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Entrevista
Hermínio Santos jornalista hs@briefing.pt
“É óptimo os estudantes terem acesso à tecnologia embora isso não seja o mais importante para ter sucesso escolar. Essencial é ter bons professores, escola e famílias que criem um ambiente propício ao estudo, o que exige trabalho, concentração e determinação. A banda larga é um instrumento, mas não um fim em sim mesmo. A iniciativa Magalhães transformou-se num problema político”, afirma Diogo Vasconcelos, 42 anos, presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC)
Diogo Vasconcelos, presidente da APDC
Ramon de Melo
“Magalhães transformou-se num problema político”
Fibra | Qual o balanço que faz do seu mandato à frente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Telecomunicações (APDC)? Qual é marca que deixa na instituição? O novo agregador das comunicações
Diogo Vasconcelos | Acho que é muito positivo, ao longo destes três anos, não só foi possível fazer uma ampla reestruturação interna, como, sobretudo, relançar a associação e torná-la relevante.
O que fizemos foi, numa primeira fase, colocar na agenda o tema da urgência do país em avançar com novas infra-estruturas de comunicações – e isso foi conseguido – e, numa segunda fase, o >>>
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“As comunicações, hoje em dia, são as artérias vitais da sociedade. De maneira que valem não só por si mas também por aquilo que hoje em dia permitem fazer”
tema de como mudar o paradigma competitivo português através das oportunidades que essas novas infra-estruturas criam. Para que tal aconteça tem que haver um conjunto de novos modelos de negócios, novos serviços, novas aplicações e isso só se faz com uma grande interacção entre o sector das comunicações e das tecnologias de informação e todos os outros que podem beneficiar com isso. Por isso, numa segunda fase, estivemos a trabalhar sobre como é que se pode criar esse tipo de ecossistema colaborativo. Todas as grandes crises do passado deram origem a novos períodos de crescimento que foram moldados pelo crescimento de novas indústrias facilitadas por novas infra-estruturas. Esta crise deveria ser um turning point e para isso é preciso focar os recursos escassos que existem na inovação em todas as áreas: empresas, sociedade e serviços públicos. Onde vemos um problema, devemos ser parte da solução; foi essa a postura da APDC. Identificar os desafios que a sociedade portuguesa enfrenta e mobilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para criar novas respostas.
“Todas as grandes crises do passado deram origem a novos períodos de crescimento que foram moldados pelo crescimento de novas indústrias facilitadas por novas infra-estruturas”
Fibra | A APDC também deixou de ser apenas comunicações e passou a integrar as tecnologias de informação… DV | As comunicações hoje em dia são as artérias vitais da sociedade. De maneira que valem, não só por si, mas também por aquilo que hoje em dia permitem fazer. Mudaram radicalmente a forma como o mundo se organiza. Fibra | Mas a integração das tecnologias de comunicação foi uma aposta deste mandato. DV | Claramente. As comunicações são indispensáveis mas, na prática, existem não como um fim em si mesmo. TIC e comunicações são coisas que têm de andar a par e par. Quando se fala hoje de inovação normalmente tendese a falar na área empresarial mas entendo que o conceito de inovação é muito mais vasto. É também 32
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“Esta crise deveria ser um turning point e para isso é preciso focar os recursos escassos que existem na inovação em todas as áreas: empresas, sociedade e serviços públicos”
a nossa capacidade de inovar na sociedade, o que significa criar novas respostas aos grandes desafios que a sociedade enfrenta. Um tempo de crise deve ser um tempo de grande criatividade social. E é durante estes tempos que tudo fica em aberto, onde se podem e dever discutir novos futuros possíveis. Fibra | Implica mudar comportamento, atitudes… DV | Mais do que isso. Um exemplo prático. Daqui a 20 anos, 1/4 dos portugueses terá mais de 65 anos. Obviamente que a sociedade não está preparada para isso. Parte da resposta tem a ver com as pessoas estarem ligadas entre si e aos serviços de que necessitam, para poderem ficar nas suas comunidades com um certo tipo de apoios em vez de irem para soluções institucionais, desde muito cedo. Isso passa por uma colaboração muito grande entre as comunicações e muitos outros sectores. O mesmo se diga na área da saúde. Grande parte das despesas da saúde é com doenças crónicas, com as quais temos de viver ao longo de muitas décadas. A solução não passa por mais hospitais ou mais médicos, passa por dar mais poder aos doentes para que eles sejam capazes de cuidar melhor de si próprios. Significa que o sector das comunicações tem que abrir a sua cadeia de valor, convidando outros sectores a co-criar novas soluções. Fibra | Ou seja, as TIC estão em toda a parte. DV | São um enabler. Antes as tecnologias eram um dos drivers da inovação, hoje em dia são um enabler, facilitam. E o facto de estarem disponíveis de forma massificada, a um preço cada vez mais acessível, faz com que deixe, na prática, de fazer grande sentido a distinção entre high tech e low tech. Algumas das inovações mais interessantes nem sequer surgiram nos países ocidentais. Quem popularizou os pagamentos por SMS não foi nenhuma empresa de Sillicon Valley. Foi o Quénia, com o O novo agregador das comunicações
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M-Pesa. É um país enorme, onde quase ninguém tinha conta bancária, nem onde guardar o dinheiro com segurança, nem tinha sequer forma de enviar dinheiro para a família. A Safari Telecom concebeu um software que permitiu que uma pessoa, em qualquer loja acreditada, possa entregar dinheiro, que é creditado no telemóvel, e enviado por SMS. O próprio governo queniano paga os ordenados através do sistema, que hoje está em 21 países, mudando de forma radical o acesso ao crédito, como o impacto que isso tem. O próprio micro crédito não foi inventado em Wall Street, nasceu no Bangladesh e só é possível por causa da tecnologia muito barata, que permite operações de muito baixo custo. Mesmo em tecnologias mas avançadas, a fibra óptica, por exemplo, os indianos já estão a desenvolver modelos com custos baixos. Jorge Souto | As dinâmicas demográficas ditam uma cada vez maior percentagem de população com mais de 65 anos. Qual o papel das TIC na melhoria da qualidade de vida destes cidadãos e como pode a APDC ser um agente catalisador nesta mudança? DV | O papel das TIC é fundamental porque a nova visão do envelhecimento é as pessoas estarem ligadas ao trabalho, por exemplo. Deveriam ser experimentados sistemas mais flexíveis. É um erro as pessoas reformarem-se tão cedo. Não se deviam reformar numa sexta-feira, saírem às seis da tarde e depois, na segundafeira seguinte, terem 20 anos à frente sem nada para fazer, que é o que acontece. As grandes questões das pessoas mais idosas são isolamento, depressão e solidão. Isso significa que tem de haver cuidados de saúde personalizados que permitam às pessoas estarem contactáveis e poderem contactar alguém a partir das suas casas. Mas, acima de tudo, importa que sejam reconhecidas como um activo valioso e não como um fardo pela sociedade. A tecnologia é vital, mas não chega. É preciso
“A nova fase é a do Estado a inovar com as pessoas. Não se limita a prestar serviços às pessoas mas devolvelhes poder para elas co-criarem serviços. Isso significa que não basta entregar serviços, é preciso mobilizar os recursos da sociedade para que ela possa ter um papel mais activo”
Jorge Souto director do mestrado em Audiovisual e Multimédia da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa
combinar inovação tecnológica com inovação social. A pedido da vice-presidente da Comissão Europeia, Nellie Kroos, responsável pela Agenda Digital, integrei um pequeno painel de alto nível encarregue de avaliar o programa Ambiente Assisted Living, que financia o desenvolvimento de novas tecnologias para aumentar a independência das pessoas mais velhas. Falei com gente de toda a Europa, desde as operadoras de telecomunicações a governos locais e nacionais. Apesar da mais-valia do programa, o que temos não passa ainda de um mercado de projectos-piloto. Andamos a encher de gadgets as casas dos séniores, temos de passar a inovação em larga escala. Isso implica, novos tipos de colaboração entre o sector público e privado, design e envolvimento dos utilizadores. A nossa reflexão levou a Comissão Europeia a escolher o tema Active and Healthy Ageing para testar o conceito de European Innovation Partnerships. O objectivo é criar mais dois anos de vida com saúde para todos os europeus. Se as pessoas perceberem que a linha da frente da saúde não apenas é o hospital, é o supermercado, o ginásio, a escola, o centro dia, são as suas casas, percebem que o facto de estarem informadas é boa parte da resposta para esta nova visão para o envelhecimento. Portugal precisa rapidamente de uma estratégia para esta área.
“É um erro as pessoas reformarem-se tão cedo. Não se deviam reformar numa sexta-feira, saírem às seis da tarde e depois, na segunda-feira seguinte, terem 20 anos à frente sem nada para fazer, que é o que acontece”
Fibra | A Comissão Europeia divulgou as conclusões de um estudo sobre disponibilidade de serviços públicos online, onde Portugal aparece em 1.º lugar, entre 32 países, empatado com a Áustria e Malta. Sente que este resultado se deve muito ao trabalho que desenvolveu como presidente da UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento? DV | Claro que houve muito trabalho de fundação feito na altura em que trabalhei com o Governo, entre Novembro de 2002 e Julho de 2005. Acho muito positivo que Portugal evolua nesses rankings, >>>
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que vão ter de evoluir no futuro porque hoje em dia o grande desafio é passar do e-gov para o we-gov. Ou seja, todo o esforço de modernização que houve até agora na administração pública, em todos os países da OCDE, foi ligado à ideia de performance; entregar mais e melhores serviços; fazer “para as pessoas”. O grande desafio hoje é motivar os utilizadores a gerar os seus próprios conteúdos e soluções. O grande debate é saber se devemos melhorar o modelo ou se devemos mudar de modelo. Não é uma resposta óbvia porque há diferentes perspectivas sobre isso.
“O Governo não tem uma estratégia para a web social. Não existe pois o que temos é ainda uma noção, diria, 1.0. do poder. O poder é visto ainda como um exercício de “comando e controlo” e não como um exercício de orquestração colectiva, de mobilização da sociedade”
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Fibra | Defende que deve ser mudado? DV | Sim, claramente. Daí o meu empenhamento na inovação social. Nas últimas décadas, tivemos um Estado acima das pessoas (segurança, guerra), depois (logo a seguir à Segunda Guerra Mundial), um Estado a servir as pessoas (welfare State). É chegada a hora de uma terceira revolução: um Estado a criar e inovar com as pessoas (inovação social). Isto é: não se limita a prestar serviços às pessoas mas devolve-lhes poder para elas co-criarem serviços. Isso significa que não basta entregar serviços, é preciso mobilizar os recursos da sociedade para que ela possa ter um papel mais activo. Isto – e é uma opinião enquanto cidadão – tem a ver com expectativas crescentes que temos, como cidadãos informados: expectativas de emporwerment, de feedback, de participação. Somos consumidores passivos, ou cidadãos activos e exigentes, empenhados na construção do futuro? O serviço público é prestado pelo próprio Estado ou este é uma plataforma aberta, onde podemos participar? Devemos falar em serviços públicos ou em orçamentos públicos, dando espaço para os cidadãos participarem, com a sua criatividade e energia, na prevenção dos problemas? O Estado deve canalizar os nossos impostos para resolver problemas ou capacitar a sociedade civil a de-
“A agenda económica em Portugal não pode ser apenas as das grandes empresas de hoje mas, sobretudo, é necessário criar condições para que haja novas empresas grandes amanhã. Nenhuma empresa, por maior que seja, consegue inovar sozinha. As empresas, tal como o Estado, devem ser plataformas de inovação”
“É um erro da nossa política económica a obsessão com alguns mercados em que Portugal se pode tornar relevante porque lhes empresta credibilidade – Líbia, Venezuela. São mercados interessantes para certas áreas que têm pouco valor acrescentado. Uma empresa só aprende com clientes exigentes e os mercados mais exigentes não são esses”
senvolver novas soluções? Aquilo que é bonito e interessante na APDC é ser, ao longo dos seus 25 anos, uma entidade da sociedade civil no seu melhor, independente, livre. A sociedade civil é um espaço de respiração absolutamente vital numa democracia madura. A grande prioridade das políticas públicas deve ser desenvolver as capacidades da sociedade e não alimentar a doce ilusão dos tempos modernos, de um futuro garantido pelo Estado. Fibra | Tendo em conta a sua análise, considera que a APDC deu um contributo positivo para o desenvolvimento das TIC em Portugal? DV | Sem dúvida. Através de uma análise das centenas de vídeos disponíveis no Canal de TV da APDC (http://tv.apdc.pt), pode ver a evolução dos temas em discussão nos últimos três anos. O primeiro debate que fizemos foi sobre as redes de nova geração. Foi um contributo para colocar a questão na agenda e acelerar as decisões que eram necessárias tomar, do ponto de vista do mercado, do regulador e do Governo. Creio que a APDC deu um excelente contributo para que Portugal avançasse e estivesse na linha da frente na construção de redes de nova geração, entretanto assumida, e muito bem, como uma prioridade politica. A própria APDC estimulou o Governo a criar uma solução de financiamento para as redes de nova geração com o Banco Europeu de Investimentos e, numa segunda fase, a criação de duas iniciativas de financiamento de novas aplicações, uma para empresas e outra para a administração pública para criar novos serviços. As redes do futuro são a chave para novos empregos, novas competências, novos mercados e para a redução de custos e um investimento necessário e complementar de outras infra-estruturas, permitindo-lhes ser “inteligentes”. Mas sem novos serviços, a apetência por estas redes ficará muito aquém do seu potencial. Os grandes drivers do progresso e da O novo agregador das comunicações
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mudança terão de ser a criatividade e a inovação de consumidores e empreendedores na criação de novos modelos de negócio e no estímulo a novos padrões de consumo. Outro debate que lançámos foi o do impacto das tecnologias de informação na eficiência energética. Na sequência da iniciativa mundial Smart 2020, fomos a primeira associação a fazer um relatório sobre a realidade nacional, o Smart Portugal 2020, coordenado pelo engenheiro Jorge Vasconcelos. Esse trabalho permitiu calcular o valor económico da utilização das TIC em vários sectores, redes eléctricas, indústria, imobiliário, transportes. Como é que essa eficiência energética contribuía, não só para os objectivos com que Portugal se comprometeu em termos da estratégia europeia, mas também como isso criava novas oportunidades e serviços e qual o valor económico que isso gerava. Fibra | Temos melhor e-gov, uma boa rede de fibra óptica, o Magalhães, mas o país não avança, continua na cauda da Europa. O que se passa? DV | Há vários países dentro de Portugal. Há um que avança e é muito competitivo, a nível global, e há outro que está excessivamente dependente do Estado. Acho que se verifica em Portugal um fenómeno que é comum a outros países da Europa continental: somos melhores a conservar o que temos, do que a dar as boas vindas ao que chega de novo. O grande desafio que Portugal e a Europa enfrentam é o de mudança estrutural, e isso passa por novas empresas que cresçam rapidamente. Essas são as empresas que criam mais emprego. Por exemplo, nos últimos sete anos, nos EUA, 74 por cento do emprego líquido não foi criado nem pelas grandes empresas que existiam há muito tempo nem pelo próprio Estado, mas sim pelas young innovative companies – empresas jovens mas que crescem rapidamente. Nem todas são assim, obviamente, mas estas criam emprego mais qualificado e fazem produtos mais competitiO novo agregador das comunicações
vos. A agenda económica em Portugal tem de mudar: a prioridade não pode estar nas grandes empresas de hoje, mas nas grandes empresas de amanhã. É daí que virá o emprego. A inovação radical é a única forma de criar emprego: novos produtos por novas empresas para novos mercados. Nenhuma empresa, por maior que seja, consegue inovar sozinha. As empresas, tal como o Estado, devem ser plataformas de inovação.
Pedro Seabra ceo ViaTecla
“Somos consumidores passivos ou cidadãos activos? O serviço público é prestado pelo próprio Estado ou podemos ter uma palavra a dizer? Devemos falar em Orçamento do Estado ou em orçamento público, gerido pelos cidadãos? O Estado deve subsidiar ou capacitar a sociedade civil a desenvolver novas soluções?”
Pedro Seabra | Que conselho dá às empresas tecnológicas para se internacionalizarem? Num ecossistema altamente competitivo e com países já há muito posicionados na venda global, com o lobby e o modelo montado, onde Portugal pode vir a ser competitivo? DV | Transformarem-se em empresa meta-nacionais, que não estejam dependentes de uma estratégia do sítio onde nasceram. Significa encontrarem a nível mundial gente que com elas possa colaborar. Tentar interessar investidores internacionais de venture capital, incluindo corporate investors, e não ficarem dependentes apenas do mercado português. No nicho em que entrarem, tentarem ser das melhores a nível mundial. É fácil de dizer mas difícil de concretizar. Há um país pequeno que conheço relativamente bem, que é Israel, que pode ser claramente apontado como exemplo de uma politica de inovação bem sucedida. Em 40 anos passou de um país que vendia laranjas e têxteis de baixo valor, para ser o país que mais investe em I&D, o segundo em skils tecnológicos, o único em que 1/3 das exportações são tecnologia avançada. É o primeiro país não americano no Nasdaq e o segundo no mundo em termos de atracção de venture capital. Como é que um país pequeno se transforma em poucas décadas numa start-up nation? Focaram a sua politica de inovação na criação de novos produtos capazes de vencer nos mercados mundiais mais exigentes. A nossa política económica tem estado obcecada com
“Acho que se verifica em Portugal um fenómeno que é comum a outros países da Europa continental: somos melhores a conservar o que temos, do que a dar as boas vindas ao que chega de novo”
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mercados em elevado crescimento – como Angola – ou em que Portugal se pode tornar relevante porque lhes empresta credibilidade – Líbia, Venezuela. Uma empresa só aprende com clientes e mercados exigentes. Israel apostou em mercado muito exigentes: japonês, sul-coreano, alemão, norte-americano. No caso concreto de Portugal é preciso dar visibilidade às melhores empresas portuguesas tecnológicas para que elas possam atrair capital de risco internacional. O nosso capital de risco é demasiado nacional e demasiado bancário. Temos de complementar os investidores nacionais de venture capital com outro tipo de investidores: venture capitalists internacionais e corporate investors. Isso é vital para abrir mercados sofisticados, melhorar a gestão e dar mais mundo às empresas. Fibra | Um artigo assinado por investigadores da Carnegie Mellon University concluiu que a introdução da banda larga nas escolas portuguesas, através da massificação do Magalhães, prejudicou os resultados escolares. O que pensa disso? DV | É óptimo os estudantes terem acesso à tecnologia mas ela não é o mais importante para ter sucesso escolar. O mais importante é ter bons
professores e escola e famílias que criem o ambiente propício ao estudo, o qual exige trabalho, concentração e determinação. A banda larga é um instrumento, não um fim em sim mesmo. A iniciativa Magalhães transformou-se num problema político. Devia ser realizada em escala reduzida, os seus efeitos estudados, tiradas conclusões pedagógicas e depois massificar, analisadas as alternativas possíveis. A forma como se desenvolveu traduziu uma opção política, não uma opção educativa. Na sua génese tem um bom objectivo, que é dotar todos, sem discriminação social, com um instrumento que é fundamental hoje em dia, mas é discutível é que o modelo tenha sido o melhor, em termos pedagógicos, de mercado e de sustentabilidade. Por outro lado, com todo o respeito pela JP Sá Couto, creio que Portugal não qualquer vocação para produzir hardware, é uma actividade com baixo valor acrescentado e que exige uma escala brutal – e é por isso que essa especialização reside hoje no Extremo Oriente – não na Europa nem nos EUA. Onde nos devemos focar é no software educativo: usar a escala desse programa para desenvolver competências neste domínio, onde há menos barreiras à entrada e onde Portugal pode competir com os melhores. Mais importante que o
Magalhães, foi o reforço da banda larga nas escolas, que faz com que hoje Portugal tenha condições ímpares. Dotar cada estudante de um portátil leva-nos à questão de saber se a internet nos torna mais inteligentes ou menos.
António Granado editor multimédia da RTP e professor de Jornalismo na Universidade Nova de Lisboa
PERFIL
O rosto da sociedade da informação Vive em Londres, é muito requisitado para conferências, seminários e tudo o que tenha a ver com a sociedade do conhecimento. Nada de extraordinário num homem que, entre Novembro de 2002 e Julho de 2005, liderou a UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento, criada no âmbito da Presidência do Conselho de Ministros. Naquela estrutura foi responsável pela Sociedade de Informação, e-government e Banda Larga, bem como pela desenvolvimento de iniciativas como os campus virtuais, a Biblioteca do Conhecimento Online, o Portal do Cidadão, as compras electrónicas na Administração Pública, as ligação das escolas em banda larga, o voto electrónico e a rede de Inclusão Digital. A 16 de Maio de 2008, foi eleito Presidente da APDC. É formado em Direito (Universidade Católica) e pós-graduado em Direito das Comunicações (Universidade Coimbra), Gestão e Ciência Política (Universidade Católica).
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“A tradição política portuguesa, e em particular no actual contexto, não é propriamente a de um Governo aberto nesse sentido”
António Granado | Ouvi no congresso iRedes, em Burgos, a responsável pela comunicação das redes sociais do governo chileno, dizer que 21 dos 22 ministros do Chile twitam eles próprios directamente. Veremos alguma vez isto acontecer em Portugal? Quando? O que nos falta para uma maior aproximação entre eleitores e eleitos? Que cinco conselhos daria aos responsáveis políticos? DV | O Governo não tem uma estratégia para a web social. Existe uma estratégia nos EUA, no Canadá, no Reino Unido. Já nem sequer falo ao nível do sector público mas sim da administração pública. Qual é a estratégia para a administração pública estar na web social? Não existe. No Reino Unido, por exemplo, grande parte dos embaixadores tem blogues. Até o próprio ministro dos Negócios Estrangeiro. Aliás, quem começou isso foi o David Milliband. Portugal é um dos países onde há mais distância entre o cidadão e o poder político. Quanto mais distância houver, pior para a sociedade porque o poder rodeia-se de uma certa liturgia e passa a ser um exercício de dependência, ao passo que se a distância for mais curta, o poder é uma actividade de serviço que está permanentemente sob escrutínio, tem a preocupação da transparência. Assume-se como um Governo aberto. Ora, em Portugal, não é essa claramente a ideia. A tradição política portuguesa, e em particular no actual contexto, não é propriamente a de um Governo aberto nesse sentido. Mesmo em França, que é um país conservador, há muitos exemplos de responsáveis da administração pública e do governo que têm blogues, interagem, que não se importam de ser escrutinados. Aqui temos os assessores de imprensa a twittarem em nome dos seus representados. O novo agregador das comunicações