do déficit é uma farsa, pois a previdência é parte da seguridade e é preciso considerar o conjunto das contribuições e não apenas as contribuições dos trabalhadores e das empresas. A Constituição Federal estabelece um conjunto de fontes para financiar a seguridade, inclusive os recursos dos orçamentos fiscais dos governos, o que nunca é considerado. A previdência é um direito, assim como a saúde, a educação, a assistência, etc., que devem ser financiados por tributos. Trata-se de um grande pacto social entre as gerações, pois a sociedade financia as condições para que os mais velhos e os incapacitados possam viver sem trabalhar. Se fosse uma simples questão contábil, bastava revogar renúncias fiscais, criar outras fontes de arrecadação, ou uma maior efetividade no combate à sonegação. Bastaria tributar lucros e dividendos para manter intactos os direitos. Falam também da elevação da expectativa de vida como se a partir de hoje todos fossem viver muito mais. De fato, a expectativa é uma previsão para quem nasce hoje. Além disso, por conta da enorme desigualdade social, é certo que grande parte da população não ul-
trapassaria nem a idade mínima de 65 anos prevista na proposta. Mas quanto mais claros os argumentos contrários à reforma, mais convictos são os discursos em sua defesa. O verdadeiro motivo talvez não esteja explícito. A razão para tanto empenho é conversão da previdência pública em um sistema de capitalização individual. Quando dizem que o mercado está sedento pela aprovação da reforma, é porque a previdência é vista como negócio lucrativo. Converter o modelo de repartição em um modelo de capitalização significa revogar um dos principais direitos previstos na Constituição. O Estado de Bem-estar conquistado em 1988 está fundado na proteção social. A previdência pública é uma das maiores conquistas do povo brasileiro. A capitalização individual significa colocar a vida das pessoas nas mãos do sistema financeiro. O Chile é o exemplo claro do fracasso deste modelo. Implementado na década de 1970, o sistema serviu apenas para enriquecer alguns fundos privados e jogar na miséria grande parte da população. Não é por outra razão, os altos índices de suicídio de idosos. Muitos aposentados chilenos vivem com menos de 25% do salário mínimo. A reforma da previdência não é uma questão matemática. O que está em curso é a destruição do Estado de Bem-estar e o governo não esconde que prefere o Estado mínimo. Estado mínimo não tem previdência pública, não tem saúde, nem educação públicas, o ensino superior é para a elite. Ao contrário do Estado de Bem-estar, o Estado mínimo existe para garantir negócios, não direitos.
* Diretor de Relações Institucionais do Instituto Justiça Fiscal e membro do coletivo Auditores Fiscais pela Democracia
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PORTO ALEGRE, 26 DE MARÇO A 09 DE ABRIL DE 2019
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Refinaria Alberto Pasqualini na mira das privatizações
MOBILIZAÇÃO | Em janeiro deste ano, a Petrobras anunciou a retomada de negociações para venda de refinarias e gasodutos. Entre elas está a Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), localizada em Canoas. MAIARA MARINHO
PORTO ALEGRE (RS)
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lgumas das principais preocupações são o possível aumento do combustível e o risco de desemprego dos trabalhadores da REFAP. Além desta, a Petrobras pretende privatizar a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco e a Refinaria Landulpho Alves (Rlan), em São Francisco do Conde, no estado da Bahia. A Refinaria Alberto Pasqualini foi fundada em 1968, mas em 2000 a Petrobras transferiu 30% da RE-
FAP à companhia energética espanhola REPSOL. Em janeiro de 2011, o capital da subsidiária de Canoas foi retomado em 100% pela Petrobras. A justificativa para a privatização das subsidiárias da Petrobras é o ganho financeiro imediato. Contudo, a longo prazo, perde a economia brasileira já que os lucros advindos da extração do Pré-sal vão para mãos de terceiros. Além disso, perdem os consumidores com o aumento do preço do combustível e, principalmente, os trabalhadores. A privatização significa, em tempos de terceirização, reforma trabalhista e previdenciária, a precarização do trabalho, que no setor privado é mais latente. Com este projeto de privatização, a Petrobras não terá obrigatoriedade de participar das licitações a respeito da exploração do Pré-sal. Além disso, com a Lei dos Royalties (Lei 12.858/2013), há uma porcentagem da exploração do Pré-sal destinada à educação e à saúde. Os be-
Foto: Alex Garcia
Refinaria gaúcha é uma das quatro sob ameaça
nefícios para a educação significam mais de 17 mil ônibus escolares, material escolar para 125 milhões de estudantes, custo de um ano de estudo para mais de 600 mil alunos do ensino fundamental e para 150 mil alunos do ensino médio. Contudo, segundo esta lei, a arrecadação é feita sob as receitas dos órgãos da administração direta da União, como consta no arti-
go 2°. A meta de repasse de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) à área educacional, traçada no Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024, contava com a participação dos recursos do Pré-sal para atingir esta meta. Mas com a venda das refinarias esta conta muda. Portanto, a sociedade sofre uma perda econômica que interfere na melhoria de serviços essenciais para a vida de milhões de brasileiros.
Petroleiros fazem ato contra desmonte e entrega da Petrobras no Rio Grande do Sul Foto: Alexandre Garcia
Declaração do presidente da estatal, que disse sonhar com a privatização, motivou ato realizado na Refap, em Canoas (RS) MARCELO FERREIRA
PORTO ALEGRE (RS)
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otivados pela declaração dada no dia 15 de março pelo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para quem a venda da estatal e de outras companhias públicas “foi sempre um sonho”, os petroleiros do RS realizaram um ato contra a privatização da Petrobras, contra o ataque à liberdade sindical e contra a precarização do trabalho na empresa. A mobilização ocorreu na manhã do dia 18 de março, na entrada da Refap - Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. “Não é admissível que o presidente da empresa sonhe em vendê-la”, afirma o diretor do Sindipetro-RS, Edson Terterola, em referência à declaração dada. Nela, o executivo, além de lamentar não poder vender a petroleira, manifestou que sua intenção à frente da Petrobras é
Mulheres já pautaram a reforma da Previdência no 8 de Março de 2018
Petroleiros na luta contra um projeto “muito mais radical do que o que tínhamos ano passado”
transformá-la "o mais próximo possível de uma empresa privatizada". Projeto de privatização radicalizou No governo Temer, o projeto de privatização consistia em entregar as refinarias do Sul e do Nordeste para a iniciativa privada. Frente a isso, os petroleiros realizaram um estudo e mostraram que o modelo é ruim para o Brasil. Segundo denúncia de Terterola, o atual governo pegou essas críticas como base para a reelaboração do projeto de venda.
“Não significa que não vão privatizar, pelo contrário, eles vão radicalizar a privatização. Querem vender o máximo possível da empresa. Aí a estrutura que estão pensando vai ser mais complexa. Nós estamos preparando a categoria para essa luta no decorrer do ano, uma luta contra um projeto que é muito mais radical do que o que tínhamos no ano passado”, afirma ele. Precarização gera mortes A morte de um mergulhador de 39 anos em uma plataforma na
Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, também esteve em pauta no ato. Conforme avaliação da dirigente do Sindipetro-RS Miriam Ribeiro, há uma política de insegurança da estatal que é reflexo da política de privatização. “Estão preparando a empresa para ser privatizada, então diminuem os gastos com tudo, precarizam todas as relações de trabalho. O que acaba gerando acidente em cima de acidente, e que resulta em mortes na nossa empresa”, afirma ela.
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PORTO ALEGRE, 26 DE MARÇO A 09 DE ABRIL DE 2019
SERVIÇO PÚBLICO | Como os trabalhadores
pagam a conta das privatizações A história das privatizações das empresas estatais estratégicas em nosso país daria um excelente manual de falcatruas. Muita gente ganhou dinheiro com essas negociatas. WÁLMARO PAZ PORTO ALEGRE
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ssa é a constatação a partir dos fatos demonstrados nos dois livros/denúncia do mais importante jornalista de economia do país, Aloísio Biondi. Em O Brasil Privatizado, volumes I e II, Biondi detalhou e sustentou com gráficos e números como foi péssimo para o Brasil vender a Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional, os bancos estaduais e a telefonia. Só quem não ganhou nada foram os trabalhadores. Para entender o assalto ao patrimônio de todos com mais clareza é preciso recuar no tempo. Retornar ao processo de industrialização no início da segunda metade do século 20, aos governos de Getúlio Vargas. Ele foi o grande incentivador da indústria brasileira no processo de substituição das importações e para transformar o Brasil em uma
potencia econômica. Inicialmente pela falta de produtos devido à quebradeira das multinacionais depois do crack da Bolsa de Nova York, em 1929, e depois, por uma estratégia nacionalista e de consolidação da economia. Se, logo após 1930, o Brasil começou a produzir tecidos, pneus e outras manufaturas, continuava ainda importando itens com alto valor agregado. Nossa agricultura dependia de tratores e máquinas fabricados no exterior enquanto exportávamos minério de ferro. O petróleo, combustível dos motores a explosão que já moviam a economia, substituindo o vapor, era totalmente importado. Foi nesta época que Monteiro Lobato escreveu “O Escândalo do Petróleo e do Ferro”, livro onde assegurava que o país poderia produzir a baixo custo estes produtos. Logo após a 2ª Guerra Mundial, o Brasil cobrou dos Estados Unidos como seu preço de participação na conflagração ao lado dos aliados, a construção de uma usina siderúrgica. Seria a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), financiada pelos EUA. No começo dos anos 1950 começavam as articulações para a implantação da Fábrica Nacional de Motores
Foto: Acervo Globo
Em 1993, trabalhadores da CSN foram às ruas no Rio em protesto contra privatização da empresa
e da Fábrica Nacional de Tratores e a criação da Petrobras. Getúlio negociou com os norte-americanos a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. Seu capital seria de US$ 800 milhões e sua finalidade o financiamento da industrialização. O banco foi fundado, mas o dinheiro do Norte demorava a vir. Então, o governo pegou este valor “emprestado” dos institutos de previdência dos trabalhadores, fundos para as aposentadorias e a assistência social que eram alimentados pelo desconto de 8% dos salários.
Enquanto isso, o embaixador brasileiro nos EUA, João Neves da Fontoura, negociava a liberação dos recursos. No entanto, em cartas de Fontoura a Getúlio, fica claro que os norte-americanos somente liberariam o dinheiro se o governo brasileiro desistisse da ideia de fundar a Petrobras. Porém, a população, através da campanha “O Petróleo é Nosso”, tomou as ruas e foi à luta pela criação da empresa. Com isso os parceiros do Norte deixaram de cumprir a sua parte e os trabalhadores brasileiros, além de deixarem o mais valor de seu tra-
balho com as empresas, as financiaram diretamente através do BNDE, hoje BNDES. Foi aí que começou o rombo da Previdência Social. Todas as indústrias de peso no Brasil foram financiadas com tais recursos e, na hora da privatização, o processo igualmente foi bancado com eles. Assim, se uma empresa comprasse uma estatal teria a maior parte do capital financiado pelo BNDES. Ou seja, é o mesmo que alguém, ao vender a sua casa, emprestasse o dinheiro necessário à compra para o comprador. E a juros baixos.
Um negócio de pai para filho: o governo fica com o ônus e o comprador com o bônus
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CSN, a Usiminas, a Aços Finos Piratini e outras estatais de siderurgia foram vendidas com financiamentos do BNDES a juros subsidiados e a valores inferiores aos de mercado. Além disso, foram forçadas a dar prejuízo por conta de preços praticados abaixo dos de mercado. Os preços, porém, foram elevados pouco antes da venda, dando enormes lucros aos compradores já no primeiro ano da aquisição. Enquanto isso, a grande imprensa alardeava que a administração estatal era ineficiente e seus funcionários corruptos. Foi o que aconteceu em todos os ramos estratégicos passados adiante ainda no governo FHC; as empresas de energia elétrica, as de telefonia, as siderúrgicas, as de mi-
nério de ferro como a Vale do Rio Doce e assim por diante. Todas foram desvalorizadas e entregues por menos do que haviam investido. Algumas até mesmo tomavam empréstimos valiosos antes de vender e ficavam com as dívidas, deixando os compradores livres desse ônus. Outras foram vendidas com as chamadas “moedas podres”, bônus da dívida externa negociados a menos da metade de seu valor. Biondi cita “o favorecimento a grupos específicos; a utilização de recursos do BNDES; os prejuízos que o governo, “o povão, a classe média, os agricultores” tinham com o “saneamento” das empresas que eram privatizadas; a importação maciça de peças por parte das multinacionais que “compra-
Foto: Ricardo Stuckert
Manifestação contra a venda da Vale: empresa foi entregue por valor 100 vezes menor ao que valeria logo depois.
vam“ as estatais; as remessas de lucro para o exterior.” Nos anos 1990, o sonho brasileiro estava chegando. O Brasil conquistara uma posição entre as dez maiores economias do mundo. Melhor ainda: o país nadava em dólares, porque era capaz de realizar exportações muito maiores do que as importações.
Poucos lembram disso hoje, mas o Brasil tinha um dos maiores saldos comerciais positivos (exportações menos importações) do mundo, na casa dos US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões por ano. Tinha dólares seus, não precisava mais de empréstimos ou de capital das multinacionais para realizar investimentos e manter a
economia em expansão para criação de empregos. Entretanto, com Collor e FHC, abriu-se o mercado brasileiro para a globalização e levando quase a bancarrota o país, justificando as privatizações para o pagamento das dívidas assumidas com os bancos estrangeiros. Sob os governos do PSDB, planejou-se vender até mesmo a Petrobras, cujo capital foi aberto e até o nome tentaram modificar para Petrobrax. Embora com a abertura do capital, a Petrobras continuou crescendo. O mandato Temer tratou de privatizar a Petrobras Distribuidora e a abrir o Pré-Sal, descoberto no governo Lula que multiplicou por dez as reservas de petróleo do país e reduziu os custos de produção.
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A estratégia de desvalorizar para vender Apesar de todos os anos de campanha permanente contra a Petrobras, ela é a petrolífera com o maior crescimento no planeta. É responsável por 90% da produção de petróleo no país. WÁLMARO PAZ
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Petrobras teve um aumento de 33% no volume de vendas de produtos e serviços entre 2011 e 2015, comparável ao crescimento médio da maior economia do mundo, a da China. Já a lucratividade das suas concorrentes internacionais – ExxonMobil, Chevron e Royal Dutch Shell – baixou no mesmo período. Há um movimento mundial, apoiado pelo governo Bolsonaro, para que as reservas do Pré-Sal passem às mãos destas multinacionais. A Operação Lava Jato, desfechada sob o pretexto de combate à corrupção, teve um papel importante nesta história. Primeiro retirou da disputa eleitoral os setores da esquerda com a prisão e tentativa de desmoralização do ex-presidente Lula e, em segundo lugar, colocou a gestão da Petrobras como sinônimo
Foto: Reprodução Internet
de corrupção. Além disso, existe o fenômeno do impairement (desvalorização provocada) realizado pelas diretorias para mostrar prejuízos ou até mesmo acertar balanços, praticado na companhia desde 2015 com grande intensidade. A maior frequência ocorreu durante a gestão Aldemir Bendine, ainda no governo da presidente Dilma Rousseff. As concorrentes da Petrobras vêm, historicamente, corrompendo os governos e instituições por onde passam para conseguir o domínio da produção de energia. No caso brasileiro, com as privatizações dos anos 1990, as grandes empresas internacionais ficaram com o monopólio da distribuição e da venda de praticamente toda a energia elétrica produzida no Brasil. Aliás, com a parte mais lucrativa É importante entender que toda a produção, inclusive a agrícola, é baseada no consumo de petróleo. Os insumos chegam aos portos e vão até a zona de produção do agronegócio queimando petróleo, a lavoura é feita com o consumo de combustíveis, a colheita também, e o transporte aos locais de embarque para a exportação igualmen-
Produção do Pré-Sal saltou de 45 mil barris/dia para 1,2 milhão/dia. Mas o governo quer vender a Petrobras
te. O maior lucro da atividade agrícola fica, portanto na mão das petroleiras. A divisão da Petrobras, com a privatização da distribuidora e agora com o anúncio da venda das refinarias, é um dos maiores passos dados nessa direção. No caso do Pré-Sal, afirma-se até que o dinheiro dos royalties está sendo mal gerido e por isso deve deixar de ser cobrado.
O conflito mundial pelo petróleo Depois de tentarem no Irã, no Iraque e até na Rússia controlarem o petróleo, os EUA voltam-se agora para
as maiores reservas mundiais: o Pré-Sal brasileiro e as reservas da Venezuela. O governo brasileiro já ofereceu praticamente de graça o petróleo do Pré-Sal, e está se comprometendo a ajudar os norte-americanos a conseguir o domínio do óleo da Venezuela, mesmo com o risco de uma guerra de proporções mundiais envolvendo Rússia e China. Mesmo que estejam surgindo novas fontes de energia, a economia mundial ainda ficará muitos anos, talvez todo este século, sob o império do motor a explosão e, consequentemente do petróleo.
Cinco exemplos de como o Brasil levou a pior ao vender seu patrimônio 1
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi vendida por R$ 1,05 bilhão, dos quais R$ 1 bilhão foi pago com moedas podres fornecidas pelo BNDES com prazo de pagamento de 12 anos. Moedas podres são títulos do governo adquiridos pelos empresários interessados na privatização por valor muito inferior aquele de face. Ou seja, compra-se, hipoteticamente, por R$ 50 mil um título que vale R$ 100 mil. Ao ser empregado na compra da estatal, o título volta a valer os R$ 100 mil.
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Na privatização da rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, a empreiteira que ganhou o leilão está recebendo R$ 220 milhões de pedágio por ano desde que assinou o contrato – e até abril de 1999 não começara a construção da nova pista como estava previsto no contrato.
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Antes de entregar a empresa à iniciativa privada, o governo faz de-
missões maciças de trabalhadores das estatais. Isto é, gasta bilhões com o pagamento de indenizações e direitos trabalhistas, dívidas que, na verdade, seriam de responsabilidade dos “compradores”. Exemplo: o governo de São Paulo demitiu 10.026 funcionários de sua empresa ferroviária, a Fepasa, de 1995 a 1998. E ficou ainda responsável pelo pagamento de 50 mil aposentados da ferrovia.
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Na venda da Companhia Siderúrgica Paulista, a Cosipa, o governo estadual assumiu dívida de R$ 1,5 bilhão. Além disso, adiou o recebimento de R$ 400 milhões em ICMS atrasado). Quanto o Estado de São Paulo recebeu pela venda? Só R$ 300 milhões. Isto é, o governo “ganhou” uma dívida de R$ 1,5 bilhão, e os “compradores” pagaram somente R$ 300 milhões.
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O mais escandaloso foi o caso do Banco do Estado do Rio de Janeiro, o Banerj. Para privatizá-lo, o
governo Marcelo Alencar (PSDB) “engoliu” todos os compromissos futuros do plano de pensão dos funcionários. Para isso, Alencar tomou um empréstimo de nada menos de R$ 3,3 bilhões. E o banco foi passado adiante por apenas R$ 330 milhões, dez vezes menos do que o Estado investiu para vendê-lo! Pior ainda: o valor foi pago em moedas podres, negociadas no mercado com desconto de 50%. Quer dizer, os R$ 330 milhões representaram mesmo, no final das contas, somente R$ 165 milhões, praticamente 20 vezes menos do que o valor do empréstimo tomado pelo governo estadual. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos levantados pelo jornalista Aloísio Biondi em seu livro O Brasil Privatizado – Um Balanço do Desmonte do Estado. É uma radiografia detalhada das privatizações na era FHC e que, agora, prometem ser retomadas com muito mais força e prejuízos para os brasileiros.
Conforme Eduardo Costa Pinto, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP) a produção de óleo na região do Pré-Sal saltou de 45 mil barris por dia para 1,2 milhão de barris por dia. O custo de produção do barril que era de US$ 40 por barril caiu para cerca de US$ 7. Isso, por si só, explica o interesse das grandes petroleiras. A Chevron e a ExxonMobil começaram a explorar o petróleo do Pré-Sal junto com a Petrobras e desistiram quando se atingiu a profundidade entre dois e cinco quilômetros – a Petrobras achou petróleo a sete quilômetros de profundidade. O custo de extração parecia muito elevado, mas nas condições atuais passou a ser atraente.
Gasolina cara Outro mito propagandeado é que a gasolina da Petrobras é a mais cara do mundo. No entanto, não se explica que esta política de preços é deliberada e que a estatal brasileira ficava apenas com 9 centavos de dólar quando o combustível custava 59 centavos. Nunca se informou à população que a Petrobras sempre teve direito a uma parcela mínima sobre o preço do litro de gasolina ou diesel. A maior parcela na formação do preço ruma para impostos e taxas e até mesmo para um tributo destinado a baratear o etanol. Nos outros países a margem de lucro das distribuidoras é três vezes maior do que a brasileira. O mito serve para justificar a venda de refinarias brasileiras.
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TERRA
PORTO ALEGRE, 26 DE MARÇO A 09 DE ABRIL DE 2019
16ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico mostra força do MST
CONQUISTA |
Fotos: Leandro Molina
Evento, que reuniu mais de 1 mil pessoas, evidenciou a contribuição dos Sem Terra na produção de alimentos saudáveis.
Foto: Catiana de Medeiros
CATIANA DE MEDEIROS
PORTO ALEGRE (RS)
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erca de 1,2 mil pessoas celebraram a 16ª Festa da Colheita de Arroz Agroecológico, realizada no dia 15 de março no Assentamento Santa Rita de Cássia II, em Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre. O evento, que é promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acontece anualmente no Rio Grande do Sul, onde há a maior área plantada de arroz orgânico. Além de famílias assentadas, participaram da atividade lideranças populares e representantes de seis prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro, que adquirem arroz do MST para a merenda escolar. Ainda estiveram presentes deputados, gestores municipais, estudantes de universidades públicas e os chefes de cozinha Carmen Virginia, Checho Gonzales e Julio Bernardo. O Movimento Sem Terra é considerado pelo Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga) como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. O cultivo acontece há 20 anos no estado gaúcho. Ao todo, são 363 famílias envolvidas em 15 assentamentos e 13 municípios. A produção ocorre em 3.433 hectares de áreas de banhados. Segundo o Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, na safra 2018-2019 a previsão é colher 16 mil toneladas.
16ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico foi realizada no dia 15 de março
Resistência A festa relembrou a história da luta pela terra no estado e das 101 famílias do Assentamento Santa Rita de Cássia II, que fica à margem da BR-386. Teve estudo sobre a atual situação do país com João Pedro Stédile, da coordenação nacional do MST. Ele afirmou que, embora a situação seja adversa aos movimentos populares, a burguesia rentista que está no poder também tem dificuldades de superar a crise, motivada por mudanças no modo de produção capitalista. Já as lideranças políticas ressaltaram o papel dos assentados e da agricultura camponesa no cultivo de alimentos saudáveis. Conforme o deputado estadual Edegar Pretto
Experiência vira livro
Foi lançado durante a festa o livro "A produção ecológica de arroz e a Reforma Agrária Popular", uma adaptação da tese de doutorado de Adalberto Martins, que integra o setor de produção do MST. Segundo o autor, a obra publicada pela Editora Expressão Popular contribui para a divulgação da experiência dos assentados e suas produções ecológicas. “É um material didático, um trabalho acadêmico que dá suporte a uma prática social camponesa”, relata.
Ato político reuniu lideranças populares, deputados, universitários, chefes de cozinha e representantes de prefeituras de SP e RJ.
(PT), o MST mostra ao mundo a experiência positiva na produção livre de veneno. “A Reforma Agrária Popular viabiliza a permanência das famílias no campo, com trabalho, renda e produzindo em escala. A colheita do arroz agroecológico representa bem a importância das famílias assentadas que conquistaram a terra e produzem com dignidade”, destaca. O evento reuniu público de várias cidades que teve a oportunidade de prestigiá-lo pela primeira vez. É o caso da jornalista Anahi Fros, que é natural de Caxias do Sul, mas mora há seis anos em Porto Alegre. “Passei cinco deles curiosa em conhecer a Festa da Colheita do Arroz Agroecológico. Enfim concretizei meu desejo. Foi incrível ver de perto o resultado da produção desse alimento que consumo há pelo menos dez anos e que está nas feiras ecológicas com as quais atuo como comunicadora,
dimensionado ainda mais o trabalho do MST em prol da agroecologia”, conta. Livia Esperança, coordenadora de alimentos escolares da prefeitura de São Paulo, também participou da atividade. O arroz do MST é servido a cerca de 500 mil alunos de 2.460 escolas municipais da capital paulista. Para ela, essa é uma forma de democratizar o acesso à comida saudável. “Nós prezamos pela qualidade, acreditamos que o alimento orgânico é fundamental e tem que estar presente nos cardápios escolares”, aponta. A assentada Juraci Lima diz que foi muito gratificante receber tantas pessoas dispostas a conhecer de perto o MST, e mostrar a elas a produção diversificada dos assentamentos por meio da Feira Ecológica. “Foi um espaço muito importante de diálogo, para estreitarmos a relação e mostrar que a Reforma Agrária dá certo”, argumenta.
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CULTURA & LAZER
HUMOR
HORÓSCOPO ÁRIES (21/3 A 20/4) O Sol em seu signo deixa tudo mais ágil. Aproveite o gás extra e lute contra a reforma da previdência. É preciso entender que lutar por seus direitos no presente é garantir mais forças para o futuro.
TOURO (21/4 A 20/5) É momento de projetar suas aspirações para o futuro e entender como e onde você deve agir para construir o que deseja. Para isto, leve em consideração o fato de que você é um ser coletivo.
GÊMEOS (21/5 A 20/6) Não deixe que sua comunicação seja afetada, aliás, é ela que te ajuda a resolver os problemas que te afetam. Tenha coragem para agir e prudência para entender o momento e o modo para isto.
CÂNCER (21/6 A 22/7) Mais do que nunca é necessário ter senso de realidade, e para isto é necessário ser mais racional. Tenha determinação e responsabilidade emocional para lidar com os desafios que a vida e a luta te impõem.
LEÃO (23/7 A 22/8) Você tem oportunidades concretas de construir as condições ideais para agir. Mas, elas não dependem somente de você. Confie naqueles (as) que caminham ao teu lado e busque separar o joio do trigo.
VIRGEM (23/8 A 22/9) Para conquistar maior influencia você deve sempre deixar muito claro quais as suas intenções. Para isto, utilize seu senso prático e sua singularidade com cautela e sabedoria. Vênus em Peixes pode te ajudar nisto.
LIBRA (23/9 A 22/10) Saber avaliar as situações, os relacionamentos e até mesmo a conjuntura política é um desafio grandioso e que deve ser feito. Avaliações não devem ser vista como conclusões somente, elas são, antes de tudo, um prefacio.
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11) Sua palavra de ordem do momento é responsabilidade afetiva. Muitas experiências interessantes podem acontecer em sua vida nos próximos dias, mas é preciso estar vigilante para entender exatamente o que acontece.
SAGITÁRIO (22/11 A 21/12) Quanto mais você transcende sua verdade, mais as pessoas se interessam por você. Você tem muito que falar sobre seus pontos de vista, mas tenha a garantia de que não é um monólogo. Ouvir continua essencial.
CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1)
GRAFAR
Convencer as pessoas de suas ideias tem muito mais haver com suas reais praticas. E isto não é uma tarefa muito difícil para você. Assim, quando se sentir muito tencionado (a) em sua missão, recomenda-se malemolência.
AQUÁRIO (21/1 A 19/2)
TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)
Saiba dosar seu charme para resolver eventos inesperados. Lembre-se que não há nada mais charmoso que o mistério. O poder de seus argumentos aumenta se você procurar compreender o que o outro diz.
PEIXES (20/2 A 20/3) Procure sempre estar lúcido (a) dos acontecimentos da sua vida. Vênus em seu signo ajudar-te-á a entender melhor situações que tenham haver com relacionamentos. Lembre-se: expectativas desleais são auto boicote. Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.
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ESPORTES
PORTO ALEGRE, 26 DE MARÇO A 09 DE ABRIL DE 2019
Seis histórias sobre o futebol e política na ditadura GOLPE 1964 |
Agora quando o golpe civil-militar de 1964 completa 55 anos, selecionamos alguns fatos que mostram as ligações do futebol brasileiro com o regime. MARCELO FERREIRA PORTO ALEGRE (RS)
Cartolagem e ditadura O marechal-presidente Arthur da Costa e Silva comunicou a João Havelange, então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, hoje CBF), que planejava apostar no futebol. Era final de 1968 e o ditador queria festejar o Tri mundial no seu governo. Costa e Silva, porém, morreu. Veio a junta militar e, após, o general mais afeiçoado ao esporte: Garrastazu Médici. Em 1971, surgiu o Brasileirão. A parceria ajudou Havelange a chegar à presidência da Fifa em 1974. Depois da conquista de 1970, o autoritarismo e a cartolagem esmeraram-se nos festejos dos 150 anos do Grito do Ipiranga. Em 1972, trouxeram 20 seleções para disputarem a Taça Independência. A finalíssima juntou duas ditaduras: o Brasil de Médici e o Portugal de Marcelo Caetano. Brasília também estimulou a CBD a inflar o campeonato nacional. De 20 clubes, saltou para 40 e cresceu até 1979 quando bateu seu recorde: 94 equipes. Seguia-se o preceito “Onde a Are-
TABELINHA GRENAL
Foto: Arquivo O Globo
na vai mal, mais um time no Nacional”. Ditadura demite João Saldanha A seleção que traria o Tri, com nomes como Pelé, Tostão e Jairzinho, era conhecida como as “Feras do Saldanha”. O técnico João Saldanha obtivera 100% de aproveitamento nas eliminatórias. Mas foi demitido a seis dias do embarque da seleção para o México.Atribuiu-se a demissão à não convocação de Dario, o Dadá Maravilha. O centroavante seria do gosto de Médici. Mas os atritos iam muito além. Saldanha era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), na clandestinidade. “Sua escolha, um pouco foi para acalmar as críticas à seleção após o fiasco de 1966. A aceitação foi um pouco de pragmatismo do Partidão, tipo ‘melhor a gente no cargo que alguém
A primeira faixa pela anistia aberta publicamente foi num jogo do Corinthians e Santos, em 1989 no Morumbi
pior’”, explica o jornalista esportivo Juca Kfouri. Após o assassinato de Carlos Marighella em 1969, Saldanha teria distribuído um dossiê a autoridades internacionais citando milhares de presos políticos e centenas de mortos e torturados pela ditadura. Com a seleção já classificada, foi substiFoto: Reprodução Internet
Com sua propaganda, o regime insuflou o ufanismo
Internacional
Grêmio
27/03 – 21h30 – Gauchão Internacional X Novo Hamburgo
28/03 – 19h15 – Gauchão Grêmio X Juventude
03/04 – 19h15 – Libertadores Internacional X River Plate
04/04 – 19h – Libertadores Universidad Católica X Grêmio
09/04 – 21h30 – Libertadores Internacional X Palestino
10/04– 21h30 – Libertadores Grêmio X Rosario
tuído por Zagallo, que voltaria ao Brasil trazendo a taça Jules Rimet. Pra frente Brasil, salve a seleção Médici aproveitou a euforia pela vitória do selecionado – fora a primeira copa transmitida ao vivo pela TV brasileira -- para massificar campanhas publicitárias. Milhões de brasileiros se emocionavam com a seleção e cantavam “De repente é aquela corrente pra frente/ Parece que todo o Brasil deu a mão! (…) Pra frente Brasil! Salve a seleção!” Caiu como uma luva para o culto ao ufanismo e a proposta de integração nacional. Pelé, o rei do futebol Ao retornar do México, Pelé ganhou passaporte diplomático para ser garoto-propaganda do governo na inauguração da praça Brasil, em Guadalajara. Em carta de agradecimento, afirmou “imensa satisfação” com a missão. Em entrevista ao jornal uruguaio La Opinión, em 1972, Pelé afirmaria: “Não há ditadura no Brasil”. Anos depois, alegou que não foi à Copa de 1974 por descobrir que havia tortura no Brasil. “Ele era bom no futebol e ruim na política. Ao longo da história, esteve ao lado da maioria dos presidentes, foi inclusive ministro dos Esportes
de FHC”, recorda Kfouri. Os movimentos de Havelange Em 2012, a Fifa divulgou documentos da justiça suíça confirmando que o ex-presidente da entidade, João Havelange, e seu genro, o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, receberam subornos milionários, somando R$ 45,5 milhões. “Esse foi movimentador de ditaduras, mentiu a vida inteira”, acusa o jornalista. Havelange também foi membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) de 1963 até 2011, quando renunciou ao mandato. Em 2013, renunciou também à presidência de honra da Fifa. As renúncias foram para escapar de punições pela condenação por corrupção. Futebol e política hoje Futebol e política se misturam. Nos últimos anos, observa-se desde protestos verde-amarelos contra a “corrupção” até o fenômeno das torcidas antifascistas. Como lembra Kfouri, “a primeira faixa pela anistia aberta publicamente foi num jogo do Corinthians e Santos, em 1989 no Morumbi. Tivemos a Democracia Corinthiana, com jogadores como Sócrates e Wladimir, totalmente imbricada com as diretas. Tem de tudo”.