LOCUS Ambiente da inovação brasileira Ano XIX | no 76 | Agosto 2014
A cHINA AVANÇA O país que fornece manufaturados para todo o mundo aposta na inovação para garantir competitividade. Na linha de frente, parques tecnológicos e incubadoras abrigam cerca de 130 mil empresas, que geram mais de 12,7 milhões de empregos. Números que impressionam tanto quanto a capacidade de planejamento do gigante asiático
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Financiamento coletivo alavanca projetos de startups
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Mercado de design atrai empresas do movimento
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Um novo caminho para formação de gestores de ambientes de inovação
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Inovação
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CARTA AO LEITOR|
LOCUS Ambiente da inovação brasileira Ano XIX ∙ Agosto 2014 ∙ no 76 ∙ ISSN 1980-3842
A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) Conselho Editorial Luís Afonso Bermúdez (presidente) Josealdo Tonholo Marli Elizabeth Ritter dos Santos Mauricio Guedes Maurício Mendonça Coordenação Débora Horn Edição Bruna de Paula e Débora Horn Reportagem Andréia Seganfredo, Bruna de Paula, Cora Dias, Daniele Martins, Daniel Cardoso, Mauricio Frighetto e Pâmela Carbonari Jornalista responsável Débora Horn MTb/SC 02714 JP Direção e edição de arte Bruna de Paula Revisão Sérgio Ribeiro Foto da capa Shutterstock
Produção Impressão Athalaia Gráfica e Editora Tiragem 2.500 exemplares
Presidente Francilene Procópio Garcia Vice-presidente Jorge Luís Nicolas Audy Diretoria Francisco Saboya, Ronaldo Tadêu Pena, Sérgio Risola e Tony Chierighini Superintendência Sheila Oliveira Pires Endereço SCN, quadra 1, bloco C, Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211 Brasília/DF - CEP 70711-902 Telefone: (61) 3202-1555 E-mail: revistalocus@anprotec.org.br Website: www.anprotec.org.br Anúncios: (61) 3202-1555
N
a última edição da Locus, celebramos o aniversário de 30 anos do movimento de empreendedorismo inovador no Brasil. Comemoramos a data simbólica, pois muito nos orgulha olhar para trás e ver o quanto nosso país mudou nesse período e a importante função que parques tecnológicos e incubadoras de empresas vêm desempenhando para essa transformação. As conquistas, porém, não nos eximem de ampliar o horizonte e comparar o contexto brasileiro com o de outros países, em especial aqueles em desenvolvimento. Com esse intuito, uma comitiva liderada por Anprotec e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação desembarcou na China no primeiro semestre deste ano, para mais uma importante Missão Internacional. A dimensão do que os participantes encontraram e o potencial latente motivaram a matéria de capa desta edição, dedicada a apresentar um panorama do sistema de inovação chinês. Embora impressionantes, pelo volume e impacto, os números relativos a parques e incubadoras da China tornam-se facilmente compreensíveis quando, considerada a grandeza do país – em território e população –, identificamos os fatores que por lá constroem o caminho do desenvolvimento. Mestres do planejamento e obcecados por resultados, os chineses investem cada vez mais em educação, ciência e tecnologia. Nesse contexto, os ambientes de inovação integram um sistema em que universidades e centros de pesquisa, governo e empresas atuam em sinergia. Sabemos que, assim como o Brasil e outras tantas nações, a China tem um futuro repleto de desafios. Seu modelo de desenvolvimento, ancorado em mão de obra barata e degradação ambiental, parece pouco sustentável no longo prazo. Ciente dos riscos, o país agora se mobiliza para gerar um novo ciclo de crescimento. É o que, de certa forma, precisamos vivenciar também no Brasil. Reconhecer as falhas do modelo vigente, traçar planos inteligentes e perseguir resultados de forma efetiva. O movimento de empreendedorismo inovador quer e pode contribuir ainda mais, como mostram as diversas matérias desta edição e a história construída nas últimas três décadas.
Apoio
Boa leitura! Conselho Editorial 4
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|ÍNDICE
20 |
ESPECIAL
Com crescimento de 7,7% ao ano, a China foca na inovação para retomar o ritmo da economia ostentado há alguns anos. Entenda como a combinação entre políticas públicas assertivas, educação de qualidade e parques tecnológicos cada vez mais atuantes pode alçar o gigante asiático ao posto de primeira potência econômica mundial até 2030.
6 | ENTREVISTA |
10 | EM MOVIMENTO |
28 | HABITATS |
O presidente do CGEE, Mariano Laplane, fala dos desafios da competitividade brasileira em tempos de desindustrialização
Os preparativos para o Seminário Nacional, a importância do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, os finalistas do Avance!, a aprovação do Supersimples e as notícias dos associados da Anprotec
Fundamental à consolidação de parques tecnológicos e incubadoras de empresas, a formação de profissionais para liderar esses ambientes é a nova fronteira do movimento
41 | INVESTIMENTO |
45 | GESTÃO |
36 | NEGÓCIOS |
O equity crowdfunding abre a possibilidade de qualquer pessoa investir em alguma ideia ou empresa nascente, beneficiando startups
Empresas vinculadas a incubadoras e parques tecnológicos estão cada vez mais voltadas ao mercado externo. Os resultados de quem já atua fora do país revela rotas animadoras
Formados em sua maioria por empreendimentos de pequeno porte, os diversos campos do design se fortalecem como diferencial competitivo para novos produtos e serviços
16 | SUCESSO | Conheça a trajetória da TMED, empresa graduada pela Incubadora do Instituto Tecnológico de Pernambuco que encontrou seu lugar no mercado de saúde
31 | OPORTUNIDADE | O segmento de moda ganha força pautado pelo poder da internet e das redes sociais. Conheça as iniciativas de pequenos empreendedores que lançaram soluções criativas no setor
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Divulgação/CGEE
MARIANO LAPLANE
P
esquisador por vocação, com uma longa trajetória acadêmica, o cientista social Mariano Laplane está desde 2011 à frente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social
supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Nascido na Argentina, Laplane concilia os trabalhos na sede do CGEE, em Brasília, com aquela que diz ser a experiência mais enriquecedora: dar aula. O professor, como é chamado por todos no Centro, ingressou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no início dos anos 1980 como aluno de doutorado em Economia e está lá desde então, agora como docente. O CGEE é parceiro da Anprotec na busca pela consolidação do Sistema Nacional de CT&I e subsidia o MCTI nos processos de tomada de decisão a partir da produção de pesquisa e conhecimento. Em entrevista à Locus, Laplane fala sobre a competitividade brasileira, a conjuntura econômica e a impor-
tância da inovação para o desenvolvimento.
COR A DI A S 6
ENTREVISTA: |Mariano Laplane LOCUS > O senhor trabalhou na produção do Estudo da competitividade da indústria brasileira no início da década de 1990. Quais foram as principais mudanças em relação à competitividade nacional nessas duas décadas?
Mariano Laplane > Nesse estudo tentamos contrapor nosso ponto de vista ao que era, naquela época, a visão predominante, de que a competitividade dependia basicamente da eficiência nas empresas. A gente, reconhecendo que isso era parte do problema, queria mostrar que existiam outras dimensões tão importantes quanto. Trouxemos para o debate algo que depois virou senso comum, que era o conceito de competitividade sistêmica. Não adianta a empresa ser eficiente se ela não conta com uma infraestrutura, por exemplo, de telecomunicações, energia, transporte, que leve essa competitividade de dentro da fábrica para fora, principalmente para o mercado mundial. Além disso, a empresa não atua sozinha. Faz parte de um determinado setor, tem concorrentes e fornecedores. Há uma estrutura de mercado no qual a empresa atua que pode fazer com que parte da sua eficiência seja perdida ou compensada. Então, nós falamos também de competitividade estrutural. Fizemos esse estudo e chegamos ao diagnóstico de que o Brasil tinha problemas nas três dimensões. Existiam setores competitivos e outros pouco competitivos, mas, na média, nós tínhamos um déficit. O que preocupava, porque o Brasil abria sua economia e era preciso atacar esses déficits.
E como está a competitividade
Eu diria que nós aumentamos, na média, nossa competitividade. O Brasil tem uma in-
do Brasil hoje?
dústria mais competitiva nas três dimensões: as empresas são mais eficientes do que eram, as estruturas de mercado são um pouco mais eficientes do que eram e nossa infraestrutura também melhorou. Vinte anos atrás tínhamos um seríssimo déficit de telecomunicações e hoje em dia o Brasil é um país que tem mais conectividade no mundo, pelo menos por telefone. É caro e temos o maior custo, mas melhorou. Em outras coisas não saímos do lugar, como em relação a ferrovias, por exemplo. No caso da energia, no início dos anos 1990 era barata, limpa – fonte hidrelétrica – e um fator de competitividade. O custo baixo trouxe para o Brasil, durante os anos 1970, indústrias intensivas no consumo de energia elétrica. O Brasil é hoje um país de energia cara. A falta de investimento foi o que provocou um estrangulamento [referindo-se ao apagão do início dos anos 2000]. Para compensar o apagão, o Brasil diversificou as fontes de energia. Do ponto de vista das empresas, a competitividade deu um salto gigante. E as estruturas de mercado são um pouco mais eficientes.
Um estudo recente lançado
Não podemos dizer que a indústria encolheu. Ela é maior do que era antes, mas a
pelo CGEE – Desafios ao
economia brasileira cresceu mais. O Brasil é um país que exporta recursos naturais
desenvolvimento brasileiro:
e hoje acrescentou mais um que não tinha, o petróleo. Isso traz algumas distorções
uma abordagem social-desenvolvimentista – coloca a nossa estrutura produtiva como o maior desafio. O texto discute a possibilidade de uma desindustrialização ou reorganização regressiva da estrutura produtiva. Como o senhor avalia esse cenário?
estatísticas, que fazem parecer que a indústria encolheu. A economia, puxada pelo petróleo e pelo agronegócio, cresce mais. A indústria cresce, mas mais devagar. Uma coisa é ficar para trás; outra coisa é andar para trás. O processo de especialização regressiva, de perda de fôlego da indústria, é reflexo desse paradoxo que eu mencionei anteriormente. Não é que nós pioramos. Nós melhoramos, mas não o bastante. Exportamos mais commodities, mais produtos primários, com algum grau de transformação e com muita tecnologia incorporada, do que produtos manufaturados porque toda a produção industrial e o comércio de manufaturados no mundo mudou completamente. Tivemos um processo de industrialização dos países asiáticos – primeiro foi o Japão, depois a Coreia e agora China, Vietnã, Malásia e Indonésia. A Ásia 7
ENTREVISTA: Mariano Laplane| é hoje o polo industrial que fornece manufaturados para o mundo. Não foi apenas o Brasil que perdeu produção industrial e se desindustrializou. Os Estados Unidos e a Europa também. Nós temos déficit de competitividade não só em relação aos países desenvolvidos, mas também em relação aos países asiáticos.
E como podemos reverter
Não é algo que dependa somente das empresas, ou do governo: é preciso uma
esse cenário?
certa cumplicidade entre esses dois atores. É evidente que o governo tem um papel insubstituível, porque define políticas, regula mercados e o investimento público é insubstituível. Assim como as decisões da empresa – ir atrás do que parece ser uma oportunidade de negócio, definir um plano de negócios viável e colocar o seu capital em risco também são insubstituíveis. Cada um tem seu papel.
Qual é o papel desses atores
Parte da resposta de como reverter o cenário da nossa indústria passa pela inovação,
na inovação?
no sentido mais amplo que se possa imaginar. Não é somente a inovação técnica, como trocar uma máquina velha por uma nova. É inovação na maneira de gerir a empresa, de se relacionar com seus fornecedores, de fazer seu produto chegar ao consumidor. Nesse sentido, o papel da iniciativa privada é identificar as oportunidades de negócio mais rentáveis e imaginar maneiras de capturá-las, trazendo emprego, produção e exportação para o Brasil. O papel do Estado, além de cuidar da competitividade sistêmica e de manter o espírito de competição vivo (com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica [CADE] e outras agências que defendem a concorrência), é o de coordenação. O Estado deve dizer, por exemplo, por meio das suas políticas, se quer mudar a matriz energética. Ele tem que oferecer garantias de que não faltará energia nos próximos 20 anos. Além disso, o Estado, às vezes, é obrigado a inovar e a inovação pública também faz parte do segredo para sair da situação em que estamos e reduzir o déficit de competitividade. A própria inovação nas políticas é importante. O Bolsa Família, por exemplo, ao disponibilizar cartões, promoveu, entre outras coisas, um grau de informatização da sociedade brasileira fantástico. O mesmo ocorreu com o programa Ciência sem Fronteiras: o estudante sai daqui com o cartão do CNPq, não abre conta em lugar nenhum. Isso é uma inovação fantástica. E o Brasil era obrigado a inovar, porque não tinha como passar de seis mil bolsistas no exterior para 40 mil por ano sem fazer uma inovação gerencial.
O estudo do CGEE aponta
Nós temos setores competitivos, como já tínhamos lá atrás, apoiados nas nossas
como um dos caminhos para
vantagens – uma combinação de recursos naturais com experiência acumulada no
atenuar essa regressão o
campo tecnológico. No agronegócio, por exemplo, temos a Embrapa com 40 anos,
investimento em setores em que o Brasil apresenta vantagem competitiva em relação a seus concorrentes. A seu ver, quais são esses setores? 8
modelos de gestão e de negócios muito eficientes, tanto na produção como na comercialização de alimentos. Outro excelente exemplo é o minério de ferro: Carajás, com as tecnologias desenvolvidas pela Vale e seu modelo de gestão. Acho que vamos ser imbatíveis também no setor de petróleo. Assim, temos setores em que o Brasil combina experiência empresarial, acúmulo de tecnologia e matéria-prima barata e de qualidade. O grande desafio é conseguir obter o mesmo sucesso em outros setores que são mais dinâmicos e que mais crescem no mundo, como as TICs [tecnologias da
ENTREVISTA: |Mariano Laplane informação e comunicação] e a indústria farmacêutica. São nelas que estão os melhores negócios, onde se acumula capital mais rápido e onde são gerados empregos de maior valor e salários mais altos. A nossa vantagem é que em muitos desses negócios, como nas TICs, por exemplo, o fator-chave de sucesso é a criatividade – são necessários mais neurônios e criatividade do que capital, pelo menos no início.
Qual o papel da universida-
A universidade deve dotar o país de mão de obra, de inteligência, de pessoas que sabem
de nesse processo?
aprender e ensinar. Passamos dos sete milhões de matrículas nas universidades, mas precisamos ir mais longe. Esse é o papel tradicional que a universidade faz no mundo inteiro. No Brasil, a universidade acaba tendo que substituir a pesquisa nas empresas. Fazemos ciência e um pouco de tecnologia nas nossas universidades e não apenas ciência pura. Precisamos fazer ciência aplicada muito mais do que se esperaria. Até uma parte das patentes no Brasil é feita por universidades, o que não acontece em nenhum lugar do mundo. Isso só vai mudar quando as empresas avançarem, incluindo em seus planos de negócios o incentivo à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação.
A INOVAÇÃO PODE AJUDAR A REVERTER O CENÁRIO DA NOSSA INDÚSTRIA – NÃO SOMENTE A INOVAÇÃO TÉCNICA, MAS A INOVAÇÃO NA MANEIRA DE GERIR EMPRESAS, DE SE RELACIONAR COM FORNECEDORES Como aproximar mais as
Há um dilema sobre por onde começar. Durante décadas, pensou-se que a iniciativa
empresas e as universidades
era da universidade. E, pelo menos, as grandes têm tomado iniciativas, por meio de
para promover a inovação?
escritórios de inovação, escritórios de patentes, programas do governo na rede federal, núcleos de inovação. Mas acho que a bola agora está com a empresa. O momento exige uma ação mais decidida, corajosa e ousada das empresas. Talvez o momento não seja o melhor do ponto de vista macroeconômico, já que o país está crescendo pouco. Talvez os déficits de competitividade ainda permaneçam. Então, a meu ver, isso não vai acontecer em grande escala. Precisamos passar de algumas dúzias de empresas brasileiras inovadoras para algumas centenas.
Qual o papel de parques
O papel é fundamental. Apesar de termos melhorado a nossa competitividade, ainda
e incubadoras na consoli-
temos muitas deficiências. Os parques e incubadoras criam ambientes onde alguns
dação do sistema de CT&I
desses fatores negativos são minimizados ou neutralizados. Assim, você consegue em
nacional?
alguns espaços criar vantagens positivas. Esse papel é fundamental, particularmente, para empresas no seu estágio inicial. As empresas spin-offs de universidades ou de outras empresas começam em condições muito desfavoráveis. O papel das entidades que associam, mobilizam, trocam informações e disseminam boas práticas é fundamental. Acredito que vamos chegar às centenas de empresas inovadoras – é o que precisamos nos próximos três ou cinco anos. Vamos ter uma estrutura industrial mais ou menos competitiva, mais ou menos eficiente, em função do grau de criatividade, da capacidade de imaginar, de implementar e de explorar planos de negócios inovadores. L 9
EM MOVIMENTO|
Confira as novidades sobre a programação do XXIV Seminário Nacional CT&I europeu mais visível para parceiros brasileiros e abrir possibilidades de novas cooperações na área. No dia 23, ocorre o evento com a Abvcap, que visa à capacitação das empresas ligadas aos parques e incubadoras e à aproximação com grupos de investidores. XXIV Seminário Nacional Composto por sessões plenárias e interativas, o evento, realizado A programação preliminar deta-
Os minicursos trazem importantes
conhecimento
“Fronteiras do empreendedorismo
de Parques Tecnológicos e Incuba-
e troca de experiências. Um dos
inovador: novas conexões para re-
doras de Empresas já está disponível
destaques é “Onde está o capital?”,
sultados”. Nas sessões interativas
no site do evento: www.seminariona-
curso que apresentará os principais
(técnicas paralelas, Pitch Session e
cional.com.br. Realizado por Anpro-
programas e fontes de recursos
Fórum Interativo) serão apresen-
tec e Sebrae, o Seminário acontecerá
para apoio às empresas inovado-
tados os trabalhos selecionados na
entre os dias 22 e 26 de setembro,
ras. Coordenada pelo professor de
Chamada de Trabalhos.
em Belém (PA), e o Parque de Ciência
empreendedorismo do Instituto de
A solenidade de abertura está
e Tecnologia Guamá é o organizador
Ensino e Pesquisa (Insper), Marcelo
agendada para as 18h30 do dia 23
local do evento.
Nakagawa, a atividade contará ain-
de setembro, no auditório principal
da com a presença de representan-
do Centro de Convenções e Feiras da
tes da Abvcap.
Amazônia – Hangar, quando será fei-
Para os dias 22 e 23 de setembro, quando acontece o chamado pré-
discussões,
to o anúncio dos vencedores do jogo
-evento, estão previstos minicursos,
No dia 23, acontece o Fórum
o Workshop Anprotec, o Fórum Se-
Sebrae de Inovação, no qual serão
brae de Inovação e atividades com
apresentados cases de três incuba-
A primeira sessão plenária do Se-
parceiros nacionais e internacionais,
doras que concluíram a implantação
minário, que abordará o tema princi-
como o projeto B.bice+ e o Fórum
do modelo Cerne e de três empre-
pal do evento, contará com a parti-
da Associação Brasileira de Private
sas incubadas, que apresentarão os
cipação do gerente geral do Centro
Equity e Venture Capital (Abvcap).
resultados alcançados a partir da
de Pesquisas Globais da General
Avance! (saiba mais na página 12).
O Workshop Anprotec está divi-
captação de recursos da linha de di-
Electric, Keneth Herd, e do diretor-
dido em duas sessões: “Estruturação
ferenciação do programa Sebraetec
-presidente do Conselho da Embra-
e operação de parques tecnológicos”
(Serviços em Inovação e Tecnologia).
pii, Pedro Wongtschowski. As ses-
e “Open e cross-innovation: cami-
10
nos dias 24 e 25, vai discutir o tema
lhada do XXIV Seminário Nacional
sões plenárias contarão ainda com a
nho para as incubadoras do futuro”.
Atividades com parceiros
presença de convidados como o mi-
O fórum é dedicado especialmente
Durante o pré-evento, estão pro-
nistro-chefe da Secretaria da Micro
aos associados da entidade e tem
gramadas diversas atividades no
e Pequena Empresa, Guilherme Afif
como objetivo permitir um debate
âmbito do projeto B.Bice+, como
Domingos; o secretário de Desenvol-
profundo sobre temas considerados
workshop, mesa-redonda, encontros
vimento Tecnológico e Inovação do
estratégicos para o movimento de
B2B e o Tour do Brasil – uma sessão
MCTI, Alvaro Toubes Prata, e o CEO
parques e incubadoras no Brasil.
que pretende tornar o sistema de
da EBN, Philippe Vanrie.
|EM MOVIMENTO
Prêmio Nacional reconhece destaques do movimento Promovido pela Anprotec, em parceria com o Sebrae, o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador recebeu inscrições nos últimos meses. Chegando à 18a edição em 2014, a premiação reconhece e prestigia projetos que, por meio de suas ações, serviços e produtos, fortalecem o movimento do empreendedorismo inovador no país. Reconhecimento A participação da Alta Geotecnia Ambiental, vencedora do Prêmio em 2013, trouxe um importante reco-
PRÊMIO NACIONAL
de Empreendedorismo Inovador EDIÇÃO 2014
nhecimento nacional à empresa e novas perspectivas de crescimento. Em pouco menos de um ano, a Alta, que venceu na categoria Empresa Incubada, graduou-se no
cubação da Cais do Porto, incubadora de Recife (PE),
Instituto Gênesis, incubadora da PUC-Rio, e dobrou seu
participar do Prêmio é condição necessária para todo
número de colaboradores e seu espaço físico.
projeto comprometido com o ecossistema do qual faz
Para Álvaro de Freitas Viana, fundador da Alta, a
parte, pois ele estimula o desenvolvimento de melhores
participação no Prêmio e o selo de melhor empresa in-
práticas e a busca por resultados mais efetivos de for-
cubada abriram novas portas no mercado nacional e na
ma contínua.
conquista de novos parceiros. “A Alta é hoje mais bem
A Cais do Porto venceu a edição de 2013, na cate-
reconhecida no Brasil. Conquistamos clientes fora do
goria Melhor Incubadora de Empresas Orientada para o
Sudeste. Este ano estamos trabalhando em uma ferrovia
Desenvolvimento Local e Setorial. “Para nós representa o
federal no Nordeste, fechamos contrato com uma mul-
reconhecimento de todo um trabalho em prol do desen-
tinacional na área de petróleo e gás e vencemos outras
volvimento de novos negócios capazes de gerar produtos
três licitações públicas”, comemora Viana.
de valor agregado, contribuindo para o crescimento do
De acordo com Marcos Oliveira, coordenador de in-
país por meio do empreendedorismo”, conclui Oliveira.
Divulgação
Alta Geotecnia Ambiental ganhou, em 2013, o Prêmio Nacional na categoria Melhor Empresa Incubada
DIVULGAÇÃO DE RESULTADOS Os vencedores serão conhecidos no dia 3/12, em Brasília (DF), durante o Café da Manhã Anprotec & Parceiros – evento anual no qual é feito um balanço das atividades da Associação ao longo do ano e são planejadas, junto a associados e parceiros, ações estratégicas futuras. Os premiados receberão troféus, certificados e passagens aéreas para viagens de estudos e negócios, além de R$ 60 mil.
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EM MOVIMENTO|
Participantes do Avance! passam pela primeira etapa A Anprotec divulgou a lista dos 10 finalistas que passaram para a próxima fase do jogo Avance! – que simula o dia a dia de gestores de uma pequena ou média empresa. Idealizado pela Anprotec, em parceria com o Sebrae, o jogo está sendo executado pela Incubadora de Empresas do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Desde o dia 2 de junho, 70 equipes inscritas enfrentaram desafios e tiveram que fazer tomadas de decisões típicas enfrentadas por gestores de uma pequena ou média empresa, em um mercado disputado por vários concorrentes. As rodadas criam situações que propiciam a aprendizagem e fixação de conceitos e de processos de gestão necessários à tomada de
as equipes que continuam na disputa 4WIN – Incubadora Municipal de Empresas Sinhá Moreira – Prointec Cloud Elástico – Incubadora Mackenzie – NIT DPR – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp – Incamp DreaMoney – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá – INCIT EasySubsea – Incubadora de Empresas da Coppe/ UFRJ
marketing, finanças, inovação, internacionalização e
Equipe Sunprop – Incubadora Tecnológica da Softville
recursos humanos.
GBTech – Incubadora Tecnoparque – UECE
decisões relativas a estratégia, produção, distribuição,
Os grupos que participam da disputa foram formados em empresas incubadas ou graduadas em incubadoras de empresas e parques tecnológicos associados à Anprotec. O vencedor do Avance! será conhecido durante o XXIV Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, em Belém (PA), entre os dias 22 e 26 de setembro. A equipe que obtiver a maior pon-
Invexis – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá – INCIT Rfix – Soluções Sustentáveis – Incubadora Mackenzie – NIT Union – Incubadora Municipal de Empresas Sinhá Moreira – Prointec
tuação na fase final receberá um prêmio de R$ 10 mil.
Embrapii divulga resultado de edital A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Indus-
tecnológica associadas à Anprotec, como a Fundação
trial (Embrapii) publicou em 18 de agosto o resultado
Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi)
do primeiro edital para credenciamento de novas uni-
e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e
dades de pesquisa e inovação de todo o país. Ao todo,
Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), além do Labo-
foram selecionadas 10 instituições de pesquisa tecno-
ratório de Pesquisa em Refrigeração e Termofísica da
lógica para credenciamento. Essas instituições poderão
Universidade Federal de Santa Catarina (POLO/UFSC) e
investir em projetos utilizando o selo Embrapii. A meta,
da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio
até o início de 2015, é ter cerca de 23 unidades, que
Grande do Sul (LAMEF/UFRGS).
contarão com R$ 260 milhões para desenvolvimento de projetos inovadores. Entre os selecionados estão instituições de pesquisa 12
Confira a lista completa no site da Embrapii: www.embrapii.org.br/
|EM MOVIMENTO
Sancionada Lei que altera Simples Nacional Marcelo Camargo/Agência Brasil
relacionados a advocacia, corretagem, medicina, odontologia e psicologia. A nova tabela criada pelo projeto entrará em vigor no próximo 1º de janeiro. O texto determina que pequenas empresas tenham prioridade em licitações públicas, acesso a linhas de crédito, simplificação das relações de trabalho, regras diferenciadas de acesso à Justiça e participação em programas de estímulo à inovação. Outra conquista foi o fim da chamada substituição tributária para alguns setores. Assim, as secretarias de Fazenda estaduais não poderão mais aplicar o mecanismo de recolhimento antecipado da alíquota cheia Com a sanção, novos serviços ganham o direito de aderir ao Supersimples
do ICMS pelas empresas, cujo repasse ocorre para os compradores do produto. A nova lei também possibi-
A presidente Dilma Rousseff sancionou, sem vetos, a lei complementar que universaliza o acesso do setor de
litará a redução do prazo para abertura das pequenas empresas, dos atuais 107 dias para cinco dias.
serviços ao Simples Nacional (Supersimples), regime de
O projeto manteve, no entanto, o limite de fatura-
tributação simplificado para micro e pequenas empre-
mento anual para que as empresas sejam enquadradas
sas (PLC 60/2014).
no Simples: até R$ 360 mil para microempreendedor
De autoria do deputado Vaz de Lima (PSDB-SP), a pro-
individual e até R$ 3,6 milhões para pequena empresa.
posta cria uma nova tabela para serviços, com alíquotas
Os micro e pequenos empresários interessados em
que variam de 16,93% a 22,45%. Com o acesso geral,
aderir ao Supersimples podem obter mais informações
entram no regime de tributação, por exemplo, serviços
no site do Sebrae: www.sebrae.com.br.
Prorrogadas as inscrições para o Prêmio Finep 2014 Os interessados em concorrer à edição 2014 do Prê-
gorias previstas no regulamento. Em seguida, durante o
mio Finep terão até o dia 12 de setembro para se inscre-
julgamento regional, as propostas pré-qualificadas serão
ver. Serão distribuídos de R$ 100 mil a R$ 500 mil para
avaliadas por comitês de jurados compostos por especia-
os primeiros colocados regionais e nacionais de cada ca-
listas, representantes de instituições inovadoras, do se-
tegoria, totalizando cerca de R$ 8 milhões em prêmios. A
tor empresarial e da Finep. Os vencedores de cada região
cerimônia de entrega do Prêmio acontece no fim do ano.
serão premiados em uma cerimônia conjunta, realizada
Em sua 17ª edição, o Prêmio Finep contemplará oito
no Rio de Janeiro, em novembro. Os primeiros colocados
categorias no total, sendo seis regionais e nacionais e
nessa fase concorrem à final nacional, que ocorrerá em
duas exclusivamente nacionais. Os primeiros colocados
dezembro no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).
regionais, em cada categoria, competem também na final nacional.
Prêmio Finep
Após o término das inscrições, haverá uma etapa de
O Prêmio Finep é o mais importante instrumento de
pré-qualificação, na qual será feita uma análise quanto
estímulo e reconhecimento à inovação no país. Desde
ao preenchimento do formulário, bem como ao atendi-
1998, já premiou empresas, instituições e pessoas físi-
mento ao perfil, às condições de participação e às cate-
cas. Em 2013, houve 570 inscrições. 13
EM MOVIMENTO|
Incubadora da UFRN abre 20 vagas para incubação e pré-incubação Wallacy Medeiros
nado – e cinco são para incubação, quando o apoio se dá a empresas já formalizadas. As inscrições podem ser feitas até 19 de setembro de 2014, por meio de formulário disponível no site inova.imd.ufrn.br. As propostas inscritas devem ter como objetivo o desenvolvimento de produtos ou processos inovadores em Ciência e Tecnologia da Informação. Sobre a Inova A incubadora da UFRN tem por objetivo estimular, apoiar e promover a transferência de tecnologia, a
Inova Metrópole seleciona propostas para sistema de incubação
transformação de ideias em negó-
A Inova Metrópole, incubadora
seu sistema de incubação, em duas
cios e dar suporte a empresas inova-
de empresas do Instituto Metrópole
etapas: pré-incubação e incubação.
doras, orientadas para a geração ou
Digital, da Universidade Federal do
Estão sendo ofertadas 20 vagas, das
uso intensivo de Ciência e Tecnolo-
Rio Grande do Norte (IMD/UFRN),
quais 15 são para pré-incubação
gia da Informação nas fases de ide-
publicou edital para processo se-
– etapa em que a Inova apoia em-
alização, concepção, formalização,
letivo que permitirá o acesso ao
preendedores por tempo determi-
fortalecimento e consolidação.
OUTRAS OPORTUNIDADES DE INCUBAÇÃO Incubadora de Campina Grande
Intuel
A Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, por meio da Incubadora Tecnológica de Campina Grande, abriu duas chamadas públicas para selecionar empreendimentos para integrar o processo de incubação.
A Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina (Aintec), por meio da Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica (Intuel), abriu o processo seletivo para projetos de empresas inovadoras.
Os editais, abertos até 23/9, selecionarão empreendedores com ideias focadas no desenvolvimento de produtos e serviços inovadores que se enquadrem nas áreas de tecnologia da informação e comunicação, eletroeletrônica, agroindústria, design, biotecnologia, petróleo e gás, biocombustíveis, tecnologias limpas, energias renováveis e economia criativa. Para mais informações, acesse: www.paqtc.org.br.
14
Os empreendimentos podem estar inseridos nos seguintes setores: tecnologia da informação e comunicação; biotecnologia; química fina; mecânica de precisão; e novos materiais. Serão selecionados até cinco projetos na modalidade pré-incubação. Os interessados poderão se inscrever até 26 de setembro pelo site www.aintec.com.br/intuel
|EM MOVIMENTO
CDT/UnB participa da inauguração de estação óptica russa Divulgação
A Universidade de Brasília (UnB) inaugurou, em julho, a estação óptica a laser russa (Sazhen-TM-BIS), fruto de acordo internacional de cooperação entre Brasil e Rússia. A tecnologia foi fornecida pela Roscosmos, agência espacial russa, e é a primeira integrante do Global Navigation Satellite System (Glonass), a ser implantada fora do país euroasiático. O Glonass funciona da mesma forma que a tecnologia de GPS, realizando monitoramento terrestre por meio de 24 satélites espalhados pela órbita da Terra. O Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da UnB (CDT/UnB) e a Estação Óptica localizada no Centro de Informática (CPD) são parceiros na implan-
pelo Serviço Internacional de Medições a Laser para
tação da nova estação. Além de servir aos russos, os
estabelecer e dar suporte ao Sistema de Referência Ter-
dados de medição da Sazhen-TM-BIS serão utilizados
restre Internacional.
CESAR trabalha no desenvolvimento de tecnologia para diagnóstico de câncer O Laboratório de Imunopatologia
de doença mais incidente entre a po-
tratamento pode ser iniciado antes
Keizo Asami (Lika), da Universidade
pulação feminina mundial e o diag-
mesmo de o tumor poder ser per-
Federal de Pernambuco (UFPE), e o
nóstico precoce é um grande aliado
ceptível ao toque.
Centro de Estudos e Sistemas Avança-
para o controle e o tratamento efi-
Os testes dos biossensores estão
dos do Recife (CESAR) desenvolveram
caz. Essa identificação inicial é justa-
previstos para iniciar em agosto, no
um biossensor para diagnóstico do
mente a principal função do biossen-
Hospital Barão de Lucena, no Reci-
câncer de mama. A equipe que exe-
sor – um dispositivo capaz de gerar
fe (PE). A experiência conta com a
cutou o projeto se aprofundou nos
um sinal mensurável, que identifica
participação de pacientes já diag-
campos de biologia sintética e robóti-
no paciente um marcador ativo do
nosticados, de pessoas que possuem
ca para desenvolver a nova tecnologia.
câncer que seria imperceptível por
históricos cancerígenos na família
Segundo a Organização Mundial
meio de métodos usuais, como a ma-
e também que não apresentam ne-
da Saúde, o câncer de mama é o tipo
mografia, por exemplo. Com isso, o
nhum sintoma.
Softex apresenta programas de apoio no PCT Guamá O gerente de inovação e empreen-
apresentação aconteceu durante um
cutar atividades de apoio, desenvol-
dedorismo da Associação para Promo-
evento realizado pela Softex Nacional
vimento, promoção e fomento para
ção da Excelência do Software Brasi-
em parceria com o Centro Interna-
a indústria brasileira de software e
leiro (Softex), Diônes Lima, apresentou
cional de Negócios – Federação das
serviços de TI por meio de programas
no último dia 5 de agosto programas
Indústrias do Estado do Pará (CIN-Fie-
como MPS.BR, Prosoft, TI de Impacto
de apoio para potencializar empreen-
pa) e o Parque de Ciência e Tecnologia
e Brasil Mais TI.
dimentos na área de Tecnologia da
Guamá (PCT Guamá), em Belém (PA).
Informação no mercado nacional. A
A Softex tem como objetivo exe-
Encontre mais informações sobre os programas no site www.softex.br. 15
Shutterstock
Saúde monitorada
Graduada pela Incubadora do Instituto Tecnológico de Pernambuco, a TMED teve origem na vivência pessoal de dois irmãos empreendedores. Duas décadas depois, a empresa está presente em 600 hospitais e clínicas de todo o país, oferecendo diversas soluções para conferir segurança aos cuidados dispensados aos pacientes
DA NIE L C A R D OS O E F R A NCI S C A NE RY 16
|SUCESSO
C
onforme dados do Instituto Brasilei-
Pernambuco. Foi no ambiente de incubação
ro de Geografia e Estatística (IBGE) e
que, a partir de 1995, a empresa transfor-
da Federação Brasileira de Hospitais
mou o protótipo em um produto, lançado
(FBA), o Brasil possui uma rede de 105 mil
no ano seguinte: o Bipsoro.
estabelecimentos de saúde e aproximada-
Conforme idealizado pelos empreende-
mente 465 mil leitos hospitalares. Nesse ce-
dores, o produto auxilia as equipes médicas
nário, a tecnologia tem permitido, cada vez
no monitoramento de infusões endoveno-
mais, garantir a qualidade do atendimento
sas, como soro, medicamentos e sangue. O
aos pacientes, conferindo precisão ao trata-
equipamento avisa diretamente no compu-
mento e segurança aos procedimentos das
tador do posto de enfermagem sobre o an-
equipes de enfermagem.
damento da aplicação dessas substâncias,
Desenvolver produtos de monitoramen-
alertando sobre o término, bloqueio ou
to e automatização de hospitais e unidades
variações da infusão. Diante da importân-
de saúde, a fim de tornar os ambientes e as
cia de sua aplicação, o Bipsoro foi listado
rotinas profissionais mais seguras e confi-
pela Confederação Nacional da Indústria
áveis, é o foco da TMED, empresa recifen-
(CNI) como uma das 58 mais importantes
se graduada pela incubadora do Instituto
inovações tecnológicas dos últimos anos
Tecnológico de Pernambuco. Criado em
e foi selecionado pela Associação Brasilei-
1994, o empreendimento oferece ao mer-
ra da Propriedade Intelectual (ABPI) como
cado uma série de soluções, que integram
uma das soluções inventivas mais diferen-
hardware, software e serviços para o aten-
ciadas para a ciência durante os 500 anos
dimento de diversas necessidades das insti-
do Brasil.
tuições médicas. Da incubadora ao mercado O período de incubação contribuiu para
Acompanhando o pai durante uma interna-
a estruturação e o desenvolvimento da
ção, os irmãos Luiz Portela Guerra e Amando
TMED. “A incubadora nos ofereceu a pos-
Guerra se revezavam na vigia para controlar
sibilidade de ampliar a aproximação com
o nível do soro e avisar a equipe de enferma-
o meio acadêmico e com instituições de
gem sobre a necessidade de reposição quan-
referência na área de inovação. Também
do ele chegava ao fim. A partir da situação vivenciada pela família, os irmãos pensaram em criar um aparelho que monitorasse ele-
Os irmãos Guerra: incubadora contribuiu para formação complementar dos sócios e acesso a instituições de pesquisa Divulgação
A ideia do negócio surgiu a partir de uma experiência real, dentro de um hospital.
tronicamente o nível do líquido, alertando de forma automática sobre a reposição. Além de contar com o perfil empreendedor dos irmãos, a ideia ganhou força em função da ausência no mercado, à época, de equipamentos similares ao concebido por eles. Ao identificar a demanda, os empreendedores se dedicaram à construção do primeiro protótipo do equipamento. Pouco tempo depois, o projeto venceu um concurso de inovação promovido pelo governo pernambucano. O prêmio era uma vaga na incubadora do Instituto Tecnológico de 17
SUCESSO|
tivemos acesso a editais para captação de
aprimoramento de suas soluções e buscou
recursos e contratação de mão de obra, o
parcerias com grandes multinacionais da
que foi importante para o desenvolvimen-
área de equipamentos para saúde. Foi as-
to do produto. Além disso, as capacitações
sim que, aos três anos de existência, a em-
oferecidas pela incubadora contribuíram
presa fechou parcerias com gigantes do
para uma formação complementar dos só-
setor: White Martins e Linde, fornecedoras
cios”, afirma Amando Guerra, sócio-funda-
de gases industriais. As parcerias fortale-
dor da TMED.
ceram a inserção da empresa no mercado.
A empresa deixou a incubadora em
Dona da maior estrutura comercial do país
1997, quando se lançou oficialmente ao
para o mercado hospitalar, a White Martins
mercado com a comercialização do Bipso-
incluiu alguns produtos da TMED em seu
ro. Naquela época, a TMED dedicou-se ao
portfólio, comercializando-os com as marcas conjuntas TMED – White Martins. Depois das parcerias bem-sucedidas, o
A empresa
desenvolvimento da empresa ganhou novo impulso em 2009, quando a TMED recebeu aporte de capital do Fundo Criatec, que tem
Sede: Recife (PE)
como cotistas o Banco Nacional de Desen-
Fundação: 1994
volvimento Econômico e Social (BNDES) e
Ingresso na incubadora: 1995
o Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Para
Graduação: 1997 Faturamento: R$ 4 milhões Colaboradores: 26 Investimentos em P&D: acima de 10%
conquistar os recursos, a empresa pernambucana se transformou em uma sociedade anônima (S/A) de capital fechado, o que exigiu a adoção de requisitos de governança corporativa. A mudança valeu a pena: os re-
Patentes: uma concedida e uma requerida
cursos foram investidos diretamente em ati-
Certificações: • ISO 9001 • Boas Práticas de Fabricação - BPF (Anvisa)
vidades de pesquisa e desenvolvimento, ge-
Prêmios conquistados: • 2000 - Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica • 2000 - Prêmio TOP Hospitalar • 2001 - Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica • 2001 - Prêmio TOP Hospitalar • 2002 - Prêmio Destaque Empresarial, nas categorias estadual e regional (promovido pelo SEBRAE e Grupo Gerdau) • 2002 - Prêmio TOP Hospitalar • 2002 - 1º lugar no II Concurso Sobre Inovação Tecnológica, promovido pelo Governo do Estado de Pernambuco e Sebrae • 2013 - 1º lugar nas categorias “Painéis medicinais” e “Chamada de enfermagem” do ranking nacional de marcas e produtos promovido pela Revista Hosp • 2014 - 1º lugar nas categorias “Painéis medicinais” e “Chamada de enfermagem” do ranking nacional de marcas e produtos organizado pela Revista Hosp
rando inovações e, com elas, oportunidades. Produtos diferenciados Do Bipsoro a TMED evoluiu para uma ampla gama de produtos. São três famílias de soluções, totalizando 22 produtos e serviços. Entre os diferenciais da tecnologia da TMED está a integração de diversos equipamentos em plataformas inteligentes, eficientes e seguras. Uma das linhas de produtos é a relacionada ao Monitoramento de Cuidados no Leito (MCL). O sistema, desenvolvido pela TMED, envolve equipamentos que coletam os dados captados a partir de cada aparelho integrado à plataforma e softwares que recebem essas informações, permitindo a otimização de processos de monitoramento dos pacientes, a melhoria da qualidade do atendimento, o acompa-
18
|SUCESSO
nhamento da produtividade dos funcionários e a redução de custos. A empresa também oferece um conjunto
A incubadora
de soluções para chamada de enfermagem, que facilitam o contato entre os profissionais de saúde e os pacientes. Uma das soluções de chamada desenvolvidas pela TMED é o Medvox, que auxilia a comunicação de pacientes com dificuldade de fala. O equipamento possibilita a vocalização de palavras por meio do simples acionamento, pelos usuários, de teclas, que são identificadas por símbolos. Outra plataforma de atuação da TMED são os painéis medicinais, estru-
Criada em 1990 a Incubatep – Incubadora do Instituto de Tecnologia de Pernambuco foi a primeira incubadora de empresas de base tecnológica do estado. A instituição tem como objetivo apoiar o desenvolvimento e a consolidação de empresas inovadoras de base tecnológica, contribuindo para a criação de uma cultura empreendedora e o fortalecimento da economia local, por meio do fornecimento de infraestrutura de apoio ao desenvolvimento de novos produtos e serviços. Saiba mais: www.itep.br
turas para a integração das funções eletroeletrônicas do leito e do uso de gases no Divulgação
ambiente hospitalar. Além dos equipamentos, a empresa desenvolveu um software de gestão que possibilita a identificação de todas as atividades realizadas no atendimento. Por meio do banco de dados é possível obter hora e duração do evento, identificar o profissional que realizou a atividade e emitir relatórios e gráficos gerenciais, permitindo avaliar a qualidade do atendimento, além de comparar esses índices com a média de outros hospitais. A TMED também gerou um sistema de monitoramento para empresas de atendimento em
home care que, entre outras funcionalidades, permite o envio de dados por GPRS. O desenvolvimento tecnológico da em-
estabelecidos pelo corpo médico e a equipe de enfermagem.
presa é, muitas vezes, realizado em parceria
Além do Hospital Albert Einstein, a TMED
com instituições de saúde clientes que pro-
conta com mais de 600 clientes espalhados
curam a TMED para a criação de soluções.
por todo o país, entre eles instituições de re-
Um dos clientes parceiros em inovação da
ferência como o Hospital São Luiz e o Institu-
TMED é o Hospital Albert Einstein, de São
to do Coração do Hospital das Clínicas da Fa-
Paulo. O trabalho conjunto da empresa e do
culdade de Medicina da Universidade de São
Centro de Inovação Tecnológica do hospi-
Paulo (Incor/HC/FMUSP), em São Paulo; o
tal resultou no Sistema de Monitoramento
Hospital de Clínicas de Porto Alegre e o Hos-
de Diurese, uma tecnologia sem similar no
pital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. Um dos
mundo. O sistema monitora, em tempo real,
objetivos da TMED para os próximos anos é
o volume de urina registrado nas bolsas
iniciar as vendas internacionais. A empresa
acopladas aos pacientes, identificando osci-
está em fase de planejamento junto com a
lações importantes na vazão e no volume do
White Martins para introdução dos seus produtos em outros países da América do Sul. L
líquido, de acordo com valores previamente
Linha de produção da TMED: soluções para atender demandas variadas das instituições de saúde
19
20
Shutterstock
Inovação: um negócio da China Com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 9% entre os anos de 1980 e 2004, a China segue chamando a atenção do mundo pela posição de destaque no comércio internacional. Embora o crescimento do PIB não siga o mesmo ritmo atualmente – em 2013 foi de 7,7% –, o país é a segunda maior potência econômica mundial e as projeções indicam que se tornará a primeira até 2030. Para cumprir essa trajetória, o gigante asiático tem nos ambientes de inovação aliados fundamentais
A NDR É I A S EGA NF R E D O COL A B OR AÇ Ã O : P Â ME L A C A R B ON A R I
21
ESPECIAL|
Segundo estatísticas de 2012, apresen-
fios: manter a produtividade elevada por
tadas pelo Ministério de Ciência e Tecnolo-
meio de uma economia calcada na inovação.
gia da China (MOST), o país possui 115 dos
“Mas se isso acontecer, mantendo taxas de
chamados parques nacionais, ambientes
crescimento entre 5% e 6%, será algo inédi-
que em 2011 alcançaram faturamento total
to na história”, avalia o economista Claudio
próprio de US$ 38 bilhões, PIB de US$ 470
Frischtak, membro do Conselho Empresarial
bilhões (cerca de 10% do nacional) e um
Brasil-China e presidente da Inter. B Consul-
volume de exportações de US$ 60 bilhões
toria Internacional de Negócios.
(18% do valor nacional). Os números relatiPlanejamento
vos às incubadoras também impressionam. Em 2012 havia 1,2 mil incubadoras no país,
E qual é a receita do crescimento chinês?
onde estavam instaladas 70 mil empresas
Para entender, é preciso mergulhar na his-
incubadas e mais de 45 mil empreendimen-
tória do país. Desde 1970, a China vem em-
tos já haviam sido graduados.
preendendo amplas reformas econômicas e
Os números revelam que a China se dis-
tem um histórico de planejamento que pou-
põe a enfrentar um de seus maiores desa-
cos países são capazes de ostentar. “Eles
PARQUES TECNOLÓGICOS
549
universidades
1,7 mil
institutos de pesquisa
115
parques nacionais
447
laboratórios-chave nacionais
U$S 38 bilhões
em faturamento próprio 22
10%
do PIB nacional
64 mil empresas
12,7 milhões
de postos de trabalho
|ESPECIAL
possuem uma visão de médio e de longo
atraso tecnológico, decadência econômica
prazo muito arraigada, além de um estado
e uma série de derrotas militares durante
bem estruturado, onde as coisas funcionam.
os séculos XIX e XX, Xiaoping deu início ao
É difícil apostar contra eles”, afirma Fris-
processo de abertura e reforma do país, no
chtak, que foi técnico do Banco Mundial,
final da década de 1970. Nesse contexto,
dedicando-se ao estudo sobre a implemen-
ciência e tecnologia foram definidas como
tação da inovação tecnológica na China.
áreas prioritárias, juntamente com agricul-
A percepção de que a ciência e a tec-
tura, indústria e defesa nacional.
nologia são responsáveis pelo crescimen-
O final da década de 1970 também foi
to do país nas últimas décadas foi gerada
marcado pela liberalização gradual do siste-
a partir das reformas de Deng Xiaoping,
ma de formação de preços do que era produ-
líder político da República Popular da Chi-
zido no campo, levando ao aumento da renda
na entre 1978 e 1992, que ficou conheci-
familiar e, consequentemente, da demanda de
do pelo lema “A ciência é a primeira força
bens em todo o país. Depois, foi a vez da libe-
produtiva”. Após um período de repetição
ralização do comércio exterior, antes integral-
passiva, perda da capacidade de inovação,
mente planejado e controlado pelo governo
INCUBADORAS DE EMPRESAS
45 mil
empreendimentos graduados
1,2 mil
incubadoras
70 mil
empresas incubadas
45 milhões m2 de área construída
1,4 milhões de empregos
23
ESPECIAL|
central. No começo da década de 1980 foram
tes de inovação na China foi lançada ainda
criadas as chamadas Zonas Econômicas Espe-
na década de 1980. Por meio do Programa
ciais (ZEEs), em Shenzhen, Zhuhai, Shantou e
Torch, desenvolvido pelo MOST, teve início
Xiamen, onde eram concedidos diversos in-
a implantação de parques tecnológicos e
centivos, impulsionando a criação de clusters.
incubadoras de empresas no país. Criado
Em 1984, outras 14 ZEEs semelhan-
para difundir a tecnologia chinesa no mer-
tes foram implantadas ao longo do litoral,
cado mundial, o Torch investiu na formação
atraindo ainda mais investimentos estran-
de clusters de inovação e de fundos de capi-
geiros, sobretudo na forma de joint ven-
tal para empresas inovadoras.
tures – o que proporcionou o desenvolvi-
Essa iniciativa contribuiu para trans-
mento das indústrias de tecnologia e de
formar a China no terceiro país que mais
infraestrutura. “O investimento estrangeiro
investe em Pesquisa e Desenvolvimento
na China foi muito importante em termos
(P&D), atrás apenas dos Estados Unidos e
de modernização do parque industrial, tec-
do Japão. Em 2011, mais de US$ 135 bi-
nológica e inovação, porque o governo teve
lhões foram aplicados na área – 22 % a mais
a estratégia de sempre condicionar, de cer-
do que no ano anterior. Dentre os principais
to modo, o investimento à transferência de
financiadores destacam-se os institutos de
tecnologia”, avalia Frischtak.
pesquisa do governo.
O mercado é incentivado pelo governo
O planejamento de longo prazo, a partir
com a redução ou mesmo isenção de impos-
da definição de prioridades, torna o modelo
tos em atividades de transferência de tecnolo-
de inovação chinês reconhecido mundial-
gia. Segundo dados do MOST, existem no país
mente. “Nos aspectos fundamentais de sua
441 agências de transferência de tecnologia,
formulação de políticas, os governos chine-
800 instituições responsáveis pelo registro
ses são caracterizados pela consistência e
de contratos de tecnologia e 35 mil agências
continuidade, bem como por uma incansá-
de brokering de tecnologia. Desde 2007, a
vel busca de seus objetivos”, avalia o diretor
China vende mais tecnologia do que importa.
geral da Associação Internacional de Parques Tecnológicos (IASP), Luis Sanz.
Inovação em foco A fim de compreender melhor as con-
24
Educação na base
quistas construídas pelo país na área de
Para o coordenador geral de Serviços
CT&I, bem como o modelo chinês de estru-
Tecnológicos do MCTI, Jorge Campagnolo,
turação de ambientes de inovação, a Anpro-
o investimento feito pelo país em Educação
tec e o Ministério da Ciência, Tecnologia e
é tão importante quanto o planejamento.
Inovação (MCTI) promoveram uma Missão
“Na China há muitas pessoas qualificadas
Técnica e Empresarial ao país no último
e muito mais querendo se aprimorar. É um
mês de maio. Ao todo, 38 pessoas partici-
país em ebulição, com muita vontade de fa-
param da Missão, entre formuladores de
zer, então as coisas acontecem”, afirma ele,
políticas públicas, dirigentes de entidades
que integrou a Missão Internacional.
de apoio e fomento e gestores de parques
Atualmente, a China é o país com um dos
tecnológicos e de incubadoras de empresas
maiores números de graduados do mundo
brasileiras (ver box na página 25).
na área de tecnologia. Somente nas áreas de
A capacidade de planejamento do país e
engenharia, ciências da computação e tecno-
a disciplina na execução ao longo do tempo
logia da informação são cerca de 600 mil for-
forjaram o sistema de inovação chinês. As-
mandos por ano, um número surpreendente
sim como no Brasil, a semente dos ambien-
quando comparado aos 70 mil formados nos
|ESPECIAL
Estados Unidos e aos 40 mil formados no Bra-
acima da média mundial: só em 2010 os
sil. Também na pós-graduação os números
chineses publicaram 121,5 mil artigos, o
são expressivos: enquanto os Estados Unidos
que corresponde a 8,6% do total publicado
formam 20 mil doutores por ano, a China for-
no mundo. Até 2013, 864 mil pessoas de-
ma 50 mil (com uma taxa de crescimento de
sempenhavam funções relacionadas à pes-
40% ao ano) e o Brasil forma cerca de 10 mil
quisa nas indústrias.
doutores no mesmo período. O aumento da produção científica está
As universidades mantêm certa autonomia nos projetos de P&D que desenvolvem,
MISSÃO INTERNACIONAL
Divulgação
Realizada entre 26 de maio e 6 de junho, com destino à China e à Finlândia, a Missão Técnica e Empresarial 2014 foi promovida por Anprotec e os Ministérios da Ciência, Tecnologia & Inovação (MCTI) e das Relações Exteriores (MRE), com apoio expressivo das Embaixadas Brasileiras na China e na Finlândia. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti) prestaram apoio institucional à Missão, que teve por objetivo propiciar um contato direto com a experiência exitosa dos dois países na consolidação dos sistemas locais de inovação. Representando 23 organizações brasileiras, os 38 integrantes da delegação visitaram 10 ambientes de inovação na China e outros 12 na Finlândia. “A diversidade das instituições participantes enriqueceu muito a representação brasileira, os debates e discussões realizados”, afirma o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Alvaro Prata, que integrou a Missão. Com a viagem aos dois países, o grupo pôde perceber semelhanças e diferenças na constituição dos sistemas de inovação nacionais. “Enquanto na China a busca é por modelos de desenvolvimento sustentáveis e inclusivos – e as empresas inovadoras exploram muito o potencial do mercado interno – , na Finlândia as iniciativas são voltadas ao aperfeiçoamento dos ambientes que promovem a inovação e as empresas são claramente preparadas para atuar no mercado externo”, avalia a presidente da Anprotec, Francilene Procópio Garcia. Apesar das diferenças culturais e socioeconômicas, os participantes perceberam convergências em políticas e práticas em relação ao desenvolvimento tecnológico e à inovação. “Ambos os países estão criando estruturas e ambientes que favorecem a geração de negócios e riquezas com base no avanço científico, sobretudo nas ciências naturais e nas áreas tecnológicas. Também têm estimulado muito o empreendedorismo, criando oportunidades que levam a um desenvolvimento econômico e social surpreendentes”, observa Prata. Para o secretário, esse seria um modelo a ser perseguido pelo Brasil. Segundo a presidente da Anprotec, algumas das iniciativas observadas nos dois países podem ser adaptadas à realidade brasileira. “Na China, vimos showrooms para exposição de produtos desenvolvidos por empresas instaladas em parques. Na Finlândia, visitamos ambientes que funcionavam como plataformas de apoio à concepção e à execução de serviços de alto valor agregado, a partir da integração de centros de P&D e startups”, avalia. Para Francilene, as chamadas “factories” também favorecem a inserção de produtos inovadores no mercado e podem ser desenvolvidas nos parques brasileiros.
25
ESPECIAL|
permitindo que pesquisadores sejam remu-
de 200 empresas locais altamente inovado-
nerados de forma integral por suas invenções
ras em sua incubadora, a TusStar. Essa proxi-
quando o valor for inferior a RMB 8 milhões
midade faz com que 70% das empresas, sem
(cerca de R$ 3 milhões) e utilizem até 13% da
contar as incubadas, desenvolvam algum
verba concedida a um projeto para o paga-
projeto de cooperação com a Universidade
mento de despesas com pessoal. Além disso,
Tsinghua. “A interação entre os ambientes
o governo chinês também criou um progra-
acadêmicos e empresariais nesse parque é
ma para repatriar pesquisadores que estavam
impressionante, além do modelo de gestão
no exterior, oferecendo instalações e recursos
diferenciado”, afirma o secretário de Desen-
para que abrissem empresas no próprio país.
volvimento Tecnológico e Inovação do MCTI,
De acordo com o economista Claudio
Alvaro Prata, que visitou o TusPark durante
Frischtak esses incentivos surgiram como
a Missão Técnica e Empresarial 2014.
resposta ao objetivo chinês de se aproximar
O TusPark é uma das muitas empresas afi-
das fronteiras da inovação, considerando
liadas à TusPark Holdings, que administra 30
empresas e universidades como fundamen-
parques tecnológicos temáticos espalhados
tais na geração de novas tecnologias. “Esse
pelo país. O controle dessa holding está divi-
modelo de descentralização foi imperativo
dido entre a Tsinghua Holdings – pertencente
para manter a universidade atualizada e
à Universidade Tsinghua e que também con-
atrair pessoas de grande nível. Eles chega-
trola outras empresas –, o grupo privado One,
ram à conclusão de que se a universidade
do setor imobiliário, e o grupo Gome, de lojas
fosse um ambiente burocratizado, não iria
de produtos eletrônicos. Outras empresas da
produzir o que necessitavam”, afirma. Como
TusPark Holdings são voltadas para o merca-
resultado, entre 2002 e 2008, a China pas-
do imobiliário, educação e mídia, finanças e
sou de 0,2 patentes para 1,1 patentes para
pesquisa inovadora. Do faturamento total da
cada grupo de 10 mil habitantes.
holding, 60% vem do aluguel de espaço físico, 20% de serviços e 20% de participações em
Um gigante
empresas do parque.
Por disporem de liberdade para a pes-
Divulgação
Para o economista Frischtak, as universidades, na China, deixaram de ser um ambiente burocratizado e se abriram para a inovação
26
quisa e para o empreendedorismo, as uni-
Fomento
versidades chinesas tornaram-se celeiros
Os ambientes de inovação recebem in-
de incubadoras de empresas e parques tec-
centivos do governo – as políticas de apoio
nológicos. Em 1993 foi criado o primeiro
incluem terrenos gratuitos ou subsidiados,
parque tecnológico chinês associado a uma
empréstimos, renúncias fiscais e fomento à
universidade: o TusPark, ligado à
cooperação entre empresas, universidades
Universidade Tsinghua – uma das
e centros de pesquisa. “É evidente que os
mais bem conceituadas da China,
governos chineses têm sido seletivos ao
com foco na área de tecnologia e
definir o modelo de desenvolvimento, que
mais de 40 mil estudantes.
a tecnologia e a inovação são vistas como
O parque possui uma área
dois pilares fundamentais do seu desenvol-
construída de 770 mil m2, onde
vimento e incubadoras e parques foram es-
atuam 600 empresas, que em-
colhidos como importantes instrumentos”,
pregam 35 mil pessoas e faturam
afirma o diretor geral da IASP, Luiz Sanz.
cerca de US$ 6,5 bilhões anuais. O
Um dos exemplos mais bem-sucedidos é
parque hospeda grandes compa-
o Zhongguancun Science Park, primeiro e
nhias nacionais e multinacionais,
maior parque científico da China, também
instituições de consultoria e mais
visitado durante a Missão Técnica e Em-
|ESPECIAL
Divulgação
presarial 2014. Localizado em Beijing, o Z-Park tem 488 quilômetros quadrados e abriga 25 incubadoras de empresas e mais de 400 laboratórios, centros de tecnologia e engenharia e instituições de pesquisa – incluindo 134 laboratórios nacionais. Frequentemente relacionado ao Vale do Silício, o Zhongguancun emprega 1,56 milhão de pessoas e faturou, em 2011, US$ 320 bilhões – cifra equivalente ao PIB do Chile. Projeto-piloto das políticas e mecanismos previstos no programa Torch, o parque foi criado em uma área estabelecida pelo governo como Zona Experimental de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia de Beijing (Beijing High Tecnology Industry Development Experimental Zone), onde antes havia intenso comércio de eletrônicos. Hoje, há mais de 115 Zonas Nacionais de Desenvolvimento de Alta Tecnologia em todo o país, que se especializam em diversos setores de atuação. A localização dos parques é decidida em função das vantagens competitivas ou estratégicas de cada região ou cidade. “Percebe-se a autonomia de cada am-
afirma Frischtak. Segundo o economista,
biente, em segmentos estratégicos para
essa é uma compreensão que precisa avan-
o país, mas também a busca pela devida
çar no Brasil. “Trabalhamos de forma mais
construção conjunta de um sólido e gran-
isolada que eles. É muito difícil trazer pes-
de ecossistema de inovação integrado ao
quisadores de fora, por exemplo. Para re-
espaço urbano”, avalia a presidente da
quisitar assessoria tecnológica no exterior
Anprotec, Francilene Procópio Garcia, que
pagamos muitos impostos”, avalia.
integrou a delegação brasileira da Missão
Mas nem tudo é exemplo no modelo
Técnica e Empresarial 2014. No último
chinês de desenvolvimento, marcado por
ano, a renda do Z-Park cresceu mais de
degradação ambiental e crescimento ur-
27%, chegando a cerca de US$ 500 bilhões
bano desordenado. Além de garantir que a
– valor equivalente a um quinto da econo-
economia siga em ritmo acelerado e de for-
mia de Beijing.
ma menos desequilibrada, a China tem ou-
TusPark e Z-Park: políticas de inovação sólidas contribuíram para o sucesso dos empreendimentos
tros desafios. “O principal é canalizar suas Desafios
ondas crescentes de empreendedorismo
Essa integração extrapola os limites do
dentro das principais normas de comércio
território chinês. “O país está inovando e
internacional, avançando na redução da de-
sempre olhando para fora, para quem está
pendência de mão de obra abundante e de
na fronteira do conhecimento. Sabe que a
baixo custo”, avalia o diretor da IASP, Luis
inovação resulta de um esforço múltiplo e
Sanz. Considerando a determinação chine-
não pode ser feita de maneira isolada, mas
sa, é melhor não duvidar que isso aconteça em breve. L
compartilhada, global e nacionalmente”,
27
Shutterstock
Formado para liderar
Atendendo a uma das principais demandas do movimento, a Anprotec lançou o Programa Educacional. Com um formato modular e desenvolvido em parceria com o Sebrae, o novo projeto da Associação oferece oportunidades para gestores de incubadoras de empresas e parques tecnológicos. Este ano, o Programa terá uma edição-piloto com uma turma formada por associados
COR A DI A S 28
|HABITATS
há algum tempo pelo Sistema já constata-
endedorismo inovador brasileiro
va a carência de gestores especializados,
desde que foi criado, em meados
principalmente para incubadoras, com uma
da década de 1980, é inegável. De lá para
formação específica. “Essa condição é im-
cá, muita coisa mudou. Parques tecnológi-
portante porque a nova empresa incubada
cos e incubadoras de empresas se multi-
instala-se na incubadora para aprender a
plicaram pelo país, o empreendedorismo
fazer gestão. Já não é mais possível que o
passou a ser uma via atrativa aos egressos
profissional à frente desse ambiente que
das universidades e os investidores pas-
promove inovação divida sua carga horária
saram a olhar para empresas nascentes.
com outras atividades. Estamos no momen-
Diante do atual cenário, o movimento tem
to de profissionalizar a gestão das incuba-
uma preocupação latente: a formação de
doras brasileiras”, explica. Para ele, a espe-
profissionais habilitados a atuar em am-
cialização desses profissionais contribuirá
bientes de inovação.
para a superação da rotatividade do cargo
A exigência de um perfil multifacetado,
dentro das incubadoras.
que transite com dinamismo entre o mer-
Esse último desafio é justamente o pon-
cado, as novas tecnologias e as fontes de
to crítico apontado por Rodrigo dos Passos
recursos para alavancagem de empresas,
Moreira, gestor da Incubadora de Empresas
dificulta o enquadramento dos gestores de
da Universidade Tecnológica Federal do
incubadoras e parques em programas for-
Paraná e um dos selecionados para partici-
mais de pós-graduação. “Em geral, esses
par da turma que integra a edição-piloto do
profissionais buscavam capacitação em
programa, iniciada em agosto. “A formação
diferentes áreas e adaptavam o conheci-
específica se faz necessária, uma vez que
mento adquirido à realidade de seu traba-
existe um alto turnover do profissional que
lho. Mas não havia no Brasil um programa
exerce essa função, principalmente em in-
que os atendesse diretamente”, argumenta
cubadoras presentes em instituições públi-
a presidente da Anprotec, Francilene Gar-
cas”, explica.
cia. A dirigente da Associação conjuga o
Ao traçar um perfil ideal para o gestor de
verbo no passado porque, em julho deste
uma incubadora, Lílian de Cássia, que está
ano, a situação começou a ser revertida,
à frente da Incubadora de Patos de Minas
com o lançamento do Programa Educa-
(MG), destaca a conexão entre a organiza-
cional Anprotec. Desenvolvido em parceria com o Sebrae, o Programa tem por objetivo oferecer oportunidades de formação para gestores de
Santos, do Sebrae: momento é de profissionalização da gestão das incubadoras Divulgação
A
evolução do movimento de empre-
incubadoras de empresas e parques tecnológicos, bem como para empreendedores e profissionais vinculados a instituições de fomento à inovação. “Trata-se de um programa totalmente inovador. Mais do que oferecer treinamentos, ele cria a oportunidade da construção de carreiras de sucesso a partir da aquisição de conhecimento”, afirma Francilene. Para o diretor técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, uma pesquisa realizada 29
Divulgação
HABITATS|
ção e as demandas de desenvolvi-
ao aprendizado nos módulos seguintes. A
mento local. “O profissional deve
proposta é que as turmas passem por qua-
ter uma visão de futuro para a re-
tro módulos distintos, sendo que o último
gião em que a incubadora está ins-
será para a formação de carreira de Gestor
talada, para que o ambiente auxilie
de Territórios de Inovação.
o desenvolvimento local”. Piloto Aprendizado gradual
Francilene, presidente da Anprotec: formação de líderes é um dos principais gargalos do movimento
O coordenador de projetos da
voltado à formação de gestores de incuba-
Anprotec, Carlos Eduardo Bizzot-
doras de empresas. Focado na geração e no
to, explica que, assim como outros
desenvolvimento de negócios inovadores,
programas desenvolvidos pela As-
lança mão de uma abordagem totalmente
sociação, a plataforma educacio-
estratégica, deixando aspectos operacio-
nal busca definir requisitos e co-
nais em segundo plano. Para a realização
nhecimentos fundamentais para
da primeira edição, a Anprotec formou uma
a geração e o desenvolvimento de empre-
turma especial com 25 participantes, que
endimentos inovadores no Brasil. Assim,
deverão arcar apenas com as despesas de
a proposta curricular do programa passa
transporte, hospedagem e alimentação. As
por conceitos básicos e avançados desses
inscrições foram gratuitas.
ambientes: ecossistema de inovação, pla-
De acordo com a presidente da Anpro-
nejamento e implantação de incubadoras,
tec, essa edição será muito importante
modelos de gestão de incubadoras, fato-
para o aperfeiçoamento e a adequação do
res-chave de sucesso para a gestão, atra-
Programa para atender a uma das princi-
ção e seleção de novos empreendimentos,
pais demandas do setor. “Esse é um dos
desenvolvimento empresarial, monitora-
principais desafios do movimento, cons-
mento, graduação e relacionamento com
tatado a partir do monitoramento da im-
empresas incubadas.
plantação do modelo Cerne nas incubado-
Para diversificar e atender a um núme-
ras”, explica.
ro crescente de gestores, o programa foi
O primeiro módulo desta edição do Pro-
desenvolvido por meio de um sistema mo-
grama ocorreu no Rio de Janeiro (RJ), entre
dular, ou seja, pode se adequar à deman-
os dias 11 e 15 de agosto. Durante esses
da do aluno. Assim, funciona tanto para os
cinco dias, os participantes tiveram noções
interessados em conhecer e se aprofundar
de planejamento, implantação e gerencia-
mais no movimento – passando pelos mó-
mento de incubadoras.
dulos iniciais –, quanto para os que têm a
No módulo seguinte, ministrado entre
intenção de formar uma carreira como a de
os dias 8 e 12 de setembro, em Brasília
gestor de incubadoras, concluindo todo o
(DF), os participantes entrarão em contato
ciclo do programa.
com os conceitos básicos do ecossistema
De forma geral, o programa conta com
de inovação e terão o curso de implantação
uma estrutura básica: a seleção por meio
do Cerne 1. Já o terceiro módulo da edição-
de currículos, a criação de um material
-piloto acontecerá em Florianópolis (SC),
preparatório e individual pré-módulo, as
entre os dias 27 e 31 de outubro. Duran-
aulas dos módulos (conteúdo, dinâmicas e
te essa etapa, os participantes trabalharão
avaliações) e a criação de um ambiente de
fatores-chave de sucesso sobre a implanta-
interação das turmas, que serão avaliadas
ção e o gerenciamento de incubadoras de empresas. L
individualmente para darem continuidade 30
O curso oferecido em versão piloto é
Inventando moda
O universo antes restrito a grandes marcas, estilistas e revistas especializadas vem ganhando um caráter cada vez mais democrático, pautado pelo poder da internet e das redes sociais. Os reflexos dessa transição não se restringem à forma de consumo, mas englobam também a produção e toda a cadeia de serviços relacionada ao segmento. O setor abre cada vez mais espaço para iniciativas criativas de pequenos empreendedores
P Â ME L A C A R B ON A R I E DA NIE L E M A RT IN S 31
OPORTUNIDADE|
T
oda temporada é assim. A estação
meçar um negócio do zero requer estraté-
mal começa e os estilistas já estão
gia, já que a falta de experiência com negó-
com a próxima coleção pronta e os
cios pode ser um tiro no pé até mesmo para
olhos voltados para as seguintes. O inver-
os mais talentosos criadores. Atentos aos
no ainda registra baixas temperaturas e os
riscos, alguns empreendedores acabaram
manequins vestem tendências da primave-
optando pela incubação como um ponto de
ra. Mas a lógica do mercado de moda está
partida mais seguro.
mudando. Os decretos fashion de grandes marcas, desfiles e revistas especializadas
Criatividade em alta
dividem espaço com o ambiente plural e
O Instituto Gênesis, incubadora de em-
participativo que emerge das redes sociais,
presas ligada à Pontifícia Universidade Ca-
sites e blogs.
tólica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), abriga
O faturamento do setor de moda qua-
24 empresas em processo de incubação e
druplicou nos últimos 10 anos no Brasil e,
entre os negócios relacionados à indústria
segundo a consultoria Euromonitor, chegou
criativa destacam-se projetos focados no
a R$ 40 bilhões em 2013 – ano em que a
design de joias. A Zóia é uma das incubadas
economia nacional caminhou a passos cur-
de sucesso que cresceu e tomou forma den-
tos. No mesmo ano, cada brasileiro gastou
tro do Instituto. Voltada ao desenvolvimen-
R$ 786,39 em artigos de moda e a previsão
to de produtos ligados à moda e brindes
é de que a média de 2014 seja de R$ 810,00,
corporativos, a empresa se destaca pelo uso
de acordo com estimativas do Pyxis Consu-
de materiais reciclados ou reaproveitados,
mo, ferramenta do Ibope Inteligência. Esses
aliados a processos produtivos artesanais.
dados fazem do Brasil o maior consumidor de
Em 2012, ganhou o Prêmio Brasilidade na
roupas da América Latina.
categoria Moda e Inovação, promovido pelo
Não é à toa que no programa Texbrasil
Sebrae. A Zóia distribui seus produtos em
– voltado à internacionalização da indústria
diversos pontos de venda pelo país e cria
de moda nacional e realizado pela Agência
peças para lojas multimarcas.
Brasileira de Promoção de Exportações e In-
“A economia criativa é uma área muito
vestimentos (Apex-Brasil) e pela Associação
setorizada, mas na prática trabalhar com
Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
pesquisadores e artistas é bastante pareci-
(Abit) –, das 211 empresas participantes,
do. Eles têm a ideia e estão absolutamente
129 relacionam-se diretamente a vestuário.
focados nela. Isso faz com que nós preci-
De acordo com a Apex, o Brasil está en-
semos conscientizá-los e instruí-los sobre
tre os 10 maiores mercados mundiais de
o mercado e os processos de monetização
fios, fibras, tecelagens e confecções. É o
de suas criações”, compara a gerente insti-
quinto maior produtor têxtil, com expor-
tucional de empreendedorismo do Instituto
tações de US$ 1,42 bilhão em 2011, e o
Gênesis, Julia Zardo.
segundo maior produtor e terceiro maior
A importância da orientação adequada
consumidor de denim do mundo. Além do
na hora de aliar criatividade a empreende-
destaque na área industrial, ganha espaço
dorismo também foi sentida na pele pela
também na prestação de serviços. Seguindo
empresária Isabel Muxfeldt. A técnica re-
a tendência mundial, cada vez mais startups
gional de lapidação do chifre foi adaptada
e pequenas empresas brasileiras apostam
para a moda e transformada em bijuterias
na área e conseguem aproveitar uma fatia
que ultrapassaram as fronteiras de Campo
desse mercado.
Grande (MS). Em 2008, Isabel participou de
Por mais que a maré esteja favorável, co32
uma feira de empreendedorismo em Brasí-
|OPORTUNIDADE
lia (DF) e foi orientada a procurar uma incu-
empreendedores [desse segmento] tende a
badora. Foi então que decidiu ingressar na
ser diferente, assim como as questões tri-
Interp – incubadora de empresas da Funda-
butárias e de formalização dos negócios. Do
ção Manoel de Barros (FMB) – e firmou par-
ponto de vista prático, trabalhar com indús-
ceria com a também empresária Verhuska
tria criativa é tão agradável que temos difi-
Pereira para estruturar a Joias do Pantanal.
culdades de precificar os produtos e servi-
“A incubadora amadureceu o trabalho. Não
ços. Somos participantes da concepção das
tínhamos foco, fazíamos muita coisa e aca-
ideias e de sua execução e quando os pro-
bávamos nos perdendo. Tínhamos diversas
dutos são bem aceitos (o que é frequente),
linhas de produtos e tudo isso foi ajustado
é muito gratificante”, avalia a coordenadora
dentro da incubadora. Não tínhamos nem
da incubadora, Samantha Cidaley.
mesmo um plano de negócios”, reconhece. Hoje a empresa mantém uma linha de
Originalidade
produção artesanal a partir das tendências
Dentre as cinco empresas residentes na
de moda. Cada trabalho tem a sua ficha téc-
D. Incubadora, duas se relacionam com o
nica e as vendas são feitas por atacado, com
setor de moda: a Viés Design e a Mapou-
vendedoras ou pela loja virtual.
la. Criada pela estilista Amanda Silveira e sua sócia Fernanda Lyrio, a Viés Design é especializada em soluções para ambientes
O mapeamento do que deve aparecer
de moda, sejam eles comerciais ou de pro-
nas passarelas e vitrines nas próximas
dução. A empresa, incubada desde abril de
estações é justamente o foco da Tendere,
2013, elabora estratégias para melhorar o
que acaba de se graduar pela Incubadora
posicionamento e a inserção dos espaços
Incamp, da Inova Unicamp, de Campinas
de moda no mercado. Dentre seus serviços
(SP). A empresa realiza pesquisa de ten-
estão vitrinismo, comunicação visual, pro-
dências estratégicas (trend forecasting) a
jetos para varejo e espaços de produção.
partir de realidades socioculturais de con-
Manter o foco tem sido para a Viés o maior
sumo de moda no Brasil e no Hemisfério
desafio. “Recebemos ofertas de outros seto-
Sul. A empresa também desenvolve bran-
res o tempo inteiro, mas resolvemos focar
ding para moda e marketing digital espe-
no ambiente para a moda como estratégia.
cífico para o mercado de moda. A Tendere foi incubada pela Incamp em 2011 e acaba de se graduar com mais de 10 funcioná-
As sócias da Viés, Fernanda e Amanda, trabalham com soluções para ambientes relacionados à moda Divulgação
Tendências
rios diretos. A gerente da Incamp, Iara Ferreira, é entusiasta do setor. “Estamos abertos a receber novos projetos de indústria criativa. Aceitamos projetos que se enquadram nos requisitos do processo de seleção e que contam com perfil empreendedor”, afirma. A D. Incubadora de Empresas e Negócios de Design, vinculada à escola de design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), é uma das poucas incubadoras no país voltadas especificamente para a indústria criativa. “O comportamento dos 33
OPORTUNIDADE|
Divulgação
para participar do I Mercado de Indústrias Culturais do Sul (Micsul). O evento foi realizado entre 14 e 18 de maio deste ano, em Mar del Plata, na Argentina, e a participação ajudou na divulgação da empresa no mercado latino-americano e na promoção de negócios com outras empresas dos 10 países sul-americanos participantes, além de representantes comerciais dos Estados Unidos e da Europa. “As histórias das nossas coleções são contadas a partir das viagens da nossa personagem, que é a Mapoula. Temos muitas referências étnicas de cultura, lugares pitoAndréia e Caroline, da Mapoula: relação com a universidade fortalece o negócio
Excluímos o resto do mercado com o objetivo de manter o nosso diferencial como especialistas”, afirma Fernanda. Já a Mapoula, também incubada pela D. Incubadora, da mãe e filha Andréia e Caroline Salvan Pagnan, atua na criação e no desenvolvimento de joias, acessórios e vestuário por meio da mistura de diferentes matérias-primas, como cordões, tecidos e metais, e que trazem como diferencial peças que refletem a história e o costume de povos e regiões. A empresa também oferece projetos de consultoria de moda a outros empreendimentos, tais como viabilizações técnicas do produto, análise de concorrentes, planejamento de coleção e pesquisa de tendências e púbico consumidor. “Eu e a minha filha nos formamos na
rescos, pesquisa sobre lendas, costumes e vamos agregando isso às nossas peças. Por termos esse cunho cultural, o nosso projeto foi selecionado para o edital do Ministério da Cultura, que promoveu a nossa participação no Micsul”, explica Andréia. A Mapoula trabalha principalmente com bijuterias e bolsas e chega a produzir 80 peças diferentes por mês. “O mercado da moda está saturado de produtos parecidos. Manter uma diferenciação e identidade de marca é o grande desafio”, reconhece. Conexão Em um mercado cheio de receitas prontas, manter a originalidade é um diferencial. De olho na corrida pela exclusividade, o aplicativo Itquetas promete conectar os
UEMG e optamos por começar a empresa
looks adequados aos clientes certos. A ideia
na incubadora porque sentíamos que preci-
de Miqueline Silveira ganhou um concurso
sávamos desse apoio. Estar dentro de uma
de moda na Universidade Católica de Pelo-
universidade, para nós que trabalhamos
tas (RS) e integrou o Centro de Incubação
com materiais diferentes, tem várias vanta-
de Empresas da Região Sul (Ciemsul), de
gens. Sem contar que podemos ter acesso a
2012 a julho de 2014. O aplicativo, que
uma estrutura que nos ajuda muito”, avalia
será lançado oficialmente em setembro,
Andréia.
funciona como um e-commerce mobile com
A Mapoula foi uma das três únicas em-
várias lojas cadastradas, que dá indicações
presas de moda brasileiras selecionadas
de peças que se relacionam ao estilo do
O faturamento do setor de moda quadruplicou nos últimos 10 anos no Brasil e chegou a R$ 140 bilhões em 2013 34
|OPORTUNIDADE
Divulgação
usuário, bem como informações sobre os valores e os locais onde comprá-las. “Chegamos ao Ciemsul sem noção alguma de negócios, não sabíamos colocar as coisas em prática. A incubação foi fundamental para triar as ideias e distinguir o que daria certo no mercado do que não era comercial”, conta a jovem de 24 anos formada em moda. Durante o período em que o Itquetas foi incubado, o casal Miqueline e William Dias, programador do sistema, recebeu consultorias e capacitação nas áreas de gestão, marketing, contabilidade e assessoria jurídica. Resultado de mais de cinco anos de
mento do sistema e pretendem apresentá-
pesquisa e desenvolvimento nos cursos de
-lo para empresas do setor têxtil, estilistas
mestrado dos sócios-fundadores, a Aquare-
e agências especializadas. A previsão é de
la Inovação & Conhecimento presta servi-
que em breve, com a verba do Startup Bra-
ços em arquitetura da informação – o que
sil, o Aquarela Trend seja convertido em
contribuiu para o surgimento de outras em-
aplicativo.
presas, como a Aquarela Trend. Incubado
Hoppen, que trabalhou para o governo
do Midi Tecnológico, de Florianópolis (SC),
holandês enquanto desenvolvia seu pro-
o projeto foi selecionado para a segunda
jeto de mestrado, considera que o Brasil
turma do Startup Brasil 2013 – programa
precisa explorar melhor seu forte poten-
de aceleração de empreendimentos nascen-
cial criativo. “A indústria criativa tem en-
tes do governo federal.
traves no país, porque não dispõe de me-
O Aquarela Trend, destinado ao setor
todologias adequadas para transformar
de moda e vestuário, é um mecanismo nos
nossa capacidade inovativa em serviços.
moldes do Ibope, que avalia tendências por
Precisamos trabalhar na estruturação dos
meio de sentimentos, comportamentos e
processos de criação para validar os pro-
percepção dos usuários nas redes sociais,
dutos de conhecimento. Esse desenvolvi-
utilizando ferramentas da web 3.0, análise
mento é tão importante quanto a criação”,
computacional e web semântica. O diretor
afirma ele.
financeiro e de operações da incubada, Joni
Para Fredi Maia, diretor e gestor estra-
Hoppen, explica que o funcionamento do
tégico do Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil
sistema depende de uma frequente entrada
e de Confecções em Pernambuco (NTCPE)
de dados e foi na indústria da moda que en-
– que tem como um dos projetos o Marco
controu esse gigantesco fluxo de informa-
Pernambucano da Moda, com nove empre-
ções – mais especificamente nas redes so-
sas incubadas no momento –, o consumidor
ciais, onde há diálogo, opiniões e interação
consegue identificar o valor criativo que
entre os internautas.
está embutido no produto. “As iniciativas de
Hoppen, do Aquarela Trend: fluxo de informação gerado nas redes sociais voltou as atenções do empreendedor para o setor de moda
incubação de empresas precisam se focar Estruturação
nesse aspecto. Gente criativa tem demais,
Os sócios da Aquerela Trend, Marcos
mas é necessário mostrar como se trans-
Santos e Joni Hoppen, tiveram o auxílio de
forma ideias em produtos e em negócios”, destaca. L
consultores de moda durante o desenvolvi-
35
Shutterstock
Muito além da forma
Com predominância de empresas de pequeno porte, o segmento de design se fortalece como fornecedor de produtos e serviços fundamentais ao crescimento das empresas brasileiras. Preparadas para prestar apoio e suporte aos empreendimentos da área, incubadoras especializadas têm sido fundamentais à consolidação desse mercado no país
M AUR I C I O F R I G HE T TO 36
|NEGÓCIOS
N
a busca por competitividade, em
quisa das instituições de ensino superior
mercados cada vez mais acirrados,
e o Congresso Brasileiro de Pesquisa e
empresas de diferentes portes e se-
Desenvolvimento em Design (P&D Design)
tores procuram por diferenciais. Nessa cor-
são ativos importantes para o desenvolvi-
rida, o design vem se firmando como um fa-
mento da área. O estudo mostrou que há,
tor determinante para o sucesso, indo muito
pelo menos, sete incubadoras focadas em
além da estética de produtos. A proposta é
design, localizadas em Manaus (AM), Belo
provocar impactos positivos em todas as
Horizonte (MG), São Carlos (SP), Cachoeiri-
fases dos negócios, inclusive na gestão dos
nha (RS), Juiz de Fora (MG) e duas no Rio de
empreendimentos. Dados do Ministério
Janeiro (RJ). A recomendação do estudo, no
do Desenvolvimento, Indústria e Comér-
entanto, é que seja feito um mapeamento e
cio Exterior (MDIC) mostram que 83% das
uma caracterização das incubadoras e dos
empresas que investiram em design como
laboratórios espalhados pelo país. “Sabe-
parte de um processo de inovação apresen-
mos que esse número é maior, pois entre as
taram crescimento. Atentos ao potencial de
instituições associadas à Anprotec há uma
sucesso dos empreendimentos dessa área,
série de incubadoras que têm no design
parques tecnológicos e incubadoras de em-
uma de suas principais áreas de atuação,
presas acompanham a tendência.
por compreenderem o potencial de inova-
Um estudo publicado em junho deste
ção e sucesso dos empreendimentos desse
ano lançou novas luzes sobre o setor. O ob-
segmento”, afirma a presidente da Associa-
jetivo é que o Diagnóstico do Design Bra-
ção, Francilene Garcia.
sileiro, realizado pelo Centro Brasil Design
Um edital do Serviço Brasileiro de Apoio
(CBD) em parceria com o MDIC e a Agência
às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),
Brasileira de Promoção de Exportações e
publicado em 2003, teve um papel funda-
Investimentos (Apex-Brasil), seja uma re-
mental para a criação de incubadoras e, por
ferência no desenvolvimento da indústria
consequência, de empresas nesse segmen-
brasileira e que forneça subsídios para a
to. O objetivo era desenvolver e consolidar
elaboração de uma política pública voltada
micro e pequenos empreendimentos volta-
ao segmento. O estudo foi realizado duran-
dos para a área de design. Ao todo, 10 in-
te oito meses, com mais de 300 empresas
cubadoras foram selecionadas e receberam
brasileiras, e constatou que o mercado
R$ 50 mil cada para estruturarem seus pro-
nacional é formado por 686 escritórios
gramas de apoio ao empreendedorismo.
formais de design, gerando 4,2 mil postos
Uma delas tem sede em Manaus (AM)
de trabalho. As áreas de atuação das em-
e é ligada à Fundação Centro de Análise,
presas são segmentadas da seguinte forma:
Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi).
design gráfico e comunicação (38%), design
Inicialmente chamada de Incubadora de De-
digital/multimídia (22%), design de produ-
sign Fucapi (Indeff), começou voltada exclu-
to (16%), design de serviços (14%), design
sivamente ao setor de design, mas evoluiu
de interiores (7%) e design de moda (2%).
e passou a atuar também em outras áreas.
“Esse foi um dos pontos positivos do estu-
Hoje, a Fucapi Incubadora de Tecnologia
do. Mostrou que há profissionais atuando
(FIT) abriga também empreendimentos de
formalmente e em praticamente todos os
tecnologia da informação e comunicação,
estados brasileiros”, avalia a diretora execu-
engenharia e bionegócios, sem deixar de
tiva do CBD, Letícia Castro Gaziri.
lado o design.
O diagnóstico apontou que as incuba-
Segundo o coordenador da FIT, Euler
doras, os laboratórios, os grupos de pes-
Guimarães Menezes de Souza, um dos di37
NEGÓCIOS|
ferenciais da incubadora foi ter criado um
principais desafios a serem enfrentados pe-
laboratório de design de interface digital.
las empresas que atuam no setor. Segundo
Como em parte do tempo o local ficava
a diretora do CBD, Letícia Castro, a desre-
ocioso, um professor reuniu estudantes vo-
gulamentação impacta negativamente os
luntários e passou a desenvolver projetos na
negócios. “Há dificuldade, por exemplo, em
área. Uma das primeiras tarefas foi a refor-
participar de editais e licitações públicas”,
mulação do próprio portal da instituição. A
aponta. De acordo com Letícia, todas as
iniciativa deu certo e o laboratório foi aper-
entidades do setor estão alinhadas para a
feiçoado – hoje os designers recebem bol-
aprovação de um Projeto de Lei que tramita
sas de estudo para desenvolver projetos no
na Câmara de Deputados para regulamen-
local. Após deixarem o laboratório, muitos
tar a profissão.
estudantes continuam atuando na incubadora, como contratados de alguma empresa
Exportações
incubada ou mesmo desenvolvendo o pró-
Outra questão preocupante levantada
prio negócio. “Eles realimentam o sistema
pelo Diagnóstico do Design Brasileiro é o
que temos. Também atendem à demanda de
valor dado pelas empresas brasileiras ao
empresas que estão entrando. Muitas vezes
design como um fator determinante à inter-
os empreendedores chegam e não têm a mí-
nacionalização dos negócios. Mais de 40%
nima noção de identidade visual ou mesmo
delas responderam “não se aplica” quando
da importância do nome da empresa”, resu-
questionadas se o design contribuía para
me o coordenador da FIT.
as exportações. Na avaliação do gerente de
Desde que a incubadora foi criada, cinco
inovação e design da Apex-Brasil, Marco
empreendimentos de design foram gradu-
Aurélio Lobo, a resposta reflete a percep-
ados. Um deles é a MarK Design, que atua
ção, ainda comum no Brasil, de que o de-
em projetos de comunicação visual para
sign é algo apenas operacional, não estra-
internet, multimídia e gestão de marketing.
tégico. “A visão é de contratar alguém para
Egresso do curso de Comunicação Visual da
fazer um produto e ponto. Já no mercado
Universidade Federal do Amazonas (UFAM),
mundial o design é visto como algo estraté-
Marcone Duarte Souza tinha uma empresa
gico. Ou seja, eu tenho que entender o mer-
quando começou a fazer parte da incuba-
cado e saber de que forma posso atendê-lo
dora. “Foi em 2009, quando entramos na
melhor”, explica.
incubadora, que o negócio deslanchou. Isso
A Apex tenta mudar esse cenário por
nos deu visibilidade, abriu portas e conse-
meio do programa Design Export, iniciado
guimos novos clientes”, relembra.
em 2013. Com a criação da Gerência de
Marcone aponta a falta de regulamenta-
Inovação e Design, durante o planejamento
ção da profissão como uma das dificuldades
estratégico da agência chegou-se à conclu-
enfrentadas. Segundo o empresário, muitas
são de que o fortalecimento da área contri-
pessoas sem qualificação formal atuam
buiria para ampliar a competitividade das
como designers. “Basta ter um computador
empresas brasileiras. Assim, o programa
e as pessoas assinam um trabalho. Mas de-
foi iniciado com foco em PMEs, voltando-se
sign tem conceito, pesquisa, processo, me-
para as grandes na etapa seguinte.
todologia e tudo isso leva tempo. Tem que ser criativo e saber onde estão os clientes”, analisa.
38
Além da forma As incubadoras também estão cientes de
O Diagnóstico do Design Brasileiro tam-
que muitas vezes o design é visto de forma
bém apontou esse problema como um dos
reducionista, como um simples instrumen-
|NEGÓCIOS
to para melhorar a estética dos produtos. “Pouco se fala
mais diferentes áreas do design, como moda, design de
do design para pensar estratégias em empresas. Para as
ambientes e design gráfico. “Estamos contribuindo para
grandes potências internacionais, esse comportamento já
a valorização de uma cultura do design e para a forma-
é realidade e o design consegue contribuir de fato para o
ção de uma cultura empreendedora entre os designers
desenvolvimento social e econômico de territórios”, avalia
e demais profissionais ligados à economia criativa em
a coordenadora do Centro Design Empresa da Escola de
Minas Gerais”, observa Samantha. Um exemplo dessa nova cultura está em uma das em-
Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG),
presas graduadas, a Quantum Design. Ela trabalha com
Samantha Cidaley. Com essa visão voltada para todas as áreas dos negó-
design gráfico, de produto e digital. “Mas é, sobretudo,
cios, foi criada, também por meio do edital do Sebrae, a
um design estratégico. É uma visão mais holística que
D. Incubadora de Empresas e Negócios de Design, ligada
usa o design como meio, e não como fim. A gente estuda
à UEMG. O objetivo era disponibilizar um local voltado
ferramentas do design para desenvolver novos serviços,
para os egressos da graduação em Design e estimular
produtos, embalagens ou marcas. Utilizamos o design
a criação de empreendimentos na área. Ao todo, cinco
como método”, detalha Isabelle Maluf Fernandes, uma
empresas estão incubadas e nove foram graduadas nas
das sócias da empresa.
683
4.200
escritórios formais
postos de trabalho
Segmentação Segmentos de atuação dos 683 escritórios formais de design no país: 38%
Design gráfico Comunicação
Design digital Multimídia
22%
Design de produto
Design de serviços
16%
Design de interiores
14%
7% 2%
Design de moda 39
NEGÓCIOS|
Divulgação
escola de Bauru, São Paulo, e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e montamos um grupo. Sete designers foram enviados para Itália e Espanha, além de engenheiros que também foram para a Itália”, relembra Sylvio Goulart Rosa Junior, presidente do ParqTec. A partir dessa experiência surgiu a incubadora Design Inn, ou, em português, a “Morada do Design”. Ao todo, quatro empresas estão em processo de incubação e sete foram graduadas. Grande parte dos designers que iam estuTrabalho da Quantum Design, graduada pela D. Incubadora, que aplica conceitos do design estratégico em todos os seus projetos
A KMMD, por exemplo, incubada na Ha-
dar em Bauru, cidade próximaa São Carlos,
bitat, procurou a Quantum Design para me-
acabava indo trabalhar na capital paulista
lhorar o posicionamento da marca. Formada
após a formatura. “Nossa ideia, que funcio-
por biólogos e geólogos, a empresa estava
na pelo menos em parte, é ter uma rede de
preparando um novo cosmético para ser
designers que passem pela incubadora, se
lançado no mercado e contratou a Quantum
graduem e voltem para sua cidade. A incu-
para desenvolver as embalagens, mas o tra-
badora serve como um nó dessa rede de
balho foi mais profundo, levando três anos e
pequenos ateliês de design no interior que
contribuindo para a estruturação do negó-
atendem à demanda local, melhorando todo
cio em outras áreas. “Discutimos o negócio
o ambiente”, explica Rosa Junior. Na visão
como um todo para eles entenderem, por
dele, uma empresa pequena dificilmente te-
exemplo, as tendências de comportamento
ria acesso a um escritório de design da ca-
de consumo”, explica Isabelle.
pital. Mas, se na região houvesse oferta do mesmo tipo de serviço, o pequeno empreen-
Importância regional
Um exemplo do trabalho desenvolvido
design assumiram papel importante no de-
pela Design Inn fez parte de um projeto que
senvolvimento local. Esse é o caso da De-
envolveu a prefeitura de Descalvado, no in-
sign Inn, também criada a partir do edital
terior de São Paulo, a secretaria estadual de
do Sebrae, que faz parte do ParqTec, em
agricultura e o Sebrae. Antigamente, os pro-
São Carlos (SP). Em 1999, o parque criou
dutores de mel daquela cidade trabalhavam
o Centro de Modernização Empresarial
de forma isolada, geralmente vendendo
(CME), baseado na experiência da região de
seus produtos em garrafas PET na beira de
Emília-Romanha, no Norte da Itália. O ob-
estradas. Foi então que se criou uma asso-
jetivo era, a exemplo da iniciativa italiana,
ciação e foi construída a chamada Casa do
criar programas de apoio ao desenvolvi-
Mel. A Design Inn fez uma pesquisa, defi-
mento de pequenas empresas por meio de
niu o nome do mel, produziu as etiquetas e
laboratórios e de consultoria tecnológica.
embalagens e foi responsável também pelo
Uma pesquisa mostrou que a região de
desenvolvimento do site. “Isoladamente, os
São Carlos era competente em dois seto-
produtos não tinham valor nenhum. Em
res: o cerâmico e o de prototipagem, hoje
parceria, foi um sucesso”, comemora Rosa
conhecido como impressoras de três di-
Junior. Baseado no case, o projeto foi repli-
mensões. “O design era importante para as
cado em outras cidades e também junto a produtores de leite. L
duas áreas. Contratamos profissionais da 40
dedor poderia contratar uma agência local.
Em algumas regiões, as incubadoras de
Shutterstock
Investimento a muitas mãos
O financiamento coletivo, ou crowdfunding, se popularizou no Brasil como uma opção de investimento voltada principalmente a projetos culturais. A “vaquinha” online expande os horizontes e se torna uma opção para empreendedores em busca de capital para alavancar startups
DA NIE L C A R D OS O 41
INVESTIMENTO|
T
Divulgação
Falcão, da Eusocio: as relações que se estabelecem por meio do equity crowdfunding podem ir muito além do simples investimento
rabalhar e criar em colaboração
do negócio é baseado em muita praticidade
sempre estiveram no DNA da inter-
e pouca burocracia. A plataforma atua em
net, mas nos últimos anos a capila-
todas as etapas do processo de aproxima-
ridade da rede trouxe uma novidade que
ção entre projetos e potenciais investidores,
chacoalhou o mundo de investimentos em
mas não faz a curadoria dos dados enviados.
startups. É o equity crowdfunding. Em li-
“Tudo funciona de maneira muito sim-
nhas gerais, o equity crowdfunding nada
ples. A startup envia um pitch contendo
mais é do que a possibilidade de qualquer
plano de negócios, projeção financeira, cur-
pessoa investir uma quantidade de dinhei-
rículo do time e vídeo explicativo sobre a
ro (pequena ou grande) em alguma ideia ou
empresa. Em seguida, o EuSocio analisa se
empresa nascente. Sites de financiamento
os requisitos formais estão preenchidos e
coletivo que fazem a ponte entre investidor
publica o material. Daí, é a vez dos inves-
e empreendedor proliferaram pelo planeta
tidores cadastrados analisarem as informa-
e agora prometem promover mudanças no
ções e decidirem se injetam ou não dinheiro
cenário nacional de empreendedorismo. O
na empresa”, explica.
crowdfunding já vem ganhando espaço há
Para o investidor se cadastrar, o proce-
alguns anos, principalmente com o objeti-
dimento também é simples. Basta entrar
vo de alavancar projetos culturais. Mas a
na plataforma e responder a 10 perguntas.
modalidade voltada ao empreendedorismo
Esses questionamentos servem para que o
dá os primeiros passos por aqui.
investidor entenda que o modelo é de alto
João Falcão é um dos pioneiros no país e
risco e que pode até mesmo perder 100%
é direto ao explicar que o equity crowdfun-
do dinheiro. Se for aprovado, o nome entra
ding surgiu para auxiliar os empreendedores
na lista e recebe autorização para fazer in-
a vencer um dos maiores desafios de uma
vestimentos por meio da plataforma.
startup: a falta de recursos para crescer.
Falcão está otimista. Cerca de 30 startups
Falcão já trabalhou no Porto Digital, em Re-
já planejam usar a EuSocio para captar
cife (PE), e conhece bem o mundo de incu-
recursos. Além disso, há um ano a plata-
badoras e parques tecnológicos. Nas várias
forma publicou um edital na internet ex-
reuniões de que participava no ecossistema
plicando as regras do negócio. Mais de mil
percebia que a captação de
downloads foram registrados – número
dinheiro sempre enchia a
que expressa o interesse pelo equity cro-
cabeça dos empreendedores
wdfunding no Brasil.
de preocupação. Então,
42
resolveu
Outra fonte de otimismo para Falcão é o criar
sucesso de plataformas semelhantes fora do
uma plataforma online que
país. O caso mais emblemático vem da Ingla-
reduzisse o distanciamento
terra. A Crowdcube foi criada há três anos, já
entre as startups e os cen-
captou mais de R$ 80 milhões e ajudou cerca
tros financeiros. Nascia o
de 100 empresas a darem os seus primeiros
EuSocio. A ideia surgiu há
passos. Além do dinheiro, o crowdfunding
quatro anos, mas só depois
também se mostrou uma importante arma
de estudar muito o mercado
para conquistar o mercado.
nacional e alinhar as regras
“Exemplos no exterior nos mostram que
de funcionamento do site
muitas empresas que captaram recursos
com a legislação brasileira,
pela modalidade equity crowdfunding não
a plataforma começa a de-
receberam apenas dinheiro. Os investidores
colar em 2014. O segredo
se transforaram em verdadeiros canais de
|INVESTIMENTO
venda, em divulgadores dos produtos e hou-
sível”, ou “opção de compra”. Nesse caso,
ve até um caso em que a empresa percebeu
o investidor não vira sócio num primeiro
que um dos investidores poderia virar con-
momento, mas torna-se um credor com di-
selheiro. Fez o convite e a pessoa aceitou.
reito de, no futuro, converter-se em sócio.
O crowdfunding vai muito além de captar
Segundo ele, é melhor para o empreende-
recursos”, afirma Falcão.
dor, que não tem que lidar com vários sócios em seu contrato social, e o investidor também ganha, já que se isenta das res-
Frederico Rizzo, de São Paulo (SP), é
ponsabilidades de um sócio.
outro pioneiro do ramo e se tornou um
O título de dívida conversível emitido
empreendedor que vive simultaneamente
pela Broota prevê uma remuneração de 3%
dois papéis no processo de crowdfunding.
ao ano, mas na prática o que os investidores
Rizzo criou a plataforma Broota para ajudar
visam é que a empresa seja vendida por um
startups brasileiras a captarem recursos e,
valor equivalente a cinco a 10 vezes o preço
para dar o pontapé nessa empresa, resolveu
que eles pagaram – momento em que pode-
adotar a modalidade de crowdfunding para
rão recuperar seu capital. Entretanto, se isso
si mesmo. No início de junho, iniciou a cap-
não ocorrer os investidores podem conver-
tação. Por um mês, a oferta ficou no ar e o
ter a dívida em ações em um prazo de cinco
projeto angariou R$ 200 mil, vindos de 28
anos (maturidade do título) e assim receber
investidores.
dividendos como qualquer acionista.
“O que ocorria é que muitos duvidavam
Como todo negócio novo que englo-
da eficiência do equity crowdfunding. A mo-
ba risco de investimento, uma das maio-
dalidade estava meio desacreditada no Bra-
res dúvidas que paira sobre o equity
sil e as pessoas entendiam que não iria fun-
crowdfunding no Brasil é a questão jurídi-
cionar. Resolvi, então, testar comigo mesmo
ca. Segundo especialistas, é preciso tomar
e provar que daria certo. Foi uma estratégia
alguns cuidados e precauções para não
de lançamento da plataforma Broota e, ao
ferir nenhuma legislação. Por sorte, antes
mesmo tempo, serviu para validar o negócio
do crowdfunding conquistar o mundo, a
e o aspecto legal”, lembra Rizzo.
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já
O fundador da Broota ressalta que durante
editou uma instrução com o objetivo de fa-
o processo de captação de recursos conseguiu
cilitar a captação de recursos pelas micro e
sentir na pele as dificuldades que as startups
pequenas empresas.
enfrentariam ao usar o crowdfunding. Um dos principais desafios, no caso es-
Elas ficaram dispensadas, por exemplo, do registro da emissão e da oferta, desde
pecífico da Broota, foi harmonizar o tipo de
que a captação não ultrapas-
oferta que seria feita com aquilo que o mer-
se R$ 2,4 milhões por ano. É
cado estaria disposto a aceitar. Durante as
com base nesses padrões que
conversas com os investidores, Rizzo perce-
o mercado está regulando a
beu que nenhum deles toparia entrar como
captação sob a modalidade de
sócio em alguma startup via crowdfunding.
investimento em crowdfun-
O risco de herdar algum passivo fiscal ou
ding.
trabalhista espantava todo mundo. Então, resolveu partir para outra estratégia.
O advogado Picchi explica que o equity crowdfunding não necessita obrigatoriamente de um site que medie a relação entre empreendedor e investidor Divulgação
Sócios potenciais
“As regras não obrigam que haja uma plataforma
Em vez de usar o equity crowdfunding
[como a Broota ou a EuSo-
para ganhar sócios, Rizzo fez o que pode
cio] para realizar a captação.
ser chamado de “emissão de dívida conver-
Quem lança a documentação 43
AgênciaTUTU /Emiliano Hagge
INVESTIMENTO|
oficialmente é a empresa. A
Crowdfunding), composta pelas empresas:
plataforma é apenas o suporte
Instituto da Economia Criativa, Broota,
eletrônico”, explica Flávio Pic-
StartMeUp, Empreenda.vc, NextBlue, Vi-
chi, advogado especializado
king, Pontapés e Kickante. A ideia é estru-
em direito societário e merca-
turar melhor esse mercado e intensificar as
do de capitais e autor do blog
discussões.
StartDireito.
Melito explica que há dois tipos básicos de investimentos que são vislumbra-
Melito, da FecomercioSP: Brasil é o país ideal para esse tipo de investimento, já que possui um sistema financeiro restrito e caro
Regulamentação
dos no modelo de crowdfunding brasilei-
As conversas mais inten-
ro. O primeiro ocorre quando a startup
sas para modelar o equity
emite notas conversíveis. Nesse caso, a
crowdfunding e sobre a regu-
empresa precisa ser uma sociedade limi-
lamentação no Brasil começa-
tada. A captação de recursos é feita ao se
ram em 2013, com um evento
lançar contratos de dívidas ou contratos
liderado pelo presidente do
de investimentos, dando garantias ao in-
Conselho de Criatividade e
vestidor de que terá o direito de converter
Inovação
FecomercioSP,
esses documentos em capital da empresa
Adolfo Menezes Melito. O evento reuniu a
ou de resgatar o valor investido – como
CVM, o Ministério do Desenvolvimento, In-
uma espécie de debênture, com juros so-
dústria e Comércio Exterior (MDIC), acele-
bre o investimento efetuado.
da
radoras, incubadoras, investidores e outros agentes desse mercado. Adolfo Melito, também fundador e pre-
um contrato privado, que pode ser ates-
sidente do Instituto da Economia Criativa,
tado por meio de uma assinatura eletrô-
destaca que, se tivéssemos de eleger o país
nica. O dinheiro fica vinculado ao inves-
onde o equity crowdfunding é mais necessá-
timento por um prazo mínimo de cinco
rio, esse seria o Brasil, em função do sistema
anos e, só então, pode ser convertido em
financeiro restrito e caro e da baixa oferta de
ações da empresa.
investimentos destinados a startups.
Tanto na primeira quanto na segunda
Melito ressalta que o entendimento he-
alternativa de captação, o investidor só terá
gemônico no mercado é de que deve ocor-
valorização se a startup for bem-sucedida.
rer no Brasil a chamada autorregulação. Em
Por outro lado, se a empresa quebrar ou pa-
linhas gerais, seriam os agentes que for-
tinar, o risco de perder todo o investimento
mam o mercado que definiriam quais as re-
é alto. O certo é que a lei da oferta e da pro-
gras que valem e quais são os mecanismos
cura e a qualidade dos empreendedores e
de proteção, tanto para o investidor quanto
investidores vão definir o futuro do equity
para o empreendedor. “Para consolidar essa ideia, reunimos no
crowdfunding no Brasil. Para Picchi, é uma questão de seleção natural.
ano passado todas as empresas interessa-
“As startups que oferecerem o maior
das em desenvolver essa área. Fizemos um
número de informações terão mais chance
conjunto de propostas e levamos de maneira
de captar recursos. É questão de governan-
oficial até a CVM. É uma proposta de autor-
ça. Os investidores precisam saber que vão
regulação de um mercado nascente”, explica.
entrar em um mercado de risco e precisam
Em julho, também será constituída a AN-
avaliar bem as oportunidades”, assinalou.
BIMEC (Associação Brasileira das Empresas
Quem fizer as melhores escolhas, vai se destacar L
Administradoras de Plataformas de Equity 44
A segunda alternativa é a “opção de participação” no capital da empresa. É
Shutterstock
Negócios sem fronteiras
Ambientes de inovação contribuem para a internacionalização de empreendimentos apoiados. Desde o ano passado, uma plataforma desenvolvida pela Anprotec, em parceria com Apex-Brasil e Sebrae, ajuda empresas brasileiras a levarem seus negócios para outros países
M AUR I C I O F R I G HE T TO 45
|GESTÃO
O
tamanho e a diversidade do merca-
ponível desde outubro do ano passado.
do brasileiro podem levar alguns
Trata-se do Programa land2land, uma
empreendedores a dispensarem
plataforma desenvolvida por meio de uma
as oportunidades de negócios existentes
parceria entre a Anprotec e a Agência
além das fronteiras do país. Mas esse não é
Brasileira de Promoção de Exportações e
o caso das empresas vinculadas a ambien-
Investimentos (Apex-Brasil). O objetivo é
tes de inovação. Uma pesquisa realizada
facilitar o acesso dos empreendimentos
pela Universidade Federal do Rio Grande
brasileiros a ambientes de inovação de
do Sul, em âmbito nacional, revela que en-
outros países, de modo que as empresas
quanto a porcentagem de empresas brasi-
possam contar com os serviços oferecidos
leiras que atuam globalmente é de 2%, os
por esses ambientes para facilitar o ingres-
empreendimentos que passam por incuba-
so no mercado local. “O empreendedor en-
doras e parques tecnológicos elevam esse
tra no site [www.land2land.com.br] e, em
índice a 10%. “Esses dados mostram que
um mapa, identifica um local onde tem
há, realmente, uma relação positiva entre
interesse de se instalar, interagir ou ape-
empresas incubadas e internacionaliza-
nas conhecer. Por meio da plataforma, ele
ção”, avalia Raquel Engelman, doutora em
pode se comunicar com os responsáveis
Administração responsável pela pesquisa,
por ambientes de inovação que atuam na
especialista em gestão do conhecimento,
região”, explica o coordenador do projeto,
gestão da inovação e relacionamentos in-
Alexandre Martins Steinbruch. Atualmen-
terorganizacionais.
te, a plataforma conta com 23 ambientes
A pesquisa, publicada no ano passado,
de inovação, localizados em 15 países, se-
estudou 80 incubadoras com mais de dois
lecionados após uma avaliação criteriosa
anos de existência. Entrevistando os gesto-
de aspectos como espaço disponível para
res, Engelman chegou à conclusão de que
ocupação imediata, acordos e parcerias
metade dos ambientes pesquisados tem
internacionais existentes e projetos de su-
programas formais votados à internacio-
porte à internacionalização.
nalização. Também descobriu que 60% das empresas vinculadas a essas incubadoras
Ambientes acolhedores
deram início a processos voltados à atuação
Passar por um processo de soft landing
no mercado externo.
46
antes de se aventurar no mercado externo
Na avaliação de Raquel, a contribuição
pode ser uma grande solução para micro
das incubadoras para a internacionalização
e pequenas empresas, como mostra a his-
está ligada ao mesmo suporte que elas ofe-
tória da Pandorga Tecnologia, de Porto
recem para as empresas prosperarem no
Alegre (RS). A empresa iniciou a operação
mercado interno. “Todos os serviços e toda
em 2006 na Raiar, incubadora do Parque
a estrutura montada para dar suporte às
Científico e Tecnológico da PUCRS (Tec-
organizações acabam impactando na reali-
noPUC), trabalhando com software cus-
zação de negócios no exterior, mesmo que
tomizado. Ao saírem da incubadora, em
as incubadoras não tenham como objetivo
2009, os sócios começaram a pensar em
principal a internacionalização”, afirma. A
como crescer e obter mais clientes. Uma
pesquisadora defende, no entanto, a execu-
das ideias, segundo o empreendedor Fábio
ção de ações específicas para inserção das
Krohn Jr, era abrir um escritório em São
empresas no mercado externo.
Paulo ou no Rio de Janeiro e buscar o mer-
Nesse sentido, uma ferramenta que
cado do centro do país. A outra opção era
pode ajudar os empreendedores está dis-
apostar na internacionalização. Foi então
|GESTÃO
Como usar o land2land
1) Empreendedores interessados em atuar no mercado internacional têm uma ferramenta aliada: o portal land2land.com.br (página inicial na imagem acima). 2) Ao entrar na página, o empreendedor tem duas opções: procurar um ambiente de inovação no mapa ou digitar um lugar que queira encontrar. Ao todo, são 23 ambientes em 15 países. Já os estrangeiros que quiserem vir ao Brasil terão acesso a 12 ambientes. 3) Ao encontrar o ambiente de inovação, basta clicar nele. Então o empreendedor encontrará uma série de informações sobre o lugar, tais como idioma oficial, número de empresas incubadas e principais áreas de atuação. 4) O empreendedor poderá, se quiser, enviar uma mensagem ou já requisitar um serviço oferecido pelo ambiente. Entre os serviços mais comuns estão apoio à infraestrutura (seja para utilização permanente ou temporária), informações de mercado e sobre programas de financiamento, estratégias de entrada no mercado, aculturamento (apoio para obtenção de visto, formação cultural e acomodação) e requisitos legais e legislação de cada país.
47
|GESTÃO
que, movidos também pela intuição, os em-
a qualidade de seus produtos e serviços
presários começaram a procurar informa-
para atender a mercados mais exigentes”,
ções sobre o Reino Unido.
afirma.
Encontraram o United Kingdom Trade
A Reivax S/A Automação e Controle,
and Investment (UKTI), um órgão do go-
fundada em 1987 na Fundação Centros
verno inglês que cria facilidades para em-
de Referência em Tecnologias Inovadoras
presas estrangeiras firmarem operações
(Certi), em Florianópolis, também viu gran-
na Inglaterra. “Tivemos acesso a um custo
des oportunidades no mercado externo.
diferenciado e a um programa de auxílio
Ela ainda estava incubada quando fez sua
sobre como atuar em Londres. Também
primeira exportação para a Colômbia. Hoje,
foi realizado todo um trabalho com a gen-
é uma referência no fornecimento de siste-
te para podermos viabilizar nossa ideia.
mas e soluções para o controle da geração
Tivemos inclusive um período de testes
de energia e atua em cerca de 25 países.
sem a obrigatoriedade de abrir uma em-
A parceria com empreendedores locais
presa”, conta Fábio. Um ano depois desse
foi um diferencial para o sucesso. Segundo
processo, a Pandorga inaugurou seu es-
Fernando Happel Pons, sócio-fundador da
critório na cidade.
empresa, as primeiras exportações foram
O fato de a empresa gaúcha ter sido in-
feitas por meio do networking dos empre-
cubada no Brasil foi um diferencial impor-
endedores na América Latina, região onde
tante. “Apesar de na Inglaterra a incubação
a Reivax começou a contar com represen-
ser diferente, eles entendem o que esse
tantes.
processo representa. Sabem que a empre-
Mas para entrar nos Estados Unidos e no
sa é madura e tem mais chance de sucesso.
Canadá a estratégia foi diferente. “Não bas-
Então nossa história viabilizou a entrada no
tava termos representantes, era necessário
mercado inglês”, aponta Fábio.
ter uma operação local. Ainda mais porque
Para a Pandorga, o trabalho em Londres
desde que Barack Obama se tornou presi-
está apenas começando – tem clientes con-
dente ele começou a privilegiar empresas
solidados e está crescendo na Inglaterra.
americanas”, explica Fernando. A solução
O curioso é que o processo de internacio-
foi estabelecer parceria com empreende-
nalização gerou resultados importantes no
dores locais, o que culminou na criação da
mercado nacional. Hoje a Pandorga atende
Reivax North America, com sede no Canadá.
São Paulo e Rio de Janeiro sem nunca ter
A partir dessa ação, vendas importantes fo-
tido um escritório na região Sudeste. “O
ram realizadas na região, como de regula-
posicionamento como uma empresa global
dores de tensão para um túnel de vento da
gerou um diferencial para o negócio”, des-
Força Aérea Americana.
taca Fábio.
As parcerias locais foram reforçadas no ano passado, quando a Reivax abriu uma
Melhoria geral
filial na Suíça, chamada de Reivax of Swit-
De acordo com Steinbruch, o processo
zerland AG. A subsidiária já fez vendas sig-
vivenciado pela Pandorga é comum entre
nificativas, principalmente para o mercado
empresas que se dedicam ao mercado
asiático. Ao todo, a operação internacional
externo. “Empreendimentos que expor-
representa 40% dos negócios da empresa
tam ou atuam de alguma outra forma no
catarinense. “Além da ampliação do merca-
exterior acabam melhorando seu desem-
do, a operação no exterior evita a sazona-
penho no próprio país, seja pelo status
lidade do mercado nacional”, defende Fernando Happel Pons. L
que alcançam ou mesmo por melhorar 48
|CULTURA por Bruna de Paula
Exposição histórica Fotos: Divulgação
Pela primeira vez na história, 380 objetos de valor inestimável cruzaram as fronteiras do México para integrar a exposição mais completa sobre a civilização maia já realizada no Brasil. Em cartaz na Oca do Ibirapuera, Mayas: revelação de um tempo
sem fim convida a um passeio por 3 mil anos de história. A mostra foi organizada tematicamente e tem uma seção introdutória com a visão geral da área geográfica ocupada pelos maias, apresentação dos grupos maias e uma linha do tempo. No subsolo de 3 mil m² da Oca, a exposição divide-se em oito eixos, que retratam o estilo de vida dos maias, sua organização sociopolítica, a relação com a natureza, o avançado conhecimento dos astros, os rituais religiosos e seus ritos funerários.
Exposição Mayas: revelação de um tempo sem fim, Oca - Parque do Ibirapuera - São Paulo (SP). Entrada franca. De terça a domingo, das 9h às 17h. Até 24/8.
Babette pop O longa Chef embarca na popularização da gastronomia e usa a comida como condutor da jornada de um herói corrompido, que trabalha com o que não acredita e precisa se reinventar para encontrar o prazer na simplicidade. O filme conta a história do chef Carl, vivido por Jon Favreau (também diretor do longa), que abandona a cozinha de um restaurante badalado em Los Angeles para abrir um food truck de comida cubana. Conectividade, convivência multicultural e retomada dos laços familiares são questões que percorrem a trama, sempre acompanhadas de lindas e apetitosas imagens.
Chef, 2014. Direção: Jon Favreau. Elenco: Jon Favreau, Robert Downey Jr, Scarlett Johansson, Sofia Vergara. 114 minutos.
Imperativo
Leia Ford - o homem que transformou o consumo e inventou a era moderna, a biografia da personalidade que revolucionou a indústria e, consequentemente, as relações de trabalho e de consumo, no início do século XX. O livro narra a ascensão de Henry Ford e destaca a combinação entre a criatividade e a persistência do visionário gênio da mecânica e empreendedor, materializada na sua maior invenção: o célebre Modelo T. Ford - o homem que transformou o consumo e inventou a era moderna. Richard Snow. Editora Saraiva. 416 páginas. Brochura, 2014. Assista ao trailer e aguarde o lançamento, previsto para novembro, de The Theory of Everything, cinebiografia do astrofísico e cosmólogo britânico Stephen Hawking. O roteiro se concentra na relação entre Hawking – portador de uma doença degenerativa que paralisa seus músculos – e sua esposa Jane e na superação que fez dele um dos mais consagrados cientistas da atualidade. The Theory of Everything. Estreia prevista para novembro de 2014. Direção de James Marsh. Roteiro de Anthony McCarten. Elenco: Eddie Redmayne, Felicity Jones.
49
OPINIÃO|
Somos (todos) aprendizes
Divulgação
Maur ic io Gue des Diretor do Par que Te c noló gico da UF R J E x - presidente da I A S P – A s s o c iaç ã o Inter nac ional de Par ques Te c noló gicos Cons elheiro e ex - presidente da A nprote c
T
eve pouca repercussão o lançamento do programa Plataformas do Conhecimento, feito por meio de decreto presidencial no final de junho. O objetivo é enfrentar desafios tecnológicos específicos e de elevado risco, a partir de consórcios que reúnam agentes públicos e privados.
Devem ser anunciadas em breve até 20 plataformas, que contariam com re-
cursos assegurados por 10 anos, totalizando um investimento de R$ 20 bilhões. Os desafios estarão em áreas diversificadas, como agricultura, saúde, energia, aeronáutica, tecnologia da informação e comunicação, naval e equipamentos, dentre outras. A ideia é muito boa, mas o problema é que ainda não foi definida a origem dos recursos. Infelizmente, o nosso passado recente tem mostrado que muitos desses programas de longo prazo terminam sendo capturados por outras prioridades da política econômica.
Vejamos dois exemplos na área do petróleo, na qual, diga-se, o país conseguiu grandes conquistas tecnológicas. O CT-Petro, criado em 1999, foi o primeiro dos 16 Fundos Setoriais para Ciência e Tecnologia hoje existentes, alimentado por uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE). Esses recursos são recolhidos de um determinado setor e deveriam ser devolvidos sob a forma de melhorias na capacidade de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Levantamento feito pelo Instituto de Economia da PUC-Rio mostra que entre 1999 e 2012 foram arrecadados R$ 9,59 bilhões, dos quais apenas R$ 906 milhões foram efetivamente gastos. O restante (90% do valor arrecadado) terminou contingenciado. O outro exemplo vem da ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, que está modificando o regulamento que orienta os investimentos obrigatórios das empresas produtoras de petróleo em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Essa obrigação é fruto de uma política pública acertada, definida pela própria ANP desde a rodada zero de licitação de blocos, que exige que o produtor invista nessas atividades 1% do faturamento bruto nos campos de grande produção. A previsão, baseada nos programas de produção das operadoras, é de que no período 2014- 2023 esses investimentos sejam de R$ 30 bilhões. O problema aqui é que a ANP está extrapolando o seu papel regulatório e de fiscalização e pretende retirar das empresas o poder decisório sobre o destino desses recursos. De acordo com a minuta do novo regulamento, um comitê controlado pela ANP divulgará a relação de áreas prioritárias, atividades, projetos de interesse e temas relevantes para a indústria. Em qualquer lugar do mundo uma empresa assumir a obrigação de investir em inovação e o governo decidir o que ela vai fazer seria uma contradição. No Brasil, onde os gastos das empresas em P&D não chegam a 0,6% do PIB, enquanto na Zona do Euro são de 1,3% e na China de 1,4%, essa medida seria um retrocesso. Se esses recursos passarem a ser tratados como se fossem públicos, já podemos prever os próximos passos. 50
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