Fuga para o offline Por Carime Elmor
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NÓS
Professores recusam proposta de greve Por Mateus Figueiredo
Assembleia dos Professores realizada dia 26 de maio na Facom. Foto de Igor Visentin
O ajuste fiscal promovido pelo governo no contexto da nova política econômica implantada no início de 2015 reacendeu a proposta de greve dos docentes da UFJF. Os cortes no orçamento e as perdas salariais pareciam encaminhar para a deflagração do movimento, porém a decisão tomada na assembleia do dia 26 de maio foi de não adesão à greve. Para o professor da Faculdade de Comunicação Paulo Roberto Figueira Leal, doutor em Ciência Política, a análise de conjuntura nacional contribuiu para a decisão. “Para a votação contra a greve preponderaram variáveis mais nacionais do que locais, pois estamos em ano de ajuste fiscal”, declarou. “Temos professores que, mesmo admitindo as justeza das reivindicações e a legitimidade de uma eventual greve, supõem que seria bastante improvável que conseguíssemos concessões do governo, o que provavelmente levaria a uma paralisação longa e desgastante, na medida em que o governo teria dificuldades em ceder, o que em algum momento nos levaria a voltar sem grandes ganhos.” Ainda segundo o professor, o momento também não era favorável, por ser final de período. Segundo o professor da Faculdade de Educação Álvaro Quelhas, ligado ao movimento docente, outros fatores contribuíram para a derrota da proposta. “Existe no Brasil, na atualidade, um caldo conservador político ideológico, e a UFJF tem incorporado esse pensamen-
to”, afirmou. Outro problema, segundo Quelhas, é a falta de consciência de que a universidade é uma coletividade, assim como a sociedade. “Atualmente a situação dos técnicos é muito complicada, nós temos um conjunto enorme de terceirizados e o quadro de efetivos carece de mais pessoal”, defende o professor. “Outra questão é a dos estudantes, que viram suas vagas aumentarem, mas não o custeio da universidade”. Com base nessa conjuntura, tanto Leal quanto Quelhas consideram difícil a reversão desse quadro no segundo semestre. “O orçamento da universidade é fechado no final de agosto, e, depois dessa data, não há muito que fazer”, disse Paulo Roberto. Já o professor Álvaro aponta outro fator: “Acredito que a vida é dinâmica, dialética, e sempre é possível uma mudança, no entanto, acho difícil isso agora, com esse caldo conservador predominando na universidade”.
TAs aprovam paralisação Com a greve deflagrada após o dia 27 de Maio, os técnicos administrativos da UFJF iniciaram um novo movimento para recompor salários, que não são revistos há quatro anos. “O cálculo do DIEESE que projetamos do início de 2011 até o meio do ano que vem, acrescido de um aumento real de apenas 2%, nos coloca a necessidade de 27,3% de reajuste linear, incluindo aí os professores das universidades e institutos federais”, destaca um dos integrantes
do movimento, Flávio Sereno Cardoso. Além das reivindicações salariais, os TAs estabeleceram pautas locais, como a manutenção do PROQUALI e o fim da EBSERH no hospital universitário. “Dissemos ao Reitor que ele não pode aceitar o papel que o MEC quer atribuir aos dirigentes das universidades, de serem apenas gerentes da crise”, disse Cardoso. “Eles devem ser os representantes da comunidade acadêmica junto ao MEC, e não o contrário!”
#OcupaUFJF mostra sua força Entre bolsas de auxílio atrasadas, resultado dos cortes de verbas do Governo Federal, que inviabilizam a permanência de muitos estudantes na Universidade e, mais ainda, diante do quadro de crise administrativa da UFJF e da precarização do Campus de Governador Valadares, os universitários chegaram a ocupar a reitoria durante 17 dias nesse primeiro semestre. Entre outras pautas, as principais reivindicações do movimento estudantil são de pagamento imediato de bolsas de auxílio para discentes que possuam renda familiar bruta de até 1,5 salário mínimo, a revisão do edital de apoio estudantil, bem como a finalização das obras de moradia destinada aos alunos de Juiz de Fora. Além disso, os universitários querem a reestruturação da segurança no campus, que muitas vezes reprime os estudantes e marginaliza moradores das comunidades vizinhas.
stamos todos conectados, sintonizados, online. Dentro de uma só bolha homogênea de comportamento pouco versátil e de difícil escape. Cada app novo no celular é capaz de mapear nossa localização atual, enquanto câmeras de “segurança”, diria também, de controle, seguem cada passo que tomamos. Está tudo registrado e estão ganhando fortunas vendendo seus dados que você tenta esconder por aí.
a proposta do Off Pocket, que bloqueia todas as comunicações sem fio na entrada e saída do aparelho. O turismo também pode ser uma forma para ficar out. Nicole Werneck, blogueira, conta que foi sozinha para Cabo Polónio, uma península no Uruguai onde não existe luz elétrica, sinal de telefone ou internet, e ficou inacessível por dias: “o lugar é tão incrível, que você nem sente falta dessas coisas”.
A fuga do panóptico já é assunto debatido faz tempo e agora que estamos nos confins dessa rede virtual parece ser complicado fugir, por exemplo, de aparecer nos arredores de tantos selfies. Em um mundo onde tudo parece ser suprido pela tecnologia é impossível se dissociar dela; seria como viver em um universo paralelo.
Outra forma desenvolvida sabiamente pelo designer foi o CamoFlash, que constitui um conjunto de LEDs poderosos, deixando a face do sujeito completamente coberta, que disparam ultra rapidamente quando detectam flashes de câmeras. Nesse caso, ele explora o fato da velocidade da luz ser mais rápida do que a do obturador. Além disso, outros acessórios foram incluídos nesse projeto de tentar escapar da vigilância constante, entre eles um lenço. Não chega a ser como a capa da invisibilidade usada por Harry Potter, mas um produto de testes usando câmeras de imagens térmicas que descobriram a imunidade de tecidos metalizados ao reconhecimento.
Curiosamente, alguns dispositivos estão sendo lançados com o intuito de assegurar alguns instantes de privacidade e invisibilidade. Será que ainda é possível estar offline? O designer Andrew Harvey criou o projeto Stealth Wear, que seria algo como “vestir ou usar com discrição”. Dentre algumas ideias desenvolvidas, está o CV Dazzle: estratégias usando a maquiagem e o estilo do cabelo como mecanismos capazes de derrotar os sistemas de reconhecimento facial. O objetivo é tornar as faces das pessoas indetectáveis aos algoritmos de visão computacional por meio de algo que pode ser usado em qualquer plataforma, até mesmo em fotos postadas no Facebook. Cortar o sinal do celular, wi-fi, 3/4G é
ESPAÇO cul tu ral Um banquete para abutres Por Bruna Luz
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temática jornalística é recorrente no cinema, entretanto Dan Gilroy, roteirista e diretor do recém-lançado filme “O Abutre”, consegue atualizá-la trazendo novos questionamentos. Indicado ao Oscar de 2015 na categoria de melhor roteiro original, o longa é estrelado por Jake Gyllenhaal no papel de Louis Bloom, um cinegrafista independente que procura as notícias mais chocantes para vender a emissoras de TV. Ávido pela violência e desgraça humana, Bloom extrapola o limite ético jornalístico, adulterando cenas de crimes para conseguir audiência.
Andrew Harvey percebeu que estamos sendo forçados a redefinir os conceitos de privacidade com o crescimento da indústria de segurança. Ele se diz preocupado com a maneira como estamos doando dados pessoais indiscriminadamente e quer usar a indústria fashion como uma forma de não conformismo com o modo pelo qual a “segurança” invade nossas vidas. Vestir-se dessa maneira seria produzir, conscientemente, um contra golpe. Capa do filme “A Montanha dos 7 Abutres” (1951)
Capa do filme “O Abutre” (2015)
Billy Wilder, consagrado diretor de filmes como “Crepúsculo dos Deuses” e “O Pecado Mora Ao Lado”, já havia abordado essa temática em 1951, com o longa “A Montanha Dos Sete Abutres”. O filme conta a história de Charles Tatum, um repórter veterano que espera pelo famoso “furo de reportagem”. Em viagem para cobrir uma notícia, acaba encontrando uma pequena cidade em que um homem estava soterrado em uma caverna. Aproveitandose da audiência gerada, o repórter amplia o sensacionalismo mantendo o homem preso por mais tempo do que o necessário de forma a atrair ainda mais pessoas ao verdadeiro “circo” montado.
Assim, se, por um lado, há jornalistas sensacionalistas, de outro, há um público que consome tal produto e exige cada vez mais a exploração da vida humana de forma escancarada.
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