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Geolocalização
Cláudia Köver jornalista briefing@briefing.pt
Tome nota destes nomes: Foursquare, MyTown, Gowalla. São empresas e aplicações que estão a tornar a geolocalização numa nova ferramenta de marketing que já chegou a Portugal. O próprio Facebook não perdeu tempo e seguiu esta tendência, criando o Places
Bruno Prezado, Who
O superpoder do check-in
Saber quantas pessoas passam na baixa de Lisboa, durante uma tarde de sábado, é um dado quantitativo mas, saber “porque passam naquela zona da cidade”, possibilita já uma análise de comportamento. Assim esclarece André Rabanea, ceo e fundador da agência Torke, referindo que “a possibilidade de fazer esta ponte entre o online e o offline permite criar acções e conO novo agregador do marketing.
teúdos, não só adaptados ao consumidor, mas também ao ambiente que o rodeia”. Cada vez mais é comum ver streams do Facebook cheios de “troféus conseguidos no Foursquare ou Gowalla, o que significa que este fenómeno, que beneficia especialmente as marcas de venda ao público, já desenvolveu uma aceitação e experimentação suficiente junto dos utilizadores, ao
ponto das marcas começarem a investir e experimentar acções na rede. Bem-vindo ao mundo da geolocalização, uma ferramenta que está a tornar-se numa das grandes tendências do marketing digital. Um dos sites mais visitados pelos cibernautas, o Facebook, que conta com cerca de 500 milhões de utilizadores, criou, em Agosto, o Novembro de 2010
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Geolocalização
Places, que se baseia na geolocalização. Esta rede seguiu o exemplo de outras empresas norte-americanas que já tinham descoberto este filão, como a Foursquare, com quase três milhões de utilizadores. O próprio Facebook esteve em negociações com a Foursquare tendo em vista a sua aquisição. Por sua vez, a Yahoo, uma das maiores plataformas mundiais da internet, também quis comprar aquela empresa por cerca de 64 milhões de euros. Mas a Foursquare acabaria por não ser comprada e optou pelo capital de risco. Obteve um financiamento de 20 milhões de dólares. Através do sistema de GPS “podemos saber quem passa perto de um restaurante ou loja e enviar um alerta que poderá, por exemplo, conter uma promoção”, explica Rodrigo Moita de Deus, director-geral da Nextpower. Nos Estados Unidos, o Today Show da NBC lançou uma promoção para os seus concertos de Verão. Aqueles que
fizessem check-ins nos concertos recebiam badges que lhes permitiam aceder a prémios, ou ser considerados mayors de determinado local. Pepsi, Bravo TV, HBO, Warner Brothers e The History Channel, são algumas das marcas que já se renderam à geolocalização. Como em todos os grandes sucessos interactivos de hoje, os utilizadores podem acrescentar e editar conteúdos. Além de deixar opiniões sobre os locais que frequentam, o Foursquare introduziu ainda o Add to Foursquare, que permite partilhar, em rede, conteúdos do agrado de cada um. O Wall Street Journal foi o primeiro site a incluir esta aplicação em notícias sobre eventos, dicas de restaurantes, ou actividades culturais. O Foursquare explora agora formas de incluir este botão em outras páginas da internet. O director-geral da Nextpower afirma ainda que “a geolocalização era já um passo expectável, mas só é
Numa altura em que o Facebook se tornou um dos sites mais visitados pelos cibernautas e atingiu cerca de 500 milhões de utilizadores, a rede social investiu na geolocalização, a mesma ferramenta que está na origem da criação do Foursquare
GUIA PRÁTICO
Como funciona o Foursquare Os utilizadores do Foursquare recorrem aos smartphones para fazer check-ins em diversos locais, saber onde estão os seus amigos, partilhar opiniões sobre lojas, lugares e restaurantes, ou acederem às informações disponibilizadas pelas próprias marcas e empresas, tais como descontos e campanhas de promoção. Estes check-ins alertam ainda os amigos para a partilha de localização, sendo também possível fazê-lo através de outras redes sociais, tais como o Twitter ou o Facebook. Por sua vez, por cada check-in, os utilizadores recebem pontos que, em alguns casos, podem ser trocados por vales de descontos ou outros prémios atribuídos por marcas, lojas ou restaurantes. Os utilizadores recebem cinco pontos por anunciar, pela primeira vez, a sua presença num determinado local,. Se visitarem o mesmo local três vezes, na mesma semana, ganham um badge do local. E, por sua vez, quem for mais vezes a esse local, recebe um badge de mayor (crachá de presidente da câmara) que é revogado sempre que outra pessoa ultrapasse o número de visitas. Os bagdes ficam disponíveis no perfil do utilizador. Através do site (www.foursquare.com) os utilizadores podem adicionar amigos, obter dicas sobre locais, conferir estatísticas e pontuações do perfil. No entanto, não é possível actualizar a localização através do site, mas apenas por smartphones, como o iPhone, o Blackberry ou o Android.
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A Vodafone Portugal estabeleceu recentemente uma parceria com o Foursquare para passar a disponibilizar o acesso à plataforma nos telemóveis
praticável através da massificação dos smartphones, cuja penetração, em Portugal, ainda está distante de países como os Estados Unidos da América (EUA)”. Mesmo do outro lado do Atlântico, este ainda é um fenómeno recente. No final de 2009, o próprio Foursquare tinha pouco mais de 170 mil utilizadores. O boom deu-se no South by Southwest Interactive Festival (SXSWi) em Março e Abril, após o qual a rede ultrapassou a fasquia de um milhão de utilizadores. O mesmo festival, no qual são apresentadas as grandes novidades da interactividade online, tinha já sido o grande impulsionador do Twitter, em 2007. A Vodafone Portugal estabeleceu recentemente uma parceria com o Foursquare, para passar a disponibilizar o acesso à plataforma nos telemóveis. No entanto, tal como aconteceu com o Facebook, Rodrigo Moita de Deus afirma que o mercado português irá demorar mais tempo a entrar, em força, nas redes de geolocalização. Ainda em relação às possíveis polémicas em torno das questões de privacidade, considera que estas “são problemas que se colocam sempre que surge uma nova ferramenta. Os blocos de publicidade em televisão, introduzidos nos anos 50 e 60, também foram considerados intrusivos”. O que é certo é que “a utilização parte sempre do utilizador, que a pode cancelar em qualquer altura”, acrescenta Rodrigo Moita de Deus. A particularidade e a especial preocupação que podem decorrer da existência de redes sociais que oferecem, ou permitem, serviços de geolocalização “têm a ver com o facto de o elemento distintivo destas redes permitir, não apenas o acesso a bases de dados pessoais, mas também de essa ser a lógica da sua criação”, afirma Carlos Sampaio de Almeida, sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira. No entanto, “não existem, neste caso, questões jurídicas diferentes das que se colocam na generalidade dos meios de comunicações electrónicas”, acrescenta. Tanto o Direito Comunitário, como o Direito Português, regulam as O novo agregador do marketing.
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DICAS
Investir na geolocalização 1. É importante conhecer o funcionamento destas novas redes e certificar-se de que os seus trabalhadores também o conhecem 2. Ter objectivos específicos para esta ferramenta: Queremos conquistar clientes? Queremos trazer mais pessoas a um espaço? Queremos vender um determinado artigo? 3. Criar to-do lists numa área da cidade, no caso de se tratar de um restaurante ou loja 4. Criar um badge ou outra marca virtual identificativa 5. Criar recompensas 6. Monitorizar os resultados
actividades de marketing e publicidade, nomeadamente o chamado spam ou comunicações não solicitadas que são enviadas para os equipamentos de cada um, para fins de comercialização directa. Estas comunicações são consi-
deradas “invasão da privacidade e, consequentemente, a utilização das coordenadas electrónicas de pessoas singulares está limitada à obtenção de autorização por parte dos clientes, ou à possibilidade de qualquer um recusar essa utiliza-
Mini-dicionário do Foursquare Check-in: Anunciar que se entra num determinado local Badge´s Mayor: “Crachá” atribuído ao utilizador que mais vezes faz check-in num determinado lugar Superstar: Para quem já tiver feito check-in em 50 locais Supermayor: Para quem tiver acumulado dez mayorships
Pepsi, Bravo TV, HBO, Warner Brothers e The History Channel são algumas das marcas que já se renderam à geolocalização
ção, sem que daí decorram custos significativos”. Neste sentido, a rede social “mais não faz do que potenciar o acesso a essas informações disponibilizadas pelos cibernautas”, acrescenta Carlos Sampaio de Almeida.
MERCADO
Os outros projectos Mytown
Gowalla
Os criadores da aplicação do IPhone MyTown, Brian Morrisroe e Sam Christiansen, vêm da indústria dos vídeo jogos. Antes de fundarem a empresa Booyah, que deu origem a esta aplicação, ambos trabalharam na Blizzard Entertainment. Inicialmente o MyTown foi apenas uma experiência da recém-criada empresa, no entanto, o seu sucesso, levou os dois criadores a investir numa versão mais avançada. Actualmente o MyTown acumula cerca de 100 mil novos utilizadores por dia que passam, em média, uma hora conectados à aplicação. O MyTown utiliza o GPS e o Wi-Fi para permitir aos utilizadores fazer check-in em locais reais – como restaurantes ou lojas – através dos quais podem obter recompensas. Nesta aplicação, os utilizadores podem tornar-se “donos virtuais” dos seus locais favoritos. Esta aplicação será lançada brevemente na Europa. Recentemente o MyTown juntou forças com a H&M e a Travel Channel numa iniciativa quer permite ganhar recompensas, virtuais e reais, através do check-in em determinados locais.
Os check-ins podem ser feitos através da aplicação do telemóvel sendo as recompensas, muitas vezes dadas à chegada ao local, utilizadas como ferramentas promocionais dos parceiros da empresa. Premiada pelos Southwest Interactive Awards 2010, a Gowalla tem hoje cerca de 150 mil utilizadores. Não sendo possível fazer check-in através do site corrente, os utilizadores podem utilizar o Facebook, o Twitter e as notificações do IPhone para o efeito. Disponível para a Android, Apple IPhone, Blackberry e Palm, a aplicação permite, por exemplo, juntar pins quando o utilizador assiste a um jogo da sua equipa favorita. A Gowalla permite também a colocação de eventos, tendo a própria rede de geolocalização criado os seus eventos, como por exemplo, encontros em diversos locais para que os utilizadores se unissem e demonstrassem o seu apoio ao Haiti. A sugestão de viagens, visitas e locais são, claro, comuns. O Gowalla, que nasceu no final de 2009, está apenas disponível nos EUA.
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