Patrimonio da Comunidade - Edição 11

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nº11

da comunidade www.damayaespacocultural.art.br

BAGÉ-RS Brasil Sexta-Feira

8/01/13

Não foi mais um Carnaval que passou...

Te conheço? Sim,

mas de outros carnavais. Assim, vai-se construindo a memória, os amores e as vidas de muitos brasileiros. Dentro da Cápsula da Memória encontramos o patrimônio material, imaterial e afetivo de Bagé, inclusive, outros carnavais...

Informe Comercial


2 Informe Comercial

PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 8 de fevereiro de 2013

Editorial /

O maior patrimônio

Qual é mesmo o valor da vida? Se isso não vale, talvez, vivamos um momento em que é necessário pensar - com racionalidade - na viabilidade da empresa. A partir dessa tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, a vida desses péssimos empresários está em jogo. A comoção leva a um clamor por justiça, mas não representa nenhuma garantia de que a impunidade não continuará em cena. Do primeiro ao último ato. Quando a morte perde o valor é sinal de que a vida já não tem mais sentido. A “Máscara negra”, neste Carnaval, adquiriu novos contornos ignorando que o patrimônio mais valioso é a vida. Individual e coletiva.E que, no meio dessa multidão, muitos não poderão matar a saudade. Portanto, não foi mais um Carnaval que passou. A vida segue, mas a perspectiva da impunidade é inaceitável. Temos memória. E muito sentimento.

POR QUE AINDA NÃO DEU PARA TERMINAR? Ana Remonti

O Centro de Equoterapia Xamã da Apae Bagé, no momento, assiste 25 crianças da APAE Bagé no Centro Hípico do Círculo Militar. Mas, para garantir que as sessões não sejam interrompidas em função das variações climáticas, precisa de novas doações.

Exposição Fora dos Limites:

três autodidatas mineiros Curadoria: José Alberto Nemer Abertura

22/02/2013

A mostra reúne três artistas autodidatas de Minas Gerais que se dedicam à pintura sobre tela ou madeira: Célio de Faria (1), Lorenzato (2) e Valmir Silva (3).

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Plebiscito Você é a favor de que os prédios históricos mais bem cuidados de Bagé recebam uma atenção especial em relação ao IPTU?

SIM NÃO

A arte não vem dormir nas camas que se prepara para ela; ela escapa assim que se pronuncia seu nome: o que ela gosta é do incógnito. Seus melhores momentos são quando ela se esquece de como se chama.”

Expediente

Jean Dubuffet

Produção

Jornalista Responsável Angelina Quintana - Reg. Prof.5305 Capa Cristiano Lameira Projeto Gráfico Ana Remonti Rossi Impressão Gráfica do jornal Zero Hora -Av. Ipiranga 1075 Porto Alegre Tiragem 5000 exemplares

Patrimônio da Comunidade é uma publicação especial produzida pelo Da Maya Espaço Cultural em apoio ao Movimento de Resistência à Destruição do Patrimônio Histórico de Bagé.

Endereço Rua General Osório, 572 / Anexo Bagé RS Brasil CEP 96400.100 / Telefone (53) 3311.1874 Site www.damayaespacocultural.art.br


PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 8 de fevereiro de 2013

D

3 Informe Comercial

icas de

COMO COMEÇAR O ANO?

ona Zuleika

Andei pensando que toda observação, ainda que crítica construtiva, pode sempre ser interpretada de forma negativa. Mesmo assim, vou atrever-me a fazer algumas considerações e que, talvez, alguns não gostem. Como amante desta cidade acredito que contribuirão para abrir o pensamento de certos personagens desta comunidade.

Como sempre, quando a situação tiver tão grave e já não tiver mais quase solução, é que o governo vai acordar. O grito do produtor nunca teve eco no meio de políticos despreparados. A maioria são citadinos convictos e ignoram o campo. Quando nos for dado de presente alguém que vá para o Ministério da Agricultura, que entenda, ame ou viva o campo, então pode ser que o Brasil acorde...

se buscar no seu interior para cultivar toda a sensibilidade inerente ao ser humano. Nós nascemos sensíveis, é a vida que nos faz ignorar a sensibilidade: Pintar meios fios de granitos, autorizar placas de anúncios comerciais, usar o espaço público tudo isso é negativo e nós pagadores de impostos, cidadãos decentes temos todo o direito de protesto.

Agora, o mais crítico, fala diretamente aos Contaram-me que a ideia infeliz das Há momentos, meio decepcionantes moradores que constituem os habitantes barraquinhas de taxi tem mais de 40 e desanimadores, em que vejo serem da comunidade da cidade de Bagé: anos. É fruto de autorização de um preexternadas opiniões e atitudes que Meus amigos, gaúchos orgulhosos de sua feito infeliz que comeu muita merenda pertencem no mínimo ao século pasterra e tradição, perdoem-me: Mas vocês na escola. Em nenhuma parte do munsado. Não são de pessoas simples ou devem amar mais a sua cidade. Como do se vê isso. Não vamos ser os mantepouco preparadas. Pertencem às pessoas que foram à escola ou até mes- andarilha do mundo, veterana da vida e dores dessa tolice. mo que cursaram a faculdade, mas viajante incansável aposentada venho querem assegurar direitos no limite da veementemente protestar contra o descaso Senhores taxistas, peço desculpas. idade média. Não dar valor a pessoa da cidade. Repito, porque este descaso, Não fiquem brabos comigo. Os semodesta que serve, não é praticar de- desamor e mal trato pelo que dizem amar? nhores serão os primeiros a lucrarem com os turistas. magogia barata, mas sim não reconhecer a humaPorque a imundíce do arroio de Bagé que virou lata de Protesto novamente contra nidade do seu par. os taxistas, contra os carlixo? Porque ignorar a frente da sua casa e seu jardim tazes de anúncios, contra Se o ser humano é trana rua? Comerciantes, porque pintar sua fachada de as fachadas, ora mal cuitado assim, imagine cores estridentes e de mau gosto? E pior, porque dadas, ora de mal gosto, então a Natureza e os trocar o reboco original da fachada do século assado e todas estas aberrações animais? Em nome do pela qual todos passam progresso e da preguipor tijolos? todo dia e acomodam-se. ça, o pasto é substituDepois de 10 anos em ído por plantações de madeira que não necessitam de O tijolo é um material lindo quando bem Bagé, às vezes penso, que acomodaterra fértil. Esta terra é desperdiça- usado no lugar adequado. Aí está usa- ção é uma doença endêmica local, é da, a pecuária diminui e é preciso do de forma inadequada. As fachadas mais fácil concordar, dizer amém e não intensificar a criação usando pro- deveriam ser tratadas com mais cari- fazer nada. Se cada cidadão fizer um cessos que prejudicam a saúde do nho e respeito. E, se possível, com bom pouquinho a vida fica mais fácil e mais gosto. bonita. Vamos propor ao nosso querihomem e não tem nada a ver com do prefeito que institua um prêmio de a manutenção da saúde do nosso organismo. E o pior, estas florestas Cores leves e de preferência em tom pas- isenção de impostos locais para imóestão abrigando javalis selvagens tel. As cores fortes são perigosas. Preci- veis mais bem cuidados de Bagé. Seria uma isenção anual, após exame de fugidos do país vizinho. Atraves- sam de muito cuidado na sua escolha. mérito. Senhor Dudu, peça a sua sec sam a fronteira e dizimam nossos rebanhos de ovelhas e atacam Senhor Secretário de Obras, por favor, da Secretaria da Fazenda se o municíplantações porque são predadores usando o meu melhor respeito gostaria pio comporta essa despesa. O que os que o senhor aprimorasse e procuras- bageenses acham ? ferozes.


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PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 8 de fevereiro de 2013

Informe Comercial

Fotos Cristiano Lameira

É a construção coletiva que conta a verdadeira história. Talvez, por isso o resultado do projeto Cápsula da Memória tenha sido tão significativo. Artistas locais transformaram os nossos desejos de preservação em arte. O Cubo do Da Maya Espaço Cultural foi coberto de arte. Mas não só com desenhos, mas também com música e literatura. Durante o recesso de férias do Da Maya Espaço Cultural”, de 22 de dezembro a 17 de janeiro, a comunidade depositou muitos votos indicando “o que eu considero patrimônio da comunidade e quero que seja preservado”. A Casa Hermosa, na esquina do abraço, abrigou a Cápsula da Memória e ali foram colocadas até mesmo verdadeiras declarações de amor a Bagé. Do patrimônio edificado- como a preservação dos prédios com valor arquitetônico e histórico -, passando pelo natural - como os arroios e os cerros de Bagé - e até chegar ao imaterial como a lenda do Monstro da Panela do Candal e a beleza da mulher bageense.

Théo Gomes

puxou o Carnaval de Santa Thereza, No tempo das Marchinhas, para a General Osório.

Ana Remonti

cápsula

memória

da

Roda Viva O grupo Roda Viva trouxe Chico Buarque para alegrar uma tarde de sábado.


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5 Informe Comercial

Carlo Andrei

desenhou o que considera o maior patrimônio de Bagé.

Méry Uberti

iluminou, no detalhe, a preservação do prédio que abriga a Casa Krause

Heloísa Beckman

juntou à Catedral com lenda, poesia e os Cerros de Bagé.

Norma Vasconcellos

pinçou a energia da Capela de Santa Thereza

Jussara Casarin

Rejane Karam Osório

mesclou a beleza das palmeiras imperiais com a Catedral São Sebastião

ilustrou, com a casa da família Cantera Netto, os antigos casarios do Centro Histórico


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Informe Comercial XVIII Feovelha

Alexandre Teixeira

A raça crioula é motivo de orgulho

A proprietária da Cabanha da Maya, Zuleika Torrealba, fez questão de ir a Pinheiro Machado durante a Feovelha e acompanhar o julgamento da raça crioula. Orgulhosa, conferiu cada um dos seus animais que entraram em pista. _Não entendo porquê a representação da raça crioula ainda é tão pequena no Rio Grande do Sul. Mas, creio que vamos conquistar novos produtores. Gosto de Pinheiro Machado e desta feira. Se eu não tivesse compromissos em Bagé, ficaria mais tempo por aqui, comentou. 5ª Agrovino 2º Dia de Campo

Quantos anos temos? Fotos Cristiano Lameira

Chico Vieira

Cabanha Da Maya faz bonito

47+

Glaura Gomes Leite

+ 84

Da Maya Domingos 124

+80 Dona Zuleika

9 Chuí Cabanha da Maya Duda 124

A enérgica dona Glaura Gomes Leite, 84 anos, há 25 trabalhando com gado Jersey, foi uma das primeiras produtoras a chegar ao 2º dia de campo da Cabanha da Maya, no dia 8 de dezembro, e recebeu uma atenção especial.

= ...?

A Cabanha da Maya participou da 5ª Agrovino e, mais uma vez, com sucesso total. Na mostra, que acontece de 9 a 13 de janeiro na sede do Sindicato Rural de Bagé, obteve o Grande Campeonato na raça crioula com o macho Da Maya Domingos 124 e entre as fêmeas com a Cabanha da Maya Duda 124.


PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 8 de fevereiro de 2013

Informe Comercial

Boate Kiss, nunca mais! Falar em fatalidade é uma forma, eufemista, de falar em irresponsabilidade. Por isso, a abordagem em relação à tragédia da boate Kiss deve ser técnica e, acima de tudo, ética. O engenheiro civil e Segurança do Trabalho, Márcio Marum Gomes, observa que as casas noturnas, igrejas, ginásios de esporte e casas de eventos de Bagé não obedecem a ABNT. Ele alerta, principalmente, quanto à capacidade de lotação desses locais e a ausência da barra antipânico quando o público é superior a 200 pessoas.

Atenção: » Quando o local não é conhecido, olhe

bem se existem saídas de emergência e, sempre, situando-se qual é o melhor caminho para chegar até elas.

»

Verifique se existe sinalização de segurança como placas de identificação de setas com a rota de fuga e das saídas. Essas placas devem estar em três alturas, acima do vão das portas e de saídas, nas paredes e próximo aos rodapés.

Reflexões sobre a modernidade que leva a finitude...

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Zuleika Borges Torrealba

á quatro dias os meios de comunicação foram inteiramente tomados pelos acontecimentos dolorosos de Santa Maria, pequena cidade do sul onde a vida transcorria, até então, pacatamente. Sou forasteira, mas, nos últimos 10 anos venho convivendo com esse povo generoso do sul. São orgulhosos, fechados, muitas vezes desconfiam do novo mas são boa gente. Quem sabe esta tragédia vai acordar a letargia nacional? Somos movidos por impactos de desastres pois prevenção e manutenção são palavras que não existem no dicionário nacional. Talvez nossa exceção deva-se ao meu avô ter sido influenciado no seu trabalho pela cultura saxônica: trabalhou com ingleses na construção de uma fábrica têxtil na zona rural do Rio de Janeiro.

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Cristiano Lameira

A. Materiais sólidos(madeira e papel) B. Líquidos inflamáveis e equipamentos elétricos C. Equipamentos elétricos energizados

» Procure em locais com escadas ou

rampas se existem corrimãos nas duas laterais, essas áreas devem estar muito bem sinalizados e com iluminação de segurança.

» Confira se existe iluminação de emer-

gência através de blocos de baterias, LED, etc e se ela orienta a direção das saídas.

»

Observe se existem extintores de incêndio e se eles estão identificados com placas de classe de fogo( que indicam a utilização, conforme o tipo de fogo). Por exemplo, o Classe A (Água) não pode ser utilizado em equipamentos elétricos. Portanto, em locais como casas noturnas, cinemas e teatros o ideal é que os extintores sejam do tipo ABC, que contempla todas as classes de fogo.

Voltemos à evolução do que vem sendo a diversão dos nossos jovens. Ao mesmo tempo que nasciam os Vinícius, Toms e Chicos, desenvolvia-se a “látere” um novo conceito de diversão nas casas noturnas, o blue, rock, tcha tcha tcha dos anos 50 vão sendo substituídos por um novo conceito com o crescimento de importância da profissão de DJ. Nossos jovens, bem comportados, ditos de boa família, refugiam-se numa droga permitida que é o sincopado, a batida constante da musica da noite comandada pelos respectivos DJs. Alguém, não avisado, que aterrissasse numa casa noturna pensa estar em meio a “eteis”. O que chamam de musica vai num “crescendo” de delírio coletivo excitados cada vez mais pela batida desenfreada que atinge o clímax que se convencionou ser uma explosão de fogos. É uma necessidade de extravasar este acúmulo de loucura desenfreada como se fosse um grito de liberdade contido por uma supos-

»

Evite locais com muitos degraus, principalmente nas rotas de fuga. As autoridades somente deveriam aprovar o funcionamento de estabelecimentos em que não existisse degraus ou desníveis nesses ambientes. No entanto, em relação aos já existentes, a sinalização de segurança deve identificar esses desníveis. Mas, nas rotas de fuga, eles não podem existir.

Fonte: Decreto nº 38.273 (09/03/1998 que trata das Normas Técnicas de Prevenção de Incêndios no estado do Rio Grande do Sul

ta pressão social de controle. E pobre dos nossos sambas e maravilhosas canções populares! Está tudo sendo substituído por uma música macaqueada do que temos de pior no Brasil e o no mundo. Como vamos construir uma juventude sensível, de bom gosto se são martelados diariamente por essa coisa a que não sei dar nome? Minha gente, um pouco de equilíbrio e vamos dar uma trégua aos nossos ouvidos. A audição não aguenta tantos decibéis. Os extremos são perniciosos, negativos, o conceito de liberdade implica em livre arbítrio e para tê-lo é necessário maturidade. A mediocridade que está crescendo e envolvendo o nosso dia a dia está mostrando ser perigosa e pode adiantar nossa finitude. A ganância do dinheiro fácil e rápido acaba chegando mais cedo e leva nossos jovens. Pensem em Santa Maria... p.s.: reflexões de última hora...a que leva a abreviar a finitude...vide Santa Maria


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PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 8 de fevereiro de 2013

Informe Comercial

...NO TEMPO DAS MARCHINHAS, UM RESGATE DA POESIA

O Carnaval de Bagé marcou época. Quatro dias de folia que contam, ao longo dos anos, formas diferentes de se divertir. No imaginário popular ficaram gravados, por exemplo, os blocos carnavalescos como o King Kong, a Diabolina, o Bom Cabrito não berra, Aí vem o Barão entre tantos outros que desfilavam Na Avenida Sete de Setembro. Sem falar dos grupo de “mascarados” (mais tarde chamados de “Dominós”), homens e mulheres com o rosto coberto, que falavam em voz de falsete, e assustavam a criançada nas noites de Carnaval.

Fotos Museu Dom Diogo de Souza

Jornal Folia editado em Bagé, durante os quatro dias de Carnaval, no ano de 1924

Cristiano Lameira

Para muitos foliões, No tempo das Marchinhas ( Vila de Santa Thereza), agora revisitado, é o verdadeiro Carnaval de Bagé

Carnaval do Cerro - Um negativo em vidro de um Carnaval na campanha (doação de Mário Lopes)

Fotografia dedicada à professora Melanie Granier, a mestra que marcou a história na educação de Bagé

Nos clubes, carnavais muito elegantes e comportados


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