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Produção agroecológica tem apoio técnico de órgãos públicos

Produtores interessados em migrar ou testar o sistema de produção agroecológico devem procurar a CATI na Casa de Agricultura

É possível transformar uma lavoura convencional, acostumada ao uso de agrotóxicos numa cultura agroecológica? Quem, do setor público de cada município, pode ajudar os pequenos, médios e grandes produtores nessa empreitada? Para responder a essas e outras perguntas, estivemos conversando com o engenheiro agrônomo Euvaldo Neves Pereira Junior – Eng. Agrônomo e Diretor Técnico CATI Regional Avaré :

* Junior, diretor da CATI Regional Avaré *

360: A CATI de Avaré tem um trabalho já de longa data em torno do desenvolvimento das culturas agroecológicas. Pode detalhar um pouco isso?

Junior-CATI: Este trabalho começou em 2013, com alguns produtores sendo atendidos pelo técnico Eng. Agr. Sergio Faria, o qual pertencia ao quadro da CATI Regional de Avaré. Em 2014 foi firmada uma parceria entre a CATI Avaré e o IFSP – Instituto Federal de São Paulo – Campus Avaré visando a formação de um Núcleo de Estudos de Agroecologia, é bom salientar que esta parceria com o IFSP se estende até hoje. Foi criada uma Associação “Orgânicos Avaré”, a qual por muito tempo teve apoio da Regional e hoje anda com as “próprias pernas”.

As dificuldades ao longo dos anos foram muitas. Muitos produtores iniciaram na área e não seguiram em frente, tivemos sempre um número de produtores flutuantes, alguns entraram, outros saíram, mas sempre trabalhando com cerca de 15 a 25 produtores da Regional, neste sistema.

Em 2021 teve a saída do Sergio Faria da CATI Regional de Avaré, mas sabendo da importância do tema destinamos um outro técnico para levar a frente os trabalhos da regional. Hoje quem conduz os trabalhos é a Técnica Eng. Agrônoma Ana Caroline 2.

360: Essa atividade da CATI de Avaré em torno do desenvolvimento de cultivo agroecológico é uma prática da unidade de Avaré ou uma conduta global da CATI?

Junior-CATI: Uma conduta a nível de Estado de São Paulo. É claro que em algumas Regionais, ao todo são 40, os trabalhos sobre agroecologia estão mais desenvolvidos. Mas o produtor pode obter informações em todas as unidades da CATI 3.

360: Como produtores interessados em introduzir e desenvolver práticas agroecológicas em suas propriedades devem agir para obter apoio da CATI, inclusive não pertencendo à regional de Avaré?

Junior-Cati: Primeiro passo, procurar a Casa da Agricultura do seu município. Caso o seu município não possua uma, procurar a mais próxima ou uma das 40 Regionais no estado. Mesmo que a Regional ou o município não tenham algum trabalho sobre agroecologia, elas podem estar solicitando a outras regionais, técnicos que façam o atendimento a este produtor interessado.

360: Quais cidades a CATI Avaré atende?

Junior-CATI: A Regional Avaré, é composta por 12 municípios: Avaré, Arandú, Águas de Santa Bárbara, Barão de Antonina, Cerqueira Cesar, Coronel Macedo, Iaras, Itaí, Itaporanga, Manduri, Paranapanema e Taquarituba. Com uma área territorial total de cerca de 560. mil hectares.

360: O que é necessário para que as cidades ofereçam o que Avaré oferece em termos de apoio ao desenvolvimento de culturas agroecológicas?

Junior-CATI:Primeiro interesse no assunto. Segundo, vontade para trabalhar na área e, se possível, disponibilizar um técnico municipal, o qual poderá ser capacitado para tal, para trabalhar junto aos produtores rurais do seu município nesta área.

360: Qual a importância do apoio de governos municipais para que a CATI possa promover a agroecologia? Como deve ser esse apoio?

Junior-CATI: O apoio dos governos municipais é essencial à agroecologia. Isso porque uma das principais vertentes da agricultura agroecológica é o fortalecimento da produção rural regional e dos modelos participativos de produção, envolvendo e engajando não apenas os produtores rurais e os órgãos de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural), como também o setor de ensino e pesquisa, os consumidores e o poder público.

Quando falamos do poder público, o poder municipal é o que possui o contato mais próximo com os produtores rurais, diariamente os apoiando como profissionais e como cidadãos. Esse apoio profissional pode se dar pelo desenvolvimento de legislação que incentiva e valoriza os sistemas, as boas práticas, os produtos e os produtores agroecológicos; pelo investimento em infraestrutura e equipamentos voltados à agricultura agroecológica e familiar; pela capacitação de mão-de-obra dedicada a ATER no município; pela criação, incentivo e manutenção de canais e projetos de comercialização e de troca de conhecimento sobre o tema ou até pela demanda municipal dos produtos agroecológicos regionais.

* Projetos agroecológicos de Avaré com apoio da CATI segues com sucesso e são replicados na região. Programas de incentivo envolvem entidades e especialistas *

360: Existem programas públicos de auxílio ao produtor interessado em migrar para a agroecologia?

Junior-CATI: Existem atualmente programas públicos que já beneficiam o produtor agroecológico ou aquele que está em transição. Para acessar esses programas é muito importante que os produtores interessados busquem conhecer as organizações de Agroecologia e ATER’s mobilizadas em sua região. A CATI mesmo possui um programa de “Protocolo de Transição Agroecológica”, onde o produtor, ou grupo de produtores são acompanhados e orientados na transformação das suas bases produtivas e sociais para recuperar a fertilidade e o equilíbrio ecológico do agroecossistema em acordo com os princípios da Agroecologia.

Além disso há outros projetos, como o ILPF – Integração Lavoura, Pecuária, Floresta; Projeto Cacau SP, que nada mais são de sistemas agroecológicos que visam a melhora da fertilidade do solo, em conjunto com a conservação do solo, aumento da produtividade e preservação do meio ambiente, sempre integrando diversos sistemas de plantio e produção.

Temos ainda uma linha de financiamento através do FEAP – Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista da Secretaria de Agri- cultura e Abastecimento de SP –, que incentiva o investimento e o custeio da transição agroecológica e agricultura orgânica, com juros subsidiados a 3% ao ano.

O PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) estimula a aquisição de alimentos oriundos da agricultura familiar para a alimentação escolar, beneficiando com preço justo e diferenciado os agricultores familiares e, mais ainda, os agroecológicos. O mesmo ocorre com o PAA/Cesta Verde (Programa de Aquisição de Alimentos), que distribui cestas de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade com valorização dos produtos agroecológicos.

Existem ainda regularmente editais do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) que incentivam projetos envolvendo agroecologia, diagnósticos participativos, formação de núcleos de desenvolvimento regionais e outros temas correlatos.

360: É possível produzir agroecologia sem aumentar o valor do produto final para o consumidor?

Junior-CATI: É possível, porém não é simples. Dentre as principais etapas da transição de um sistema convencional para um agroecológico está o redesenho da propriedade rural visando o máximo aproveitamento de recursos e processos. O objetivo é simples: reduzir ao máximo as perdas e a dependência por insumos externos e aumentar o equilíbrio do sistema produtivo para que o custo de produção seja mais barato que o convencional.

Esse processo não é rápido e tampouco barato nos primeiros anos de transição. O redesenho de uma propriedade para o sistema agroecológico geralmente exige elevado investimento em infraestrutura, regularização ambiental, equipamentos e, ainda hoje, aumento da mão-de-obra. Além disso, o alcance de um sistema equilibrado demanda grande conhecimento técnico e prático sobre a região produtiva, as culturas exploradas, o manejo e a fertilidade de solo e infinitos outros temas a serem apreendidos pelos produtores.

Esse desenvolvimento do saber, mesmo em sistemas participativos, leva tempo por si só, ainda sem mencionarmos as safras necessárias para que as relações biológicas, físicas e químicas da propriedade se estabilizem.

Mesmo após a transição do sistema e o alcance do menor custo de produção, o preço para o consumidor ainda dependerá diretamente da forma como adquire o produto final, que pode ser através da venda direta ou intermediado por terceiros; da baixa oferta do produto na região, seja por falta de produtores, por alta demanda do produto e/ou por irregularidade da demanda; e da necessidade de fretes a longas distâncias, que encarecem ainda mais o produto.

Resumidamente, a produção agroecológica sem aumento do preço do produto final dependerá tanto do sucesso técnico do sistema produtivo, como do maior estreitamento regional entre produtor rural e consumidor.

360: Como o produtor que não tem uma CATI atuante como a de Avaré deve fazer para obter apoio para a introdução da agroecologia em sua propriedade?

Junior-CATI: Como disse anteriormente, ele pode estar procurando a Casa da Agricultura de seu município ou a Regional a que ele pertence, e estar solicitando atendimento nesta área. Caso a Regional não possua este trabalho ela estará solicitando a outras regionais o apoio para que este produtor seja atendido e possa se desenvolver no setor

360: Pode falar de projetos que deram certo e da perenidade que conseguem quando migram para a agroecologia?

Junior-CATI: São bons exemplos de projetos que deram certo a Associação de Orgânicos Avaré, onde comercializam produtos orgânicos e agroecológicos a preços justos diretamente aos consumidores.

Temos ainda um produtor de Cerqueira Cesar atendido pela CATI Regional Avaré, que esta fazendo um excelente trabalho, e agora migrando para a fruticultura, inclusive foi feito uma reportagem muito boa (https://www.youtube.com/watch?v=slbVyuOPP3g), e estamos montado nele uma Unidade Adaptativa de Tecnologia, para divulgação e demonstração a outros produtores que queiram iniciar na atividade.

360 Como você avalia o futuro das atividades rurais em 5, 10 e 20 anos?

Junior-CATI: Cada vez mais as atividades rurais vão ter que integrar diferentes formas de exploração, dando ênfase a sistemas que conciliem a preservação do meio ambiente com a produção de alimentos, que utilizem menos defensivos e que promovam o equilíbrio do Agro e da Ecologia!

360: Qual o papel da CATI e das secretarias de agricultura para que os pequenos e médios produtores possam avançar na implantação de práticas agroecológicas em suas propriedades?

Junior-CATI: Uma vez que as secretarias municipais de agricultura são os órgãos oficiais de maior proximidade nas propriedades do município e a CATI atua com Assistência Técnica e Extensão Rural focada no pequeno e médio produtor, seu principal papel é o de comunicação, incentivo e apoio para a implantação de práticas agroecológicas. Além do apoio prático essencial com a infraestrutura, os equipamentos e o auxílio ao crédito e políticas públicas, ambos os órgãos tem a responsabilidade de trazer o conhecimento da agroecologia aos proprietários interessados e de incentivar aqueles que desejam implantar esse modelo durante todo o processo.

360: Qual seu recado para pequenos e médios produtores sobre a migração pra agroecologia?

Junior-CATI: É um nicho de mercado que tende a crescer cada vez mais. Não tenha medo de fazer a transição, mas faça de forma gradual sempre acompanhado de um técnico habilitado, seja privado ou público.

As Casas da Agricultura são da Secretária de Agricultura do Estado de São Paulo, mas na maioria dos municípios estão sendo tocadas pelas Secretarias Municipais de Agricultura, ou Departamento de Agricultura das prefeituras municipais, mas sempre sobre a atenção de nós do Estado.

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