Jornal Enfermeiro, 9

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março 2016 | MENSAL | 2€

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JORNAL ENFERMEIRO c o n t e x to s , c o m p e t ê n c i a s e n e c e s s i da d e s da e n f e r m a g e m

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A eutanásia não é uma alternativa terapêutica! Mara de Sousa Freitas

03 José Carlos Rodrigues Gomes

Lei, ética, coerência e consequência

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Manter a integridade cutânea em situações de imobilização

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Perda de peso e desnutrição no idoso



Lei, ética, coerência e consequência

perentoriamente que a eutanásia se praticava “por baixo do pano” no Serviço Nacional de Saúde. De um coro de críticas a estas posições nasceram (estranhamente, ou talvez não) gritos de “aleluia” à coragem dos denunciantes. Talvez tivesse sido útil, antes de desviar a importância do necessário debate acerca do fim de vida com esta gasolina deitada ao fogo, estudar um pouco os diferentes conceitos envolvidos e não vender gato por lebre. Muito menos pôr em causa profissionais e Serviço Nacional de Saúde por uma necessidade de protagonismo político que não se coaduna com a confiança que todos queremos ter em quem cuida da nossa saúde, e que todos queremos promover no sistema de saúde. Sobre as questões legais destes vários acontecimentos não me pronuncio. Deixo para quem de direito a responsabilidade de avaliar em que medida estas diferentes ações desrespeitaram, ou não, o direito nacional ou internacional. E que esse processo seja célere, claro e coerente e que tenha resultados. Doa a quem doer. Sobre as questões deontológicas deixo também para quem, perante a sociedade, tem responsabilidades na garantia da ética e deontologia profissional na saúde, nomeadamente a Ordem dos Enfermeiros e a Ordem dos

opinião

José Carlos Rodrigues Gomes Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde mental e Psiquiátrica; Doutor em Saúde Pública Professor Coordenador da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria e de respeito pelo outro, serem coerentes e retirar consequências dos seus atos. Coerentes levando para a ação as suas palavras; coerentes cumprindo aquilo que exigem aos outros; consequentes assumindo os seus erros; consequentes no respeito daquilo que representam na sociedade. Talvez nesse momento tivéssemos a lucidez e a calma necessárias para discutir seriamente as questões que nos preocupam. Sejam elas as do fim de vida, do financiamento do sistema ou do planeamento de recursos humanos em saúde. Porque o debate destes temas, e de outros, reconhecendo a opinião de todos, é urgente e necessário. Sem soundbytes. Com respeito e responsabilidade. Assim estaríamos a construir saúde. Com todos e para todos.

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aria Luís Albuquerque foi recentemente convidada para trabalhar para uma empresa financeira que utiliza a “mão invisível” de Adam Smith para ganhar dinheiro. Fê-lo mantendo “naturalmente” o seu lugar de deputada, pago por todos nós, e não vendo nenhum problema em estar nos “dois lados da barricada”. Para além da “riqueza das nações” de Adam Smith talvez tivesse também sido útil a Maria Luís Albuquerque ler criticamente a “teoria dos sentimentos morais” do mesmo autor… Maria Sharapova, apanhada nas teias do doping, negou ter sido previamente informada da ilegalidade do seu ato apesar de admitir que recebeu um documento com a informação que “tinha milhares de palavras, muitas delas técnicas e desconhecidas para as pessoas normais” (sic). Estes documentos legais e estes termos técnicos são certamente complicados, mas também é complicado gerir e negociar patrocínios e imagem e, felizmente, Maria Sharapova tem tido a capacidade de pedir a alguém que a apoie nessa tarefa. Poderia ter feito o mesmo para entender os termos complicados… Nas últimas semanas tivemos vários profissionais de saúde a afirmar

Médicos. Se existe um código a ser respeitado por médicos e um código a ser respeitado por enfermeiros, não podem as ordens profissionais fingir que nada aconteceu. A Ordem dos Médicos já publicitou vontade de averiguar e de proceder deontologicamente em relação aos seus membros que afirmaram publicamente ter desrespeitado as regras da boa prática profissional. Estou certo que o Conselho Jurisdicional da Ordem dos Enfermeiros fará o mesmo perante os enfermeiros que publicamente assumiram desrespeitar as regras da boa prática profissional. Independentemente do-disse-que-não-disse-que-disse que a impreparação e desconhecimento forçou numa vã tentativa de justificar o injustificável. E que o processo seja célere, claro e coerente e que tenha resultados. Doa a quem doer. Quero sim refletir um pouco sobre este catavento de valores que parece assolar a nossa sociedade e que os três exemplos acima bem denunciam. É bem verdade que a lei e a ética não são a mesma coisa. Mas há áreas em que as posições dos diferentes intervenientes públicos deveriam ser pautadas pelo respeito pelo outro e pelos cidadãos em geral. Não pode ser tudo “show-off”. Tem de haver substância: “à mulher de césar não basta ser séria, tem também de parecer séria”. Não basta cumprir a lei, é preciso que quem decide não se sinta acima dos outros, despejando a sua arrogância, tratando os outros como seres menores, isentos de capacidade crítica, seja porque não leu a obra toda de Adam Smith, seja porque não percebeu as palavras complicadas com que denominamos as substâncias de doping, seja porque não faz a mínima ideia do que está a falar, mas fala na mesma. Seria útil passarmos a ter políticos, figuras públicas e outros representantes que soubessem, num verdadeiro sentido de serviço público

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Mara de Sousa Freitas, Coordenadora do Grupo de Reflexão Ética da APCP

A eutanásia não é uma alternativa terapêutica! A questão da eutanásia ascendeu definitivamente ao primeiro plano do debate público, com argumentos pró e contra com origens heterogéneas, envolvendo, nos dois campos, médicos, enfermeiros, políticos, filósofos e gente anónima, de todas as cores políticas e sensibilidades. Na frente “contra” está o Grupo de Reflexão Ética da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos cuja coordenadora, Mara de Sousa Freitas, doutoranda em Bioética pelo Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa e enfermeira do IPO de Lisboa, em entrevista ao nosso jornal, aconselha cautela… E a necessidade de se passar do plano intelectual para o plano da experiência vivida, única forma de se compreender verdadeiramente os conceitos

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ENTREVISTA

de autonomia, autodeterminação, vulnerabilidade e liberdade… Que enformam o debate.

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JORNAL ENFERMEIRO | A Eutanásia entrou mais uma vez na “ordem do dia”, com uma série de intervenções que de alguma forma “baralharam” o público suscitando dúvidas e até receios. Que leitura faz desta nova “investida”? Mara de Sousa Freitas | Parece-me que a entrada na ordem do dia do assunto “eutanásia” foi sobretudo uma questão política. É um tema que diz respeito a todos os cidadãos, à vida de cada um de nós e à forma como o ser humano acolhe a última etapa da vida. Este é um caminho pessoal, único e intransmissível, inscreve-se na narrativa individual, nos projetos, no sentido mais íntimo da vida de cada um de nós. É um assunto delicado, exigente, sério, mas sobretudo um assunto que reivindica grande humanização e, portanto, o envolvimento e esclarecimento claro e inequívoco da sociedade em geral e não apenas de grupos organizados. A “mercantilização”, a “politização” e o apressar de decisões num tema tão importante como este são imprudentes e pouco respeitadores dos valores e princípios individuais. A discussão mais recente, em Portugal, nasce, como sabe, num grupo organizado, no Porto, em Novembro de 2015. Este grupo criou o “Movimento Cívico pela Despenalização e pela Regulamentação da Morte Assistida em Portugal.” Deste movimento

surge também o manifesto que foi tornado público no passado dia 6 de Fevereiro de 2016. Citando o Professor Walter Osswald que disse que “sábios serão os governos se não se precipitarem a legislar em temas de contornos pouco nítidos”, parece-me que esta discussão não pode ser importada, nem tão pouco imposta numa sociedade que ainda tem um longo caminho a fazer, quer ao nível da literacia sobre estes temas (para permitir uma discussão justa, livre e prudente), quer ao nível da disponibilização de cuidados de saúde especializados para a fase final da vida. Em última análise, parece-me fundamental que esta discussão permita o respeito pela sociedade, pelos seus valores e princípios, livre de coações ou quaisquer pressões. JE | Das declarações públicas sobressai alguma confusão de conceitos. Quando falamos de eutanásia, falamos exatamente do quê? MSF | De uma ação – ou omissão – por parte de um profissional de saúde, médico ou não, com intenção de, alegadamente por compaixão, provocar a morte de uma pessoa que se encontra em sofrimento, com uma doença incurável e em fim de vida. O termo tem a sua origem no grego (eu + thanatos), boa morte, ou seja, por outras palavras, pôr

termo à vida, deliberadamente, de uma pessoa com uma doença incurável e em estado terminal, a seu pedido explícito, em nome da compaixão por esse ser que sofre e se encontra em situação de vida indigna e desumana. Uma morte piedosa ou suicídio assistido como eufemismo de eutanásia. A eutanásia diz respeito a uma ação que visa intencionalmente matar. JE | Ou seja tem que haver um pedido do doente para se falar em eutanásia? MSF | Exatamente! E para uma análise séria sobre este tema é necessário considerar aspetos essenciais como o “pedido de eutanásia”, quem pede para deixar de viver (dor, sofrimento, perda de sentido de vida, depressão); aquele que recebe este pedido e como o acolhe (qual a resposta efetiva às reais necessidades daquele que está em profundo sofrimento?). No caso dos profissionais de saúde, face ao acolhimento de tal pedido, como tem sido amplamente discutido, não me restam dúvidas de que o grande desafio é efetivamente ser capaz de ir além da “razão para a morte” e sobretudo assistir para a “morte da razão”; aliviar o sofrimento físico, psicológico, emocional e colaborar na identificação de um sentido harmonioso para que cada pessoa possa manter-se viva até à morte.

Parece-me essencial que não exista qualquer confusão de papéis e, por isso, circunscrever esta discussão ao âmbito dos cuidados de saúde é, não só incorreto, como muito perigoso. A prática da medicina, independentemente da origem profissional, tem na sua origem e missão a defesa da vida e a sua conservação, o mais harmoniosamente possível. Este aspeto tem que ser bem entendido por todos, sob pena de se colocar em causa a confiança na relação entre profissionais de saúde e população, o que seria dramático. A Eutanásia não é, sublinhe-se, uma alternativa terapêutica que possa ser oferecida a um doente que está em sofrimento e em fim de vida, como muitas vezes é sugerido em algumas intervenções do debate público sobre o tema. JE | Eutanásia e suicídio assistido: são sinónimos? MSF | Não os classificaria como sinónimos. Trata-se de um eufemismo, que por vezes tem sido utilizado para descrever a eutanásia. No suicídio assistido a droga letal é prescrita – ou indicada – pelo profissional, mas a ação última – ingestão ou administração por outra forma – que visa pôr termo à vida, é feita pelo próprio doente. No suicídio assistido, como o próprio nome indica, a pessoa é ajudada a terminar com a sua vida.


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JE | A questão da eutanásia conduz-nos necessariamente à dor, ao sofrimento extremo… Não se estará neste debate a descurar a questão dos cuidados paliativos? MSF | Claro! Aliás o manifesto “direito a morrer com dignidade”, pró-eutanásia, tem como principal argumento a valorização privilegiada do direito à liberdade e o respeito pela autonomia das pessoas doentes em grande sofrimento e sem esperança de cura. O Grupo de Reflexão Ética da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (GRÉtica) irá apresentar em breve um documento de reflexão sobre a vulnerabilidade humana e o sofrimento em fim de vida, onde esse aspeto é focado. É importante dizer que o argumento utilizado pelos signatários do manifesto é valioso. De facto, todos nós temos a liberdade e a autonomia como direitos fundamentais e inalienáveis. Só que a “solução” proposta, no entender do GRÉtica, é contrária à própria vida. Utiliza-se este “direito à liberdade” e o “respeito pela autonomia” e a “dignidade da pessoa em fim de vida” de uma forma perversa. Parece-me que é necessário sair do plano intelectual onde a interpretação e tradução destes princípios pode ser feita de forma absoluta, para o plano da experiência vivida. E à luz desta experiência vivida, das situações concretas de sofrimento em fim de vida, compreender os conceitos de autonomia, autodeterminação, vulnerabilidade e liberdade. Quando abordo estas questões, cujo cerne assenta na autonomia individual, relembro as palavras de um professor de Bioética num congresso que há uns anos tive o privilégio de assistir e nunca mais esqueci: “Só existem dois tipos de pessoas que falam de autonomia. As que leram muitos livros ou as que nunca estiveram doentes”. O pedido de eutanásia não pode ser entendido “ipsis verbis”. Os profissionais de saúde têm de compreender esse pedido, ser capazes de “traduzir” o seu sentido, identificar as medidas terapêuticas a implementar; perceber se ele resulta de uma

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componente depressiva muito marcada, pois o estreitamento de consciência inerente, a carga emocional negativa que acompanha o dia a dia do doente que está em sofrimento (dor física, psicológica, esgotamento do seu projeto de vida) retiram a liberdade exigível à licitude de uma decisão ética. Seria desejável que antes de outras discussões em torno do sofrimento da pessoa em fim de vida, e das respostas alternativas para esse sofrimento, pudéssemos garantir o direito a ser cuidada de forma digna, ou seja, como recentemente escrevi num verbete para o Dicionário de Direito da família, “cuidar ativa e globalmente da pessoa que tem uma doença que ameaça a vida significa integrar, além de todo o processo fisiopatológico, a expressão humana da doença, a pessoa enquanto ser único e individual, nos seus valores, crenças, princípios, na sua cultura, nas suas ideologias, na sua história e, portanto, acolher, respeitar, acompanhar e integrar com empatia, ética, compaixão e sabedoria os fundamentos do seu ser e da sua existência a cada momento, em cada gesto, em cada ação e em todas as decisões, até ao momento da sua morte”, portanto, o direito a ter cuidados paliativos.

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JE | Se os cuidados paliativos funcionassem e fossem acessíveis a todos os que deles necessitam, o debate sobre a eutanásia faria sentido? MSF | Não lhe consigo responder de forma categórica. O nosso entendimento é que essa é a questão de partida. Ou seja, primeiro é necessário disponibilizar à população os cuidados adequados a cada situação de fim de vida e de sofrimento. Ora, a verdade é que sabemos que em Portugal apenas cerca de 10% da população tem acesso aos cuidados paliativos; uma percentagem muito elevada não é acompanhada em unidades de dor – e a dor não controlada é um dos sintomas apontados como determinantes da perda de qualidade de vida, de sofrimento, de sentimento de inutilidade, que normalmente leva as pessoas a

manifestarem a vontade de não quererem continuar a viver. Também não podemos esquecer que o hospital se transformou no “deslugar” da morte. Houve uma progressiva hospitalização da morte: nos anos 70, em Portugal, menos de 20% dos doentes morriam nos hospitais. Em 2008, 63% das mortes ocorreram nos hospitais e a “hospitalização da morte” acontece, por vezes, em condições mínimas de respeito pela dignidade e humanidade do doente em fase terminal da vida (DeFTV) e das famílias. Estou convicta de que a prioridade é esta, o desafio permanente e gigante e as exigências crescentes. O profissional de saúde tem uma responsabilidade adicional, ética, deontológica e sobretudo humana de acolher o sofrimento da pessoa e encontrar uma resposta que permita minorar esse sofrimento, aconchegar e tranquilizar o seu espírito, como afirma Paul Ricœur numa das suas obras: ajudar o outro a “estar vivo até à morte”.

O profissional de saúde tem uma responsabilidade adicional, ética, deontológica e sobretudo humana de acolher o sofrimento da pessoa e encontrar uma resposta que permita minorar esse sofrimento, aconchegar e tranquilizar o seu espírito

JE | Ortotanásia, como contraponto à distanásia, tem sido apontada como boa prática… MSF | A Ortotanásia é a morte que todos deveríamos ter; a morte natural como o culminar de uma história de vida única e irrepetível, num enquadramento assistencial de saúde com uma intervenção holística que permita suprimir o sofrimento e aceitar o processo do morrer. A distanásia consubstancia uma má prática clínica. É o encarniçamento ou obstinação e futilidade terapêuticas; a intervenção inútil ou desproporcionadamente dolorosa numa situação de doença intratável. As boas práticas clínicas não veiculam tais procedimentos de distanásia, por isso, nenhum profissional de saúde deve prolongar a vida de uma pessoa através de medidas consideradas, à luz da leges artis, como fúteis e inadequadas. A distanásia não respeita a ética nem a deontologia profissionais. JE | O debate em curso deveria ter tido outro ponto de partida? MSF | Seria fundamental auscultar-se a opinião pública e os profissionais de saúde para se perceber se esta é uma necessidade sentida pela sociedade no seu todo. Perceber, também, se os profissionais de saúde se revêm no modo como estas práticas têm sido apresentadas. A meu ver, o modo como a discussão se tem desenrolado põe em risco a confiança, que é o principal alicerce da relação entre os doentes e os profissionais de saúde e do próprio processo terapêutico. Não podemos confundir papéis. Na nossa sociedade, o paradigma dos profissionais de saúde está claramente vinculado ao compromisso com a vida e com as ações em sua defesa; para os profissionais de saúde, conforme afirmam os códigos deontológicos e parecer do CNECV, importa o princípio do respeito pela vida que habita cada ser humano, recusando qualquer procedimento que constitua um atentado contra a vida, o sofrimento ou o desrespeito pela pessoa na sua globalidade.

JE | A falta de confiança pressupõe a “entrada em cena” de um outro conceito, diverso dos que abordámos: o da eutanásia involuntária… Que configura homicídio. MSF | Uma alteração ao paradigma essencial da prática da Medicina, que é o de salvaguarda da vida humana, como valor absoluto, indisponível, através da aceitação de práticas que contribuam para a morte, deliberada, traria alterações significativas à sociedade, como hoje a concebemos, desde logo na relação de confiança das pessoas nos profissionais de saúde. Parece-me que esse é um risco que não podemos correr. No GRÉtica acreditamos que a discussão deve centrar-se na vida e no modo de afastar os motivos que podem levar uma pessoa a não desejar viver. Nos meios de que hoje dispomos para que uma pessoa – todas as pessoas – possam ter uma boa morte. JE | No meio da contenda… Temos os profissionais de saúde. MSF | A experiência da doença, da fragilidade e do sofrimento em fim de vida evocam a dimensão ontológica do ser humano e reenviam-nos para a condição de vulnerabilidade que é objeto de um princípio ético que requer cuidado para os vulneráveis, nomeadamente para aqueles cuja autonomia ou dignidade ou integridade podem estar ameaçadas, como é o caso da pessoa em sofrimento no fim da vida. Cada um de nós – o “eu” existe em relação com um “outro”, não existe “eu” independente; logo, o importante é a relação que convoca em nós o dever de responsabilidade (responder ao “outro”, à vulnerabilidade do “outro”) e de solicitude. A vulnerabilidade da pessoa em fim de vida implica uma resposta dos profissionais, a nossa responsabilidade, a nossa solidariedade e a nossa solicitude. Assim, a solicitude e o cuidado são a consequência do encontro do “eu” com o “outro”. Texto integral disponível na edição online em: www.jornalenfermeiro.pt


Manuel Luís Capelas, presidente da APCP

Antes de se debater a eutanásia há que garantir cuidados paliativos de qualidade nacional

defendendo “o desenvolvimento e equidade no acesso aos cuidados paliativos e a formação dos profissionais de saúde como prioridade nacional e como resposta à eutanásia”. A associação questiona onde estavam os signatários, inclusive os que “exercem altos cargos na área da saúde”, quando a APCP, a Entidade Reguladora da Saúde e o Observatório Português dos Sistemas de Saúde revelaram que mais de 90% dos doentes que precisavam de cuidados paliativos não tinham acesso a estes cuidados, que mais de 50% morriam à sua espera e que os profissionais da maior parte das equipas eram em “número insuficiente e inadequadamente formados”. “Não nos lembramos de nenhuma voz ter mostrado preocupação com essas pessoas, que tinham altas probabilidades de estar em sofrimento”, lamenta Manuel Luís Capelas.

Em Portugal entre 72 mil e 86 mil doentes necessitam de cuidados paliativos Um estudo do Observatório Português dos Cuidados Paliativos, apresentado em janeiro, revela que cerca de 51% dos doentes internados nos hospitais eram doentes paliativos e cerca de 16% eram doentes paliativos com prognóstico de 15 dias de vida, no entanto, apenas 7%, dos primeiros, e 10%, dos segundos, estavam referenciados para equipas de cuidados paliativos. Isto porque os seus médicos consideraram que ainda os conseguiam curar ou por estes ainda estarem a fazer o respetivo tratamento, refere o estudo. “Não será esta prática obstinação terapêutica? Será que perante este sofrimento o doente, ao pedir a eutanásia, não estará antes a pedir

Onde estavam os signatários, inclusive os que “exercem altos cargos na área da saúde”, quando a APCP, a ERS e o OPSS revelaram que mais de 90% dos doentes que precisavam de cuidados paliativos não tinham acesso a estes cuidados, que mais de 50% morriam à sua espera e que os profissionais da maior parte das equipas eram em “número insuficiente e inadequadamente formados”. “Não nos lembramos de nenhuma voz ter mostrado preocupação com essas pessoas, que tinham altas probabilidades de estar em sofrimento”, lamenta Manuel Luís Capelas.

que o deixem morrer, que não lhe prolonguem futilmente a sua vida? Porque é que a discussão gira em torno da eutanásia, e não sobre os mais de 80 mil doentes sem acesso a cuidados paliativos”, questiona a associação. “Mais uma vez, quer atuar-se nas causas e nos cuidados que ajudam ao alívio do sofrimento, ou simular que se resolve o problema, matando ou ajudando a morrer quem sofre”, adverte Manuel Capelas.

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ntes de se iniciar o debate sobre a eutanásia “é fundamental” garantir o acesso, em tempo útil aos cuidados paliativos e assegurar que estes são prestados por profissionais com formação, defende a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP). A posição da associação presidida pelo Enfermeiro Manuel Luís Capelas surge na sequência da divulgação do manifesto “Morrer com Dignidade”, subscrito por mais de uma centena de personalidades portuguesas das mais diversas áreas, da política à medicina, onde se defende a despenalização da morte assistida. Em comunicado, a APCP, embora reconhecendo que o manifesto surge da preocupação dos signatários com o sofrimento dos doentes, apontando a eutanásia como a solução para este problema “descredibiliza esta lógica de pensamento”,

Para o presidente da APCP, deve existir “um amplo e aprofundado debate público sobre a eutanásia” para garantir “uma total elucidação dos cidadãos”. “No entanto, é necessário uma pedagogia de valores e de princípios que norteiem o debate, para que o discurso não se superficialize em slogans populistas”, defende. A APCP afirma que “será sempre um elemento ativo” neste debate e deixa alguns desafios aos signatários, como o acesso universal a estes cuidados, o reforço das equipas atuais e a reflexão e trabalho conjunto na “perspetiva de encontrar resposta para aqueles cujo sofrimento não consiga ser controlado pelos cuidados paliativos”.

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Anesthesia Assist

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No bolso, sempre disponível!

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busca incessante pelo avanço tecnológico faz parte do nosso ADN. Este avanço garante uma infinidade de novos recursos prontos para serem utilizados na procura da otimização dos cuidados que prestamos. Na área da saúde, a tecnologia configura-se como agente cuja finalidade é tornar cada vez mais eficiente a atividade humana através da produção ou aperfeiçoamento das técnicas, que direta e/ou indiretamente, estão ao serviço do cuidador. Uma nova etapa no meu percurso profissional deu origem a uma ferramenta capaz de auxiliar no dia a dia um conjunto de profissionais com necessidades identificadas, e que por seu turno, contribuíram ativamente para o desenvolvimento da mesma. Começou por ser um índice de referência de fármacos utilizados em anestesia, mas graças à aceitação e novas sugestões, depressa evoluiu para a aplicação “Anesthesia Assist”! A partir desta aplicação, e sem necessidade de acesso à internet, o utilizador pode facilmente aceder a diversos conteúdos úteis no dia a dia de um grupo variado de profissionais, da área de anestesia e/ou que trabalham com o “doente crítico”. O ecrã inicial apresenta uma lista de fármacos cuja dosagem é calculada de acordo com o peso e a idade introduzidos. Assim, é possível calcular rapidamente a dose a administrar de vários fármacos, ou aceder a um lote de favoritos escolhidos pelo

profissão

Pedro Baptista enfermeiro no Bloco Operatório do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE

utilizador. Esta funcionalidade torna-se particularmente útil, uma vez que, é possível calcular instantaneamente a dose por quilograma de peso para mais de cinquenta fármacos, estando também acessíveis informações relativas à utilização dos fármacos em diferentes contextos. Para tornar a leitura e identificação mais fácil, os fármacos estão categorizados por cores de acordo com a sua ação (norma ISO 26825-2008(E)). São várias as pequenas

utilidades que fazem parte desta aplicação, é relevante salientar, o menu “Info” do ecrã inicial com informações relativas à

função ventilatória e valores hemodinâmicos de referência, ou a possibilidade de converter mg/h para ml/h, bem como, a equivalência de corticoides. Está acessível um índice de medicamentos com mais de cem fármacos comummente utilizados em anestesia, contando com uma breve descrição das suas indicações, contraindicações e precauções especiais. Desenvolvida inicialmente em Português, encontra-se traduzida também em Inglês e Espanhol. Foi recentemente adicionada a norma para a Profilaxia Antibiótica Cirúrgica na Criança e no Adulto, da Direção-Geral da Saúde. Resta salientar o facto de existir uma versão gratuita e outra com um custo simbólico para o utilizador, que apenas promove o acesso a algumas funcionalidades antecipadamente, bem como suporta os custos inerentes ao desenvolvimento da aplicação. Trata-se de um projeto em constante atualização e as sugestões para novas funcionalidades chegam a um ritmo difícil de acompanhar, mas o mais gratificante é constatar que se trata de uma mais-valia no dia a dia de muitos colegas!

ReferÊncias Direção-Geral da Saúde, Norma nº 031/2013 de 31/12/2013 atualizada a 18/12/2014; | Fármacos e Procedimentos em Anestesiologia (serviço de Anestesiologia do Hospital de São João); | Manual de Procedimentos do Serviço de Anestesiologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil EPE; | Sota Omoiguis (Anesthesia Drugs) - 3rd edition.


Cultura de segurança nos cuidados de saúde: realidade ou utopia? opinião

Susana Ramos Especialista em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica Mestre em Infeção em Cuidados de Saúde Coordenadora do Gabinete de Gestão do Risco do Centro Hospitalar de Lisboa Central Elemento efetivo representante da Ordem dos Enfermeiros na Comissão Sectorial para a Saúde do Instituto Português da Qualidade Enfermeira Chefe no Centro Hospitalar de Lisboa Central

reativa, calculada, proactiva e participativa. Se olharmos para a cultura de segurança das várias instituições de saúde em Portugal e para os resultados publicados no relatório da DGS e APDH (2015) sobre a avaliação da cultura de segurança nos hospitais, podemos afirmar que temos uma grande percentagem de instituições com um nível de maturidade “calculada” e também com um nível de maturidade “reativa”, em vez de “proactiva” e “participativa”. Quanto à cultura de segurança nos cuidados de saúde primários, podemos afirmar que esta diferença de maturidade é ainda mais evidente. Neste relatório constatou-se uma baixa adesão dos profissionais na resposta ao questionário (taxa de adesão global 18,3%) e que a cultura de segurança do doente ainda não é amplamente assumida como uma prioridade pelos profissionais e pelas instituições e, a cultura de notificação e aprendizagem com o erro é fraca (63% dos profissionais não efetuaram qualquer notificação nos últimos 12 meses). Demonstrado ainda a baixa adesão à notificação, a qual, na nossa opinião, se deve a aspetos culturais, ao medo da punição e da culpabilização e do “olhar céptico” de muitos profissionais, relativamente à integridade e à confidencialidade deste tipo de sistemas. Importa referir que assistimos de modo impávido e sereno a uma perda gradual da confiança na relação “doente-profissional de saúde”, desencadeada pela forma como a comunicação social faz chegar ao cidadão a informação sobre os eventos adversos que ocorrem nas nossas instituições. É urgente que os profissionais e as organizações de saúde demonstrem mais honestidade

Para que exista segurança nos cuidados de saúde é essencial que os profissionais desenvolvam a sua atividade em ambientes seguros e adotem boas práticas em todos os momentos

e transparência para com o cidadão, devendo ser assumido que não existe segurança total nos cuidados de saúde, mas que é uma preocupação constante e um compromisso permanente dos profissionais e das instituições, e que o próprio doente e família poderão contribuir para aumentar a sua segurança. Para tal, há que assumir efetivamente, que os cuidados de saúde, devem ser centrados no doente/família e a segurança nos cuidados de saúde é um compromisso de todos. O enfermeiro desde sempre e ao longo destes últimos anos tem demonstrado um grande empenho nestas matérias e tem desempenhado um papel fulcral para a mudança da cultura de segurança nos vários contextos de cuidados e nas organizações de saúde em geral.

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Atualmente, os conceitos “Segurança do Doente” e “Cultura de Segurança” nos cuidados de saúde são assumidos como uma prioridade por gestores e pelos profissionais de saúde de muitas instituições de saúde em todo o mundo. Contudo, infelizmente, estes conceitos ainda não são aceites integralmente por todas as pessoas, e aqui incluímos não só os profissionais de saúde, mas também o cidadão em geral. Para que exista segurança nos cuidados de saúde é essencial que os profissionais desenvolvam a sua atividade em ambientes seguros e adotem boas práticas em todos os momentos, evidenciando sempre cuidados seguros. No entanto, sabemos que os cuidados de saúde são cada vez mais complexos e especializados, com recurso a tecnologia mais avançada, ocorrendo num quadro de crescente globalização e mobilidade de profissionais de saúde e de doentes de diferentes nacionalidades. A “Segurança Total” é uma grande responsabilidade assumida pelas organizações de saúde e profissionais, se olharmos atentamente para as questões de segurança nos vários contextos ambientais e sistémicos a que os profissionais de saúde estão sujeitos e que podem ter um grande impacto e implicações na segurança dos doentes e dos próprios profissionais. Será a assunção desta responsabilidade e compromisso uma utopia? A implementação de processos da qualidade e segurança tem, pelo menos, uma diferença de dez anos entre várias instituições de saúde portuguesas, refletindo deste modo grandes diferenças nos níveis de maturidade da cultura de segurança, a qual, segundo Hudson, se caracteriza como patológica,

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Manter a integridade cutânea profissão

Enf. Beatriz Edra

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Professora na Escola Superior de Enfermagem de Santa Maria, no Porto; Enfermeira na consulta externa de ortopedia do Hospital S. João

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imobilização é um procedimento realizado em diversas situações clínicas no utente do foro orto traumático. É utilizado com diferentes finalidades, como imobilização completa ou parcial, contenção ou compressão de um membro ou de uma área corporal. Decorrente deste procedimento, o utente apresenta uma alteração na sua mobilidade com um grau maior ou menor de dependência, decorrendo assim alguns riscos sistémicos nomeadamente a nível neurovascular e cutâneo. A alteração da integridade cutânea é uma das alterações mais comuns nos utentes com imobilizações, pois pode contribuir para

alteração na funcionalidade da pele designadamente no que respeita à sua função de barreira e proteção. Não podemos esquecer que a pele é a primeira linha de defesa do organismo contra vários tipos de agressões físicas e químicas. Esta possível alteração justifica-se pela técnica de execução da imobilização, que reveste o membro ou área corporal com materiais específicos para realização das imobilizações prescritas, como simples ligaduras elásticas ou malha tubular e ligadura de algodão para aplicação de ligadura gessada seja ela na forma de tala ou gesso fechado. Saliente-se que em algumas situações, os utentes com imobilizações apresentam feridas

cirúrgicas, ou outros materiais como fios de Kirschner, fixadores externos (ambos introduzidos por via percutânea), o que acresce a possibilidade de alteração da integridade cutânea. Sendo que os mecanismos fisiopatológicos envolvidos nesta alteração são muito complexos, a manutenção da integridade cutânea é um dos objetivos primordiais na intervenção de enfermagem nestes utentes. A intervenção do enfermeiro na consulta externa de Ortopedia/ Traumatologia passa pela execução e manutenção das imobilizações de acordo com a situação clínica do utente. Isto para que o objetivo da mesma seja atingido de uma forma eficiente e eficaz, bem como pela execução de outros tipos de procedimentos, como cuidados de penso à ferida cirúrgica e ao material referido anteriormente, que envolvem o manuseamento/ /execução de imobilizações dependente das situações clinicas. Em todas as intervenções de enfermagem inerentes aos utentes com imobilizações, para além da componente técnica específica a cada um deles, a manutenção da integridade cutânea passa pela avaliação do sistema cutâneo, avaliando assim a necessidade de uma intervenção mais específica, como aplicação de produtos terapêuticos com ação específica, e pela aplicação de creme gordo. A utilização desta substância previne a desidratação da pele, melhora a sua elasticidade e promove o processo de cicatrização, favorecendo deste modo a prevenção de lesões de pele e otimizando o conforto do utente, pois em muitas situações os doentes apresentam pele descamativa, prurido e em alguns casos fissuras. O ensino ao utente inicia-se desde o primeiro contato, desenvolvendo um conjunto de ações que promovam desde logo a sua recuperação funcional, que incide

não só nos cuidados específicos à imobilização (exemplo: duração da imobilização, não molhar, não introduzir objetos entre outros), as limitações da mobilidade de acordo com a imobilização e situação clinica, plano de exercícios, mas também pela consciencialização da necessidade de uma alimentação equilibrada, cuidados de higiene e hidratação adequados, que passa pela aplicação de creme gordo.

Nas intervenções aos utentes com imobilizações, para além da componente técnica específica, a manutenção da integridade cutânea passa pela avaliação do sistema cutâneo, avaliando assim a necessidade de uma intervenção mais específica, como aplicação de produtos terapêuticos com ação específica, e pela aplicação de creme gordo


Um 7.º momento… … a teimosia e a persistência em não reconhecer na prestação de cuidados, as competências dos EESMO na Assistência Pré-Natal.

OPINIÃO

“As coisas que queremos e parecem impossíveis só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica.” Mahatma Gandhi Reconhecer aos EESMO as suas competências no terreno apenas confere à população a capacidade de escolha quanto ao seu profissional de saúde, sem colocar em risco, de forma alguma o bem-estar materno-fetal. Aida Barradas, Ana Lúcia Torgal, Vítor Rocha, Vítor Varela

Procuramos Uma Gravidez Normal = Um Parto Normal Os EESMO tem que controlar a assistência pré natal. Sofremos muitos bloqueios tanto técnicos, a nível organizacional como políticos. Por outro lado, temos uma obstetrícia defensiva, não temos casas de partos, não temos as questões legais bem resolvidas como seja por exemplo o parto em casa/domicílio, que não é uma opção para a mulher grávida, não está incluído no SNS. Temos muito pouca evidência científica produzida em Portugal por Portugueses. Temos tido governos sucessivos que não respeitam os direitos humanos do nascimento, IGNORAM as mulheres grávidas na sua maioria, culturalmente com pouca autonomia e pouco determinadas. Não podem escolher um EESMO como opção para a sua assistência

Vítor Varela Presidente da Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica da Ordem dos Enfermeiros pré-natal, têm dificuldade em escolher o lugar de nascimento do seu filho, têm dificuldade em ter liberdade de acessoa outras opiniões. Existe um binómio que temos de alcançar e defender: EESMO fortes / Mulheres fortes Criamos então o Programa de Atualização em Assistência Pré-Natal. Este programa pretende fornecer a informação para ajudar: • Os EESMO a integrar a evidência com a experiência, ou seja, o juízo clínico, na prestação de cuidados; • Os EESMO no seu diálogo/

/consulta com mulheres acerca da adequação de várias opções de cuidados maternos. A realização deste programa não seria possível sem a colaboração fornecida pelo Grupo de Trabalho e os Órgãos da OE. Este programa tenta nutrir-se numa revisão minuciosa da prática baseada na evidência para os cuidados maternos. Existe muito pouca orientação disponível para os EESMO que querem uma estrutura baseada na evidência para trabalhar, cooperar em parceria nos cuidados com as mulheres em termos individuais. Falta-nos um modelo. Adotá-lo ou criá-lo? Não existe em termos nacionais qualquer tipo de ferramenta consistente, baseada na evidência, para ajudar os EESMO a tomar decisões sobre como e quando discutir os cuidados e/ou consultar outros EESMO e/ou encaminhar, referenciar a prescrição de cuidados da mulher para um outro profissional de saúde qualificado. Temos que encarar os EESMO como os prestadores de cuidados de saúde primários de excelência, na área pré-natal, oferecendo às mulheres uma continuidade de cuidados em cooperação e parceria com outros prestadores de saúde. Encontramo-nos a criar condições à acessibilidade das utentes do Sistema Nacional de Saúde ao exercício pleno das competências dos EESMO. Esta é a prioridade com valor que pode traduzir, mais tarde um ou mais modelos de cuidados maternos colaborativos. Este é o momento do contexto

político para que este programa de atualização em assistência pré-natal se torne consistente com o âmbito da prática dos EESMO no ambiente e espaço nacional, apesar das nossas “enormes” assimetrias. Temos conhecimento que a Direção-Geral da Saúde, não concorda que a assistência pré-natal possa ser assegurada pelos EESMO. Não identifica este tipo de iniciativas e profissionais de saúde como os mais habilitados e seguros, os que fornecem cuidados e que garantem o desenvolvimento para melhorar a prestação de cuidados e serviços maternos. A MCEESMO, espera que este programa de atualização em assistência pré-natal desperte a obrigatoriedade para a tomada de decisão que orienta o exercício autónomo dos EESMO. Que integre os resultados da evidência científica e o respeito pelas características individuais de cada mulher gravida/pessoa, fortalecendo o exercício da obstetrícia centrada na mulher. Espera-se também que este programa de atualização em assistência pré-natal, seja bem recebido aquando da sua replicação nas secções regionais da OE e que possa ser utilizado na maioria das consultas pré-natais em todo o SNS pelos EESMO. A adoção deste programa, pelo SNS e pelos EESMO, oferece cuidados maternos a grávidas, ajudando a assegurar os serviços de obstetrícia a fornecerem cuidados seguros, colaborativos e de elevada qualidade às mulheres e aos seus filhos.

Jornal Enfermeiro é uma publicação multiplataforma de informação entre enfermeiros e as comunidades que com eles interagem // Diretor Vítor Frias (vitorfrias@jornalenfermeiro.pt) // Editor Miguel Múrias Mauritti (miguelmauritti@jornalenfermeiro.pt) // Equipa editorial Andreia Montes (andreiamontes@jornalmedico.pt); Catarina Gomes (catarinagomes@jornalenfermeiro. pt); Cláudia Brito Marques (claudiamarques@jornalenfermeiro.pt) // Diretor de Arte Cátia Tomé (catiatome@newsengage.pt) // Coordenadora Publicidade Sónia Coutinho (soniacoutinho@ newsengage.pt) // Redação Edifício Lisboa Oriente, Av. Infante D. Henrique, 333 H, esc. 45, 1800-282 Lisboa, T. 218 532 916, F. 210 435 935, E-mail: jornalenfermeiro@jornalenfermeiro.pt // Edição multiplataforma impressa e digital enviada para 12.500 profissionais de saúde // Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores // Impressão RPO // Depósito legal 392674/15 // Publicação isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, artigo 12º, número 1A

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Edição

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Perda de peso e desnutrição no idoso

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ransversal às sociedades desenvolvidas, a sociedade atual caracteriza-se pelo envelhecimento demográfico, em consequência do aumento dos níveis de esperança de vida e do declínio da natalidade. O número crescente de pessoas que são consideradas idosas, bem como as consequências a nível individual e coletivo, tornam o fenómeno do envelhecimento aliciante e desafiador e obrigam uma especial atenção à pessoa idosa, colocando novos desafios ao sistema de saúde, concretamente quanto às necessidades de saúde que as pessoas idosas apresentam. Como processo único, individual, dinâmico e complexo, o envelhecimento é acompanhado de várias alterações fisiológicas e metabólicas, especificamente, na relação com os processos de manutenção homeostática e corporal do organismo. O organismo fica submetido a diversas alterações anatómicas e funcionais, com repercussões nas condições de saúde e nutrição do idoso, conduzindo a um maior declínio funcional e a um maior risco de doenças e mortalidade. As condições de saúde, embora não sendo determinantes únicas, têm uma forte influência em prol de uma qualidade de vida cada vez melhor. Nas últimas décadas, temos assistido a um grande avanço no conhecimento na área da nutrição sendo esta uma componente fundamental da saúde da pessoa idosa bem como uma preocupação de saúde pública. De acordo com a American Dietetic Association (ADA), alimentação e nutrição são condicionantes de referência na saúde, bem-estar e qualidade de vida do idoso.

Patrícia Pontífice Sousa

profissão

Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa patriciaps@ics.lisboa. ucp.pt

Nas últimas décadas temos assistido a um grande avanço no conhecimento na área da nutrição sendo esta uma componente fundamental da saúde da pessoa idosa Ao envelhecimento sobrevêm alterações do comportamento alimentar. A perda de peso acompanha o processo de envelhecimento na medida em que ocorre habitualmente uma perda de apetite. Os idosos consomem menos refeições e em

menor quantidade, havendo uma diminuição da despesa energética devido à diminuição do metabolismo basal e da atividade física. O estado nutricional dos idosos sofre influência da interação de diferentes fatores: (i) fisiológicos e biológicos que perturbam o sistema de controlo de ingestão alimentar e a palatabilidade das refeições (resultado de uma ação conjunta do sabor, textura, cheiro e estímulo visual que os alimentos provocam); (ii) psicológicos (perda do cônjuge, depressão, demência, entre outros), (iii) socioeconómicos (acessibilidade alimentar, pobreza, isolamento social, apoio familiar, grau de ensino, entre outros) e (iv) ambientais. Para além dos condicionantes específicos do próprio envelhecimento referidos, também a condição de saúde (polipatologias, doenças crónicas, alterações na mastigação, disfagia, polifarmácia, perda da capacidade funcional e autonomia) e o tempo

de internamento nos hospitais, se constituem como aspetos que podem afetar o estado nutricional do idoso. Resultado de um défice energético-proteico e de micronutrientes necessários ao desenvolvimento e manutenção das funções corporais, a desnutrição constitui uma alteração corporal comum nos idosos, na medida em que, com a idade avançada, o consumo alimentar diminui, causando um desequilíbrio entre o aporte de nutrientes e as necessidades da pessoa idosa. A desnutrição é acompanhada de perda de peso, está associada à diminuição significativa de gordura e massa muscular, conduz ao declínio da funcionalidade, ao aumento da fragilidade e da mortalidade e, consequentemente, à diminuição da qualidade de vida. Esta situação determina um maior grau de vulnerabilidade da pessoa idosa salientando-se como principais sinais de desnutrição: (i) face com despigmentação difusa e dermatite seborreica nasolabial (ii) cabelo seco, frágil, opaco, sem brilho e despigmentado (iii) conjuntiva pálida e seca, cegueira noturna e xeroftalmia (iv) unhas frágeis e em forma de colher (v) xerose cutânea, dermatite e palidez (vi) estomatite angular queilose (vii) glossite, fissuras, atrofia das


ao desinteresse pela ingestão alimentar. Nesta ordem de ideias, as recomendações que mais se destacam são as seguintes: • Tornar refeições visualmente agradáveis, de forma atrativa, usando diferentes sabores, cores, formas, texturas e aromas; • Optar por refeições pequenas, de modo frequente; • Intensificar o sabor dos alimentos confecionados utilizando, sumo de limão, ervas aromáticas ou de especiarias; • Incluir bebidas, como o leite, a sopa, o chocolate quente, que possam enriquecer a ingestão calórica e de nutrientes; • Dar especial atenção ao ambiente, tornando a refeição num momento agradável, numa atmosfera de convívio social; • Dar preferência a alimentos nutricionalmente densos (fruta, leguminosas e hortícolas) ajustados às especificidades dos idosos; • Ingestão de alimentos ricos em fibras, com baixa concentração de gorduras e açúcares refinados e ingestão das quantidades superiores ao número de frações diárias de cada grupo de alimentos; • Evitar alimentos secos e volumosos, muitos quentes ou muito frios;

• Oferecer alimentos, tenros, triturados ou em pequenos fragmentos, facilitando a mastigação; • Oferecer água (diariamente 8 copos) ou outros líquidos durante as refeições ou em intervalos regulares; • Reduzir o consumo de açúcar, sal e bebidas alcoólicas; • Consumir alimentos integrais, produtos lácteos com pouca gordura, carnes magras, pescados e aves. • Peso semanal, recorrendo sempre à mesma balança, com roupa leve e se possível em iguais condições. Caso surja perda involuntária de peso contatar o profissional de saúde; • Notar modificações do apetite quer seja por estar aumentado ou diminuído e comunicar essa situação ao profissional de saúde; • Na falta de apetite, dar um passeio a pé antes das refeições a fim de estimular o mesmo; • Estão totalmente desaconselhadas as dietas restritivas, pois, baixas ingestões energéticas poderão limitar um adequado aporte em micronutrientes; • Suplementar a dieta, se necessário, com cálcio e vitamina D (para reduzir o risco

de fraturas ósseas) e vitamina B12; • Ser fisicamente ativo uma vez que a prática de atividade física é indissociável de uma alimentação saudável e da manutenção de um papel ativo na sociedade, favorecendo a manutenção da saúde. Pelo exposto, torna-se imprescindível realizar avaliações multidimensionais do estado nutricional do idoso para o diagnóstico da sua condição de saúde e nutrição, promover a capacitação dos profissionais de saúde, especificamente dos enfermeiros, para a vigilância nutricional dos idosos na identificação de possíveis riscos e erros alimentares, a fim de possibilitar uma melhor gestão dos problemas nutricionais específicos deste grupo etário. Só assim, será possível fornecer orientações educativas e dietéticas para uma intervenção efetiva e integral, contribuindo, assim, para as melhores práticas preventivas da desnutrição e promotoras da saúde e qualidade de vida. Biografia disponível na edição on-line em www.jornalenfermeiro.pt

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papilas, aspeto liso e vermelho vivo (viii) gengivas sangrantes (ix) alterações da sensibilidade, demência (x) aspeto geral: letargia, apatia, irritabilidade, desorientação e transtornos do padrão do sono. A desnutrição no idoso é um problema bastante complexo – pelo que facilmente se percebe –, como se torna fundamental uma adequada avaliação do estado nutricional do idoso por parte dos profissionais de saúde, especificamente pelos enfermeiros, com vista à obtenção de parâmetros que facilitem: (i) a identificação, de forma precoce, dos problemas nutricionais; (ii) colocação em prática de estratégias terapêuticas; (iii) avaliação da eficácia da estratégia aplicada, dos fatores de risco de desnutrição e melhoria do estado nutricional. Tendo por base os procedimentos de avaliação e intervenção nutricional da população idosa, devidamente protocolados, deverá realizar-se: (i) exame físico e clínico do idoso (dados clínicos, bioquímicos e antropométricos) (ii) Mini Nutritional Assessment (MNA), instrumento de avaliação com alta sensibilidade, especificidade e precisão diagnóstica, validado para a Europa em 1944; (iii) Malnutricion Universal Screening Tool (MUST) desenvolvido em 2003; (iv) Nutricional Risk Screening (NSR) 2002, instrumento de triagem e de avaliação a utilizar, em ambiente hospitalar, em pessoas com desnutrição marcada, doença severa e necessidades nutritivas acrescidas. A condição de idoso cria, por vezes, alguns obstáculos à adoção e continuidade de um plano alimentar saudável. A ingestão alimentar diária deverá ser fracionada, variada (20 alimentos por semana), equilibrada, completa, de acordo com as recomendações da Roda dos Alimentos, como também deverá ser ter em conta orientações que façam face à diminuição do apetite, aos problemas de mastigação e deglutição, bem como às perturbações sensoriais, aspetos estes que estão ligados ao processo de envelhecimento e que conduzem, habitualmente,

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Défice de vitamina D

D Med Azevedos… Solução de toma única mensal

Os Laboratórios Azevedos acabam de lançar um novo suplemento de vitamina D: o D Med Azevedos, que através do sistema de toma única mensal, assegura o tratamento do défice e carência de vitamina D com as dosagens ajustadas e recomendadas pelas orientações definidas internacionalmente pela Endocrine Society.

Dados de um estudo apresentado recentemente revelam que 70% dos portugueses com menos de 30 anos têm falta de vitamina D e que entre os mais velhos o problema é ainda mais grave: 96% da população, entre os 60 e os 90 anos, apresenta um défice deste nutriente, cuja fonte principal, a exposição à luz solar, não consegue suprir, mesmo em países com muito sol, como Portugal, onde a carência de vitamina D constitui um problema de saúde pública. “A insuficiência de vitamina D está associada a um conjunto alargado de patologias, desde a Artrite Reumatoide, à Diabetes tipo 2 e, até, à Esclerose Múltipla. Infelizmente, continuam a persistir um conjunto de crenças entre a população que fazem com que este problema se

tenha vindo a agravar”, explica Vítor Hugo Teixeira, Professor de Nutrição na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. A esmagadora maioria das pessoas com carência de vitamina D não apresenta sintomas, no entanto, têm uma condição de risco para desenvolver um conjunto de problemas a longo prazo: osteoporose, artrite, diabetes, esclerose múltipla, entre outras patologias. O défice de vitamina D manifesta-se de forma silenciosa e, por isso, ainda desconhecido pela maioria da população. Para além da falta de conhecimento dos efeitos nocivos que a carência da vitamina D tem na nossa saúde, existem também pressupostos errados sobre a melhor forma de

repor os índices do nutriente no nosso organismo. A exposição ao sol é, claramente, uma das formas de obter vitamina D. As necessidades diárias de vitamina D variam de pessoa para pessoa, tendo em conta fatores como a idade, peso, capacidade de absorção e quantidade de exposição solar. É possível medir os níveis de vitamina D no sangue e a monitorização ocasional destes níveis irá determinar qual a dose mais correta para cada pessoa. No entanto, é seguro fazer a suplementação dentro dos limites, mesmo sem saber qual o nível de vitamina D no sangue. Consulte o seu médico ou farmacêutico para conhecer as soluções mais recentes para o problema do défice de vitamina D.

D’Aveia gel-creme

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Para a pele oleosa ou com tendência acneica

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A Dermoteca acaba de acrescentar mais um produto à sua linha D’Aveia, o gel-creme para pele com tendência acneica (PTA), que vem completar a linha de higiene e tratamento cosmético da pele oleosa da marca D’Aveia, associando-se ao D’Aveia PTA emulsão de limpeza. O novo produto contém aveia coloidal associada a milho e a arroz, com ação hidratante, clamante e protetora, constituindo

um tratamento cosmético da pele oleosa com tendência acneica, isento de gordura que normaliza a secreção de sebo à superfície da pele, que após tratada apresenta um aspeto mate, devido à ação conjunta da aveia coloidal, amido de milho, arroz, azeoglicina, manteiga de karité, niacinamida, entre outros ingredientes. Para além de normalizar a produção de sebo, o D’Aveia gel-creme PTA previne a proliferação bacteriana,

alivia a inflamação e vermelhidão, hidrata e ainda atenua as imperfeições da acne. D’Aveia gel-creve PTA está indicado na acne comedogénica e inflamatória ou como complemento da terapêutica da acne e dermite seborreica. O novo produto pode ser adquirido em farmácias, parafarmácias e também na loja online da Dermoteca, através dos endereços: www.d-aveia. com e www.dermoteca.com.


Glucose Smart Meter

Uma nova geração de equipamentos! Imagine que os seus doentes podem enviar os resultados dos testes do medidor, através de tecnologia Bluetooth Smart integrada, para uma app no Smartphone. Simplesmente! O Glucocard SM inicia uma nova geração de medidores - os Glucose Smart Meters - pois, a partir de agora, será possível gerir os resultados da glicemia através de um registo electrónico, na app Glucolog Lite, sempre disponível num smartphone. Os resultados dos testes podem também ser transferidos para um computador ou podem ainda ser enviados por mail para um cuidador, educador ou profissional de saúde. O Glucocard SM é um Glucose Smart Meter, também, porque foi pensado para uma melhor e mais fácil utilização, não necessita de calibração, dispõe de marcadores, possui botão de ejeção da tira teste e usa uma micro gota de sangue. O Glucocard SM dispõe, ainda, de um ecrã com números grandes e luz na entrada da tira, facilitando a execução dos testes, que são precisos e fiáveis, indo ao encontro das exigências da norma ISO 15197:2013.

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