Jornal Brasil de Fato / RS - Número 15

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Entrevista O jornalista esportivo Juca Kfouri fala sobre política, religião, racismo, homofobia e, claro, sobre futebol. ESPORTE | PAG 8 RIO GRANDE DO SUL

21 de maio a 03 de junho de 2019 distribuição gratuita brasildefato.com.br

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Ano 1 | edição 15

Foto: Fabiana Reinholz

AS RUAS QUE DESAFIAM O GOVERNO

O megaprotesto do dia 15 deste mês (fotos) em defesa da educação e contra o desmonte da previdência foi o aviso do que vem pela frente: o Brasil está voltando às ruas. Desta vez, para enfrentar um governo que ofende os estudantes, despreza os professores, ataca o conhecimento, provoca o desemprego, rouba a aposentadoria e assalta os direitos de milhões de assalariados. No próximo dia 30, haverá nova manifestação nacional. Será mais um aquecimento para o grande momento: a Greve Geral de 14 de junho. Páginas 3, 4 e 5.


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OPINIÃO

PORTO ALEGRE, 21 DE MAIO A 03 DE JUNHO DE 2019

ARTIGO | Venezuela: a resistência de um povo em revolução

CHARGE | Santiago

Vanessa Aguiar Borges *

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As ruas estão falando

á muitos anos não se via um maio tão luminoso. Há quem lembre até o maio libertário de 1968. Seja como for, este mês se apresenta muito promissor com o raio que projeta sobre as trevas tão espessas de 2019. Depois do 1º de Maio, tivemos o megaprotesto do dia 15 e uma nova manifestação nacional está sendo chamada para a quinta-feira 30, o penúltimo dia do mês. Os atos em 200 cidades em defesa da educação e contra o desmonte da previdência mostraram o caminho, recuperando um velho lema dos anos de chumbo: “O povo na rua/ Enfrenta a ditadura”. Não lidamos aqui, ainda, com um regime ditatorial, mas com um cada vez mais claro estado de exceção que começou a expandir seus domínios logo após o golpe de 2016 e a ascensão do usurpador Michel Temer. E que, com o bolsonarismo, cada vez mais ameaça a frágil democracia que www.brasildefato.com.br redacaors@brasildefato.com.br (51) 99956.7811 (51) 3228-8107 /brasildefators @Brasil_de_Fato

ainda temos. A sucessão de mobilizações de maio impulsiona o grande acontecimento de junho: a Greve Geral do dia 14, resposta ao mais destrutivo, degradante e perverso governo da história recente da República. A greve, aliás, é nosso tema de capa nesta edição. Mais importante ainda é que as ruas, ao esbanjarem vigor, alegria e indignação contagiantes, ajudam a romper as bolhas virtuais em que muitos de nós estão enclausurados, trazendo-nos para a vida real. Suas palavras de ordem, cartazes, faixas e refrãos podem também funcionar como um estalar de dedos para despertar da indiferença ou do ceticismo muita gente, hoje decepcionada, que votou ludibriada por mentiras e alimentada por um ódio cego produzido nos subterrâneos da internet. Chegou a vez das ruas falarem. E, quando elas falam, a turma do poder teme e treme.

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CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Milton Viário, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Maister Silva, Fernando Maia, Neide Zanon, Edison Terterola, Mariane Quadros, Carlos Alberto Alves, Daniel Damiani, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Marcelo Ferreira, Eduarda Schein, Maiara Marinho, Katia Marko, Marcos Corbari, Catiana de Medeiros e Ayrton Centeno | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares

Aqueles que atacam a Venezuela por meio destas ideias ou tem um profundo desconhecimento do que se passa naquele país, ou comungam com a estratégia dos Estados Unidos de se apropriarem das reservas de petróleo venezuelanas.

A POIO

EDITORIAL |

urante três anos, de 2013 até 2016, fiz parte da Brigada do MST na Venezuela. Hoje, faço mestrado na UNESP no programa TerritoriAL, onde pesquiso o papel das comunas rurais na Venezuela. Então, como vivenciei e estudo o tema, fico impressionada com o que ouço, vejo e leio no Brasil. Todos os dias, nos principais noticiários brasileiros, nos deparamos com ataques constantes a uma pseudo ditadura sanguinária comandada por um homem mau, Nicolás Maduro. Aqueles que atacam a Venezuela por meio destas ideias ou tem um profundo desconhecimento do que se passa naquele país, ou comungam com a estratégia dos Estados Unidos de se apropriarem das reservas de petróleo venezuelanas, custe o que custar. Um governo autoritário é caracterizado por concentração de poder, numa pessoa ou num grupo, uso de força militar, política, ideológica e econômica para manter os cidadãos reféns de interesses de uma pequena parte da população. E, definitivamente, este não é o caso da Venezuela. A Revolução Bolivariana, desde as eleições de Hugo Chávez em 1998 busca voltar os interesses da nação para o bem estar de sua população. E isso se dá não somente por meio da distribuição da renda petroleira, mas também pela possibilidade da participação política e construção de poder popular.

Desta forma, a afirmação do caráter democrático da Revolução não está somente nas 25 eleições que aconteceram no país nos últimos 20 anos, mas pela constituição de espaços de participação nos processos de tomada de decisão. A sociedade civil venezuelana é forte a atuante, com a participação popular no planejamento e execução de políticas públicas bem como na constituição e desenvolvimento de comunas e dos conselhos comunais como poder territorial. Com todos os ataques que o povo venezuelano vem sofrendo, guerra econômica, bloqueio econômico, sabotagens, tentativas de cooptação das Forças Armadas e golpes de Estado, desestabilizações e ingerências estrangeiras, ele continua protagonista de seu processo. As políticas públicas e de assistência social nas áreas de saúde, alimentação e habitação continuam prioritárias, com a crescente participação popular na sua execução. Um importante exemplo são os CLAP’s (Comitê Local de Abastecimento e Produção), que tem sido uma ferramenta fundamental para a resistência. Os comitês são organizados e conduzidos pela própria comunidade com aporte estatal, fomentando a produção local de alimentos e lutando contra o desabastecimento forçado de forma coletiva e solidária. Nada mais oportunista e hipócrita: chamar de “ditadura” um governo com participação popular em busca de soberania e auto determinação. É uma tentativa de justificar o assalto as suas riquezas naturais por parte de uma superpotência que dissemina o ódio e a guerra pelo planeta em busca da satisfação de seus mesquinhos interesses. Na Venezuela, o povo resiste. Fortalece seus instrumentos de participação política e toma as ruas, para mostrar que ali existe um povo em revolução, que defenderá de forma ampla e coletiva sua liberdade e soberania.

(*) Pesquisadora e militante do MST.


GERAL

PORTO ALEGRE, 21 DE MAIO A 03 DE JUNHO DE 2019

Todas as centrais sindicais do país unidas pela primeira vez

GREVE GERAL |

Foto: Marcelo Ferreira

A Greve Geral que vai parar o Brasil no dia 14 de junho é um esforço unitário para barrar a reforma da Previdência do governo Bolsonaro (PSL) e interromper a sequência de projetos que estão acabando com os direitos sociais. MARCELO FERREIRA

PORTO ALEGRE (RS)

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Foto: Katia Marko

erá a primeira vez em que todas as centrais sindicais CUT, CTB, CSP-Conlutas, CGTB, CSB, Força Sindical, Intersindical, Nova Central e UGT -, além das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e dos partidos políticos, deixarão de lado suas diferenças para lutarem juntas. “Precisamos unificar o campo mais amplo possível, todos os setores que se colocam contra esse projeto ultraneoliberal”, sinaliza o presidente da CTB/ RS, Guiomar Vidor. “A CPI do Senado comprovou que, quando tivemos crescimento econômico, a Previdência foi superavitária”, diz Vidor. Para ele, não existe déficit, mas sim uma campanha de mentiras: “Primeiro, tinha que aprovar a PEC 95 e congelar investimentos para o Brasil voltar a crescer, e o que veio foi a estagnação econômica. Depois, flexibilizar a CLT para ge-

Milhares de estudantes e trabalhadores saíram às ruas no dia 15 de Maio, contra os cortes na Educação e a reforma da Previdência

rar empregos, e o desemprego só aumenta. Agora, dizem que tem que aprovar a reforma senão não tem crescimento”. Rompendo com a polarização O presidente da CGTB no RS, Nelcir André Varnier, considera a unidade fundamental para romper com a polaridade que impede o trabalhador que apostou nesse governo de perceber que as medidas são contra ele próprio. “Muitos já estão percebendo que os projetos nos levam a um país de miseráveis, agravando a insegurança e violência”, argumenta. “A greve - explica busca dialogar, sem partidarizar, para romper essa

polarização que faz com que as pessoas apoiem medidas danosas só para ver seu lado vencer”. “A previdência não é despesa, é investimento. É um mecanismo de distribuição de riqueza, gera consumo e mercado”, afirma Varnier. “Pelotas e Porto Alegre recebem mais recursos do INSS do que o fundo de participação dos municípios do ICMS”, exemplifica, entendendo que a reforma afeta toda a sociedade brasileira, pois “concentra ainda mais a riqueza nas mãos de poucos”. Bolsonaro faz com a aposentadoria o que Collor fez com a poupança Na opinião do presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, as manifestações do 1º de Maio foram históricas, resultado da “angústia pelo eminente fim da aposentadoria”. Explica que as centrais estão com uma agen-

da intensiva nos locais de trabalho até o 14 de junho, para mostrar aos trabalhadores que eles “estão sendo enrolados com essa reforma que não combate privilégios, tanto que juízes, militares e políticos estão de fora”. Nespolo também critica o sistema de capitalização, que só beneficia o setor financeiro. Recorda que países que o adotaram hoje entregam pensões miseráveis e estão voltando atrás, caso do Chile. “Neste modelo, só o trabalhador contribui. Com empregos precários, muitos não vão alcançar o tempo mínimo de 20 anos e terão seu fundo retido. Se Collor confiscou a poupança nos anos 90, agora Bolsonaro está confiscando a aposentadoria”, denuncia. Pensões reduzidas pela metade Na avaliação do dirigente estadual da CSP-Conlutas, Érico Correa, privatizar a aposentadoria e deixá-la na mão dos banqueiros coloca em risco a maior conquista social do povo brasileiro e traz inúmeras perdas diretas: “Reduz a pensão em 50%, dificulta a aposentadoria por invalidez, corta a acumulação de aposentadoria e pensão, aumenta o tempo de contribuição e as exigências para a aposentadoria”. Correa aponta que o governo Bolsonaro tem di-

ficultado a existência dos sindicatos para não haver capacidade de resistência, mas as categorias estão trabalhando para chegar na massa trabalhadora. “No governo Temer, em 2017, derrotamos a reforma da previdência com a greve do dia 28 de abril. A única forma de vencer é com milhões de pessoas nas ruas. A greve geral tem que cumprir esse papel”, avalia. Para as mulheres será ainda pior Além de considerar o projeto subserviente ao setor financeiro internacional, a dirigente da Intersindical, Berna Menezes, recorda que as mulheres serão mais penalizadas na reforma, com o aumento da idade mínima maior em relação aos homens. “Com uma série de questões fisiológicas somadas a jornadas triplas, trabalho não pago, diminuir essa diferença é um horror”, protesta. A greve geral é decisiva, na opinião da dirigente, e a reforma é “a ponta do iceberg”. Nota que também existe a perseguição aos sindicatos e a criminalização das lutas sociais. “Temos que jogar todas as fichas. Agora é unidade para enfrentar esse governo que não só vai quebrar o país e sua população, mas acabar com a natureza e com os movimentos sociais”, conclui.

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GERAL

PORTO ALEGRE, 21 DE MAIO A 03 DE JUNHO DE 2019

Uma comparação entre a Greve de 2017 e os atos de 15 de maio QUANDO A MÍDIA MUDA O TOM | A fragilidade do governo Bolsonaro foi endossada pela cobertura da chamada grande imprensa (grupo de veículos com maior repercussão no país) dos atos do último dia 15, uma reação ao corte anunciado na Educação.

Foto: Fabiana Reinholz

EDUARDA SCHEIN MAIARA MARINHO

PELOTAS (RS)

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inda que o antipetismo insuflado pelos noticiários tenha sido parte do berço do bolsonarismo e, portanto, beneficiado e fortalecido o presidente desde que este era candidato, a ênfase em relação ao primeiro grande ato deu ares de legitimação ao protesto por parte da mídia. Mesmo com uma agenda que tem a simpatia dos grandes grupos de comunicação e capitaneada pela reforma da previdência, a gestão Bolsonaro ajudou a provocar um viés bem diferente do adotado pelos principais jornais do país sobre a Greve Geral de 2017, na gestão Temer, cuja agenda também era defendida por esses mesmos veículos, tais como Estadão, Folha de São Paulo e O Globo. São, afinal, empresas, e trabalham dentro desta lógica. Jornalistas não são uma classe à parte da população. Uma comparação das matérias feitas à época de Temer com as referentes aos protestos contra Bolsonaro revela uma postura muito mais crítica do que a adotada na greve de 2017. Por trás de am-

Os atos do 15 de Maio contaram com uma grande participação dos jovens, protagonistas na defesa da Educação

bas narrativas, no entanto, o ponto de convergência parece ser a reforma da previdência, que não evoluiu na gestão do emedebista.

Mais destaque às reivindicações Diferentemente de dois anos atrás, quando o destaque das manchetes estava no que chamou de depredações e tumultos, bem como o impacto nos transportes, desta vez os manifestantes e as reivindicações em si tiveram mais destaque. Uma demonstração de que a grande imprensa endossa o coro sobre o mau começo de Bolsonaro, o que empaca o andamento da reforma pretendida. É justamente a análise sob esse aspecto - o da previdência - que parece diferenciar

o enfoque. Antes, contra Temer, o padrão narrativo com foco em tumultos, vandalismo e “prejuízos” a quem desejava transitar parece ter servido como um meio de deslegitimar as manifestações, já que essas tinham como meta travar a reforma. Através de palavras, manchetes e imagens selecionadas, o viés direcionado naquele ano associou a greve à violência. Ou seja, usar exceções para classificar o todo.

“Patrões não apoiam trabalhadores” Para a presidenta da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Maria José Braga, a estratégia editorial segue um propósito: “Não há um interesse direto das empresas de comunicação porque as reivindicações das

categorias para as quais ainda há cobertura midiática não impactariam para elas. Trata-se, portanto, de uma postura de classe: patrões não apoiam trabalhadores”. Agora, o corte na Educação, que motivou os atos, reacendeu uma efervescência popular, o que, numa análi-

se retroativa, sempre interfere no andamento de negociações e da chamada governabilidade, uma vez que protestos são manifestações coletivas e, portanto, têm influência em popularidade e estabilidade. O oposto destas, por regra, gera imobilidade na agenda.

Dez greves que sa 1962

Se não fosse a greve geral de julho de 1962 não haveria 13º Salário. Até então, o 13º não era uma obrigação legal. Sua obrigatoriedade veio depois da paralisação que afetou principalmente os setores de ferrovias, bancos e portos, além de refinarias e distribuidoras de combustível. Atingiu capitais, entre elas São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Salvador, e várias cidades médias. Porém, exibiu sua maior força no Rio, parando praticamente toda a cidade. Houve confrontos com a polícia e mortes.

1917

Primeira da história brasileira, a greve geral de 1917 reivindica aumento de salários, jornada de oito horas e melhores condições de trabalho. Eclode após a morte do sapateiro José Martinez, assassinado em 9 de julho daquele ano pela polícia durante uma carga de cavalaria. Seus líderes vieram do operariado anarquista e socialista. A greve, que durou 30 dias e reuniu 70 mil trabalhadores, foi marcada pela forte presença das mulheres operárias.

1968

Sob a ditadur talúrgicos de de Osasco (SP) cruzam o res salários e condições trabalho. São reprimidos lideranças presas e levad


GERAL

PORTO ALEGRE, 21 DE MAIO A 03 DE JUNHO DE 2019

“Precisamos é de uma reforma tributária e não da Previdência” Em entrevista ao Brasil de Fato, o sociólogo e diretor técnico do Dieese Clemente Ganz Lúcio falou sobre o que está em jogo com a nova Previdência proposta pelo governo Bolsonaro. KATIA MARKO PORTO ALEGRE

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ara Clemente Ganz Lúcio, o governo deveria priorizar o equilíbrio dos gastos públicos por meio de uma reforma tributária que taxasse os mais ricos e não retirando dos mais pobres, o que vai acontecer se for aprovada a reforma da Previdência. “Essa reforma faz todo o sentido para esse governo. O que eles dizem? ‘Nós vamos economizar cerca de R$ 1,2 trilhão no Orçamento da União, em 10 anos, R$ 4,5 trilhões em 20 anos. O que vamos fazer com esse dinheiro? Por um lado, equilibrar o orçamento, por outro, vai sobrar um recurso para o Estado investir e não haverá pressão para aumentar tributo. Essa coisa que vocês querem fazer de Estado de bem-estar social custa e custa crescentemente. Não venham nos enganar, eles dizem, que vocês não vão ter que fazer uma reforma tributária para cobrar imposto e de quem? Meu? Não!’ Então, o que eles estão dizendo é: chega de pagar impos-

Para Clemente Ganz, objetivo é entregar o Estado para quem quer comprar

to, de gastar em políticas sociais, virem-se! O Estado vai investir com o que economiza. E nós vamos retomar o crescimento. Eles têm razão? Tem. Isso é lógico.” Mas, como explica Clemente, numa sociedade desigual como a nossa, onde as transferências previdenciárias giram de 30% para 80% na proteção dos idosos, isso significa que essa renda é estruturante da demanda agregada, não é uma renda marginal, é estruturante. Porque essas pessoas passam a sustentar o padrão de vida dos filhos e dos netos nas cidades. Então ao mexer nisso você mexe na demanda das famílias. E é isso que eles não estão contando. “Nós não somos uma socieda-

acudiram o país

de japonesa, onde o padrão de vida está lá em cima e o governo japonês está dizendo: Nesta sociedade eu tenho que diminuir o tempo de contribuição exigido para um japonês se aposentar porque ele tem que ter a garantia de chegar aos 65 anos e se aposentar de qualquer jeito. O Estado japonês quer que ele se aposente de qualquer jeito, porque quer entregar renda garantida pra ele continuar a consumir, porque ele vai viver mais 20 ou 30 anos. O que eles estão dizendo é: eu preciso garantir a demanda”, salienta. “Projeto do Guedes é vender o Brasil” Já no Brasil o cálculo é diferente,

avalia o sociólogo, nós vamos economizar, os ricos continuam não pagando imposto, e vamos investir na construção de estradas, portos, etc. Isso gera um pouco de emprego. Sim, mas isso que estamos economizando vai atacar a demanda da sociedade. As famílias vão ter menos renda e vão consumir menos. Porque o sistema produtivo vai investir se eu tenho menos renda? Essa equação é que não fecha. “O que o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz? ‘Dane-se! O que eu tenho que fazer? Entregar o Estado equilibrado e vender a quem quer comprar. Esse é meu negócio. Feito isso, posso embora. Cumpri a minha missão’. Hoje não sobra dinheiro pra fazer investimento e políticas sociais. Então precisamos fazer uma reforma tributária. E quem vai pagar imposto? Quem hoje não paga. Quem está dizendo: eu não quero pagar. Os ricos. Essa é a disputa que está em curso”, conclui Clemente. Na sua opinião, o coração da PEC 6/2019 é retirar da Constituição Federal as regras ali contidas sobre Seguridade e Previdência, transferindo-as para a legislação ordinária e delegando ao poder Executivo, no futuro, a elaboração de vastíssima quantidade de novas regras. Essa mudança constitucional facilita o trâmite e a aprovação no Congresso de outras mudanças, que poderão vir em breve. “Como excluir dos compromissos constitucionais uma questão que consome quase metade do orçamento público e afeta a vida de toda a população?”, pergunta Clemente.

Há registros de greves desde o século 19. Foram ações de homens e mulheres escravizados que paralisaram suas atividades, tanto em fazendas como nas primeiras fábricas, tais como no arsenal do Rio de Janeiro. No entanto, pouco se sabe delas já que o olhar dos historiadores se concentrou nas instituições da classe trabalhadora do século 20, a era das grandes greves.

2017

1986 1979

Mais de cem mil trabalhadores, sobretudo metalúrgicos, da região do ABC paulista param em 13 de março, véspera da posse do último ditador de 1964, João Figueiredo. Montadoras como Ford, Volkswagem, Mercedes-Benz, Chrysler têm sua atividade interrompida. A greve marca o surgimento de Lula como figura nacional. A ditadura reage com intervenção no sindicato e as lideranças, com o apoio da Igreja Católica, passam a se reunir na matriz de São Bernardo. Um acordo com os patrões sairia em maio.

Quando o Plano Cruzado começa a ir para o ralo, bancários, metroviários, professores, metalúrgicos, rodoviários, professores e outras categorias suspendem o trabalho. Naquele dezembro de 1986, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) estimou em 15 milhões o número de trabalhadores parados.

1991

No governo Collor, a greve de 22 e 23 de maio atinge mais de 19 milhões de trabalhadores. Foi convocada pela garantia de emprego, reposição de perdas, defesa dos serviços públicos e em protesto ao aumento dos aluguéis e das prestações da casa própria.

1989

ra (1964/1985), mee Contagem (MG) e os braços por melhomais humanas de s com violência e suas das à polícia política.

1980

Nova greve irrompe em 1º de abril, também tendo o ABC como epicentro. Cento e quarenta mil metalúrgicos paralisam por salários. Novamente, a ditadura intervém e Lula é preso por 31 dias. A greve termina em 11 de maio.

CUT e CGT convocam greve em março de 1989. Com arrocho salarial e inflação galopante, 12 capitais param totalmente, entre elas Porto Alegre. Outras 14 registram paralisação parcial. Depois do primeiro dia de paralisação, o presidente José Sarney abriu negociações com os grevistas.

1996

Mais de 40 milhões de trabalhadores (as) paralisam suas atividades em 28 de abril de 2017. São os números da organização. A greve foi convocada pelo Fórum das Centrais Sindicais, Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo contra o assalto aos direitos trabalhistas e a reforma da previdência do governo Michel Temer.

Deflagrada para combater a política econômica do governo FHC, a greve de junho de 1996 mobiliza 12 milhões de trabalhadores, segundo seus organizadores.

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6 TERRA RESISTÊNCIA | “A gente está na luta pelo país que PORTO ALEGRE, 21 DE MAIO A 03 DE JUNHO DE 2019

começamos a construir e que estão destruindo”

Fotos: Mateus Menezes

As palavras de Paulo Facione, pequeno agricultor de Esperança do Sul, resumem o sentimento dos camponeses e camponesas do RS quanto à necessidade de somar-se à Greve Geral do dia 14 de junho. MARCOS ANTONIO CORBARI CATIANA DE MEDEIROS

HULHA NEGRA (RS)

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Trabalhadores rurais dos quatro cantos do RS estão comprometidos com o movimento em defesa da previdência e da educação pública, mas com a atenção voltada também aos temas do emprego, da saúde, da violência, da cultura, do preconceito, da intolerância. “Veja bem, nosso país viveu um tempo de bonança, de crescimento, de harmonia, especialmente nos anos do presidente Lula, e hoje o que vemos aí é o caos, estamos andando para trás, só se fala em armas, em perseguição, em tomar direitos dos trabalhadores”, analisa o camponês Luís Paulo Facione, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em Esperança do Sul, na Região Celeiro. Quanto ao engajamento na Greve Geral chamada pelas centrais e federações sindicais, além das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo para o dia 14 de Junho, ele não titubeia: “Sempre que o povo do campo foi chamado à dar sua parcela de contribuição para construir um Brasil com mais justiça, com mais dignidade e com igualdade para todos, estivemos prontos e dispostos a colocar o pé na estrada e fazer a nossa parte, então é evidente que agora estaremos juntos de novo nessa luta”.

“Precisamos estar juntos” O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Isaías Antonio Vedovatto, as-

Jovens camponeses já participaram da Greve Nacional da Educação no dia 15 de maio

sentado em Pontão, na Fazenda Anoni, região do Planalto Médio, também destaca a participação dos trabalhadores do campo na greve. “Nós temos essa consciência de que a mobilização em classes isoladas não vai alterar a correlação de forças ou alcançar objetivos para ninguém nessa conjuntura em que vivemos. Precisamos estar juntos, somando com as categorias urbanas como fizemos em outros momentos históricos, não se trata de apenas

‘parar’, mas parar ‘em movimento’, permanecendo em luta, construindo unidade”, explica. Silvia Reis Marques, assentada da Reforma Agrária em Bossoroca e dirigente nacional do MST reforça esse chamado, relembrando o envolvimento dos movimentos do campo historicamente em todas as lutas, seja pela conquista de direitos quanto pela defesa destes nos momentos em que são atacados. “Ao longo dos 35 anos de luta e de resistência do Movi-

mento Sem Terra, além de fazer a luta pela terra e pela reforma agrária nós nos somamos em todas as lutas do conjunto da classe”, expressou. Para ela, a participação do povo do campo nas lutas populares em unidade com o trabalhador e a trabalhadora urbanos se fortalece nas greves gerais e amplia a pauta da terra, chegando a setores essenciais como a educação, a saúde, a segurança, a habitação como direitos fundamentais da classe trabalhadora.

“Isolados não vamos avançar em nenhuma pauta” Os camponeses e camponesas do RS já estiveram somados às manifestações dos estudantes em meados de maio, quando a sociedade se manifestou contra os cortes do Governo Federal e os objetivos claros de Bolsonaro em fragilizar a educação pública federal. Agora seguem articulando a participação conjunta com os trabalhadores e trabalhadoras urbanos na Greve Geral prevista

Historicamente os camponeses marcam presença nas lutas unitárias da classe trabalhadora

para o dia 14 de junho. Questionados a respeito de ações promovidas a partir dos próprios movimentos, tanto o MPA quanto o MST através de suas coordenações regionais expressaram que não deverão protagonizar atos isolados e sim integrar junto com forças sindicais, demais movimentos sociais e populares, bem como estudantes e demais categorias profissionais, compondo conjuntamente a Greve Geral do dia 14 de junho, convidando todos os seus militantes a estarem presentes nos atos regionais mais próximos de sua base. “Nós estamos sentindo no campo os efeitos dos retrocessos, a violência que está batendo na nossa porta, nossos filhos que estão sendo privados do direito de receber ensino público e de qualidade, a intolerância religiosa, a violência com os povos tradicionais, o preconceito... temos a compreensão de que não é só a previdência social pública que está em perigo - embora essa seja nossa principal bandeira de luta conjunta -, mas o projeto de país e a própria democracia

que viemos construindo à custa de muita luta desde a redemocratização e que hoje os que estão à frente do governo visivelmente querem destruir”, alinhava Facione. “Entendemos que o momento é de construir uma aliança ampla no processo de luta social, construir unidade, compreender que isolados não vamos avançar em nenhuma pauta, ter clareza de convocar a todos e fazer com que a Greve Geral se confirme como a grande possibilidade de dar um passo decisivo no conjunto das categorias”, arrematou Vedovatto. Silvia arremata a conversa reafirmando o compromisso histórico dos movimentos sociais ligados ao campo com o conjunto da classe trabalhadora: “A gente precisa se fortalecer e se unir para conquistar e defender os nossos direitos, para nós camponesas e camponeses essa postura é decisiva, estaremos novamente juntos nas mesmas trincheiras de luta, seja na greve geral, seja nas marchas, nas ocupações e assim conquistar um projeto justo para o nosso país”.


PORTO ALEGRE, 21 DE MAIO A 03 DE JUNHO DE 2019

CULTURA & LAZER

HUMOR

HORÓSCOPO ÁRIES (21/3 A 20/4) Quando atravessamos por dilemas difíceis de resolver tudo o que temos a fazer é pedir ajuda. Outros olhares aumentam nossa amplitude e podem nos mostrar o que sempre esteve na frente de nosso nariz.

TOURO (21/4 A 20/5) Este é um momento de você firmar sua identidade. Lembre-se que muitas pessoas tombaram para que você pudesse ter liberdade, não deixe ser em vão. Mais do que nunca é necessário ter convicção.

GÊMEOS (21/5 A 20/6) Com o Sol em seu signo você tende a irradiar luz. Aproveite, pois é um momento em que podes trazer muita lucidez e esclarecimentos para os grupos sociais nos quais você integra. Empodere-se.

CÂNCER (21/6 A 22/7) Há um tempo para tudo. Tenha paciência para lidar com as diferentes noções de tempo e, principalmente, para não forçar o destino. Uma vez que o destino deve ser uma construção coletiva.

LEÃO (23/7 A 22/8) A vida é uma valsa. É preciso dar alguns passos à frente, para o lado e até mesmo para trás. Mas o importante é não perder o ritmo e o charme. Principalmente se não queremos dançar sozinhos.

VIRGEM (23/8 A 22/9) Às vezes, é difícil trazer um método pragmático para todas as dimensões da nossa vida. Tenha equilíbrio e paciência para lidar com questões que não dependem somente da realidade para entende-las.

LIBRA (23/9 A 22/10) O momento é de bom senso. Para isto, procure ser o mais analítico possível. Afinal, não é momento de encontrar respostas, mas, sim, de saber quais são as perguntas certas a se fazer.

ESCORPIÃO (23/10 A 21/11) Sua oratória e retórica estarão em evidência. Fale sobre as irresponsabilidades do atual governo e os perigos que a classe trabalhadora corre. Fale da importância do povo organizado. Fale.

SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)

GRAFAR

"Os fatos são teimosos" como dizia o camarada Lênin. Apesar de nosso anseio em sonhar um novo mundo, é preciso imagina-lo a partir da realidade concreta. Sonhar e agir.

CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) No mundo ideal todos seriam como você? Às vezes, é preciso aceitar as diferenças ou dificuldades que os outros têm nas compreensões sobre a vida, o trabalho e a luta.

AQUÁRIO (21/1 A 19/2)

TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)

A inteligência humana teve sempre um grande parâmetro: o poder de adaptação. Reflita sobre onde e como você deve se adaptar as circunstâncias, para assim transforma-las.

PEIXES (20/2 A 20/3) Tudo é divino maravilhoso, mas é preciso estar atento e forte. É um momento de assumir responsabilidades e agir com cautela e minúcia para que as mudanças necessárias aconteçam. Mateus Além Pisciano, jornalista, comunicador popular e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Tem mais facilidade em guardar o mapa astral do que o nome das pessoas.

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ESPORTES ENTREVISTA |

PORTO ALEGRE, 21 DE MAIO A 03 DE JUNHO DE 2019

resultadista” O paulistano Juca Kfouri é um dos mais conhecidos jornalistas esportivos do país, embora sua atividade no ofício transcenda as questões da bola. Ex-diretor de redação das revistas Placar e Playboy, trabalhou em rádio, jornal e TV. Na televisão, passou por Globo, Tupi, Record, Cultura, Rede TV, CNT e SBT. Hoje, atua na TVT e na ESPN. E alimenta diariamente com suas opiniões incisivas o Blog do Juca (blogdojuca.uol. com.br). Aqui, nessa conversa por email, ele fala de futebol, é claro, mas também de política - muito jovem, militou na Ação Libertadora Nacional, a ALN de Carlos Marighella - da mídia, de racismo, de religião e das trevas atuais, mas também de esperança. AYRTON CENTENO PORTO ALEGRE (RS)

BdF RS - Desde 1930, ao longo das edições da Copa do Mundo, europeus e sul-americanos se alternaram em conquistas. Porém, agora, estamos vivendo o mais extenso período em que apenas um continente vence: as últimas quatro conquistas são europeias. Pior ainda: em três das decisões (2016, 2010 e 2018) os dois finalistas foram europeus. Apenas o poder econômico explica isso? JK - O poder econômico e a globalização que permitiu a todos verem os quintais de todos. Além do mais, o modelo de gestão empresarial do futebol europeu transformou o futebol sul-americano em mero exportador de pé de obra, em vendedor de commodities, como nos tempos coloniais. BdF RS - Existe solução para o futebol brasileiro com a CBF sendo o que sempre foi e continua sendo? Ou seja, uma instituição autoritária, fechada e suspeita? JK - Existe desde que os clubes assumam o poder que têm. Como nada indica que isso venha a acontecer, o panorama é sombrio. BdF RS - O racismo continua forte no universo do esporte, sobretudo nas torcidas. Recentemente, o ex-árbitro gaúcho Márcio Chagas relatou com detalhes a per-

Não esquecer o afeto na hora da política

“O futebol hoje é tosco, primitivo, Foto: Nelson Antoine/Folhapress

Juca (segundo da dir. pra esq.), ao lado do Dr. Sócrates, em um dos comícios da Campanha Diretas Já

Religião é para os templos, não para os estádios seguição racial que sofre, inclusive hoje como comentarista de arbitragem. A que você atribui essa mácula? JK - Ao racismo que vigora no Brasil desde sempre, à escravidão até hoje mal resolvida e à hipocrisia nacional. BdF RS - Você acha que ainda verá jogadores de futebol assumindo explicitamente a condição de homossexual? JK - Duvido. E nem exijo heroísmo com o pescoço alheio... BdF RS - A forte presença do evangelismo pentecostal entre os atletas é algo que, a seu ver, é positivo para o esporte? Ou não? JK - Religião é coisa para ser tratada em seus templos, com todo respeito. Trazê-la para o estádio é uma ofensa aos que não creem e um acinte ao goleiro que sofre o gol e vê o artilheiro agradecendo ao seu deus. O goleiro não tem deus? BdF RS - Você olha para a Copa dos Campeões da Europa ou a Premier League e compara com o Brasileirão, a impressão é que, no limite, trata-se aqui de outro esporte, mais tosco e primitivo. Qual é o seu sentimento diante disso? JK - Exatamente este: o futebol que já foi chamado de "beautiful game" é hoje tosco, primitivo, resultadista. BdF RS - Você lançou seu livro Confesso que Perdi onde, entre tantas histórias, relembra seu tempo de Ação Libertadora Nacional (ALN) nos embates contra a ditadura. Tem gente achando que agora existe mais ódio contra o dissidente ou o diferente do que naquela época. E você? JK - É, o clima de intolerância ago-

ra é maior, facilitado pelas redes antissociais. BdF RS - Você pretende escrever um segundo volume de suas memórias? Em caso positivo, o que contará? JK - Não. O que escrevi já foi arrancado à fórceps. BdF RS - E o Brasil de 2019? Quando olha para o seu país, o que você vê? JK - Vejo a necessidade de resistir, de ninguém soltar a mão de ninguém, de não esquecer o afeto na hora da política e de não desesperar, embora motivos não faltem diante do obscurantismo, da idiotia surreal que nos assola. BdF RS - Qual a culpa no cartório que a chamada grande imprensa tem nisso? JK - Participou do golpe do impeachment e acreditou que controlaria o maluco. Começa a se dar conta que errou. É tarde. BdF RS - Há quem entenda que Bolsonaro prestou um favor à visão real do Brasil. Suas declarações, seus gestos, seus votos, e seu governo revelaram um país que não

A grande imprensa errou, mas agora é tarde

TABELINHA GRENAL

Em quase cinquenta anos de atuação como jornalista, Juca Kfouri acompanhou de perto, como observador ou participante (e muitas vezes as duas coisas), experiências fundamentais do mundo da política, da cultura e do esporte. O saldo é uma inescapável sensação de derrota, compartilhada nas memórias que o autor registra em "Confesso que perdi".

se queria ver: racista, homofóbico, misógino, xenófobo e fascistóide. Você concorda? JK - Em parte. Mas acredito mais em que muita gente votou por ignorância, pela força do poder econômico, por falta de opção. Lembremos que Lula liderava as pesquisas, ou seja, muito voto que seria dele foi para o maluco. De certa forma, o maluco é um Lula com sinal trocado. BdF RS - Bolsonaro, Damares, Araújo, Mourão, Guedes, Olavo de Carvalho, Ônix... Você ainda tem alguma esperança? JK - Nessa gente, não! Mas no povo brasileiro, sim!

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