Um ritual português de sucesso

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Empreendedores

São três amigos com carreiras muito diferentes até decidirem lançar-se num projecto comum: o Prego Gourmet, cadeia que se orgulha de ser 100% nacional e que até final do ano deve contar oito lojas e facturar dois milhões de euros. Receita? Analisar bem o mercado, ser cauteloso nas decisões, crescer sustentadamente. E trabalhar. Porque um negócio próprio é como um filho. Que o digam André Simões de Almeida, João Cota Dias e David Igrejas

Ritual português de sucesso André Simões de Almeida, 34 anos, era o responsável pelo marketing do negócio da família, o grupo hoteleiro Albatroz. João Cota Dias, 32 anos, desempenhava funções na área financeira da cimenteira Secil. David Igrejas, também 32, era chef do seu próprio restaurante, o Foral da Vila, em Cascais. Une-os uma amizade já antiga. E um projecto em que se lançaram em 2010 muito embora nunca tenham “sonhado” aventurar-se em conjunto no mundo empresarial. Hoje são empresários de sucesso, donos de uma cadeia que até final do ano deverá somar oito lojas e facturar mais de dois milhões de euros. Assim pode ser resumida a história do Prego Gourmet, um projecto bem-sucedido em tempo de crise. Os seus fundadores fazem, aliás, questão de sublinhar que o negócio nasceu para a crise: “Nas-

cemos no meio da crise, pelo que foi todo pensado para a crise”. Como? Teve em conta que, embora exista uma redução do número de pessoas que frequentava os food courts dos centros comerciais – e que, por exemplo, passou a comer no próprio local de trabalho -, essa quebra é compensada pelo aumento de consumidores que trocaram os restaurantes tradicionais pelos espaços de fast food, mais acessíveis. E o que os três fizeram foi pensar numa oferta suficientemente acessível para o fast food mas com qualidade garantida. Porquê o prego como eixo de todo um negócio? Porque no restaurante de David já se confeccionava um prego gourmet – com rúcula e parmesão -, um verdadeiro sucesso de vendas que, a dada altura – e a culpa é da crise – retirou o protagonismo

a pratos mais formais. A ideia de alavancar o projecto empresarial a três no prego foi, por isso mesmo, ideia de David, que os outros dois amigos acolheram. “Um ritual português aperfeiçoado” é o conceito por trás do negócio, que os sócios explicam: “O prego já tem um posicionamento muito bem definido no mercado português, é talvez dos pratos mais conhecidos. Mas a sua simplicidade acabou por torná-lo quase banal. Ora nós notámos neste produto um enorme potencial e decidimos posicioná-lo de um modo bastante diferente”. Daí o gourmet. O que oferecem nas várias lojas já abertas na Grande Lisboa não é um prego simples: são oito tipos no pão e cinco no prato, desde o “clássico” Gourmet herdado do restaurante de David, “feito com o melhor lombo do mercado”, ao

invulgar prego asiático feito com salmão fresco (“as pessoas inicialmente escolhem um pouco a medo, mas, depois de provarem, ficam viciadas”). Foi em Setembro de 2010 que deram os primeiros passos mais sérios na direcção de um negócio que se propunha incorporar uma proposta de valor para o fast food (“Só é fast porque é rápido…”, comentam). Valor pela qualidade do produto, mas também pela portugalidade: “Dá um gozo diferente, porque nos food courts a maioria dos conceitos são importados, quer sejam franchisings ou não”. O Prego Gourmet nasceu para a crise e pela crise, mas como arranjar investidor neste contexto económico? André, João e David foram bem-sucedidos nesta demanda. A primeira porta a que bateram abriu-se-lhes: Pedro >>>

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Setembro/Outubro de 2012

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Empreendedores

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David Igrejas,32 anos, era chef do seu próprio restaurante, agora zela pela qualidade da sua receita

João Cota Dias, 32 anos, trabalhava na área financeira da Secil, agora gere as contas do negócio

André Simões de Almeida, 34 anos, trabalhava no grupo hoteleiro da família, agora gere o marketing do Prego Gourmet 20 Setembro/Outubro de 2012

Almeida, empresário que construiu carreira na Suíça e que criou uma holding para fazer investimentos em Portugal, acreditou no projecto. “O projecto era válido na nossa opinião e na de quem decidiu investir”, sintetizam. Terá ajudado o facto de o empresário já conhecer o produto e de já ter sido parceiro de David no restaurante de Cascais. Terá ajudado também o facto de não ser necessário empatar muito dinheiro inicialmente, pois o plano de investimento era faseado, à exacta medida do crescimento do negócio – isto é, loja a loja. Foi no Amoreiras Plaza que o verdadeiro teste começou. Estava-se a 9 de Junho de 2011, sábado. O dia (da semana) foi escolhido estrategicamente para permitir afinar “a máquina” e tê-la bem oleada para a segunda-feira seguinte, dia de maior movimento já que o centro se situa numa zona de escritórios. “Foi muito bem aceite desde o primeiro dia”. Mas, se não fosse, havia um plano B: “Tínhamos a vantagem de ter um cozinheiro… No dia seguinte, estávamos a fazer ervilhas com ovos escalfados para rentabilizar o espaço com pratos do dia e, pelo menos, pagar o investimento”, brincam. Não foi preciso. O plano inicial de abrir cinco a sete lojas até final de 2012 já sofre um upgrade e, neste momento, oito lojas é a meta. Reconhecem que estão mais ambiciosos mas não abandonaram a cautela inicial. “Estudamos muito bem o mercado antes de abrir uma loja para ter a certeza de que ali vai funcionar. Quando pensamos num centro comercial sabemos exactamente quantas refeições ali se vendem por dia”. Em média, o Prego Gourmet vende 250 diárias, com o Alegro Alfragide e o Oeiras Parque no topo do ranking, pela razão de que têm maior afluência à noite e ao fim-de-semana por oposição às lojas do Plaza e do Atrium Saldanha, em que a procura é mais concentrada ao almoço e durante a semana. Janeiro marcará a expansão da

“Se fôssemos muito ambiciosos no início se calhar era mais fácil vender a ideia, mas depois não era fácil manter as expectativas. A luta foi maior, mas estamos tranquilos”

marca para outras geografias, ainda que o investimento na Grande Lisboa esteja longe de esgotado. Mas o território nacional é o horizonte, tendo já sido identificadas cidades com potencial como Porto, Braga, Coimbra, Faro e Leiria. Mas o crescimento será – garantem – sempre gradual, sem precipitações. Exportar também está na forja das ideias, até porque o Prego Gourmet foi concebido como um produto global. Mas é “um produto difícil”, que exige “um controlo diário” para que a qualidade sejam 100 por cento garantida. Daí que os passos além-fronteiras só venham a ser dados depois de consolidada a operação em Portugal.

NEGÓCIO

Como um filho “Ter um projecto próprio é como um filho, exige 24 horas de dedicação e causa 24 horas de preocupação”. A frase resume o que os três jovens empresários sentem em relação ao Prego Gourmet – sabem do que falam pois são os três casados e com filhos (André dois, João outros dois e David três). E recordam os tempos de germinação do negócio, quando acordavam a meio da noite para trocar emails. Muitas foram as horas de sono perdidas na montagem do negócio, na preocupação com a qualidade. Ainda hoje, já com as lojas em velocidade de cruzeiro, há sempre imprevistos e pormenores a afinar, quantas vezes fora das horas de “expediente”. É por isso que desiludem aqueles que pensam que ter um negócio próprio é ter uma vida mais flexível, sair mais cedo, tempo para ir ao ginásio… “É exactamente o contrário, temos de estar disponíveis 24 horas por dia”. O benefício em quali-

dade de vida chegará mais tarde: para já fica a “satisfação de um negócio com potencial”. Os números confirmam: o ano de 2012 deverá encerrar com dois milhões de euros facturados, acima das expectativas. Mas – ressalvam – eram expectativas conservadoras. Mas os resultados consolidam a confiança do investidor no projecto. “Se fôssemos muito ambiciosos no início se calhar era mais fácil vender a ideia, mas depois não era fácil manter as expectativas. A luta foi maior, mas estamos tranquilos”. A três anos ou três anos e meio é esperado o retorno do investimento. Aos que pretendam seguir-lhes na esteira, recomendam que analisem o assunto friamente, estudem muito bem o mercado, criem uma estrutura equilibrada e cresçam sustentadamente. E que trabalhem. Mas também deixam a convicção de que “em tempos de crise se criam grandes negócios”.

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