JULHO | 2015
N
o ato de se desprender das amarras do lugar-comum coexiste a irreverência. A busca pela beleza do fazer artístico se torna, então, um mundo inquieto de possibilidades, mergulhadas nas mais diversas interpretações.
Dos murais gráficos ao artesanato as ruas ganham cor, movimento e vida, e o olhar de quem passa se desloca do trajeto usual para experimentar novos ares, nem que seja por frações de segundo. A arte tem por tradição esse lugar cativo de ser objeto observável para a internalização da expressão alheia, e num mundo cada vez mais caótico e individual, por que não fazer da rua o lugar de encontro para a manifestação do olhar particular através da arte? Ateliê é o canal que liga a obra prima que se esconde nos centros urbanos ao seu principal destino, o
observador assíduo. Assim como no laboratório do fazer artístico dos artesãos e artistas, aqui a grande matéria será lapidada e tomará forma, para que você possa apreciar o primor. Nesta edição teremos a colaboração especial de André Deco, o artista que troca que troca sua arte por estadias e passagens pelo mundo. Personagem ilustre do artesanato local, a professora aposentada Maria do Carmo é retratada no texto de Pedro Soares. Em artigo, Mariana Dias explica os precedentes e as características do artesanato e da arte, quebrando os paradigmas que giram em torno da temática. Na coluna “Visão de Mundo”, Carolina Tosetti coloca em questão o dia-a-dia dos profissionais que vivem de sua arte, que surpreende em um escape da realidade.
Sejam bem-vindos e bom passeio!
Expediente Editora Bruna Luz
Projeto gráfico Bruna Luz
Repórteres e redatores Carolina Tosetti, Pedro Soares, Mariana Dias
Fotografia e tratamento de imagem
Capa Foto Pedro Soares e Mariana Dias
Tratamento de imagem Pedro Soares
Pedro Soares
Colaborador de conteúdo André Deco
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Foto: Pedro Soares
Editorial
Índice 5|biografia
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:: André Deco
9|ensaio {fronteiras movediças entre manual e intelectual} :: Mariana
14|perfil {sentimento histórico} :: Pedro
Soares
15|garimpo
17
Dias
literário :: Mariana Dias
16|crônica {visão de mundo} ::
Carolina
Tosetti
17|ensaio
fotográfico {artefato} :: Pedro Soares
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Arte de André Deco
Biografia
com André Deco pre é o momento desenhando. Sempre deixava brincadeiras, passeios, encontros familiares, eventos, festas e tudo mais só para estar desenhando. Horas, dias e semanas, somente eu e o papel. Inventava muitas paisagens e objetos indefinidos, usava como diário também retratando o que acontecia ao redor.
Quando adolescente, me envolvi com o skate e rapidamente comecei a me interessar por pistas de skate e sair para outros bairros e logo cidades, André Deco ao lado de uma de suas artes. Foto: acervo aonde vi a arte nas rampas e do artista muros públicos. Em Alumínio não tinha nada daquilo, fiquei André Ruiz de Freitas, nasvários anos com outci e cresci em 1990 em ros amigos fazendo Alumínio, interior de arte nas paredes e SP. Desenho desde bem “Sempre aos redores de cenpequeno por vontade deixava tros esportivos que própria mesmo, e apelidabrincadeiras frequentávamos. Eu do “Deco” desde quando eu era um bebê. Meus pais (...) e tudo mais assinava LIFE, pois sabia dos riscos de são divorciados, e quando só para estar muitos locais sem ia visitar meu pai com uns desenhando. permissão que pintá6, 7 anos, ele não tinha vamos, então usava muita coisa na casa, e a Horas, dias identidade anônima. gente ficava andando pe- e semanas, E paralelamente las ruas pegando pequesomente eu pintava paisagens e nas madeiras e pedras, animais em telas à depois eu passava dias e o papel” óleo. Nunca recebi desenhando nelas. A ditreinamento forversão foi assim e sempre muito desenho na escola, não conhe- mal, porém em 2005 pintava essas cia nada sobre arte e nem tinha inter- telas dentro de uma loja de arte aonesse também, o que me fascina sem- de várias pessoas me auxiliavam.
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Fizeram
uma
pista de skate perto de casa em Alumínio e não saía tanto mais para outras cidades, mantinha os materiais da arte e do skate com o dinheiro que recebia na indústria metalúrgica que eu trabalhava desde os 16 anos. Quando eu
Intervenção de Deco em Londres. Foto: acervo do artista
tinha 19, em 2010, fui
e visitar outras cidades. Passei a assinar
pego pela polícia enquanto fazia arte na
DECOLIFE junto, duas identidades
pista de skate da cidade. Passei o dia na
paralelas que decidi ser o mesmo, tanto
delegacia e depois fiz um mês de serviço
na arte de rua como nas telas. Sempre
comunitário. Também tive que repintar de cinza todas as artes que eu tinha feito na pista de skate de Alumínio. Fiz tudo numa boa e não reclamei, isso apenas
me
motivou
“me hospedava com pessoas que conhecia no mesmo dia na rua e, em troca, eu dava uma arte”
a levar as pinturas
pintando, me envolvi em galeria de arte em Tatuí (SP), aonde participei de exposição de telas. Recebi destaque por um estilo inovador e não parei, depois fiz parte de várias exposições em bibliotecas, prefeituras, escolas e sempre no final de semana eu ia pra
para outro caminho. A meta que eu fiz
outra cidade e me hospedava com pessoas
depois disso foi mostrar para a cidade
que conhecia no mesmo dia na rua e,
que aquilo não era vandalismo. Depois
em troca, eu dava uma arte. Em 2012 simplesmente parei de trabalhar como metalúrgico e saí sem receber nada, estava fascinado por sempre tudo dar certo e nunca me faltar nada enquanto viajava, conhecia pessoas e fazia artes.
de alguns meses fui pego novamente em outra cidade enquanto pintava parede de estacionamento e assinei ocorrência. Não parei, porém comecei a viajar mais
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No mesmo ano, vendendo camiseta e juntando dinheiro, comprei passagem para Portugal e também conheci Espanha, França e Itália, depois voltei para Alumínio contando tudo que tinha descoberto e como era diferente. Mas tinha muito mais para ser visto, eu estava interessado em descobrir mais sobre histórias, lugares, pintores, e tudo que era novidade eu me interessava. Após alguns meses, tive a oportunidade de voltar para a Europa. Comecei 2013 em Londres. O plano era ficar apenas um mês, pois não tinha dinheiro, mas eu estava tão fascinado pelas artes locais que estendi a passagem por mais um mês. Mesmo sem dinheiro eu tentei vender desenhos na rua, mas fui parado várias vezes tendo materiais apreendidos. Fui parar dormindo na rua e pedindo comida em igrejas, pois não me deixavam trabalhar. Dormi durante duas semanas em cabines telefônicas e comia pão recebido, até conseguir papel e caneta e descobrir que fazer trocas não era ilegal. Então eu desenhava caricaturas de clientes em troca de alimento em
“Joguei fora a passagem de volta para o Brasil e fiquei mais cinco meses no barco” restaurantes. Também fui cuidar de um barco de um rapaz que conheci na rua aonde eu poderia dormir no barco. Joguei fora a passagem de volta para o Brasil e fiquei mais cinco meses no barco e
Arte de Deco em rua de Londres. Foto: acervo do artista
sempre fazendo trocas para ter materiais pra fazer arte nas paredes públicas de Londres, e usava madeiras da construção do barco para fazer quadros, e depois de prontos eu os guardava atrás da mesa. Fui para a França na intenção de estender meu visto, mas fui preso na imigração e não me deixaram entrar na Inglaterra novamente. Foi bem difícil e humilhante, nos fazem pensar que estamos fazendo algo errado. Me deixaram na rua na França, nem mudas de roupa eu tinha, e levei alguns dias dormindo na estrada até chegar na cidade e poder fazer
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algum desenho para comer e também ir para outro lugar. Pintei bastante em Amsterdã e Roterdã depois fui para a Alemanha, fiquei na estação até alguém me “levar pra casa” aonde pintei a parede da sala em que dormia e recebia alimento enquanto fazia a arte. Novamente na Holanda, depois Alemanha, Áustria, Hungria e Romênia sempre pintando, conhecendo a cultura local. Na maioria das vezes eu tive dificuldades com idiomas, então somente a arte era minha comunicação.
Arte de Deco na Romênia. Foto: acervo do artista
de street art, e sempre que posso saio Final de 2013 pude expor em uma das maiores galerias de arte pintando na rua sem destino mesmo. contemporânea da Turquia, Tenho lidado com muito fiquei três meses em Istam- “não aceito público diferente, tanbul e todas as artes que eu que a pessoa to por cultura e clasfazia enquanto morava no compre um ses sociais, perco várias barco em Londres foram oportunidades e recuso enviadas para essa galeria. quadro meu alguns trabalhos comerapenas para ciais, não aceito que a Depois disso, mais combinar com pessoa compre um quacinco meses na Romênia e dro meu apenas para de volta a Londres, onde a cortina e o combinar com a cortina estou há quase um ano no- sofá da casa” e o sofá da casa, prefivamente. Não tenho feito ro carregar o quadro trocas como antes, pois não na mochila e sair pepreciso tanto de itens básicos como comer e dormir. A necessidade dindo carona viajando. Também nunca e o compromisso agora têm sido com o sei direito o que estou fazendo e qual a conteúdo da arte, venho estudando e me direção que isso está indo, mas sempre preparando mais, pois tenho ferramen- sinto que tenho feito a coisa certa intas e condições melhores para produzir dependente do que está acontecendo. quadros e esculturas. A responsabilidade na arte que sinto em compartilhar Eu considero arte a vivência, afiideias e aprendizados que passo, guar- nal o que vejo é a experiência e vido todas as obras e participo de eventos vência do artista refletida nas obras.
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Foto: Pedro Soares
Fronteiras movediรงas POR MARIANA DIAS
Ensaio Galerias, centros culturais, museus e rua. Sim, rua. Há hoje um movimento cada vez maior de projetos que levam a arte para a rua ou parte da rua para as galerias, como é o caso do artista Banksy no Reino Unido e dos grafiteiros Gustavo e Otávio Pandolfo, “OSGÊMEOS”. Mas, em meio ao reconhecimento há aqueles que não são tão discutidos e que vivem do que produzem na rua: os artesãos (ou seriam artistas?).
Nos dias de hoje, artesanato talvez seja bastante utilizado em um tom depreciativo ou diminutivo, colocando-a em uma escala de valores como secundária a outras formas. Situação que não é nova, vem desde antes de Cristo e tem se reconfigurado com o passar da história.
Por muitos anos, artistas foram considerados artesãos e, por isso, subjugados. Na Grécia antiga, entre 520 e 420 a.C. havia a hierarquização entre Para se estabelecer qual a diferen- poetas e artistas, partindo da distinção ça entre artesão e artista é preciso dis- entre aqueles que trabalhavam inteleccutir o que é arte e o que é tualmente e os que realiartesanato, mas nunca houve “Arte e arte- zavam obras com as mãos, uma maneira de dizer o que é sanato são pa- sem fazer uso do cérebro. Já a Arte, e é impossível estabe- lavras que his- mais tarde, até o século XV lecer regras para defini-la. Nos t o ricamente o artista possuía no ocidendias de hoje, avançando desde tomam signifi- te o status de artesão, pronMarcel Duchamp, que elevava cados muito di- to para receber encomendas qualquer objeto de qualquer ferentes em di- de cristaleiras, quadros e loja de materiais ao nível de até mesmo sapatos. É só no versas épocas ” arte, expondo-os nas galerias, célebre período da arte itaé ainda menos possível. Antes, liana conhecido como Quatvoltando talvez um século, trocento e o Cinquecento Arte com ‘A’ maiúsculo era aquela exclu- que isso mudará. Os artistas passam a siva, selecionada, que era exibida em ex- fazer uso da matemática e do estudo da posições nas galerias. Mas, como sabia- anatomia para aprimorar seus quadros. mente diz o historiador Ernst Gombrich Prova final de que o trabalho do arem seu livro A história da arte (editora tista não era só manual, mas cerebral. LTC, lançado em 2013); “arte com A maiúsculo não existe”. Então, no fim das Esse raciocínio, como sabemos contas, o que significa a palavra arte? Ou ainda mais, o que diferencia a arte do hoje, se provou falso, mas ainda é utiliartesanato produzido e vendido na rua? zado como uma maneira de classificar a Arte e artesanato são palavras que historicamente tomam significados muito diferentes em diversas épocas.
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superioridade da obra feita em estúdio. Não existe forma de se estabelecer que o artista plástico ou o artesão utiliza mais
O artesanato na feirinha do Parque Halfeld, em Juiz de Fora/MG. Foto de Pedro Soares.
“Os artistas simplesmen te não viam necessidade de terem seus nomes guardados para a posteridade, muitas obras não eram nem mesmo assinadas”
ou menos esforço
misteriosa que irá criar algo inestimável.
intelectual, assim como não há pa-
râmetros para se
arte como “objetos criados por seres hu-
definir a beleza
manos para outros seres humanos”, não
de qualquer obra.
é algo fruto de uma operação misteriosa
Ernst Gombrich define obra de
que parte de quem cria. O processo cria O status inclusive
tivo de artistas muitas vezes é descrito
não foi uma preo-
como algo místico, mas assim como a
cupação constante, os artistas simples-
arte, também possui vários formatos e
mente não viam necessidade de terem
é muito comum de se imaginar o artista
seus nomes guardados para a posterida-
como um ser dotado de um dom superior
de, muitas obras não eram nem mesmo
e uma genialidade, elementos esses que
assinadas. As pessoas os enxergavam
também estão presentes nos artesãos.
como nós hoje vemos os pedreiros ou mar-
ceneiros, pessoas prontas a executar uma
tarefa e não alguém dotado de uma aura
Maria do Carmo Pires define arte em duas
A artesã e professora aposentada
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palavras: “produção humana”, e destaca
to para tampar o corpo, tudo isso é arte.
que muitas vezes o tecido que observa já
Tudo hoje tem uma relevância, nós não
lhe diz a forma da obra já acabada, algo
fazemos nada mais por acaso”. A dife-
parecido com a lenda de que Michelan-
rença entre os termos estaria no público,
gelo observava nos mármores sua forma
o artesanato como sendo popular e a arte
final, e então somente libertava o que já
algo de galeria, mas seria possível, no con-
estava contido ali.
texto atual, diferenciá-los dessa forma?
Já a artesã Hélida
da Silva considera impossível criar algo na rua. O barulho a incomoda, ela neces-
A Ateliê, ao conversar com as ar-
sita estar em um espaço vazio, onde só
tesãs da tradicional feirinha do Parque
ouça uma música calma e, ao fazer o crochê,
Halfeld, encontrou seme-
“Tudo hoje tem
lhanças muito precisas
to de uma touca vira
uma relevância,
conceito do outro.
uma bolsa”, acrescen-
nós não fazemos
desses exemplos vem do
dade que tem ao criar
nada mais por
que os jovens eram ini-
as próprias peças, sem
acaso”
ciados pelos mestres que
“é assim que o pon-
ta, destacando a liber-
auxílio de tutoriais em revistas especializadas.
para não diferenciar um Um
Renascimento, época em
possuíam oficinas, começavam fazendo pequenos detalhes nos quadros, até amadurece-
Tanto na arte quando no artesana-
rem e criarem suas próprias formas. Da
to há o que o produtor cultural do Museu
mesma maneira, as artesãs foram muitas
de Arte Murilo Mentes, Beto Campos,
vezes ensinadas pelas avós e mães, como
definirá como “a necessidade do homem
um ofício para sobreviver nas dificulda-
se fazer representar, seja pelos sons ou
des. Hélida brinca, dizendo que a avó era
pela imagem”. Segundo ele “arte é todo
exigente, “eu chegava achando que esta-
objeto que nos faz pensar, reformular,
va arrasando, mas minha avó mandava
transformar. O couro usado como obje-
eu desmanchar e começar tudo de novo,
st A feirinha de artesanato do Parque Halfeld funciona de segunda a quarta, das 8 As 16 horas. Lá é possível encontrar diversos tipos de artesanatos, desde os feitas em ferro fundido até os tradicionais tricôs st
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Quadros “São Mateus”, de 1602, de Caravaggio. Retirado de http://tapornumporco.blogspot.com.br/
até ficar perfeito”. Um ofício que no caso
famoso é o do pintor italiano Caravaggio,
dela, que ainda não é aposentada, é apri-
que, ao ser contratado por uma igreja de
morado desde os oito anos de idade e que
Roma e designado a pintar São Mateus
agora lhe serve como única fonte de renda.
escrevendo o evangelho, teve a expressão
Outro argumento muito utilizado
suprimida pois não se adequava aos gos-
para estabelecer a diferença da arte para
tos do comprador. Primeiro imaginou o
o artesanato é a função, a primeira teria
esforço do pobre trabalhador ao ter que
como propósito contribuir para a beleza
escrever um livro e é nítido o olhar de es-
da vida, enquanto o segundo seria apenas
forço, as mãos brutas sendo guiadas pelo
a criação de objetos funcionais ou distra-
anjo. Já no segundo quadro, Caravag-
ção. Mais uma vez não é possível delimi-
gio caracteriza São Mateus a partir de
tar até onde esse raciocínio é verdadeiro,
uma representação comum dos santos,
durante muitos anos obras não foram fei-
com as vestes tradicionais e a auréola
tas para serem exibidas como Arte, em
na cabeça. Da mesma forma, as arte-
galerias, mas sim para comprazer o de-
sãs criam seus objetos com liberdade ou
sejo de quem as encomendava. Um caso
sob encomenda de quem passa pela rua.
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Perfil
Sentimento históricoPOR PEDRO SOARES
O mundo se encontra em cada esquina, calçada, pessoa, carro e asfalto. E foi andando nesse mundo que tive a oportunidade de ouvir uma digna aula de história da arte com Dona Maria do Carmo, uma senhora artesã que expõe e vende seu trabalho há 12 anos na feira que acontece Dona Maria do Carmo pelas lentes de Pedro Soares de segunda à quarta-feira, humanidade. “É um caminhar, até que todas as semanas no Parque Halfeld, a arte se desprende de modelos ou im região central de Juiz de Fora/ MG. posições (...) enquanto teve um pouco de liberdade, houve uma expansão na arte.” Com sua estatura mediana, olhos sonhadores e pensamentos rápidos, essa Conversando consigo mesma ou professora aposentada vinda do interior com suas “irmãs de trabalho” (incluindo estado do Rio de Janeiro nos agrado sua irmã mais velha, que também cia com sua história e ensina que tecido faz seu artesanato na feirinha), Maria é uma coisa mágica. Dona do Carmo exala sensatez, riMaria confessa que o tra“Arte é toda produção gidez e conhecimento sobre os balho manual realizado por mais diversos assuntos. Quanela serve como terapia para humana que inclui as do questionada sua opinião sua vida. Algum tempo de emoções, o meio, nesobre o conceito de arte, ela conversa a mais e ela concessidade, observação. nos agracia, mais uma vez, ta também que, em 1980, conseguiu o 3º lugar no pri- O sentimento está ali.” com a emoção. “Arte é toda produção humana que inclui meiro concurso de poesia as emoções, o meio, necessidada UFF. Relembrando esse momento de sua vida, essa artista vete- de, observação. O sentimento está ali.” rana se deixa levar pela emoção e seus Ai, o sentimento. É completaolhos tomam um formato acolhedor e se molham embalados em nostalgia. mente visível o amor sentido por essas artesãs pelo seu trabalho. A atenção A partir de então, a aula de histó- dada a cada pessoa que passa pela sua ria começa. Arte grega, egípcia, romana, arte pode ser comparada à dedicação brasileira, antiga, contemporânea. A se- de uma mãe com seu filho. Nos sentinhora com seus vívidos 65 anos de expe- mos abraçados pelo seu conhecimenriência, nos prova que a arte está em todo to, carinho e preocupação explícitos e qualquer lugar, desde os primórdios da em menos de duas horas de conversa.
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Garimpo literário A história da arte, de E.H. Gombrich Editora LTC
Inicialmente lançado nos anos 50 e revisado constantemente, esse livro é um dos pilares para compreender a história estética. Gombrich trabalha com os períodos históricos que vão desde a pré-história até o período da arte experimental e moderna do final do século XXI. A partir de uma linguagem de fácil entendimento, quase uma conversa com o leitor, o autor pontua pontos tanto sociais, do contexto das obras, quanto pessoais dos artistas. Ideal para estudantes e não historiadores. O livro está disponível na versão pocket e na versão comum (ambos com preço médio de R$ 80).
Obras escolhidas, de Walter Benjamin Editora Brasiliense Coleção dividida em três livros (média de preço R$ 50, cada exemplar) com os principais trabalhos do filósofo alemão. Neles, é possível encontrar os textos que Benjamin trabalha a questão da reprodutibilidade técnica, como as tecnologias influenciam na conceituação da arte, além de reflexões sobre as vanguardas, literatura, narrativa e o conceito de história.
O retrato - Nikolai Gogol L&PM Pocket Nesse livro, Gogol, um dos mais conhecidos escritores russos, trabalha além das reflexões quanto a própria vida e sobrevivência em um mundo que passa a valorizar a máquina, refletindo sobre a essência da arte. A história do jovem pintor de quadros Tcharkhov serve de pano de fundo para compreender a mentalidade de muitos pintores do século XIX. Realismo fantástico que dialoga com conceitos de Walter Benjamin e o melhor de tudo, custa apenas R$5.
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VISÃO DE MUNDOPOR CAROLINA TOSETTI
Crônica
Foto: Bruna Luz
Em meio ao caótico momento das 18h da sexta-feira urbana, duas gerações bem distintas se entendem, numa comunicação quase não-verbal. Linha por linha, uma idosa e uma jovem entrelaçam sua arte em meio à praça pública. Os que passam por elas apressados com seus smartphones nas mãos não se importam, ou até desprezam tamanho desleixo, onde já se viu ficar sentado no chão do parque ser considerado algum trabalho digno? A tarde cai sinalizando que mais um dia de trabalho chega ao fim. Os que passam por ali tem vários planos em mente, carregam o cartão da passagem de ônibus nas mãos, se amontoando para chegar a seus destinos. O estresse diário acumulado bem se nota nos rostos cansados desconhecidos, mas não nos artistas. Lentamente, as duas mulheres se levantam e recolhem seu material de trabalho. Os objetos delicados e bem trabalhados contém referências a artistas (Bob Marley em
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sua maioria? Talvez) e cores vivas, em contraste à galeria de arte improvisada. Numa sensibilidade tocante, ao perceber que eu as observava uma das artesãs, a mais velha, se aproximou e segurou um chaveiro bem diante dos meus olhos e disse “Para você, moça bonita”. Agradeci e disse que não tinha dinheiro comigo, mas ainda assim a mulher insistiu, dizendo que queria me dar aquele presente. O pássaro colorido pendurado no chaveiro captou meu olhar durante todo o caminho para casa no ônibus lotado. Livre de preconceitos e amarras aquela senhora preferiu compartilhar sua arte singela e pura com quem ali passava, e assim eu decidi a forma que agiria dali em frente. O poder da arte, seja ela qual for, deve ser transformador. Talvez a arte seja mesmo melhor aproveitada quando vem acompanhada da liberdade de um pássaro, para quem faz e para quem recebe.
ARTE FATO Ensaio por Pedro Soares
Bastidores Bruna Luz Juizforana na alma, possui uma mente inquieta e curiosa. É outra constantemente, como diria Fernando Pessoa, “por a alma não ter raízes de viver de ver somente!”. Viajante de lugares, tempos, aromas e momentos. Por enquanto, artista de si mesma
Carolina Tosetti 19 anos, tocada pela música, cinema, dança e artes plásticas, desde pequena vê a arte como meio de expressão. Jornalista em formação, espera poder contribuir com visões sinceras acerca do mundo
Mariana Dias Entende a arte como uma caixa organizadora da vida, sem a qual nada faz sentido. Não é uma artista renascentista, mas dá para o gasto. Nas horas vagas, tenta organizar suas próprias caixas brincando de ser escritora
Pedro Soares Mineiro interiorano, 21 anos dedicados à apreciação da arte no geral. Me expresso através de imagens, pois elas retratam sentimentos, independente de quais
APOIO
Revista experimental desenvolvida para a disciplina
Processo de Informação III, ministrada pela professora
Lara Linhalis Facom | UFJF 2015