Créditos das imagens, desenhos e rabiscos: 1. foto de capa: Marcelo Cabral págs. 2 e 19: Marcelo Cabral 3. http://biologiaterraemperigo.blogspot.com.br 4 e 5. Acervo do CALA 8 e 9. Lucas Anghinoni e Natália Gonzales 10 e 11. Ícaro Ramos Seleme 12. André Junckes 12. Guilherme Ruchaud 13. Acervo AMA 15. Julia Milan e Marcelo Cabral
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MAIO 2012 . #12 . ANO 7 Colaboraram nesta edição: Alunos ARQ: Aline Cavanus (artigo) André Junckes (artigo) Fausto Moura Breda (artigos) Guilherme Ruchaud (artigo) Ícaro Ramos Seleme (imagens) Lucas Anghinoni (artigo) Lucas Passold (artigo) Natália Gonzales (artigo) Turma 2009.1 (artigo) Professores e ex-professores: Soraya Nór (artigo) Vanessa Pereira (artigo) Marcelo Cabral Vaz (imagens) AMA CALA Imprensa da UFSC
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DO CALA. 4 MAU - UFSC. 7 DEVAGANDO. 10 PLANO DIRETOR DE FLORIANÓPOLIS. 13 PONTA DO CORAL 12 EDITORIAL . 3 CONTEXTO . 6 ANÁLISE . 8 VIAGEM . 11 AMA. 12 ARQUITETÔNICO.UFSC.BR . 15 PALAVRA DO PROFESSOR. 13
Mais uma gestão do CALA vai chegando ao fim e mais uma edição do Sem Revestimento vamos publicando, buscando sempre a participação do maior número de estudantes do nosso curso e a discussão de temas latentes à nossa profissão e dia-a-dia. É com muita felicidade que a gestão A Centelha chega ao fim, se esforçando para consolidar o nosso jornalzinho (e quando dizemos nosso, queremos dizer de todos os estudantes da ARQ), com textos de qualidade e uma efervescência de ideias e participação dos estudantes, levantando novos pontos e abordagens sobre o cotidiano arquitetônico. Nessa edição contamos com textos que discutem diretamente o nosso currículo, elucidando as contradições de um curso sem Projeto Político Pedagógico, as inquietações dos estudantes frente à fragmentação de um ensino que muitas vezes não consegue fazer a conexão entre teoria e prática. Os textos sobre estágios (precedido de uma forte discussão sobre a nova regulamentação de estágios do nosso curso), sobre a prática profissional aliada ao ensino e a pesquisa de opinião a cerca do curso fazem um belo casamento. Conseguimos perceber a crescente preocupação dos estudantes a cerca de sua formação, do caráter crítico e criador que ela deve ter, e não só tecnicista. Muitas também já foram as discussões a cerca da pouca divulgação de nossas atividades enquanto curso, e do que produzimos aqui na ARQ e nessa corrente vem a proposta dos estudantes da turma 2009.1 de organizar uma mostra das atividades do curso junto a semana de apresentações de TCCs, no começo do semestre. Dentro desse contexto percebemos que a realidade do nosso curso não está desligada da realidade da nossa sociedade. A busca por melhorias na nossa formação acadêmica também passa pela crítica de nossas cidades, pelo modo como elas são compostas, como são projetadas. As discussões sobre a Ponta do Coral e o Plano Diretor Participativo de Florianópolis são uma expressão da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão: da influencia direta que a arquitetura pode ter na sociedade. A prática da arquitetura também parte da vivência, como a experiência de outras cidades e o contato com estudantes de outras universidades, em encontros como o EREA Bagé, que temos um breve relato nessa edição. Bom, é isso, esperamos que aproveitem!
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DO CALA “A CENTELHA” (2011 - 2012) Mais um ano se passa e mais uma gestão do CALA chega ao fim. É importante que ao fim de cada gestão seja feita uma avaliação não só por parte daqueles que foram eleitos enquanto gestão, mas também de todos os estudantes que foram representados por esta gestão. Nesse sentido nós da chapa A Centelha, gostaríamos de fazer uma breve avaliação desse processo. O Centro Acadêmico é a entidade representativa dos estudantes de arquitetura, é aberto e a cada ano ocorre a eleição de uma chapa, de acordo com um programa político de atuação. A atual gestão A Centelha se formou a partir desse processo, concorrendo sozinha ao pleito, mas mesmo assim tendo como resultado uma votação muito expressiva, o que consideramos um reflexo da presença e importância do Centro Acadêmico para os estudantes de arquitetura. Nós, enquanto gestão eleita pelos estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, buscamos seguir as propostas apresentadas na época de eleição, nas diversas áreas em que um Centro Acadêmico deve atuar. No que diz respeito às relações externas do CALA, buscamos sempre nos mantermos presentes. A participação nos CEBs (Conselhos de Entidade de Base) foi priorizada pela gestão por acreditarmos que a articulação com outros centros acadêmicos é imprescindível para a construção de um movimento estudantil mais atuante e representativo. Além disso estivemos presentes em espaços como a FENEX (Fórum nacional de executivas e federações de curso), CONUNE (congresso da união nacional dos estudantes), CONUCE (congresso da união catarinense dos estudantes) , SeNEMAU (seminário nacional de escritórios modelo de arquitetura), SENUP (seminário nacional de universidade popular), entre outros. É importante também priorizar as relações internas do centro acadêmico, procurando sempre organizar atividades voltadas para os estudantes do curso, assim sendo, segue um relato das comissões: Com relação à comunicação: Publicamos mais três edições do jornal do CALA, o Sem Revestimento (#10, #11 e #12). Construindo as edições com a contribuição dos estudantes do curso interessados em publicar seus materiais e dando espaço também para a contribuição de professores. A publicação impressa foi divulgada em passagem em sala e também digitalizamos todos os jornais, que podem ser encontrados no blog do CALA (www.cala.ufsc.br) - Mantivemos o blog do CALA ativo, com publicações regulares e bastante material de apoio; Criamos o Facebook do CALA, que serviu como forma de apoio à divulgação de atividades do CA, além de mais uma forma de contato e informação; Organizamos o manual do calouro com várias informações importantes aos recém chegados no curso; Apoio e organização do CineARQ. Com relação às finanças: Mantivemos a autonomia da entidade, tendo como principal forma de captação de recurso as festas no campus (esse foi um problema sério que enfrentamos durante a gestão, pois o CTC expediu um memorando proibindo a autorização de festas, o que gerou diversas dificuldades aos membros do CA que levaram a discussão ao departamento do curso) - conseguimos viabilizar parte do lucro da festa à fantasia para atividades para os estudantes de todo o curso, como a semana acadêmica (contribuição da festa à fantasia 11.1) -Mantivemos as contas organizadas através da comissão de finanças. Com relação às atividades: Participamos das principais lutas gerais da UFSC, como da campanha pelo aumento da bolsa permanência, e em relação à greve dos servidores, na ocupação da reitoria, pela democratização dos espaços públicos e pela legalização das festas no campus, pela mobilidade urbana, como no caso da duplicação da rua Antonio Edu Vieira, pelos espaços públicos, com apoio na realização de debate sobre a Ponta do Coral e no ato público em defesa da Ponta do Coral, entre outras..
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Organizamos o ARQsports, com o apoio do CAEF (CA de educação física); Organizamos a semana acadêmica com o tema “espaços públicos: arquitetura para que(m)?”, tema que rendeu diversas discussões no curso mesmo após a semanARQ e que contou com forte participação dos estudantes, com oficinas e vivências ligando a teoria à pratica; Organizamos recepções aos calouros 11.2 e 12.1 integradas aos grupos PET e AMA; Participação no NDE (Núcleo Docente Estruturante), com passagens em sala e estímulo para os demais estudantes se integrarem nesse processo; Fizemos debates sobre o Projeto Político Pedagógico do curso, com reuniões abertas e discussões de textos; Fomentamos a discussão sobre o novo regulamento de estágios do curso de arquitetura; Organizamos oficinas, como a de Corel, que servem de auxílio na formação dos estudantes. Com relação ao espaço físico: Organizamos faxinas na sala do CALA, mantendo sempre o espaço aberto e na medida do possível organizado e agradável a todos; - Mantivemos a xeroteca do CALA com muito material de leitura e apostilas de diversas matérias. Mas algumas coisas ainda ficaram pendentes: - Ainda não conseguimos organizar a representação discente por turmas e criar um conselho de representantes de turma; - Algumas questões em relação à organização do espaço físico ainda ficaram pendentes, visto a dificuldade em mantê-lo limpo e organizado. Depois desse relato, vale ressaltar que um Centro Acadêmico não se faz somente de tarefas ou atividades: um Centro Acadêmico é a expressão da organização estudantil dentro de um curso, e, como tal, temos muito ainda que avançar. Enquanto gestão do CALA tentamos sempre trazer uma visão mais crítica da arquitetura e fomentar discussões a cerca da nossa sociedade, por entendermos que é nosso papel transformá-la. Contudo, percebemos uma certa carência de participação em alguns momentos, o que prejudicou o andamento das atividades mais relacionadas ao currículo do nosso curso. Essa avaliação é voltada tanto para os membros da gestão 2011-2012 quanto para todos os estudantes do curso de arquitetura e urbanismo, que são representados por essa gestão, pois acreditamos num CA aberto, crítico e participativo. Durante toda a gestão buscamos que o maior número de pessoas participassem das atividades e se integrassem ao CA, estando aberto às demandas e receptivos a novas propostas. Agradecemos a todos pela participação e construção de todas as atividades e esperamos que essa centelha que surgiu não se apague, estando sempre presente na história de nosso curso, como um centro acadêmico forte, presente, crítico e participativo.
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CONTEXTO Lei dos Estágios – alguns apontamentos A análise da lei 11.788, de 25 de Setembro de 2008, exigiria uma pesquisa mais apurada de outras leis com as quais ela se relaciona para um entendimento mais global de onde se insere a questão do estagiário. Limitaremos nesta análise a alguns apontamentos iniciais. A definição de estágio que se encontra na lei é a seguinte: “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos” (art. 1°). Ainda, “o estágio faz parte do projeto pedagógico do curso” (§ 1°) e “visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho” (§ 2°). O artigo 1° já deixa claro, então, a vinculação do estudo com a preparação para o trabalho. A questão entra em quais são as condições colocadas a estes estudantes e quais as consequências gerais dos estágios. Primeiramente, o que determina se os estágios são obrigatórios ou não, são as diretrizes curriculares que podem ser do curso ou da etapa, modalidade e área de ensino (art. 2°) e acrescenta que as atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na educação superior poderão ser equiparadas ao estágio desde que previsto no projeto pedagógico do curso (§ 3°). O estágio “não cria vínculo empregatício de qualquer natureza” (art. 3) e pode ser cedido por “pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administração pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como profissionais liberais de nível superior” (art. 9) desde que cumpridos os seguintes requisitos: matrícula e frequência regular do educando, termo de compromisso entre estudante, parte concedente do estágio e instituição de ensino, e compatibilidade entre as atividades do estágio e aquelas previstas no termo de compromisso. Quanto ao número de estagiários a lei assegura que a parte cedente poderá “indicar funcionário de seu quadro de pessoal (...) para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiários simultaneamente” (!!!) (art 9 inciso III), limitando o número de estagiários somente no caso deles serem do ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. Ou seja, para educação profissional e ensino superior a coisa é liberada (art. 17), uma empresa pode ter quanto estagiários quiser. Quanto à remuneração e auxílio-transporte, no caso de estágios obrigatórios, ela é dispensada, sendo compulsória somente em caso de estágio não obrigatório (art. 12). Quanto a alguns direitos temos a garantia de instalações adequadas para o aprendizado, seguro contra acidentes pessoais (art. 9, incisos II e IV), limitação da jornada de atividade (art. 10), recesso de 30 (trinta) dias (remunerado no caso de estágios remunerados) (art. 13) e seguro da legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho (art. 14). Na verdade, todos esses “direitos” parecem muito óbvios e devem ser submetidos a uma avaliação crítica. O mais interessante na lei é a ideia que lhe é implícita. A lei adverte que o descumprimento dela ou de qualquer obrigação contida no termo de compromisso caracterizaria vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária (art. 3 § 2 e art. 15). A instituição privada ou pública que reincidir nas irregularidades ficaria também impedida de receber estagiários por 2 anos (art. 15 §1°). Ou seja, a própria lei subentende que submeter a parte empregadora à legislação trabalhista seria uma verdadeira punição pelo descumprimento da lei do estágio, e repetindo a infração seria proibido de contratar. É de se pensar que empregador não ficaria triste com essa medida punitiva ou proibitiva por ser realmente um bom samaritano, que tem um grande prazer em profissionalizar jovens inexperientes.
É de se pensar que empregador não ficaria triste com essa medida punitiva ou proibitiva por ser realmente um bom samaritano, que tem um grande prazer em profissionalizar jovens inexperientes. Parece ser o estágio, de fato, algo muito vantajoso ao empregador, já que na sua ausência ou no seu uso de forma fraudulenta, o trabalhador passaria a ter direito a todas as parcelas decorrentes da lei trabalhista, como 13º salário, férias com 1/3, FGTS, aviso prévio, registro na CTPS, etc. Ou seja, segundo a lei o direito do trabalhador entra onde acaba o direito do empregador Não temos clareza de se o mais adequado seria reivindicar os estágios como uma espécie de primeiro emprego, com carteira assinada. No entanto, é certo que devemos reivindicar mais direitos, começando pela obrigatoriedade de remuneração, pois é um absurdo que não o seja. Se o estudante acaba fazendo estágio não sendo obrigatório (que deve ser sempre remunerado) é muito provável que o faz por aquele dinheiro ser importante para sua subsistência e seus estudos. Fazer com que no estágio obrigatório a remuneração não seja compulsória é quase condenar o estudante a abandonar os estudos, ou se manter com muito mais dificuldades. 13°, férias de 1/3 e outras gratificações presentes na CLT também devem ser reivindicadas. Assim, o estágio ao ser considerado somente como um “ato educativo” deve ser considerado como um direito, pois trabalho e estudo também é direito, e por isso deve ser garantido inclusive nas condições de permanência dos estudantes, ou seja, deve ser no mínimo remunerado. Outra questão importante diz respeito à combinação do trabalho e do estudo. Foi no desenvolvimento da própria sociedade capitalista que inicia a vinculação mais orgânica entre estudo e trabalho e esta tendência se afirma e difunde socialmente. No entanto, ela não se universaliza e continua havendo dentro da divisão social do trabalho, aqueles que pensam e aqueles que fazem, o trabalho intelectual e o trabalho manual. A questão, então, não é ser contra o trabalho combinado com o estudo, mas sim contra o estudo tecnicista combinado a um trabalho que não educa, antes amarra as consciências. O estudo deve ser crítico e vinculado ao trabalho que liberta, ao trabalho criador. Ou seja, deve ser um trabalho vinculado à perspectiva da melhoria das condições de vida do povo, deve ser uma concepção vinculada à luta pela universidade popular, no caso do ensino superior. Não há nada mal em trabalhar como educador estando cursando o ensino superior quando este trabalho é destinado a acabar com o analfabetismo, por exemplo; ou quando o trabalho do estudante de arquitetura está vinculado a projetos que visem uma mobilidade urbana adequada às condições de nossa cidade, ou à regularização fundiária, habitação de qualidade, demarcação de áreas verdes, de preservação, etc. O pedagogo Pistrak dizia que
A tarefa é grande. Esta é uma primeira reflexão. Temos que ligala ainda à Resolução nº 2, de 17 de Junho de 2010, que “Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo” e construir propostas consistentes que consigam ligar o estágio discente ao profissional da arquitetura e do urbanismo que a nossa realidade e o futuro exige. O caminho está em aberto. Sobre ele Vilanova Artigas diria: “precisamos lutar pelo futuro de nosso povo, pelo progresso e pela nova sociedade dando a esta missão o melhor dos esforços, pois é à medida que, pela participação na luta ao lado do povo, compreendermos seus anseios, fizermos parte dele, que iremos criando espírito crítico para afastar o bom do inútil na arquitetura, que atingiremos a 'espontaneidade nova', que criará como interpretação direta dos verdadeiros anseios populares. Mas é claro também que, enquanto a ligação entre os arquitetos e as massas populares não se estabelecer, não se organizar, enquanto a obra dos arquitetos não tiver a suma glória de ser discutida nas fábricas e nas fazendas, não haverá arquitetura popular.” Arquitetura popular, parece ser um bom caminho a seguir.
MAU | UFSC Com o objetivo de apresentar os trabalhos produzidos em nosso curso a nossos colegas estudantes e à comunidade, os alunos da Sétima Fase estão se mobilizando para organizar a Primeira Mostra de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. A mostra acontecerá na primeira semana do próximo semestre, juntamente com a semana de TCCs e a Aula Magna. Serão expostos os trabalhos entregues nesse semestre, 2012/1. Caberá à sétima fase recolher os trabalhos com os professores e expô-los durante a MAU, que se espalhará pelo prédio do curso e outros locais da UFSC, como o Centro de Eventos. Será uma experiência inicial que gostaríamos de tornar uma tradição em nosso curso. Estamos abertos a qualquer ajuda ou sugestão e em breve realizaremos reuniões para definir a organização da mostra. Para mais informações e notícias curta nossa página no facebook: facebook.com/mau.ufsc
“o trabalho na escola, enquanto base da educação, deve estar ligado ao trabalho social, à produção real, a uma atividade concreta socialmente útil, sem o que perderia seu valor essencial, seu aspecto social, reduzindo-se, de um lado, a aquisição de algumas normas técnicas, e, de outro a procedimentos metodológicos capazes de ilustrar este ou aquele detalhe de um curso sistemático. Assim, o trabalho se tornaria anêmico” Assim, é desejável a vinculação social entre a pedagogia crítica e o trabalho criador. Deve-se afastar os estágios da lógica empresarial, como se qualquer trabalho meramente repetidor, tecnicista, como se qualquer trabalho de “cadista” fosse uma forma de educação. Parece muito mais uma forma de amaciar as consciências, de subordinação, de fazer os jovens em formação perderem a capacidade da crítica, a capacidade de criação. Além disso, o arquiteto é um profissional essencialmente polivalente, podendo atuar em muito mais áreas que o proposto por alguns escritórios de arquitetura.
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¹ Pelo que é permitido na lei poderíamos montar o seguinte cenário exagerado: um escritório com 6 funcionários arquitetos realizava um projeto. Sabendo da Lei dos Estágios, o escritório indica 5 de seus funcionários para supervisionar um corpo de 50 estagiários. Como o estágio obrigatório não é remunerado, o escritório dá preferência a essa modalidade para conter despesas. Como a parte do desenho, detalhamento, maquete eletrônica ou física, paginação, etc, demandava muito tempo, o escritório só conseguia realizar um projeto por vez, mas passando essas atividades para seus estagiários é possível ampliar a produtividade. Agora, o escritório possui 56 funcionários, remunera 6 deles e consegue coordenar 6 projetos simultaneamente. Nada mal! ² MARX, Karl. O Capital – V. II, Livro Primeiro. 3° Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 88. ³ PISTRAK. Fundamentos da Escola do Trabalho. SP: Editora Expressão Popular, 2006, p. 38. 4 Obviamente, há também aqueles escritórios onde o estagiário participa efetivamente das atividades de concepção do projeto, debates do partido arquitetônico e também executa tarefas mais técnicas que, quando associadas a procedimentos criadores, tornam-se importantes para o processo de formação.
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SOB O OLHAR DA PRÁTICA Por Lucas Anghinoni e Natália Gonzales
No decorrer de nossa formação, trabalhamos com um
Dentre as ideias que o estudo de campo foi capaz de
processo criativo e subjetivo, mas que tem como produto um resultado
acrescentar à nossa bagagem, a de grande destaque não pode ser
concreto. No entanto, por vezes nos deparamos com um paradoxo que
outra senão a percepção de que a atividade profissional pode
envolve nossa futura profissão: atar as duas pontas desse
contribuir grandemente para ensino da arte de projetar. Quando
aprendizado ansiando alcançar um resultado projetual satisfatório. E
iniciamos um projeto, desde sua concepção e desenho até sua
essa mesma busca no campo do aprendizado pode estabelecer laços
construção, passamos por um processo que não deve ser
com o campo do ensino: O quão importante é a atuação prática de um
fragmentado e pontual, mas linear e ascendente (mesmo que
professor no ensino da arquitetura? A ideia deste artigo partiu dos
apresente altos e baixos). O que significa dizer que tudo faz parte
próprios alunos, resultante de um contato com a obra materializada
de um desenvolvimento interligado, que apresenta uma série de
de um professor. Tal experiência abriu campo para uma reflexão a
delimitantes específicas, mas que devem com toda certeza estar
respeito, posto que sentiram a contribuição que pode ser alcançada
na cabeça do arquiteto. Se ensinar por si só já é sem dúvida uma
pela atuação profissional.
virtude, quando se tem uma vida prática conectada à sala de
Durante a manhã do dia 27 de abril, alguns estudantes da terceira
aula, a riqueza do ensino pode ser
fase do Curso de Arquitetura e Urbanismo realizaram uma visita à obra do Laboratório de Remediação de Águas Subterrâneas (Remas) na Fazenda da Ressacada, terreno pertencente à Universidade localizado ao Sul da Ilha e pouco conhecido pelos alunos. O projeto
somada às experiências
vividas. Ter conhecimento do produto confere então ao professor a habilidade de saber nortear o processo de cada estudante, balanceando a importância conferida a cada disciplina,
foi desenvolvido por Américo Ishida, professor da disciplina de
interligando-as e aprimorando a relação entre a criação e os
Projeto Arquitetônico e Programação Visual II e supervisor do
resultados.
LabProj, que acompanhou os alunos até o campo apresentando os os aspectos projetuais determinantes da obra.
É evidente também que não se deve deixar de lado a extrema importância do aprofundamento teórico no ensino de
O laboratório realiza pesquisas relacionadas ao impacto do derramamento de combustíveis no solo. Por consequência, desde o início da concepção do projeto a sustentabilidade foi marcada como determinante, estabelecendo relação com a função ambiental do edifício. O financiamento para a construção foi disponibilizado pela
projeto. O produto da final da escola deve então estar baseado em um aprendizado construído através de discussões teóricas e experiências práticas. Essa construção (de acordo com o que se almeja após a formação)se dá através de uma série de etapas
Petrobras, parceira das pesquisas acadêmicas, e permitiu a
acadêmicas, entre elas, o estágio profissionalizante e a pesquisa
utilização de artifícios que conferiram à obra o caráter sustentável:
científica orientada, mas também pode vir associada à
telhado verde, cor branca para fornecer grande desempenho
experiência de quem ensina. Assim, um dos importantes passos
ilumínico, aberturas que permitem o trabalho dos ventos e a
para se construir uma escola de arquitetura de excelência é ter
notável utilização de treliças curvas em madeira laminada, não só como um ecomaterial, mas como elemento estético compositor.
um corpo docente que por um lado atenda às demandas teóricas, subjetivas e experimentais, mas por outro atenda também às
Não cabe aqui uma visão crítica da obra, mas uma análise práticas e técnicas, gerando uma cobrança coerente com o que se
exploratória da experiência, e como nem tudo são flores, os determinantes projetuais também foram acompanhados de pontos
encontrará fora da academia.
negativos: os erros de execução. “É um erro atras do outro”, diz o professor sem medo de apontar os problemas do andamento da obra. “Muitas vezes os problemas surgem por falta de leitura do projeto”.
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DIVAGANDO
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Subverso Há versos escritos aos que estão acima e há versos dedicados “aos de baixo”. O subverso não é um verso inferior, mas um verso vindo do interior, de dentro do subúrbio subjugado. Subserviente e subordinado, subconsciente, subornado e cooptado. Capturado pelos de cima, pela ordem e pelo subentendido. Ordem do subdesenvolvido, aquele que tem a vida subtraída da grande soma de riquezas. Ordem essa que produz a subsunção do ser humano, o subumano coração. Nesse grande suburbano, às vezes de súbito, erguem-se de forma subseqüente subversos de repente. Esses são suprimidos sistematicamente. Entretanto, os de cima subestimam os de baixo. Porque o subalterno tem na sua substância o subversivo, porque os que estão abaixo da ordem ainda serão os que colocarão a ordem abaixo.
Por Giovanny Simon
Por Ícaro Ramos Seleme ilustrações por Mari Priester
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Imagem Por Guilherme Ruchaud
TEU TRAÇO DEIXA RASTRO EREA BAGÉ
PONTA DO CORAL
Do dia 27 de março ao 1 de abril aconteceu na cidade gaúcha de Bagé o Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo. Há 366 km de Porto Alegre, Bagé está localizada no extremo sul do Rio Grande do sul, fazendo fronteira com o Uruguai. A sede do encontro foi o Clube Caixeiral. Um lugar bem estruturado fisicamente, aconchegante, acolhedor e distante da agitação da cidade. Nestes cinco dias de encontro percebeu-se uma distinção nítida entre as atividades diurnas e noturnas. De dia os estudantes participavam de oficinas como “Cartilha EMAU” e “Produção Audiovisual”, palestras como “Estúdio Obra-prima” com Fernanda Pereira da Silva e “Arquitetos Associados” com Bruno Santa Cecília, além de visitas guiadas ao Centro histórico de Bagé e à vila Santa Thereza. Já a noite os participantes eram premiados com festas regadas a música boa ao vivo e cerveja barata! O lema “ +amor ” ditava o clima do encontro, de muito respeito, cortesia e proximidade entre os presentes. O céu limpo, claro e (à noite) muito estrelado de Bagé foi testemunha do quão agradável e incomparável foi o encontro, uma verdadeira sociedade alternativa. Realmente uma experiência única, que esperamos que se repita todo ano. Quem já foi, sabe do que falo, quem ainda não, experimente! Vale muito a pena. “
A Ponta do Coral é uma antiga ilhota ligada a terra firme por um aterro, conhecida no inicio do século passado como PONTA DO RECIFE. Ela adentra ao mar da Baia Norte como um Cabo, um promontório assentado numa crista de rocha que faz parte do maciço total da Ilha de Santa Catarina. Lá existem ruínas de dois enormes casarões históricos, usados para depósitos da Standard Oil até a década de 30 e desde esses tempos têm sido um espaço em disputa. Com localização privilegiada, passou por transformações após a construção da beira-mar norte, que isolou o espaço com a avenida. De vários percalços o terreno chegou a pertencer à Fucabem, um abrigo de menores. Sem uma mínima consulta à população e respeito pelo espaço público, de forma arbitrária, sem nem passar pela câmara de vereadores, o governo resolve vender o terreno para uma empresa de Criciúma. Fato curioso e irregular que gera uma série de manifestações, orquestradas pelos estudantes de arquitetura da UFSC, na área nos anos 80. Atualmente esse espaço está em foco novamente devido ao projeto da Hantei (uma grande construtora da região) para o local, que prevê aterros, marina para barcos de grande porte e a construção de um edifício de luxo com cerca de 20 pavimentos. A ponta tem 45 mil metros quadrados, mas apenas 12 mil foram vendidos pois o restante é área de marinha e não poderia ser ocupado. Em contrapartida a esse projeto existe a proposta popular de manutenção do espaço como público através da criação de um parque. Na cidade de Florianópolis é notada a falta de espaços públicos de lazer. Com exceção das praias, são poucos os lugares realmente públicos, mas mesmo as praias não são suficientes, devido a sua distância, é fundamental a criação de espaços perto do centro da cidade, que podem ser usados pelas pessoas das mais diversas formas.
Além da ponta do Coral, nas proximidades encontramos a Ponta do Lessa e a Ponta do Goulart, também cortadas pela Beira mar e que fazem o triangulo da embocadura do manguezal do Itacorubi. As três pontas poderiam servir como uma importante área de turismo ambiental. “Nós podemos construir ali um parque cultural náutico, mas não aos moldes das marinas da Hantei. Seria uma relação náutica com a cultura local, com as populações tradicionais, com os pescadores que seriam os que guiariam as pessoas por dentro do manguezal, com educação ambiental, sem edificações. A Ponta do Goulart tem uma área grande de ninhos que também poderiam ser visitados nas épocas certas para observação, assim como na Ponta do Lessa as pessoas poderiam conhecer os sambaquis, Esse tipo de turismo moveria muito mais renda para a população local do que o proposto pela Hantei, que beneficiaria a um único empresário”(Loureci Ribeiro). A lógica dos megaempreendimentos se encontra deslocada da realidade da população da cidade e busca se sustentar de forma artificial. Qual turismo e lazer desejamos para a nossa cidade? Desejamos que a área seja realmente pública, de uso de todos. A ponta do coral é um ponto estratégico da cidade, com uma linda paisagem que seria totalmente descaracterizada com a execução de um projeto desse porte. Os impactos de um empreendimento deste porte seriam devastadores, não só de forma ambiental, mas com impacto direto na mobilidade urbana da cidade, visto a geração de tráfego que o empreendimento geraria e na qualidade de vida da população em geral. A região seria um pólo gerador de tráfego e conflito na malha urbana e na mobilidade da cidade, inclusive no leito das Baias Norte e Sul.
Por Aline Cavanus
Texto e Imagens de André Junckes
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PLANO DIRETOR DE FLORIANÓPOLIS O Plano Diretor Participativo é exigência do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.251/2001) que tem por objetivo a elaboração de planos menos tecnocráticos, que busquem uma aproximação mais efetiva da realidade das cidades atuais, e uma maior participação popular nos processos de elaboração, votação, implementação e gestão. Deve ter como princípios básicos: a função social da propriedade e da cidade, o desenvolvimento sustentável, a igualdade e justiça social e a participação popular. Em Florianópolis, este processo teve início há vários anos, contudo ainda se encontra em plena discussão. O anteprojeto de lei do Plano Diretor de Florianópolis foi apresentado à população pela equipe técnica da Prefeitura Municipal em cinco Audiências Públicas temáticas, que ocorreram de 27 de março a 26 de abril de 2012. A primeira Audiência Pública consistiu numa explanação geral sobre o Plano e as demais trataram das seguintes abordagens específicas: zoneamento ambiental e paisagem urbana; modelo de cidade e gestão; saneamento e mobilidade urbana; uso e ocupação do solo e instrumentos urbanísticos. A FORMA O anteprojeto do Plano Diretor foi apresentado nas audiências por meio de diretrizes gerais e, em muitos aspectos, a partir de uma plataforma de intenções generalistas, sem aprofundamento e não alicerçadas em características socioespaciais do território municipal e regional (a cidade real). Faltam diagnósticos e estudos técnicos, como capacidade de suporte dos recursos naturais, de atendimento da infraestrutura, origem e destino de deslocamentos, etc. O texto com os 373 artigos que compõem o anteprojeto de lei foi disponibilizado apenas na internet (http://www.pmf.sc.gov.br) e os mapas temáticos, anexos ao documento, demoraram a ser publicados (virtualmente), alguns só puderam ser visualizados após as apresentações nas audiências. Em nenhum momento foram divulgados materiais impressos, como costuma anteceder às Audiências Públicas, dificultando a análise por parte do público presente. Estas situações vão de encontro a algumas exigências do Estatuto da Cidade, o qual prevê que os processos de elaboração do Plano Diretor, além da participação popular, devam garantir a publicidade das informações. O IMPORTANTE Entretanto, o ponto mais grave na condução do Plano Diretor diz respeito ao processo de discussão comunitária, o qual confere ao Plano seu caráter “participativo” (como preconiza o Estatuto da Cidade) e que foi abruptamente interrompido pelo poder público em 2009 sendo, pretensamente, retomado com as citadas Audiências Públicas, quase três anos depois. Desse modo, as audiências foram, em grande medida, a oportunidade para líderes comunitários e representantes distritais protestarem sobre esse procedimento autoritário e constatarem que não foi expressa no anteprojeto do Plano Diretor grande parte das diretrizes comunitárias oriundas das reuniões distritais – fruto de um árduo esforço de mobilização popular –, que ocorreram ao longo dos anos de 2007 e 2008, nos vários bairros e distritos do município. Essas interrupções nos trabalhos participativos são desestimulantes para a população em geral, que acaba por desacreditar do processo. Há, portanto, uma falha na origem, uma dicotomia que mutila o Plano Diretor e prejudica sua constituição como pacto social, como seria desejável. Entendemos que a leitura comunitária, construída no âmbito dos núcleos distritais, deveria ter sido respeitada e cotejada com a leitura técnica elaborada pelos consultores contratados pela Prefeitura (Fundação Cepa) e, a partir do debate de ideias, procurar consenso em aspectos coletivamente relevantes, bem como a deliberação frente a questões polêmicas, na construção democrática de um Plano (verdadeiramente) Participativo. Este procedimento poderia ensejar a vivência de verdadeiras práticas de cidadania com efeitos pedagógicos importantes, tanto para o poder público quanto para a população. Pois nesse processo é possível explicitar os interesses plurais dos diversos segmentos sociais que coexistem no espaço urbano, concedendo voz aos que raramente podem se expressar, como também desvendar intenções e estratégias de alguns setores econômicos, em especial do capital imobiliário. Infelizmente, esse fecundo momento foi suprimido e sua lacuna permanecerá indelével no Plano Diretor de Florianópolis.
Imagens Por Marcelo Cabral Fotos Por Julia Milan
E AGORA? Haverá um novo ciclo de apresentação do anteprojeto do Plano Diretor nos 13 distritos do município. Essa pode ser a ocasião de debater questões chaves da proposta apresentada pela municipalidade, como a incorporação do modelo teórico conceitual da Reserva da Biosfera em Ambiente Urbano (RBAU), que sob a chancela ambiental pode servir de mote para atrair investimentos e elitizar o uso da terra; as propostas de ações nos chamados projetos deflagrantes, que visam fortalecer a diversificação econômica em determinadas áreas, segundo critérios não explicitados; o reforço de micro centralidades, que podem fragmentar o território sem levar em conta as especificidades de cada localidade; a proposta de um zoneamento confuso, entre outros aspectos polêmicos. Esta oportunidade será importante também para conhecer alguns avanços do Plano proposto em relação ao Plano Diretor vigente (1985), como a necessidade de realização do Estudo de Impacto de Vizinhança, o reconhecimento da importância cultural e ambiental, a preocupação com ciclovias e transporte marítimo, que merecem análises e propostas consistentes. Além de vislumbrar o estabelecimento e regulamentação das ferramentas do Estatuto da Cidade, que podem combater a especulação imobiliária, danosa ao desenvolvimento racional e sustentável das cidades. Assim, como profissionais e estudantes de arquitetura e urbanismo temos a oportunidade de aprender com o debate sobre a cidade e seu futuro, e como cidadãos temos a responsabilidade e o direito de participar da construção desse Plano Diretor.
Pelas Professoras Soraya Nór e Vanessa Pereira
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Conforme avançamos entre as fases da faculdade nós,
Muitos dos resultados obtidos apenas contemplam o
alunos, vamos assumindo um posicionamento crítico a respeito
que já se observa com freqüência – e que, surpreendentemente,
de cada aspecto do curso em que estamos, o que é um processo
não parece que esteja em vias de mudança. A grande maioria dos
natural e muito positivo. Mas, por outro lado, o que estamos
alunos demonstra insatisfação com relação à falta de integração
observando é que, junto dessa leitura crítica vem junto, muitas
entre as diferentes disciplinas do curso. Essa falta de relação,
vezes, um desânimo com muitos aspectos negativos a respeito da
além de prejudicar a aprendizagem ao repassar os conteúdos
maneira como o curso vem sendo conduzido e a respeito da nossa
como se fossem objetos distintos entre si e não formadores de um
formação, considerada decepcionante por uma boa parcela dos
todo, dificultam a vida dos alunos, que têm de, muitas vezes
estudantes. Foi assim que nos ocorreu a idéia de produzirmos
desnecessariamente, executar uma grande quantidade de
essa pesquisa de opinião: queríamos fazer alguma coisa no
trabalhos diferentes sem que haja tempo hábil para
sentido de mudar o que achamos que está errado, tanto para nós
verdadeiramente absorver o conteúdo supostamente aprendido
como para as futuras gerações de estudantes de arquitetura. Tão
nas aulas e no processo projetual. Embora observemos em alguns
logo a concepção nos veio à mente, elaboramos uma série de
professores a iniciativa individual de tentar promover essa
questões que acreditamos que ajudam a formar uma espécie de
integração, em termos gerais somente o que se nota é uma
diagnóstico acerca da visão que os alunos têm do nosso curso,
indiferença com relação a esse problema.
dos problemas e das potencialidades que são percebidas em
A questão da falta de tempo também se revelou (ou se
conversas pelos corredores.
confirmou) como um problema grave na visão dos alunos.
Procuramos fazer perguntas sobre diversos aspectos do
Pouquíssimos entre aqueles que responderam afirmaram que
cotidiano dos estudantes, que vão desde questões muito amplas
têm pretensões de se formar no tempo proposto de cinco anos,
até aquelas mais restritas e específicas, desde questões objetivas
muito embora esse fosse o desejo de muitos. A grande quantidade
e práticas àquelas subjetivas e sujeitas a interpretações. O
de carga horária e de disciplinas, somada ao já comentado
questionário também tinha como um de seus objetivos confirmar
“isolamento” entre as disciplinas faz com que se torne inviável
(ou não), por meio de dados estatísticos, muitas das sugestões e
concluir todos os trabalhos com a qualidade almejada e que
questionamentos que ouvimos com freqüência por parte dos
condiga com as verdadeiras qualidades dos alunos. Muitos
alunos. Esta pesquisa de opinião não se propõe a esgotar o tema,
contestam tanto a quantidade de disciplinas ministradas por
e nem tem a pretensão de contemplar todos os questionamentos
semestre como o tempo previsto de cinco anos para a formatura.
possíveis para a compreensão do pensamento que os alunos têm
Também são objetos de críticas freqüentes a falta de relação dos
do curso; mas esperamos observar os principais anseios dos
alunos com a prática construtiva, sobretudo nas disciplinas de
alunos, por meio de uma amostragem que, se não representa
estruturas e tecnologias, a qualidade das aulas ministradas, a
todo o corpo discente, ajuda a identificar algumas das principais
infraestrutura do curso e a quantidade de leituras e
questões que têm de ser debatidas e revistas em prol da
conhecimentos teóricos, principalmente quando se refere às
construção de um curso que caminhe da melhor maneira
disciplinas de projeto.
possível no sentido da formação de arquitetos, nos campos
Nesse
prático, teórico, técnico e crítico. Na análise dos resultados as
período
de
discussões
sobre
o
curso,
recomendamos uma leitura e interpretação dos resultados
respostas foram cruzadas entre si de modo que se pudessem
obtidos, bem como – e com muita atenção – das sugestões dadas
obter resultados mais precisos e úteis.
pelos estudantes que responderam à pesquisa, cada uma delas muito valiosa por si só. Acreditamos que os questionamentos e as sugestões devem sair dos corredores, do pavilhinho e dos bares e chegar a quem tem a possibilidade de modificar o curso em termos práticos, partindo-se do princípio que esses compõem um material por demais precioso para ser desperdiçado.
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LAGOA DO FUTURO
Por Guilherme Ruchaud e Lucas Passold
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