LOCUS Ambiente da inovação brasileira
Edição dupla Ano XVII | no 63 e 64 Outubro 2011
O DESAFIO DE CONSTRUIR TERRITÓRIOS MAIS COMPETITIVOS Inovação e apoio a iniciativas locais podem gerar um novo mapa do desenvolvimento no Brasil
O presidente da Finep fala sobre o futuro da agência e o fomento a MPEs
Como empresas nascentes podem conseguir dinheiro para seus projetos
As tendências de gestão para incubadoras e parques tecnológicos 1
EXPEDIENTE
Da redação
LOCUS Ambiente da inovação brasileira Ano XVII ∙ Outubro 2011 ∙ no 63 e 64 ∙ ISSN 1980-3842
A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) Conselho Editorial Josealdo Tonholo (presidente) Carlos Américo Pacheco Jorge Audy Marli Elizabeth Ritter dos Santos Mauricio Guedes Maurício Mendonça Coordenação e edição Débora Horn Reportagem Adriane Alice Pererira, Bruna de Paula, Bruno Moreschi, Camila Alves, Caroline Mazzonetto, Cora Dias e Talita Fernandes. Jornalista responsável Débora Horn MTb/SC 02714 JP Direção e edição de arte Bruna de Paula
A Locus mudou! Afinal, uma publicação que estimula a inovação não pode parar no tempo. Com novo projeto gráfico e editorial, esta revista tem a missão de servir como ferramenta de formação e informação a todos os envolvidos com o empreendedorismo inovador no Brasil. Por meio de reportagens apuradas com rigor, da colaboração de profissionais especializados e da articulação com o movimento, a Locus é destinada a promover negócios, estimular a criatividade, compartilhar informações estratégicas, formar opinião, debater temas polêmicos e
Colaboração Hiedo Batista
apontar o futuro.
Revisão Vanessa Colla
Para isso, a Locus fala com todos os agentes
Foto da capa Shutterstock
do empreendedorismo inovador. Dos jovens empresários nas incubadoras aos pesquisadores na universidade, das organizações promotoras da
Presidente Guilherme Ary Plonski Vice-presidente Francilene Procópio Garcia Diretoria Gisa Bassalo, Jorge Nicolas Audy, Renato de Aquino Faria Nunes e Tony Chierighini
inovação aos órgãos do governo que definem as políticas públicas para o segmento, dos investidores aos consumidores. Em uma rede cada vez mais dinâmica, todos são fontes, leitores, colaboradores e críticos da revista.
Superintendência Sheila Oliveira Pires
Nesta edição especial buscamos inovar não
Coordenação de Comunicação e Marketing Genny Coimbra
apenas no uso das cores e de diversos outros
Impressão Kako Gráfica & Editora
elementos gráficos, mas também em uma orde-
Tiragem 3.500 exemplares
nação de conteúdo segmentada, que permita a
Produção
Apoio
cada nicho de leitores identificar facilmente o bloco de matérias que mais o interessa. Esperamos que as mudanças agradem. Nós, da Redação,
Endereço SCN, quadra 1, bloco C, Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211 Brasília/DF - CEP 70711--902 Telefone: (61) 3202-1555 E-mail: revistalocus@anprotec.org.br Website: www.anprotec.org.br Anúncios: (61) 3202-1555
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seguiremos empenhados em oferecer, de forma sempre inovadora, informação de qualidade a você, leitor.
CARTA AO LEITOR
Q
LOCUS
ual o caminho para o desenvolvimento? Tão inquietante quanto essa pergunta é a infinidade de respostas possíveis. Avanços sociais, crescimento econômico, ambiente favorável aos negócios, marcos regulatórios
bem definidos, políticas públicas eficientes. Em conjunto a uma série de outros aspectos, esses são elementos fundamentais à estrada que levaria ao desenvolvimento sustentável. Nos últimos anos, o Brasil tem acelerado o passo, conquistando melhorias sociais importantes e também uma economia mais sólida. À medida que esses avanços se consolidam, aumenta o desafio de fazer não apenas que se mantenham, mas também frutifiquem e gerem desenvolvimento efetivo. Eis que então surge outra via: a nova competitividade dos territórios, tema do XXI Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, promovido por Anprotec e Sebrae entre os dias 24 e 28 de outubro deste ano, em Porto Alegre (RS). Nesta edição especial, lançada no Seminário, a Locus buscou informações que permitam entender as características que tornam um território competitivo no contexto da economia do conhecimento. A partir da análise de especialistas, exposta na reportagem de capa, é possível concluir que o esforço para a inclusão de territórios diversos no processo de desenvolvimento passa, também, pelo apoio aos micro e pequenos empreendimentos e, ainda mais, à inovação. Inovação e inclusão são palavras de ordem quando falamos de economia criativa, tema da seção Oportunidade. A matéria relata um projeto que está em curso no Rio de Janeiro, e reforça o potencial das incubadoras sociais para transformar cultura em negócios. Na seção Sucesso, três empresas que nasceram em incubadoras e hoje são grandes comprovam que todo apoio recebido pode se reverter em benefícios para a sociedade. Os relatos e conselhos dos gestores de Bematech, Fotosensores e Chamma da Amazônia reforçam que a trajetória de qualquer empreendedor é marcada pela superação constante de desafios. Para suportar a pressão, o processo de mentoring, tema da seção Gestão, pode ser uma alternativa. Destaque também para um bloco de matérias, chamado Habitats, voltado a um público seleto: gestores de incubadoras e parques tecnológicos. Sustentabilidade, governança corporativa e capacitação profissional, além da busca por modelos internacionais bem-sucedidos são tratados em reportagens esclarecedoras que, junto ao restante do conteúdo, fazem desta Locus uma edição muito especial. Boa leitura!
Conselho Editorial
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ÍNDICE
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NOVA COMPETITIVIDADE Em meio a importantes conquistas econômicas e sociais, o Brasil se depara com o desafio de estruturar um processo de desenvolvimento que insira diferentes territórios na economia globalizada. Boas condições de infraestrutura, disponibilidade de recursos humanos qualificados, valorização das iniciativas locais e capacidade de articulação social são fatores essenciais para um território competitivo
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13
EM MOVIMENTO
OPORTUNIDADE
O presidente da Finep, Glauco Arbix, fala da atuação da agência e defende a avaliação dos projetos apoiados
De Norte a Sul do país, as novidades do movimento de empreendedorismo inovador
Conheça o Rio Criativo, projeto que, com a ajuda de incubadoras, promete impulsionar novos empreendimentos no Rio de Janeiro
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INVESTIMENTO
GESTÃO
SUCESSO
A quem a empresa nascente pode recorrer quando precisa de dinheiro
O mentoring pode ajudar empreendedores e empresas a se desenvolverem
O segredo de Bematech, Fotosensores e Chamma da Amazônia para alcançar o topo
66 74 89 89 6
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ENTREVISTA
INTERNAICONAL Em missão promovida por Anprotec e Sebrae, a Escandinávia encanta brasileiros pelos sistemas de inovação HABITATS Os caminhos para as incubadoras garantirem sustentabilidade financeira, implantarem práticas de governança corporativa e oferecerem a incubação virtual OPINIÃO “Pra não dizer que não falei de Jobs”, artigo de Mauricio Guedes BALANÇO As principais ações da Anprotec nos últimos dois anos e uma entrevista especial com o presidente, Guilherme Ary Plonski
_O MOVIMENTO
Saiba mais sobre as novas propostas de atuação da Finep, na ENTREVISTA com Glauco Arbix – entre outros objetivos, ele quer que a agência seja reconhecida como instituição financeira pelo Banco Central. Sempre EM MOVIMENTO , o empreendedorismo inovador está repleto de novidades, no Brasil e no mundo. A economia criativa promete transformar vidas e negócios no Rio de Janeiro, gerando OPORTUNIDADE . Em um artigo, a gerente de cultura do Instituto Gênesis destaca a importância das incubadoras sociais para apoiar empresas criativas. OPINIÃO de quem conhece. 7
João Luiz Ribeiro/Finep
A Finep mais abrangente Integrar instrumentos de fomento e ter a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) reconhecida como instituição financeira pelo Banco Central são os principais objetivos do sociólogo Glauco Arbix, que assumiu a presidência da instituição em janeiro deste ano. Arbix recebeu a Locus em Brasília (DF) para falar sobre a proposta de alterações no marco legal da agência, que inclui, além da criação da chamada FinepPAR, mecanismos para potencializar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Com a experiência de ter presidido o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entidade que tem o planejamento estratégico como foco, Arbix alerta que os programas da Finep devem ser mais bem avaliados, de modo que os resultados dos investimentos sejam aferidos.
P OR COR A DI A S 8
ENTREVISTA > Glauco Arbix
LOCUS > Qual o papel desempenhado pela Finep no sistema brasileiro de inovação ?
funciona de forma parecida com um banco:
Glauco Arbix > A Finep é uma agência nacional
dições excepcionais; e a terceira que é a sub-
de inovação, com foco em fomentar toda ati-
venção econômica a empresas, possível a par-
vidade inovadora que se desenvolve no país,
tir da Lei da Inovação, de 2006. Subvencionar
nos mais diferentes domínios: universidade,
uma empresa significa transferir recursos para
centros de pesquisa, ONGs, empresas. Apesar
ela com condicionalidades, de forma a obter o
da inovação ocorrer em toda parte, nós temos
resultado na área de tecnologia que compense
muita clareza de que a empresa é o centro, por
não somente o investimento da empresa, mas
excelência, mais apropriado para transformar
também traga retorno para o público.
empresta dinheiro a juros subsidiados, em con-
uma ideia em produto, processo, novo negó-
Ao analisar o perfil de atuação da Finep, ve-
cio, nova forma de logística. Inovação não diz
remos que, apesar de ser a mesma instituição
respeito exclusivamente à tecnologia, mas diz
que controla e coordena os três instrumentos,
respeito à engenharia, ao novo que é lançado
ainda existe muita dificuldade para integrá-los.
no mercado e que assim o movimenta. Ou seja,
A gente não parte dos problemas das empre-
que gera postos de trabalho, renda, empregos
sas, dos centros de pesquisa, das incubado-
de melhor qualidade. A Finep tem como tare-
ras e dos parques tecnológicos, para realizar
fa premente que a economia do país seja mais
os investimentos. Aqui a posição é contrária,
inovadora. Por economia brasileira, entende-se
uma posição que, de forma vulgar, podemos
o conjunto de seus agentes, principalmente as
chamar de ofertista. O governo oferece uma
empresas grandes, médias, pequenas e micro.
série de instrumentos e as universidades, as
Todas elas têm o seu lugar nesse processo. En-
empresas e as incubadoras tentam se encaixar
tão, a Finep com os seus instrumentos, tem que
nos editais. Com isso, não temos conseguido
contribuir para elevar o padrão de competiti-
otimizar o investimento, que perde qualidade,
vidade e produtividade da economia brasileira.
e muitas vezes, se sobrepõe.
A Financiadora não faz somente isso, pois estimula também a produção de conhecimento novo nas universidades e centros de pesquisa. Assim, a Finep desempenha um papel essencial. Encontrar um equilíbrio entre a ciência básica e o desempenho das empresas é fundamental. A economia nacional precisa dar um salto e transformar o Brasil em um país mais inovador em todas as dimensões.
De que forma a Finep está atuando e pretende atuar para melhorar essa intersecção entre universidade e empresa, para transferência de conhecimento. Quais são os instrumentos que a Finep dispõe para isso?
“ENCONTRAR UM EQUILÍBRIO ENTRE A CIÊNCIA BÁSICA E O DESEMPENHO DAS EMPRESAS É FUNDAMENTAL. A ECONOMIA NACIONAL PRECISA DAR UM SALTO E TRANSFORMAR O BRASIL EM UM PAÍS MAIS INOVADOR”
E como alterar esse modelo?
Estamos buscando aquilo que se chama de
A nossa ideia é tentar fazer o contrário:
integração dos instrumentos. Hoje, a Finep tem
sentar com as empresas e discutir com elas os
três formas de recurso a oferecer: o não reem-
problemas que enfrentam para inovar. E não
bolsável, que são transferências realizadas para
trabalhamos com esse recorte de pequena,
universidades e centros de pesquisa e que não
média e grande empresa, mas com o recorte
têm retorno; o crédito, a partir do qual a Finep
das que fazem uso maior e menor de conhe9
ENTREVISTA > Glauco Arbix
cimento, ou seja, quanto mais conhecimento
nanceira. Ao emprestar dinheiro e receber
mais tem a ver com a atividade da Finep. Nessa
recursos de volta com juros, operamos como
conversa com as empresas, devemos oferecer
um banco. Mas o debate sobre essa nova insti-
várias soluções: ‘olha, uma parte dos seus pro-
tuição ainda está aberto. Ela pode ser um ban-
blemas pode ser resolvido com crédito, outra
co – um banco especial evidentemente –, uma
parte subvenção, outra parte programas coo-
agência nacional de fomento, uma agência de
perativos com universidades’. Assim consegui-
inovação, desde que tenhamos a oportunida-
remos essa intersecção do centro de pesqui-
de de operar as mais diferentes modalidades
sa e da academia com o mundo empresarial,
de operações financeiras. Nós gostaríamos de
o mundo dos negócios. Esse casamento nem
continuar operando o crédito, a subvenção e
sempre é fácil, ele é difícil, porque são entes
o não reembolsável, instituindo a FinepPAR,
institucionais muito diferenciados nos seus
para poder investir em fundos de venture ca-
objetivos, missões e temporalidade.
pital e de seed capital. A inovação exige essa maleabilidade, que permitiria à Finep uma abrangência de atuação muito maior. Por isso
“A FINEP TEM TRADIÇÃO DE PROMOVER
estamos tentando valorizar essa flexibilidade e
PROGRAMAS PARA AS PEQUENAS E MÉDIAS
faça diferença na economia. Quando começa-
EMPRESAS E NÃO HÁ INTENÇÃO ALGUMA DE DESCONTINUÁ-LOS”
dotar a Finep de meios e recursos para que ela mos a discutir esse tema, a ideia central era a seguinte: temos hoje uma Finep que investe R$ 4 bilhões por ano e queremos uma Finep que invista R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões. Então, toda nossa preocupação também com o marco
Existe uma discussão sobre o marco legal da Finep na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado. Quais os avanços previstos, nesse sentido? Essa discussão está avançada. As mudanças
legal é pensar o FNDCT, como otimizá-lo, de forma que possa ser potencializado. Estamos pensando na criação de vários novos fundos, para tornar o FNDCT mais robusto.
são no sentido de viabilizar uma FinepPAR, que seria uma agência a exemplo do BndesPAR. Se-
base tecnológica, orientadas para a inovação.
Na última década a Finep desenvolveu uma série de programas voltados para as micro e pequenas empresas. Como o senhor avalia esses programas e resultados até hoje?
Nós dicutimos isso em várias emendas e tam-
Eu acho que a discussão de MPE se coloca
bém como orientar e dar uma base de sustenta-
em um patamar diferente, mais focada em em-
ção mais clara para a Finep a partir do FNDCT
presas mais ou menos intensivas em conheci-
[Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico
mento. Então, o recorte de pequena, média e
e Tecnológico]. São medidas que discutimos
grande não é tão importante em um primei-
com os legisladores, para formação de emendas
ro momento. Evidentemente nós levamos em
às leis existentes. Há também uma preocupação
conta que uma pequena empresa tem necessi-
em montar o marco regulatório dos parques
dades, dinâmica e estrutura bem diferentes de
tecnológicos.
uma grande companhia e, por isso, deve rece-
ria uma Finep em condições de participar de forma associativa com empresas privadas de
ber uma atenção especial. A Finep tem tradi-
10
O objetivo é transformar a Finep em uma instituição financeira?
ção de promover programas para as pequenas
Na verdade, a Finep precisa ser reconhe-
de descontinuá-los. O que temos intenção, sim,
cida pelo Banco Central como instituição fi-
é de fazer uma avaliação muito fina de onde
e médias empresas e não há intenção alguma
ENTREVISTA > Glauco Arbix
João Luiz Ribeiro/Finep
estamos acertando e errando. Por exemplo, um dos programas que lançamos foi o Prime [Primeira Empresa Inovadora], que atingiu um número grande de empresas. Nas suas diferentes fases já houve um certo aprimoramento nos critérios e na eficiência, mas, mesmo assim, queremos fazer uma avaliação do impacto desses programas. Não é nossa intenção, para nenhuma modalidade de empresa, dar sustentação para o processo de modernização dessa empresa, ou apenas de gestão. Não quer dizer que eles não sejam importantes para a inovação. São super importantes e são prioritários, mas não é o nosso negócio. Expandir suas atividades, investir em infraestrutura, financiar importações são preocupações importantes
O Prime é só um exemplo. Há várias outras
das empresas, mas essas atividades não são o
modalidades que contemplam MPEs em nos-
foco da Finep. Temos que ter o foco na ino-
sos editais, mas fundamentalmente sabemos
vação. As MPEs que nos interessam são as de
que as pequenas empresas têm problemas
base tecnológica, com potencial de inovação,
para conseguir crédito, pois nem sempre têm
que geram conhecimento novo, processo novo
uma estrutura para sustentar, no médio prazo,
e negócio novo, mas não necessariamente me-
um financiamento. Por excelência, as ativida-
lhorias de gestão ou de modernização. Como
des que ajudam essas empresas mais frágeis a
muitas vezes os programas não são claramen-
florescerem são ligadas à subvenção econômi-
te delineados, muita gente entende de forma
ca, recursos que têm que retornar de alguma
um pouco distorcida a missão e o foco central
forma, como empregos de melhor qualidade e
da Finep. Então, fazer o balanço dessas ativi-
novos produtos no mercado.
Arbix: retorno público dos investimentos deve ser considerado no apoio a empresas
dades, dos programas, é o mínimo que nós podemos exigir de uma instituição séria como a Financiadora.
É dessa forma que a Finep pretende mensurar os resultados dos programas?
E como fazer essas avaliações?
editais de subvenção. Então, temos que ver
Claro. Nós investimos R$ 500 milhões em É fundamental avaliar onde os recursos fo-
qual o retorno público desses investimentos.
ram aplicados. Temos casos ultra positivos e
Se não conseguimos aferir, alguma coisa está
outros nem tão positivos assim. Os relatórios
errada. Geração de emprego, de riqueza e de
das incubadoras, parceiras da Finep no Prime,
novos processos são resultados efetivos. Quan-
trazem informações-chave e questões que,
do a Finep transfere recursos para uma empre-
acredito, devem ser discutidas com a maior
sa, tem que saber o que ela vai fazer com o
tranquilidade e não com base em preconceitos.
dinheiro. Se a empresa investiu em um proces-
Se você fala em avaliar o programa, alguém já
so absolutamente interno, os resultados serão
torce o nariz e diz que, na verdade, você está
percebidos no longo prazo, e podem ser im-
querendo suspendê-lo. Temos de fazer uma
portantes, mas teremos dificuldade de aferir.
avaliação com todo o rigor possível, ouvindo
Há casos de empresas que não têm o produto
os agentes, as empresas, os técnicos da Finep,
ou o serviço para mostrar, não têm inovação,
todos aqueles que foram envolvidos nos pro-
não têm impacto na geração de emprego ou
cessos a partir das atividades que definimos.
transferiram recursos públicos para outra em11
ENTREVISTA > Glauco Arbix
presa, especialmente consultorias, fazer aquilo
à inovação. Temos que saber, porém, como
em que elas deveriam inovar. Então, temos que
orientar a maior parcela do fomento, quais são
avaliar isso. Se não, como zelar pelo recurso
as áreas que têm ponto de contato com o fu-
público? No caso do Prime, há uma disposição
turo. O que se espera de uma agência é que
da Anprotec em nos ajudar nesse processo de
potencialize a capacidade de um país. Aqui,
avaliação, na identificação de problemas e vir-
temos de formar conhecimento onde não há, e
tudes, de forma que, nas próximas tentativas,
em outras áreas, mais evoluídas, dar um salto
façamos melhor. Agora, o que eu disse para
para equiparar ao que existe de mais avançado
os representantes da Anprotec, repito aos lei-
no mundo. Definir prioridades é delinear crité-
tores da revista: não haverá programa novo
rios para alocar recursos.
sem que tenhamos clareza da avaliação e do balanço, porque significa, mais uma vez, fazer um voo às cegas e o setor público é mestre em fazer isso. Nós não temos tradição, no Brasil, de fazer avaliações.
Qual o papel dos parques tecnológicos e das incubadoras nesse processo de inovação? O primeiro passo é haver uma definição muito clara do que são parques e incubado-
Há um aprendizado nesse processo, por-
ras. Eu considero esses dois agentes essen-
que o estatuto da subvenção é muito novo no
ciais para qualquer sistema nacional de ino-
Brasil. Vários países executam a subvenção
vação. São peças-chave, pois oferecem não
há muito tempo e o fazem intensamente. No
apenas infraestrutura, mas também a pos-
Brasil, a primeira experiência foi em 2006.
sibilidade de sinergia para as empresas que
Estamos tateando, é um trabalho muito ex-
querem inovar. Essa aglomeração é virtuosa.
ploratório e, por isso, a avaliação é essencial.
O fato de estarem juntos atrai novas atitudes,
E fazê-la em conjunto com associações, como
novas maneiras de pensar. As análises e pes-
a Anprotec, e também com empresas é fun-
quisas mostram isso. Essa concentração gera
damental, pois não se trata de uma análise
sinergia. Saber se os parques são focados ou
do ponto de vista exclusivo do staff da Finep,
não, se são temáticos ou não, é uma discus-
ou da entidade que deu suporte. Temos que
são muito circunstancial. Não há receita para
fazer em conjunto, porque há coisas que não
isso. Concentrar empresas de áreas diferen-
enxergamos e outras que os demais não en-
tes gera integração de modo muito virtuoso.
xergam.
Em outros casos, é preciso ter empresas semelhantes, focadas, como acontece no Vale
O Brasil tem uma cultura de pulverizar os investimentos. Precisamos traçar investimentos direcionados para setores específicos?
do Silício, experiência que todo mundo quer
Por setores ou áreas, traçar prioridades é
tudes diferentes por parte das empresas e das
essencial. Por exemplo, parque tecnológico
universidades. São experiências que merecem
não é setor, certo? Mas pode ser uma priori-
ser apoiadas em todos os sentidos. No Brasil,
dade. Se é prioridade não pode ter um edital
acho fundamental potencializar esses laços,
de R$ 40 milhões, temos que olhar o orçamen-
pois eles podem contribuir para o país dar
to. Energia é prioridade? Energia é pré-sal, é
o salto de tecnologia que é necessário. Isso
etanol, é heólica, é nuclear. É prioridade? É
pode abrir uma esperança, principalmente
um problema do mundo. Assim, temos que ter
se normatizarmos os parques, criando um
20%, 30% do orçamento da Finep dedicado à
marco regulatório mais específico do que o
energia.
existente hoje, permitindo colocar à dispo-
Priorizar não quer dizer tornar exclusivo, vamos sempre atender tudo que diz respeito 12
imitar. Seja como for, uma coisa é certa: essa concentração de esforços gera incentivos, ati-
sição formas de apoio e financiamento mais apropriados do que os atuais. L
EM MOVIMENTO P O R B R U N A D E PA U L A
Fotos: Divulgação
Brasil leva a maior delegação para a 28ª Conferência Mundial sobre Parques Científicos e Tecnológicos da IASP
A delegação brasileira, sob a liderança do presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski, visitou parques tecnológicos e participou de debates e palestras sobre o tema “Roteiros para a navegação no futuro”
Os brasileiros formaram a maior delegação estrangeira na 28ª Conferência Mundial sobre Parques Científicos e Tecnológicos da IASP (Associação Internacional de Parques Tecnológicos), com 56 participantes, apoiados pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e pelo Serviço Brasileiro
da incubadora de empresas da Co-
rou-se identificar os fatores decisi-
de Apoio às Micro e Pequenas Em-
ppe/UFRJ.
vos para o sucesso ou o fracasso de
presas (Sebrae).
Com o tema “Roteiros para a na-
polos tecnológicos, com destaque
O evento, que aconteceu de 19
vegação no futuro”, a Conferência
para o processo de inovação aber-
a 22 de junho em Copenhague, na
foi centrada em três áreas básicas
ta. Os participantes brasileiros tam-
Dinamarca, foi conduzido pelo pri-
que afetam a base de Parques Tec-
bém chamaram a atenção para a in-
meiro presidente brasileiro da IASP,
nológicos: Pessoas e Competências;
tegração dos parques tecnológicos
Mauricio Guedes, diretor do Parque
Economia e Política; e Tecnologia &
às cidades e a importância do poder
Tecnológico do Rio e coordenador
Inovação. Nesses aspectos procu-
público como parceiro da inovação. 13
EM MOVIMENTO
Shutterstock
Evento mundial do setor de biotecnologia conta com participação pioneira do Brasil nodiagnóstico humano e vacinas terapêuticas anticâncer, a presença brasileira na BIO 2011 foi muito mais representativa na comparação com os eventos anteriores. “O pavilhão de exposição do Brasil chamou muita atenção pela sua estrutura e pelos temas de interesse sendo apresentados”, afirma. Kreutz também destacou uma evidente mudança de eixo das inovações em biotecnologia. “Um aspecto muito relevante foi o interesse de instituições norte-americanas em licenciar ou oferecer suas tecnologias a empreendimentos brasileiros, algo impensável há cinco anos. elaborado
Outro exemplo foi a assinatura de
mundial do setor de biotecnolo-
pelo Centro Brasileiro de Análise
um memorando de entendimento
gia, a Convenção Internacional BIO
e Planejamento (Cebrap), mostrou
entre a FK Biotec, uma empresa chi-
2011, que aconteceu entre 27 e 30
que metade das empresas do cres-
nesa e outra canadense para o de-
de junho, em Washington, nos Es-
cente segmento brasileiro de bio-
senvolvimento de uma nova vacina
tados Unidos, teve a participação
tecnologia tem suas raízes em in-
contra a tuberculose, um mercado
pioneira do Brasil no bloco das ses-
cubadoras de empresas e parques
global que movimenta bilhões de
sões internacionais. Com o apoio do
tecnológicos.
dólares. Essas são evidências claras
Considerado
o
maior
evento
Um
levantamento
Sebrae, a Anprotec selecionou cinco
Para o conselheiro da Anprotec,
de uma mudança de eixo no desen-
casos de sucesso de empresas bra-
Fernando Kreutz, participante ve-
volvimento de inovações tecnoló-
sileiras para serem apresentados na
terano da BIO e diretor da FK Bio-
gicas, da Europa e Estados Unidos
convenção.
tecnologia, empresa focada em imu-
para os BRICs”, conclui.
Brasil avança 13 posições no ranking de inovação
14
tina, por exemplo.
O Brasil subiu 13 posições no
dial de Propriedade Intelectual
Indicador Global de Inovação 2011
(Wipo, na sigla em inglês), agência
O Brasil se destacou em indica-
(The Global Innovation Index). O
ligada à Organização das Nações
dores como ambientes político e
ranking é calculado anualmente
Unidas (ONU).
regulatório e no aumento da pro-
pelo Insead, uma das principais
O país foi de 60º lugar para 47º.
dução científica, área em que o
escolas de negócios da Europa, em
Com esse resultado, o Brasil saiu
país cresce a um ritmo cinco vezes
parceria com a Organização Mun-
na frente da Rússia, Índia e Argen-
maior do que a média mundial.
EM MOVIMENTO
NORTE
Shutterstock
Assinado termo para instituir Incubadora de Políticas Públicas da Amazônia Amazônia (UNAMA), Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal de Tocantins (UFT), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). A missão da IPPA é servir de mecanismo de integração, articulação e operacionalização dos projetos de pesquisa e extensão do Fórum de Pós-graduação e Pesquisa em Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Por meio da Incubadora, espera-se promover a integração entre a academia, os institutos de pesquisa e órgãos públicos de planejamento, fomento e gestão de modo que possam apoiar e subsidiar o processo de Foi assinado no final de setembro,
Sustentável da Amazônia.
planejamento regional na Amazônia.
em Belém (PA), o termo aditivo para
Ao todo, 11 universidades assina-
Além disso, a proposta prevê a oferta
instituir a Incubadora de Políticas
ram a concordância para a criação
de serviços especializados de assesso-
Públicas da Amazônia (IPPA), que
da Incubadora: Universidade Federal
ria e capacitação de gestores públicos
será financiada pelo Banco Nacional
de Mato Grosso (UFMT), Universi-
na elaboração e gestão de planos e
de Desenvolvimento Econômico e So-
dade Federal do Pará (UFPA), Fun-
projetos públicos de desenvolvimen-
cial (BNDES). O documento foi firma-
dação Universidade do Amazonas
to. Promover o debate em torno dos
do pelas Universidades Amazônicas
(FUA), Universidade Federal do Acre
temas referentes ao desenvolvimento
que integram o Fórum de Pós-gradu-
(UFAC), Universidade Federal do
sustentável local e regional também
ação e Pesquisa em Desenvolvimento
Amapá (UNIFAP), Universidade da
está entre os objetivos da incubadora.
Unitins lança Núcleo de Inovação Tecnológica A Fundação Universidade do To-
da Amazônia Oriental, do Ministério
A posse e a adesão foram reali-
cantins (Unitins) lançou no início de
da Ciência e Tecnologia, chamado de
zadas durante o 1o Seminário sobre
outubro o Núcleo de Inovação Tec-
“Rede Namor”. A Rede tem objetivo
Aplicação da Lei de Incentivo à Ino-
nológica (NIT) da instituição. Além
de promover a realização de treina-
vação, promovido pela Secretaria Es-
da posse da diretoria, a instituição
mentos, eventos regionais e cursos
tadual de Ciência e Tecnologia e pela
também aderiu, por meio do NIT,
de pós-graduação na área de tecno-
Federação das Indústrias do Estado
aos núcleos de inovação tecnológica
logia e inovação.
do Tocantins (Fieto). 15
EM MOVIMENTO
NORTE
Amazônia terá doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia Shutterstock
Empreendedorismo inovador integra programação da FIAM
16
A Rede de Biodiversidade e Bio-
ra. O fato de ser composto por ins-
tecnologia da Amazônia Legal (Rede
tituições de vários estados implicará
A sexta edição da Feira Interna-
Bionorte) aprovou junto à Coordena-
que sua sede seja itinerante, mudan-
cional da Amazônia (FIAM 2011),
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal
do de cidade a cada quatro anos.
cujo tema é “Amazônia e você – o
de Nível Superior (Capes) o doutora-
Participam do programa de dou-
encontro é aqui”, acontecerá de 26
do em Biodiversidade e Biotecnolo-
torado da Rede Bionorte a Empresa
a 29 de outubro, no Studio 5 do
gia, com conceito quatro. Em 2012
Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Centro de Convenções, em Manaus.
devem ser oferecidas 50 vagas para
(Embrapa), a Fundação Oswaldo Cruz
A programação inclui rodadas de
qualificação no doutorado, cuja sede
(Fiocruz), o Instituto Nacional de Pes-
negócios e de turismo, salão de em-
inicial será na Universidade Federal
quisas da Amazônia (Inpa), Museu
preendedorismo inovador e jorna-
do Amazonas (UFAM), em Manaus.
Paraense Emílio Goeldi (MPEG), a
da de seminários.
O principal objetivo do doutora-
Universidade do Estado da Amazo-
Uma das principais atrações e
do é a integração dos estados da re-
nas (UEA), a Universidade Estadual
novidades desta edição é a área
gião Amazônica. A abordagem será
do Maranhão (UEMA), a Univer-
internacional, com espaço dedi-
multi-institucional e interdiscipli-
sidade do Estado de Mato Grosso
cado ao Ano da Itália no Brasil.
nar, em um trabalho contínuo para a
(UNEMAT), o Centro Universitário do
Reconhecida como a maior vitrine
conservação do bioma e o desenvol-
Maranhão (Uniceuma), além das uni-
de produtos amazônicos, a FIAM
vimento de um setor industrial ba-
versidades federais do Acre (UFAC),
é promovida pelo Ministério do
seado na biodiversidade amazônica.
do Amazonas (UFAM), do Maranhão
Desenvolvimento, Indústria e Co-
O Programa tem corpo docente
(Ufma), de Mato Grosso (UFMT), do
mércio Exterior (MDIC), por meio
formado por 99 doutores (sendo 89
Pará (UFPA), de Rondônia (Unir), de
da Superintendência da Zona
do quadro permanente e 10 colabo-
Roraima (UFRR), de Tocantins (UFT),
Franca de Manaus (SUFRAMA) e
radores), de 18 instituições dos nove
do Amapá (Unifap) e Rural da Ama-
consta no calendário oficial de fei-
estados da Amazônia Legal Brasilei-
zônia (Ufra).
ras e eventos do governo federal.
EM MOVIMENTO
NORDESTE
Divulgação
Empresas do Porto Digital estão entre as melhores para trabalhar no setor de TI
Representantes da Pitang, uma das embarcadas no Porto Digital, recebem certificado do Great Place to Work Institute
Quatro empresas embarcadas no
A Pitang foi formada dentro
Trabalhar” em mais de 40 países. O
Porto Digital, de Recife (PE), foram
do próprio Porto Digital, por meio
resultado tem como base a avaliação
reconhecidas pelo Great Place to
de um spin-off da área de projetos
do nível de confiança dos funcioná-
Work Institute (GPTW) como umas
comerciais do Centro de Estudos
rios em cinco dimensões: credibili-
das 95 melhores no país para se tra-
e Sistemas Avançados do Recife
dade, respeito, imparcialidade, or-
balhar no setor de TI&Telecom em
(C.E.S.A.R) e conta hoje com 240 co-
gulho e camaradagem. Também são
2011: Microsoft Brasil, Ivia Tecnolo-
laboradores.
consideradas nove práticas culturais
gia, IBM Brasil e Pitang. A avaliação
O Great Place to Work é uma
de gestão de pessoas das empresas:
foi realizada junto aos colaboradores
empresa global, especializada em
inspirar, falar, escutar, reconhecer,
das empresas, e o resultado foi pu-
ambiente de trabalho, e conduz a
desenvolver, cuidar, recrutar, cele-
blicado pela Revista Computerworld.
pesquisa “Melhores Empresas para
brar e compartilhar.
Calculadora ecológica avaliou impactos causados ao meio ambiente Os visitantes do espaço de Negó-
O aparelho coleta informações
quantas árvores deveria plantar para
cios Verdes e Sustentáveis da Feira
como a quantidade de aparelhos do-
retirar o gás carbônico emitido por
do Empreendedor 2011, realizada
mésticos que a pessoa possui, o lixo
suas atividades no meio ambiente.
em Salvador (BA), puderam conferir
que produz e quantos quilômetros
de perto uma calculadora ecológica.
percorre semanalmente para saber
O evento foi promovido pelo Sebrae entre os dias 4 e 8 de outubro. 17
EM MOVIMENTO
NORDESTE
Shutterstock
Empresa incubada é pioneira na produção de cogumelos comestíveis Por meio de um trabalho
mas de cogumelos por semana, das
de pesquisa em Microbiologia
espécies Shimeji Branco e Amarelo
realizado há mais de dois anos
e Shitake. A produção é destinada a
no Centro de Ciências Agrárias
grandes restaurantes de Maceió. A
(Ceca) da Universidade Federal
meta da empresa é aumentar a pro-
de Alagoas (UFAL), quatro alunos
dução e abastecer o mercado local,
do curso de Agronomia criaram
que hoje consome cogumelos vindos
uma empresa que busca intro-
de outras regiões do país.
duzir uma cultura inovadora em
A Fungial é apoiada pela Rede Ala-
Alagoas: a produção de cogume-
goana de Incubadoras de Empresas
los comestíveis.
e de Empreendimentos Inovadores
A empresa Fungos de Ala-
(RAIE), que faz parte de um projeto
goas (Fungial) está atualmente
financiado pelo Fundo Nacional de
instalada no Ceca, onde ocorre
Desenvolvimento Científico e Tec-
todo o processo de produção
nológico (FNDCT), promovido pelo
dos cogumelos, da manipula-
Ministério da Ciência, Tecnologia e
ção dos fungos à reprodução.
Inovação (MCTI), por meio da Finan-
A Fungial produz 3,5 quilogra-
ciadora de Estudos e Projetos (Finep).
Divulgação
Incubadora de Agronegócios de Mossoró promove evento sobre empreendedorismo em Mossoró (RN). Com o tema “Despertando para o Empreendedorismo no Semiárido”, o evento contou com a participação de gestores de empresas incubadas, empresários, estudantes, pesquisadores e professores Seminário reuniu mais de 200 participantes e ofereceu minicursos, com a entrega de certificados
da UFERSA. O Seminário promoveu um ciclo de palestras nas áreas de empreendedorismo e inovação tecnológi-
18
O estímulo ao empreendedoris-
ca, além de um minicurso sobre a
mo foi um dos temas discutidos no
normalização como ferramenta de
II Seminário da Incubadora do Agro-
inovação e competitividade para
negócio de Mossoró (IAGRAM) que
as micro e pequenas empresas. O
ocorreu entre os últimos dias 12 e
evento teve público superior a 200
13 de setembro na Universidade Fe-
participantes e contou com a parce-
deral Rural do Semi-Árido (UFERSA),
ria do Sebrae.
Piauí discute propriedade intelectual O Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia da Universidade Federal do Piauí (Nintec/ UFPI) promove, entre 28 e 30 de novembro, o III Seminário de Propriedade Intelectual e Empreendedorismo Tecnológico (SemiPI) e o V Workshop de PI e Inovação Tecnológica (WorPITec). O evento será composto por minicursos e palestras sobre temas de propriedade intelectual, empreendedorismo e inovação tecnológica e contará com conferencistas e palestrantes da área. Para mais informações, acesse www.ufpi.br/nintec.
EM MOVIMENTO
NORDESTE
Divulgação
Encontro debate cooperação entre Brasil e França esforços em prol do desenvolvimento conjunto. O quarto encontro, pela primeira vez em uma capital nordestina, dará destaque a dois temas: Arranjos Produtivos Locais (APLs) e os Polos de Competitividade (modelo francês). O público-alvo são autoridades com poder de decisão e estima-se a participação de mais de 300 pessoas. O evento será realizado pela Universidade Federal do Ceará, em parceria com a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Prefeitura Municipal A segunda edição do evento (foto) foi realizada em Belo Horizonte (MG), em 2009. No ano passado, a cidade sede foi Lyon, na França. A edição deste ano vai acontecer em Fortaleza (CE)
de Fortaleza, Governo do Estado do Ceará, Frente Nacional de Prefeitos, Confederação Nacional de Municí-
Fortaleza (CE) recebe, entre os
das de desenvolvimento sustentável
pios, Associação Brasileira de Muni-
próximos dias 16 e 18 de novembro,
e fortalecer a cooperação descentra-
cípios, Governo da República France-
o IV Encontro da Cooperação Descen-
lizada franco-brasileira. A França é
sa, Cités Unies Frances, Universidade
tralizada Brasil-França. O evento tem
atualmente o maior parceiro da coo-
Estadual do Ceará, Universidade da
como objetivos desenvolver oportu-
peração brasileira, e desde 2006 os
Integração Internacional da Luso-
nidades e condições de cooperação,
governos nacionais, locais, estaduais
fonia Afro-Brasileira e a Associação
apresentar experiências bem sucedi-
e regionais dos dois países têm unido
dos Municípios e Prefeitos do Ceará.
Fapitec-SE lança edital para implementar núcleos de apoio à pesquisa em políticas públicas O edital, lançado no último dia
de estudos e pesquisas aplicadas
mil. No final do projeto está previsto
11 de outubro, é uma ação conjunta
em políticas públicas no estado de
que cada NAP publique os principais
da Fundação de Apoio à Pesquisa e
Sergipe.
resultados alcançados.
à Inovação Tecnológica do Estado
Destinado a pesquisadores de ins-
Os pesquisadores interessados
de Sergipe (Fapitec-SE), vinculada
tituições sediadas em Sergipe, o edi-
deverão submeter as propostas
à Secretaria de Estado do Desen-
tal prevê apoio para até 20 projetos.
através do sistema SIGFAPITEC,
volvimento Econômico, Ciências e
Ao todo, são oferecidas 40 bolsas
preenchendo o formulário eletrô-
Tecnologia (Sedetec). O principal
de pesquisa. Cada Núcleo de Apoio
nico de apresentação do projeto.
objetivo é implementar ações con-
à Pesquisa (NAP) poderá contratar
O edital está disponível no site
juntas que assegurem a realização
projetos num montante de R$ 150
www.fapitec.se.gov.br. 19
EM MOVIMENTO
CENTRO-OESTE
Divulgação
CDT/UnB completa 25 anos de incentivo ao empreendedorismo e à inovação tecnológica
O Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT/UnB) estimula o desenvolvimento de novos empreendimentos desde 1986
Pioneiro como Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) na Universida-
para incentivar a interação entre os
de conhecimento da Universidade
meios empresarial e acadêmico.
para diversos segmentos produtivos.
de de Brasília, o Centro de Apoio ao
O CDT tem contribuído para o de-
Um de seus programas, a Multincu-
Desenvolvimento Tecnológico (CDT/
senvolvimento econômico e para a
badora de Empresas, apoia mais de
UnB) completa 25 anos em 2011. A
consolidação de negócios no Brasil.
130 empreendimentos em três mo-
trajetória começou em 1986, quan-
Oferece serviços especializados para
dalidades: Incubadora de Base Tecno-
do Brasília, com ainda 26 anos, ne-
estimular novos empreendimentos e
lógica, Incubadora Social e Solidária,
cessitava de um polo tecnológico
promover a geração e a transferência
e Incubadora de Arte e Cultura.
DF lança chamada pública para apoio à pesquisa em agricultura orgânica A Fundação de Apoio à Pesqui-
20
de novembro deste ano.
par da chamada pública pesquisa-
sa do Distrito Federal (FAPDF) irá
As propostas têm que se enqua-
dores ou grupos de pesquisadores
financiar projetos de pesquisas
drar em umas das 18 áreas prio-
vinculados a instituições públicas
para o desenvolvimento científico
ritárias. Entre elas, manejo ecoló-
ou privadas de ensino e pesquisa e
e tecnológico em agricultura or-
gico da fertilidade e uso do solo,
empresas de pesquisa ou de exten-
gânica. Cada proposta selecionada
nutrição de plantas e desenvolvi-
são científica e tecnológica. Cada
receberá R$ 200 mil. A data limite
mento de insumos agrícolas para a
projeto terá prazo de dois anos
para submissão dos projetos é 16
produção orgânica. Podem partici-
para ser concluído.
EM MOVIMENTO
CENTRO-OESTE
Empresa residente no CDT/UnB participa do IBM Global Entrepreneur Divulgação
A IPe Engenharia de Redes, empresa apoiada pela Multincubadora de Base Tecnológica do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/ UnB) participou do IBM SmartCamp Brasília, que foi realizado em agosto, na Universidade Católica de Brasília (UCB). A competição ocorre em oito capitais brasileiras e é direcionada a novas empresas, que trabalham o viés ambiental no desenvolvimento de seus processos e produtos. A IPe apresentou aos investidores convidados e executivos da IBM a Eco2Box, um hardware que monitora o consumo em cada ponto de energia de uma residência ou ambiente
A IPe desenvolveu um hardware que monitora o consumo de energia em cada ponto da residência e apresentou o projeto no IBM SmartCamp Brasília
comercial. O dispositivo calcula a pe-
de árvores que deveriam ser planta-
no Rio de Janeiro, em novembro. O
gada de carbono, ou seja, o consumo
das para compensar as emissões.
ganhador conhecerá o Vale do Silí-
energético equivalente em emissão
Dos 80 projetos apresentados
de gás carbônico, além do número
nacionalmente, dez irão para a final
cio e ganhará o apoio da IBM para que o projeto seja comercializado.
Fapeg inicia segunda etapa do Pappe-Integração Um comitê técnico composto por
tério de relevância avalia a abran-
arranjos cooperativos criados para o
representantes da Fundação de Am-
gência do projeto, o impacto do
desenvolvimento do projeto e a inte-
paro à Pesquisa do Estado de Goiás
produto ou serviço no mercado e a
ração com pesquisadores integram o
(Fapeg), da Financiadora de Estudos
sua importância estratégica para a
quarto critério. O quinto, avalia a ade-
e Projetos (Finep) e da Secretaria
sociedade.
quação do orçamento e da contrapartida aos objetivos, atividades e metas
de Ciência e Tecnologia (Sectec)
Outro item considerado é o grau
coordena o trabalho de especialis-
de inovação e impacto tecnológico no
tas na seleção de 103 projetos que
setor. O terceiro analisa a viabilidade
O resultado preliminar do progra-
passaram para a segunda etapa do
técnica, a adequação da metodologia,
ma será divulgado no dia 24 de no-
Pappe-Integração.
o acompanhamento e o cronograma.
vembro e o início da contratação dos
Os projetos serão pontuados em
A experiência e qualificação da em-
projetos a serem financiados será no
cinco critérios de avaliação. Um cri-
presa e da equipe, a adequação de
dia 12 de dezembro.
propostas em cada projeto.
21
EM MOVIMENTO
SUDESTE
Projeto de universidades mineiras prevê uso de biogás na siderurgia Shutterstock
Campinas terá terceiro polo tecnológico A Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec) começou a procurar um lugar para instalar o terceiro parque tecnológico na cidade, já que a disponibilidade de espaço nos dois polos em funcionamento está praticamente esgotada. Até o próximo ano, o novo local, que abrigará empresas dedi-
Pesquisadores da Universidade
carbono liberados para, através de
cadas à inovação, ciência e tecno-
Federal de Minas Gerais (UFMG) e da
biodigestores, transformar o lixo em
logia, será apresentado.
Universidade Federal de Ouro Preto
gases, que serão enviados para em-
(UFOP) desenvolveram o Biosid, uma
presas siderúrgicas, por exemplo.
Assim que for encontrada a área ideal, a prefeitura da cida-
tecnologia que propõe o uso do bio-
Do ponto de vista ambiental o
de paulista deverá indicá-la no
gás na produção de ferro-esponja e
projeto permite uma redução do ín-
Plano Diretor, declará-la de uti-
ferro-gusa, em substituição ao gás
dice de emissão do gás carbônico no
lidade pública, montar o projeto
natural e aos carvões mineral e ve-
segmento siderúrgico, já que o bio-
urbanístico e criar condições de
getal, respectivamente.
gás pode substituir o carvão mineral
atração de empresas, facilitando
A ideia é recolher o lixo orgâ-
nos altos-fornos. Na esfera econômi-
as negociações entre os proprie-
nico e os dejetos de quadrúpedes
ca, ajuda na diminuição da importa-
tários das áreas e os empreende-
utilizando o metano e o dióxido de
ção mineral.
dores.
Verba de R$ 7 milhões garante implantação do ParTec Rio Preto
22
A Secretaria de Desenvolvimento
de 845 mil metros quadrados e terá
O projeto prevê ainda uma es-
Econômico, Ciência e Tecnologia de
foco em pesquisa e desenvolvimento
tação experimental e um distrito
São Paulo anunciou a liberação de
de produtos e processos nas áreas
industrial para empresas com perfil
R$ 7,2 milhões em recursos para a
de saúde, instrumentação, química,
tecnológico, além de unidades de
construção do Parque Tecnológico
informática e agronegócio.
ensino superior, como o Instituto de
de São José do Rio Preto (ParTec Rio
Serão construídos dois edifícios,
Biociências, Letras e Ciências Exatas
Preto). A confirmação do repasse foi
que deverão abrigar o núcleo ad-
(Ibilce) da Universidade Estadual
feita durante o 1°Seminário ParTec,
ministrativo do parque e um cen-
Paulista (Unesp), a Faculdade de Me-
realizado no último dia 26 de agosto
tro empresarial, incluindo também
dicina de São José do Rio Preto (Fa-
na cidade.
uma incubadora de empresas de
merp) e a Faculdade de Tecnologia
O Parque Tecnológico de São
base tecnológica, laboratórios e
de São Paulo (Fatec). As obras terão
José do Rio Preto será implantado
auditório com 210 lugares para
início em 2012, com previsão de tér-
em uma área municipal com mais
convenções.
mino em 2014.
EM MOVIMENTO
SUDESTE
Shutterstock
São Paulo sedia III Encontro Internacional de Tecnologia e Inovação para Pessoas com Deficiência Entre os dias 24 e 26 de outubro deste ano, São Paulo será sede da terceira edição do Encontro Internacional de Tecnologia e Inovação para Pessoas com Deficiência. O evento vai analisar e discutir como os princípios do Desenho Universal têm influenciado a indústria brasileira no desenvolvimento de produtos e serviços voltados à funcionalidade, usabilidade e segurança. Integra o evento o Seminário Internacional e a Exposição de Produtos e Serviços desenvolvidos por universidades, centros de pesquisa e empresas, brasileiras e internacionais, selecionados a partir de três critérios: inovação, não disponibilidade no varejo convencional, e representativo avanço nos processos de reabilitação e/ou atividades da vida diária
Divulgação
das pessoas com deficiência.
Siemens investirá cerca de R$ 50 milhões no Parque Tecnológico do Rio A Siemens, um dos maiores
timentos de R$ 600 milhões
grupos de engenharia elétrica
no Brasil, sendo 50% em no-
e eletrônica no Brasil, anun-
vas fábricas e 50% em tec-
ciou a construção de um cen-
nologia e inovação. O centro
tro tecnológico que concen-
a ser construído no Parque
trará todas as suas atividades
exigirá R$ 50 milhões des-
de Pesquisa e Desenvolvimen-
ses recursos.
to no Parque Tecnológico da
Focado na área de petró-
Universidade Federal do Rio
leo e gás, o centro tecno-
de Janeiro.
lógico da Siemens deverá
A
empresa
anunciou,
ainda, um pacote de inves-
empregar cerca de 800 pesquisadores. 23
EM MOVIMENTO
SUDESTE
Incubada na UFMG usa mineração de dados para alavancar comércio na web Shutterstock
Oportunidade de parceria com pesquisadores dos EUA O programa Partnerships for Enhanced Engagement in Research (PEER) recebe até 30 de novembro propostas de pesquisadores de países em desenvolvimento interessados em desenvolver projetos em colaboração com cientistas dos Estados Unidos. O programa é uma parceria entre a United States Agency for International Development (USAID) e a National Science Foundation (NSF), cujo objetivo é proporcionar a cientistas de 79 países em desenvolvimento (incluindo o Brasil) apoio em projetos realizados em parceria com pesquisadores filiados à NSF. Os temas de maior interesse são agricultura e segurança alimentar,
Entre os maiores desafios das empresas
24
que
trabalham
com
os usuários, ancorado no comportamento deles no ambiente virtual.
comércio eletrônico está a com-
A empresa atua em duas áreas,
preensão, de forma precisa, do
por meio dos softwares OmniAds e
comportamento de milhões de
o OmniRec. O primeiro é especia-
internautas. Para fazer frente ao
lizado na otimização de peças pu-
problema, a OmniLogic, empre-
blicitárias na internet e o OmniRec
sa incubada em 2009 na Inova
trabalha recomendando produtos e
UFMG, desenvolveu um software
conteúdos em lojas virtuais e por-
capaz de alavancar negócios, re-
tais de notícias.
correndo à técnica de mineração
A empresa incubada na Inova
de dados. Este recurso computa-
UFMG atua em parceria com uma
cional é o responsável por produ-
rede de anúncios, a Advestising Ne-
zir informações relevantes a partir
twork (Ad Network), que une comer-
do cruzamento de grandes volu-
ciantes e publishers, em busca de
mes de dados disponíveis na web.
remuneração por seus espaços de
Por meio desse processamento,
publicidade. A OmniLogic concluiu
o sistema recomenda produtos, pro-
o processo de incubação em maio
pagandas e conteúdos diversos para
deste ano.
questões relacionadas à saúde global, impactos das mudanças climáticas, mitigação, biodiversidade, água e energias renováveis. Para a aprovação do projeto, serão avaliados aspectos como o tema selecionado, potencial da pesquisa, habilidade do pesquisador em atingir os objetivos propostos e o número de participantes envolvidos (como, por exemplo, estudantes, pós-doutores, jovens pesquisadores e cientistas do sexo feminino), entre outros. O valor do apoio parte de US$ 30 mil, e pode alcançar a ordem de US$ 100 mil, dependendo da dimensão do projeto. Mais informações: www.nationalacademies.org
EM MOVIMENTO
SUL
Antônio Carlos Mafalda / SECOM
Após investimento privado, Sapiens Parque anuncia novas etapas de expansão Após este aporte – equivalente a quase todo o investimento público já realizado no empreendimento – o Sapiens Parque anunciou a criação dos Conselhos Consultivos para os segmentos empresarial, técnico-científico, político-institucional e de sustentabilidade. Serão lançados três novos editais para construção de prédios para uso comercial, com áreas de 3,7 mil metros quadrados, 7,5 mil metros quadrados e 3,8 mil metros quadrados. Também será aberto o proMoacir Marafon, diretor da Softplan/Poligraph, assina o contrato, com o governador Raimundo Colombo e o presidente do Sapiens Parque, Saulo Vieira
cesso de ocupação da incubadora InovaLAB, já em operação no Sapiens Parque e que irá contar,
O Sapiens Parque e a Softplan/
milhões na construção da nova sede
até 2012, com um laboratório da
Poligraph assinaram, com a presen-
da empresa catarinense. Serão dois
Phillips para desenvolvimento da
ça do governador de Santa Catari-
prédios em uma área total de 15 mil
tecnologia OLED (Organic LED),
na, Raimundo Colombo, o contrato
metros quadrados no parque tecno-
atualmente em produção-piloto na
que prevê investimentos de R$ 23
lógico de Florianópolis.
Alemanha.
Pandorga Tecnologia, graduada na Incubadora Raiar, inaugura escritório em Londres A empresa Pandorga Tecnologia,
internacionais da Pandorga ocorreu
do órgão federal United Kingdom
processo
em 2010, quando fechou parcerias
Trade & Investiment (UKTI), que
de incubação na Raiar, da Pontifícia
com empresas londrinas. Para con-
auxilia a entrada de empreendimen-
Universidade Católica do Rio Grande
solidar a internacionalização, a Pan-
tos estrangeiros na Inglaterra. Com
do Sul (PUCRS) e está instalada no
dorga teve apoio da Agência Brasi-
apoio do UKTI, a Pandorga conquis-
Parque Científico e Tecnológico da
leira de Promoção de Exportações
tou espaço no Centro de Negócios
PUCRS (Tecnopuc), dá seus primei-
e Investimentos (Apex-Brasil), por
Devonshire Square e compartilha a
ros passos rumo à internacionaliza-
meio do Projeto de Extensão Indus-
área com outras empresas. Também
ção, com a inauguração do primeiro
trial Exportadora.
teve apoio do programa London &
que em 2010 encerrou
escritório em Londres. O início das relações comerciais
O governo britânico também contribuiu nesse processo por meio
Partners, que auxilia nos aspectos legais e em pesquisas de mercado. 25
EM MOVIMENTO
SUL
Empresa paranaense ganha prêmio de design O oxímetro de pulso Milli da Hi
inclusive com os médicos. O apa-
Technologies, empresa instalada
relho é usado para medir a quan-
na Incubadora Tecnológica de
tidade de oxigênio no sangue, um
Curitiba (Intec), do Instituto de
indicador do estado de saúde de
Tecnologia do Paraná (Tecpar),
pacientes, e transmite os sinais vi-
ganhou a medalha de prata
tais em tempo real para a equipe
do Prêmio Idea Brasil de De-
médica.
sign. O equipamento médico
Em 2010, a Hi Technologies foi
foi avaliado por designers
escolhida a melhor empresa incuba-
experientes e disputou
da do Brasil, na 14ª edição do Prê-
o prêmio com outros
mio Nacional de Empreendedorismo
produtos, como em-
Inovador, promovido pela Anprotec.
balagens e eletro-
No mesmo ano, a Intec foi escolhida
domésticos, já que a
a melhor incubadora.
competição não pos-
A Hi Technologies, incubada no Intec, desenvolveu um produto médico - o oxímetro de pulso Milli - que alia a inovação tecnológica ao design, em uma combinação entre estética e funcionalidade
O Prêmio Idea/Brasil é a edição
sui categorias distintas.
nacional do maior prêmio de design
Além da função médica, o
dos Estados Unidos, o International
Milli tem os mesmos recursos que
Design Excellence Awards (Idea),
os tablets e os smartphones e é um
que existe desde 1980 e foi criado
canal de comunicação para o pa-
pela Industrial Designers Society
ciente, que pode interagir com as
of America (IDSA) para valorizar o
pessoas com as quais se relaciona,
design.
Intec terá mais uma incubada desenvolvendo soluções em saúde
26
O sistema público de saúde do
sa i2m S.A. ganhou um incentivo:
os médicos e prestadores de serviços
Brasil poderá contar em breve com
teve o seu projeto aceito na Incuba-
em saúde, com base no resultado e
uma tecnologia moderna de coleta
dora Tecnológica de Curitiba (Intec),
na qualidade do atendimento ao pa-
de dados de pacientes, processa-
do Instituto de Tecnologia do Paraná
ciente.
mento de informações e gerencia-
(Tecpar).
O módulo de avaliação de desem-
mento informatizado e integrado,
O projeto consiste na criação
penho já está pronto e em opera-
que facilitará o controle de gastos
de software e na consultoria para
ção em algumas instituições, como
e melhorará a qualidade do atendi-
implantação e processamento dos
o Hospital Nove de Julho, em São
mento.
dados gerados pelo programa. Ele
Paulo, e também em alguns planos
Essa tecnologia de gestão inte-
abrange três grandes áreas: a ava-
de saúde. Os outros dois módulos
ligente da saúde, já utilizada com
liação do histórico dos pacientes, a
ainda precisam ser desenvolvidos e
êxito em países como Inglaterra e
avaliação de riscos – focada na pre-
integrados. O plano de negócios da
Estados Unidos, deverá ser oferecida
venção de doenças – e a avaliação de
empresa prevê investimentos da or-
ao mercado brasileiro dentro de seis
desempenho, que permite criar mo-
dem de R$1,5 milhão, com previsão
meses. Para desenvolvê-la, a empre-
delos de remuneração variável para
de retorno em dois anos.
EM MOVIMENTO
SUL
Shutterstock
Arvus Tecnologia desponta entre as top 20 do infoDev Global Forum
A empresa catarinense é a única no Brasil que desenvolve equipamentos para agricultura e silvicultura de precisão
A Arvus Tecnologia, de Florianó-
50 pequenas e médias empresas de
Network. Dessa forma, tiveram aces-
polis (SC), que desenvolve soluções
países em desenvolvimento. Além
so a outras oportunidades de finan-
para agricultura de precisão, foi elei-
da Arvus Tecnologia, outras duas
ciamento ligadas a iniciativas de ex-
ta uma das 20 melhores empresas
empresas brasileiras participaram
pansão internacional.
participantes do 4º Fórum Global de
do evento: a Ecobabitonga Tecnolo-
O Infodev Global Forum tem como
Inovação e Tecnologia Empresarial
gia, de Joinville (SC), que trabalha
objetivo aproximar a comunidade glo-
do Infodev, realizado entre 30 de
com tecnologia para a medição da
bal de tecnologia ligada aos parques
maio e 3 de junho deste ano, em Hel-
qualidade da água e foi selecionada
e incubadoras. Em 2009, o fórum foi
sinki, na Finlândia. As vencedoras
entre as top 50 do evento; e a INBD
promovido no Brasil, em Florianópo-
foram escolhidas pelo público que
Engenharia Eletrônica, do Centro de
lis, em parceria com a Anprotec e o
votou pelo site do evento, avaliando
Apoio ao Desenvolvimento Tecnoló-
Sebrae. Para a seleção das empresas,
critérios como protótipos, plano de
gico (CDT/UnB), de Brasília (DF).
a organização deu preferência a em-
As companhias participaram de
presas incubadas ou graduadas de in-
O Infodev Global Forum é orga-
rodadas com investidores anjos li-
cubadoras que atuam nos segmentos
nizado pelo Banco Mundial e, neste
gados à Angel Capital Association,
de aplicações para internet, tecnologia
ano, contou com a participação de
dentro da European Business Angel
ambiental e agronegócio.
trabalho e serviços oferecidos.
Mais um passo para a construção do Parque Tecnológico de Pato Branco No início de setembro, foi assina-
quadrados já foi concluída e aguarda
estrutura será edificada ao lado da
da a ordem de serviço para o início
a construção do imóvel, com mais de
Universidade Tecnológica Federal do
da construção do Parque Tecnológi-
5 mil metros quadrados.
Paraná (UTFPR). Além da Incubadora
co de Pato Branco, município locali-
Nesta primeira etapa, o Parque
Tecnológica Municipal, o complexo
zado no sudoeste do Paraná. A terra-
Tecnológico receberá investimentos
contará com centro de pesquisa, la-
plenagem da área de 17,2 mil metros
que ultrapassam R$ 9 milhões. A
boratórios e módulos industriais. 27
Shutterstock
OPORTUNIDADE
P OR BRUNO MOR E S CHI
No ritmo da criação Nosso país ainda caminha a passos lentos quando o assunto é economia criativa. Mas as incubadoras podem ajudar a recuperar o tempo perdido
28
Da música à gastronomia, passando por
ção, produção e distribuição de produtos e
moda, folclore e artes visuais, a economia
serviços que tenham o conhecimento como
criativa sempre se mostrou uma vocação
principal recurso. Aliando criatividade e tec-
brasileira. Porém, ao longo de décadas esse
nologia, valoriza o componente intelectual e
potencial deixou de ser explorado para ge-
associa o talento a objetivos econômicos.
rar negócios, trabalho e renda. Em meio a
Para quem imagina a economia criativa
diversos conceitos, a economia criativa pode
pequena em comparação com outros seto-
ser considerada um ciclo que envolve cria-
res, vale a pena olhar os números. Ela movi-
OPORTUNIDADE
menta US$ 3 trilhões por ano e já é responsável por 10% da economia mundial. Além disso, o setor tem um crescimento anual de
_PONTOS ESTRATÉGICOS
6,3%. Em outras palavras, é um tema de exShutterstock
trema importância para qualquer mercado. De acordo com o relatório de Economia Criativa 2010, publicado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, o mundo, de fato, amarga uma crise, com a queda de 12% no comércio global. O mesmo documento, porém, aponta que a economia criativa pode compensar essa perda, já que só em 2008 cresceu 14%. A lista dos países que mais investem na criatividade é liderada pela China. Em segui-
Engana-se quem pensa que os locais para a instalação do Rio Cria-
da, estão os Estados Unidos e a Alemanha.
tivo foram aleatórias. Ciente de que as incubadoras são capazes de
O Brasil, apesar de toda vocação, ainda não
transformar radicalmente a região onde estão inseridas, a Secre-
está entre os 20 maiores. Essa preocupante
taria de Cultura do Estado tinha na escolha do local onde os em-
realidade pode mudar a partir da transfor-
preendimentos serão instalados. A expectativa era fazer com que
mação que acontece no Rio de Janeiro – e
além dos novos negócios, a comunidade também fosse beneficiada,
tende a tornar-se um belo modelo para o
por meio da geração de novos postos de trabalho e a revitalização
resto do Brasil.
urbana no entorno das incubadoras. Após uma série de estudos foi decidido que, na primeira fase do
Exemplo fluminense
projeto, dois lugares serviriam como mais novo habitat da econo-
Foi em 2009 que a secretária de Cultura
mia criativa: a zona portuária da capital fluminense e o município
do Estado do Rio de Janeiro, Adriana Rattes,
de São João de Meriti.
se deu conta de um potencial pouco explo-
Na cidade do Rio, 16 empreendimentos inovadores serão insta-
rado. Em uma viagem para Europa, ela e
lados. A razão da escolha da capital carioca é bastante justificá-
sua equipe foram ver com os próprios olhos
vel: a cidade é internacionalmente conhecida, não só pela beleza
o que países como Inglaterra e Espanha
natural, mas por ser cenário de eventos culturais que têm tudo a
faziam para incentivar empreendimentos
ver com a criatividade. O Carnaval é apenas um dos mais emble-
ligados à economia criativa. A impressão
máticos exemplos.
foi de que o Brasil ainda engatinhava em relação ao tema.
Além disso, um dos maiores objetivos do Rio a ser cumprido antes das Olimpíadas é justamente revitalizar a zona portuária, hoje
Na tentativa de acelerar o processo, o
bastante degradada. A expectativa do governo é que a instalação
governo estadual criou o projeto Rio Criati-
de empresas criativas sirva como incentivo para que a região seja
vo, que já selecionou 21 empreendimentos
vista com outros olhos, atraindo mais investimentos e pessoas. Se
para ocupar duas regiões do Rio de Janeiro.
depender das previsões, a região de fato deverá mudar. A Prefeitura
A partir de janeiro de 2012, a zona portu-
estima que a população da zona portuária irá saltar de 20 mil para
ária e a Baixada Fluminense irão se tornar
100 mil habitantes nos próximos cinco anos.
sede das chamadas incubadoras de empre-
A segunda região onde serão abrigados os demais empreendi-
endimentos da economia criativa, que ofe-
mentos do Rio Criativo é um município que quer deixar de ser uma
recerão toda a infraestrutura necessária ao
“cidade dormitório”. Com cerca de 470 mil habitantes, São João de
o desenvolvimento de projetos que têm na
Meriti é cortada pela rodovia Presidente Dutra, que interliga diver-
criatividade seu maior diferencial. Respon-
sos pontos do estado do Rio de Janeiro.
sável por inaugurar a primeira incubadora 29
Fotos: Divulgação
OPORTUNIDADE
mil pessoas. A opção por incentivar o surgimento desses negócios em incubadoras também pode ser facilmente compreendida, pois pode reduzir o índice de mortalidade das novas empresas de 56% para 33% nos primeiros anos de atuação. Para o coordenador do Instituto Gênesis, José Alberto Aranha, investir no desenvolvimento da economia criativa também representa um forte incentivo à inclusão social. “As empresas desse setor são inclusivas. Elas aceitam pessoas de regiões pobres, sem a necessidade de um mestrado ou doutorado. O que essas empresas querem são pessoas criativas e isso pode ser encontrado em qualquer região e classe social”, afirma. Um exemplo disso foi o projeto Cinema Nosso, que nasceu quando o diretor Fernando Meirelles filmava o premiado Cidade de Deus. Ciente de que precisava de pessoas do bairro para atuar no filme, o diretor ocupou quatro andares de um prédio para capacitar pessoas que gostariam de trabalhar no cinema. A experiência despertou em alguns jovens da comunidade a vontade de seguir no ramo. A ajuda necessária veio com a incubação do Cinema Nosso no Instituto Gênesis. Cursos e oficinas baseados em diversas linguagens e tecnologias relativas ao setor de produção audiovisual, incluindo as áreas de cinema e animação, são o grande mote
Cinema Nosso em ação: capacitação de adolescentes e jovens para inclusão no mercado de produções audiovisuais
30
cultural da América Latina, ainda em 2002,
do Cinema Nosso, que segue capacitando
o Instituto Gênesis, da Pontifícia Universi-
adolescentes e jovens para incluí-los no
dade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
mercado de trabalho. Do projeto que nas-
coordenará o projeto.
ceu na favela, saem atores, iluminadores,
Para se ter ideia do pioneirismo da ini-
produtores, sonoplastas e diretores, que
ciativa, o Rio Criativo é o primeiro projeto
hoje totaliza 1,5 mil pessoas beneficiadas.
do país que conta com verba pública para
Em nove anos de existência, foram realiza-
fomentar ações ligadas à criatividade. En-
dos cerca de 50 cursos e 70 oficinas, além
tender o interesse do governo estadual nes-
da produção de mais de cem curta-metra-
se fomento é simples. Dados da Federação
gens, apresentados em diversas partes do
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
Brasil e do mundo, incluindo o prestigiado
(Firjan) apontam que, mesmo ainda sem
Festival de Cannes.
uma política de incentivo, esse setor já re-
Outra característica das incubadoras
presenta 17,8% do PIB do estado – o que
ligadas à economia criativa diz respeito à
equivale a R$ 54,6 bilhões – e emprega 82
ocupação do espaço urbano. “O aconselhá-
OPORTUNIDADE
vel é seguir o modelo do Rio e tentar criar as incubadoras em regiões que se apresen-
_AJUDA PRECIOSA
tam praticamente esquecidas pelo poder público”, explica Aranha. “Temos um exemplo de um país vizinho perfeito para mos-
Para integrar as incubadoras do Rio Criativo, os empreendimen-
trar a eficácia dessa ação. Trata-se do Puer-
tos passaram por uma seleção foi rigorosa. De 2750 propostas,
to Madero, uma região de Buenos Aires que
apenas 21 foram selecionadas. Os contemplados poderão contar
estava completamente abandonada e hoje
com uma série de ações para suporte e desenvolvimento. Entre
é um centro gastronômico importante na
elas, destacam-se:
América Latina”, afirma. O exemplo citado pelo coordenador do
- Consultoria e orientação completa para planejamento estratégico,
Instituto Gênesis é emblemático quando
gestão de planos de negócios e plano de marketing;
se trata de revitalização urbana a partir do fomento a novas atividades econômicas.
- Sala de uso privativo para sediar o empreendimento;
Hoje uma das áreas mais nobres da capital argentina, o porto que deu origem ao bair-
- Serviços de assessoria jurídica, assessoria de imprensa, programa-
ro Puerto Madero foi criado ainda no final
ção visual, marketing e seleção de recursos humanos;
do século XIX e cerca de 30 anos depois tornou-se obsoleto devido à inauguração
- Rede de negócios entre empreendedores culturais, clientes e par-
de um outro terminal portuário, que tinha
ceiros;
maior capacidade para receber grandes navios de carga. Abandonado por décadas,
- Espaço físico e serviços de infraestrutura para uso de todos os
Puerto Madero transformou-se em uma das
selecionados. Isso inclui salas de reuniões e auditório, serviços
áreas mais degradadas da cidade. Depois de
de manutenção predial, de segurança patrimonial e suporte de
diversas tentativas sem sucesso, a revitali-
rede;
zação começou na década de 1990, a partir de fortes investimentos públicos e privados.
- Serviços de apoio para a legalização do empreendimento;
A recuperação da paisagem urbana se deu com a restauração de antigos armazéns,
- Acompanhamento periódico do desempenho.
transformados em universidades, hotéis de que hoje atraem turistas de todo o mundo. Não há como negar: ainda temos muito o que fazer quando o assunto é economia criativa. Entretanto, exemplos como o Rio
Shutterstock
luxo e, principalmente, restaurantes e bares,
de Janeiro nos mostram que é possível reverter essa situação. Recentemente, o governo federal deu um passo importante nessa direção, criando a Secretaria da Economia Criativa. “A possibilidade de se desenhar políticas públicas nesse setor permitirá uma verdadeira transformação no Brasil”, afirma a secretária de Economia Criativa, Claudia Leitão. Resta agora transformar as palavras em ações concretas, pois não temos tempo a perder.
Puerto Madero, em Buenos Aires: revitalização urbana a partir do investimento em novas atividades econômicas 31
OPORTUNIDADE
_UM NOVO MODELO
Criado em 2010, o Rio Criativo é um projeto do Estado do Rio de Janeiro com um objetivo claro e bastante promissor: estimular o potencial das mais diversas áreas da economia ligadas a práticas criativas. O carioca Marcos André Carvalho, 38 anos, é quem coordena as ações do projeto. Formado em Jornalismo pela PUC-RJ, ele concorda que o Rio de Janeiro tem muito a ganhar com as Olimpíadas, anunciadas como um grande marco do desenvolvimento local. Mas quer ir além: “Nossas iniciativas não podem se ater apenas a um grande evento. Pensamos a longo prazo”, diz. Diante
Divulgação
das promessas do que virá e também do que já foi feito ele acredita que o Estado está no caminho certo.
as artes cênicas, a gastronomia e o desenvolvimento de games. Mas esses setores variam muito de acordo com a região. Nosso trabalho no Rio de Janeiro, por exemplo, mapeou 19 setores ligados à economia criativa. E como veio a ideia de criar o Rio Criativo? Podemos dividir esse início em duas partes. Em primeiro lugar, a ideia surgiu da secretária de Cultura, Adriana Rattes em conversas com o economista e presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), André Urani. Ele e a equipe do Instituto desenvolvem um interessante projeto no Rio de Janeiro que discute opções alternativas à indústria do petróleo no estado. Nessas conversas, ele mostrou que há uma tendência mundial para fomentar as indústrias criativas. A força desse setor nos impressionou muito. Mesmo assim, ficava claro para todos nós que o Rio de Janeiro e o Brasil como um todo não estavam priorizando esse tema. Ou seja, inicialmente foi essa percepção de que não estávamos atentos a
Locus > Antes de qualquer coisa, uma pergunta bási-
um setor que muitos países consideram essencial.
ca, mas importante para entendermos o assunto. O que diferencia um projeto ligado à economia criativa de um
E como isso evoluiu?
projeto tradicional?
Veio uma questão especialmente ligada ao Rio de
Carvalho > A maioria dos especialistas concordam que
Janeiro. Muitas pesquisas apontam que o Rio possui
a economia criativa é um conceito que está em constru-
grande parte do seu PIB relacionado a áreas da econo-
ção. Provavelmente, nunca iremos chegar a um conceito
mia criativa. Essa participação é muito maior do que em
fechado, já que se trata de um tipo de economia em cons-
qualquer outro estado brasileiro.
tante evolução. Mas para não ficar apenas na abstração, é possível definir a economia criativa como um grupo composto por até 20 setores e que hoje são os que mais
32
Quais são as razões que levam o Rio a se destacar tanto na economia criativa?
crescem e geram empregos no mundo. Como exemplo,
A criatividade é a vocação do Rio. Temos aqui emissoras
posso citar o audiovisual, a arquitetura, as artes visuais,
de televisão, companhias teatrais, produtoras de cinema,
OPORTUNIDADE
(Entrevista: Marcos André Carvalho)
gravadoras e projetos ligados à moda. Além disso, o Rio
dem ser usadas por apenas os 21 contemplados. Elas
costuma atrair grande parte dos artistas brasileiros. A
estarão abertas para o público geral e terão a obrigação
maioria deles querem morar aqui, pois acham o estado
de oferecer consultorias gratuitas. E a razão disso está na
um local inspirador. Em resumo, temos isso no nosso DNA
sua pergunta: trata-se de dinheiro público.
e precisávamos usar a nosso favor. Foi dessa maneira que se criou essa política pública voltada à economia criativa.
Antes de começar o Rio Criativo, uma equipe da Secretaria de Cultura participou de uma missão para
E como funciona o projeto?
ver como outros países estão incentivando esse se-
Nossa intenção inicial é ocuparmos com incubadoras
tor. Como o Brasil está em comparação aos locais
dois espaços do Rio de Janeiro. Trata-se do Porto do Rio
visitados?
de Janeiro e a Baixada Fluminense da cidade de São João
Isso aconteceu em 2009 e focamos nossa viagem na In-
do Meriti. São áreas maravilhosas, mas que precisam ser
glaterra e Espanha. Tivemos duas impressões. A primei-
revitalizadas. Queremos fazer isso com a instalação dessas
ra é que de fato temos muito o que fazer. Esses países
incubadoras.
realmente investem em projeto criativos. Mas também vimos que não adianta apenas copiar as ações desenvol-
Como escolher as empresas que serão abrigadas nessas incubadoras? É preciso selecionar de uma maneira transparente. Por
vidas por lá. Temos que incentivar ações ligadas à nossa vocação e história. Aprendemos muito nessa viagem. Mas também temos muito o que ensinar.
isso, fizemos um processo seletivo para empreendedores de 19 setores ligados à economia criativa. Como pensamos em um projeto de longo prazo, a seleção pedia
Foram as Olimpíadas que estimularam a criação do Rio Criativo?
não apenas uma ação pontual desses empreendedores,
Não há dúvida que as Olimpíadas e a Copa do Mun-
mas sim, um modelo de plano de negócio. No total,
do irão mostrar o Rio de Janeiro para o mundo de uma
2.750 projetos se inscreveram, número esse que consi-
forma nunca antes apresentada. Nossas iniciativas não
deramos muito grande e que nos impressionou pela qua-
podem se ater apenas a um grande evento. Pensamos
lidade das propostas. Desse total, escolhemos apenas 21
em longo prazo. Queremos aproveitar essa oportunida-
empreendimentos. Foram projetos muito diversos: de
de para reforçar o Rio de Janeiro no imaginário mundial.
artesanato a cinema, passando por moda, gastronomia
Queremos mostrar que somos a cidade da música, da
e tantas outras áreas. Agora estamos na fase de adequar
moda, onde todos querem morar.
os locais das incubadoras. A inauguração está prevista para janeiro de 2012.
A partir dessas iniciativas, como você vê o Rio daqui a 10 anos?
Como o Rio Criativo é um projeto custeado pelo di-
É muito difícil responder, pois estamos em meio a um
nheiro público, qual será o ganho para a sociedade flu-
enorme processo de construção. Nossa grande respon-
minense?
sabilidade é unir poder público, universidades e a socie-
O ganho mais óbvio é termos um Estado que incenti-
dade civil imediatamente, pois o tempo é, de fato, curto.
va a criatividade na sua mais ampla concepção. Mas há
Vivemos um momento único para a região e precisamos
também outro ponto muito interessante que defende-
incentivar ao máximo as soluções criativas. Se estiver-
mos desde o início da ideia. Essas incubadoras não po-
mos articulados e decididos, tudo vai dar certo. L
33
Cultura propulsora Divulgação
Julia Zardo G erente de c ul t ura empre ende dora do Ins t i t u to G ê nesis
O
século passado foi marcado por profundas mudanças nos campos políticos, econômicos, sociais, culturais e tecnológicos, incluindo a desmaterialização dos processos produtivos – que passaram a incorporar com mais vigor a informa-
ção e o conhecimento na produção de bens. A supremacia dos conteúdos imateriais, simbólicos e intangíveis nas relações sociais dá substância à economia do conhecimento, formando um cenário adequado a possibilidades inovadoras e criativas. A importância cada vez maior do conceito de indústrias criativas surge associada às abordagens que identificam seu grande potencial de geração de trabalho, emprego, inovação, produtos/serviços, renda e riqueza, tratando-se do setor emergente mais dinâmico em nível internacional. A Economia Criativa foi descrita pela primeira vez em 1998 no relatório elaborado por uma força tarefa do governo do Reino Unido como sendo a força motriz do futuro econômico da região. Experimentamos atualmente a confirmação econômica destes dados quando, em 10 de agosto deste ano, a Apple alcançou o topo do ranking de valor de mercado superando
uma enorme representante da “velha economia”, a Exxon Móbil. A valorização e disputa dessas duas vertentes diferentes do capitalismo é emblemática e nos faz pensar em como se posicionar nesta nova era. No Brasil, segundo a RAIS do IBGE de 2006, o PIB total da cadeia criativa representou naquele ano R$ 381,3 bilhões – correspondente a 16,35% do PIB do país. As incubadoras e os agentes de estímulo e apoio a empreendimentos devem se posicionar como protagonistas na geração de ambientes criativos, na motivação e valorização de iniciativas de promoção de habitats que concentrem fatores de estímulo à inovação produtiva e criativa. Esses ambientes têm se tornado cada vez mais importantes nos processos de desenvolvimento socioeconômico de regiões, com foco principal na inovação, na cooperação, no capital social e na valorização dos aspectos culturais locais. A rede de micro e pequenas empresas, atuando de forma integrada com o poder público e centros de ensino e pesquisa, pode gerar a inovação para diferenciação com criatividade em novos modelos de negócios, resignificando antigos espaços e criando atmosferas abstratas e objetivas para ambientes produtivos e inovadores. Algumas iniciativas no Brasil, como Rio Criativo (RJ), Porto Digital (PE) e Sapiens Parque (SC), já estão traduzindo seus convencionais mecanismos de geração de empreendimentos em instrumentos de desenvolvimento social, econômico e local com foco nos negócios criativos. A partir de agora, cada vez mais será necessário investigar o papel da economia criativa e o estímulo sustentável aos seus empreendimentos, pensando caminhos que tomem a cultura como propulsora de uma nova transformação social. 34
_EMPREENDEDOR
Dos financiamentos bancários aos editais de fomento, passando por venture capital, descubra qual a melhor forma de conseguir dinheiro para o INVESTIMENTO que seu negócio precisa. Fernando Kreutz escreve sobre a força que motiva a criação de empresas. OPINIÃO de empreendedor. Se o problema é equilibrar a GESTÃO do negócio e da vida, o mentoring pode ajudar a definir e atingir metas. Nem pense em colocar um produto no MERCADO sem avaliar sua conformidade. O conselho de quem já conquistou o SUCESSO é claro: persista. Conheça a história de Bematech, Fotosensores e Chamma da Amazônia, ex-incubadas que deram muito certo. 35
Shutterstock
INVESTIMENTO
P O R C A R O L I N E M A Z ZO N E T TO
O caminho do pote de ouro Conseguir recursos para bancar uma empresa nascente nem sempre é tarefa fácil, mas há opções no mercado para todos os gostos e possibilidades
36
Não basta apenas ter uma ideia e um
em troca de participação acionária. Mas
plano para colocá-la em prática: é preciso
não adianta somente conhecer as fontes
ter dinheiro para fazer acontecer. Essa é
de recurso. O caminho exige estar prepa-
uma realidade com a qual qualquer empre-
rado para encontrá-las e saber qual forma
endedor se depara logo que resolve abrir
de captação se encaixa melhor no perfil do
um negócio. Muitos não sabem como agir
negócio.
para vencer a falta de dinheiro. Entre as
Um levantamento divulgado em se-
opções disponíveis no mercado estão os
tembro deste ano pela Serasa Experian
financiamentos, por meio de empréstimos
revelou que as pequenas e microempre-
bancários, os recursos públicos concedidos
sas foram as que mais buscaram crédito
por órgãos de fomento e a capitalização
no último mês de agosto, com crescimen-
to de 6,6% em relação a julho. Elas tam-
programa de inovação que vislumbre a
bém lideraram a busca por empréstimos
execução de bolsas já existentes em âmbi-
na comparação com agosto de 2010 – o
to nacional e fontes de recursos propícias
aumento foi de 7,8%. Entre outros fato-
às empresas que estão nascendo”, explica
res, essa evolução é resultado de uma
a presidente da Fapeal, Janesmar Caval-
evolução na postura dos bancos, que vêm
canti.
criando diretorias e unidades de negócio
Participar de editais públicos de finan-
específicas para micro e pequenas empre-
ciamento a atividades de P&D foi o que
sas, ou pequenas e médias. “Os grandes
fez o empreendedor Israel Rojas Cabrera
bancos estão tentando ser mais competi-
para bancar a montagem do laboratório,
tivos nesses mercados. Há cinco anos isso
a compra de material de consumo e os
não era tão comum”, afirma o professor
testes de análises da Bioactive, da qual
de Empreendedorismo da Fundação Car-
é sócio-fundador. A empresa, incubada
los Alberto Vanzolini e pesquisador do
desde 2007 no Centro de Inovação, Em-
Núcleo de Política e Gestão Tecnológica
preendedorismo e Tecnologia (Cietec), de
da Universidade de São Paulo (PGT/USP),
São Paulo (SP), produz polímeros matrizes
Marcelo Nakagawa.
para a regeneração de tecidos humanos e
Empréstimos desse tipo, porém, exi-
teve cinco projetos aprovados em editais
gem uma série de cuidados. “O empreen-
– entre Fapesp, Finep e CNPq. O último de-
dedor acha que o banco vai dar dinheiro
les, ainda em andamento, é o de Subvenção
fácil, mas a instituição financeira está
Econômica da Finep.
interessada em ter garantias nesse pro-
Apesar dos cinco projetos de fomento,
cesso”, ressalva Nakagawa. Além de der-
grande parte do investimento feito para
rapar na hora de listar garantias, muitos
alavancar a Bioactive nos dois primeiros
apresentam balanços inadequados e um
anos veio de recursos próprios de Cabrera
plano de negócios romântico, otimista e
e de empréstimos de amigos. O auxílio à
que não mostra as contingências do em-
pesquisa apareceu depois. “Muitos pen-
preendimento.
sam que entrar na incubadora e aprovar
Fotos: Divulgação
INVESTIMENTO
Professor Nakagawa: concessão de recursos depende de garantias por parte do empreendedor
projetos em editais é fácil. Não é fácil, e Amparo às novatas
é aí que as empresas morrem”, afirma. Do
Outra fonte à disposição dos empreen-
grupo de 11 empresas que entraram com
dedores são as linhas de fomento. Cada
a Bioactive no Cietec, somente duas per-
vez mais, fundações estaduais de ampa-
maneceram. “Tínhamos um pensamento
ro à pesquisa oferecem recursos a fundo
Laboratório da Bioactive, em São Paulo: cinco projetos de fomento alavancaram a empresa
perdido para empresas nascentes locais. Entre os destaques estão Fapemig (MG), Faperj (RJ), Fapesb (BA), Fapergs (RS) e Fundação Araucária (PR) – além da pioneira Fapesp (SP). Também pretende fazer parte desse grupo a Fapeal (AL), que atualmente analisa as propostas recebidas do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe), da Finep. O edital oferecia R$ 2 milhões e recebeu 24 submissões – 19 empresas já foram pré-selecionadas pelos consultores. “Vamos implantar um 37
Shutterstock
INVESTIMENTO
diferente: vamos caminhar com passos
chão, pensa grande mas sabe onde está pi-
pequenos, com os próprios recursos. Se o
sando, vai em frente”, garante.
projeto for aprovado, ótimo, vamos dar um passo maior”, lembra o empreendedor.
Cabrera, da Bioactive: no início, é interessante que o empreendedor tenha uma fonte paralela de recursos
Janesmar Cavalcanti, da Fapeal, concorda que a concepção e submissão de
Para ter cinco projetos aprovados, Ca-
projetos não é fácil. “Os empreendedores
brera inscreveu dez. Segundo ele, o mais
entendem do metiê deles, mas na hora de
importante para vencer o edital é a parte
colocar no papel a demanda de inovação
escrita: tudo tem que ser mostrado clara-
tecnológica começam as dificuldades”,
mente e o texto deve se adequar ao público
afirma. A dica é que as empresas tenham
para o qual se dirige, já que cada instituição
alguém da equipe que saiba desde escre-
exige uma linguagem e modo de apresen-
ver os projetos até pesquisar informações
tação diferente. “A Fapesp é extremamente
sobre editais, conhecendo o sistema e pre-
acadêmica, a Finep visa o produto final, o
parando o negócio para a busca por finan-
CNPq é meio a meio. É preciso passar por
ciamento.
uma curva de aprendizado”, explica ele.
Há, ainda, falhas de comunicação por
Nessas horas, o conselho é ter persistência
parte das agências de fomento, que usam
e não desistir ao receber o primeiro não,
linguagem rebuscada no processo de in-
além de entender as especificidades de
formar a linha de pesquisa visada, tornan-
cada edital.
do difícil, por vezes, entender os critérios
As dificuldades de Cabrera foram ainda
de seleção. Por outro lado, os bancos
maiores porque ele é peruano e dentista:
erram em não preparar adequadamente
um estrangeiro, profissional liberal e sem
suas equipes para atender os empreen-
fiador enfrenta sérias dificuldades para
dedores. “Eles têm uma meta de volume,
conseguir empréstimos em bancos. Por
então preferem atender duas grandes em-
isso, ele recomenda que o empreendedor
presas a dez pequenas”, lamenta o profes-
continue com uma fonte de recursos para-
sor Nakagawa.
lela para bancar o negócio até que o novo Após a conquista de clientes, a Daitan captou investimentos do fundo GDF e da Rio Bravo
empreendimento comece a caminhar sozi-
Terceira via
nho. “O empresário sonhador, que fica nas
Uma boa notícia para os empreende-
nuvens, morre. Mas o sonhador que é pé no
dores é que o número de investidores interessados em aplicar seu dinheiro em empresas brasileiras está crescendo exponencialmente – em quantidade de interessados e em volume de movimentações financeiras. “Há oferta de capital de risco em todos os níveis: nas nascentes, em maturação ou maduras. É uma quantidade absurda”, salienta Nakagawa. O contato com os gestores desses fundos é relativamente simples – em alguns casos pode ser feito pela internet. O professor da USP aconselha, no entanto, buscar uma indicação, pois boa parte dos negócios de venture capital (leia mais na página 39) é realizada por recomendação. Vale até fazer uma busca no LinkedIn para
38
INVESTIMENTO
descobrir os laços em comum entre o empreendedor e o investidor. Além disso, os fóruns de capital de risco – como os pro-
_EVOLUÇÃO CONTINUADA
movidos pela Finep – são uma chance de reunir investidores e empreendedores em busca de investimento.
O percurso do dinheiro até o empreendedor ainda tem muito a avançar. O professor de Empreendedorismo e pesquisador da USP Marcelo
Foi em um desses fóruns, em 2005,
Nakagawa compara a situação com uma “diabete de capital”. “Na
que o sócio da Daitan Group, Augusto
diabete há açúcar no sangue, mas ele não chega à célula porque o
Cavalcanti, entrou em contato com seu
corpo não consegue absorver, não tem processo de transmissão. Com
primeiro investidor, o fundo DGF Investi-
o capital é a mesma coisa: existe dinheiro, mas ele não chega à pe-
mentos, e com o segundo, a Rio Bravo. Ele
quena empresa.” Apesar das dificuldades há consenso de que bancos,
havia criado em 1987, junto a outros três
agências de fomento e fundos de investimento estão cada vez mais
engenheiros, a Zetax Tecnologia, uma pe-
acessíveis para os empreendedores. Vários motivos levaram a esse
quena empresa de telecomunicações que
cenário:
13 anos após a criação já detinha 32% do mercado e foi comprada pela norte-ame-
Política pública: O simples fato de o Governo Federal pensar na cria-
ricana Lucent. Foi com essa bagagem no
ção de um Ministério da Micro e Pequena Empresa já sinaliza que esse
currículo que em 2004 ele resolveu fun-
tipo de negócio tende a receber um cuidado maior do poder público.
dar a Daitan Group, em Campinas (SP), que oferece competência brasileira no de-
Simples: A expansão da abrangência do Simples permite que o ne-
senvolvimento de novos produtos, princi-
gócio cresça sem deixar de fazer parte da categoria. “Muitas empre-
palmente para os Estados Unidos.
sas estavam segurando o faturamento para não mudar de patamar.
O plano da Daitan era investir o próprio dinheiro e conquistar clientes para depois,
Agora fica mais fácil mostrar o faturamento e crescer rapidamente”, explica Nakagawa.
com os processos encaminhados, captar investidores em duas etapas. Foram meses
Formação empreendedora: Houve um avanço nos cursos de empre-
de negociação para fechar o negócio com a
endedorismo em todas as principais instituições de ensino, o que tam-
DGF, em abril de 2006, e outros tantos me-
bém tem incentivado a criação de empresas. A atuação de agentes de
ses para o acordo com a Rio Bravo, firmado
apoio junto às bases e na captação de novas ideias também encoraja
em dezembro de 2008. “O empreendedor
esse movimento.
não pode ter a ilusão de que vai conseguir que o investidor embarque no negócio em
Foco no Brasil: Os investidores passaram a enxergar o país com
pouco tempo”, ressalta Cavalcanti. Com as
outros olhos. Muitos dos grandes fundos vinham aplicando seu
etapas de negociação e mais o tempo da
dinheiro na China, na Índia, alguns na Rússia, sem prestar muita
papelada, o cálculo é que as conversas le-
atenção no Brasil. Com o mau momento da economia internacio-
vem entre 9 a 12 meses, pelo menos.
nal e a boa resistência do país à crise, os investidores começam a
O relacionamento entre as duas partes
se voltar para cá.
é outro fator essencial, pois tudo deve ser uma parceria. “É preciso considerar o in-
Setores aquecidos: O que atrai os fundos de investimento são negó-
vestidor como um sócio muito importante.
cios em software, internet, telecom, TI, mídia e entretenimento digi-
Quando tiver problemas, é bom ter o inves-
tais, games e comércio eletrônico; na área de ciências da vida, o foco
tidor pela solidez. É outra cabeça pensan-
são medicamentos, cosméticos e produtos de cuidados pessoais; ou-
do fora da operação do dia-a-dia”, explica
tro setor aquecido é o de infraestrutura de petróleo e gás. Há ainda
Cavalcanti. Dinheiro para colocar a ideia
investidores que procuram negócios em nichos específicos, como é o
no mercado não falta, mas é preciso saber
caso de produtos e serviços voltados à terceira idade.
como chegar até ele. L 39
Shutterstock
INVESTIMENTO
P O R C A R O L I N E M A Z ZO N E T TO
Aposta calculada Os fundos de venture capital vêm se popularizando entre os empreendimentos que estão em um estágio intermediário do negócio e precisam de algo além da injeção financeira
40
Nem só de editais de fomento vive uma
lucro futuro. Nesse ramo, são diversas as
empresa inovadora. No momento em que
formas de investimento: capital semente,
o Brasil se destaca como um porto segu-
operações mezanino, pipe, entre outras.
ro em meio à crise na Europa e aos per-
Entre elas está uma modalidade voltada
calços da economia dos Estados Unidos,
especialmente às empresas que já existem,
investidores do mundo todo voltam os
mas não estão completamente maduras: o
olhos para o país. São pessoas interessa-
venture capital.
das em private equity – colocar dinheiro
Também conhecido como capital de ris-
em uma empresa em troca de ações, com
co, esse é um tipo de investimento que vem
a perspectiva de que a sociedade traga
se destacando cada vez mais. “O crescimen-
INVESTIMENTO
to do número de negócios de private equity
buscar apoio comunitário, planejar novos
e venture capital é todos os anos positivo,
produtos e processos e garantir a sustenta-
significativo. O Brasil, apesar de ter uma
bilidade nas operações.
indústria nova, tem cada vez mais pessoas
Por isso, junto com o dinheiro, o inves-
envolvidas”, comenta o vice-presidente da
tidor leva a discussão sobre o que deve ser
Associação Brasileira de Private Equity e
melhorado, auxiliando na gestão. “Não é só
Venture Capital (ABVCAP), Clóvis Meurer.
capital. É dinheiro e ajuda. A ajuda pode ser
Em 2008, o volume de capital comprome-
relacionamento, conhecimento em alguma
tido em private equity e venture capital era
área específica, participação efetiva, às ve-
de US$ 27,1 bilhões – de acordo com uma
zes, dentro da empresa”, explica o diretor do
pesquisa do Centro de Estudos em Private
Instituto Gênesis da Pontifícia Universidade
Equity e Venture Capital da Escola de Ad-
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), José
ministração da Fundação Getúlio Vargas
Alberto Sampaio Aranha. Por outro lado,
(GVCepe). O número representava um au-
não é qualquer investidor que se adequa
mento de 438% na comparação com os va-
a essa função, já que o retorno financeiro
lores de 2000.
não pode ser o único foco do venture capi-
O venture capital busca empresas “adolescentes”. Não as nascentes (mais indica-
tal. “Tem que ter afinidade para dar certo”, completa Aranha.
das para o capital semente), mas aquelas
Os perfis variam de acordo com o tipo
que já configuram um negócio, têm pro-
e o volume do investimento. Pode ser um
duto e mercado, apesar de ainda não es-
grupo ou uma pessoa, brasileiro ou estran-
tarem completamente sólidas e maduras.
geiro, com conhecimento específico de uma
É aí que está a diferença em relação ao
área, que busca se associar a negócios aos
private equity, que busca empresas maio-
quais possa agregar valor. O ideal para os
res, consolidadas, atrás de dinheiro para
empreendedores é negociar com investi-
uma fase de crescimento mais acelerada.
dores que tenham know-how do campo de
O venture capital se adapta, por exemplo,
atuação da empresa e que possam aplicar
a empreendimentos recém-graduados pe-
a quantidade necessária de dinheiro – não
las incubadoras, que alcançaram um certo
menos.
grau de segurança, mas ainda estão longe do patamar ideal.
A FK Biotec está no rol das empresas que receberam aporte de venture capital para se firmar no mercado. O empreendimento foi criado em 1999 na incubadora da Fun-
Devido ao estágio de desenvolvimento
dação de Ciência e Tecnologia (Cientec),
em que as empresas se encontram, essa
vinculada à Secretaria da Ciência, Inovação
forma de investimento não se resume ao
e Desenvolvimento Tecnológico do Estado
aporte de capital. Torna-se uma parceria.
do Rio Grande do Sul. A empresa faz pesqui-
Os empreendedores precisam, além do di-
sa e desenvolve produtos na área de imuno-
nheiro, de know-how sobre organização
diagnóstico humano e vacinas terapêuticas
societária, criação de estatutos, legalização
anticâncer. Quando a FK Biotec ainda era
de documentos, processos e registros. Na
uma start-up, o empreendedor Fernando
parte operacional, tocam todo o negócio so-
Kreutz encaminhou seu plano de negócios
zinhos e às vezes não têm com quem dividir
à CRP Companhia de Participações – uma
as decisões sobre pesquisa e desenvolvi-
das primeiras gestoras de fundos de inves-
mento, comercial ou marketing, e ignoram
timento de private equity e venture capital
como criar um Conselho de Administração,
do país – e teve seu projeto selecionado.
Aranha, do Instituto Gênesis: venture capital significa dinheiro e ajuda na gestão Divulgação/Int. Gênesis
Mais que dinheiro
41
Divulgação
INVESTIMENTO
A operação se concretizou em 2000 e a
valuation. “Hoje, nossa valuation é de 50
partir do aporte de dinheiro as atividades
vezes em relação ao investimento inicial.
da empresa começaram a tomar forma.
O potencial de crescimento é fantástico”,
Foram sendo consolidadas uma série de
aponta o empresário.
tecnologias e ativos intelectuais, patentes e know how que fizeram com que o valor da
Meurer, da ABVCAP: é essencial que o empreendedor se mostre comprometido com o negócio
Com a frequência cada vez maior de
até 2009. “O modelo da FK normalmente
eventos de venture capital promovidos por
tem investimento público, depois o privado.
fundações e institutos de pesquisa – como a
Fizemos o oposto, primeiro privado e de-
Finep –, encontrar investidores não é mais
pois público”, relata Kreutz.
um desafio. Os venture foruns buscam co-
A CRP ainda é acionista da FK. Isso acon-
locar as duas partes frente a frente, para
tece por causa do setor que a empresa atua,
que o empreendedor apresente seu proje-
biotecnologia. No capital de risco, negócios
to, enquanto o investidor ouve, discute e
dessa área demoram mais para entrar e sair
avalia a possibilidade de fechar um acordo.
do investimento na comparação com TI, por
Também há cursos promovidos por univer-
exemplo. Atualmente, a FK busca mudar o
sidades, institutos de educação nacionais e
foco da área de desenvolvimento para o
estrangeiros e empresas especializadas em
setor industrial. “Foi um longo período de
seminários do tipo.
investimento e maturação que se reflete em
Segundo José Alberto Sampaio Aranha,
um movimento de receita somente agora
do Instituto Gênesis, é recomendável que os
nos últimos anos”, explica o empresário,
empreendedores apareçam. “A ABVCAP tem
que é médico e doutor em Biotecnologia.
uma lista de fundos de investimento, pode
Em 2010, o faturamento da FK não chegou
pegar a lista e ir atrás, mandar o nome, se
a atingir os R$ 2 milhões.
oferecer”, aconselha. Mas na hora da es-
Assim como acontece com qualquer em-
colha, o ponto nevrálgico é a afinidade. O
preendedor, também há dificuldades no cami-
plano de crescimento da empresa tem que
nho dos que recebem investimento de ventu-
estar alinhado ao do investidor, e as cláu-
re capital. Kreutz aponta como um problema
sulas e condições do contrato precisam ser
o fato de que a BM&FBovespa não tem liqui-
viáveis. Além disso, o empreendedor deve
dez para absorver os pequenos IPOs – intan-
se mostrar comprometido com o negócio.
gíveis, tecnológicos, com forte componente
“Não pode demonstrar em momento algum
de risco – como acontece com a norte-ameri-
que aquilo não é a vida dele”, recomenda
cana Nasdaq. Por isso, nos últimos dois anos
Clóvis Meurer, que também é diretor da
a FK inciou um processo de internacionaliza-
CRP Companhia de Participações.
ção para fazer sua oferta inicial de ações nos
Por último, é bom ter em mente que o ca-
Estados Unidos ou no Canadá. “A Bovespa foi
pitalista de risco está sempre disposto a ouvir,
criada com o intuito de fazer ofertas públicas
de portas abertas para discutir uma propos-
menores, mas isso não está operacionaliza-
ta. A formatação, porém, tem que ser clara,
do”, assinala o empreendedor.
demonstrar com precisão a ideia, o mercado,
Em um setor onde as empresas depen-
o investimento necessário. “Ele assume o ris-
dem muito de uma compra estratégica, as
co porque vai ganhar bastante. Não adianta
dificuldades para abrir capital atravancam
mostrar um projeto que apresenta um poten-
a pulverização do risco, o aumento da cap-
cial de ganho pequeno. Tem que ser grande”,
tação e a oxigenação. Essas características
ressalta Kreutz, da FK Biotec. Se esse é o perfil de seu negócio, mãos à obra. L
contribuiriam na liquidez e no aumento da 42
Atenção e presença
companhia se multiplicasse em dez vezes
OPINIÃO
O desafio de empreender F er nando T homé K reu t z Mé dico , dou tor em Biote c nologia , profes s or , p es quis ador e empre ende dor da F K Biote c , empres a graduada p ela inc ub adora da Ciente c , de Por to A le gre ( R S )
N
ascer em uma incubadora de negócios representa uma marca importante para empresas e seus empreendedores. Prova da relevância que as incubadoras de base tecnológica adquiriram no Brasil, um recente mapeamento coordenado pela Associação Brasileira de Biotecnologia (BRBiotec Brasil) revelou que mais de 50% dos empreendimentos dessa área no país
nasceram ou estão vinculados atualmente a uma incubadora. Mas, o que significa esse vínculo? Hoje, visão muito especial do modelo. A incubadora propicia um ambiente físico favorável: organizado, com
Divulgação
como empreendedor com mais de 12 anos de experiência, tenho uma
boa apresentação e economicamente adequado. O empreendedor se sente apoiado por essa estrutura, mas o mais importante é a integração que ocorre entre as empresas e as entidades onde essas incubadoras estão sediadas, como universidades ou centros de pesquisa. Novas ideias surgem durante um cafezinho, há tremenda complementaridade ou até competição entre incubadas, o que pode ser extremamente benéfico para todas. Outro ponto fundamental é fazer com que o empreendedor imagine o futuro. Muitas vezes o micro ou pequeno negócio guarda uma avalanche de problemas e decisões, que prejudicam a visão a longo prazo. O que farei? Onde estarão as oportunidades? Como devo me posicionar? São questões que, fora de uma incubadora, correm maior risco de serem abafadas pela necessidade diária. Nas incubadoras trabalhamos com planos de negócios, relatórios, consultores – temos que parar e pensar. Isso é instrumental em negócios de alta tecnologia. Além disso, o ambiente nos ajuda a gerir o estresse empresarial, tendo em vista que nossa responsabilidade civil, trabalhista e comercial aumenta da noite para o dia no momento em que resolvemos empreender. Estar em uma incubadora dilui essa pressão, pois olhamos para o outro e constatamos que se ele também passa ou passou pelas mesmas dificuldades, nós conseguiremos. A convivência entre empreendedores serve como exemplo e conforto. E então nos vem uma pergunta fundamental: qual a força que nos motiva a criar uma empresa? Talvez alguns tenham uma resposta simplista: empreendendo para ganhar dinheiro. Obviamente, esse é um aspecto importante, mas a motivação vai além: o desejo de desafio. Empreender, para mim, é como caminhar perto do abismo – preferencialmente sem cair nele! Faço também a analogia de dar um passo sem saber ao certo onde nosso pé vai se colocar. Quem está na incubadora ou no parque tecnológico tem mais segurança, pois ali há um anteparo. Ser empreendedor, portanto, congrega uma transdisciplinaridade fantástica, nos inspira a criar e imaginar. As incubadoras e parques, cada vez mais essenciais ao desenvolvimento tecnológico do Brasil, nos ajudam a organizar esses pensamentos e colocar nossos pés no chão e olhos no futuro. 43
Shutterstock
GESTÃO
P O R C A R O L I N E M A Z ZO N E T TO
Os novos gurus O mentoring chega ao empreendedorismo para unir profissionais experientes, com muito a ensinar, a empresários cheios de dúvidas, sedentos por aprender
44
A palavra mentoring pode ser relativa-
Essa mesma prática pode ser vista hoje
mente nova nos dicionários do empreende-
quando profissionais com uma larga traje-
dorismo brasileiro, mas a figura do mentor
tória no mercado ajudam jovens empreen-
faz parte da sociedade ocidental há séculos.
dedores a chegar mais perto da maturidade,
Um dos primeiros de que se tem notícia foi
em um processo que envolve a troca de ex-
o filósofo grego Aristóteles (século IV a.C.),
periências e o enriquecimento mútuo.
responsável pela formação intelectual, so-
O mentoring é uma ferramenta desti-
cial e moral do jovem Alexandre Magno.
nada ao desenvolvimento pessoal dos em-
preendedores e consiste em colocá-los em
da Finep. “As pessoas não sabiam elaborar
contato com pessoas que têm muita experi-
planos de negócio e eram orientadas a para
ência na área em que atuam.
fazê-lo, aprendendo a analisar a viabilidade
“Os mentores fornecem conselho, exem-
do negócio, como fazer análise econômi-
plo, guia, liderança e oportunidades para o
ca e financeira”, relata Souza. Atualmente,
desenvolvimento de habilidades nos empre-
a MDL desenvolve, entre outros, projetos
endedores, contribuindo para o crescimento
de mentoring em 10 empreendimentos de
de suas empresas”, explica Manuel Bello, co-
base tecnológica em Alagoas – na Incubal,
ordenador da RedLAC – Rede Latino-ameri-
da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
cana de Incubadoras de Empresas.
e na Incubadora Empresaral Tecnológica
Direcionado
a
empreendedores
ini-
(IET), do Centro Universitário Cesmac.
ciantes, o processo prevê uma gradação.
Para fazer a ponte entre os profissionais
Com o tempo, o mentor vai identificando
experientes e os jovens empresários, as in-
prioridades e necessidades, realizando a
cubadoras exercem um papel decisivo. Se
capacitação de maneira modular, em gru-
o mentoring faz parte dos serviços ofereci-
pos pequenos ou individualmente. Entre as
dos às empresas residentes, por exemplo, o
dúvidas que cabem no mentoring estão as
processo de amadurecimento do negócio é
relacionadas a procedimentos iniciais – se a
catalizado. “O novo empreendedor sempre
empresa é micro ou pequena, por exemplo,
vai ter alguém com quem possa conversar,
ou quanto encarece em tributos colocar a
que não vai dar respostas mágicas, mas vai
palavra consultoria em um contrato.
ouvir e sugerir alguns caminhos”, ressalta o
A maioria das demandas estão ligadas
Fotos: Divulgação
GESTÃO
Manuel Bello, da RedLAC: conselhos dos mentores contribuem para o crescimento das empresas
consultor Souza, da MDL Brasil.
a administração e finanças, mas a questão comportamental também costuma ser foco
Motivação
do trabalho. “Vamos oferecendo capaci-
Manuel Bello, da RedLAC, explica que in-
tação para que ele possa andar sozinho.
cubadoras e outras organizações do gênero
O objetivo é permitir que no decorrer do
que se dedicam a apoiar empreendimentos
processo, após o mentoring, a empresa ou
inovadores se baseiam em uma vasta rede
o empreendedor tenha autonomia”, afirma
de contatos para alcançar o melhor entro-
Márcio Dionísio de Souza, da MDL Brasil –
samento possível entre mentor e mentora-
que oferece, entre outros serviços, mento-
do. Isso também ocorre em meio a outros
O processo exige aceitação de ambas as partes, para que o conhecimento do mentor possa ser transmitido
ria aos jovens empreendedores. Em alguns casos o projeto de mentoring é remunerado desde o início, mas esse não é o critério da maioria. A equipe da MDL entende que se atender bem um cliente com potencial de crescer, quando esse empreendedor já estiver firmado, com recursos e novas necessidades, vai lembrar de quem o ajudou no início e incluí-la em seus projetos futuros. Essa estratégia de ajudar os novatos sem uma visão capitalista do serviço prestado foi o que levou a MDL a ser uma das empresas brasileiras que, isoladamente, teve o maior número de contratos do programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), 45
GESTÃO
mecanismos, como os fundos de capital
_O MENTOR IDEAL
semente ou o investimento-anjo – no caso deste último, os anjos atuam como mentores nas empresas em que investem.
O consultor Márcio Dionísio de Souza, da MDL Brasil, lista
Entre os locais onde circulam os mento-
cinco características essenciais a alguém disposto a exercer a
res estão grandes corporações, empresas
função de mentor:
de consultoria, universidades, agências do governo, agentes financeiros, sindicatos
Habilidades: É preciso ter experiência de mercado. É preferível
industriais e comerciais e associações ou
alguém com sucessos e fracassos no currículo, que já se relacio-
clubes de apoio à comunidade. “O papel das
nou com diferentes tipos de pessoas e tomou decisões certas e
incubadoras e outras instituições é colocar
erradas, do que um super especialista com cinco diplomas. “Às
os empreendedores em contato com os
vezes se aprende mais com o cara que foi diretor da empresa
mentores, para conquistar a maior sinergia
que quebrou do que com quem não adquiriu maturidade por-
possível entre ambos”, salienta Bello. A em-
que só teve sucesso”, diz Márcio.
patia entre os dois lados precisa ser levada em conta em qualquer iniciativa do tipo: o
Formação acadêmica sólida: Títulos como mestrado e doutora-
mentor deve se colocar no lugar do mento-
do ajudam a trazer credibilidade para o profissional e fornecem
rado e vice-versa.
uma argumentação diferenciada. Se o mentor não tiver conteú-
É necessária uma aceitação de ambas as
do, não será ouvido. Ao mesmo tempo, essa característica não
partes, para que o conhecimento tácito, fru-
pode servir para assustar o empreendedor ao ponto dele dizer
to da experiência e do know-how, possa ser
“não, ele é demais para mim”. A formação dará base para de-
transmitido. “O projeto de mentoring propi-
monstrar como aplicar uma determinada prática – e isso só é
cia que essa inteligência emocional, que faz
possível com um arcabouço teórico sólido.
parte do contexto, possa contribuir para o autoconhecimento do mentorado”, assinala
Eficiência e velocidade de resposta: A falta de efetividade na hora
o mentor Minoru Ueda.
de dar um feedback para o mentorado ajuda a minar a credibilida-
Integrante do Programa de Mentoring
de do mentor. Por outro lado, uma demora nas respostas transfor-
desenvolvido pela Faculdade de Economia,
ma o que é um relacionamento de troca em terapia. “Se não tiver
Administração e Contabilidade da Universi-
eficiência, capacidade direcional, não dá”, afirma Márcio.
dade de São Paulo (USP) – projeto da Associação dos Engenheiros Politécnicos (AEP)
Atenção ao mercado interno e externo: Um bom mentor sabe
em parceria com a Escola Politécnica da
o que está acontecendo no Brasil e no mundo, quais são os ne-
USP –, Ueda afirma que a pessoa assistida
gócios em alta, para onde o país está crescendo, o que ocorre
é vista holisticamente, não só em relação
atualmente com a economia global e com as nações emergen-
à carreira, mas também quanto ao fatores
tes. Essa base ajuda na negociação e traz confiança para que o
que impulsionam e motivam o novo empre-
empreendedor escute o que o mentor tem a dizer.
sário. O mentor não interfere diretamente na tomada de decisões, mas acompanha o
Amor pelas pessoas: Ver o mentorado com o potencial máximo
empresário no caminho que leva até ela:
é essencial. Tem que olhar no olho, dar atenção, entender que
diagnóstico, experiência, reflexão compar-
o jovem com quem ele está lidando passa hoje pelas mesmas
tilhada.
coisas que o mentor passou há 20, 30 anos. “Acreditar no que
O objetivo, vale ressaltar, é gerar auto-
a pessoa está fazendo, com um olhar bondoso, identificar que
nomia, não dependência. “O aumento da
o empreendimento está muito no início. O olho tem que brilhar
longevidade repercute no mundo profissio-
junto com o do mentorado”, conclui Márcio.
nal. Tem todo um conhecimento que essas pessoas que estão há muito mais tempo no
46
mercado detêm e podem passar dentro de
aumentar as possibilidades de sucesso, ge-
um projeto de mentoring”, assinala o consul-
rido por uma incubadora ou instituição se-
tor. O perfil dos mentores é variado: podem
melhante. As etapas incluem a seleção dos
ser executivos tanto de pequenas empresas
mentores mais adequados para os empre-
como de megacorporações, com uma longa
endedores e seus negócios, a orientação de
trajetória profissional, grande experiência
ambas as partes para um bom andamento,
nos negócios e, particularmente, na área es-
a programação das sessões de mentoria e o
pecífica dos empreendedores. Essa última,
acompanhamento, buscando a retroalimen-
na verdade, depende do contexto: por vezes,
tação e a melhoria contínua. “É muito im-
um mentor com uma formação e experiência
portante orientar tanto os futuros mentores
diferente pode ser importante para trazer
quanto os empreendedores sobre o proces-
uma visão nova do negócio.
so e fixar expectativas realistas”, complementa o coordenador da RedLAC.
Mão dupla
Divulgação
GESTÃO
Ueda: valores de mentor e mentorado devem estar em equilíbrio
Também é fundamental a avaliação e o
Geralmente, os mentores pertencem à
monitoramento do próprio programa, para
geração nascida antes da Segunda Guerra
buscar corrigir cedo problemas que podem
Mundial, à dos baby boomers ou à geração
minar o relacionamento, como a dedicação
X. São, em suma, profissionais no ápice de
insuficiente do mentor ao empreendedor e
suas carreiras. “É necessário senioridade.
a falta de receptividade do mentorado às re-
Idade não é atributo, mas experiência”, aler-
comendações sugeridas pelo guru. L
ta Ueda. Enquanto isso, os mentorados são frutos da geração Y. O relacionamento entre as gerações é uma via de mão dupla: o ideal é que o mentoring capitalize as trocas
_MENTORING OU COACHING?
e projetos de ambas as partes. Um exemplo disso é quando o mentor se utiliza dessa convivência com alguém mais jovem para se atualizar no processo de conhecimento. O tutorado deve ver no mentor uma pessoa de referência. Tem que olhar e dizer ‘quero ser assim’ e não como um miserável precisando de uma benesse”, salienta Souza, da MDL. Por outro lado, a visão da outra parte deve ser carinhosa e, ao mesmo tempo, crer que o empreendimento pode dar certo. “Tem que acreditar a cada contato que faz”, acrescenta Souza. O aspecto mais importante, porém, é a sintonia. “Os valores dos dois têm que ter um equilíbrio. É necessário que ambos escutem um ao outro. Se houver conflito de valores pessoais e profissionais talvez a relação não ocorra de forma satisfatória”, alerta Ueda. Manuel Bello recomenda que o mentoring seja realizado como parte de um processo estabelecido, para diminuir riscos e
Embora as definições de mentoring e coaching se assemelhem, já que ambos são processos de autodesenvolvimento, há diferenças básicas entre as duas ferramentas. O coaching é mais focado em uma ajuda voltada à parte profissional, com orientações pontuais do que deve ser feito para evoluir na carreira. O mentoring, por sua vez, aprofunda mais o diagnóstico, observando o mentorado com uma visão expandida – não só profissional, mas também pessoal e emocional. “Além disso, o mentor não é um depositório de saber sobre a questão levantada pelo empreendedor, mas um facilitador do processo”, assinala o especialista Minoru Ueda. Também é possível encarar as diferenças entre os dois processos de outra forma. Quem procura coaching geralmente possui uma dúvida específica e está em busca de conselhos sobre a melhor decisão a ser tomada em um determinado negócio. Enquanto isso, o mentoring é mais processual e lida com empreendedores jovens, iniciantes, que não sabem muito sobre os meandros do mercado. “Vamos caminhando com ele rumo a conteúdos específicos, como administração, finanças, relacionamento”, explica Márcio Dionísio de Souza, da MDL Brasil. 47
Shutterstock
MERCADO
P OR A DR I A NE A L ICE P E R E IR A
Normas estratégicas Conhecer os requisitos de avaliação e conformidade no desenvolvimento de produtos é fundamental às empresas nascentes que propõem soluções inovadoras
48
Avaliar a conformidade de um produto
o chefe substituto da Divisão de Programas
oferecido ao mercado nem sempre está
de Avaliação da Conformidade do Institu-
entre as prioridades das micro e peque-
to Nacional de Metrologia, Normalização e
nas empresas inovadoras. Mas a atenção a
Qualidade Industrial (Inmetro), Leonardo
conceitos relativos ao tema e às diferenças
Machado Rocha.
entre regulação, regulamentação, avaliação
O primeiro passo nesse sentido é com-
da conformidade e normalização pode ser
preender o processo de implantação de
estratégica para a sobrevivência do empre-
programas de avaliação da conformidade
endimento. “Empreendedores e gestores
pelo Inmetro. “O Inmetro trabalha com uma
de incubadoras precisam saber que existe
agenda de prioridades para a regulamen-
um canal de informações sobre a avaliação
tação, formatada após a identificação das
de conformidade que pode ajudar as em-
demandas da sociedade”, explica Rocha. Se-
presas nascentes a se anteciparem a uma
gundo ele, após essa identificação, o Institu-
eventual regulamentação ou ainda conhe-
to realiza estudos de impacto e viabilidade
cerem os meios de solicitar uma regula-
e avalia se a regulamentação irá atender a
mentação na sua área de atuação”, afirma
demanda que a originou e se há tecnologias
MERCADO
disponíveis para as empresas cumprirem a determinação. Em sequência a essas etapas, há o pro-
_MECANISMOS DE AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE
cesso de elaboração, publicação e implantação do regulamento, que reúne todas as
No Brasil, são praticados os tradicionais mecanismos de avalia-
definições da regulamentação. Após a im-
ção da conformidade, sendo que cada um deles é selecionado
plantação do regulamento, o Inmetro acom-
para determinado tipo de produto, de acordo com uma meto-
panha o produto no mercado, por meio de
dologia que tem como base aspectos legais, ambientais, sociais,
fiscalizações e testes, entre outros instru-
técnicos e econômico-financeiros. São eles:
mentos, para verificar a aplicação das determinações estabelecidas. De acordo com
Certificação
Rocha, um dos objetivos da regulamentação
A certificação de produtos ou serviços, sistemas de gestão e pes-
do Inmetro é coibir práticas danosas, por
soas é, por definição, realizada pela terceira parte, isto é, por
meio da definição de regras de segurança.
uma organização independente acreditada para executar essa
Ele destaca que, para as empresas jovens
modalidade de Avaliação da Conformidade.
e inovadoras, é muito importante conhecer como funciona o sistema de avaliação da
Declaração do fornecedor
conformidade. “Se a empresa estiver nascen-
Esse mecanismo de Avaliação da Conformidade é o processo
do em um setor já regulamentado, ela deve
pelo qual um fornecedor, sob condições prestabelecidas, dá ga-
procurar informações sobre as determina-
rantia escrita de que um produto, processo ou serviço está em
ções existentes. A inovação no processo pro-
conformidade com requisitos especificados.
dutivo não elimina a necessidade de adequar o produto final às normas já fixadas. Um
Etiquetagem
brinquedo, por exemplo, deve seguir a regu-
Os produtos apresentam etiqueta informativa indicando seu de-
lamentação desse produto, independente da
sempenho de acordo com os critérios estabelecidos. Essa etiqueta
sua forma de fabricação. Por isso, o conhe-
pode ser comparativa entre produtos de um mesmo tipo ou so-
cimento sobre essa questão é fundamental
mente indicar que o produto atende a um determinado desem-
para qualquer empresa”, ressalta Rocha.
penho, podendo ser, ainda, de caráter compulsório ou voluntário.
Mesmo pequenas e nascentes, as empresas devem investir na sua adequação
Inspeção
às normas vigentes. Segundo o chefe do
A inspeção é definida como Avaliação da Conformidade pela ob-
Inmetro, a regulamentação pode considerar
servação e julgamento acompanhados, conforme apropriado,
o porte e as características das empresas
por medições, ensaios ou uso de calibres. A inspeção pode ser
de determinado setor. “Antes de implantar
aplicada em áreas como segurança, desempenho operacional e
uma regulamentação, o Inmetro faz um
manutenção da segurança ao longo da vida útil do produto. O
mapeamento do setor e identifica o perfil
objetivo principal é reduzir o risco do comprador, proprietário,
das empresas que serão impactadas pela
usuário ou consumidor.
determinação. O prazo de adequação, por exemplo, pode ser diferente para empresas
Ensaios
grandes, que já possuem sistemas sólidos
O ensaio é uma operação técnica que consiste na determinação
de qualidade, e para empresas pequenas”,
de uma ou mais características de um dado produto, processo ou
esclarece. “A nossa filosofia é exigir segu-
serviço, de acordo com um procedimento especificado. É o meca-
rança e confiança para os produtos, mas
nismo de Avaliação da Conformidade mais utilizado, podendo ser
com o menor preço possível, ou o produto
realizado em conjunto a com inspeção.
deixa de ser interessante para o consumi-
Informações: Inmetro
dor”, completa. L 49
Divulgação/Bematech
SUCESSO
Fábrica da Bematech em São José dos Pinhas (PR)
POR DÉBOR A HORN
Sucesso em ciclos Nascidas em incubadoras, Bematech, Fotosensores e Chamma da Amazônia se transformaram em grandes negócios marcados pela inovação
50
Ao ingressar em uma incubadora, o em-
que, com apoio e estratégia bem definida, a
preendedor dificilmente pode imaginar a si-
boa ideia pode, sim, transformar-se em uma
tuação efetiva de sua empresa no horizonte
grande empresa.
de uma ou duas décadas. Não à toa, o plano
Quando procuraram pela incubadora do
de negócios está entre as primeiras lições
Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar),
de qualquer incubada, a fim de apontar ca-
em 1989, os jovens Wolney Betiol e Marcel
minhos e esclarecer um pouco as dúvidas
Malczewski eram representantes do então
daqueles que, por vezes, têm uma boa ideia
pequeno grupo de pesquisadores que bus-
na cabeça, mas nenhuma certeza quanto à
cava transformar suas dissertações e teses
sua viabilidade como negócio. Histórias de
em produtos. Colegas no curso de pós-gra-
sucesso colecionadas pelo movimento do
duação em Engenharia do Centro Federal
empreendedorismo inovador comprovam
de Educação Tecnológica do Paraná (atual
a constante superação de
ná), em Curitiba, eles tinham como ideia
tecnologias,
fornecer impressoras para aparelhos de
investir em Pesquisa e De-
telex – a moderna forma de comunicação
senvolvimento. A escolha
da época. Entre as vantagens competitivas
por esse caminho levou ao
do negócio estava o grande mercado facil-
lançamento, em 1997, da
mente acessível, pois a maior fabricante de
chamada impressão térmica
máquinas de telex do país, uma multina-
– mais ágil e confiável que a
cional, tinha sede na capital paranaense.
antiga impressão matricial.
era
preciso
Assim nascia a Bematech, empresa que,
Como resultado do for-
muitos desafios depois, chegaria a 2010
te investimento em P&D, os
com faturamento de R$ 326,4 milhões.
novos equipamentos da Be-
Segundo Betiol, a trajetória da empresa
matech
conquistaram
não
tech
Wolney Betiol, Bema
jamais poderia ser vislumbrada pelos em-
apenas os bancos, mas tam-
preendedores quando tudo começou. “Não
bém o mercado de automação
tínhamos a menor ideia de onde isso iria
comercial. A empresa teve
parar. Fomos para a incubadora em busca
um papel importante na inclusão digital
da infraestrutura de laboratórios necessária
de milhares de pequenos estabelecimentos
para desenvolver nosso produto. Lá, desco-
comerciais brasileiros, que até então não ti-
brimos que contaríamos com apoio também
nham acesso às soluções de automação dis-
na área de gestão, o que foi providencial
poníveis, importadas e caríssimas. Decidida
naquele momento” , relata. Com a ajuda da
a conquistar essa fatia do mercado, a Bema-
incubadora, o negócio engrenou. Mas não
tech passou a oferecer produtos para em-
demorou muito para que uma nova tecnolo-
presas de todos os portes, com custo-bene-
gia chegasse, logo no início dos anos 1990,
fício atrativo, em um processo que alterou
desbancando o telex: era a vez do fax. Então
o modelo de comercialização adotado por
o mercado que a Bematech pretendia aten-
milhares de micro e pequenas empresas.
der foi rapidamente extinto, o que incluiu o
Em 2005, a Bematech mudou seu foco
fechamento da fabricante do aparelho em
para soluções em automação comercial,
Curitiba.
distribuindo conjuntos de equipamentos completos para os pontos de venda, ser-
Foco em P&D
viços de assistência técnica e sistemas de
Em tempo, os empreendedores Betiol e
gestão. Para financiar o novo ciclo de cres-
Malczewski haviam identificado na capa-
cimento da empresa, a Bematech ingres-
cidade de inovação o maior diferencial de
sou, em abril de 2007, no Novo Mercado
sua empresa, que voltou o foco para o ainda
da Bovespa. Adotando práticas de gover-
incipiente mercado da automação bancária.
nança corporativa, a empresa realizou um
A Bematech passou a produzir impressoras
processo bem-sucedido de abertura de
para equipamentos utilizados pelos caixas
capital.
das agências e, algum tempo depois, para
Hoje, a Bematech está presente em 450
os terminais de autoatendimento. Os pro-
mil pontos de venda e 5 mil revendas e
dutos lançados pela empresa tinham forte
sustenta uma participação expressiva no
caráter inovador diante do que se via no
mercado de automação comercial, princi-
mercado de automação brasileiro da época.
palmente na área de impressoras fiscais.
Mesmo assim, o caso do telex havia deixa-
Apesar do crescimento, os desafios da Be-
do um legado à Bematech: para enfrentar
matech se renovaram ano após ano. “Até
Betiol, da Bematech: infraestrutura de laboratórios oferecida pela incubadora do Tecpar viabilizou o desenvolvimento do produto Divulgação/Bematech
Universidade Tecnológica Federal do Para-
para o suces“Não existe fórmula o primeiro so, mas acredito que empreendeconselho a qualquer nte’. Apenas dor seja ‘pense difere ão fazendo seguir o que todos est É preciso não trará resultados. undo concriar algo novo. O seg portante, é selho, não menos im sucesso está ‘trabalhe pesado’. O ado à nossa diretamente relacion o a um projecapacidade de doaçã to ou ideia.”
51
“O empreendedor precisa ter duas palavras em mente: acreditar e persistir. Se você tem uma idei a, mas duvida do potencial dela ,o negócio não vai para frente. E se você acredita na ideia, mas não insiste em fazer com que ela dê certo, a coisa também não and a. Além disso, é importante des envolver a capacidade de venda das suas ideias e projetos, um cert o tino comercial. Empresário tem que se portar como empresário, aprender o ofício, inspirar otimismo e liderança.” Julio Boffa, Fotosensores
hoje travamos uma luta
no Código de Trânsito Brasileiro, criado
constante pela competiti-
em 1998, o grande propulsor de seus
vidade. Não é comum uma
negócios. A empresa ingressou no Par-
empresa
nessa
que de Desenvolvimento Tecnológico da
nacional
área, desenvolvendo tec-
Universidade Federal do Ceará (Padetec/
nologia e respondendo ao
UFC) cinco anos antes. “A Fotosensores
mercado
inovações,
não existia. O que existia era ideia, trans-
apesar de todo o chamado
formada em produto na incubadora que
‘custo Brasil’ envolvido nes-
amparou a empresa. Foi por meio da
se processo”, avalia Betiol.
incubadora que conseguimos fazer um
com
que
protótipo e testá-lo em Fortaleza, gratui-
iniciaram a Bematech em
tamente, por meio de um convênio com a
1989, o quadro funcional
prefeitura. O objetivo era testar um dispo-
evoluiu para cerca de mil
sitivo que fiscalizava o avanço dos carros
colaboradores,
distribuídos
sobre a faixa de pedestre”, conta o diretor
entre as unidades da empresa
da empresa, Julio Boffa. Em uma segunda
Dos
dois
sócios
no Brasil, na China, nos Esta-
etapa, era preciso transformar o produto
dos Unidos e em Taiwan. No
em negócio. “A incubadora deu à empresa
Brasil, a empresa conta com
uma espécie de sobrenome, ou seja, estar
unidades em Curitiba (PR), Ri-
no Padetec nos dava credibilidade e res-
beirão Preto (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo
paldo. Significava que não éramos aventu-
Horizonte (MG), Recife (PE) e Goiânia (GO),
reiros”, explica Boffa.
além de uma fábrica em São José dos Pi-
A Fotosensores ficou na incubadora
nhais (PR), um escritório em São Paulo (SP),
por apenas nove meses, pois o crescimen-
um centro de desenvolvimento de software
to atingido pela empresa foi exponencial.
em Jundiaí (SP) e um centro de serviços em
Em 1994, ainda não havia regulamentação
Diadema (SP). Dos R$ 326,4 milhões fatu-
quanto à fiscalização de infrações de trân-
rados em 2011, cerca de R$ 18,6 milhões
sito com dispositivos eletrônicos, mas a
foram investidos em atividades de Pesquisa
elaboração do Código de Trânsito já havia
e Desenvolvimento.
iniciado, prevendo a possibilidade de autuar eletronicamente os infratores. “Estáva-
Divulgação
Boffa, da Fotosensores: a incubadora conferiu credibilidade e respaldo ao negócio
52
Oportunidade
mos no local certo, na hora certa. Éramos
Adiantar-se às tendências de merca-
uma das duas ou três empresas do Brasil
do parece uma características comum às
a oferecer essa tecnologia. Por isso, nosso
empresas que deram certo. A Bematech já
crescimento foi vertiginoso nos primeiros
investia pesado no desenvolvimento de pro-
oito anos. O mercado era carente, preci-
dutos inovadores para automação comer-
sava de uma solução, e nós a tínhamos”,
cial quando, entre 1999 e 2000, ocorreu a
afirma Boffa. A capacidade de inovar no
grande explosão nas vendas das impresso-
atendimento a esse mercado sedento fez
ras fiscais no país, motivadas pela obrigato-
com que a Anprotec elegesse a Fotosen-
riedade do cupom fiscal em transações co-
sores, em 1997, como a “empresa do ano”
merciais. Nesse período, a empresa atingiu
no Prêmio Nacional de Empreendedorismo
seu ápice de faturamento até então, alcan-
Inovador.
çando a marca de R$ 63 milhões em 2000.
Com o passar do tempo, o sucesso da
Um processo semelhante ocorreu com
empresa passou a despertar interesse de
a Fotosensores, de Fortaleza (CE), que viu
outros empreendedores. Quando a Foto-
SUCESSO
sensores completou dez anos, foi necessá-
Com 96 funcionários diretos e 300 indire-
rio reformular a estrutura comercial, pois o
tos, a Fotosensores faturou R$ 20 milhões
produto havia se tornado comum, em fun-
em 2010, valor que estima duplicar nos
ção da concorrência. “O grande desafio foi
próximos anos devido às novas frentes de
e continua sendo adivinhar o que será de-
atuação da empresa.
Alguns dos produtos de Bematech, Chamma da Amazônia e Fotosensores: inovação para crescer
mandado daqui a um, dois anos. Preferimos errar por tentar adivinhar, do que por não tentar. E isso demanda investimento, que pode ser perdido. Temos muitos produtos que não deram em nada. Mas uma gama maior que deu certo”, afirma. Além da concorrência, o ritmo da evolução tecnológica está entre os principais desafios que a Fotosensores se depara diariamente. “Em 1995 essa atualização tecnológica não era tão importante quanto foi em 2000 e muito menos quanto está sendo em 2010. O tempo de uso de uma tecnologia reduziu drasticamente. Se antes tínhamos dois anos para desenvolver um projeto, hoje temos seis meses ou estaremos defasados. E esse prazo vai encurtar ainda mais”, conclui o diretor. Para manter a inovação como diferencial competitivo, a Fotosensores investe em parcerias com universidades e centros de pesquisa, desenvolvendo projetos cooperativos de P&D. “Se precisamos, por exemplo, de um doutor em Óptica e não temos esse profissional na empresa, buscamos na academia”, explica Boffa. Para completar essa estrutura de cooperação, a Fotosensores retornou a um parque tecnológico, agora em São José dos Campos (SP), onde participou de um edital no ano passado e classificou em primeiro lugar seu projeto focado no desenvolvimento de software. O retorno a um habitat de inovação faz parte da estratégia da Fotosensores de estender a atuação a outros ramos de tecnologia. “A empresa começou com um produto, que chegou a seu limite, e hoje precisamos aumentar nosso poder de venda. Como? Aumentando o desenvolvimento de novas tecnologias”, conclui Boffa. 53
“Um empreendedor deve buscar conhecimento em diferentes áreas e também desenvolver atitudes que o defendam do estresse gerado pela atividade: otimismo, garra, persistênci a. Além disso, aconselho sempre as parcerias com entidades séri as, que confiram credibilidade ao negócio que está surgindo.” Fátima Chamma, Chamma da Amazônia
Chama inovadora
gia à produção. As inovações, em processo
Além de adiantar-se às
e produto, foram consequencia das pesqui-
tendências, como fizeram
sas realizadas em parceria com universi-
Bematech e Fotosensores,
dades, institutos e grandes empresas. “Na
a chave do sucesso pode
incubadora, encontramos uma estrutura
estar na reinvenção de um
de suporte tecnológico e gerencial, e uma
negócio já tradicional. Foi
rede de relacionamento fantásticos”, afirma
esse o caminho escolhido
Fátima.
pela empresária paraense
As conquistas da Chamma da Amazônia
Fátima Chamma, que em-
vieram rápido. Em 2001, a empresa venceu
preendeu para transformar
a etapa regional do Prêmio Finep de Ino-
“poções mágicas” da sabe-
vação Tecnológica, pela industrialização do
doria popular em produtos
tradicional banho-de-cheiro – mistura de
inovadores,
eficácia
couro de jiboia, raízes e água de maré usada
comprovada. Filha de um
pelos paraenses no dia de São João, com o
farmacêutico autodidata apaixonado pela
intuito de afastar o mau-olhado e trazer fe-
Amazônia, Fátima deu continuidade ao
licidade. Na versão industrial, a Chamma da
sonho do pai: criar fragrâncias a partir da
Amazônia mudou a fórmula, tirando o cou-
matéria-prima local.
ro de jiboia e a água de maré – usa apenas
com
Há mais de 50 anos, Oscar Chamma
Ponto de venda da Chamma da Amazônia em Belém (PA): negócio familiar transformado em grande empresa com ajuda da incubadora
as ervas aromáticas.
abriu uma perfumaria em Belém (PA), onde
Desde que a empresa foi criada, a li-
testava e elaborava perfumes misturando
nha de produtos da Chamma passou de
alfazema, patchouli e priprioca a ingredien-
25 para 300, já devidamente legalizados
tes importados da França e da Alemanha.
perante à Agência Nacional de Vigilância
Quando ele faleceu, em 1997, a filha Fáti-
Sanitária (Anvisa). Por meio de franquias,
ma se dispôs a profissionalizar a iniciativa
a empresa está presente em sete pontos
familiar e transformá-la em uma fábrica de
de venda, em diferentes regiões do país.
cosméticos, a Chamma da Amazônia. Para
Consolidada em seu mercado de atuação,
isso, procurou a incubadora da Universida-
a empresa se prepara para um novo ciclo
de Federal do Pará, onde foi incentivada a
de desenvolvimento, focado em responsa-
investir em pesquisa para agregar tecnolo-
bilidade socioambiental. “Estamos revendo estratégias e comportamentos para facilitar o crescimento da empresa de forma sustentável. Uma pesquisa recente realizada na Grande Belém revelou que a Chamma da Amazônia é considerada a terceira empresa mais responsável do estado. Isso tem muito valor, mostra que o empreendimento tem potencial para se tornar ainda maior, com bases sustentáveis”, explica Fátima. Assim como no caso de Bematech e Fotosensores, a história de sucesso da Chamma da Amazônia reforça a ideia de que por mais bem-sucedido que se torne um empreendimento, os desafios não deixam de existir. Apenas se renovam. L
54
_ESPECIAL
Como construir um território realmente competitivo na era do conhecimento? Esse modelo já deu certo em algum lugar do mundo? O que define o sucesso de uma empresa? Qual o caminho para dinamizar economias regionais? De que forma incubadoras e parques podem colaborar com um processo de desenvolvimento mais inclusivo? As respostas a essas e outras perguntas você confere a partir de agora, na reportagem especial de CAPA. Ao final, o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, defende que inovação é fundamental a qualquer empresa, independente do porte. OPINIÃO de quem reconhece o valor de uma MPE. 55
56 Shutterstock
CAPA
Por territórios mais competitivos Em meio a importantes conquistas econômicas e sociais, o Brasil se depara com o desafio de estruturar um processo de desenvolvimento que insira diferentes territórios na economia globalizada. Para isso, é preciso promover a articulação entre poder público e setor privado, em um movimento que garanta o aprimoramento contínuo das condições de vida da população. Nesse contexto, incubadoras e parques tecnológicas tornam-se ferramentas essenciais ao desenvolvimento sustentável.
DÉBOR A HORN
57
Fotos: Divulgação
CAPA
EXEMPLOS DE TERRITÓRIOS COMPETITIVOS NÃO FALTAM, TANTO NO
Research Triangle Park (RTP): idealizado para reverter o cenário negativo da economia da Carolina do Norte na década de 1950
O fortalecimento da economia e a redução das desigualdades sociais vivenciados pelo Brasil nas últimas décadas
preparados para inserção na economia global, estão as boas condições de infraestrutura, a disponibilidade de recursos humanos qualificados e a ca-
BRASIL QUANTO NO
pacidade de articular diversos
EXTERIOR. GRANDE
comuns. “O desenvolvimento é,
PARCELA DELES
Galvão, do CGEE: desenvolvimento é fruto da articulação da sociedade, em diferentes níveis
Entre as características dos territórios mais competitivos,
agentes na busca por objetivos em grande medida, o produto de um conjunto social articu-
TEM NO ESTÍMULO
lado. O sucesso comercial de
À CT&I A PRINCIPAL
depende das condições obje-
uma empresa, por exemplo,
FERRAMENTA PARA O
tivas que ela encontra em seu
DESENVOLVIMENTO
de uma vasta construção em
indicam que o país tem nova
local de produção, ou seja, redes, com articulações em
oportunidade de conduzir um
terminado espaço geográfico.
vários níveis, privados e públi-
processo de desenvolvimento
Tamanha a importância dessa
cos”, afirma o diretor do Centro
mais justo e sustentável. Para
discussão na pauta do desen-
de Gestão e Estudos Estratégi-
aproveitá-la, porém, é preciso
volvimento, o assunto foi es-
cos (CGEE), Antonio Carlos Fil-
tornar esse processo inclusivo
colhido como tema principal
gueira Galvão.
e abrangente, o que exige criar
do XXI Seminário Nacional de
Exemplos de territórios que
condições de competitividade
Parques Tecnológicos e Incu-
tiveram sua competitividade
nos mais diferentes territórios
badoras de Empresas, realizado
construída de forma articula-
– regiões, estados, municípios
pela Anprotec entre os dias 24
da não faltam, tanto no Brasil
ou qualquer outra forma de
e 28 de outubro deste ano, em
quanto no exterior. Em comum,
organização produtiva em de-
Porto Alegre (RS).
uma grande parcela deles tem no estímulo à Ciência, Tecnologia e Inovação a principal ferramenta para o desenvolvimento. Foi o que ocorreu na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, com a criação, em 1959, do Research Triangle Park (RTP), idealizado para reverter o cenário negativo da economia local à época, que contava com indústrias de pouco valor agregado e uma das rendas per capita mais baixas do país. Aproveitando o potencial de três grandes universidades norte-americanas
58
localizadas
CAPA
Fotos: Divulgação
na região – University of North Carolina, Duke University e North Carolina State University –, o parque foi uma aposta na aplicação do conhecimento científico em inovações para gerar novos negócios e evitar a fuga de cérebros. Após 52 anos, o RTP transformou-se em um polo mundial de inovação tecnológica. Gera cerca de 40 mil empregos e reúne institutos de pesquisa e cerca de 170 empresas globais, entre gigantes multinacionais e startups que atuam em diferentes áreas, como biotecnologia, tecnologia da informação e tecnologias limpas. No Brasil, um dos casos mais emblemáticos é São José dos Campos, em São Paulo. Hoje com 630 mil habitantes e um dos Índices de Desenvolvi-
do Paraíba tem no setor aero-
plantação de um parque tecno-
espacial, estruturado a partir
lógico (veja box na página 60).
da década de 1950, o principal motor de seu desenvolvimento.
Desafios
Foi lá que nasceu e cresceu a
Repetir o feito de territórios
Embraer, quarta maior fabri-
como São José dos Campos
cante de aviões do mundo.
depende da superação de uma
Resultado de um esforço
série de desafios culturais, po-
do governo para construir co-
líticos e econômicos. “Apenas
nhecimento na área, em espe-
uma pequena parcela da nos-
cial durante o regime militar,
sa sociedade já compreende a
o setor foi beneficiado com a
importância da valorização dos
TRANSFORMOU-SE EM
implantação de instituições de
ativos locais para o fortaleci-
ensino e pesquisa de excelên-
mento e a dinamização de suas
UM POLO MUNDIAL
cia, como o Instituto Tecnoló-
economias, em escala nacional,
gico da Aeronáutica (ITA) e o
regional, estadual ou munici-
Instituto Nacional de Pesquisas
pal”, afirma o diretor-técnico
TECNOLÓGICA. GERA
Espaciais (INPE). “O sucesso da
do Sebrae, Carlos Alberto dos
CERCA
Embraer está profundamente
Santos.
atrelado a esse tecido social
mento Humano (IDH) mais altos do estado, a cidade do Vale
O RTP
DE INOVAÇÃO
DE 40 MIL EMPREGOS E REÚNE INSTITUTOS DE
Vista aérea do Parque Tecnológico de São José dos Campos: novo ciclo de desenvolvimento
Santos, do Sebrae: gestores públicos devem valorizar mais os empreendimentos locais
que se formou nas décadas de 50, 60 e 70. A empresa estava inserida em uma estratégia governamental, de construir um Brasil grande economicamen-
PESQUISA E 170
te”, conclui Galvão. Ao ingres-
EMPRESAS GLOBAIS
buscou reforçar sua competiti-
sar no século XXI, o município vidade, agora investindo na im59
CAPA
É consenso entre os especialistas, porém, que o aumen-
_UM NOVO IMPULSO
to do nível de consciência da população deve vir acompaDivulgação
nhado de maior valorização das vocações e de iniciativas locais por parte do poder público. “Muitos gestores públicos só valorizam investimentos em grandes iniciativas, muitas vezes externas à região, embora geradoras de empregos em grande escala e capazes de dinamizar a economia regional. Mas, com isso, deixam de Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Aeronáutica, no Parque Tecnológico de São José dos Campos
apostar nos negócios existentes localmente”, diz Santos. O diretor do CGEE, Antonio
Com a missão de consolidar a vocação da cidade para o desenvolvimento de
Galvão, concorda que a espera
Ciência, Tecnologia e Inovação, o Parque Tecnológico de São José dos Campos,
por um poderoso agente do de-
criado em 2006, conta com 25 milhões de metros quadrados e se destina a abrigar
senvolvimento, como uma gran-
empresas de setores intensivos em conhecimento, com prioridade para as áreas de
de indústria instalada em deter-
energia, aeronáutica, saúde e recursos hídricos e saneamento ambiental. O em-
minada região, ainda é uma das
preendimento se soma à estrutura industrial e de ensino e pesquisa já existentes
principais barreiras à geração
na cidade. “Esta é uma região em que a cultura empreendedora se consolidou há
de territórios mais competitivos.
muitos anos. Então, temos uma sociedade muito preparada para receber o Parque
“O desenvolvimento não vem de
Tecnológico e seus benefícios”, afirma o diretor geral do Parque, José Raimundo
graça, por meio de um ente sal-
Coelho.
vador que chega e instala uma
Atualmente, o Parque Tecnológico de São José dos Campos conta com quatro
fábrica. É preciso melhorar efe-
Centros de Desenvolvimento Tecnológicos (CDTs), divididos entre as quatro áreas
tivamente as condições de vida
prioritárias. Os CDTs funcionam por meio de parcerias entre empresas-âncora,
de um território, a ponto de sua
universidades e entidades de pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias es-
população encontrar apoio para
pecíficas.
deslanchar suas próprias ideias
Em complemento aos CDTs, há o Centro Empresarial, que hoje abriga 27 empresas de base tecnológica, todas de micro e pequeno porte. “Esse ambiente de
e projetos de desenvolvimento”, explica.
convivência entre empresários, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-
A negligência em relação à
-graduação, além de estimular o empreendedorismo, garante às empresas um
formação equilibrada de ter-
acesso privilegiado a laboratórios, profissionais com alta qualificação e novas
ritórios competitivos já cus-
oportunidades de negócios”, afirma Coelho.
tou caro ao Brasil, que foi um
Soma-se a essa estrutura o chamado Parque das Universidades, onde estão
dos campeões de crescimento
instaladas a Faculdade de Tecnologia (Fatec) e a Universidade Federal de São Pau-
entre 1900 e 1980, com base
lo (Unifesp). O espaço possui ainda um escritório do Instituto Educacional BM&F
em desigualdades sociais e
Bovespa, que dissemina conhecimento sobre o mercado de capitais, além de uma
regionais. “O país cresceu ab-
unidade do Instituto Tecnológico Vale (ITV), criado pela Vale Soluções em Energia
sorvendo muita coisa de fora,
para coordenar ações de P&D em energias de fontes renováveis.
transformando muito pouco a sociedade interna. Tropeçou,
60
CAPA
assim, na própria incapacidade
des pilares econômicos dos
região, mas sim porque a ma-
de generalizar esses padrões
territórios, principalmente nos
neira como essas pessoas pro-
mais desenvolvidos para o con-
municípios. Apesar de respon-
duzem e vivem está sendo con-
junto da população e, portanto,
derem por apenas 20% do PIB
tinuamente aprimorada. É pela
gerar um mercado mais amplo,
brasileiro,
empreendi-
via da inovação que se constrói
retroalimentando o processo”,
mentos correspondem a 99,1%
uma sociedade desenvolvida e
afirma Galvão.
do total de empresas brasileiras
dinâmica.”
esses
Alcançar um novo pata-
e são responsáveis por 53%
Nesse contexto, incubadoras
mar de desenvolvimento de-
dos empregos formais existen-
e parques tecnológicos assu-
pende do fortalecimento de
tes hoje no país. “Os pequenos
mem um importante papel, pois
territórios, considerando suas
negócios representam a forma
geralmente servem como berçá-
demandas e vocações. “Não
mais concreta e estável de se
rio para o que há de mais novo
existe desenvolvimento susten-
impulsionar os ativos locais de
e ousado no campo da Ciência,
tável se boa parte do território
um território, pois aproveitam
Tecnologia e Inovação. “Essas
estiver alijado do crescimento
e desenvolvem os conheci-
entidades
econômico e social, em função
mentos e mão de obra locais,
ponta de lança no processo de
de mecanismos perversos que
são muito menos suscetíveis à
desenvolvimento porque vão
drenam renda de regiões mais
volatilidade do mercado global
abrindo novas frentes. Tratam
débeis em favor de regiões
e possuem maior flexibilidade
de
mais abastadas. Esse é o ele-
para se adequar às tendências”,
sariamente mais dinâmicos e
mento central da discussão”,
explica o diretor-técnico do Se-
promissores para gerar desen-
defende Galvão.
brae, Carlos Alberto dos Santos.
volvimento e liderar projetos de
Para ele, as MPEs também
representam
empreendimentos
uma
neces-
inovação”, resume Galvão.
A chave da mudança
desempenham
social
O presidente da Anpro-
Micro e pequenas empresas
relevante, principalmente pela
tec, Guilherme Ary Plonski,
têm se revelado um dos gran-
proximidade que geralmente
defende que incubadoras e
estabelecem com seus clientes
parques tecnológicos sirvam
e fornecedores. “Essa relação
como ponto de apoio para a
resulta em um compromisso
inovação e, em consequência,
efetivo com a comunidade lo-
o desenvolvimento. “É pre-
cal e com o sucesso do territó-
ciso que essas entidades va-
rio”, destaca.
lorizem seu papel e estejam
ALCANÇAR UM NOVO PATAMAR DE DESENVOLVIMENTO
papel
DEPENDE DO
Além de gerar emprego e
cientes de que, cada vez mais,
renda, as micro e pequenas
podem contribuir com o de-
FORTALECIMENTO
empresas podem ser prota-
senvolvimento sustentável de
gonistas da inovação, identi-
nosso país.”
DE DIFERENTES
fundamentais
Ao fortalecerem os proces-
ao crescimento de qualquer
sos produtivos, incubadoras e
país que busque se inserir na
parques devem colaborar para
TODO O BRASIL,
economia do conhecimento.
que empresas locadas em seu
CONSIDERANDO
Segundo Galvão, do CGEE,
território produzam melhor.
o desenvolvimento exige o
“Inovação e tecnologia sempre
SUAS DEMANDAS E
aprimoramento contínuo. “As
serão as chaves para a diferen-
condições das pessoas mu-
ciação de mercado e, por con-
VOCAÇÕES
dam não só porque se leva um
seguinte, para a competitivida-
pouco mais de renda para essa
de de um negócio. Esse tipo de
TERRITÓRIOS EM
ficadas
como
61
CAPA
mento estaria, portanto, em
mecanismo, quando associado a uma estratégia definida de aproveitamento do potencial econômico local, serve de propulsor para o desenvolvimento do território do seu entorno”, explica Santos, do Sebrae. O novo Brasil Uma
pesquisa
divulgada
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em junho deste ano revela que o Brasil é o país dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com os melhores indicadores de redu-
DEVIDO ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS E REGIONAIS
da em uma espécie de pressão sobre territórios e cidadãos para que eles busquem, por meio da inovação, a melhoria contínua
DO BRASIL, AS
de suas condições sociais e eco-
PESSOAS NÃO ESTÃO
condição para o Brasil engatar
EM IGUAL CONDIÇÃO DE SE ENGAJAR NOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO
nômicas. “Não há mistério: a como país desenvolvido é levar, ao conjunto do seu gigantesco território, às várias regiões, uma linha de crescimento inclusivo”, explica Galvão. Aos que acompanham as políticas regionais de desenvolvimento, fica claro que há
ção das desigualdades sociais.
uma desigualdade muito gran-
O levantamento, chamado “Os Emergentes dos Emergentes”,
mais ricos foi mais intensa
de do poder público em prover
apurou que no país a evolução
nos outros países. Enquanto
apoio a seus territórios. “É cla-
dos indicadores das classes so-
na China chegou a 15,1%, no
ro que em áreas com capacida-
ciais têm mostrado desempe-
Brasil foi de 1,7%.
de fiscal muito alta, um estado
nho superior ao dos dados ma-
Entre os especialistas, não
mais abastado como São Paulo,
croeconômicos, enquanto nos
há dúvida de que o Brasil está
por exemplo, há quase que ple-
demais membros dos BRICS a
fazendo um grande e antigo
nas condições de se fazer com-
relação é a oposta.
dever de casa, por meio da
petitivo isoladamente. Isso não
a
construção de uma rede de
é verdade para boa parte do
renda familiar brasileira tem
proteção social que inclui
território que ainda é periféri-
crescido, em média, 1,8 ponto
ações como o Bolsa Família,
co no Brasil, como Norte e Nor-
porcentual acima do cresci-
o Programa de Aceleração
deste”, explica Galvão. Por isso,
mento do PIB, anualmente en-
do Crescimento e o Brasil
a divisão da responsabilidade
tre 2003 e 2010 – a melhor re-
sem Miséria, entre outros.
entre poder público e privado
lação entre os emergentes. Já
Mas é preciso ir além. “Não
na promoção do desenvolvi-
na China, a relação é inversa: a
sejamos hipócritas: dadas as
mento depende do contexto
renda familiar vem crescendo
desigualdades sociais no Bra-
em que cada território está
dois pontos porcentuais abai-
sil, as pessoas não estão em
inserido. “Precisamos criar um
xo do PIB do período. Em toda
igual condição para se enga-
ambiente sinérgico em que os
a década de 2000, o Brasil ob-
jarem no desenvolvimento.
apoios se complementem. Em
teve a segunda melhor taxa de
Esse processo inclusivo deve
áreas mais débeis o poder pú-
crescimento anual da renda
ser muito mais abrangente.
blico tem que assumir um pa-
domiciliar per capita entre os
Os territórios devem estar
pel maior. Em áreas mais abas-
20% mais pobres, com alta de
preparados, as oportunida-
tadas, o poder privado tem
6,3% – atrás apenas da China,
des devem ser dadas para as
que liderar o desenvolvimento.
que teve 8,5%. Ao mesmo tem-
pessoas”, afirma o diretor do
Esse é um grande desafio no
po, a taxa de crescimento anu-
CGEE, Antonio Galvão.
Brasil de hoje”, conclui Galvão.
Segundo
a
pesquisa,
al da renda familiar dos 20% 62
transformar o estímulo de ren-
O segredo do desenvolvi-
Embora incipientes, alguns
CAPA
passos já foram dados. Em 2008, o governo federal fez um levantamento, chamado
_SEMINÁRIO NACIONAL
Estudo da Dimensão Territorial para o Planejamento, que avaliava os diversos critérios necessários à territorialização adequada do espaço brasileiro. Foram identificados, segundo Santos, cerca de 120 polos econômicos, estratégicos para o estabelecimento de uma política territorial de
dinamização
econômica
e desenvolvimento nacional. “Trata-se de uma ferramenta poderosa de planejamento e prospecção, mas que depende de assimilação por um ambiente
político-institucional
sincronizado”, afirma o dire-
Com o tema a “Nova Competitividade dos Territórios”, o XXI Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e o XIX Workshop ANPROTEC abriram um espaço de reflexão onde se avalia o papel dessas instituições na construção de um caminho pautado pela sinergia dos mecanismos de inovação. “O evento tem o objetivo de contribuir para aumentar o grau de consciência dos participantes sobre o tema, de modo a despertar o interesse pela ideia, fazendo com que as pessoas acreditem na sua viabilidade”, afirma o presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski. Realizado pela Anprotec, em parceria com o Sebrae, o Seminário, realizado em Porto Alegre (RS) entre os dias 24 e 28 de outubro, foi organizado pelo Parque Científico e Tecnológico da Pontificia Universidade do Rio Grande do Sul (Tecnopuc/ PUCRS) e da Rede Gaúcha de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (Reginp). Por meio de minicursos, palestras e debates, os participantes puderam conhecer modelos de desenvolvimento baseados na competitividade dos territórios e discutir ações integradas para contribuir com o desenvolvimento nacional em bases sustentáveis.
tor-técnico do Sebrae. A descentralização de políDivulgação
ticas públicas, incluindo a de CT&I, um processo ainda em curso, exige um diálogo cada vez maior entre União, estados e municípios para o desenvolvimento efetivo de territórios. “A União tem como responsabilidade
primária
reduzir
desigualdades sociais e regionais – está no artigo terceiro da Constituição. É preciso entender que eu não posso, de um lado, fazer uma abstração tecnocrática do que é desenvolvimento. Ele é feito pelas forças reais da sociedade, que têm características às vezes positivas e outras negativas”. Encontrar instrumentos para que essas forças caminhem na direção desejada é tarefa urgente daqueles que trabalham pelo Brasil do futuro. L
Porto Alegre (RS), sede do Seminário Nacional e das discussões sobre a nova competitividade dos territórios 63
OPINIÃO
Empreendedorismo inovador Divulgação
Luiz B ar ret to P residente do S ebrae Nac ional
O
empreendedorismo tem crescido a passos largos no Brasil, em quantidade e em qualidade. Dados da última pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostram que o país é o mais empreendedor do G20, com mais de
21 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos atuando em empreendimentos com até três anos e seis meses de atividade. Ao mesmo tempo, o empreendedorismo por oportunidade alcançou o melhor resultado da série histórica da pesquisa, com dois empreendimentos por oportunidade para cada um por necessidade. O bom momento econômico e social pelo qual o Brasil passa hoje é um dos grandes motivos para esse crescimento. Uma nova classe média surgiu e o país tem hoje um mercado consumidor de 100 milhões de pessoas. Com isso, crescem as oportunidades para as quase 6 milhões de micro e pequenas empresas brasileiras. Porém, para continuar crescendo e aumentar sua participação na economia, as micro e pequenas empresas precisam aumentar sua competitividade. O caminho é a inovação. Inovar é um processo fundamental para aumentar a competitividade
das empresas e vai além de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, alcançando também a melhoria ou criação de novos produtos e serviços ou agregando e captando valor a eles, de várias formas. Trata-se de ação fundamental para qualquer empresa, de qualquer setor e porte. Vale para a micro, a pequena, a média e a grande empresa. Para o Sebrae, o tema é tão importante que virou meta da instituição. Tínhamos como objetivo atender neste ano 30 mil pequenas empresas com projetos de inovação e atingimos esse número em setembro, três meses antes do previsto. Também investiremos R$ 780 milhões até 2013 em projetos de inovação por meio de programas como o Sebraetec e Sebrae Mais. Criamos o programa Agente Local de Inovação (ALI), onde profissionais treinados pelo Sebrae vão até empresários de pequeno porte para propor ações de inovação com o objetivo de aumentar a competitividade dos negócios. Esse trabalho é realizado gratuitamente. Nos próximos anos, os empreendedores brasileiros terão uma grande oportunidade para se desenvolverem ainda mais. Com a realização dos megaeventos esportivos, e de grandes obras de infraestrutura, como o Porto de Suape, em Pernambuco, e as usinas de Belo Monte, no Pará, e Jirau, em Rondônia, aqueles que estiverem preparados para inovar terão mais chances de sucesso e de contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil.
64
_HABITATS
Sistemas de inovação da Finlândia, Suécia e Dinamarca ensinaram muito aos participantes da Missão INTERNACIONAL à Escandinávia. Referência para o mundo: a Conferência da IASP será no Recife em 2013. INCUBADORAS buscam a sustentabilidade financeira e também maneiras eficientes de ampliar a atuação por meio da incubação virtual. Enquanto isso, PARQUES tecnológicos têm na GOVERNANÇA Corporativa uma saída para aumentar a transparência e captar mais recursos. Investindo em EDUCAÇÃO, profissionais de todo Brasil participaram do primeiro curso de especialização voltado a gestores de habitats da inovação 65
Divulgação
INTERNACIONAL
P OR A DR I A NE A L ICE P E R E IR A
Lições da Escandinávia Promovida por Anprotec e Sebrae, missão técnica internacional revela modelos inspiradores para o desenvolvimento do empreendedorismo inovador no Brasil
66
Cooperação e sinergia. Essas foram as
em parceria com o Sebrae, entre os dias 12
características que mais impressionaram os
e 23 de junho deste ano. Participaram da
brasileiros que visitaram parques tecnoló-
missão 46 pessoas, entre gestores de par-
gicos e incubadoras de empresas da Finlân-
ques e incubadoras, secretários municipais
dia, da Suécia e da Dinamarca, durante uma
e estaduais de ciência, tecnologia, inovação
missão técnica promovida pela Anprotec,
e desenvolvimento econômico, além de di-
INTERNACIONAL
Fotos: Divulgação
rigentes de órgãos governamentais de fomento e apoio ao empreendedorismo e à inovação. A missão ofereceu aos participantes a oportunidade de visitar habitats de inovação, entrar em contato com boas práticas de implantação e gestão de parques tecnológicos e incubadoras, além de conhecer as políticas públicas adotadas pelos países escandinavos para o desenvolvimento da indústria do conhecimento. Apesar da distância geográfica e das diferenças culturais, econômicas e sociais entre o Brasil e os países visitados, a missão teve como resultado uma intensa interação e a geração de diversas oportunidades, convertendo a ex-
promovem interações, gerando oportuni-
periência na Escandinávia em uma fonte de
dades conjuntas”, analisa o diretor da Rede
inspiração e motivação para o movimento
de Tecnologia do Rio de Janeiro, Armando
do empreendedorismo inovador brasileiro.
Augusto Clemente.
Segundo o presidente da Anprotec, Gui-
A forte cooperação também foi eviden-
lherme Ary Plonski, um dos pontos que
ciada pela vice-presidente da Anprotec e di-
mais chamou a atenção na visita foi o ele-
retora geral da Fundação Parque Tecnológi-
vado nível de cooperação estratégica entre
co da Paraíba, Francilene Procópio Garcia.
as entidades dos respectivos sistemas de
“Os países visitados possuem diversos clus-
inovação locais, nacionais e regionais, as-
ters que são estruturados e complementa-
sim como entre os parques tecnológicos.
res, definidos como estratégicos e foco de
“Esse espírito fortemente cooperativo va-
investimentos. Esse modelo reforça a co-
loriza as competências singulares e enseja
operação existente, pois não desenvolve a
um trabalho harmônico em prol do desen-
competição entre os clusters pelos mesmos
volvimento, alavancado por conhecimento
recursos, já que existe a definição de dis-
transposto pelo empreendedorismo inova-
tribuição dos investimentos. Dessa forma,
Alguns dos participantes da missão, em visita ao Lahti Science and Business Park, na Finlândia
Chalmers Innovation: um dos parques visitados na Suécia
dor”, afirma Plonski. Interação A sinergia entre grandes empresas e empreendimentos incubados nos parques tecnológicos também foi um ponto de destaque da missão, além da interação entre os próprios parques. “Uma das principais diferenças em relação ao Brasil está no contexto do ambiente de negócios, pois os parques tecnológicos dos países visitados demonstraram uma autossuficiência econômica muito forte, sendo grandes geradores de negócios entre si. Lá, os parques, diferentemente do que ocorre no Brasil, 67
Fotos: Divulgação
INTERNACIONAL
que fortalece o papel dos parques em busca da inovação. Precisamos ainda evoluir no desenvolvimento do conceito de inovação no Brasil para chegar ao nível de cooperação que os países escandinavos possuem”, avalia o diretor-superintendente do Parque Tecnológico Itaipu, Juan Carlos Sotuyo. Quarta hélice De maneira geral, a experiência dos agentes de inovação dos países escandinavos mostra os resultados que podem ser alcançados quando se conquista um amadurecimento no relacionamento entre as instituições e aplica-se na prática o conceito da hélice tripla – unindo empresas, universidades e governo. Na visão da vice-presidente
Integrantes da missão participaram de debates sobre estratégias de inovação
Mariana Santos, do BHTec: relação fluida entre diferentes instituições demonstra um sistema maduro
68
verifica-se uma forte conduta de coopera-
da Anprotec, Francilene Procópio Garcia,
ção interna”, destaca Francilene.
esse modelo já evoluiu nos países visitados.
Para o secretário municipal de Ciência,
“Percebemos que eles inseriram uma quarta
Tecnologia e Desenvolvimento Econômico
hélice no sistema, incluindo clientes e con-
Sustentável da Prefeitura de Florianópolis
sumidores nessa relação”, aponta Francilene.
(SC), Carlos Roberto De Rolt, essa organi-
Nos países escandinavos, o governo,
zação em clusters mostra para a sociedade
como integrante da hélice, assume um pa-
uma visão clara de onde serão alocados
pel de destaque diante das políticas públi-
os esforços de desenvolvimento econômi-
cas bem definidas e instituídas. “Os parques
co por meio da inovação, possibilitando
tecnológicos são, de fato, políticas públicas,
maior articulação. “A cooperação por meio
percebidos pelo governo como instrumen-
de redes competitivas de organizações, in-
tos de desenvolvimento econômico regional
cluindo o governo, com forte atuação da
e, portanto, estão incorporados à estratégia
municipalidade, é praticada sistematica-
de ação desses países”, afirma o diretor-
mente e já faz parte da cultura de gestão
presidente do Porto Digital, de Recife (PE),
conjunta e compartilhada. Essa talvez seja
Francisco Saboya. Assim, na Escandinávia,
a maior diferença quando comparamos
não se discute mais se a contribuição dos
com o Brasil, onde temos dificuldades de
parques tecnológicos para o desenvolvi-
administrar ações com multiatores”, com-
mento é relevante ou não. “Simplesmente
para De Rolt.
se faz esse investimento de forma natural
Outra observação feita pelos partici-
e contínua, com alto grau de profissionalis-
pantes brasileiros durante a missão é que
mo. Esse se trata de um ponto diferente ao
a cooperação também está presente entre
compararmos com a realidade brasileira.
as diferentes regiões dos países visitados,
Aqui as ações do poder público voltadas
potencializando o papel dos habitats de ino-
para os parques tecnológicos e habitats de
vação nas estratégias de desenvolvimento
inovação ainda são pontuais”, avalia Saboya.
regional da Escandinávia. “A parceria exis-
A participação das universidades no sis-
tente entre empresas, universidades, cen-
tema de cooperação para o desenvolvimen-
tros de pesquisa e governo é consistente, o
to dos países da Escandinávia também foi
INTERNACIONAL
destacada pelos participantes da missão.
já nascem com a preocupação de se inse-
A articulação e a relação fluida entre os
rirem globalmente e são preparadas para
atores da inovação demonstram um siste-
essa expansão pelos diferentes agentes da
ma maduro, caracterizado pelo trabalho
inovação. Para o secretário municipal de
em rede e pela complementaridade. Nesse
Ciência e Tecnologia de Florianópolis, Car-
contexto, destaca-se o tratamento diferen-
los Roberto De Rolt, os países escandinavos
ciado dado à propriedade intelectual, onde
possuem uma visão bastante clara de que
já estão superadas várias questões que ain-
em um mercado de competição mundial é
da se discutem no Brasil. “Além disso, os
difícil uma organização dominar todas as
núcleos de inovação tecnológica das uni-
competências para produzir um produto
versidades dos países visitados são mais
ou serviço diferenciado para exportação.
focados no desenvolvimento da tecnologia,
Os gestores brasileiros de mecanismos tipo
no marketing e na comercialização do que
incubadoras, parques tecnológicos, insti-
na propriedade intelectual”, afirma a gesto-
tuições de fomento ao empreendedorismo
ra executiva de projetos do Parque Tecno-
e demais entidades relacionadas precisam
lógico de Belo Horizonte – BHTec, Mariana
evoluir o seu papel de provedores de infra-
de Oliveira Santos.
estrutura básica para agir na abertura de mercados e difusão da cultura de cooperação, marketing e negócios”, afirma.
Além da transferência de tecnologia, as
Essa visão mais ampla de atuação reflete
universidades escandinavas também assu-
no posicionamento e na gestão dos parques
mem um papel decisivo no desenvolvimen-
tecnológicos da Escandinávia, onde os par-
to do empreendedorismo, atuando como
ques são administrados com muito profis-
âncoras dos novos empreendimentos e
sionalismo. “Chama a atenção que a equipe
abrindo suas portas para os empreendedo-
de gestão é bastante robusta, composta por
res de base tecnológica. Esse envolvimento
profissionais do mercado. Também há um
das universidades é complementado com
amadurecimento nos mecanismos de ges-
a chegada das novas empresas nas incubadoras e nos parques tecnológicos. Nesse ciclo, cada agente faz a sua parte em um
Integração dos parques tecnológicos às cidades surpreendeu os brasileiros Divulgação
Desenvolvimento induzido
processo articulado de indução do desenvolvimento. “Existe uma grande sintonia entre os instrumentos de desenvolvimento do empreendedorismo. Além do apoio da universidade, os empreendedores encontram nas incubadoras as condições para a criação de suas start ups e spin-offs e depois são encaminhados para os parques tecnológicos, onde terão o ambiente propício para continuar crescendo”, acrescenta a gestora do BHTec. Um dos diferenciais em relação ao Brasil nesse processo de desenvolvimento é o foco na preparação das empresas para a internacionalização. Diante do pequeno mercado interno da região escandinava, as empresas 69
INTERNACIONAL
tão imobiliária e a estrutura de governan-
com ênfase nas potencialidades e não ape-
ça é enxuta, com a participação de apenas
nas na tecnologia.
uma ou duas instituições externas, além das prefeituras e universidades”, destaca Maria-
Integração urbana
na de Oliveira Santos, do BHTec. Outro di-
Além dos diferenciais de gestão dos par-
ferencial seria o foco nas linhas de atuação,
ques tecnológicos da Escandinávia, também
em que se trabalha a difusão tecnológica
chamou a atenção dos participantes da missão a integração dos parques e estruturas de inovação aos centros urbanos e à vida
_MAPA DA MISSÃO
cotidiana das cidades. “No Brasil ainda não existem muitos debates sobre a participação dos parques tecnológicos no de-
A missão começou na Finlândia, com visitas ao Lahti Science and
senvolvimento urbano. Os nossos parques
Business Park, principal da região e especializado em energias limpas,
ainda são planejados pela lógica urbana da
ao Helsinki Business & Science Park, focados nas áreas de biotecnolo-
produção em massa, onde se priorizam os
gia, tecnologia de alimentos e farmacêutica, ao Sitra, fundo finlandês
grandes espaços afastados das cidades. Nos
de inovação, e ao Turku Science Park.
países da Escandinávia, os parques são ins-
Já na Suécia foram visitados diversos habitats de inovação, entre
talados de acordo com o conceito de produ-
eles o Mjadervi Science Park, Johanneberg Science Park e Ideon Scien-
ção mais moderna, integrados às cidades,
ce Park. A missão terminou na Dinamarca, com a participação da
com a preocupação da inserção na malha
delegação na 28ª Conferência Mundial da Associação Internacional
urbana, permitindo que o parque, inclusive,
de Parques Científicos e Tecnológicos (IASP) e visitas aos parques tec-
participe do planejamento urbano”, destaca
nológicos Copenhagen Bio Science Park (COBIS) Symbion, Scion DTU
a secretária-adjunta de Estado da Ciência,
Lyngby e DHI.
Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Sul, Ghissia Hauser.
Conheça os principais parques visitados pela missão:
Considerando a questão urbana, o parque de Lindholmen, na cidade de Go-
Finlândia
temburgo, destacou-se pela semelhança
Turku Science Park - www.turkusciencepark.com
com a realidade do Porto Digital, no Re-
Lahti Science and Business Park - www.lahtisbp.fi
cife. As duas cidades são portuárias e se
Helsinki Business & Science Park - www.hbsp.net
encontram em um estágio de revitalização de áreas urbanas de grande apelo arquite-
Suécia
tônico, histórico e cultural. O Lindholmen
Mjärdevi Science Park - www.mjardevi.se
Science Park adota um conceito expresso
SAAB - www.saabgroup.com
em fortes elementos de interdependência:
Sahgrenska Science Park - www.sahlgrenskasciencepark.se
civilising and improving, design and bran-
Lindholmen Science Park - www.lindholmen.se
ding e enjoyment and learning. “Na práti-
Johanneberg Science Park - www.johannebergsciencepark.com
ca, isso significa que todos os atores e em-
Chalmers Innovation - www.chalmersinnovation.com
preendimentos são estimulados a interagir
Ideon Science Park - www.ideon.se
nos espaços abertos que vão se formando por meio dos três elementos, criando a in-
Dinamarca
terdependência de um segmento sobre o
Scion DTU - www.sciondtu.dk
outro”, avalia o diretor-presidente do Porto
Symbion - www.symbion.dk
Digital, Francisco Saboya.
COBIS - www.cobis.dk
Essa interação por meio do planejamento do espaço dos ambientes de inovação
70
INTERNACIONAL
Fotos: Divulgação
também é destacada pela secretária Ghissia Hauser. “Há um forte apelo estético e arquitetônico, além da criação de espaços de integração. Conhecemos, por exemplo, um espaço de co-working em um dos parques que permitia a empresas de fora do parque, de base tecnológica ou não, utilizarem aquela estrutura para promoverem reuniões e outras atividades. É uma iniciativa simples, mas permite o convívio entre as empresas e as pessoas que estão dentro e fora do parque, ampliando o público da instituição”, completa. Tendências e oportunidades Entre as tecnologias conhecidas nos países escandinavos, algumas áreas repre-
possamos avaliar qual caminho estamos
sentam oportunidades comerciais e de pes-
traçando e quais as melhores técnicas a
quisa e desenvolvimento em parceria com
serem desenvolvidas para alcançarmos ex-
o Brasil. “Entre os destaques de oportuni-
celentes patamares de desenvolvimento no
dades estão as linhas de conhecimento nas
que se refere às pesquisas relacionadas ao
quais o nosso país já possui competências,
meio ambiente”, ressalta Sotuyo.
como energias renováveis e algumas linhas
Para a vice-presidente da Anprotec,
de biotecnologia, especialmente em relação
Francilene Procópio Garcia, além das áre-
ao aproveitamento da biodiversidade bra-
as de tecnologia limpa e meio ambiente,
sileira. Além da interação entre os parques
há várias oportunidades de parceria com
tecnológicos do Brasil e da Escandinávia,
Finlândia, Suécia e Dinamarca. “De manei-
acredito que a missão possa ter como um
ra geral, verificamos um interesse cres-
de seus principais resultados a abertura de
cente pelo Brasil, diante do tamanho do
canais para parcerias com as agências de
nosso país, do grande mercado consumi-
inovação, principalmente da Suécia e Dina-
dor e do crescimento econômico, além da
marca”, explica explica o diretor da Rede de
referência em conhecimento, tecnologia e
Tecnologia do Rio de Janeiro, Armando Au-
inovação em algumas áreas. A missão foi
gusto Clemente.
um importante momento para a troca de
Os projetos desenvolvidos nos países
contatos e o amadurecimento da progra-
escandinavos na área de tecnologia limpa
mação de cooperação entre os países para
também chamou a atenção do diretor-supe-
conhecer novas tecnologias e mercados e
rintendente do Parque Tecnológico Itaipu,
aprofundar ações que já existiam”, destaca.
Juan Carlos Sotuyo. O Parque de Itaipu de-
Entre os resultados da missão, foram fir-
senvolve, em parceria com a Itaipu Binacio-
madas três parcerias entre a Secretaria da
nal, a Plataforma Itaipu de Energias Renová-
Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tec-
veis. “Essa questão é amplamente discutida
nológico do Estado do Rio Grande do Sul, o
no Brasil e conquista cada vez mais espaço
Lahti Science and Business Park, da Finlân-
nas pesquisas e ações promovidas em todos
dia, o Johaneberg Science Park, de Gotem-
os âmbitos da sociedade. O exemplo do que
burgo, na Suécia, e o Ideon Science Park, da cidade de Lund, também na Suécia. L
é realizado em outros parques permite que
Ghissia, da Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Sul: parques escandinavos são instalados de acordo com o conceito de produção moderna, junto às cidades
Clemente, do Sebrae/RJ: missão abriu canais para parcerias entre agentes de inovação do Brasil e dos países visitados
71
Divulgação
INTERNACIONAL
Porto Digital, em Recife (PE) P OR A DR I A NE A L ICE P E R E IR A
Conferência da IASP em 2013 será no Brasil Porto Digital, no Recife, foi escolhido para sediar o evento mais importante do movimento de empreendedorismo inovador mundial O Brasil irá sediar a 30ª Conferência
1996, no Rio de Janeiro. A eleição do Brasil
Mundial da Associação Internacional de Par-
para o evento de 2013 foi por unanimidade
ques Científicos e Tecnológicos (IASP), em
da Assembleia Geral, uma conquista para o
outubro de 2013. Na 28ª Conferência – re-
movimento de empreendedorismo inovador
alizada em junho deste ano, em Copenhage,
brasileiro. “A proposta do Porto Digital foi al-
na Dinamarca – o Porto Digital, do Recife
tamente elogiada. Aproveito para reconhecer
(PE), foi escolhido para receber o evento que
a parceria do Sebrae na preparação e argu-
reúne os principais agentes do movimento
mentação vitoriosa. Foi um momento especial
de incubadoras e parques tecnológicos do
de reconhecimento ao movimento brasileiro,
mundo. A Conferência de 2012 será realiza-
em adição ao prestígio de ter o Mauricio
da na cidade de Tallinn, na Estônia.
Guedes, um dos pioneiros da Anprotec, na
Será a segunda vez que o Brasil irá receber a Conferência da IASP. A primeira foi em 72
presidência da IASP”, destaca o presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski.
INTERNACIONAL
Além do Brasil, apenas os Estados Uni-
Conferência de 2013 serão relativos à infra-
dos e o Canadá já sediaram a Conferência
estrutura urbana, como segurança, transpor-
da IASP nas Américas. A escolha também
te, entre outros serviços que, com os investi-
foi um reconhecimento ao local: o Porto
mentos já feitos para a Copa do Mundo em
Digital. “A conquista coloca o Porto mais
2014, serão mitigados”, avalia Saboya.
fortalecido em uma rota de internacionalização, garantindo presença mais efetiva
A Conferência IASP 2011
no âmbito da maior rede de parques cien-
O Brasil teve a maior delegação estran-
tíficos e tecnológicos do mundo”, afirma o
geira na 28ª Conferência Mundial da IASP,
diretor-presidente do Porto Digital, Fran-
realizada de 19 a 22 de junho deste ano,
cisco Saboya.
em Copenhague, na Dinamarca. Ponto final
Criado em 2000, o Porto Digital é um dos
da Missão Internacional à Escandinávia,
principais parques tecnológicos do Brasil.
promovida pela Anprotec e pelo Sebrae, a
Com uma proposta inovadora de integração
Conferência reuniu 56 representantes bra-
com o espaço urbano, reúne cerca de 200
sileiros. O evento foi conduzido pelo primei-
empresas e gera pouco mais de seis mil em-
ro presidente brasileiro da IASP, Mauricio
pregos diretos. De acordo com o diretor-pre-
Guedes, diretor do Parque Tecnológico do
sidente do Porto Digital, a preparação para a
Rio e coordenador da incubadora de empre-
Conferência da IASP em 2013 já começou.
sas da Coppe/UFRJ.
“Para realizar a Conferência com sucesso, o
O tema da Conferência IASP 2011 foi
Porto Digital já deu início aos preparativos. A
“Roteiros para a navegação no futuro” e
equipe responsável pela ação já está defini-
teve foco em três áreas principais: Pesso-
da e tem estreita relação com a IASP, relação
as e Competências; Economia e Política;
essa que procurou construir antes mesmo da
e Tecnologia & Inovação. Dentro dessas
aprovação da candidatura. As atividades par-
áreas, os debates e trocas de experiências
tirão de um plano de trabalho que abrange os
abordaram as dificuldades e os fatores de-
anos de 2011, 2012 e 2013 e que já come-
cisivos para o sucesso dos polos tecnoló-
çou a ser executado”, ressalta Saboya.
gicos em todo o mundo. Participaram da
O evento também acontecerá menos de um ano antes do primeiro grande evento in-
Conferência em Copenhage delegações de 56 países diferentes.
ternacional esportivo que o Brasil irá sediar
Além da quantidade e da diversidade dos
nos próximos cinco anos: a Copa do Mundo
participantes, os temas e conceitos debatidos
de Futebol de 2014. Para Francisco Saboya,
chamaram a atenção do presidente da Anpro-
os investimentos destinados à realização da
tec. “Em termos conceituais, destaco o reco-
Copa no Brasil irão contribuir para oferecer
nhecimento da relevância crescente de entes
uma melhor estrutura aos participantes da
afins aos objetivos dos parques tecnológicos,
Conferência da IASP em 2013, tendo em
que devem ser incluídos em nosso escopo
vista que Recife será uma das cidades-sede
de atuação, ainda que não se enquadrem na
da competição esportiva.
definição estrita de science park. Em termos
Essa preocupação demonstra que não
metodológicos, a forma dialógica de compar-
apenas o Porto Digital está dedicado à or-
tilhar os resultados de cada sessão específica
ganização de um evento de excelência em
mediante atividades interativas denominadas
2013, mas a cidade de Recife, o estado de
knowledge camps, cuja primeira experiência
Pernambuco e o próprio movimento brasi-
tive o privilégio de participar como relator,
leiro de empreendedorismo inovador. “Os
junto com um colega de Hong Kong e outro da Suécia”, conta Guilherme Ary Plonski. L
grandes desafios a serem enfrentados para a
73
Shutterstock
INCUBADORAS
P O R C A M I L A A LV E S
A fórmula do equilíbrio Para prestar suporte de qualidade às empresas apoiadas, incubadoras e parques tecnológicos ainda buscam formas de garantir a própria sustentabilidade
74
Como oferecer serviços às empresas
te propício à inovação”, explica o diretor do
a preços competitivos, fomentando o de-
Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tec-
senvolvimento científico e tecnológico e
nológico da Universidade de Brasília (CDT/
manter-se, ao mesmo tempo, sustentável
UnB), Luís Afonso Bermúdez.
financeiramente? A questão sempre foi, e
Para incubadoras de empresas, a susten-
continua sendo, um dos principais desa-
tabilidade financeira tornou-se uma preo-
fios para gestores de habitats da inovação.
cupação constante. “No Rio Grande do Sul,
“A incubadora e o parque tecnológico sus-
por exemplo, a incubação é um sistema que
tentáveis são aqueles que conseguem, com
sofre muito com ondas. Não adquiriu capa-
suas capacidades técnicas, captar recursos
cidade autônoma de sustentabilidade. Ain-
para prestar, com qualidade, os serviços
da precisa de apoio do governo para sobre-
que oferecem às empresas e, também, para
viver”, afirma o diretor do Parque Científico
alcançar os objetivos aos quais eles se pro-
e Tecnológico da Pontifícia Universidade
põem. Assim, não visam ao lucro, mas se-
Católica do Rio Grande do Sul (Tecnopuc) e
rem sustentáveis para oferecer um ambien-
presidente da Rede Gaúcha de Incubadoras
de Empresas e Parques Tecnológicos (Re-
do-se a partir do serviço de gestão de pro-
ginp), Roberto Moschetta.
jetos que oferece. “A nossa principal fonte
Segundo ele, o problema é tamanho que
de receita hoje, cerca de 85% do total, é
algumas teorias afirmam que as incubado-
a gestão de projetos na área de inovação,
ras não são empreendimentos sustentáveis
seja para grupos de pesquisa de institui-
por essência. “Por essa concepção, elas não
ções científicas e tecnológicas da Paraíba,
seriam sustentáveis porque precisam dis-
seja para algumas empresas incubadas e
ponibilizar serviços para uma empresa nas-
associadas”, explica o diretor-adjunto da
cente, cobrando preços quase simbólicos.
Fundação, Vicente de Paulo Albuquerque
Em princípio, então, só conseguiriam se
Araújo. “Como segunda fonte, temos ou-
manter se houvesse fomento público ou até
tros serviços especializados prestados às
por um sistema empresarial, o que é ainda
empresas de base tecnológica, vinculadas
mais difícil”, explica.
à incubadora ou já graduadas e associadas.
Uma das soluções para o problema estaria em uma mudança nos modelos de
Mas isso representa apenas uma parcela de cerca de 15% dos nossos recursos.”
incubação praticados no Brasil. “Vemos, no
Segundo Araújo, no início acreditava-se
mundo inteiro, incubadoras rentáveis. Só
que a Fundação alcançaria a sustentabili-
que são modelos diferentes dos que existem
dade apenas com os serviços especializados
aqui. É um modelo baseado em preparar um
oferecidos às empresas. “Nós imaginávamos
empreendimento potencialmente vitorioso,
que só com o crescimento do polo e as recei-
com suporte de capital e investimento, para
tas das empresas haveria condições de dar
que ele depois pague à incubadora quando
sustentabilidade à manutenção da institui-
se graduar”, explica Moschetta. Ele destaca
ção. Só que isso não aconteceu e a gente só
casos de empresas estrangeiras que, depois
conseguia viabilizar nossa sustentabilidade,
de graduadas, tornaram-se sócias das incu-
antes, por meio de editais”, afirma.
badoras. “A incubadora se remunera não
A ideia de focar no gerenciamento de
pela cobrança da locação, que é muito ba-
projetos ganhou reforço a partir 2007.
rata, mas quando a empresa é vendida no
“Além de garantirmos receita para a insti-
mercado e paga pelo que antes não podia
tuição, conseguimos prospectar projetos
pagar. Aí, sim, uma incubadora se torna
e grupos de pesquisa que podem vir a se
sustentável”, diz.
transformar em empreendimentos inova-
Fotos: Divulgação
INCUBADORAS
Moschetta, do Tecnopuc: incubadoras e parques ainda são muito dependentes de recursos do governo
dores. Hoje temos um ‘equilíbrio’ da gesOferta de serviços
tão financeira da instituição. Conseguimos
Para o diretor do CDT, Luís Bermúdez,
fazer uma quantidade razoável de projetos,
o ponto-chave da questão encontra-se na
incentivar a criação de empreendimentos
prestação de serviços. “A incubadora é um
inovadores e ter receita para estimulá-los”,
empreendimento sustentável no seguin-
destaca Araújo.
te sentido: tem que manter uma estrutura
Nos próximos anos, a meta do PaqTcPB
básica. E a principal fonte de recursos para
é ampliar a gama de serviços do Parque e
se alcançar isso é a prestação de serviços
oferecer espaço para a instalação de em-
inteligentes, ou seja, oferecer às empresas
presas no futuro Centro de Tecnologia e
acesso a mercados financeiros, à consulto-
Inovação Telmo Araújo (Citta). “É nisso
ria, a informações tecnológicas e, é óbvio,
que estamos apostando como expansão do
cobrar por isso”, avalia.
Parque. Vamos viabilizar espaço e as em-
A Fundação Parque Tecnológico da Pa-
presas terão que pagar por isso. Elas terão
raíba (PaqTcPB) segue essa linha, manten-
uma série de serviços inteligentes centra-
Bermúdez, do CDT: incubadora precisa manter estrutura básica para oferecer serviços e cobrar por eles
75
INCUBADORAS
lizados e, assim, poderão ter uma base de
da sustentabilidade. “O privilégio de uma de-
informações e agregar valor às suas pro-
terminada fonte de recursos em detrimento
duções”, afirma.
do outra prejudica um ambiente de inovação adequado. Hoje, no Brasil, temos pouco lado empresarial e muito lado de fomento do go-
A fórmula que o PaqTcPB pretende
verno e de universidades, porque as outras
adotar deu certo no Tecnopuc, de Porto
partes não foram capazes de assumir seus
Alegre (RS). O parque, que foi inaugurado
papéis ainda”, afirma Moschetta.
oficialmente em 2003, deve alcançar sua
Segundo ele, atualmente a maioria dos
autonomia financeira em no máximo dois
parques e incubadoras está pautada em re-
anos, segundo o diretor Roberto Moschetta.
cursos públicos e, devido a isso, às vezes so-
A expectativa é que o habitat mantenha-se
fre com a demora na liberação de recursos
em funcionamento a partir da própria dinâ-
e problemas de continuidade. “O grupo de
mica do local. “O aluguel é nossa fonte de
parques brasileiros é muito fraco se compara-
recursos mais óbvia, mas existem empresas
do a outros empreendimentos desse tipo no
que atuam conosco e estão contribuindo
mundo. Algumas exceções, como as dos par-
com as bolsas de alunos da universidade
ques aqui do Sul, decorrem do fato de que o
envolvidos nos projetos. Algumas também
financiamento não foi pautado pelo dinheiro
já montaram laboratórios completos, com
público. A principal fonte de sustentação veio
equipamentos e infraestrutura, para que
das próprias universidades que os constituí-
possam desenvolver determinados produ-
ram. Quem ficou dependente de recursos de
tos e serviços com a PUC. Isso também é
fomento do governo teve dificuldades e conti-
importante para a universidade, pois gera
nua enfrentando-as”, diz Moschetta.
um patrimônio que ao fim do projeto fica
O diretor-adjunto da Fundação PaqTcPB,
à disposição para as atividades de ensino e
Vicente de Paulo Araújo, também defende
pesquisa”, explica Moschetta.
uma menor dependência de recursos públi-
Tanto para incubadoras quanto para par-
cos. “Nós, da Paraíba, estamos conscientes
ques tecnológicos, a diversificação do portfó-
de que se fôssemos depender do Estado, a
lio de fontes de recursos aparece como um
instituição não existiria. Para a nossa ex-
dos fatores mais importantes para o alcance
pansão, os recursos públicos são interes-
Bruno Todeschini/ Divulagação PUCRS
Tecnopuc, em Porto Alegre: autonomia financeira esperada para 2013
Quase autossustentável
santes. Mas nunca para a nossa simples manutenção. A sustentabilidade só se dá por meio da prestação de serviços inteligentes.” De acordo com o diretor do CDT, Luís Bermúdez, ampliar a rede de recursos é essencial, já que a ideia de completa autonomia financeira, na sua opinião, é impraticável. “Muito discurso se faz de que as incubadoras têm que ser autônomas financeiramente. Mas isso não é verdade. O CDT não é autônomo financeiramente. Se a universidade e os nossos parceiros se retirarem, ficaremos mal. A UnB não consegue, sozinha, sustentar a incubadora. É necessário que os recursos venham de diversas fontes”, conclui. L
76
Shutterstock
INCUBADORAS
P O R C A M I L A A LV E S
Conexão virtual Incubadoras focam no atendimento a distância e ampliam a rede de empreendimentos apoiados. Modalidade exige disciplina de ambas as partes Aumentar o número de empreendimen-
“As incubadoras brasileiras ainda são carac-
tos, ampliar a abrangência geográfica, ofe-
terizadas por estarem muito focadas na in-
recer apoio dissociado do espaço físico. São
cubação física. Mas, principalmente a partir
vários os motivos que vêm fazendo incuba-
de 2007, começamos a perceber um gran-
doras e empresas aderirem à incubação vir-
de interesse dessas instituições em atender
tual, modalidade que cresce no Brasil e deve
empresas virtualmente, pois isso permite
se tornar uma tendência nos próximos anos.
ampliar suas áreas de atuação”, afirma o 77
Fotos: Divulgação
INCUBADORAS
Jamile, do MIDI Tecnológico: incubadora deixava de atender bons projetos por falta de espaço físico
consultor do Centro de Empreendedorismo
permitam à incubadora, mesmo não tendo
Inovador da Fundação Certi, de Florianópo-
contato físico com o incubado, obter resul-
lis (SC), Carlos Eduardo Negrão Bizzotto.
tados que demonstrem se ele está evoluin-
De acordo com ele, um dos incentivos
do ou não em cada eixo de avaliação dos
para o crescimento da modalidade é a ado-
negócios”, explica. A ampliação da estrutura
ção, pelas incubadoras, do modelo de certi-
é outro desafio. “A incubadora tem que ter
ficação do Centro de Referência para Apoio
softwares, equipamentos e uma rede de es-
a Novos Empreendedores (Cerne). “Uma
pecialistas que possa dar suporte aos em-
das exigências do Cerne é a ampliação dos
preendimentos. Quando você amplia o nú-
limites da incubadora, o que só é possível a
mero de incubadas, aumenta o custo com a
partir de um processo de incubação virtu-
prestação de serviços em geral.”
al”, destaca Bizzotto. Atualmente, no Brasil, existem três mo-
Foi após uma experiência malsucedida
modalidade a distância, em que a incubado-
com incubação virtual que a coordenadora
ra eventualmente mantém contato presen-
do MIDI Tecnológico de Florianópolis (SC),
cial com as empresas. O outro é o formato
Jamile Sabatini Marques, decidiu pesqui-
online, no qual a interação ocorre por meio
sar sobre metodologias para melhorar a
da internet. O terceiro é a incubação em
modalidade na incubadora. “Percebemos
rede, que inclui uma central interligada a
que eram necessárias regras mais claras na
pontos de presença em outras regiões atra-
incubação virtual para que ela funcionas-
vés de satélite ou redes.
se. Então, resolvemos parar de oferecer a
Para Bizzotto, é necessário que as incubadoras criem metodologias de atendimenA modalidade virtual exige que o empreendedor esteja comprometido em fornecer informações sobre o negócio
Metodologia
delos de incubação virtual. Um deles é a
modalidade em 2005 para reestruturá-la”, explica Jamile.
to para a modalidade, em qualquer um dos
Com base na experiência, Jamile desen-
formatos, ser bem-sucedida no país. “Um
volveu sua pesquisa de mestrado em Gestão
grande desafio é criar indicadores, méto-
de Inovação na École Nationale Supérieure
dos e processos de acompanhamento que
des Mines – Saint-Étienne, na França. Em 2009, a modalidade foi retomada na incubadora. “Hoje temos um contrato bem definido, com penalidades. Se o incubado não participa, acaba pagando mais. Ele não pode ter só o status e os benefícios de estar na incubadora. Deve participar das orientações, dos cursos oferecidos. Resolvemos trabalhar de uma forma que mexa no bolso dos empreendedores”, afirma a coordenadora. Até agora, para ela, as mudanças no modelo vêm apresentando bons resultados. “No último processo seletivo do MIDI Tecnológico tivemos mais procura pela incubação virtual do que pela residente. Poderíamos abrir ainda mais vagas, além das dez que oferecemos. Estamos satisfeitos, pois deixávamos de atender bons projetos por falta de espaço físico”.
78
INCUBADORAS
Divulgação
Baixa demanda Assim como acontece no MIDI Tecnológico, o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB) também exige das empresas incubadas virtualmente que participem de encontros e cursos. E o processo de monitoramento é feito por meio de visitas semestrais às sedes das incubadas. A modalidade é oferecida no CDT desde 2004 e 16 empresas já passaram pelo processo, mas a demanda pela Incubação Virtual, de acordo com a vice-diretora do Centro, Ednalva Fernandes Costa de Morais, ainda é baixa. “Observamos que as empresas, de maneira geral, preferem a incubação físi-
soluções de comunicação via protocolo IP,
ca. A convivência no dia-a-dia parece ser
hoje é residente no CDT, mas por quase um
muito mais atrativa no sentido de gerar
ano passou pela incubação virtual. Foi a
oportunidades de negócios e convívio com
única que trocou de modalidade no Centro.
a equipe de apoio da incubadora”, afirma.
“Optamos pela incubação virtual no início
Ednalva explica que as empresas can-
porque a empresa já existia antes. Quería-
didatas aos dois tipos de incubação fazem
mos crescer, mas tínhamos um escritório
parte do mesmo processo seletivo e que o
e as nossas instalações eram melhores do
próprio CDT sugere a algumas a modali-
que as oferecidas pelo CDT na época, pois
dade virtual. “Na incubação física, priori-
o Centro ainda não estava no prédio novo”,
zamos as iniciantes e as de alta tecnolo-
explica a diretora de Relacionamento com
gia, que requerem mais proximidade com
o Cliente da empresa, Mônica Barcellos.
os pesquisadores da universidade. Mas se
Ela afirma que o processo é recomendável
avaliamos que a empresa só precisa de
para empresas que já possuem uma certa
informação tecnológica ou que os empre-
estrutura. “Funciona para a empresa que
endedores já tem um nível de maturidade
já tem um mercado, mesmo que pequeno,
maior, propomos a incubação a distância”,
e que deseja se expandir. Já no caso das
explica.
empresas que são só uma ideia, acredito
Para ela, aumentar a demanda espontânea das empresas pela modalidade é um
que precisam mais do abrigo na incubadora”, afirma.
desafio. “Queremos ampliar, mas precisa-
Na opinião de Ednalva, as empresas
mos viabilizar uma divulgação levando em
que participam da incubação virtual do
conta o nosso perfil. Não adianta induzir-
CDT apresentam o mesmo rendimento
mos uma demanda sem ter como atendê-la.
das que estão instaladas no prédio. “Se
Precisamos ter um grupo de especialistas
o empreendedor não se envolver de fato
para prestar apoio às empresas e, também,
no processo de incubação, não continu-
estimular a utilização de novas tecnologias
ará na incubadora e não terá os resul-
de comunicação, como plataformas de Edu-
tados esperados nos prazos estimados.
cação a Distância em cursos de capacita-
Objetivamente falando, não há diferen-
ção”, afirma.
ça de rendimento. Apenas de endereço”,
A Optimedia, empresa que desenvolve
Ednalva, do CDT: empresas com maior nível de maturidade são o alvo da incubação virtual
destaca. L 79
Shutterstock
PARQUES
P O R C A M I L A A LV E S
Decisões compartilhadas Adoção de práticas de governança corporativa está entre os desafios dos parques tecnológicos brasileiros para garantir transparência, consolidar parcerias e captar mais recursos No início da década de 1990, preocupa-
grandes empresas, principalmente entre
dos em garantir seus direitos e interesses,
as que integram o mercado de capitais. Em
acionistas começaram a perceber a neces-
1995, surgiu o que hoje é o Instituto Bra-
sidade de criação de regras para regular o
sileiro de Governança Corporativa (IBGC),
relacionamento com os gestores das em-
instituição que tem como meta difundir o
presas nas quais investiam. O movimento
conceito e disseminar as melhores práti-
surgiu principalmente nos Estados Unidos e
cas. Cinco anos depois da criação do IBGC,
deu origem à governança corporativa. O ob-
a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros
jetivo era criar barreiras contra abusos de
de São Paulo (BM&FBovespa) também
diretorias executivas e omissões de audito-
criou níveis de governança aos quais as
rias, além de outros conflitos. Em resposta,
empresas listadas podem aderir volunta-
as companhias passariam a seguir preceitos
riamente.
como prestação de contas, transparência e responsabilidade.
80
Tão comum no mercado de capitais, a governança corporativa, no entanto, ainda
No Brasil, a adoção de mecanismos de
está distante da realidade de uma série de
governança é cada vez mais comum em
instituições brasileiras, entre elas os par-
PARQUES
ques científicos e tecnológicos. Foi essa
gestão, tenho convicção de que ele pode se
constatação que levou o professor da Pon-
consolidar no mercado”, analisa.
tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Eduardo Giugliani a tentar
Mais recursos
aproximar as duas áreas. Sua tese do dou-
Um dos resultados que a adoção de mo-
torado em Engenharia e Gestão do Conhe-
delos de governança corporativa pode levar
cimento, realizado na Universidade Federal
aos parques seria a possibilidade de au-
de Santa Catarina, tinha como foco a busca
mento da captação de recursos. “Se as em-
de um modelo de governança para parques
presas que trabalham nas áreas de capital
científicos e tecnológicos no Brasil. “Ao pes-
de risco, fomento de empresas nascentes e
quisar governança no mundo, encontramos
investimento em novos produtos e serviços
muitas experiências. Mas se pesquisar so-
inovadores olham uma organização do tipo
bre como os parques tecnológicos do mun-
parque tecnológico organizada de tal for-
do inteiro estão organizacionalmente im-
ma que tenha um modelo de gestão e go-
plantados, há escassos modelos de gestão
vernança implantados, essa empresa verá
e – sei que é uma declaração ousada – não
o parque como um ambiente mais seguro
enxergamos praticamente nenhuma con-
para investir os seus recursos, mesmo que
vergência de gestão com governança em
de risco”, afirma Giugliani.
parques”, afirma Giugliani.
Para o professor, se a médio prazo os ges-
A necessidade de se pensar em estra-
tores de parques começarem a adotar meca-
tégias que tornem os parques científicos
nismos de governança, essas organizações
e tecnológicos mais competitivos foi a
conseguirão alcançar níveis de captação de
principal motivação do pesquisador para
recursos muito diferentes dos atuais. “Hoje
desenvolver a tese sobre o assunto. “Par-
os recursos públicos são a principal fonte.
ques são corporações novas e emergentes
Eles são importantíssimos porque, na ver-
e estão cada vez mais sendo demandados
dade, cumprem um papel de estratégias de
por governos e entidades para que possam
governo. Mas é sabido que mundialmente há
cumprir um papel importante de desenvol-
empresas de venture capital, capital de risco,
vimento e inovação. Então, é necessário
que têm interesse em investir. E o Brasil têm
dotá-los de um poder organizacional talvez
muitos grupos operando em cima disso”, afir-
tão forte quanto o das empresas de maior
ma Giugliani. Ele ressalta que se os parques
sucesso que existem em outros segmentos
aplicassem os princípios da governança, o in-
corporativos”, explica o professor.
vestidor teria antecipadamente uma garantia
Segundo Giugliani, é importante que a
de que está tratando com uma instituição idô-
forma de organização dos parques ultra-
nea e segura, com forte potencial de oferecer
passe o que a gestão pode oferecer. “A ges-
um retorno àquele investimento.
tão pode dotar a organização de alguns pro-
Existem diversas boas práticas e mo-
cessos de gerenciamento bastante eficazes,
delos
mas ela não chega a ser tão ampla quanto
BM&FBovespa, por exemplo, exige que as
de
governança
corporativa.
A
a governança, que vai focar nas estratégias
empresas que queiram atingir o grau mais
da corporação e, principalmente, no alinha-
alto de governança cumpram requisitos
mento dos interesses dos mantenedores do
como ter um Conselho de Administração
negócio aos dos seus agentes, que são os
com no mínimo cinco membros – dos quais
seus gestores. Se um parque começa a nas-
20% devem ser independentes –, traduzam
cer com um nível organizacional que enxer-
todas as suas demonstrações financeiras
ga de um lado a governança e de outro a
para o inglês e que os cargos de presidente 81
Gilson Oliveira/Divulgação PUCRS
PARQUES
Giugliani, da PUCRS: mecanismos de governança podem ajudar parques na captação de recursos
do Conselho e de principal executivo não
de propor uma modelagem que seja adequa-
sejam ocupados pela mesma pessoas, den-
da ao nosso ambiente organizacional”, afirma.
tre várias outras exigências.
Segundo o diretor do Tecnopuc, Ro-
Em sua tese, Giugliani criou o que cha-
berto Moschetta, a intenção de se adotar
ma de “campos de governança”, incluindo
mecanismos de governança se deu pelo
dez áreas a serem analisadas para checar
crescimento da instituição. “Pelo tamanho
os níveis de governança em parques tecno-
que nosso parque atingiu, já é necessário
lógicos. Entre elas, destacam-se: processo
formalizarmos as relações entre os agentes
de tomada de decisão; a existência de um
da tríplice hélice – universidade, governo e
Conselho de Administração; as característi-
empresas – para que as relações entre as
cas desses conselhos, como composição, ta-
partes possam ser realizadas de maneira
manho e sistema de remuneração; a diversi-
mais estruturada”, explica. “Não é que hoje
dade de gênero no conselho; a acumulação
essas relações não aconteçam, mas não te-
de cargos de presidente do Conselho e de
mos um mecanismo formal que as facilite”.
diretor executivo; a existência de Comitês de Supervisão, dentre outros.
Algumas das estratégias que devem ser adotadas no Tecnopuc são a formação de
Para testar o modelo, quatro organiza-
conselhos consultivos e a reestruturação da
ções foram analisadas na tese de Giuglia-
atual direção. “Queremos que, além de ter um
ni. Dentre elas, três parques científicos e
representante executivo da universidade, a
tecnológicos brasileiros: o Tecnopuc, da
diretoria seja composta pelos demais agentes,
PUCRS, o Tecnosinos, da Universidade do
governo e empresas”, afirma Moschetta.
Vale do Rio dos Sinos – ambos localizados
Os parques em fase de implantação e
no Rio Grande do Sul – e o Sapiens Parque,
projeto que fazem parte da Rede Gaúcha
que está em fase de implantação em Flo-
de Incubadoras de Empresas e Parques
rianópolis (SC). Para utilizar um exemplo
Tecnológicos (Reginp) – entidade da qual
externo, a empresa Grendene, que está no
Moschetta é presidente – também serão
nível “Novo Mercado” de governança cor-
incentivadas a pensar em estratégias de
porativa da BM&FBovespa – o mais alto
governança. “Um sistema de gestão inade-
existente – também foi analisada.
quado é mortal para um parque em criação.
Apesar de nenhum dos três parques ado-
Tendo isso em vista, envolver os gestores
tar formalmente modelos de governança
dos parques nascentes com a governança
corporativa, como ocorre na Grendene, os
logo no início nos parece uma precaução
resultados, para Giugliani, mostraram-se po-
muito necessária”, diz Moschetta.
sitivos. “Se olharmos a tendência da empresa
De acordo com ele, no Rio Grande do Sul
de referência e a dos parques estudados, ve-
o governo já planeja exigir iniciativas de go-
remos nossa situação com certo otimismo. A
vernança como requisito para dar apoio os
governança começa a ser um horizonte bem
projetos. “Os sistemas de fomento a esses
factível aos nossos parques”, afirma.
novos parques em nosso estado já preveem que entre os indicadores valorizados para
82
Realidade próxima?
a concessão de apoio estarão os de gover-
Eduardo Giugliani, além de professor da
nança, ou seja, a especificação de como as
PUCRS, é assessor de projetos junto ao Tecno-
relações entre os agentes dos parques irão
puc, e afirma que no parque já existe a ideia
ocorrer”, explica o professor. “Em qualquer
de adotar um modelo de governança. “Esta-
tipo de empreendimento, a governança é
mos tentando visualizar a governança de uma
sempre um quesito. Por que não seria em
forma mais concreta, mais realista, no sentido
um parque?”, questiona. L
Shutterstock
EDUCAÇÃO
P O R TA L I TA F E R N A N D E S
Aprender para apoiar Curso de especialização voltado aos gestores de incubadoras e parques tecnológicos tem como foco o desenvolvimento dos habitats da inovação Fomentar a inovação em parques tecno-
formam no dia 24 de outubro deste ano, du-
lógicos e incubadoras de empresas. Esse é
rante o XXI Seminário Nacional de Parques
o desafio do Programa de Capacitação em
Tecnológicos e Incubadoras de empresas,
Gestão de Habitats de Inovacão, criado pela
em Porto Alegre (RS). Durante o evento, a
Anprotec, em parceria com o Sebrae Conse-
Anprotec deve realizar também a chamada
lho Nacional de Desenvolvimento Científico
para a criação de novas turmas do curso,
e Tecnológico (CNPq), a Finep e o Ministério
com início previsto para 2012.
da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI),
A carga total de 460 horas foi dividida
por meio do Programa Nacional de Apoio
em aulas presenciais em São Paulo alterna-
às Incubadoras e aos Parques Tecnológicos.
das com encontros online através de chats e
O curso é aplicado pela Fundação Instituto
fóruns. Ao final do curso, os alunos podem
de Administração (FIA), de São Paulo (SP).
fazer ainda um módulo adicional no exte-
Concebido em forma de curso de pós-
rior, com o objetivo de aprimorar o conhe-
-graduação lato sensu, a primeira edição
cimento de diferentes realidades e habitats
teve início em 2010, com 19 alunos, que se
de inovação, por meio de visitas técnicas e 83
EDUCAÇÃO
palestras em instituições internacionais. O
necessidades desse público”, explica.
primeiro grupo teve como destino Israel.
Para o diretor do Centro de Inovação,
Para as demais turmas, poderão ser esco-
Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec),
lhidas outras referências internacionais.
Sérgio Risola, o principal destaque do Pro-
Segundo o professor titular da FIA e um
grama é a promoção do intercâmbio entre
docentes do Programa, Moacir de Miranda
os alunos. “Foi riquíssima a troca entre
Oliveira Junior, a opção por Israel se deve
representantes de instituições diversas,
ao grande desenvolvimento do país em ino-
oriundas de nove ou dez estados diferentes,
vação. “Apesar de Israel ter um PIB relati-
relatando suas experiências diárias. Isso
vamente pequeno, é referência mundial em
soma muito às aulas”, explica Risola, um dos
termos de inovação e de desenvolvimento de
alunos que participaram da primeira turma.
parques tecnológicos e incubadoras”, afirma.
O coordenador do curso destaca que a
Para conhecer melhor a história e as soluções
particularidade desses ambientes é a abran-
encontradas pelos israelenses para fomentar
gência das decisões, as quais não afetam uma
a inovação, 18 alunos do Programa estiveram
única empresa, mas um conjunto de empre-
no país entre os dias 7 e 20 de novembro de
endimentos nascentes. Por isso, o gestor de
2010, em uma programação que incluiu visi-
parques tecnológicos e incubadoras deve ter
tas a polos tecnológicos e aulas presenciais.
um conhecimento ampliado em inovação.
De acordo com Oliveira Junior, a principal motivação para a criação do Programa
Primeira turma formada pelo Programa: troca de experiências e aquisição de novos conhecimentos
O curso
foram as especificidades da inovação no
Ainda que o público-alvo seja o nível
contexto de incubadoras e parques tecno-
estratégico dos habitats, o Programa tam-
lógicos. O professor destaca, ainda, que o
bém pode ser cursado por outros agentes
Programa foi concebido a partir de diretri-
de inovação, como profissionais de órgãos
zes definidas pela International Association
públicos, agências de fomento e entidades
of Science Parks (IASP), que validou o curso
de apoio. Durante o desenvolvimento do
desenvolvido e recomendou seu formato
Programa, os participantes são capacitados
como modelo internacional. “O diferencial
para melhor compreender, analisar e aplicar
dessa capacitação é ela ser concebida para
os principais conceitos relativos às funções
gestores de incubadoras de empresas e
clássicas da administração, como finanças,
parques tecnólogicos, não para o empre-
marketing e recursos humanos, na gestão de
endedor. Não existe no país um programa
ambientes de negócios inovadores.
de pós-graduação voltado para atender às
O corpo docente é formado por profes-
Diculgação
sores da FIA, docentes da USP, e profissionais de outras instituições acadêmicas, formuladores de políticas públicas, agentes de inovação e profissionais do mercado com experiência reconhecida nas disciplinas que constam na grade curricular do curso. Eventualmente são convidados palestrantes renomados, como fruto da parceria pioneira celebrada pela Anprotec com IASP. A coordenação do curso fica a cargo dos professores titulares da USP Isak Kruglianskas e Roberto Sbragia, precursores no campo da educação avançada em gestão da inovação. L 84
_SAIDEIRA
Fontes de inspiração: conheça alguns dos principais museus brasileiros e suas atrações entre outubro deste ano e janeiro de 2012. Um livro que ajuda prender a atenção do espectador nas tradicionais apresentações em PowerPoint. O documentário que tenta explicar os motivos da crise americana e outras coisas que você não pode deixar de ler, ver e ouvir. Tudo isso é CULTURA. Para fechar, Mauricio Guedes propõe uma mobilização imediata em relação ao Código Nacional para Ciência, Tecnologia e Inovação, que já está em discussão no Congresso. OPINIÃO de quem defende o movimento. 85 4
CULTURA P OR BRUNO MOR E S CHI
Museus do Brasil Os números não mentem: os brasileiros estão cada vez mais interessados em artes plásticas. De acordo com o Ministério da Cultura, os museus existentes no Brasil receberam 15 milhões de visitantes em 2003. Em 2009, esse número saltou para 33 milhões – mais do que o dobro de seis anos atrás. Mesmo assim, nem tudo deve ser comemorado. Um outro dado revela o longo caminho a percorrer para popularizar a arte no país: de cada cem brasileiros, 93 nunca foram a uma exposição de arte. A falta de hábito ainda está entre as maiores barreiras entre o brasileiro e a arte. Há ótimos museus nas principais cidades do Brasil e eles costumam cobrar ingressos de valor muito baixo ou mesmo entrada gratuita. A seguir, cinco
Fotos: Divulgação
exemplos de museus que merecem uma visita.
Fundação Iberê Camargo O museu foi criado em 1995, um ano após a morte do artista gaúcho Iberê Camargo, e tem como objetivo preservar sua vasta produção artística. Em 2008, o museu recebeu uma nova sede construída pelo arquiteto português Álvaro Siza. O prédio impressiona: é o primeiro no Brasil a utilizar concreto branco aparente e não utiliza tijolos em nenhuma parte da estrutura. O projeto arquitetônico recebeu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza.
Em cartaz: mais de 90 pinturas, desenhos e brinquedos criados pelo artista uruguaio Joaquín Torres García, considerado um dos principais nomes modernos da América Latina. Até 20/11. Serviço: Av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre (RS). De 3a a domingo, das 12h às 19h. 5a até às 21h. Entrada gratuita.
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) O CCBB do Rio de Janeiro (RJ) é um prédio de linhas neoclássicas. Até 1960 foi um centro financeiro e hoje é um dos espaços culturais mais importantes da capital carioca com salas expositivas, teatro, cinema e biblioteca. São 17 mil metros quadrados de pura cultura.
Em cartaz: A exposição temática, interativa e multimeios Índia abrange 3 mil anos da cultura indiana, da antigui-
dade à contemporaneidade, apresentando cerca de 400 peças. Até 29/01/2012. Serviço: Rua Primeiro de Março, 66, Rio de Janeiro (RJ). Tel.: (21) 3808 2020. De 3a a domingo, das 10h às 18h. Entrada gratuita. 86
Fotos: Divulgação
CULTURA
Casa Fiat de Cultura
Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar
Aberto em 2006, o museu alcançou em quatro anos
O museu de Fortaleza (CE) conta com 13 salas e algu-
a marca de 250 mil visitantes. O espaço conta com duas
mas exposições podem ser exibidas fora do prédio, graças
áreas e recebeu mostras importantes, como uma retros-
à rampa giratória. Um dos ambientes que mais chama a
pectiva da pintora brasileira Tarsila do Amaral e uma ex-
atenção é a biblioteca com mais de 2 mil livros sobre fo-
posição de telas do pintor russo Marc Chagall.
tografia, design, museologia, história da arte, arquitetura
Em cartaz: mostra com 370 esculturas, adornos, mosaicos, joias e objetos do cotidiano que contam a história dos três
e moda.
Em cartaz: Diálogos, mostra de Fernando França,
primeiros séculos do Império Romano. É a maior exposi-
com 22 retratos de artistas da pintura cearense. Até
ção sobre Roma Antiga já exibida no Brasil. Até 18/12.
30/10.
Serviço: Rua Jornalista Djalma Andrade, 1250, Nova
Serviço: Rua Dragão do Mar, 81, Fortaleza (CE). Tel.:
Lima (MG). Tel.: (31) 3289 8900. De 3 . a 6 , das 10h às
(85) 3488 8622. De 3a a 5a, das 9h às 18h30. De 6a a
21h. Sáb. e dom., das 14h às 21h. Entrada gratuita.
domingo, das 4h às 20h30. Entrada gratuita.
a
a
Pinacoteca do Estado de São Paulo Um dos museus mais visitados do Brasil, recebe cerca de 400 mil pessoas por ano. Fundado em 1905, a Pinacoteca é o museu mais antigo de São Paulo, foi projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e reformado por Paulo Mendes da Rocha. Nos últimos anos, a instituição recebeu obras de artistas como o francês Henri Matisse e o dinamarquês Olafur Eliasson. Além disso, conta com um dos acervos de arte brasileira mais importantes do país. Próximo do museu há também a Estação Pinacoteca, instalada no edifício onde funcionava o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) durante a ditadura militar. Por lá, você também encontra ótimas mostras em cartaz.
Em cartaz: Mostra com cerca de 100 desenhos de Saul Steinberg, um dos mais importantes artistas gráficos norte-americanos. Até 6/11. Serviço: Praça da Luz, 2, São Paulo (SP). Tel.: (11) 3324 1000. De 3a a domingo, das 10h às 18h. Entrada: R$ 6 (gratuita aos sábados). 87
CULTURA
Calma tonalidade
My one and only thrill, de Melody Gardot. Em CD, Universal, 2009. Vale a pena ouvir com atenção o agradável álbum My one and only thrill, da cantora norte-americana Melody Gardot. Influenciada por nomes como Miles Davis e Janis Joplin, a artista produziu esse CD há dois anos, mas ele continua chamando a atenção da crítica especializada. Preste atenção em como Gardot canta músicas marcantes, mas quase sempre com um tom de voz baixo e sereno.
Uma boa apresentação
Super Apresentações: Como vender ideias e conquistar audiências, de Eduardo Adas e Joni Galvão. Panda Books, 184 páginas. O livro Super Apresentações possui uma proposta simples, mas eficiente: ensinar ao leitor a apresentar sua ideia de uma maneira clara e capaz de prender a atenção da audiência. Para isso, os autores Eduardo Adas e Joni Galvão revelam o que está por trás de grandes obras que foram muito bem aceitas pelo público. Além disso, eles orientam como usar a seu favor programas como o PowerPoint. Preste atenção em como os autores usam exemplos de histórias conhecidas, mas bem contadas – uma prova de que não é difícil ser claro e objetivo.
A crise revista
Inside Job – A Verdade da Crise (EUA, 2010, 120 min.). Dirigido por Charles Ferguson e narração de Matt Damon. Inside Job – A Verdade da Crise é um filme necessário para qualquer um que queira entender a turbulência que assola os Estados Unidos e a Europa. Por meio de entrevistas com vários economistas, políticos e jornalistas, o documentário mostra como foi criada a bolha especulativa que até hoje causa efeitos negativos em todo o mundo. Preste atenção em como a crise poderia ter sido evitada se não fosse a ganância excessiva de alguns poucos grupos econômicos dos Estados Unidos.
Imperativo Relembre os anos 70, 80 e 90 com as imagens de cartazes, capas e crachás do mundo do rock e que estampam o livro A Arte do Rock: imagens que marcaram a era clássica do Rock (de Paul Grushkini, Nacional, 255 páginas). Leia As coisas da vida (Alfaguara, 232 páginas), do escritor português António Lobo Antunes. Trata-se de uma seleção de 60 crônicas, todas maravilhosamente bem escritas. Assista ao filme Além da Estrada, do diretor Charly Braun. Produzido no Brasil e no Uruguai, o filme conta a história de um argentino que volta à terra de seus pais. Nos cinemas. 88
OPINIÃO
Pra não dizer que não falei de Jobs
S
teve Jobs se foi e ficou uma lenda. É difícil imaginar um empreendedor mais identificado com sua empresa. As primeiras reações foram de
Divulgação
Maur ic io Gue des Diretor do Par que Te c noló gico da UF R J e presidente da I A S P – Inter na t ional A s s o c ia t ion of S c ience Par k s
certa idolatria. Imagens fortes e belas se multiplicaram pelo mundo – o site da Apple atualizado com uma homenagem ao criador antes mesmo
que a notícia se espalhasse, as velas digitais nos IPhones, a linda logomarca criada pelo estudante de Hong Kong. Depois da morte, Jobs continuou a propagar sensibilidade e beleza. Além das homenagens, foi possível conhecer um pouco mais sobre o homem Steve Jobs, um sujeito de trato difícil, com acessos de raiva e hábitos nada responsáveis em relação às leis de transito. Em bom português, ele era um cara marrento. Mas era um gênio. Marcado pela capacidade de ouvir os desejos dos clientes, emocionava o mundo misturando tecnologia e arte. Ao celebrar o legado de Jobs, cabe uma reflexão sobre o papel do ambiente no surgimento desses gênios. O tema é de grande atualidade para nós brasileiros, neste momento em que se constrói o consenso quanto à necessidade de transformar as conquistas recentes no campo da Ciência e Tecnologia em aumento da capacidade de inovação tecnológica de nossa economia. Encontra-se em discussão no Congresso Nacional o Projeto de Lei no. 2177, que cria o Código Nacional para Ciência, Tecnologia e Inovação. Embora em tramitação ordinária, o que significa não ter prazo limite para apreciação, o assunto merece mobilização imediata das lideranças acadêmicas e empresariais. O projeto cobre temas hoje dispersos em vários instrumentos legais, como a Lei de Inovação, a Lei de Licitações e a Lei do Bem, entre eles a construção de ambientes de inovação, o papel das entidades públicas de ciência e tecnologia, o estímulo à inovação nas entidades de C&T privadas com fins lucrativos e o acesso à biodiversidade. Já foi criada uma Comissão Especial para cuidar do assunto na Câmara dos Deputados, que poderá receber contribuições da sociedade. Aqui vai a minha: o texto em tramitação reproduz, no seu Capitulo III, a redação que consta na Lei de Inovação, autorizando as entidades de CT&I públicas a permitirem a utilização de suas instalações por empresas. Porém, para que uma empresa construa uma unidade em um parque tecnológico, o instrumento da permissão de uso não é adequado, dada a possibilidade de rescisão a qualquer momento, sem direito à indenização. Empresa alguma se arriscaria, nessas condições, a investir na construção de um edifício em um parque tecnológico. Portanto, a lei que prevê a criação de parques tecnológicos deveria autorizar a concessão de uso dessas áreas, obviamente obedecendo a prioridades, critérios e requisitos aprovados pela instituição. Esta é uma grande oportunidade para aprimorar o marco legal brasileiro, que ainda impõe restrições ao dinamismo exigido pela inovação. 89
_BALANÇO
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ANPROTEC No próximo dia 31 de dezembro, chega ao fim o segundo mandato do presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski. Nas páginas a seguir, a Locus apresenta uma retrospectiva das principais ações da Associação nos dois últimos anos. Destaque para a evolução do programa Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne), a consolidação de importantes parcerias, as missões a diferentes países e os seminários nacionais. “Com alavancas e pontos de apoio, podemos mover a sociedade brasileira para um sistema de inovação e tecnologia”, afirma Plonski, em entrevista exclusiva
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BALANÇO P OR COR A DI A S
O ponto de apoio da inovação brasileira
Criada três anos depois de o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) instituir o Programa de Parques Tecnológicos, em 1984, a história da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) está diretamente atrelada ao movimento inovador do país. Hoje, com 24 anos, a Associação acumula conquistas, mas se depara também com novos desafios, tendo sempre como objetivo criar gerações de empreendedores que tenham a inovação e a globalização em seu DNA. Para isso, a Anprotec articula novas políticas públicas de incentivo, desenvolve workshops, seminários nacionais, missões internacionais, programas de certificação de incubadoras e, inclusive, um curso de especialização em Gestão de Habitats de Inovação. Atualmente, a Associação agrega 261 entidades, que representam, além de incubadoras e parques do país, instituições governamentais e privadas que também fazem parte desse movimento inovador. Para desenvolver suas atividades, a Anprotec conta com parcerias firmadas com importantes agentes da inovação no Brasil, como o Sebrae e o Ministério da Ciência, Tencologia e Inovação (MCTI). Como fruto desse trabalho, o movimento das incubadoras de empresas no país teve uma taxa expressiva de crescimento na última década, com uma média de 25% ao ano. Atualmente, cerca de 400 incubadoras brasileiras apoiam 6,3 mil empresas, gerando até 33 mil empregos diretos. Em um movimento contrário ao que ocorreu em outros países, o Brasil desenvolveu e amadureceu suas incubadoras, para depois criar parques tecnológicos. Esses verdadeiros habitats de inovação atraem, cada vez mais, centros de pesquisa e desenvolvimento de multinacionais, ganhando o cenário internacional. De acordo com um levantamento feito recentemente pela Anprotec, o país tem hoje 74 projetos de parques tecnológicos, sendo 25 em operação. Para entender melhor como a Associação atua no incentivo ao empreendedorismo inovador no país, a Locus preparou uma reportagem especial, destacando as principais ações da entidade nos últimos anos. Ao final, uma entrevista com o presidente Guilherme Ary Plonski resume as conquistas e os desafios do movimento.
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BALANÇO
Gestão de qualidade Ao longo dos últimos anos, a Anprotec reforçou a ideia de que para as incubadoras apoiarem empreendimentos nascentes com eficácia, é preciso buscar a excelência na própria gestão. Para contribuir com essa busca, a Associação, em parceria com o Sebrae, desenvolveu o Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne), um programa de certificação focado em atestar a qualidade das incubadoras nacionais. O programa propõe um novo modelo de atuação dessas instituições, que visa ampliar a capacidade de gerar, sistematicamente, empreendimentos inovadores bem-sucedidos. Com o objetivo de aumentar qualitativa e quantativamente os resultados do segmento, a Anprotec aspira que a certificação seja similar a outros programas consagrados, como ISO 9000, que atesta qualidade, e a ISO 14000, que certifica a adequada gestão ambiental. Assim, o Cerne foi concebido a partir da análise do modelo de atuação americana dos Small Business Development Centers (SBDCs), que prioriza a aceleração do crescimento das empresas, e do exemplo europeu dos Business Innovation Centers (BICs). A primeira etapa do programa, iniciada em 2010, foi a realização de workshops de nivelamento, para preparação e formação dos chamados multiplicadores e consultores. São os agentes que atuarão no suporte à implantação do Cerne nas incubadoras. O multiplicador está representado pelo gestor da incubadora ou profissional da área. Já o consultor pode ser associado à empresa ou um profissional que presta assistência às incubadoras na implementação dos processos do programa. São os consultores que preparam as incubadoras para o credenciamento. No ano passado, foram realizados workshops de nivelamento em Belém, Recife, Brasília, Florianópolis e Rio de Janeiro. Ao todo, foram sete turmas, com 182 participantes, que passaram por capacitação de 40 horas. Além disso, estavam representadas 87 incubadoras de 18 estados brasileiros. Em 2011, além dos cursos de nivelamento, foram ini-
O Brasil conta com 400
incubadoras, que apoiam 6,3 mil empresas, gerando cerca de 33 mil
empregos
diretos. Ao todo,
25 parques tecnológicos
estão em operação no país 93
Fotos: Divulgação
BALANÇO
ciados os workshops de implantação do Cerne 1. Em função da complexidade e do número de sistemas a serem implantados, o Cerne foi estruturado como um Modelo de Maturidade da Capacidade da incubadora de gerar empresas de sucesso. Por isso, foram criados quatro níveis crescentes. A lógica escolhida para estruturar os níveis de maturidade foi organizá-los a partir de agentes norteadores. O Cerne 1, por exemplo, está ligado ao empreendimento, o Cerne 2, à incubadora, e assim por diante (veja ilustração). A preparação de consultores e multiplicadores é o primeiro passo para iniciar o processo de certificação das incubadoras, que serão auditadas para avaliar se estão cumprindo todas as normas propostas pelo modelo. De acordo com a superintendente executiva da Anprotec, Sheila Pires, as incubadoras associadas à Anprotec não são obrigadas a obter a certificação. “Mas como acontece com a ISO, ser Cerne trará um diferencial para as incubadoras e despertará interesse das entidades de fomento, que poderão exigir que determinada instituição seja credenciada para receber determinado tipo de apoio”, explica. A expectativa da Anprotec, assim, é que a adesão ao programa seja cada vez mais intensa por parte
Workshops de implantação do Cerne 1 reuniram 182 participantes
das incubadoras. Gestores mais capacitados Em complemento ao Cerne, também com o objetivo de aprimorar a gestão das entidades associadas, a Anprotec desenvolveu, sob a forma de um curso de especialização, o Programa de Capacitação em Gestão de Habitats de Inovação (veja matéria na página 83). Com 500 horas/aula, a primeira edição do programa, iniciada em 2010, foi aplicada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), da Universidade de São Paulo (USP). A turma inaugural do programa contou com 19 alunos. Além do Sebrae, foram parceiros da Anprotec no desenvolvimento do programa o CNPq, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), através do Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (PNI).
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BALANÇO
Entre os diversos e importantes parceiros da Anprotec na promoção do empreendedorismo inovador, um se destaca pela intensidade e complementariedade das ações desenvolvidas em conjunto: o Sebrae. De acordo com o presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski, a parceria estabelecida entre as duas entidades tornou-se cada vez mais forte devido à consonância de objetivos:
Parceria consolidada
apoiar o desenvolvimento de micro e pequenas empreDivulgação
sas brasileiras. Entre as principais atividades realizadas em conjunto, além do Cerne e do Curso de Especialização em Gestão de Habitats de Inovação, citados anteriormente, o Programa de Cooperação Técnica estabelece diversas ações. Encontros regionais de inovação, o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, as publicações voltadas para o movimento, como a Locus, a promoção da cooperação internacional e a atuação em segmentos estratégicos são outros exemplos dessa parceria. Movimento global Ciente de que as empresas, além de inovadoras, precisam nascer globais, a Anprotec tornou as missões internacionais, cada vez mais frequentes, uma grande opor-
Integrantes da comitiva brasileira em missão internacional a Israel
tunidade para que gestores de incubadoras e parques, além de representantes de outros agentes da inovação, conferissem de perto os modelos bem-sucedidos na área. Nos últimos anos, a Associação organizou viagens
Parques Tecnológicos da Associação Internacional de
para os Estados Unidos, Israel, Finlândia, Noruega e
Parques Tecnológicos (IASP). Com 56 integrantes, os
Dinamarca. Esses países desenvolveram diferentes sis-
brasileiros formaram a maior delegação estrangeira da
temas de inovação e apresentaram experiências enri-
conferência.
quecedoras, que poderiam ser replicadas e adaptadas à realidade brasileira.
Não à toa, o Brasil tem sido destaque no movimento inovador internacional: o presidente da IASP, por
Em 2011, por exemplo, os participantes da missão
exemplo, é Mauricio Guedes, ex-presidente da Anprotec
internacional puderam conhecer parques tecnológicos
e atual diretor do Parque Tecnológico da Universidade
e incubadoras da Finlândia, Suécia e Dinamarca. A co-
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, a confirma-
mitiva brasileira reuniu 46 pessoas, entre gestores de
ção de que a Conferência da IASP em 2013 será realiza-
parques científicos e incubadoras de empresas, secretá-
da no Porto Digital, em Recife (PE), é outra importante
rios municipais e estaduais, além de dirigentes de órgãos
conquista do país lá fora. Para o presidente Plonski, a
governamentais de fomento e apoio ao empreendedoris-
Anprotec está ligada, mesmo que indiretamente, a esse
mo e à inovação (veja matéria na página 66). A missão
reconhecimento do país no cenário internacional do mo-
participou também da 28ª Conferência Mundial sobre
vimento.
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BALANÇO
Seminários Nacionais: encontro e reflexão
Promovido anualmente pela Anprotec, em parceria com o Sebrae, o Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas tornou-se o maior evento desse segmento realizado na América Latina. Por meio de minicursos, palestras e debates os participantes têm a oportunidade de trocar experiências e refletir sobre os caminhos do desenvolvimento. Ao todo, cerca de 2,5 mil pessoas passaram pelas três últimas edições do evento, que foram realizadas em diferentes regiões do país. Em 2008, o Nordeste abrigou o Seminário, em Aracaju (SE). No ano seguinte, o evento foi para o Sul, com a edição realizada em Florianópolis (SC), junto ao 3º infoDev Fórum Global de Inovação e Empreendedorismo. Em 2010, foi a vez do Centro-Oeste sediar o Seminário, na cidade de Campo Grande (MS). Neste ano, o encontro volta ao Sul, agora em Porto Alegre (RS). Confira abaixo os números das
Fotos: Divulgação
duas últimas edições.
XX Seminário - 2010 - Campo Grande (MS) - 671 inscritos - 25 estados + 8 países estrangeiros - 138 artigos - 69 pôsteres - 9 minicursos + 2 workshops - 8 plenárias + 3 apresentações especiais - 6 sessões técnicas paralelas
XIX Seminário - 2009 - Florianópolis (SC) - 1077 inscritos - 76 países estrangeiros - 103 artigos - 10 minicursos + 2 workshops - 11 plenárias - rodada de negócios
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BALANÇO
Que balanço o senhor faz do tempo em que esteve à frente da Anprotec? Quais foram os principais avanços do movimento nesse período?
Entrevista
O balanço, de forma geral, é positivo. O empreendedo-
Guilherme Ary Plonski
rismo inovador no país se consolidou e se fortalece cada vez mais. Já estava consolidado com uma política importante de redirecionamento para o país, que se configura não apenas como uma tendência formal. No período recente, o Plano de Ação 2007 - 2010, conhecido por PAC da Ciência, deu ao tema caráter estratégico, apresentando um capítulo relativo ao apoio à inovação nas empresas. Há, também, um capítulo voltado às pequenas empresas, que resultou, por exemplo, no Programa Primeira Empresa Inovadora, o Prime, executado pela Finep. O segundo ponto de registro institucional positivo é que houve um esforço de articulação da Anprotec com dirigentes de entidades governamentais e privadas, para apoio aos parques tecnológicos. Isso se materializou em 2009 com o Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (PNI). No nível de consolidação institucional, temos esses dois exemplos. Focalizando nossos associados, nossos mecanismos, o ponto alto foi o avanço conquistado pelo Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne), com apoio, principalmente, do Sistema Sebrae.
A falta de cultura inovadora do brasileiro foi sempre muito criticada. O senhor acha que isso foi aprimorado em algum
Como o senhor avalia o movimento do empreendedorismo inovador do Brasil em âmbito internacional?
sentido? Há um encantamento em torno disso. É claro que não
Podemos destacar o avanço expressivo de várias entida-
podemos generalizar, mas existe sempre uma referência à
des que se tornaram referência não apenas nacional, mas
palavra inovação. Temos movimentos de inovação há déca-
também internacional. É caso do Porto Digital no Recife (PE)
das, como os que acontecem na Anprotec, Anpei [Associa-
– apenas para citar um de outros muitos exemplos –, que
ção Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Empresas
atraiu a Conferência Internacional da IASP em 2013. Algo
Inovadoras] e ABDI [Agência Brasileira de Desenvolvimento
que também está ligado indiretamente à Anprotec é o fato
Industrial], por exemplo. Hoje, a sociedade, de forma geral,
da presidência da IASP ter sido assumida por um brasileiro,
está tomando consciência da importância do tema. Existem
conselheiro da Associação, Mauricio Guedes [diretor do Par-
novos participantes nessa discussão, como a Confederação
que Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro].
Nacional da Indústria (CNI) que, em 2009, criou a Mobiliza-
Além disso, o terceiro Global Fórum, do Banco Mundial foi
ção Empresarial pela Inovação (MEI).
realizado em conjunto com o Seminário Nacional de Parques
O encantamento que citei anteriormente é o seguinte:
Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, em 2009, na cida-
vemos a palavra inovação nos anúncios de qualquer tipo de
de de Florianópolis (SC), o que mostra a relevância do Brasil
produto, seja carro, apartamento, sopa. Produtos totalmen-
para o movimento no âmbito internacional.
te corriqueiros – como a sopa em tabletes que você com-
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BALANÇO
pra para derreter em água quente – usam o argumento da
de atração de centros de pesquisa de empresas multinacio-
inovação. É uma palavra atraente. Então, é importante apro-
nais. Além disso, tentamos incentivar a capacitação do movi-
veitarmos esse encantamento, a fim de transformar isso em
mento fora do país, através do que chamamos de incubação
benefício para a sociedade. Trazer uma forma de solucionar
cruzada, por meio de um projeto que desenvolvemos com a
os desafios que o Brasil ainda tem, nos campos social, econô-
ApexBrasil [Agência Brasileira de Promoção de Exportações
mico e ambiental. O importante é aproveitar esse momento.
e Investimentos] e também com a ABDI, para internaciona-
O encantamento chega, mas um dia vai embora. Então te-
lização de pequenas empresas. Há um espaço importante
mos que fazer disso algo pragmático. A conquista de recursos
ainda não muito explorado nesse sentido. É preciso iniciar
mais volumosos para inovação, tanto por parte do governo,
a inserção dessas empresas nas cadeias de valor, como a de
quanto da iniciativa privada, são exemplos disso. É aí que
petróleo e gás. Há o discurso de que o Brasil já está pronto
aparecem as ações da Anprotec. Arquimedes dizia que com
para participar da economia do conhecimento. Quando isso
uma alavanca e um ponto de apoio você pode mover o mun-
se concretizar também na prática, nós seremos ainda mais
do. Eu posso adaptar essa frase e dizer que com alavancas
vitais para a economia global.
e pontos de apoio, eu moverei a sociedade brasileira para um sistema de inovação e tecnologia. No caso, os pontos de
O que a presidência e a liderança da Anprotec trouxe de
apoio são as incubadoras e parques tecnológicos. As alavan-
bagagem para o “professor Ary”?
cas, o incentivo de mais recursos.
Três coisas. Em primeiro lugar, enorme alegria. Eu tenho um prazer muito grande em fazer conexões entre pessoas
Em que ponto o senhor gostaria que o movimento tivesse
e instituições, e a Anprotec é uma plataforma maravilhosa
avançado mais e não foi possível?
nesse sentido. Conheci uma infinidade de pessoas, inicia-
Existem fatores externos e fatores internos. A Anprotec
tivas e instituições e pude – não por obrigação, mas como
também precisa inovar, já que trabalha e defende inovação. As
algo que me dá pessoalmente muito prazer – exercer isso de
estratégias que adotamos são feitas cotidianamente pelos di-
uma forma incrível, não só no plano nacional, mas também
rigentes de incubadoras e parques tecnológicos. Inovação não
internacional. Eu diria que é um privilégio estar na direção da
é um processo técnico, é um processo sociotécnico. Esse é um
Anprotec. Como o nosso país ainda é presidencialista, temos
ponto interno. Um fator externo é a inadequação do marco
essas oportunidades com mais intensidade estando na pre-
legal do país para o tema da inovação. Não há uma prontidão
sidência. Eu fiquei muito feliz, agrada-me muito esse tipo de
adequada para isso. Há um código sobre inovação que está
papel. Pude exercê-lo e, com certeza, terei saudades.
tramitando agora no Congresso que certamente ajudará, mas
O segundo aprendizado foi reforçar a essencialidade da
ainda há muito que avançar. Há outras questões, por exem-
combinação entre inovação e empreendedorismo como as
plo, a efemeridade da administração pública que, em alguns
faces de uma mesma moeda. Eu sou professor universitário e
de seus organismos, com a troca de pessoas, tem mudanças
tive a oportunidade de intensificar meus estudos e pesquisas
completas de posicionamento a respeito de orientações. Isso
sobre isso, ao mesmo tempo em que exercia o papel de agente
requer, muitas vezes, uma nova abertura de diálogo, uma nova
da articulação do empreendedorismo e inovação como faces
conversa. A troca muito rápida de gestores afeta as políticas.
da moeda do desenvolvimento. Pude unir a teoria à prática.
Diante dos desafios da nova economia que vemos surgir, o
gestor. Como em toda organização, deparamo-nos com desa-
papel das incubadoras e dos parques tecnológicos tende a
fios na Anprotec. Poder ser gestor de uma instituição voltada
alterar?
ao benefício da sociedade foi um ganho pessoal muito grande.
O terceiro aprendizado faz parte da trajetória de qualquer
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A participação do país na economia global tem se tornado
Como professor na universidade, que é a essência da minha
cada vez mais relevante. Reflexo disso é, por exemplo, o fato
atividade nas últimas décadas, eu hoje tenho uma riqueza de
de parques tecnológicos nacionais funcionarem como polos
exemplos, de situações, absolutamente maravilhosa.
Programa de Capacitação
CERNE 2011 Workshop de Nivelamento Cerne 07/11/2011 – Manaus 07/11/2011 – Foz do Iguaçu
Valores • Multiplicador (gestor de incubadora associada à Anprotec): R$ 250,00 • Consultor: R$ 400,00
Inscrições até o dia 30/10/2011 Obs.: Os participantes que fizeram o Workshop de Nivelamento Cerne realizado em 2010 nas cidades de Belém, Brasília, Florianópolis, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro precisam se inscrever
Curso de Implantação do Cerne 1 Escolha uma das datas e local que melhor lhe atende.
Dias 08 e 09/11:
Dias 29 e 30/09:
Dias 04 e 05/10:
Manaus Foz do Iguaçu
Natal Goiânia
São Paulo
(encerrado)
• Multiplicador (gestor de incubadora associada à Anprotec): R$ 350,00 • Consultor: R$ 600,00
Requisito Obrigatório: ter participado do Workshop de Nivelamento Cerne
Inscrições até o dia 21/09/2011 Saiba como participar no link www.anprotec.org.br/cerne2
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A Nova Competitividade dos Territórios 24 a 28 de outubro, 2011, Porto Alegre-RS
www.seminárionacional.com.br
Realização
Apoio
Apoio Institucional
100
Organização local