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Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 2110, de 6 de abril de 2013. Venda interdita.
800 mil portugueses têm doença renal crónica Pág. 2
Doenças raras “expostas” no Parlamento
31 de março: Dia Nacional do Doente com AVC
Duas pessoas morrem por hora com
AVC Portugal é o sexto país europeu que mais gasta com o acidente vascular cerebral (AVC), dado que o mesmo é responsável por 25 mil internamentos por ano. Sendo a fibrilhação auricular uma das principais causas do AVC, é fundamental reforçar o investimento em prevenção.
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80% da população mundial sofre com dores na coluna
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2 | Jornal de Saúde Pública | 6 de abril 2013
Doença celíaca
Dr.ª Inês Asseiceira Dietista do H. Santa Maria
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doença celíaca é uma doença intestinal crónica, caracterizada por uma resposta imunológica (autoimune) que se manifesta após o contacto com o glúten, em pessoas com predisposição genética. Esta doença atinge cerca de 1% da população mundial e estima-se que, entre nós, 1 a 3% dos portugueses sofram de doença celíaca. O glúten é uma proteína que está presente em cereais como o trigo, o centeio e a cevada. Como tal, estes cereais devem ser totalmente excluídos da dieta de um celíaco. No entanto, outros cereais, como o milho e o arroz, podem ser ingeridos. A doença celíaca pode ser diagnosticada em qualquer idade, desde que já tenha havido um contacto prévio com o glúten. O mais frequente é surgir em crianças entre os 6 e os 20 meses de idade, logo após a introdução de papas com glúten, pão, bolachas, etc. Após a ingestão destes alimentos, as mani1
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800 mil portugueses sofrem de doença renal crónica “Lesão renal aguda” foi o tema escolhido para assinalar o Dia Mundial do Rim, celebrado a 14 de março. Em Portugal, estima-se que existem 800 mil pessoas com doença renal crónica e todos os anos surgem mais de dois mil novos casos. Neste momento, há 16 mil doentes em tratamento substitutivo, sendo que 2/3 estão em diálise e 1/3 já foram transplantados.
A
prevalência da hipertensão e da diabetes na nossa população é dramática e, por isso, a prevenção desta doença silenciosa é primordial. Há que educar os portugueses para reduzirem o sal na alimentação, para ingerirem quantidades adequadas de água, fazerem exercício físico e modificarem os comportamentos.
O médico de família desempenha um papel fundamental nesta matéria. Na opinião de José Augusto Simões, médico de família na Unidade de Saúde Familiar de Marquês de Marialva, em Cantanhede, é extremamente importante melhorar a comunicação entre a Medicina Geral e Familiar e a Nefrologia. “Os médicos de família têm de saber
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festações mais frequentes são tristeza e irritabilidade, perda de apetite, diarreia, dor abdominal e dificuldade em aumentar de peso. Após confirmado o diagnóstico de doença celíaca, a dieta sem glúten para toda a vida é o único tratamento atualmente conhecido, pois permite que o intestino recupere totalmente da lesão intestinal. Sendo que ingerir glúten, mesmo que em pequenas quantidades, leva a uma reação imunológica do corpo contra o próprio intestino, provocando lesões intestinais graves, que levam ao reaparecimento dos sintomas iniciais e aumentam o risco de complicações em idade mais tardia. O cumprimento de uma dieta sem glúten nem sempre é tarefa fácil, pois, o glúten está presente na nossa alimentação diária, principalmente nos produtos de padaria e pastelaria. Além destes produtos, existem ainda outros aos quais o glúten pode ser adicionado, tais como alimentos transformados (salsichas, panados), aditivos alimentares (amidos modificados), doces e sopas industrializadas, entre outros, algumas vezes sem identificação fácil da sua adição. Atualmente, com o desenvolvimento da indústria alimentar, já podemos contar com uma vasta gama de alimentos sem glúten muito próximos dos alimentos com glúten, nomeadamente, ao nível do sabor e da variedade.
14 de março: Dia Mundial do Rim
Os melhores alunos de Nefrologia da FMUC foram distinguidos
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Relativamente à lesão renal aguda, há que alertar para a existência de situações que podem ser, de alguma forma, evitáveis, como as relacionadas com infeções, a toma de alguns medicamentos e a litía se renal. Como em Portugal a população está a ficar envelhecida e, por conseguinte, acaba por estar polimedicada, os fatores de risco para nefrotoxicidade por fármacos tornam-se muito altos. O Prof. Rui Alves, regente da Cadeira de Nefrologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), no âmbito desta data, alertou para o facto de que, efetivamente, os rins “sofrem de forma silenciosa”. A população em geral tem de ter consciência de que “a toma de determinados medicamentos pode agravar a insuficiência renal crónica”. Os rins perdem a sua função de forma progressiva ao longo da vida e, por conseguinte, “os mais idosos são os mais afetados”. Para evitar complicações, as pessoas devem procurar informação para perceberem qual a função dos mesmos. “Também devem visitar com regularidade o médico, para que este possa verificar se está tudo bem”, aconselha.
quando é que deve ser feito o encaminhamento e vice-versa”, considera. Os protocolos de articulação/referenciação devem estar estipulados pelas duas áreas, dado que “tem de haver consenso na abordagem do doente com doença renal”. No Dia Mundial do Rim, foi entregue um prémio pecuniário de 500 euros às duas melhores alunas da cadeira de Nefrologia da FMUC (Ana Margarida Novo e Rita Ilhão Moreira), no ano letivo de 2011-2012. Pelo 9.º ano consecutivo, de acordo com Filomena Sousa, diretora médica da Amgen, esta iniciativa é apoiada no sentido de premiar os dois melhores alunos de Nefrologia daquela faculdade. “A Amgen investe na Educação para a Ciência e para a Saúde”, afirma, acrescentando ainda: “A nossa vertente educacional aposta assim no apoio a jovens médicos, que serão, num futuro próximo, os grandes responsáveis pela melhoria da qualidade dos serviços e da qualidade de prevenção da doença renal”. “São eles que nos vão ajudar a manter ´os nossos rins para a vida`”, frisa Filomena Sousa.
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Doenças raras chegam ao Parlamento A 28 de fevereiro, data em que se assinala o Dia das Doenças Raras, a Raríssimas levou até à Assembleia da República a exposição “Mais perto do que é Raro”. Paula Brito e Costa, presidente da Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras - Raríssimas, diz que a exposição teve o propósito de “despertar consciências”.
A
Assembleia da República é a casa da democracia e, por consequência, de todos os portugueses. No dia 28 de fevereiro, uma minoria da população, que usualmente passa despercebida, mereceu o devido destaque nos corredores da AR: as pessoas portadoras de doenças raras deram a cara pelas suas patologias e em 26 painéis fotográficos mostraram como vivem diariamente com doenças que afetam uma minoria, mas comportam limitações e problemas gigantescos. As fotos de Alexandre Bordalo, Alberto Queiroz, Filipe Santos e Hugo Amaral encheram o corredor central da AR e a presidente da Raríssimas, Paula Brito e Costa, admitiu que foi com emoção que viu os “seus doentes” terem direito a protagonismo num espaço tão emblemático quanto o da Assembleia. “Este tão nobre acolhimento na casa de todos os portugueses é um orgulho para a nossa Raríssimas, que tanto tem lutado para dignificar os portadores de doenças raras portugueses.” Apesar do orgulho e da satisfação na inauguração, Paula Brito e Costa não escondeu que é sempre doloroso ter contacto com doenças e realidades tão duras quanto a destes doentes. “Custa-me imenso olhar para estas fotografias… custa-me sempre. Estes são os doentes que eu represento e estas imagens fazem-me lembrar por que estou aqui. São duras, mas é um orgulho estar perante os rostos dos associados que decidiram dar a cara por esta causa”, disse a presidente da Raríssimas, que assumiu ainda que a escolha da AR para acolher a exposição “Mais perto do que é Raro” não foi uma simples coincidência.
“A exposição permite que estes doentes estejam na casa de todos os portugueses, na casa de quem decide. E espero que todos os deputados olhem para estas imagens e tomem as melhores decisões. Esta exposição é um
jornais existem e estão aqui representados!’.” Paula Brito e Costa frisa ainda que a exposição “nunca tinha passado por um sítio tão público e de tanta pertença”, pelo que, acrescenta, o objetivo foi claro: “Trata-se de trazer os doentes para o centro da decisão política. Portanto, faz todo o sentido estar aqui.” Púrpura trombocitopénica imune marca presença Uma das doenças presentes nos 26 painéis fotográficos que povoaram a AR
ticas. Acho que já chega de brincarmos aos medicamentos”, reitera a presidente da Raríssimas, que fez questão de deixar uma palavra especial de agradecimento ao deputado Ricardo Baptista Leite, “pela ajuda na organização da exposição”. Olhar para o futuro À parte esta exposição, Paula Brita e Costa conta que a associação tem ainda muitos projetos por concretizar. O próximo, lembra, é a Casa dos Marcos. “O próximo projeto que temos em mãos é a inauguração da Casa dos Mar-
A exposição mostra as limitações vividas pelos portadores de doenças raras
ato de consciencialização. É uma mensagem que grita: ‘Atenção, estes nomes estranhos que todos os dias vemos nos
Paula Brito e Costa relembrou ser doloroso viver com uma doença rara
deu a conhecer a púrpura trombocitopénica imune (PTI), uma doença autoimune caracterizada por uma redução gradual do número de plaquetas no sangue. No referido painel, uma doente expressa o modo como vive a doença e, com um sorriso contagiante, anuncia: “Com sangue, desenho cada momento da minha felicidade.” Paula Brito e Costa recorda que “foi uma luta conseguir o tratamento para estes doentes” e foca o caso da PTI. “No caso da PTI, em concreto, foram seis anos. Seis anos para chegar a um tratamento. É uma vergonha e é inadmissível. Esperemos que com esta exposição as consciências comecem a mudar. É necessário que se perceba que a diretiva que saiu do Parlamento Europeu na semana passada é muito clara quanto à aprovação das novas drogas. Este processo tem de ser claro, transparente e os doentes têm de ter acesso às terapêu-
cos. É o único centro no mundo dedicado às doenças raras, é um modelo assistencial completamente diferenciado, de excelência, e estou certa de que vai mudar as consciências, em Portugal, em relação às doenças raras”, afirma, frisando que “a luta pela aprovação dos medicamentos órfãos faz agora muito mais sentido porque está em marcha a Casa dos Marcos. É uma estrutura que vai concentrar os doentes, vai centralizar a experiência e reunir todas as necessidades”, termina, deixando um último repto aos que ainda queiram ter contacto com a exposição. “Vir até esta exposição é fazer parte de um sentimento de partilha, é perceber que as caras que estão nesta exposição também são cidadãos portugueses. Venham ver estes doentes, que sofrem muito, e perceberão bastante melhor que realidade é esta, a do mundo aparentemente misterioso que é o das doenças raras.”
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Anticoagulantes orais representam nova alternativa terapêutica
Fibrilhação auricular é uma das principais causas de AVC
Em Portugal, o acidente vascular cerebral (AVC) constitui a principal causa de morte (duas por hora) e de incapacidade permanente, sendo responsável anualmente por 25 mil internamentos. A propósito do Dia Nacional do Doente com AVC, assinalado a 31 de março, especialistas alertam para a necessidade de ser feito um maior investimento na prevenção do AVC.
“O
AVC é a forma que o cérebro deste modo se poderão diminuir os níveis vras, “a associação destes fatores de risco Os doentes devem ter acesso às terapêuticas que se ade qu tem de adoecer quando existe anuais para 50 mortos por 100 mil habitanaumenta de forma aditiva o risco de AVC”. uma lesão de um tes, ou seja, valores que nos Segundo a Dr.ª Cristina ou mais vasos cerebrais.” A exaproximam de outros países. Gavina, assistente hospitalar como surge a FA e quais as plicação é do Prof. Luís Cunha, Segundo refere, a gravide Cardiologia no Hospital suas consequências. diretor do Serviço de Neurolodade das suas consequênPedro Hispano, em Matosi“A FA resulta da desorgagia do Centro Hospitalar Unicias depende do local e exnhos, e assistente convidada nização da atividade elétriversitário de Coimbra (CHUC). tensão do cérebro atingido, da Faculdade de Medicina da ca das aurículas, sendo que Na opinião deste responsendo decisiva a rapidez da Universidade do Porto, a FA, estas cavidades, situadas na sável, a designação de “aciassistência médica, que não que aumenta cinco vezes o parte superior do coração, dente vascular cerebral” é deve ir além das 4.30 h. risco de AVC, é “uma das nosão responsáveis pela recequestionável, sobretudo pela O especialista acredita vas epidemias cardiovascução do sangue que retorna palavra “acidente”, que consique “a prevenção poderá lares do século XXI, afetando a este órgão”, refere. “Na FA, dera ser “desresponsabilizanser pontualmente mais cara, cerca de 1% dos indivíduos, as aurículas ficam com uma te”. No parecer do especia- Prof. Luís Cunha mas compensará a longo embora com variações regio- Dr.ª Cristina Gavina atividade elétrica caótica e lista, este termo remete para prazo”. O médico lembra que nais”. muito rápida, acima dos 300 algo que acontece por acaso quando, na o reforço em prevenção se poderá traduzir Na sua perspetiva, a elevada taxa de batimentos por minuto (bpm), impedindo verdade, há a possibilidade de investir em numa redução da fatura a pagar, “em terAVC em Portugal pode dever-se a uma que estas cavidades possam contrair norprevenção, particularmente, nos fatores mos emocionais, familiares e económicos”. maior ocorrência de FA e, em particular, a malmente e que possam dar o seu contride risco associados ao AVC. ausência de tratamento adequado. No esbuto para a movimentação do sangue no O neurologista salienta que, com o enFA: “A nova epidemia” do século XXI tudo FAMA, indica, “apenas 38% dos doencoração”. velhecimento progressivo da população, tes estavam anticoagulados”, um número Assim, explica, “se o sangue ficar estagtem vindo a ganhar expressão um novo faA Dr.ª Maria Teresa Cardoso, especialisque ilustra que ainda há muito trabalho a nado pode proporcionar a formação de tor de risco, a fibrilhação auricular (FA). Esta ta em Medicina Interna no Hospital de São fazer relativamente ao tratamento destes coágulos dentro das aurículas”, os quais, arritmia cardíaca foi responsável por 33,2% João, no Porto, e coordenadoentes no nosso país. depois de entrarem na circulação arterial, dos casos registados nos últimos dois anos dora do Núcleo de Estudos podem obstruir uma artéria”. “Frequentena Unidade de AVC do CHUC. da Doença Vascular Cerebral 20% dos AVC são mente, há um envolvimento de uma artéLuís Cunha recorda ainda que, em Portuda Sociedade Portuguesa de provocados por FA ria cerebral, ou seja, com o entupimento gal, até há pouco tempo, o AVC era responMedicina Interna, esclarece dessa artéria, o doente poderá sofrer um sável pela morte de 200 cidadãos por cada que corre maior risco de AVC O Dr. Francisco Bello MorAVC.” 100 mil habitantes (a cada ano), uma taxa uma pessoa que sofra de gado, assistente graduado/ De acordo com o também responsável que, neste momento, reduziu para 100 morhipertensão arterial, FA, dia/consultor de Cardiologia do da Arritmologia do Hospital dos Lusíadas, tes por cada 100 mil habitantes. Ainda que betes, obesidade, que tenha Hospital de Santa Cruz, em recentemente, foi elaborado um estudo, a mortalidade esteja a baixar, o neurologista níveis de colesterol elevados, Carnaxide, e presidente eleia nível nacional, que revela que 2,5% dos insiste na necessidade de reforçar o invesseja fumador, tenha hábitos to da Associação Portuguesa indivíduos com mais de 40 anos sofrem timento em prevenção do AVC, por parte alcoólicos ou níveis altos de de Arritmologia, Pacing e Elede FA, uma prevalência que acompanha o do Serviço Nacional de Saúde (SNS), já que sedentarismo. Nas suas pala- Dr.ª Maria Teresa Cardoso trofisiologia (APAPE), explica avanço da idade. Os dados deste trabalho
O que se deve controlar para evitar o AVC? Maria Teresa Cardoso aconselha o controlo da pressão arterial (abaixo de 130/80 é considerada normal), referindo que esta deve ser avaliada “pelo menos uma vez por ano” em indivíduos saudáveis. Alerta ainda para a necessidade de “cumprir à risca” a medicação que possa ser prescrita e para a importância da diminuição do consumo de sal. A sua redução gradual, “para não notar a sua falta”, resulta num melhor controlo tensional. O ritmo cardíaco é outro dos fatores a ter em conta. A especialista chama a atenção da necessidade de procurar um médico perante o sintoma de palpitações, principalmente em indivíduos idosos. A realização de um eletrocardiograma para diagnosticar o tipo de arritmia (FA) será importante. A médica alerta ainda para a importância de controlar o açúcar no sangue, o colesterol e o peso. Segundo refere, o pe-
rímetro abdominal permite avaliar, de uma forma simples, a obesidade visceral, “a mais perigosa em termos de risco vascular”. Por último, a especialista aconselha a cessação tabágica, a correção do regime alimentar (rico em vegetais e frutos, pobre em gorduras) e a prática de exercício físico regular. Por seu lado, Cristina Gavina reforça que “a consulta regular com o médico de família, para avaliação de rotina da tensão arterial e do pulso e rastreio analítico da diabetes e da dislipidemia, faz parte da prevenção não só do AVC, mas também das restantes doenças cardiovasculares”. “A adoção de um estilo de vida saudável está ao alcance de todos e pode combater a obesidade e a diabetes, ajudar no controlo da tensão arterial e do colesterol e diminuir a ocorrência não só da aterosclerose, mas também da FA”, adverte esta especialista.
Sinais de alerta para o AVC Maria Teresa Cardoso adverte para a importância de se agir rapidamente perante os sinais de alerta do AVC. “Não hesite em ligar de imediato o 112 se, de forma súbita, sentir a boca ao lado, dificuldade em falar ou perda de força no braço e/ou perna, sobretudo num dos lados do corpo, mesmo que seja transitório”, sublinhando que se trata de uma emergência médica, porque “tempo é cérebro”. Existe tratamento (trombólise) na fase aguda do AVC. Há que chegar quanto antes ao hospital para obter o máximo benefício deste tratamento.
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“SIGN AGAINST STROKE” alerta para a necessidade de combater a FA
de quam ao seu perfil de risco
também sugerem que apropecífico da sua envolvência, ximadamente 15-20% de minorando o risco de hemortodos os AVC sejam provocaragias, especialmente fatais.” dos pela FA. Além disso, “estes fármacos Além do tratamento fartêm poucas interações memacológico, o especialista dicamentosas e não obrigam chama a atenção para o rea uma monitorização regular cente desenvolvimento de através da realização de anáuma nova técnica de ablalises regulares”. ção, por cateter, em que se A comunidade médica tenta uma cura definitiva da aguarda com ansiedade a arritmia. “Este procedimento Dr. Francisco Bello Morgado comparticipação destes fárenvolve a colocação de catemacos pelo Estado. “Os antiteres através da veia femural e tem como coagulantes orais são inovações terapêuobjetivo isolar eletricamente o local onde ticas que representam uma diminuição se originam os impulsos elétricos que dedos custos diretos e indiretos. Não se trata sorganizam a atividade elétrica das aurícuapenas de diminuir as hemorragias intralas”, menciona. cerebrais, mas também os custos com os exames e com as idas do doente ao hospiA inovação terapêutica tal para fazer o controlo do INR. São custos no controlo da FA diretos e indiretos que tornam a relação de custo/efetividade melhor”, considera o esDe acordo com o Dr. Pedro Marques da pecialista do Hospital de Santa Marta. Silva, consultor de Medicina Interna do HosPor seu lado, o Dr. João Morais, cardiolopital de Santa Marta, em Lisboa, a anticoagista do Hospital de Santo André, em Leiria, gulação é uma das estratégias terapêuticas considera que “a introdução de novos anpreventivas mais eficazes na área cardiovasticoagulantes representa um salto qualitacular para a redução do risco tivo notável não só pela sua do AVC. “Os anticoagulantes elevada eficácia, mas muito clássicos (antivitamínicos K) especialmente pela sua exceconseguem reduzir em cerca lente segurança”. de 60% o risco de AVC assoNa opinião do cardiolociado à FA”, adianta. gista, “ao doente português Segundo o especialista, deve ser dado acesso às meos anticoagulantes clássicos, didas terapêuticas que mecomo a varfarina e o acenolhor se adequam ao seu perfil cumarol, são muito eficazes, de risco e não podem ser mas têm alguns problemas, excluídos dos avanços e da nomeadamente o início leninovação tecnológica que o to de ação, a variabilidade de podem favorecer”. Para o esresposta, as dificuldades de Dr. Pedro Marques da Silva pecialista, “não há crise ecoanticoagulação em muitos nómica capaz de justificar doentes, o risco de interações que o doente português seja, (alimentares ou medicamenna Europa, aquele que fica tosas) e um risco hemorrágimais longe do progresso e co sempre presente. possa ver negado o acesso às Com o aparecimento dos intervenções mais eficazes. novos anticoagulantes orais, Prevenir não é mais caro do alguns destes problemas que tratar e todo o dinheiro foram ultrapassados. “Sabeque possamos gastar na premos quando é que o medivenção vai ser compensado camento inicia a ação e que na redução do número de caeste vai atuar num único fasos, que a acontecer, teremos tor da coagulação muito es- Dr. João Morais de tratar”.
“Estima-se que, em Portugal, cerca de 150 mil a 200 mil indivíduos possam ser afetados por FA.” Contudo, “os dados nacionais apontam para que apenas 1/3 destes estejam a ser devidamente tratados com um fármaco anticoagulante”. O alerta é dado pelo Dr. Carlos Morais, cardiologista e presidente da Associação Bate Bate Coração. Em 2012, foi criada a Carta Global de Direitos dos Doentes com FA por mais de 40 associações de doentes e profissionais de saúde representando 20 países, um documento que tem por objetivo apelar para melhores cuidados e tratamento dos doentes com FA e em risco de sofrer um AVC associado a esta arritmia. “A Carta faz recomendações sobre as ações críticas que os decisores políticos, os prestadores de cuidados de saúde, os pagadores dos cuidados de saúde e os governos nacionais podem desenvolver para salvar vidas e reduzir a carga do AVC e os enormes custos a ele associados”, menciona. Segundo Carlos Morais, o projeto SIGN AGAINST STROKE (Assine Contra o AVC) – de apoio à Carta Global de Direitos dos Doentes com FA – pretende recolher a nível mundial 1.7 milhões de assinaturas, o número estimado de AVC relacionados com a FA que ocorrem globalmente a cada ano. O objetivo deste projeto, que conta com o apoio da Bayer, é, Dr. Carlos Morais segundo este cardiologista, “pressionar os governos de todos os países a incluírem nas suas agendas programas de combate a este flagelo”. Segundo avança, até ao momento foram recolhidas em todo o mundo mais de 400.000 assinaturas. A Associação Bate Bate Coração, coautora desta Carta, pretende promover a sua divulgação pública, mobilizando todos os portugueses a assinar a Carta, através de uma petição no site www.signagainststroke.com.
Algarve acolhe 34.º Congresso Português de Cardiologia O 34.º Congresso Português de Car- para aferir a qualidade da prática médica diologia decorre entre 28 e 30 de abril, e dos cuidados prestados em Medicina no Centro de Congressos do Algarve, em Cardiovascular”. Vilamoura. O evento, que anualmente é A grande novidade do congresso organizado pela Sociedade Portuguesa prende-se com a abordagem das polítide Cardiologia (SPC), será subordinado cas de saúde. “Uma sociedade científica ao lema “A evidência, a prática e as po- deve ser aberta para a sociedade civil e líticas”, sendo esperados cerca de 1600 para quem faz a regulamentação nas poparticipantes. líticas de saúde”, menciona, acrescentanA evidência terá um do que estas influenciam a grande enfoque no enconcriação do conhecimento tro. De acordo com o Dr. científico, a aprovação e Carlos Aguiar, presidente regulamentação da sua do congresso, além do coaplicação no cidadão e a nhecimento científico e do implementação prática da apoio à investigação, o exermelhor evidência clínica. cício da medicina implica O cardiologista chama também a responsabilidade a atenção para o facto de das sociedades médicas e os recursos para a saúde científicas. “O grande objetinão serem ilimitados, daí vo de uma sociedade como a importância de discutir a SPC é promover o deseno seu “uso racional”. E funvolvimento da ciência da Dr. Carlos Aguiar damenta: “A Medicina Carsua área ao serviço da popudiovascular é muito rica lação do seu país”, sublinha. em formas e meios diferentes de tratar as A prática será a segunda área de des- doenças, havendo, por isso, opções que taque. Na opinião do vice-presidente se podem fazer.” da SPC, o exercício da medicina pode No primeiro dia do congresso terá luser melhorado se pudermos “monito- gar, a partir das 19.00 h, uma corrida de 4 rizar, aferir e melhorar a prática clínica”. Km, em Vilamoura, que será aberta a toda Neste campo, Carlos Aguiar considera a população. A iniciativa resulta de uma que “os registos clínicos implementados parceria entre a SPC e o Programa Naciopela SPC, particularmente nas áreas das nal de Marcha e Corrida, coordenado por síndromes coronárias agudas e da Car- Paulo Colasso, professor da Faculdade de diologia de Intervenção, têm sido úteis Desporto da Universidade do Porto.
6 | Jornal de Saúde Pública | 6 de abril 2013
Recurso à mistura de oxigénio-ozono como alternativa à cirurgia invasiva na doença dos discos
Intervenção “não cirúrgica” de hérnias do disco na coluna
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dor raquidiana/vertebral, mais conhecida como “dor nas costas”, é um dos sintomas com maior prevalência na população. Estima-se que cerca de 80% da população mundial, pelo menos uma vez na vida, apresente queixas de dores relacionadas com a coluna. Na maioria das vezes, é suficientemente intensa e incapacitante, com importante interferência na capacidade de trabalho e qualidade de vida. As causas potenciais de dor vertebral são diversas, tendo em consideração os elementos ósseos (as vértebras), os discos, os nervos, os ligamentos e as articulações vertebrais. Contudo, na grande maioria dos casos, a dor é secundária à doença dos discos (classificada na nomenclatura médica por “protrusões”, “procidências” ou “hérnias discais”), sobretudo nos segmentos lombar e cervical da coluna vertebral. Os discos intervertebrais são estruturas flexíveis, localizados entre os corpos das vértebras, que servem como almofadas protetoras, permitindo todos os movimentos da coluna, ao mesmo tempo que ajudam a suportar os impactos mecânicos e o peso do corpo. Os discos intervertebrais podem deslocar-se ou herniar, comprimindo raízes nervosas, e originar, para além de dor na coluna, sintomas referidos aos segmentos dependentes das estruturas nervosas, traduzidos por dor, dormência ou fraqueza muscular no braço ou na perna (vulgo dor “ciática”). Nos casos mais graves, uma hérnia discal pode comprimir os nervos que controlam a bexiga e o intestino, resultando em incontinência urinária e perda de controlo do intestino. Ainda não se compreende, totalmente, as causas que estão na origem da doença dos discos. A maioria das teorias
atribui esta situação a uma combinação dos seguintes fatores: envelhecimento do disco, fatores genéticos, má postura, sobrecarga por obesidade, esforços físicos excessivos ou após um evento traumático. Principais benefícios do tratamento por mistura oxigénio-ozono O tratamento percutâneo minimamente invasivo do disco por mistura de oxigénio-ozono constitui uma alternativa à cirurgia invasiva, denominada discectomia ou microdiscectomia. Pode ser utilizado em pacientes com queixas de dor referida à coluna (com ou sem irradiação ao braço ou à perna), sem melhoria clínica ao longo do tempo ou com fraca resposta ao tratamento farmacológico, bem como em pacientes submetidos a cirurgia invasiva prévia, sem melhoria sintomatológica ou com recorrência/agravamento clínico (Failed Back Surgery Syndrome - “síndrome da cirurgia falhada”).
Os discos intervertebrais podem deslocar-se ou herniar, comprimindo raízes nervosas, e originar, para além de dor na coluna, sintomas referidos aos segmentos dependentes das estruturas nervosas, traduzidos por dor, dormência ou fraqueza muscular no braço ou na perna (vulgo dor “ciática”). Trata-se de um procedimento terapêutico minimamente invasivo, desenvolvido em centros de investigação e intervenção na coluna europeus e que, nos últimos dez anos, tem assistido a uma ex-
As causas que estão na origem da doença dos discos são pouco compreendidas
ponencial adesão em países como Alemanha, França, Itália e Espanha e ainda pouco difundida em Portugal. É um procedimento isento de complicações graves, com um curto tempo de estadia hospitalar e de recuperação, permitindo um rápido retorno às atividades de rotina diárias. Para além disso: é um procedimento terapêutico minimamente invasivo; não necessita de anestesia geral; não interfere com as estruturas ósseas;
não implica a remoção do disco; não deixa cicatriz cutânea; apresenta uma taxa de sucesso expectável elevada; não impede a cirurgia, caso seja estritamente necessária. Este tratamento não é adequado a todos os doentes com dor vertebral/ /raquidiana, sendo necessária uma consulta médica, com revisão da história clínica e sintomatologia, exame físico minucioso, seguido de discussão diagnóstica e das opções terapêuticas.
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Dr. Pedro Nunnes Médico neurorradiologista. Especialista em técnicas de intervenção minimamente invasivas na coluna, Hospital da Lapa www. hospitaldalapa.com
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6 de abril 2013 | Jornal de Saúde Pública | 7
Tempos de mudança Saúde: Conhecer o risco Dr. José A. Madaíl Ratola Coordenador da Unidade de Saúde Familiar Moliceiro USF Moliceiro – E, por que não, simpatia? USF Valongo – Uma equipa centrada na saúde da pessoa.
A Reforma na Saúde é importante que seja continuada e consolidada; já muito foi feito, mas há muito mais ainda por fazer. Esta Reforma visa melhorar os cuidados de saúde aos cidadãos, tendo em conta o que estes sentem como legítimas expectativas e as reais possibilidades do País. É uma equação difícil.
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desenvolvimento tecnológico e científico, com oferta de meios de diagnóstico e de terapêutica cada vez mais sofisticados, o acesso à informação, o aumento da esperança de
vida e a consequente patologia crónica associada fizeram disparar os encargos financeiros para a sociedade; no outro lado da equação há recursos débeis e disputados, associados a estagnação do crescimento económico e a uma demografia suicida. Partindo apenas destes considerandos, e limitado pelo texto, atrevo-me a apresentar algumas ideias, não originais, apoiadas em alguns exemplos, alguns com resultados já demonstrados. O discurso científico e público em saúde deve apontar para caminhos de qualidade e bem-estar, não ligados a uma longa vida, medida por anos, a qualquer custo e sofrimento; torna-se necessário debate público que permita a abertura cultural da sociedade para outras formas de autodeterminação, não culpabilizáveis para o indivíduo, família ou sociedade, para além do testamento vital. Os recursos na Saúde são finitos, serão sempre uma fração da riqueza nacional e a sua utilização, em bens de equipamento e de consumo, deverá ser bem explicada aos cidadãos, para desenvolver corresponsabilização; numa reforma, antes de retirar um benefício
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(um atendimento mal equipado na proximidade, ou um hospital, etc.), deverá ser explicada a vantagem que há na sua substituição, por um outro benefício, mais integrador e eficiente, evitando assim a politização e a “rua”; a informação dos custos de qualquer ato em saúde, mediante a emissão de fatura descritiva, dá satisfação porque desfoca a atenção da taxa que lhe cabe pagar. O processo clínico do doente integrado e acessível em todos os níveis e lugares de atendimento permitiria a partilha de decisões de diagnóstico e terapêutica entre os diversos intervenientes – especialistas hospitalares, outros técnicos de saúde e o médico de família, gerando eficiência e racionalidade; é bem conhecida a repetição de exames de diagnóstico porque a base não é comum e a quantidade excessiva de medicamentos que muitos pacientes utilizam que, para além dos custos financeiros, terão outros decorrentes da dificuldade de gerir tantas possibilidades de interação medicamentosa; a racionalidade impõe-se. Finalmente, acrescento que olho para o mundo de dentro de uma Uni-
dade de Saúde Familiar (USF) que considero um modelo bem-sucedido de mudança na Saúde, a nível dos cuidados de saúde de proximidade. O segredo da USF é o trabalho em equipa multiprofissional, com objetivos concretos na promoção e prevenção da saúde e tratamento da doença nas pessoas utilizadoras dos serviços, associado a incentivos motivadores. Os resultados satisfazem prestadores e utilizadores e a avaliação por entidades independentes confirmam uma adequação com o necessário processo de mudança, em curso, na Saúde. Considero a USF um modelo a copiar ou fornecedor de alguns princípios a adotar em outros níveis de cuidados ou mesmo outros setores de serviços. Artigo com a colaboração:
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