Jornal Brasil de Fato / RS - Número 25

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Encontro reunirá milhares de mulheres. PÁGINA 6

Diretoras, roteiristas e produtoras se destacam nas telas PÁGINA 8 RIO GRANDE DO SUL

04 a 17 de março de 2020 distribuição gratuita brasildefato.com.br

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Ano 2 | edição 25

Quem ordenou seu assassinato? Dois anos depois não há resposta. Mas a cada dia nascem novas Marielles. É o que as multidões deste março mostrarão ao Brasil nas Jornadas do 8 de Março - Dia Internacional da Mulher. Páginas 3, 4 e 5

Arte: Gabi Lucena

MARIELLE SOMOS NÓS!


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OPINIÃO

PORTO ALEGRE, 04 A 17 DE MARÇO DE 2020

8M | As mulheres

CHARGE | Santiago

do mundo contra a barbárie capitalista

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Berna Menezes (*)

Marielles

As novas

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arço é o mês que nos levou Marielle e nos trouxe a ditadura. São, na verdade, dois marços, divididos por mais de meio século, nenhum deles de boa lembrança. Ambos carregam também outra marca, a da impunidade. A dos torturadores, estupradores e assassinos que fizeram o serviço mais sujo nos porões dos quartéis. E a dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes. Os primeiros anistiados pelo próprio regime. Os outros, por negligência ou conivência, protegidos pelo aparato que deveria puní-los. Este março de 2020 promete outra vergonha. Chamados por um general de pijama e um presidente caricato que humilha o Brasil, adoradores da tirania devem sair às ruas no próximo dia 15. Querem o fechamento do Congresso. É mais um capítulo do derretimento das instituições. Tudo fruto da narrativa de horror que asfixia o país e cujo episódio inicial, todos sabemos, ocorreu em 2016 com a deposição, sem crime de responsabilidade, de uma presidenta legal e legítima. Mas março é também o mês das mulheres. Foram elas que, em 1917, ainda na Rússia pré-revolucionária, marcharam contra a fome e pelo fim da I Guerwww.brasildefators.com.br redacaors@brasildefato.com.br (51) 98191 7903 /brasildefators @Brasil_de_Fato

ra Mundial. Eram operárias. Naquele dia – 8 de março pelo calendário gregoriano – fizeram história. Com a Revolução, tornou-se a data “da mulher heroica e trabalhadora”. Desde então, o mundo adotou o 8 de Março. Neste março, a data vai ganhar nova incumbência. Além da justa agenda reivindicatória, o 8 de Março deve se transformar em palanque para apontar o aprofundamento da barbárie e a sombra da ditadura que novamente se projeta sobre o Brasil. Seis dias depois será o momento de relembrar Marielle. Assassinada com quatro tiros na noite de 14 de março de 2018, ela permanece viva na memória e na perenidade da sua luta. Vereadora, converteu-se, com a morte, em figura internacional. Mulher de esquerda, jovem, negra e lésbica, ativista dos direitos humanos, morreu como mártir do combate às milícias que apodrecem o Rio e assaltam o país. Marielles, porém, nascem todos os dias. É tarefa de todos criar as condições para que as novas Marielles cresçam e floresçam sob o abrigo da democracia, ajudando a tornar o Brasil um lugar menos feroz e mais decente. Que nasçam e lutem para enfrentar a vida e não a morte.

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CONSELHO EDITORIAL Danieli Cazarotto, Cedenir Oliveira, Fernando Fernandes, Ezequiela Scapini, Ronaldo Schaefer, Frei Sérgio Görgen, Ênio Santos, Isnar Borges, Cláudio Augustin, Fernando Maia, Neide Zanon, Edison Terterola, Mariane Quadros, Daniel Damiani, Jéssica Pereira, Ademir Wiederkehr, Alex Ebone, Luiz Müller, Vito Giannotti (In Memoriam) | EDIÇÃO Katia Marko (DRT7969), Marcos Corbari (DRT16193), Ayrton Centeno (DRT3314) e Marcelo Ferreira (DRT16826) | REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Catiana de Medeiros, Fabiana Reinholz, Katia Marko, Maiara Rauber, Marcelo Ferreira e Stela Pastore | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares

A POIO

EDITORIAL |

Dia Internacional da Mulher nasceu da luta por direitos políticos, sociais e trabalhistas iguais. Este ano não será diferente. Nossa luta se expandiu e diante da catástrofe que o capitalismo nos está impondo em todo o mundo, mulheres tem protagonizado o que ficou conhecida como a Primavera Feminista. Um onda internacional de lutas encabeçada por mulheres em gigantescos protestos nas principais cidades do mundo. O Brasil se transformou em um verdadeiro inferno para a vida das mulheres. Com um presidente machista e homofóbico, que estimula o armamento e a violência. O feminicídio aumentou com índices alarmantes, nos tornamos um dos países que mais mata mulheres. O drama do desemprego recai em primeiro lugar sobre nós mulheres. Os cortes nas verbas para saúde, educação e segurança também nos atinge em cheio, pois a “responsabilidade” com o cuidado com a família recai em quase sua totalidade, sobre os ombros das mulheres. Mesmo com tripla jornada de trabalho reconhecida socialmente, aumentaram a idade para nossa aposentadoria. Esses dados se tornam mais escan-

Portanto, dia 8 no Brasil não será diferente. Iremos às ruas lutar contra este governo. Alguns fatos em fevereiro, jogaram Bolsonaro no isolamento.

dalosos quando se trata de mulheres negras e periféricas. As catástrofes climáticas não são obra da natureza, são decisões políticas e tem enorme impacto, novamente sobre mulheres e crianças que perdem tudo e ficam desabrigadas, sem nenhum amparo do Estado. Nas recentes inundações em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, são as mulheres chorando por perder o que juntaram em uma vida e terão que começar do nada. Portanto, dia 8 no Brasil não será diferente. Iremos às ruas lutar contra este governo. Alguns fatos em fevereiro, jogaram Bolsonaro no isolamento. O assassinato do miliciano Adriano e as implicações da família do presidente, a poderosa greve dos petroleiros que contou com ampla solidariedade social e a verdadeira surra no Carnaval de Norte a Sul do país, com blocos gritando Fora Bolsonaro! Além do poderoso desfile da Mangueira e da São Clemente. Como uma fera ferida, ele ameaça fechamento do regime com ataques ao Congresso Nacional e STF, chamando sua tropa para as ruas no dia 15 de março. Alguém já disse: “ele pode muito, mas não pode tudo!” A resposta vai começar com o 8M, continuará com a exigência de justiça para Marielle e Anderson dia 14 deste mês, onde vamos exigir: quem são os mandantes deste assassinato que chamou a atenção do mundo! Também vamos unificar trabalhadores da educação, centrais e partidos políticos no dia 18 de março, contra a Reforma Administrativa e por Democracia!.

(*) Executiva Nacional do PSOL e Direção da FASUBRA e da Assufrgs


GERAL

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IMPUNIDADE | Assassinato de Marielle Franco

completa dois anos no dia 14 de março

Neste ano, a Jornada do Dia Internacional da Mulher inicia no dia 8 de março e segue até 14 de março, com um ato na Redenção para marcar os dois anos da morte de Marielle. KATIA MARKO

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esde janeiro, uma série de entidades e organizações feministas do campo e da cidade vêm se reunindo para realizar a Jornada Unitária do 8 de Março, que inicia com uma programação cultural na Orla do Guaíba ainda no domingo (8). As atividades serão finalizadas com um ato em memória dos dois anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL). Homenageada no Carnaval do ano passado pela Mangueira, do Rio de Janeiro, e neste ano pela escola Tom Maior, de São Paulo, Marielle tornou-se um ícone da resistência contra a barbárie e a injustiça. Quem mandou matar Marielle? Essa é a pergunta que não cala desde aquela triste noite de 14 de março de 2018. Recentemente, a ex-companheira de Marielle, Mônica Benício participou de um debate na Universidade Federal da Paraíba, onde destacou o fato de o Rio de Janeiro ser uma cidade dominada pela milícia, que tem uma Câmara dos Vereadores extremamente fundamentalista e um prefeito bispo da Igreja Universal do Reino do Deus, Marcelo Crivella (Republicanos), que não sabe o que significa Estado laico. “Tem cadeira no Senado, na Câmara Federal, na Assembleia do Rio de Janeiro,

Foto: Mídia Ninja

Mas quem mandou matar Marielle mal podia imaginar que ela era semente, e que milhões de Marielles em todo o mundo se levantariam no dia seguinte.

na Presidência da República. A milícia é hoje o Estado brasileiro. A milícia não domina apenas território. Faz projeto de poder no país. E não é um projeto de poder que inclui o povo. É pra manter a ordem vigente desses homens brancos, fundamentalistas, machistas, LGBTfóbicos, racistas tudo que a gente já sabe desde que o Brasil começou sua história”, afirmou Monica. Segundo ela, quando o corpo da Marielle tomba a vida de ninguém aqui está segura. “Todas correm riscos quando o Estado brasileiro não responde quem foi que mandou matar. O corpo da Marielle é um corpo que o Brasil olha e julga um corpo descartável. O corpo da Marielle é um corpo matável no Brasil, é o corpo negro, feminino, favelado, periférico, LGBT. Esse é o corpo que o Brasil mata todo dia”, alertou.

"Tragédia anunciada" Mônica Benício considera fundamental entender o ano de 2018 em qualquer debate sobre a realidade brasileira.

“Um ano que não começa em 2018. A gente vai ter que olhar para o que foi o ano de 2016, o golpe misógino contra a presidenta Dilma, para poder fazer uma leitura”, ressaltou. Segunda ela, tudo era uma tragédia anunciada, “quando a gente tem um deputado que faz a menção ovacionando um torturador dentro de um plenário e não sai algemado desse plenário, a gente começa a entender que a atual conjuntura não é favorável à democracia", afirma em referência ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No momento do impeachment de Dilma Rousseff, ainda deputado pelo PSC-RJ, Bolsonaro homenageou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do Departamento de Operações Internas (DOI-Codi).

Assassinato político Para Mônica, o assassinato de Marielle Franco é emblemático por ser uma ruptura do Estado democrático de direito no Brasil e um recado político daqueles que não querem disputar espaços de poder com corpos como aquele que Marielle representava. “Uma vereadora democraticamente eleita, a segunda mulher mais votada do Brasil, a quinta pessoa mais votada da cidade do Rio de Janeiro com 46.502 votos, Marielle fez uma campanha pautada no fato de ser uma mulher negra e da favela", ressalta. “O caso da Marielle é um

caso emblemático porque ela era uma figura política. E pedir justiça por Marielle, pedir resposta, é dizer que a gente no Brasil, enquanto pessoas que defendem o Estado democrático, não quer que isso aconteça nem com outras Marielles, nem com qualquer outra pessoa nessa sociedade. Enquanto essa resposta

não chega, a imagem que o Estado brasileiro passa para a sociedade brasileira e internacional é que se pode matar qualquer um no Brasil", disse. Mas quem mandou matar Marielle mal podia imaginar que ela era semente, e que milhões de Marielles em todo o mundo se levantariam no dia seguinte.

“Escritório do Crime” pode estar envolvido

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ois ex-policiais militares, o sargento Ronnie Lessa e o soldado Élcio de Queiroz, estão presos sob a acusação de terem cometido os assassinatos de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Lessa reside no condomínio Vivendas da Barra no Rio de Janeiro, onde o presidente Jair Bolsonaro também mantém residência. Segundo laudo da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Lessa autorizou a entrada de Queiroz no condomínio no dia do assassinato da vereadora. Do condomínio ambos partiram juntos até o local do crime, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Uma das linhas de investigação sobre o assassinato de Marielle e Anderson tem como foco a participação da organização criminosa "Escritório do Crime" com atuação em Rio das Pedras, de onde teria partido o carro

utilizado no crime. Apontado como chefe da organização e foragido desde janeiro, Adriano da Nóbrega foi executado no dia 9 de fevereiro na Bahia. Nóbrega chegou a ser ouvido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre sua possível ligação com o ex-policial Ronnie Lessa. Até novembro de 2018 quando ainda era filiado ao PSL - partido do qual se desligou em outubro de 2019 o senador Flávio Bolsonaro (sem partido), empregava a mãe e a esposa de Adriano de Nóbrega em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), pois era deputado estadual. Em entrevista ao Brasil de Fato, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), afirmou que a "família Bolsonaro deve explicações" sobre o assassinato de Nóbrega. *Fonte: Leandro Melito e Heloisa de Sousa – Brasil de Fato Paraíba


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#8M: Mulheres ocupam as ruas pe violências, por emprego, aposenta Gaúchas preparam jornada do 8 de Março para denunciar violências que afetam a vida de todas as mulheres, independente de credo, gênero, raça, etnia. FABIANA REINHOLZ*

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PORTO ALEGRE (RS)

s violências que atravessam o cotidiano feminino, a luta por emprego, dignidade, pelo direito à aposentadoria, saúde e educação serão as pautas da Jornada do Dia Internacional da Mulher. Fora Bolsonaro, Eduardo Leite e Marchezan também marcarão os “gritos”, além de lembrar os dois anos sem res-

postas efetivas sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL-RJ). Dados do Ministério da Saúde apontam que a cada quatro minutos uma mulher é agredida no país. O Atlas da Violência 2019 aponta que houve 4.936 assassinatos de mulheres em 2017, sendo que 66% das vítimas é negra, morta por armas de fogo, tendo boa parte acontecido dentro de casa No estado do Rio Grande do Sul, segundo a Secretaria da Segurança Pública, só no mês de janeiro foram registrados 10 feminicídios, 32 tentativas, 3.359 ameaças às mulheres, 2.083 casos de lesão corporal e 134 casos de estupro.

"Enquanto os homens não conseguirem entender e rechaçar a violência, não vamos avançar" (Ariane Leitão)

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redução do investimento do poder Executivo agrava ainda mais a situação. Entre 2015 e 2019, o orçamento da Secretaria da Mulher, órgão vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, baixou de R$ 119 milhões (no governo Dilma) há cinco anos para R$ 5,3 milhões no ano passado. No esta-

do, R$ 4,2 milhões do orçamento foram aplicados no último ano do governo Tarso, no tocante ao enfrentamento da violência contra a mulher. Chegando a R$ 180 mil no último ano do governo de José Ivo Sartori. E agora, no governo de Eduardo Leite conta só com R$ 20 mil, aponta a coordenadora da Força-Tarefa Interinstitucional de Com-

Direitos negados

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número de mulheres que chefiam os lares brasileiros aumentou em 20%. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018. Esse crescimento foi puxado pelo incremento do percentual das mulheres no mercado de trabalho.

“As mulheres são as mais prejudicadas com as reformas da Previdência, Trabalhista e a PEC da Morte” (Luana Flores) Mas, mesmo com grau de escolaridade, em muitos casos, maior que dos homens, ganham 20,5% a menos do que eles, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado. Ao se trazer para o contexto das mulheres negras, dados revelam que elas chefiam 41% dos lares, e recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas.

Manifestações do 8 de Março, de Norte a Sul, vão lembrar a morte da vereadora Marielle Franco

bate aos Feminicídios da Assembleia Legislativa, Ariane Leitão. Diante da quase imobilidade do Executivo, a Assembleia Legislativa criou, ano passado, essa Força-Tarefa, que através da articulação de deputados e deputadas principalmente, consegui aprovar emendas, no valor de R$ 3 milhões, que devem beneficiar diversos setores de combate à violência contra a mulher. Além disso, a Polícia Civil está trabalhando para a qualificação das notificações do feminicídio, através de um "Protocolo de Risco", em fase de implementação. Assim como a aquisição, através das deputadas federais, de 12 viaturas que estarão nas delegacias especializadas, a formação dos agentes e a elaboração de um Atlas do feminicídio.

“As mulheres têm os menores salários, estão nos trabalhos mais insalubres, gerenciam sozinhas, na maior parte das vezes por falta de opção, mais da metade das famílias do país. É no trabalho doméstico e no cuidado dos filhos, e demais familiares, que realizam a dupla ou até tripla jornada. Com as reformas da Previdência, Trabalhista e a PEC da Morte (EC95), que congelou os gastos públicos por 20 anos, as mulheres são o grupo mais prejudicado. Nossos filhos não têm professores, a falta de escolas, creches, hospitais, faculdades, transporte público de qualidade, estrutura urbana, empregos dignos e direito previdenciário nos acerta primeiro e com mais força”, afirma Luana Flores, da organização 8M - Greve Internacional de Mulheres.

Foto: Naldinho Lourenço

Feminicídio

Foto: Reuters


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ela vida, contra as adoria, saúde e educação

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Violência e morte, males em destaque na luta “Os que nos matam. Os que nos aprisionam. Os que nos encarceram. Os que nos humilham e nos falam com todo o escárnio do mundo, são os protótipos, os espécimes dóceis moleques que brincam de correrias pelas ruas da comunidade. Os piores entre eles, os genocidas; mesmo do distante Oriente e dos territórios enregelados angustiantes, sem sol e sem fartura. Quem se opõe a eles? Quem ousa gritar? Quem ousa olhá-los nos olhos?”, rima Ângela Lopes, integrante do Coletivo de Negros e Negras João Cândido do PCO (Partido da Causa Operária) “Pela escalada dos feminicídios, dos estupros, da vio-

lência aos nossos corpos, mais uma vez o 8M tem a temática pela vida das mulheres. Uma temática que infelizmente continua atual”, desabafa Giany Rodrigues, professora estadual, e integrante do grupo Resistência do PSOL. “Nós somos o quinto país que mais mata mulheres e o primeiro país que mais mata mulheres trans”. Giany ressalta o fato de o ato acontecer poucos dias depois do Carnaval e de Bolsonaro convocar, via whatsapp, ato contra o Congresso e as instituições democráticas numa tentativa de rememorar o AI5, Ato Institucional da ditadura militar. Para Ariane Leitão, os ges-

tores públicos brasileiros e gaúchos, hoje, são responsáveis pelas mortes das mulheres. “A negligência de recursos públicos para garantia das nossas vidas sendo um direito constitucional não pode ser aceita como algo como comum. As mãos deles também estão sujas de sangue.” “Embora a mulher, com suas pautas específicas, seja o motivo vital de haver um 8M; o fato de vivermos à beira de um regime de exceção com acentuado aumento de feminicídios, brutalidade policial desmedida; precarização do trabalho e empobrecimento da população traz consequências como a exploração sexual de

“A revolução será feminista, ou não será”

Foto: Guilherme Santos / Sul 21

O 8 de Março não é só mais um dia, e sim uma jornada que se estenderá até o dia 14, data em que se recorda os dois anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, que segue sem resposta sobre os mandantes do crime. “É um momento muito importante porque o que nos atinge é o mesmo alvo. E para esse alvo ser combatido, nós precisamos ser solidárias entre nós e organizarmos este enfrentamento. Falamos muito em retirada de direitos, quanto mais nos retiram, mais fortes precisamos ser, e para isso a organização é fundamental. Recuperar o sentido e a origem do 8 de Março e trazer para o nosso momento histórico é fundamental”, afirma Salete Carollo, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para as organizadoras da jornada, se existe uma certeza na América Latina quanto à luta revolucionária, é que essa luta será liderada por mulheres. De acordo com elas, é preci-

Ângela Lopes é integrante do Coletivo de Negros e Negras João Cândido do PCO

meninas, a dependência química ou o aumento do encarceramento em massa, ou seja; é o desencadeamento do colapso social em todos os níveis”, frisa Ângela Lopes, destacando que

as pautas relacionadas à luta das mulheres negras devem ser o cerne de qualquer movimento que se diga de esquerda em um país com uma história racista e misógina.

Programação da jornada do #8M No dia 14, haverá o ato 14M | Justiça para Marielle Ditadura nunca mais, às 15h, no Parque da Redenção. Ainda no dia 14, será realizado um Encontro Estadual de Formação da Marcha Mundial de Mulheres do RS, em parceria com as Amigas da Terra, a Comuna do Arvoredo e a Themis, das 9h às 17h, no Sindipetro RS (Av. Lima e Silva, 818 - Porto Alegre). O tema será “Agora é pra fazer valer. Sou força, porque todas nós somos. Sigo porque seguiremos todas nós juntas. Eu sou Marielle Franco: mulher, negra, mãe, da favela. Eu sou porque nós somos”.

Salete Carollo é da direção nacional do MST

so que as mulheres entendam a importância da inserção na política nacional, na cena política mundial, para se combater a violência e a violação dos direitos. “Quando dissemos que o 8 de Março é data de #elenão, data de não à ditadura, data pelas nossas vidas, estamos dizendo que estamos nos envolvendo na política, principalmente porque nós queremos permanecer vivas. Somos o Nenhuma a Menos, o movimento das mulheres chilenas e tantas outras. Não queremos mais nenhum caso de feminicídio, de violência, nenhuma agressão a mulheres em

espaço algum.” Ainda de acordo com as lideranças, a unificação do movimento do 8 de Março em Porto Alegre é fundamental. “A cada nova edição sua construção se amplia e adquire uma cara mais legítima quanto à representação de mulheres. Devemos ser resistência a estes governos que tentam retirar nossos direitos. Unidas e organizadas, somos mais fortes que eles. Entendemos que nossa resposta deve ser coletiva e proporcional aos ataques que sofremos, é fundamental ocuparmos as ruas em março.”

Também no 8 de Março será lançada a 5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, com um ano de muitas atividades, até o 17 de outubro, quando acontecerá o encerramento das ações. De 13 a 15 de março, acontece o 5° Encontro das Pretas, o objetivo principal é dar visibilidade, protagonismo e fortalecer a autoestima da mulher afro-brasileira. No dia 18 de março, centrais sindicais, movimentos sociais e feministas incluíram a defesa do Estado Democrático de Direito entre as principais bandeiras das manifestações de março, com atos em todo o país. Nesse dia também está marcada uma Greve Nacional dos servidores, por serviços públicos de qualidade, contra a PEC Emergencial e os cortes na Educação. Também haverá manifestações no Interior em Torres, Nova Prata, São Leopoldo, Encruzilhada do Sul, Caxias do Sul, Bagé, Santa Maria e Região das Missões.


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TERRA

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REFORMA AGRÁRIA | Encontro Nacional de

Mulheres Sem Terra semeia resistência Evento nacional reunirá quase 4 mil trabalhadoras de 15 países e 24 estados brasileiros, de 5 a 9 de março, em Brasília. CATIANA DE MEDEIROS E MAIARA RAUBER

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PORTO ALEGRE (RS)

rasília será palco de resistência ativa, rebeldia e alegria. Trabalhadoras de 24 estados brasileiros e de 15 países se direcionam ao 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, que já é considerado um marco nos 36 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O evento reunirá, de 5 a 9 de março, quase 4 mil mulheres, entre Sem Terra e convidadas nacionais e internacionais, que virão da Zâmbia, África do Sul, Argentina, Espanha, País Basco, Noruega, Suécia, Alemanha, Palestina, Uruguai, França e outros países. Esta primeira edição tem

como lema “Mulheres em luta, semeando resistência”. Ele dialoga com a presença constante das camponesas na construção da Reforma Agrária Popular e na trajetória do MST. “Todas nós passamos por um processo de luta pela terra, por educação, estrada, crédito, saúde. Nenhuma conquistou algo sem lutar. E lançamos sementes através de ações e conquistas, que motivaram outras mulheres na luta por Reforma Agrária”, explica Salete Carollo, da direção nacional do MST pelo Rio Grande do Sul. Ela acrescenta que hoje, numa conjuntura de retirada de direitos, as assentadas e acampadas semeiam resistência ativa. “Mais do que nunca estamos mobilizadas para não perdermos o que já conquistamos”, ressalta. Unidas em defesa dos direitos O encontro nacional será

espaço de estudo e elaboração para aprofundar temas ligados às relações de gêne-

Encontro fortalece laços

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á cerca de dois anos são realizadas diversas ações em preparação ao 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, como oficinas e estudos. Segundo Atiliana Brunetto, da coordenação nacional do Setor de Gênero do MST, a jornada é um importante processo de formação e trabalho de base. “A mística do encontro fez com que as companheiras construíssem espaços de partilha das suas

histórias, de fortalecimento dos laços e também de estudos e debates, pautando questões que permeiam nosso cotidiano no campo”, afirma. Para Lucinéia Freitas, também do Setor de Gênero do MST, o evento busca consolidar um amplo processo de articulação das mulheres do campo e da cidade para enfrentar retrocessos e retirada de direitos.

Mais de 280 camponesas gaúchas estarão presentes

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ais de 280 gaúchas participarão do encontro nacional. De acordo com Silvia, o evento reafirmará a identidade de mulheres Sem Terra e a importância da unidade da classe trabalhadora. “Será um marco, pois estaremos juntas nessa construção coletiva, no combate ao capitalismo e na criação de um projeto novo para o país”, sinaliza. Já as Sem Terra que não irão ao encontro estarão mobilizadas na sema-

na do Dia Internacional das Mulheres, com as trabalhadoras do campo e da cidade, em Porto Alegre. Elas denunciarão as diversas formas de violência, a falta de emprego e a precarização da saúde e da educação. No dia 9 de março, assentadas comercializarão no Largo Glênio Peres a produção de assentamentos da Reforma Agrária, como arroz orgânico, molho de tomate, sucos, geleias, pães, verduras, farinhas, feijão, entre outros alimentos.

ro e étnico-raciais, de enfrentamento ao patriarcado e racismo e de constru-

ção do feminismo camponês popular, com a tarefa de fomentar e forjar a participação das mulheres nas instâncias do MST. Além disso, terá marcha em alusão ao Dia Internacional da Mulher, ato político, oficinas, trocas de experiências, Festival Cantando e Semeando a Resistência e Mostra da Reforma Agrária. Conforme Sílvia Reis Marques, da coordenação do Setor de Gênero do MST/ RS, além de reafirmar a identidade de lutadoras das mulheres Sem Terra, o evento fortalecerá a unidade da classe trabalhadora. “Será um espaço de projetar lutas para defender nossos direitos, lutar pela Reforma Agrária e apresentar aquilo que temos de mais bonito em nossos assentamentos, que é a produção de alimentos saudáveis, de vida, solidariedade, amizade e unidade das mulheres”, argumenta.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA E EXTRAORDINÁRIA DA COOPERATIVA CENTRAL DOS ASSENTAMENTOS DO RS LTDA NIRE 43400006486 CNP 94.011.111/0001-47 O Presidente da Cooperativa Central dos Assentamentos do RS Ltda. convoca todas as suas associadas para a Assembléia Geral Ordinária e Extraordinária realizar-se no dia 24 de Março de 2020, na Sede da Cooperativa, localizada na Travessa Francisco Leonardo Truda, nº 98, 4º andar, Centro, do Município de Porto Alegre/RS, CEP 90010-050, às 8:00 horas, em 1ª convocação com presença de 2/3 dos Representantes das Associadas, 2ª convocação às 9:00 horas com presença de metade mais um dos Representantes das Associadas, para deliberarem sobre: 1º) Prestação de Contas Ano de 2019; 2°) Analise e Parecer do Conselho Fiscal; 3º) Destinação das Sobras ou Perdas; 4º) Eleição do Conselho Fiscal; 5º) Alteração do Estatuto Social; 6º) Outros assuntos de interesse social. O numero de associadas na presente data é de 14 (Quatorze). Porto Alegre, 06 de Março de 2020. Sidnei Fernando dos Santos Presidente


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CINEMA | Olhar feminino

consagrado nas telas

Foto: Petra Costa/ Instagram / Reprodução

As cineastas brasileiras têm marcado sua qualidade narrativa nas telas do mundo.

HORÓSCOPO ÁRIES (21/3 A 20/4) Como guerreira nata, a ariana estará à flor da pele no mês das mulheres. As causas são muitas e tu que sabes o poder de tua voz gritará mais do que nunca nas ruas. O momento pede ousadia para enfrentar o machismo.

TOURO (21/4 A 20/5) Taurinas são amigas fiéis e, por isso, não vão soltar a mão de nenhuma companheira este mês. Os próximos dias pedem persistência para enfrentar a violência contra as mulheres e tu terás energia de sobra para isso.

STELA PASTORE

PORTO ALEGRE (RS)

GÊMEOS (21/5 A 20/6)

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iretoras, roteiristas, produtoras demonstram seu talento e sensibilidade, reconhecidos pelo público e crítica. A humanização de histórias, o resgate cuidadoso de dramas pessoais, a tragédia política recente do país, a desigualdade social focalizada com a sutileza do olhar feminino são colocadas em documentário ou ficção premiados dentro e fora do Brasil. Uma das mais jovens é a diretora mineira Petra Costa, 36 anos, que concorreu ao Oscar em 2020 com o documentário Democracia em Vertigem. Lançado pela Netflix em junho de 2019, em 190 países, o filme narra em primeira pessoa o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a ascensão dos discursos de extrema-direita que elegeram o presidente Jair Bolsonaro, que a atacou após a indicação. “Como antropóloga, sentia um desconforto de não colocar a rachadura subjetiva pela qual eu estava enxergando a situação e minhas próprias contradições”, relata. Feminista e atriz desde os 16 anos, dirigiu ainda o curta “Olhos de Ressaca” (2009), e os premiados longas "Elena" (2012) e "Olmo e a gaivota" (2014). “Temo que nossa democracia tenha sido apenas um sonho efêmero”, observa. Anna Muylaert, com Que horas ela volta (2015), também concorreu à indicação ao Oscar. Comoveu, ao explicitar os conflitos de uma empregada doméstica (Regina Casé) com os patrões de classe média alta e a relação com

CULTURA & LAZER

O mês pede comunicação e esse é o teu forte, geminiana. Use e abuse do diálogo, conquiste mais mulheres para defender as nossas bandeiras. Mas não esqueça de ouvi-las também, cada mulher é um mundo a ser descoberto.

CÂNCER (21/6 A 22/7) Nos próximos dias as cancerianas mostrarão que ser sensível é ser grande e não vão deixar nenhum boy lixo dizer que feminista é tudo mimimi. Transforme tua dor em luta, tu tens força para isso. Petra Costa e documentaristas de 'Democracia em Vertigem' protestaram no Oscar 2020

a filha. A jovem não apenas percebe a exploração, mas supera sua origem nordestina humilde com acesso ao ensino público superior, possível após a ascensão de governos de esquerda, sem que a diretora em nenhum momento tangencie o proselitismo. Outra jovem cineasta é a jornalista Susanna Lira, 46 anos, com mais de 40 filmes. Torre das Donzelas (2015) é seu mais recente documentário, retratando a experiência de presas políticas no presídio Tiradentes, em São Paulo. “Foi uma aula de sororidade máxima, de troca, de acolhimento de uma para a outra. O filme é sobre resiliência de mulheres e um convite à resistência”, conclui.

As pioneiras Muitas outras cineastas vieram antes abrindo caminhos, como Lucy Barreto, responsável pela produção de dois indicados ao Oscar, O Quatrilho e O Que É Isso, Companheiro?, além de outros clássicos como Terra em Transe, Bye Bye Brasil, Dona Flor e seus Dois Maridos. Ou Laís Bodanzky, com Bicho de Sete Cabeças. Lúcia Murat levou às telas a traumática experiência da prisão e tortura na ditadura em várias de suas produções. Há décadas

Tata Amaral faz filmes sobre mulheres, como o premiado Um Céu de Estrelas (1997). No RS, a diretora Tetê Moraes filmou os premiados documentários Terra para Rose e O Sonho de Rose, centrados na ocupação da fazenda Annoni nos anos 1980. Também no estado temos o recente Central (2017), uma visão humanitária da diretora Tatiana Sagger sobre o caos do sistema carcerário. Da nova geração de cineastas, Daniela Sallet produziu um inestimável documentário sobre as pioneiras agroecologistas gaúchas Magda Renner e Giselda Casttro, em Substantivo Feminino (2018). Outras gaúchas são pilares do bom cinema, como Ana Luiza Azevedo, uma das que sustenta a qualidade da Casa de Cinema desde 1987. Com toda a sua subjetividade e determinação, as mulheres têm feito toda a diferença na forma e no conteúdo da produção cinematográfica. O mundo aplaude no cinema o que o elogio da cegueira propagado pela televisão, turva a visão sobre a trágica realidade nacional. Mais um motivo para o atual governo querer asfixiar o cinema brasileiro.

TIRINHA | Armandinho (Alexandre Beck)

LEÃO (23/7 A 22/8) No 8 de março as leoninas estarão aí pra nos lembrar que mulher bonita é a que luta. Aproveite para sentir um amor imenso por ti e use tua força pra ajudar mais mulheres a se amarem.

VIRGEM (23/8 A 22/9) Março é o mês preferido das virginianas. É muita mulher reunida se organizando e tu estarás mais ativa do que nunca. Aproveite e use todas tuas habilidades, é o momento pra ti brilhar organizando mais e mais encontros de mulheres.

LIBRA (23/9 A 22/10) Dessa vez as librianas não estarão indecisas e já sabem onde vão ir de 8 a 14 de março. A mulher de libra quer justiça e sabe que só nas ruas com mais mulheres irá conseguir. Sabe aquela persuasão que só tu tens? Use para trazer mais mulheres e homens para a luta.

E SCORPIÃO (23/10 A 21/11) As escorpianas estão indignadas com o Bolsonaro e dessa vez não vão deixar barato. O momento é de dizer basta e tu sabes que nem a Damares vai confundir a tua intuição. Use toda a tua sabedoria pra dizer que o lugar da mulher é onde ela quiser.

SAGITÁRIO (22/11 A 21/12) Sem perder a alegria de viver, as sagitarianas estarão mais contentes do que nunca, afinal, quer coisa melhor que mulheres unidas lutando pelos seus direitos? Sabe aquela companheira que está desanimada? Use toda tua vivacidade para dizer que a luta vale a pena.

CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) Capricornianas estarão bem preocupadas com a vida material, por isso vão nos lembrar que igualdade de salários entre homens e mulheres é um direito. E ainda vão ir pra rua dizer que mulheres não querem trabalho precarizado. Tchau Reforma Trabalhista!

AQUÁRIO (21/1 A 19/2) O mês tão esperado para as aquarianas chegou! Sabe todo aquele calor que só uma marcha cheia de mulheres consegue ter? Tu estarás vibrando com isso. Então, aproveite o momento para gritar com toda a tua força: é pela vida das mulheres! Jogue-se na multidão.

PEIXES (20/2 A 20/3) Nos próximos dias as piscianas deixarão de acreditar nas abobrinhas do Sérgio Moro e da Rede Globo. O momento pede teu altruísmo e tua criatividade para que mais mulheres saiam dessa ilusão. Sabe aquele sonho que tu tens de uma vida digna para as mulheres? Ele não vai rolar com o Bolsonaro. Mel dos Astros Aquariana com ascendente em câncer, lutadora e apaixonada pela vida. Atua como conselheira nas horas vagas. É aplicada nos astros e estabanada no cotidiano.

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ESPORTES

PORTO ALEGRE, 04 A 17 DE MARÇO DE 2020

FUTEBOL | Lugar de mulher é no estádio e

onde mais ela quiser

Nos quatro cantos do Brasil, além do fenômeno das torcidas antifascistas, nascem também coletivos feministas. Unidas, elas torcem pelo clube do coração e lutam por respeito e igualdade de gênero. MARCELO FERREIRA PORTO ALEGRE (RS)

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empodera mento das mulheres no mundo do futebol já é um fato no Brasil. Diferente de décadas atrás, quando a prática do esporte era proibida por lei para elas e poucas frequentavam os estádios, hoje, além do futebol feminino estar ganhan-

do espaço no imaginário dos brasileiros, as torcedoras lotam as arquibancadas. A prática da sororidade tem se constituído como uma importante ferramenta dentro desse universo, historicamente marcado por machismo, assédios, intolerâncias e racismos. O Brasil de Fato foi conhecer duas experiências nascidas das torcedoras da dupla GreNal.

Avanços e luta, dentro e fora dos estádios

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s trapos (faixas) são marca das torcidas nos estádios. Os coletivos feministas da dupla GreNal costumam se manifestar sobre temas que dizem respeito ao combate ao preconceito. E as ações são replicadas nas redes sociais, atingindo muito mais pessoas. Patrícia Ferreira destaca que o Elis Vive tem um grande número de seguidores que não possuem o hábito de ir ao estádio, “mas que enxergam no coletivo uma representação”. As torcedoras também realizam campanhas específicas, como a construção do Machistômetro, material de combate ao machismo nos estádios, produzido no 8 de Março de 2019. Outro aspecto trabalhado por ambas as torcidas é o assédio às jornalistas mulheres que trabalham nos estádios. “Temos vozes poderosas, ocupando cargos executivos e legislativos do país que legitimam a objetificação e a misoginia. Por isso, no começo do campeonato de 2020, a diretoria de inclusão fez um acolhimento às jornalistas mulheres”, conta Najla, expli-

cando que o canal de denúncias da torcida colorada serve também e elas.

Futebol feminino “Além de pouca visibilidade, o futebol de mulheres tem pouco investimento e esse é um tema muito importante pra nós”, afirma Patrícia, destacando, além da discriminação, a precarização das condições de trabalho. Ainda assim, o Coletivo Elis Vive está em todas as partidas. “Apoiamos as meninas dentro e fora de campo, organizamos caravanas para ir até Gravataí, na casa das Gurias Gremistas, ver os jogos e cantar muito”. Najla conta que a criação do futebol feminino em todas as categorias foi uma bandeira muito cara para a INTERfeminista. “Defendemos a modalidade, vibramos com suas conquistas e acompanhamos os jogos. Achamos que ainda há um longo caminho a percorrer, como a própria utilização do Beira-Rio, e que falta mais visibilidade por parte da imprensa. Mas estamos no caminho e isso nos enche de orgulho”.

Internacional

TABELINHA GRENAL

MASCULINO 08/03 – 19h – Gauchão Inter X Brasil de Pelotas 12/03 – 21h – Libertadores Grêmio X Inter 15/03 (a confirmar) Gauchão São José X Inter

INTERfeminista conquista espaços importantes

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m grupo de coloradas criou, em março de 2016, o coletivo INTERfeminista, motivadas pela fala machista de um comentarista esportivo. “Somos feministas interseccionais e somos do Inter. Já nos conhecíamos de frequentar o Beira-Rio e de redes sociais. Daí foi um abraço. A luta sempre foi contra a objetificação da mulher nos espaços do esporte”, afirma Najla Diniz, integrante do coletivo. A colorada conta que, a partir das reivindicações do coletivo, vieram importantes conquistas institucionais: “O fim das líderes de torcida à beira do campo com roupas provocativas e diminutas; a volta da diretoria feminina na gestão; a estruturação do futebol femi-

nino em todas as categorias; as mudanças nos critérios avaliativos para a escolha da musa do clube, que finalmente foram implementadas esse ano; e um canal de denúncia contra possíveis assédios dentro do estádio,

o Estaremos Contigo!”. Najla destaca ainda que o coletivo conseguiu um lugar no primeiro escalão da direção do Inter. “Hoje sou a responsável pela diretoria de inclusão social do relacionamento social do clube.”

Coletivo Elis Vive presta homenagem à cantora gaúcha

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fim de discutir pautas no contexto de uma torcida de mulheres, feministas e antifascistas, gremistas integrantes do coletivo antifascista Tribuna 77 criaram, em novembro de 2018, o Coletivo Elis Vive. “A formalização trouxe mais força e objetividade para nossa luta, já que a partir de nossa existência muitas mulheres passaram a nos procurar para estarem juntas conosco”, conta Patrícia Ferreira, que faz parte do grupo. O nome faz referência a Elis Regina, que em 1962, aos 17 anos, tornou-se sócia do Grêmio. Patrícia conta que Elis foi homenageada pelo clube, quando já era famosa, em 1968. “Com sua

18/03 – 19h15 – Libertadores Inter X América de Cali FEMININO 16/03 – 19h – Brasileirão Internacional X Flamengo 22/03 (a confirmar) Brasileirão Ferroviária X Internacional

música e sua mania rebelde, ela não poupava esforços para defender os direitos, a democracia, as liberdades e o direito das mulheres serem donas de si, de seus cor-

Grêmio

MASCULINO 08/03 – 16h – Gauchão Pelotas X Grêmio 12/03 – 21h – Libertadores Grêmio X Internacional 15/03 (a confirmar) Gauchão Grêmio X São Luiz

pos e de suas vidas. Por conta de toda essa história e por trabalharmos a questão do reconhecimento de nossos ídolos, Elis se tornou nossa maior inspiração”, explica.

18/03 – 21h30 – Libertadores Univ. Católica X Grêmio FEMININO 15/03 – 15h – Brasileirão Grêmio X Vitória 22/03 – 15h – Brasileirão Cruzeiro X Grêmio


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