Como um blogue lhe mudou a vida

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Passeio Público

Eduardo Ribeiro

Ana Duarte ad@briefing.pt

Captar momentos e estilos de pessoas desconhecidas é uma das características do blogue “O Alfaiate Lisboeta”. O autor desta plataforma é José Cabral, 32 anos, que garante que este projeto lhe mudou a vida. Hoje, afirma que se trata de algo mais que um blogue - é antes uma marca, ainda que com um modus operandi peculiar.

Como um blogue lhe mudou a vida Moda, estilo, tendências, personalidade. São apenas quatro dos múltiplos olhares d’“O Alfaiate Lisboeta” sobre quem passa na rua. Olhares que, em quatro anos, se converteram num sucesso, ao ponto de o nome do seu autor, José Cabral, se confundir com o do blogue. Mas afinal quem é na verdade José Cabral? Nascido e criado em Lisboa, diz-se um verdadeiro 18

Março de 2013

“alfacinha de gema”. Teve uma infância bastante similar à da maioria dos miúdos. Os seus interesses variavam entre miúdas, desporto e jogos de computador – na sua maioria também sobre desporto. Quando parava para pensar no que poderia fazer no futuro, quando “fosse grande”, a escrita era algo que o fascinava. Mas, com o passar dos anos, foi tendo novos interesses, pen-

sando em novas profissões. No liceu, quando chegou a altura de escolher que área de estudos seguir, optou por Desporto. Afinal, sempre o interessara bastante. A próxima escolha aconteceu no ingresso na faculdade. Mais uma vez, José tinha de optar por aquilo que gostaria de fazer no futuro: a escolha recaiu sobre o curso de Sociologia. Antes de terminar surgiu a opor-

tunidade de trabalhar como comissário de bordo numa companhia aérea. José decidiu aproveitá-la. Gostava de viajar e de conhecer novos sítios. Habitualmente, no verão aproveitava para viajar de comboio pela Europa. Viajou, visitou vários países e cidades. Até que decidiu fazer algo complemente diferente. Entrou no sector da banca, no qual trabalhou vários anos. Rewww.briefing.pt


centemente, foi ainda gestor comercial de empresas, mas estas profissões não lhe despertavam grande emoção. A ideia de criar “O Alfaiate Lisboeta” surgiu depois de um amigo lhe mostrar alguns blogues estrangeiros em que os autores publicavam retratos que tiravam pelas ruas das cidades onde passavam. A ideia agradou-lhe. Na época, as experiências profissionais que tinha eram desprovidas de paixão e, na verdade, José sempre quis fazer algo na área da produção escrita. Esta pareceu-lhe ser uma forma de juntar as duas coisas. Criou, então, “O Alfaiate Lisboeta”. Define-o como um “blogue de pessoas”.“Um blogue onde os lugares são retratados através daqueles que os percorrem”, acrescenta. Não nega que a plataforma tem uma componente estética bastante forte. É um “blogue de estilo” e esse acaba por ser o ponto de partida para tudo o resto, explica: “O Alfaiate Lisboeta aconteceu porque achei que era mais feliz tendo um blogue. Aquele blogue. E é nessa mesmíssima medida que ele continua a existir”. Há quatro anos que dedica parte do tempo a abordar pessoas que lhe despertam a curiosidade na rua, em diversos países, fotografando-as e posteriormente atualizando o blogue. Ao longo deste tempo já perdeu a conta aos desconhecidos que abordou e, até mesmo, aos episódios que viveu. “Há de tudo”, diz. Há quem desconfie das suas boas intenções e há quem se sinta extremamente elogiado pela proposta de ser fotografado. O retrato funciona aqui como uma ferramenta, um instrumento para “chegar às pessoas” – a sua verdadeira paixão. Quando criou o blogue, José não esperava atingir tamanho sucesso. “O Alfaiate Lisboeta mudou a minha vida”, afirma sem hesitar. Não só em termos profissionais, mas também a um nível mais abrangente. Quando achou que estavam reunidas as condições para se demitir do trabalho, fê-lo. Mudou por completo o seu www.briefing.pt

“A ideia de criar “O Alfaiate Lisboeta” surgiu depois de um amigo lhe mostrar alguns blogues estrangeiros em que os autores publicavam retratos que tiravam pelas ruas das cidades onde passavam. A ideia agradou-lhe. Na época, as experiências profissionais que tinha eram desprovidas de paixão”

estilo de vida. Dedicou-se exclusivamente ao blogue e às solicitações que lhe surgiam. “Quando fotografamos pessoas diferentes, em sítios distintos, parece haver um mundo que se abre perante nós”, comenta. Já assinou uma campanha institucional para a Câmara de Lisboa, recebeu um Fashion TV Award e participou em campanhas para multinacionais. Além disso, colabora habitualmente com revistas e jornais. Esta é a grande mais-valia que “O Alfaiate Lisboeta” lhe trouxe profissionalmente, proporcionando-lhe oportunidades que, à partida, não seriam de tão fácil acesso. A partir do blogue surgiu no ano passado um livro. Uma “consequência previsível” na perspetiva do autor. Trata-se de ma compilação do que mais marcante existe no blogue. O objetivo de José era um só “dar corpo a um trabalho, de preferência um corpo bonito”. E assim nasceu o livro, exatamente como o tinha imaginado. “O livro é, em si mesmo, um objeto de estilo”, sustenta. O estilo está presente a cada clique no blogue. Mas, com tantos estilos misturados, qual é, afinal, o estilo que mais caracteriza os portugueses? José não hesita: “Somos tendencialmente conservadores”. Hoje, “O Alfaiate Lisboeta” já assume uma posição de marca, ainda que, na perspetiva do bloguer, com “um modus operandi muito peculiar”. De acordo com o autor, é desprovido de qualquer estratégia de marketing e as decisões - sejam elas a nível institucional, editorial ou comercial - dependem exclusivamente das “idiossincrasias e gostos pessoais” do próprio. Pois, acima de tudo, José garante ter um “carinho tremendo” pelo blogue, por isso tudo o que tem a ver com ele tem de fazer sentido e não comprometer o trabalho feito até aqui. O blogue comemora este ano o quarto aniversário e continua bastante idêntico ao que era no início. Porquê? Porque José gosta dele assim, “tal qual está hoje”.

“O Alfaiate Lisboeta aconteceu porque achei que era mais feliz tendo um blogue. Aquele blogue. E é nessa mesmíssima medida que ele continua a existir”

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