Jornal Brasil de Fato / RS - Número 14

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Ambiente

Mortandade de abelhas: problema não pode mais ser ignorado TERRA | PAG 6

RIO GRANDE DO SUL

Futebol

A desigualdade salarial no esporte ESPORTE | PAG 8

03 a 16 de maio de 2019 distribuição gratuita brasildefato.com.br

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Ano 1 | edição 14

O Brasil desempregado Fotos: Alexandre Garcia

13,4 milhões

é o número de brasileiros sem emprego, o maior em 12 meses e um dos maiores dos últimos anos. Apenas um setor, o da construção civil, já fechou 228 mil vagas desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência. Nenhum setor está contratando. Não há indicação de que o panorama irá melhorar. Páginas 3, 4 e 5.


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OPINIÃO

PORTO ALEGRE, 03 A 16 DE MAIO DE 2019

ARTIGO | Francisco, repetindo o caminho de Jesus

CHARGE | Santiago

Vanildo Luiz Zugno*

D

C

A Petrobras sob ataque

omo presente grego aos trabalhadores, poucos dias antes deste 1º de Maio de 2019, o governo Bolsonaro anunciou a venda de oito refinarias da Petrobras. Um novo passo no processo de esquartejamento da petroleira, uma das maiores do planeta. Juntas, as oito detém uma capacidade de refino de 1,1 milhão de barris/dia. O presidente da estatal, Roberto Castello Branco, já confessou que seu sonho “é vender a Petrobras”. Sob o signo do fundamentalismo neoliberal, o projeto de destruição leva o nome de “desinvestimento”, sendo anunciado com pompa e circunstância como se fosse inteligente entregar a maior empresa do país. Como se os grandes produtores de petróleo não mantivessem nacionalizadas as suas petroleiras, como fizeram, entre outros, a Arábia Saudita, o Irã e o Kuwait... Agem assim por saberem que o controle do seu petróleo é e continuará sendo estratégico para qualquer país. Chama a atenção a postura contemplativa e muda das Forças Armadas diante do assalto ao patrimônio de gerações. Nem parece que um general, Julio Horta Barbowww.brasildefato.com.br redacaors@brasildefato.com.br (51) 99956.7811 (51) 3228-8107 /brasildefators @Brasil_de_Fato

sa, comandou o Conselho Nacional do Petróleo, embrião da Petrobras, e defendia o monopólio estatal. Por ironia adicional, a refinaria gaúcha que Bolsonaro pretende transferir ao capital multinacional leva o nome de Alberto Pasqualini. Senador e também gaúcho, Pasqualini foi um dos maiores defensores da criação da estatal. Na verdade, o ataque à empresa tem sido praticado desde sua criação, em 1953, por Getúlio Vargas. “Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma”. A “agitação” que Getúlio cita na sua carta-testamento antes do tiro no coração era a das elites atreladas a Washington, dos seus políticos e da sua mídia. São os setores que, em 2019, repetem sua velha arenga. E que, em boa medida, estão representados em Brasília. Ao longo de sua história, a Petrobras foi defendida pelas vozes progressistas comprometidas com a soberania e o futuro do país. Está na hora, novamente, de se fazerem ouvir.

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CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Miriam Cabreira, Fernando Maia, Jonas Tarcísio Reis, Rogério Ferraz, Adelto Rohr, Fábio Castro, Mariane Quadros, Carlos Alberto Alves, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Ayrton Centeno, Marcos Hermanson, Marcos Antonio Corbari e Marcelo Ferreira | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares

O Papa é amado e odiado por uma única razão: ele insiste em ser simplesmente um cristão. E seu cristianismo não se resume à afirmação de uma pertença religiosa. Seu cristianismo é uma fé, uma aposta de vida, total, absoluta e, ao mesmo tempo, cotidiana e performática. A POIO

EDITORIAL |

iante de Jesus ninguém ficava indiferente. Para os fracos, suas palavras eram suaves e ternas e não lhes impunha jugo algum. Para os fortes e poderosos, palavras duras e exigências. A conversão por ele pregada implicava no fim do sistema de exploração tanto dos poderosos da terra quanto de seus superiores romanos. Qual a diferença entre o “Ano da Graça” com o qual Jesus abriu sua missão e o “Ano da Misericórdia” que marcou o início do pontificado do Papa Francisco? Nenhuma! Graça e misericórdia são duas palavras para falar do mesmo amor de Deus que vence o medo das religiões e impérios que massacram a pessoa humana. Jesus iniciou sua missão na

periferia da Galileia, região desprezada pelos judeus e temida pelos romanos como fonte de distúrbios e provocações. O Papa foi a Lampedusa acolher os desprezados da Europa e do mundo. Jesus reuniu junto a si desempregados, pescadores, coletores de impostos e mulheres para fazer deles os anunciadores da justiça e da graça de Deus. O Papa Francisco se reuniu com os Movimentos Sociais e proclamou que a justiça é que nenhuma família pode ficar sem teto, nenhum camponês sem terra e nenhum trabalhador sem emprego. O Filho do Homem não tinha onde reclinar sua cabeça e enviou seus discípulos sem mochila, com apenas uma túnica e um par de sandálias. O Papa recusou desde o princípio e persiste em manter-se distante de palácios, roupas, sapatos, faustos e honras dos príncipes deste mundo e da Cúria Romana. Jesus recusou-se a condenar a mulher que lhe foi apresentada como adúltera. Francisco lembra que Jesus é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” e pergunta: “quem sou eu para condenar?” O Papa é amado e odiado por uma única razão: ele insiste em ser simplesmente um cristão. E seu cristianismo não se resume à afirmação de uma pertença religiosa. Seu cristianismo é uma fé, uma aposta de vida, total, absoluta e, ao mesmo tempo, cotidiana e performática. Assim como Jesus, ele não apenas fala. Ele também faz. E seu agir, provoca amor e ódio como todos os profetas que antes dele percorreram o caminho da Esperança que passa, necessariamente, pela cruz.

*Doutor em Teologia.


GERAL

PORTO ALEGRE, 03 A 16 DE MAIO DE 2019

CRISE |

Sem emprego e sem esperança

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Foto: José Eduardo Bernardes

Treze milhões e quatrocentos mil trabalhadores estão sem emprego no Brasil. É o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) – Contínua, divulgada pelo IBGE. AYRTON CENTENO

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PORTO ALEGRE (RS)

á um número ainda mais expressivo: 28,3 milhões. Esse é o número de pessoas desempregadas, somadas aquelas que trabalham menos do que poderiam, que não procuraram emprego, mas estavam desimpedidas para trabalhar. Ou, ainda, que procuraram

uma colocação, mas não estavam disponíveis para a vaga. É um quadro que, tudo indica, não mudará tão cedo. “Não há perspectiva de retomada do emprego se o empresariado – que vivia pregando contra o Estado – não assumir o papel do Estado de impulsionar a atividade econômica”, sintetiza o economista Flávio Fligenspan. “No Brasil, historicamente, o grande incentivador da economia é o Estado”, descreve. E continua: “O setor privado sempre se pôs a reboque. Sempre precisou de um empurrão do Estado para pegar no tranco”, interpreta Fligenspan, professor do Departamento de Economia e Relações

Internacionais da UFRGS. “Quem paga o pato é o trabalhador” Também impressiona, no levantamento do IBGE, a quantidade de desalentados. São 4,8 milhões. Desalentados, segundo a pesquisa, são aqueles brasileiros e brasileiras que simplesmente desistiram de procurar emprego. “A crise é dos capitalistas, mas quem paga o pato são os trabalhadores”, pontua a também economista, Lúcia Garcia. Ela vai buscar as raízes do problema em 2008, na quebradeira das financeiras norte-americanas. Uma segunda onda atingiu a Europa em 2011-2012, provocou a que-

da no preço das chamadas commodities - matérias-primas e produtos agrícolas - e veio bater logo depois nos países emergentes, como o Brasil, grande exportador de minério de ferro e soja. “Em 2014, o mercado de trabalho começou a andar de lado”, o país deixou de crescer e a crise econômica virou política”, relata. “Com o golpe contra Dilma, os anos de 2016-2017 registram uma alta no desemprego, mas que se acomoda nesse patamar”, nota. O PIB é inferior ao de 2014 Mas se a solução não está mais na ação estatal, o que o setor privado está fazendo a respeito? Nada,

responde Fligenspan. “Só tem discurso. Primeiro, o discurso de que a reforma trabalhista ia criar empregos e isso não aconteceu. No fundo, era um movimento dos empresários para reduzir os salários. Agora, é o discurso da reforma da Previdência que vai resolver tudo. Não vai.” Salvo alguma ação mais forte na área de infraestrutura, que sempre gera muitos empregos, Fligenspan não tem grandes expectativas. “O ano já está começando a ficar comprometido. Para avaliar o tamanho da nossa desgraça basta saber que o PIB do Brasil atual está 4,5% abaixo do PIB que tínhamos em 2014”, compara.

“Quem está feliz com a reforma trabalhista?” Foto: Nelson Almeida / AFP

Economista do DIEESE, instituição responsável por pesquisas de emprego e desemprego no Estado, Lucia tem uma boa e uma má notícia. A boa é que o desemprego não vai piorar. “Está ruim e vai continuar assim”, entende. A má é que o mercado de trabalho está se degradando velozmente. Não só existe menos oportunidades como a qualidade dos empregos piorou e a dos sa-

lários também. “Aumentou a jornada de trabalho, ficou mais extensa e mais intensa, com os trabalhadores submetidos à superposição de funções”, acentua. A exemplo do Fligenspan, ela acha que a reforma trabalhista não é solução. Serviu somente para rebaixar o custo do trabalho. Lucia pergunta: “Quem está feliz com a reforma trabalhista?” E ela mesma

responde: os capitalistas vinculados às grandes mineradoras, ao agronegócio exportador e aos bancos estão felizes. Mas e os donos de capital que dependem do mercado interno? Justamente um mercado que precisa de empregos, salários e consumidores? Bem, estes não estão tão felizes. “Eles estão sentindo os reflexos na paralisação dos seus negócios...”


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GERAL

PORTO ALEGRE, 03 A 16 DE MAIO DE 2019

DESEMPREGO |

“Nunca vi uma crise assim” Fotos: Alexandre Garcia

“Nunca fiquei tanto tempo desempregado”. A frase é de Rodrigo Trindade, 34 anos, sem trabalho nem salário há três meses, mas é repetida por muita gente na sala de espera do Sine, o Sistema Nacional de Emprego, no Centro de Porto Alegre. AYRTON CENTENO

PORTO ALEGRE (RS)

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m exemplo é Itamar Martins, porteiro, de 36 anos. Faz três anos que ele não consegue uma vaga. “Antes só me lembro de ficar seis meses desempregado”, recorda-se. Pior é a situação de Vitória Lisboa da Silva, de 22 anos, operadora de caixa. Sem conseguir serviço fixo faz quatro anos, ela desabafa: “Nunca vi uma crise assim. Ao ponto de alguém, largar 100 currículos, como eu fiz, e ninguém te ligar de volta”. Luiz Morais, 22 anos, casado, um filho, fez o mesmo que Vitória. “Distribuí 100 currículos pelas empresas e nada...”, lamenta. Motorista, também servente de obra e frentista, já completou três anos procurando uma colocação no mercado de trabalho. Enquanto ela não aparece, sobrevive como entregador de pescado. “A situação está bem ruim”, reclama.

“A gente se desespera” Martins é outro que espalhou currículos pelas empresas sem que tenha sido chamado uma vez só. Enquanto nada surge, vive de bicos. Menos mal que é solteiro. É uma circunstância parecida com a do operador de betoneira e servente de obra, James Rodrigues Machado, de 45 anos. Separado, sem filhos, convive há um ano e meio com o desemprego. Vive de trabalhos eventuais. “Minha mãe, que é aposentada, sempre me ajuda quando falta comida”, explica. Situação tão crítica Machado nunca havia visto. “E desde que esse governo aí assumiu só piora”. E prossegue: “Falam do Lula, mas no tempo dele a pessoa deixava um emprego e logo pegava outro. Ele se interessava pelo trabalhador... “Macha-

Janete, Ary, Rodrigo, Luiz, Vitória, Paulo, James, Itamar e Plínio. Retratos da luta por um lugar no trabalho formal no Brasil de 2019

do descreve o cenário atual como dramático. “Agora, quando aparece uma vaga, a gente chega lá e tem 50 na frente... Muitas vezes a gente se desespera”...

ço fora de sua área. “Aqui qualquer emprego serve. De servente de obra, de pintor, de desentupimento de esgotos, onde já trabalhei também...”

“Minha mãe nos ajuda com a comida” É a família que também ampara Trindade. Tanto para morar, quanto para auxiliar quando escasseia comida na mesa. “Eu e a minha esposa, que é empregada doméstica, moramos num quartinho no fundo do terreno da avó dela em Eldorado do Sul”, conta. Para a comida, quando falta, a ajuda vem do outro ramo da família. “Minha mãe nos ajuda nos dando feijão, arroz, mais o pão e o leite para as crianças. Subo na bicicleta, pedalo seis quilômetros até a casa dela para buscar o alimento”. Com curso de tecnologia de rastreamento de caminhões, Trindade está disposto a abraçar um servi-

“Está muito difícil” Oito meses sem trabalho, Plínio Alexandre da Rosa, 38 anos, é técnico em química. Mas já trabalhou como segurança. Casado, um filho, cursa licenciatura em química e adoraria trabalhar na sua especialidade “mas está muito difícil”. Por enquanto, a casa é sustentada pela esposa. Ela não tem emprego fixo, mas faz freelances como organizadora de bufês. E a família de ambos também dá uma mão ao casal. Sem trabalho, Vitória Lisboa da Silva sobrevive de bicos. O que a ajuda a manter a casa – está separada e tem um menino de quatro anos para criar – é a pensão que recebe e o apoio providencial do Bolsa Família. Janete Barbosa da Silva, 40

anos, dois filhos, está desempregada desde o começo do ano passado. Atuando na área de serviços gerais, toca a vida com as faxinas que faz “quando aparecem”, a cada 15 dias.

“Só dá pra água, a luz e os remédios” Com marido e quatro filhos, a comerciária Auta Martiau, de 38 anos, veio do Haiti em busca de uma nova vida no Brasil. Faz três anos que procura uma colocação. Como seu esposo conseguiu serviço, é dele que a família depende. Técnica em segurança do trabalho, Natália Romani, solteira, 32 anos, não encontra emprego na profissão. Diante desse fato, recorreu ao Sine para tentar uma vaga de secretária ou recepcionista. Há seis meses está sem emprego. O radialista Ary Ferreira, de 49 anos, é outro que não achou serviço do seu ofício. A solução foi assumir um bico de divulgador

de uma operadora de telefonia. Ganha R$ 2 mil mensais, dos quais gasta R$ 700 só de aluguel. Nem a aposentadoria impede Paulo Teixeira, aos 61 anos, de arriscar uma brecha no fechado mercado de trabalho da construção civil. Mestre de obra, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), recuperou-se e está de volta à disputa por uma vaga. Porém, desde 2015 nada encontra. O problema é que ele está obrigado a trabalhar. “Ganho somente R$ 1.370,00 mensais como aposentado e isso só dá para a água, a luz e os remédios”, pondera. Sem emprego, casado e com quatro filhos, a solução foi dividir ao meio sua casa no parque Madepinho, na zona sul de Porto Alegre. Alugou metade da residência a outra família para reforçar a renda familiar. Sem essa providência incomum, mas providencial, tudo ficaria pior.


PORTO ALEGRE, 03 A 16 DE MAIO DE 2019

O trabalho precário como antessala do desemprego Foto: Reprodução Youtube

GERAL

Os números da tragédia

13,4 milhões de desempregados.

1,2 milhão

de pessoas entraram para a população desocupada no primeiro trimestre do ano, na comparação com o último trimestre de 2018.

332 mil

funcionários da administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais ficaram desempregadas desde o final do ano passado

"O trabalho precário tende a ser a regra, e a exceção é a plenitude de direitos"

Especialista no tema do mundo do trabalho, o sociólogo Ricardo Antunes, da Unicamp, é autor de O Privilégio da Servidão, livro onde traça um panorama da classe trabalhadora na história recente do Brasil. O estudo está centrado no que chama de "novo proletariado de serviços". A íntegra da entrevista pode ser acessada em https://www.brasildefato.com. br/2019/04/29/trabalho-precario-intermitente-e-a-antessala-do-desemprego-diz-ricardo-antunes. Aqui, alguns pontos levantados na conversa. MARCOS HERMANSON SÃO PAULO

O mercado e as novas formas de trabalho “Se a classe trabalhadora, os movimentos sindicais, sociais e os partidos de esquerda não desenharem um outro modo de vida, daqui a dez anos eu vou dizer "está muito pior". Com o mundo da internet, todos podem ter um tipo de trabalho onde não tem mais limite de jornada, não tem mais dia e noite." Reforma trabalhista “Dá para dizer que ela escravizou. Na escravidão, o senhor de escravo comprava o escra-

vo, na terceirização ele aluga. A contra Reforma Trabalhista do Temer [veio] para quebrar a espinha dorsal da CLT. A prevalência do negociado sobre o legislado. A ideia de flexibilidade da jornada e do salário. A piora das condições de salubridade. Até coisas perversas, como as trabalhadoras e os trabalhadores têm que comprar seus uniformes. O transporte antes era uma obrigação das empresas, não é mais. A restrição da Justiça do Trabalho." Desemprego e informalidade "Nós falamos até agora do trabalho precário, que tende a ser a regra, e a exceção é a plenitude dos direitos. O trabalho precário, informal, intermitente é a antessala do desemprego. O desemprego no Brasil hoje é de 13 milhões de pessoas. Mas o desemprego por desalento são mais 5 milhões. Sem falar nas múltiplas modalidades que oscilam entre a informalidade real e a informalidade legal. O resultado é que nós temos uma massa sobrante de trabalhadores e trabalhadoras impressionante." Desalento "O desalento não é o trabalhador ou a trabalhadora que não querem mais buscar emprego porque não precisam. Eles não buscam mais emprego porque

estão fazendo isso há um, dois anos. Para buscar emprego você tem que acordar cedo, ter dinheiro para condução, para alimentação. É muito custoso." Para superar as dificuldades “Nós temos três ferramentas: sindicatos, partidos e movimentos sociais. Algumas delas estão bem enferrujadas, mas eu não jogo nenhuma ferramenta fora se não tenho uma melhor. (...) Cada um desses três instrumentos precisa aprender um com o outro e se somar na sua força e na sua debilidade. (...) Segundo, retomar uma luta de base. Não adianta uma vanguarda achar que está certa e ir caminhando, porque às vezes ela se arrebenta, e quando está no sufoco ela chama a base… Terceiro, olhar o que é novo nas lutas sociais, as novas formas de luta (...). Por fim, na nossa ação todo o oxigênio não pode estar voltado para a institucionalidade. Qual é a prioridade? Garantir representação parlamentar ou organizar a massa da classe trabalhadora? Nós estamos em uma era das contrarrevoluções. Não será recuperando uma política de conciliação de classes que nós vamos sair desse ataque. O empresariado não quer mais conciliação, quer devastação. Eles querem nos devastar, nós temos que saber como devastá-los."

228 mil

trabalhadores da construção civil perderam seus empregos em 2019.

28,3 milhões

é a população subutilizada. São aqueles trabalhadores que estão sem emprego ou que trabalham menos do que poderiam. Inclue-se aqui também quem não procurou emprego, mas estava disponível para trabalhar ou que procurou emprego, mas não estava disponível para a vaga. É um número recorde na série histórica do IBGE.

65,7 milhões

estão fora da força de trabalho. Não estão trabalhando nem procurando emprego. É mais um recorde.

4,8 milhões

é soma de desalentados. São aquelas pessoas que simplesmente desistiram de procurar emprego. O número representa outro recorde da série histórica, significando 4,4% do contingente de trabalhadores. (Dados da Pnad – Contínua, divulgada pelo IBGE)

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6 TERRA VIDA EM RISCO |

PORTO ALEGRE, 03 A 16 DE MAIO DE 2019

Venenos agrícolas matam meio bilhão de abelhas nos últimos 3 meses Foto: Catiana de Medeiros

O problema não pode ser mais ignorado: a mortandade de abelhas no Brasil chega a 500 milhões apenas nos últimos 90 dias. MARCOS ANTONIO CORBARI

SEBERI (RS)

O

Pesquisadores têm conseguido identificar as substâncias e os primeiros movimentos junto à justiça estão encontrando amparo

à divisão de proteção Ambiental da Brigada Militar e órgãos reguladores.

Níveis de agrotóxicos são abusivos Responsável pelo laudo, o cientista PhD em Ecologia Antonio Libório Philomena é assertivo em suas conclusões: “O resultado das análises químicas efetuadas no mel, nas abelhas, nas crias e nos favos confirma a contaminação por níveis abusivos de agrotóxicos, sendo 2 inseticidas e 3 fungicidas”. Segundo o documento, foram encontradas nos favos com mel as substâncias Axoxistrobina, Diflubenzuron, Tebuconazol e Fipronil; nos favos com abelhas foram encontradas as substâncias Azoxistrobina e Aletrina; enquanto nas abelhas foram encontradas as substâncias Azoxistrobina, Diflubenzuron e Fipronil. Philomena alerta ainda que a contaminação é sistêmica e múltipla, não afetando apenas as abelhas e sim toda a vida que está estabelecida na área. “As abelhas e outros polinizadores servem como espécies indicadoras da saúde dos ecossistemas e consequentemente da saúde humana”, explicou, reafirmando que novas análises precisam ser feitas levando em conta a provável contaminação de outras formas de vida presentes na área, inclusive seres humanos.

Para saber mais

Simpósio Internacional debate a mortandade de abelhas

Foto: Marcos Antonio Corbari

s dados foram publicados pela Agência Pública de Jornalismo Investigativo, tendo como base estimativas de associações de apicultores, secretarias de agricultura e estudos realizados por universidades. A utilização indiscriminada de venenos agrícolas está colocando em risco a existência de abelhas e outros insetos polinizadores essenciais à manutenção da vida. Aliada à alta toxidade dos químicos, a ação humana irresponsável no manejo e aplicação inadequados agravam ainda mais o crime. Iniciativas vem se somando, pesquisadores têm conseguido identificar as substâncias e os primeiros movimentos junto à justiça estão finalmente encontrando amparo e atenção em relação ao problema. Um passo importante nessa luta partiu do pequeno município de Mata, 5 mil habitantes, localizado na região Central do RS. Ali, em outubro de 2018, mais de 20 milhões de abelhas foram mortas. “A abelha é vida, sem elas não somos nada”, afirma o representante dos apicultores e meliponicultores do município, Jaílson Mack Bressan, relembrando o importante papel que a abelha possui na polinização de inúmeras espécies vegetais e por consequência ao equilíbrio do ecossistema. Para o produtor, além dos prejuízos financeiros causados pelo extermínio das abelhas de mais de 480 colmeias e a contaminação por venenos agrícolas de uma área de aproximadamente 18 quilômetros quadrados, também se deve ter atenção para a possível contaminação dos solos, cursos de água e até mesmo pessoas. O fato novo registrado a partir de Mata é o resultado de laudos científicos que confirmam as substâncias responsáveis pelo extermínio das abelhas, materializando as denúncias protocoladas junto à Polícia Civil,

Entrega da representação conjunta ao Ministério Público Estadual (MPE/RS)

Durante o Simpósio Internacional Sobre Mortandade de Abelhas e Agrotóxicos, promovido pela APISBio (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres e da Biodiversidade) e pela APISMA (Associação dos Apicultores e Meliponicultures de Mata), mais de duas dezenas de entidades e organizações parceiras reuniram-se para debater o tema e apresentar uma representação conjunta ao Ministério Público Estadual (MPE/RS). Atualmente o assunto está sendo tratado junto ao Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (Caoma) do MPE/RS e providências são esperadas para breve. Ainda em maio o Ministério Público Federal também deverá ser acionado pelo grupo, através de uma nova

representação que busca a abertura de inquérito civil público e propõem ação civil pública e ação penal junto à toda cadeia de responsabilidade que envolve utilizadores, aplicadores, revendedores, distribuidores, importadores e fabricantes. “Acreditamos que a partir daqui vão se desencadear ações importantes, queremos levar esse debate a todo o país, articular a sociedade civil cumprindo o princípio da participação e da informação que constam na Constituição Federal”, expressou o jurista Renato Barcelos, um dos articuladores da representação, arrematando com uma frase de efeito que chama por mobilização: “Temos que enfrentar esse problema de forma conjunta, porque só assim ele poderá ser vencido!”.

O Coletivo Catarse produziu a vídeo-reportagem “Medo da Primavera – uma hecatombe em andamento”, disponível em seu canal no Youtube e demais redes sociais. No audiovisual estão depoimentos de camponeses vitimados pela aplicação criminosa de venenos agrícolas na região central do RS, entre os municípios de Mata e Santiago.


PORTO ALEGRE, 03 A 16 DE MAIO DE 2019

CULTURA & LAZER

HUMOR

HORÓSCOPO ÁRIES (21/3 A 20/4) Talvez você não tenha disponibilidade para fazer o que gosta devido às preocupações sociais. Este novo período histórico te pede para agir. Vênus em seu signo pode te ajudar a iniciar em novos grupos sociais.

TOURO (21/4 A 20/5) O Sol e a entrada de Mercúrio em teu signo te deixarão com mais segurança para agir. É tempo de esperança, e, como Agostinho nos alertou é preciso ter indignação e coragem para mudar o que deve ser mudado.

GÊMEOS (21/5 A 20/6) Estabilize sua realização para garantir que sua presença construa e mantenha relações que serão estratégicas para enfrentar este novo período. Há de refletir muito sobre suas ações, tenha foco e disciplina.

CÂNCER (21/6 A 22/7) "Escolhi a sombra desta árvore para repousar do muito que farei, enquanto esperarei por ti", é como se Paulo Freire falasse por você. Lembre-se sempre de colocar sua humanidade a disposição.

LEÃO (23/7 A 22/8) Vênus em Aries te deixa mais vivo. Mudanças podem vir de onde você menos espera, mas controle suas expectativas. É momento de arregaçar as mangas, você entende que há muito que fazer.

VIRGEM (23/8 A 22/9) Pode ser que você tenha que atravessar um antro estreito em sua vida pessoal, mas não é nada comparado aos desafios lançados neste novo período histórico. O horizonte é logo mais adiante, tenha paciência.

LIBRA (23/9 A 22/10) Sua compreensão sobre a realidade se intensificara se você tiver a sensibilidade de ler as entrelinhas. Porém, é necessário entender as diferenças entre o que é somente uma possibilidade do que é tendência.

ESCORPIÃO (23/10 A 21/11) Se a única saída possível é coletiva você deve apresentar boa vontade e disposição para a construção da nossa caminhada. Ouvir o outro é uma tarefa fundamental nestes tempos sombrios.

SAGITÁRIO (22/11 A 21/12) Lembre que a imaginação e a criatividade são potencializadas se você não ultrapassa os limites da razão. Potencializadas no sentido de ajudar a melhorar este mundo, caso contrário, não passarão de devaneios.

GRAFAR

CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) O amor não é somente um sentimento, é também uma virtude. Quem sabe você estará mais sensível sobre este assunto nos próximos períodos. Lembre que não basta somente sentir é necessário agir.

AQUÁRIO (21/1 A 19/2)

TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)

Olhe ao seu redor e ajude a melhorar o que precisa ser melhorado. Marte em Gêmeos te ajudara com novas ideias e disposição para a luta, não só por seus interesses, mas para as necessidades coletivas.

PEIXES (20/2 A 20/3) Não crie expectativas desleais e isto não significa não ter esperanças. Deixe tudo ir, que ir também é estar. A boa comunicação será uma arma poderosa para você atravessar este momento em sua vida. Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.

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8 ESPORTES FUTEBOL | Raio X da

PORTO ALEGRE, 03 A 16 DE MAIO DE 2019

desigualdade salarial no futebol brasileiro

Bahia é campeão de inclusão e democracia

Foto: Divulgação EC Bahia

Bahia lançou campanha "Não tem jogo sem demarcação"

Em abril, ação do Núcleo de Ações Afirmativas do clube defendeu a demarcação de terras indígenas.

Os dois finalistas do Brasileirão feminino, Corinthians e Rio Preto, não contam nem com elenco profissional

Esporte movimenta cifras milionárias, mas dinheiro fica na elite dos clubes. No futebol feminino, situação é ainda mais grave. MARCELO FERREIRA PORTO ALEGRE (RS)

É

grande a desigualdade econômica entre os 20 clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro, que iniciou em 27 de abril. A folha de pagamento mensal mais cara é a do Palmeiras, totalizando R$ 8,5 milhões. Supera a soma das seis menores, que fica nos R$ 7,4 milhões: CSA, Avaí, Ceará, Fortaleza, Chapecoense e Goiás. Entre os gaúchos, o Internacional tem a 5ª folha mais cara do futebol brasileiro, R$ 4,7 milhões. Já o Grêmio, com o 7º maior gasto, desembolsa mensalmente cerca de R$ 4,2 milhões. O levantamento foi divulgado em março, no blog do jornalista Mauro Cezar Pereira, comentarista da ESPN, extraído dos registros dos jogadores no sistema da CBF. 82% ganha salário mínimo Um dos sonhos do brasileiro para a riqueza é

ser jogador de futebol. Pudera, os quatro maiores salários pagos mensalmente no mundo são astronômicos: Neymar do PSG ganha o equivalente a R$ 13 milhões; Griezmann do Atlético de Madrid, R$ 13,9 milhões; Cristiano Ronaldo da Juventus, R$ 19,9 milhões; e Messi do Barcelona, R$ 35 milhões. Jogando no Brasil, o mais bem pago é Ricardo Goulart do Palmeiras, com R$ 3 milhões por mês. Mas a realidade da maioria é diferente. 82% dos jogadores brasileiros ganham apenas um salário mínimo. Apenas 0,83% dos atletas, os que jogam nas grandes equipes, ganham mais de R$ 50 mil. Os números foram divulgados em 2019 pela Pluri Consultoria. Por gênero, abismo é ainda maior As duas equipes finalistas do brasileirão feminino de 2018, Corinthians e Rio Preto, não contam nem com elenco profissional. As atletas corinthianas, campeãs, têm ajuda de custo do clube para saldar a folha de R$ 85 mil por mês. Já as vices dividem R$ 37 mil, pagos pela prefeitura de Rio Preto. Somando, o valor fica abai-

xo dos R$ 300 mil pagos à equipe com menor orçamento na Série A masculina, o CSA. Sem carteira assinada Marta, brasileira eleita seis vezes a melhor do mundo, joga no Orlando Pride, nos Estados Unidos, e recebe cerca de R$ 125 mil mensais. A mais bem paga do mundo é Ada Hegerberg, do Lyon, ganhando R$ 144 mil. Quase nada, comparando com os homens mais bem pagos, mas ainda assim muito distante da realidade de metade das jogadoras mundo afora, que nem mesmo recebem salários, segundo pesquisa do Sindicato Internacional de atletas do futebol (FIFPro). No Brasil, apenas 8 dos 52 times registrados no Campeonato Brasileiro Feminino têm a maioria das jogadoras registradas com carteira profissional: Inter e Santos na Série A e América-MG, Atlético-MG, Ceará, Chapecoense, Cruzeiro e Grêmio na Série B. Tentando mudar essa realidade, em 2019 passou a ser exigência aos classificados para a Série A do brasileirão, Libertadores e Sul-Americana que os clubes mantenham equipes femininas.

N

este “Abril Indígena”, o Bahia lançou nas suas redes o vídeo “Não tem jogo sem demarcação!”, em que 12 pataxós reivindicam a demarcação de terras. Nos jogos dos dias 17, contra o Londrina pela Copa do Brasil, e 21, contra Bahia de Feira pela final do Campeonato Baiano, a camisa tricolor estampou nomes de indígenas que marcaram a história e atuais lideranças. “As ações mostram um posicionamento bem claro, acolhendo todos os grupos. É um time do povo, um time da massa”, afirma Diones Anderson Bandeira, torcedor do tricolor baiano nascido em Santo Amaro, região metropolitana de Salvador, que vive há cerca de cinco anos em Porto Alegre. Na luta contra o preconceito, o clube nordestino lançou uma mascote mulher e negra em 2014. Quatro anos depois, inovou com seu Núcleo de Ações Afirmativas em 2018, batendo um bolão com ações nos estádios e meios de comunicação. Já realizou campanhas contra a intolerância religiosa, contra o racismo e genocídio da juventude negra, deu visibilidade à causa LGBT, entre outras. “A Bahia tem a maior concentração de negros do país. O Brasil é miscigenação, mas a sociedade precisa assumir seu racismo. Aqui no Sul é muito forte, a gente vê diariamente. Por isso é importante debater isso no futebol. Precisamos conversar, pensar, debater ideias”, avalia o torcedor.

TABELINHA GRENAL Internacional

Grêmio

4/5 – 19h – Brasileirão Palmeiras X Internacional

5/5 – 19h – Brasileirão Grêmio X Fluminense

7/5 – 21h30 – Libertadores River Plate X Internacional

8/5 – 19h15 – Libertadores Grêmio X Universidad Católica

12/5 – 16h – Brasileirão Internacional X Cruzeiro

11/5 – 19h – Brasileirão Corinthians X Grêmio

19/5 – 16h – Brasileirão Internacional X CSA

19/5 – 19h – Brasileirão Ceará SC X Grêmio


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