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Entrevista
Conversas no Tivoli
Cristina Arvelos Jornalista
“Os jovens consomem mais media. Estão permanentemente online. Vêem TV, ao mesmo tempo que enviam sms e mails ou estão no msn. É uma revolução na forma como as marcas e os media têm de olhar para os consumidores”, afirma Rodrigo Mergulhão, que acredita que os televisores 3D vão invadir os nossos lares e 2010 vai ser um ano de crescimento para as áreas de tecnologia, media e telecomunicações
Rodrigo Mergulhão, responsável de Innovation & Growth da Deloitte
Ramon Mello
“Jovens estão sempre online”
Briefing | Acredita mesmo que 2010 vai já ser o ano dos televisores 3D? Rodrigo Mergulhão | O 3D foi um sucesso no cinema e pode ser levado até casa das pessoas. Exis6
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tem ainda alguns desafios a serem ultrapassados: o não existir uma tecnologia standard para a indústria; o não existirem conteúdos em quantidade; e o preço de produção em 3D, que é mais elevado.
Briefing | Apesar disso… RM | Acredito. Os media vão ter que gerir algumas expectativas dos consumidores, à conta de não existir uma tecnologia standard. Mas, por outro lado, o 3D pode ser um
canal publicitário de excelência. As marcas podem aproveitar o 3D para comunicar de forma inovadora. Os jogos para crianças, que já existem em 3D, são ainda outro factor que vai influenciar a compra do televisor. O novo agregador do marketing.
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Briefing | São os filhos que determinam o consumo? RM | Os filhos influenciam sempre o consumo familiar. O consumo dos media pelos mais jovens é completamente diferente. Os jovens consomem mais media. Estão permanentemente online. Os jovens vêem TV, ao mesmo tempo que enviam sms e mails ou estão no msn, na Internet. É uma revolução na forma como as marcas e os media têm de olhar para os consumidores.
Entrevista
“Já ouço falar da morte da TV há 20 anos. A televisão vai continuar a fascinar os jovens portugueses e, combinada com a internet, vai sobreviver”
Briefing | Um estudo sobre tendências da Deloitte para as áreas de tecnologia, media e telecomunicações para 2010 revela uma série de boas notícias… RM | Ainda não existia o sentimento de crise em Portugal e já os media estavam a sentir a diminuição das receitas publicitárias. Os media perceberam que iriam existir cortes dos sectores, das marcas, e optaram por uma atitude de prevenção. Agora que pode existir uma retoma, pode-se começar a pensar que os media podem recuperar, também com a antecipação de bons resultados por parte da economia, pois já não há a crise que existiu em 2008 e 2009.
O novo agregador do marketing.
Católico e com bom alfaiate Está com 33 anos e assume ter uma série de dogmas que o marcam. “Sou católico e a religião é importante para mim”, diz. Tem um bom alfaiate e pouco cuidado com a alimentação. Almoça pouco ou não almoça e compensa-se em jantares com amigos. Já praticou equitação, vela, ténis e ski com alguma militância. Agora não tem tido tempo. Identifica-se com o humor dos “Gato Fedorento” e revela-se um crente. “Acredito na família e acredito que as empresas podem caminhar para uma sustentabilidade sem serem ofensoras do ambiente. Acredito que podemos caminhar todos para a frente e com bons olhos, numa perspectiva optimista”.
Ainda: mais de 90 por cento dos conteúdos visualizados e mais de 80 por cento dos conteúdos áudio ouvidos serão consumidos em real-time. O directo permite que o consumidor tenha uma relação com o conteúdo, que implica uma emoção completamente diferente de uma transmissão em diferido. Os reality shows, por exemplo… Briefing | Não estão a passar de moda? RM | Acha? Repare-se no exemplo recente de “Ídolos”. Toda a gente comentava quem era expulso, a vitória do Filipe. Se não é toda a gente, é grande parte do mercado.
Briefing | Tem indicadores de que já não há crise? RM | Nos últimos dois anos, a queda do mercado foi grande. Agora, é mais difícil cair, do que não cair. Os grupos de media tiveram força para resistir a este impacto na quebra das receitas e, de alguma forma, vão ter de adaptar-se a um mercado com menor dimensão, adequar as suas próprias estruturas, as suas organizações e a forma como olham para os conteúdos e os distribuem para conseguir sobreviver a estes novos tempos. Briefing | O estudo referido prevê para 2010 uma grande percentagem de conteúdos televisivos e de áudio em real-time… RM | Em 2010, a média de consumos de televisão linear está entre 20 a 30 horas semanais, bastante superior, se comparadas com uma a duas horas de consumo não linear – seja por DVD, Video on demand.
HÓbis
“A música foi uma parte fundamental da minha educação. Ler música é como falar outra língua, é uma coisa de outra dimensão”
Briefing | O programa “Ídolos” não é bem um reality show. É um concurso... RM | É um directo, algo cujo desfecho as pessoas desconhecem, o que cria uma relação muito forte com o consumidor. O directo contribui ainda para a complementaridade entre TV e Internet. A Internet é uma extensão da TV e a TV é um pouco o potenciador da Internet. As próprias marcas podem aproveitar esta complementaridade para se aproximarem dos consumidores. Por exemplo: estamos a ver um anúncio de um serviço na TV, que encaminha os consumidores para o site, onde os consumidores
podem saber mais ou até comprar o produto, antes do programa recomeçar. Briefing | Os jornais de papel vão resistir? RM | Quando falamos de jornais de papel, estamos a falar de títulos, que hoje em dia não são só papel. A edição online é tão ou mais importante quanto a impressa. O acesso a esses conteúdos online é geralmente grátis, excepção do “Expresso”, “Público” e “Diário Económico”. Os grupos media noutros países estão a implementar modelos de pagamento online de duas formas: pay alls, onde as pessoas pagam uma subscrição mensal ou anual para aceder ao conteúdo, e micro-pagamentos, em que pagam o que consomem. Para já, será mais fácil implementar o primeiro modelo, pois os custos de transacção para os micro-pagamentos ainda são elevados. O pay all impede ainda a fuga dos leitores da imprensa para o online. Briefing | Os jovens lêem jornais? RM | Os jovens lêem notícias na Internet. Briefing | São consumidores dos noticiários nas TV? RM | Já ouço falar da morte da TV há 20 anos. A televisão vai conti>>> Abril de 2010
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nuar a fascinar os jovens portugueses e, combinada com a Internet, vai sobreviver. O tempo médio de visualização de televisão, cabo, vídeos online, na Internet, de visualização de conteúdos no telemóvel aumentou. Tudo aumenta porque o consumidor está permanentemente online. Briefing | O comando de TV é um objecto do homem? RM | O comando continua a ter importância na sala. A diferença, hoje em dia, é que as pessoas não estão só a olhar para a TV. Têm também a seu lado o telemóvel, o computador, o netbook. Os consumidores estão permanentemente online. Briefing | E o espaço da rádio? RM | A rádio encontrou o seu espaço e, hoje, é também muito ouvida pela Internet. Mas continua-se a ouvir rádio no carro, no trabalho. Quando acordadas, milhões de pessoas passam cerca de 40 por cento do seu tempo a consumir televisão ou rádio. Briefing | Os media portugueses funcionam bem? RM | Existem grupos muito fortes que actuam de forma inteligente. A concentração de vários meios em vários grupos permitiu obter sinergias na produção e distribuição de conteúdos para as várias plataformas. Briefing | Os consumidores estão mais exigentes? RM | Estão mais exigentes e têm a capacidade de escolher, caso não gostem dos conteúdos. A capacidade de escolha é enorme, face à multiplicidade de plataformas e de meios que existem. Dezenas de milhões de net tablets serão vendidos no próximo ano (basta seguir o novo Ipad da Apple), e estimamse vendas superiores a 1B€ nos 12 primeiros meses. O mercado do VOIP (voz sobre IP) poderá dar um salto de 50-100 milhões em 2009 para mais de 30 mil milhões nos próximos três anos. As vendas de eBooks poderão crescer cerca de 200 por cento. 8
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“O 3D pode ser um canal publicitário de excelência. As marcas podem aproveitar o 3D para comunicar de forma inovadora. Os jogos para crianças, que já existem em 3D, são ainda outro factor que vai influenciar a compra do televisor”
Briefing | O que o levou a interessar-se por esta área? RM | Trabalhar neste sector é um luxo. A comunicação (também enquanto relacionamento entre pessoas), a educação e o entretenimento têm a ver com os media. O facto de trabalhar neste sector foi uma escolha e um acaso. É uma paixão que está dentro de mim. Desde criança que gosto de ver TV, cinema, de ler livros e de ouvir música. Briefing | Ainda se lembra do que via? RM | Via desenhos animados, também os seleccionados por Vasco Granja, e séries como Sherlock Holmes, Bonanza, Dallas. No cinema, o filme que mais me marcou foi o ET. Mais tarde, fui trabalhar para a Andersen, uma empresa de auditoria e consultadoria e nesta área, por acaso. Começou aí o meu percurso. Briefing | Está na Deloitte desde 2008. Como é o perfil do homem Deloitte? RM | Ser um homem da Deloitte é um desafio. É representar uma marca muito forte nos sectores da economia, pois há uma perspectiva de níveis de qualidade e rigor bastante acima da média por parte dos clientes e dos parceiros. É ainda um desafio e um prazer trabalhar numa empresa que cresce todos os anos e consegue consolidar a sua posição nas várias áreas e sectores onde actua. Briefing | A marca Deloitte é um passaporte? RM | Antes de vir para a Deloitte, fundei uma nova consultora em Portugal, com mais pessoas. Senti na pele o que era ir às empresas e falar de uma marca que as pessoas não conheciam. Mesmo com ideias inovadoras, havia por parte das pessoas uma dificuldade de aceitação por não existir por detrás uma marca e uma imagem fortes. Briefing | Como é um dia seu? RM | O meu dia-a-dia é estar com clientes, ajudá-los a fazer negó-
cios, a vender mais. A minha vida rege-se por um equilíbrio entre a carreira, a família e a sociedade e os amigos. O difícil é conseguir este equilíbrio. Neste momento, o círculo carreira é o que tem um peso mais forte, pela competitividade, pelo mercado e por estar a evoluir. Mas sempre com uma preocupação com a família e amigos. Briefing | Fora de Portugal, qual a realidade dos media que mais o atrai? RM | Diria que, nessa área, existem três países que me atraem: Reino Unido, Estados Unidos e Brasil. Todos muito diferentes. O Brasil atrai-me pela criatividade do mercado na comunicação e nos conteúdos; os Estados Unidos por ter grupos de media muito fortes e um mercado sempre em inovação; o Reino Unido pela forma diferente e irónica, que os ingleses têm de estar no mercado. Briefing | Tem um diploma de música tirado no Conservatório… Um menino que toca piano e fala francês! RM | Não falo francês e toco cada vez menos piano, pois não tenho em casa. A música foi uma parte fundamental da minha educação. Ler música é como falar outra língua, é uma coisa de outra dimensão. É um privilégio poder ter estudado música, tocar música. Os meus filhos, se Deus quiser, hão-de ter também esta parte. Estudar música é como estudar Matemática. Dá concentração e raciocínio. Briefing | Quantos filhos tem? RM | Ainda não tenho. Mas estou com vontade. Briefing | Que música ouve hoje? RM | Adoro ouvir todo o tipo de música: da clássica ao rap francês e Black Eyed Peas em alta definição. Vou tentar ir ao concerto no Estádio Nacional, em Maio, e também gostava de acompanhar a selecção quando for à África do Sul. São tudo conteúdos, pontos importantes para a nossa vida. O novo agregador do marketing.