Criatividade sem fronteiras

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Férias

Cláudia Köver Jornalista ck@briefing.pt

Criatividade sem fronteiras Fomos saber a opinião de profissionais das áreas da comunicação e da criatividade sobre o apelo “forte e veemente” de Cavaco para fazermos férias cá dentro. E se o pessoal da comunicação cerra fileiras numa obediência patriótica ao apelo presidencial, já o povo criativo chama a atenção para facto das férias com fronteiras serem um travão à criatividade

O apelo foi claro. “Forte e veemente”, nas palavras do próprio. “Neste tempo difícil que atravessamos, os portugueses devem fazer turismo no seu país”, disse o Presidente da República, acrescentando que as “férias passadas no estrangeiro são importações e aumentam a dívida externa portuguesa. Rapidamente choveram críticas e apoios. A primeira crítica veio do interior do Governo socialista. “Só espero que os presidentes dos outros países não façam o mesmo apelo, caso contrário perdemos uma fonte de receitas importante. Há muitos turistas estrangeiros que vêm a Portugal”, avisou o ministro da Economia, Vieira da Silva. O Briefing foi saber a opinião de profissionais das áreas da comu14

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nicação e da criatividade sobre o apelo de Cavaco. E se o pessoal da comunicação se une numa obediência patriótica, já o povo criativo chama a atenção para o facto de as férias com fronteiras serem um travão à criatividade . “O segredo está entre Braga e Nova Iorque”, sintetiza Filipa Serpa Soares, acrescentando que não é à toa que se utilizam expressões como “abrir os horizontes” ou “refrescar as ideias”: ”Mudar de cenário e ver coisas diferentes costuma ser uma forma bastante eficaz de o conseguir. Já o contrário poderia tornar-se empobrecedor para quem vive da criatividade e, consequentemente, para quem a diversidade é uma fonte de inspiração”. A directora de Planeamento Estratégico e New Business da

17,5% era quanto diminuiria o défice externo se os portugueses deixassem de fazer férias no estrangeiro

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“Ficar confinado ao país retira-nos a possibilidade de absorver outras culturas. A criatividade é maioritariamente um processo de combinar ideias de um modo novo. Quanto mais coisas, situações e perspectivas conhecemos, maior é a probabilidade de inovar”

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“O principal benefício de passar férias cá dentro é o estar mais perto do consumidor português e, deste modo, ser capaz de adequar melhor as futuras propostas criativas de publicidade”

Gosta: Onde o Alentejo se mistura com o Algarve

Gosta: Meco

Cláudia Alves Master de Estratégia da Brandia Central

27,2% era quanto subiria o défice externo se os estrangeiros deixassem de nos visitar

“Não é à toa que se fala em abrir os horizontes ou refrescar as ideias. Mudar de cenário e ver coisas diferentes costuma ser uma forma bastante eficaz de o conseguir. Já o contrário poderia tornar-se empobrecedor para quem vive da criatividade”

“A situação económica do país não é favorável e todos se encontram numa altura de contenção. Faz todo o sentido o apelo do PR. Fazendo férias cá dentro contribuímos para que a situação melhore ao mesmo tempo que descobrimos Portugal”

Gosta: Costa Vicentina e Gerês

Nuno Moreira Partner Fullsix

Filipa Serpa Soares Directora de Planeamento Estratégico e New Business TBWA\Lisboa

Sónia Ferreira Consultora Young Network

TBWA\Lisboa dá o exemplo de dois artistas. Joana Vasconcelos que documentadamente passou algum tempo a viajar por Lisboa e Fátima, que claramente inspiram algumas das suas peças mais icónicas. E António Variações que respondeu a uma questão sobre o foco da sua inspiração para uma música dizendo procurar um cruzamento entre Braga e Nova Iorque. Muitas vezes, a originalidade está exactamente aí. “Se passássemos todos férias nos nossos países de origem, uma fatia considerável da economia mundial desaparecia – ou, no mínimo, encolhia muito drasticamente: agentes de viagens, aviação, guias turísticos, etc. Além disso, o mundo perdia alguma originalidade e diversidade”, concluiu Filipa.

Nuno Moreira, partner da Fullsix, analisa os dois lados da questão: “O principal benefício de passar férias cá dentro é o estar mais perto do consumidor português e, deste modo, ser capaz de adequar melhor as futuras propostas criativas de publicidade. O malefício criativo não existe, a não ser quando as férias lá fora incluem destinos ricos em novas tendências de comunicação, como Tóquio ou Nova Iorque, caso contrário… praia é praia”. Mas quando se fala das consequências de toda a gente deixar de fazer férias no estrangeiro, Nuno tem uma visão muito pessimista: “Em termos económicos, deixava de existir o mercado exportador de turismo e os países muito dependentes do mesmo, como é o caso da maioria dos

destinos insulares de sol e praia, entrariam em colapso. Em termos pessoais, assistir-se-ia a um empobrecimento cultural generalizado”. Cláudia Alves, master de Estratégia da Brandia Central, chama a atenção para o facto de que quanto mais conheceremos mais inovamos: “O diminuir da distância que, muitas vezes, existe entre criativos e o mundo real, acontece sobretudo se nos deslocarmos de um contexto urbano para outras realidades do País e mergulharmos mais profundamente na nossa cultura. No entanto, ficar confinado a ela retira-nos a possibilidade de absorver outras culturas e, tendo em conta que a criatividade é maioritariamente um processo de combinar ideias >>>

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“Tendo em conta a actual situação económica, é normal que se peça aos portugueses que apoiem os produtos próprios, aumentando o consumo e os investimentos no país. Pede-se aos portugueses que contribuam para Portugal”

Gosta: Nazaré, Alentejo

“Sou sempre a favor da promoção do que é nosso. No entanto, se todos os presidentes da República de outros países fizessem o mesmo pedido, Portugal estaria em maus lençóis. Mas, nesta situação particular, penso que não fará sentido fazer férias lá fora”

“O pedido já devia ter sido feito no passado. A crise não deveria ser o motivo impulsionador para promover o turismo no nosso país aos portugueses. No entanto, por vezes, as férias cá dentro ficam tão caras como fazê-las lá fora”

Gosta: Costa Vicentina, Gerês e Açores

Gosta: Costa Alentejana, Algarve, Óbidos

Patrícia Salas Directora da Ulled Comunicação Lisboa

Fernando Baptista Head of Lewis PR Lisboa

de um modo novo, quanto mais coisas, situações e perspectivas conhecemos, maior é a probabilidade de inovar. Se pensássemos assim, Portugal estaria em maus lençóis” A estratega da Brandia puxa dos números para provar o seu ponto: “O turismo é, sem margem para dúvidas, um grande motor socioeconómico, responsável por 30% das exportações de serviços ao nível mundial. No caso de Portugal, por exemplo, o número de chegadas internacionais anuais excede o número de residentes no País e, acrescendo a este facto, deve ainda referir-se a superioridade do poder de compra dos consumidores internacionais, responsáveis, segundo dados de 2008 do Turismo de Portugal, por 67% do total de receitas turísticas do nosso país. Neste caso,

Portugal teria muito a perder”. De acordo com os dados oficiais do Banco de Portugal, os portugueses que fizeram no ano passado férias no exterior gastaram 2,7 mil milhões em viagens e turismo. Mas, também em 2009, os turistas estrangeiros que nos visitaram, deixaram cá 6,9 mil milhões de euros – ou seja, 2,5 vezes mais do que nós gastamos com as férias no estrangeiro. Sobre quem beneficia com as férias cá dentro, as opiniões são unânimes. “À cabeça, claro, a hotelaria, restauração, cervejas, gelados mas também gasolineiras, museus e outro tipo de instituições culturais abertas ao público”, afirma Filipa Serpa Soares. “Para além da hotelaria, a restauração e com ela todas as marcas de compra por impulso, desta-

Andreia Amaro Directora de Comunicação da Add

“É importante, antes de conhecermos o mundo lá fora, que conheçamos o que temos por cá. Por vezes pensamos que já conhecemos tudo, mas isso é impossível. Há muito para descobrir”

Gosta: Costa Vicentina, Douro

Sara Lajas Consultora First Five Consulting

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A primeira critica ao apelo de Cavaco veio do interior do Governo socialista. “Só espero que os presidentes dos outros países não façam o mesmo apelo, caso contrário perdemos uma fonte de receitas importante. Há muitos turistas estrangeiros que vêm a Portugal”, avisou o ministro da Economia, Vieira da Silva

cando-se os snacks e as bebidas. As telecomunicações móveis também devem sair beneficiadas, assumindo que em território internacional o roaming desencoraja a maioria das pessoas”, acrescenta Nuno Moreira. “Pela sua natureza, o sector que beneficia mais directamente com as férias em território nacional é o da hotelaria, sobretudo se considerarmos que uma cama não vendida não é vendável mais tarde. O produto não se armazena. Esgota-se e perde-se, se não conseguir vender-se e, desde logo, isto exerce uma pressão acrescida. Depois disto, todas as marcas e sectores sujeitos a uma maior sazonalidade, e cuja época de maior consumo é o Verão, têm mais benefícios, uma vez que esse é o período de maior incidência de férias dos consumidores portugueses”, concluiu Claúdia Alves. O novo agregador do marketing.


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