Patrimonio da Comunidade - Edição 12

Page 1

nยบ12

da comunidade www.damayaespacocultural.art.br

Informe Comercial

BAGร -RS Brasil Sexta-Feira

5/04/13

VIVO!


2 Informe Comercial

PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 5 de abril de 2013

Editorial /

Um resistente à indiferença

Na história da humanidade, os cursos d’água atraíram as civilizações. As cidades sempre se constroem em volta da água. E, aqui, não foi diferente. Às margens do arroio Bagé surgiu a cidade, quando no entardecer do dia 31 de dezembro de 1810 exército pacificador de Dom Diogo de Souza acampou com sua tropa. Bem mais tarde, em1893,durante a Revolução Federalista o entorno da Catedral São Sebastião e a Panela do Candal, inclusive com o seu monstro, também foram decisivos na história do município. A realidade mesclada com o imaginário popular construindo uma identidade. Mesmo assim, a comunidade continua de costas para os seus principais cursos d água. Indiferente aos alertas de técnicos e ecologistas, a população continua fazendo dos arroios que cortam a cidade um grande depósito de lixo e desaguadouro do esgoto cloacal. E, na resistência de um combatente, ele insiste em continuar vivo.

André Nogueira*

Conheci o Arroio Bagé há poucos anos e sobre ele escutei muitas histórias. E com olhos de fora, que contemplam aquilo que para muitos já é lugar comum, sempre cruzava com ele na cidade, assim, imediatamente, vinham à memória as falas acadêmicas, os comentários de corredor e as conversas de mesa de bar, sem dúvida as melhores. Dessa forma, fui construindo um olhar sobre arroio, um pensamento, que, como o próprio, também tem a sua sinuosidade.

Expediente

Penso que o arroio seja um discurso que atravessa a cidade, assim como,

Produção

Sem dúvida, uma das histórias bageenses mais deliciosas que escutei foi sobre a Cobra Grande do Candal, um monstro mítico com o qual a cidade possui seus laços afetivos. Creio que sejam esses os ingredientes para que nos sintamos acolhidos pelo espaço: memórias, quer sejam reais quer inventadas. Que bom seria se nossos ouvidos escutassem essas histórias sempre como da primeira

Jornalista Responsável Angelina Quintana - Reg. Prof.5305 Fotos Cristiano Lameira Projeto Gráfico Ana Remonti Rossi Impressão Gráfica do jornal Zero Hora Tiragem 5000 exemplares

vez, carregados por um encantamento especial como o de quem nos conta. Olhar para o Arroio Bagé, ver seu caminho pela cidade, é perceber que ele diz todos os dias: estou aqui com vocês, peço e dou passagem a vocês. Mas muitas vezes não é escutado nem visto assim como algumas das histórias de Bagé não são mais ouvidas. Certamente a dificuldade está em nossos olhos e ouvidos. Por isso é preciso resgatar a sensibilidade do olhar, do escutar e até do falar para dar (re)significado àquilo que nos cerca. Deixar-se envolver é um exercício contínuo e necessário que nos exige entrega, atenção e desprendimento para a educação de um olhar sensível ao que nos rodeia.

*Professor de Literatura IFSul-Campus Bagé

{

{

Um olhar sobre o Arroio

os discursos atravessam o sujeito. Inconscientemente eles nos vão constituindo, (re)formando ou impondo, com silêncio, sua forma, seus detalhes... Um dia acordamos e pensamos que temos um posicionamento específico a respeito de algo, é mais ou menos bater no peito e dizer com orgulho: é assim que penso. Fazemos, na verdade, a apropriação de pensamentos alheios em um processo tão tácito que parece ser irreal. Mas é real sim!

Patrimônio da Comunidade é uma publicação especial produzida pelo Da Maya Espaço Cultural em apoio ao Movimento de Resistência à Destruição do Patrimônio Histórico de Bagé.

Endereço Rua General Osório, 572 / Anexo Bagé RS Brasil CEP 96400.100 / Telefone (53) 3311.1874 Site www.damayaespacocultural.art.br


3

PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 5 de abril de 2013

D

Informe Comercial

icas de

O BOM CRESCIMENTO

ona Zuleika

No dia 8 de março, Dona Zuleika Borges Torrealba foi uma das homenageadas pela Câmara de Vereadores de Bagé pelo Dia Internacional da Mulher. Como não poderia estar presente, elaborou um texto de agradecimento:

Senhora e senhores. Boa noite! Em primeiro lugar, mais uma vez, agradeço o carinho da comunidade de Bagé. Mas não me sinto fazendo nada mais do que a minha obrigação. Considero que a minha chegada e o meu trabalho, neste pedaço da pampa gaúcha, não foi por acaso. E, como nada é mesmo por acaso, vim para cá fazer a minha parcela, porque acredito que se cada um fizer a sua parte todos crescem. Senão, a casa cai! Se cada um se responsabilizasse em fazer o bem, chegaríamos ao bom crescimento. Entendo

que fazer o bem aos outros é fazer o bem a si mesmo. “Ama ao teu próximo, como se fosse a ti mesmo”. Realizar o que eu posso de melhor para o bem de todos: este é o maior prazer da vida. Assim eu fui ensinada.

Não canso de alertar que a modernidade não pode ser um assassinato do coletivo. Onde os interesses de um pequeno grupo subjugam e destroem o que foi construído pelas comunidades ao longo da história.”

Portanto, acredito que o mau comportamento é resultado da burrice e do individualismo. Corrupção é burrice. Não há crescimento a partir da burrice e da corrupção. Para vencermos o atraso, precisamos usar a inteligência. O bom uso dela leva ao sucesso. Não canso de alertar que a modernidade não pode ser um assassinato do coletivo. Onde os interesses de um pequeno grupo subjugam e destroem o que foi construído pelas comunidades ao longo da história. Fazer o melhor que se pode com seriedade, honestidade num meio ambiente em perfeito equilíbrio deve ser a nossa meta. Senhores vereadores, faço um alerta neste dia em que resolveram homenagear as mulheres: Não posterguem mais a votação que protege o patrimônio histórico da Bagé. Somos, na grande maioria, mães. E, portanto, queremos embalar os sonhos dos nossos filhos e todos aqueles que ainda estão por vir. Cuidado: Os maus bageenses estão prontos para demolir a cidade e destruir o meio ambiente. Mais uma vez, obrigada.

Para o IPHAE, não existe tapetão! Centro Histórico de Bagé foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Estado (IPHAE). Portanto, quem derrubar e descaracterizar as construções contempladas nesse mapeamento comete um crime. (Diário Oficial do estado - 21/05/2012 )


4

PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 5 de abril de 2013

Informe Comercial

O Arroio Bagé agoniza Clamamos por transparências: a de nosso amado Arroio Bagé e a de nossa consciência. Por favor, um arroio atravessa nossa cidade pedindo socorro, um arroio pede atravessar teu olhar e morar no gesto de teu cuidado.

AV. PRES

O arroio Bagé, nosso mais precioso patrimônio natural, e, um dia, nosso primeiro balneário tem sede, a grande e urgente sede de teu cuidado. Rejeitar a Natureza é rejeitar a nós mesmos. Agredir o arroio Bagé é apunhalar a nossa identidade.

O traçado que enfeita a cidade A fonte do arroio Bagé localiza-se no fundos do 3º Batalhão Logístico (3º BLog). Ele nasce do encontro dos arroios da Tábua e Peres. O primeiro tem origem no bairro São Martin e, no seu percurso, atravessa as ruas Paulo Corrêa Lopes, São João, Avenida Presidente Vargas, e as ruas Monteiro Alves e Ernesto Médici, juntando-se com o arroio do Peres, contornando o bairro Jardim do Castelo, para formar o arroio Bagé. Das nascentes dos afluentes até encontrá-lo, as águas percorrem cerca de 12 quilômetros. Nas proximidades do Ginásio Presidente Médici, o Militão, suas águas recebem mais um afluente, o arroio Gontan. A partir daí, essas águas correm em direção ao Uruguai e desaguam no Rio Negro.

CEMITÉRIO

MILITÃO


PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 5 de abril de 2013

5 Informe Comercial

S. VARGAS

Elvira Nascimento Eu que sou acumulado de Deus, que guardo estrelas à noite e, de dia, o pastoreio do sol, 3º BLOG

25ª GAC

eu que dou pasto de água aos lambaris, quando a música das trepadeiras azuis dão de cantar o “nunca mais”

PAREDÃO

PANELA DO CANDAL

eu choro de minha própria água, e te peço de joelhos em minhas machucadas margens: “olha por mim sou teu tesouro, o único rio afagando tua cidade!”

PASSO DO ONZE

Há muito as pás dos moinhos foram embora Foi embora há muito meu limpo rosto de rio Hoje junto lixo e restos, teu desvairado consumo Pastoso, escuro, apodreço e tu me atravessas do alto Eu só quero outra ponte a que te trás para ouvir bem pertinho meu gemido de rio morrendo Ah! Essa Panela do Candal, do mito e do mistério Há muito navegam nela sendeiros, jardins e bancos de domingar PASSO DO PRÍNCIPE

Assim sonhou Lutznberger Assim sonha sua Bagé.


6

PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 5 de abril de 2013

Informe Comercial

Mais de 20 anos se passaram... Este arroio está ainda muito belo, ecologicamente bastante são. O que, sim, é uma grande vergonha para a cidade de Bagé é a maneira como está sendo tratado pela população. Por um lado que, indisciplinadamente, ali joga lixo e detritos e pelo descaso da administração pública que não toma providência educativa e repressiva para sustar esta indecente agressão.” (Trecho da carta enviada, em 1993, pelo ecologista José Lutzenberger ao Grupo Ecoarte)

Um alerta ignorado há mais de 20 anos. Esta foi a síntese do ecologista e que, na época, ocupava o cargo de Ministro do Meio Ambiente rebatendo a proposta de canalização do arroio Bagé e de seus afluentes. No mesmo documento, Lutzenberger orientou que o correto seria que todo o esgoto que é despejado no leito, fosse desviado para fora da cidade através de uma tubulação, que passaria por dentro da bacia ou pelo leito do arroio para que fosse despoluído em lagos biológicos de tratamento.

Águas que acumulam anos de descaso, indiferença e lixo

...do grande alerta. E hoje? De lá para cá, o que a comunidade bageense e o poder público fizeram? Para agredí-lo, as ações foram bastante intensas. Com o crescimento urbano e o consequente aumento da população, o volume do despejo do esgoto cloacal nos arroios também cresceu. As populações ribeirinhas, apesar

do alerta, continuaram entulhando o leito desses arroios com lixo. Muito lixo. E, como se não bastasse, a indiferença da comunidade também parece estar em progressão geométrica. Por sua vez, o poder público promete agir. Mas, somente nos períodos pré eleitorais. Até quando Bagé?


PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 5 de abril de 2013

7 Informe Comercial

A vida como um ciclo na trajetória dos Salis A exposição de fotos que integra o livro do fotógrafo Rio Grande do Sul - O solo e o homem, de Eurico Salis, reúne 200 belas imagens. A série foi capturada pelas lentes do fotógrafo, durante dois anos, numa peregrinação por diversas regiões do Estado registrando a relação do homem com a terra com textos do jornalista Renato Lemos Dalto. O fio condutor da viagem foi um livro escrito pelo avô do fotógrafo sobre a terra gaúcha e a formação de seu povo. A obra de Eurico Jacintho Salis chamava-se O Solo e o Homem no Rio Grande do Sul. Na época, ganhou texto de apresentação do escritor e amigo Érico Veríssimo e foi publicada em 1959 - justamente no ano em que nasceu seu neto Eurico Salis.

Cavalos, esculturas de Beto Salis Veterinário por profissão, produtor rural por tradição e escultor por paixão. Oscar Roberto Salis, o Beto Salis, misturou tudo isso e passou a dedicar-se a fazer esculturas de cavalos crioulos em terracota. Ao lado do primo, Beto salis inaugura a exposição Cavalos, esculturas de Beto Salis. Entre os seus trabalhos mais conhecidos estão as esculturas do Minuano e Aragana, na Praça das Carretas.

Lançamento do livro e exposição Rio Grande do Sul - O solo e o homem de Eurico Salis, e a mostra

Cavalos, esculturas de Beto Salis.

titulo de quatro linhas - texto igual 2ª ret. da seis, ok ?

{

11/04 19h

De lá para cá, o que a comunidade bageense e o poder público fizeram? Para agredí-lo, as ações foram bastante intensas. Com o crescimento urbano e o consequente aumento da população, o volume do despejo do esgoto cloacal nos arroios também cresceu. As populações ribeirinhas, apesar do

No Da Maya Espaço Cultural

{

V ER N ISSAGE

alerta, continuaram entulhando o leito desses arroios com lixo. Muito lixo. E, como se não bastasse, a indiferença da comunidade também parece estar em progressão geométrica. Por sua vez, o poder público promete agir. Mas, somente nos períodos pré eleitorais. Até quando Bagé?


8

PATRIMÔNIO DA COMUNIDADE Bagé, Sexta-Feira, 5 de abril de 2013

Informe Comercial

D

A intensidade de cada papel

o Espírito Santo vem uma exposiçãomuitointensa:Constelações. O artista capixaba Hilal Sami Hilal conheceu Bagé, em dezembro de 2012, mergulhou em papeis e personagens que contam a história da cidade e saiu com o firme propósito de produzir uma exposição inédita. A grande marca é a interação do artista com a comunidade. E essa prática se dá através da produção do papel artesanal a partir da constatação do artista de que toda a trajetória do ser

humano é construída por papéis. Físicos e afetivos, reais e imaginários. _Desde Desde que nascemos acumulamos papeis. Por isso, a instalação vai reunir todos os nomes que a comunidade produzir, criando uma grande tecelagem colorida. A poética de Constelações é a possibilidade de fusão de tecidos individuais que criam um corpo único. São pessoas que nunca se encontraram e vão ficar juntas. É a memória do corpo, presente nas roupas, que vai se apresentar. Logo, são importantes para nós e para essa rede de afetos e memórias em que se constrói a história de um povo, sintetiza Hilal. Agora, de 10 a 12 de abril, o artista vem a Bagé coletar subsídios para a exposição que começa no dia 22 de junho no Da Maya espaço Cultural. Para isso, vai realizar worshops com professores de educação artística das redes municipal e estadual e também pessoas da comunidade interessadas em construir uma grande rede de papeis. Onde todos são importantes.

*

Voce tem um projeto para SALVAR O ARROIO BAGÉ?

Então, junte-se a nós...

contato@damayaespacocultural.art.br

Vitória ES

Bagé RS

Participe! A partir do workshop é necessário multiplicar em 10 vezes o número de integrantes dessa constelação de memórias e afetos. Cada integrante deve levar roupas, de puro algodão(bem puído) produzir o seu nome ou de alguém importante na sua memória. Entre em contato conosco pelo telefone 3311.1874 ou pelo e-mail contato@ damayaespacocultural.art.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.