Pedro Pérez-Llorca, sócio-director da Pérez-Llorca Abogados

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Entrevista

Tatiana Canas Jornalista tc@briefing.pt

Pedro Pérez-Llorca, sócio-director da Pérez-Llorca Abogados

José Cardigos

“Honorários vão ter de baixar”

“Os honorários vão ter de baixar. Os clientes estão a passar por dificuldades financeiras porque as empresas estão a gerar menos lucros. Uma redução de preços cobrados, correspondente à contracção da procura, com a consequente redução de prémios (e é a primeira vez que me recordo deste fenómeno na advocacia), parece-me coerente. Faz sentido”, afirma Pedro Pérez-Llorca, sócio-director da Pérez-Llorca Abogados, eleita pela Chambers a firma ibérica do ano 2006.

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Agosto de 2010

Advocatus | Quando afirma que o mercado jurídico se está a virar cada vez mais para a realidade interna, refere-se ao caso espanhol em particular, ou ao de todos os estados-membros da UE? Pedro Pérez-Llorca | Definitivamente, em Espanha é o que está a acontecer, mas penso que é também uma tendência de todos os nossos pares europeus. O interesse dos investidores estrangeiros está a reduzir-se e as empresas que mais apostam no mercado interno são as nacionais. As operações de fusões e aquisições (M&A) estão pouco activas. Hoje em dia, os departamentos que mais facturam são os que assessoram as empresas espanhoO novo agregador da advocacia


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las a nível do Contencioso, Laboral ou Fiscal. Daí a afirmação de que o mercado se está a virar para o nível doméstico: por um lado, porque os clientes espanhóis estão a aumentar; por outro, porque as áreas de Direito mais em voga são internas e não internacionais. Advocatus | Em relação às firmas de advogados espanholas, quais são os principais desafios que enfrentam com a crise? PPL | As firmas espanholas tomaram consciência de que é necessário sacrificar a rentabilidade em prol da coesão interna das sociedades. Talvez as firmas anglo-saxónicas tenham sido mais realistas, ao manterem os níveis de rentabilidade, preterindo — por vezes — a dimensão.

Entrevista

“As firmas espanholas tomaram consciência de que é necessário sacrificar a rentabilidade em prol da coesão interna das sociedades. Talvez as firmas anglo-saxónicas tenham sido mais realistas, ao manterem os níveis de rentabilidade, preterindo - por vezes a dimensão”

Advocatus | Em Portugal, há dois meses, a Linklaters fez um corte equivalente a 20% dos seus colaboradores. Pensa que vamos assistir a movimentos semelhantes um pouco por toda a Europa? PPL | Pelo que sei, muitas firmas anglo-saxónicas seguem essa estratégia nas suas filiais europeias, criando um novo conceito de spin off que dantes significava fusão/aquisição de uma nova sociedade. Actualmente, este termo aplica-se ao encerramento de escritórios. As firmas anglo-saxónicas fecham as suas filiais, dando como justificação um spin off na estratégia da empresa. O fenómeno que referiu, da Linklaters em Lisboa, não é único, nem quanto à Linklaters, nem em relação a Portugal. Penso que as firmas anglo-saxónicas estão a enfrentar a crise económica com muito maior realismo do que as europeias, através de uma política de redução de recursos humanos muito agressiva. Advocatus | Na sua opinião, qual é a estratégia mais correcta: a anglo-saxónica ou a europeia-continental? PPL | A questão coloca-se em saber se, ao manter os lucros da firma num curto prazo ao invés de apostar no seu crescimento orgânico está, de facto, a beneficiá-la. Não sei qual é a resposta correcta. Mas sei o que a minha firma está a fazer – continu-

“As firmas anglo-saxónicas estão a enfrentar a crise económica com muito maior realismo do que as europeias, através de uma política de redução de recursos humanos muito agressiva”

amos a apostar no seu crescimento orgânico, o que significa que reduzimos as margens de rentabilidade. E há bastantes escritórios de grande dimensão, quer portugueses, como espanhóis, que estão a seguir a mesma estratégia que a Pérez-Llorca. Advocatus | Qual é o objectivo com esse plano? Porque, por enquanto, e durante um período indefinido, estão a perder dinheiro... PPL | Reduzir as margens de lucro não é a mesma coisa que perder dinheiro. E aquelas têm de adaptar-se aos níveis de procura do mercado. Se a procura é menor, os lucros são mais reduzidos. Olhando para a nossa carteira de clientes, isso é muito claro – construir uma firma de advogados e mantê-la dentro de padrões de excelência constantes não é fácil. Uma vez atingido esse patamar, é-nos impensável perder os clientes angariados. Advocatus | Qual a tendência das sociedades de advogados no futuro? As grandes firmas vão continuar a existir, ou as boutiques especializadas tendem a ganhar terreno? PPL | Na minha opinião, um advogado muito bom tem sempre lugar em qualquer tipo de estrutura, seja num grande escritório ou numa pequena boutique. Não acho que as firmas com maior sucesso no futuro sejam boutiques. Alguns clientes podem gostar de trabalhar com firmas especializadas num determinado ramo de Direito, mas a maioria gosta de ser assessorada por um escritório cuja dimensão lhe permita ter capacidade para responder a desafios multidisciplinares, e só uma firma de grandes dimensões consegue alocar recursos humanos de qualidade para responder a estas questões num registo permanente. Não digo que não haja lugar para as boutiques, mas as grandes sociedades terão sempre maior procura.

“Os honorários cobrados têm de baixar. Os clientes estão a passar por dificuldades financeiras porque as empresas estão a gerar menos lucros, a situação é óbvia para todos. Uma redução de preços cobrados, correspondente à contracção da procura, com a consequente redução de prémios (e é a primeira vez que me recordo deste fenómeno na advocacia), parece-me coerente. Faz sentido”

Advocatus | E quais são os departamentos mais lucrativos actualmente? PPL | Essa questão é muito clara – pessoalmente, a minha especialidade é Direito Financeiro, M&A e >>>

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