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Quando a arte alia realização profissional e utilidade pública

Casal de artistas do Circênico prova que a arte do circo permanece viva e pode ser um instrumento efetivo para para saúde, cultura e social

Viviane Pelegrin Dias Rosella e Fernando Milani Rosella, do Circênico
foto: acervo Circênico

Hoje tem marmelada? Não tem não senhor. O trabalho de teatro circense e escola de circo realizado pelos atores Fernando Milani Rosella e Viviane Pelegrin Dias Rosella é muito sério e bem estruturado para atender demandas de pessoas de todas as idades interessadas em se desenvolver através da superação de desafios e também de empresas com demandas de parceria cultural e de eventos que devam entreter o público com emocação e alegria.

Sem deixar de lado os fundamentos do riso e da geração de inúmeros “Óhhhhh!”s, a dupla do Circênio, da cidade de Jaú, trabalha com um profissionalismo fora de série, deixando claro que esse é também um caminho profissional viável.

Em entrevista exclusiva ao 360, eles contam como tudo acontece no Circênio:

360: Como se tornaram artistas circenses? Eu, Fernando, comecei com o teatro, como ator. O circo entrou para mim como elemento de cena, depois tomou conta quase de tudo. O circo é muito rico. Um universo de possibilidades.

A Viviane começou dando aula de pole dance no Circênico e aos poucos também foi se entregando à sedução do circo. Veio o tecido aéreo, o malabarismo, a suspensão capilar e, de repente, lá estava a palhaça Casquinha, com todas essas habilidades, no centro do picadeiro.

360: Como surgiu o Circênico?

O Circênico marcou a fusão do teatro e do circo na minha vida. Criamos em 2004, há 20 anos portanto, justamente com esse intuito: “Aproximar diferentes linguagens artísticas, artistas profissionais e amadores para o exercício da arte.

360: Qual o propósito do Circênico?

Tornar a vida mais bela! Ou melhor explicando: ser instrumento para que cada um perceba a beleza da vida da sua maneira, com sua própria verdade. O exercício e a função das artes cênicas e circenses de enfrentar seus medos, vencer seus obstáculos e limites, superar-se e descobrir-se além da mecanização humana e rótulos sociais já ajuda a fazer isso por si só. Depois é canalizar alegrias e sofrimentos para algo além. Para a beleza de criação e da expressão artística.

360: Quais objetivos vocês seguem?

Muitos, principalmente o de continuar essa trajetória a todo custo, só para ver onde vai dar. Só para ser teimoso (risos). Quando digo continuar, é plantar e colher. E não deixar morrer. É tornar real no presente, algo que não fazia parte da história no passado.

foto: acervo Circênico

360: Quantas pessoas já passaram pela escola e oficinas?

Puxa vida, nunca parei para contar. Sempre foram muitas frentes de ação. Em 2023, demos oficinas para quase 800 pessoas. Teve um ano, que apresentamos mais de 200 vezes um espetáculo para mais de 50 mil pessoas. Enfim são 20 anos. Faça a conta. É muita gente, muita gente mesmo.

360: Quais atividades vocês oferecem?

Todas as atividades do circo, como malabarismo, equilíbrio, acrobacias, perna de pau, teatro, ginástica artística, parkour, tecido aéreo e pole dance para pessoas de todas as idades!

foto: acervo Circênico

360: Fale da parceria com a Special Dog.

Foi um encontro do destino. Estávamos trabalhando na Feira do Livro do Colégio Camões e nossa programação tinha um cortejo pela cidade, mas chovia muito. Nesse mesmo horário, estava programada a apresentação do Coral do Centro Cultural no espaço de vivência do colégio. Ficamos ali escondidinhos só ouvindo, o plano era não atrapalhar o coral. Mas estávamos lá, prontos para ação e a música era contagiante. Com autorização não me lembro de quem, entramos em cena nas duas últimas músicas, de improviso, fazendo do pátio da escola nosso picadeiro. Foi incrível!

Naquele mesmo ano, a Juliana, gerente do Centro Cultural, me procurou para fazermos uma participação na Cantata de Natal e no ano seguinte já estávamos dando oficinas em Santa Cruz. Nunca mais paramos. O resultado de tudo isso é muito gratificante.

Apresentaç~ao de Cantata de Natal do Centro Cultural Special Dog
foto: acervo Circênico

360: Como você avalia a trajetória e atividades do Centro Cultural Special Dog?

A Special Dog é uma rara empresa desse nosso país. Através do Centro Cultural, proporciona um mais que excelente e expansivo cenário para o desenvolvimento cultural, social e artístico de sua comunidade. Permite que sejamos educadores sem deixar de lado nosso ofício de sermos artistas.

Somos muito gratos por nossa história ter se cruzado com a do Centro Cultural. Temos muito orgulho de estarmos crescendo e aprendendo juntos. É muito mágico na vida quando você encontra um ambiente favorável para a exploração e o desenvolvimento de suas potencialidades. Nessa parceria, encontramos isso.

foto: Flavia Rocha | jornal 360

360: Fale da montagem dos espetáculos.

Sempre um caos criativo (risos), nem ouso tentar explicar. Meu processo criativo passa por muitos caminhos e se não estiver conectado com algo a mais, que hoje para mim revela: “O que precisa ser dito nessa montagem?”, a coisa não funciona.

Às vezes existe um conflito entre o que achamos que devemos fazer e o que temos que fazer. Para renunciar a um e perceber o outro precisa estar aberto, livre e atento. Precisa estar em movimento e se aquietar ao mesmo tempo.

360: Como uma cidade ou empresa pode contratar vocês?

Pelo Instagram do Circênico: @circenico

360:Como se sentem vivendo do Circo?

Me sinto vivo! Acho que não me sentiria assim em outra profissão ou meio.

foto: acervo Circênico

360: Qual sua estrutura de trabalho?

A sede de Jaú tem 1200m2 com diversos espaço de aulas e treinos, lanchonete e uma sala de apresentações. Temos ainda uma estrutura de circo que fica permanentemente montada na Associação Desportiva da Polícia Militar , onde acontecem oficinas e espetáculos. E temos as tralhas e equipamentos no Grêmio Special Dog.

Aluno do Circênico em Jau

360: Vocês estão promovendo oficinas gratuitas na turnê do Circo Coquinho, feita pelo PROAC (lei de incentivo fiscal do Estado de SP). Como atuam na áera social?

No setor cultural trabalhamos muito com as questões de democratização ao acesso. Vai um pouco de encontro a "o artista ter que ir aonde o povo está". As ações sociais tem a ver com isso, garantir o acesso às comunidades de baixa renda, às crianças com alto índice de vulnerabilidade social. Infelizmente são muitas no nosso país e temos muito pouco recurso destinado a isso. Se um dia vamos mudar esse cenário, é através da arte educação. Deveria ser obrigatório na gestão pública ter um centro cultural por bairro. Estamos fazendo algumas oficinas dessas no projeto com o governo estadual, com oficinas em seis cidades. É um grão de areia no deserto, mas pode ser também uma luz no fim do túnel. Vale dizer, que em Santa Cruz a realidade é bem melhor do que em qualquer lugar que conheço. O Centro Cultural Special Dog desempenha esse papel. Realizamos oficinas de circo e teatro de 5ª a sábado, gratuitamente, em uma estrutura exemplar.

Oficina gratuita para crianças e jovens da Vila Divineia, em Santa Cruz do Rio Pardo *
foto: Flavia Rocha | jornal 360

360: Como faz para participar?

Basta se inscrever e ter um pouco de paciência, pois a fila de espera é uma realidade, mas todo ano zeramos essa fila.

foto: acervo Circênico

360: Quais são seus planos e sonhos?

Acho muito perigoso esse negócio de ter sonhos. Sonho é algo que devemos ter, tenho muitos, mas acho que eles devem ficar lá longe, pairando no ar. Como algo que vemos se aproximar lentamente. Mas não devemos olhar direto para o sonho, pois ele ofuscará a visão da realidade presente e podemos perdê-lo. À medida que ele se aproxima, deixa de ser sonho e passa a ser realidade. O grande barato então é perceber que o que vivemos hoje já é um sonho que sonhamos outrora, algo que criamos. Isso é mágico.

Temos que perceber isso para sermos felizes, senão ficaremos adiando a realização constantemente. É como diria o poeta:

“Compreender a marcha e seguir em frente.”, esse é meu sonho e objetivo: marchar percebendo cada cor, sentindo cada aroma e a brisa do vento. Ah! E perceba que o verbo é marchar e não deslizar ou descer na banguela, envolve ação e protagonismo! (risos)

* O casal Fernando e Viviane em cena durante espetáculo do Circo do Coquinho *
foto: acervo Circênico
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