Sem Revestimento #16

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2018-2019


Essa é a marca de um passado. No momento em que nossas mãos ensaiam este texto, testemunhamos algo extraordinariamente singular em nossas breves vidas. Talvez tenhamos vivido pouco demais para saber. Só experienciamos algo semelhante num livro ou outro que nos tocou. Livros que tratavam de uma história que já parecia fictícia, de cicatrizes de passados que não vivemos, mas que jamais abrimos mão de carregarmos conosco. Este é o relato de mãos trêmulas da incerteza que impera no futuro, nos arredores de quem nos agora lê.

Parece que não se precisa ler para entender Parece que a primeira vista é a verdade Parece que o passado deixou seu saber Parece que não precisamos dialogar, mas combater Parece até que o mundo virou do avesso.

Conquista humana se houvesse virado, mas não: os vetores que nos atravessam neste momento são os mesmos de sempre. É o mesmo jogo, mas agora num território não mais invisível aos olhos nus - e isso nos aterroriza. Conquista nossa se cada ser humano virasse do avesso, e percebesse que a interioridade sua habita a interioridade do outro. Não há lugar para ocupar que não seja o nosso interior, o interior do outro, a casa, a nossa casa.


Não sabemos o quanto teremos que pagar pelo conhecimento à nossa volta Não sabemos quantas vozes serão caladas Foi brusca a imediatez da mudança, mas seu processo foi longo e vagaroso.

Pode parecer a sensatez perdida A humanidade, perdida O amor, perdido A união, perdida Estamos sozinhos, Parece. Mas ao amigo e à amiga que nos lêem, que fique registrado no mais longínquo futuro que estas páginas atravessarão: nós não estamos.


A expressão “esvaziamento dos espaços” nos remete, de imediato, aos vazios urbanos: àquele terreno baldio pelo qual passamos diariamente, a um edifício abandonado ou mesmo a uma praça que um dia já foi pujante e agora perece com os seus velhos banquinhos onde já não se senta ninguém. Estes vazios são recorrentes e já foram catalogados em diversas cidades brasileiras. Mas, para além do esvaziamento que envolve diretamente os espaços livres e construídos, há também aqueles que podem nos ser imperceptíveis, mas que influenciam tão diretamente a vida nas/das cidades. Nesse sentido, ao pensarmos nos assentamentos informais da Cidade do Rio de Janeiro – as favelas, para adotar a denominação surgida e ainda utilizada na capital fluminense – imaginamos que naquele grande conglomerado de edificações não existem vazios urbanos/arquitetônicos. Decerto não. Ou melhor, os tais “vazios” estão sempre “cheios”, pois a apropriação dos espaços livres de uma favela se dá de várias maneiras e em diferentes momentos: no tradicional futebol amador,

nas brincadeiras de “rua” (elas ainda existem nas vielas e espaços livres das favelas), nos bailes promovidos pela comunidade e até mesmo nas assembleias das associações de moradores, essas sim cada vez mais raras e es[vazia]das. E é com esse esvaziamento que devemos nos preocupar. Nas décadas de 1990/2000, o pioneiro Programa de Urbanização de Assentamentos Populares do Rio de Janeiro, no oficial, ou Programa Favela-Bairro, no popular, tentou avançar no sentido de incluir a comunidade nas decisões relativas às obras de urbanização. Com dificuldades, havia uma interlocução entre o órgão público promotor – a Prefeitura do Rio de Janeiro – e os moradores, fazendo com que, minimamente, se discutisse sobre as intervenções propostas. Eram, portanto, as Associações de Moradores os espaços ocupados pela população local para ter voz nas decisões. Contudo, o avanço do famigerado “poder paralelo” nas favelas cariocas retirou dos moradores o espaço das associações, esvaziando-as e ocupando-as com os seus “exércitos”. Mas, de fato, este esvaziamen-

to deve ser traduzido aqui como ausência; mais especificamente, como uma ausência do real responsável por gerir e fiscalizar a cidade como um todo: o poder público. E essa ausência gera consequências diretas no trato com o ambiente construído, tendo em vista que um dos principais “investimentos” do poder paralelo é, atualmente, o controle territorial, e em especial a venda e aluguel de imóveis nas favelas. Assim, entendemos que o “esvaziamento dos espaços” nas favelas cariocas não se relaciona diretamente àqueles vazios urbanos que tomamos como exemplo, mas sim aos vazios políticos, que geram consequências muitas vezes irreversíveis também nos espaços físicos – ou naqueles “vazios urbanos cheios” das comunidades. Portanto, a noção de esvaziamento ultrapassa aquela inicialmente descrita e vai em direção ao entendimento de que a falta de representação (política) também gera vazios os mais diversos, incluindo os urbanos, e reverbera negativamente na vida da população.

Olhei para dentro e vi. Era uma coisa escura que pulsava. Um câncer? Não, uma bolha, de metal. Quis estourá-la, mas não deu. Ela escapava do meu toque. Lisa e fria. Cismei até conseguir fazer uns furos. Deles saíram luzes azuis e cor-de-rosa. Tentei abrir um buraco maior, esticar os braços, mas ela continuava do mesmo jeito. Cansei, chorei mais um pouco e fui estudar. Amanhã cavo mais um pouquinho.


disseram que me traria sorte tua doçura veio de forma ácida a vida me pingou gotas de limão salpicou minha noite com teu sorriso

contigo a lua estava tinindo mistério e ritmo sem ti ela estava despida de nuvens e assim ela foi sumindo sumindo até que veio o sol entrando de fininho e aquecendo o teu sorriso.

A zeladora do prédio, ao limpar o corredor do meu andar, virou o meu capacho. Seja Bem-Vindo virado pra quem sai de casa. No começo me incomodou. Eu tentei virar com os pés algumas vezes. Incomoda quando chego em casa, sem fôlego depois de subir a rua em morro. Me recuso a me abaixar. Depois me acostumei. Seja Bem-Vindo de ponta cabeça, não faz sentido. Mas ok, é um capacho, não uma carta de boas vindas. Podia ser sem impressão alguma que entraria em casa do mesmo jeito, batendo os pés antes de entrar. Hoje saí olhando para o chão. E de repente vi sentido no capacho. Ele conversa comigo e não com um eventual visitante. Sou eu que piso nele vezes por dia. E ele me diz “Seja bem vindo ao mundo real”. E eu sorrio, sentindo que hoje nada pode me fazer me sentir menos melhor. Olho o espelho do elevador e ele sorri, me respondendo com a mesma sinceridade do capacho. “Seja bem vindo ao mundo real”. O sol me cega e me inunda de mim, como se não me sentisse efetivamente completo há muito tempo. Eu transbordo. O vento joga o meu cabelo para cima e a sombra da Medusa persegue os meus passos, me protegendo de tudo com o olhar de pedra. Hoje eu sou invencível. O sol me lambe. O mundo real me ama.


foto: Bruno Barbey, 1968

Recentemente assisti no filme “No instante agora”, do João Moreira Salles, à um ótimo “causo” sobre uma conhecida frase em francês. Essa história me interessou tal como a maioria das boas anedotas que contam sobre as cidades, e especialmente sobre algumas contradições a respeito de quem a teria escrito. Contava esse filme sobre como, durante o maio de 68 na França, os estudantes pixavam frases nos muros das cidades para dar força ao movimento. Eram as marcas de um processo revolucionário, a princípio. E o pixo tem historicamente essa característica: de fazer submergir os conflitos, de estampar pelas paredes das cidades a expressão de quem se revolta contra a ordem. Em muitas fachadas de Paris estava escrito: “Sous le pavês, la plage”. Mesmo desconhecendo totalmente o francês, as traduções que encontrei indicam que ela significa algo como “debaixo dos paralelepípedos, a praia”. Ainda que a interpretação não seja óbvia, ela é mais clara do que parece. Nos conflitos com a polícia, os estudantes e trabalhadores se armavam com as partes do calçamento antigo que eram facilmente retiradas depois de algumas batidas. Havia, então, um resultado direto desse embate: a areia, a terra e tudo mais que estivesse debaixo do calçamento começava a aparecer. Tão poético quanto materialmente relevante sobre as características desse material, o produto dessa ação era a paisagem urbana que começava a ganhar alguns ruídos. Esses ruídos eram simbólicos pois apareciam na medida em que se retirava uma parte tradicional, antiga e um tanto conservadora daquela infraestrutura urbana, e deixavam aparecer o traço natural daquele ambiente, as diferentes possibilidades de se rever aquela cidade. Mais do que isso, essas “novas” texturas que submergiam remetiam aos espaços de lazer, ao valor de uso, aos momentos onde a vida acontece sem pressa. E foi por isso que a frase se tornou uma das mais conhecidas daquele movimento. Por carregar esse clamor por uma sociedade diferente, por uma cidade onde fosse possível parar e contemplar a praia. O já referido filme trata de algumas teorias sobre quem seriam os autores da frase. Seu diretor e narrador João Moreira Salles

fala primeiramente sobre a teoria tratada em grande parte da literatura sobre o movimento. Kilian Fritsch, um dos estudantes de maio, ao retira uma das ruas da cidade, teria elaborado essa frase em meio à um insight revolucionário. Durante um conflito, logo no momento em que viu a areia por debaixo do calçamento, o estudante teria clamado esse slogam para seus companheiros. No filme, é essa a teoria contestada. A outra história contada por Sales é a que trás algumas contradições que me interessaram desde o início. Nessa versão, Kilian Fritsch não era estudante e sim dono de uma agência de publicidade. Ele e seu empregado Bernard Cousin teriam se encontrado num dos cafés de Paris para justamente elaborar alguns slogans que dessem fôlego aos estudantes revoltados. Depois de muito trabalho criativo, surge a sacada: sob o calçamento, existe um mato. Demorou ainda algum tempo para que os jovens publicitários chegassem à imagem da praia, referência de um espaço de lazer que ambos haviam compartilhado na infância. Alguém pode perguntar: Qual o problema desse trabalho criativo ter sido fruto de um brainstorming publicitário e não de um insight revolucionário? Acredito que exista um valor de autenticidade nos processos contados a partir do mais espontâneo e longe das estruturas tradicionais do mercado. Mesmo que fosse a verdade, saber que o famoso slogam revolucionário havia sido pensado por jovens acostumados a vender mercadorias certamente teria diminuído o brio dos estudantes da Sobournne. A história sobre aquele processo político, fracassado diga-se de passagem, ganharia alguns tons de mediocridade, de vulgaridade. Esse caso é um exemplo de como, muitas vezes, a história política é registrada a partir de histórias idealizadas. Aí reside um problema importante. Os fatos e as ideias paradigmáticos, capazes de desencadear ou potencializar mudanças sociais profundas, são essencialmente produtos da política cotidiana, realizada a partir das condições possíveis. Por isso é importante não cair no erro de pensá-los a partir de uma visão romântica, como frutos de indivíduos diferenciados, “a frente de seu tempo”. Esse romantismo geralmente é fabricado, como ideologia, para que acreditemos que o potencial individual é, isolado, o grande motor da vida, requisito essencial para a nossa conformação com uma sociedade desigual.


No fim, o processo de organização e transformação política pode não ser miserável, mas tem certamente tudo de mediano, de vulgar, e muitas vezes de ridículo. Tratar a política como algo espetaculoso, excepcional, como ofício de indivíduos diferenciados ou em situações excepcionais, é artifício ideológico para justamente nos afastar das possibilidades de transformação. Artifício justamente potencializado pelos grandes figurões, sejam eles de esquerda ou direita, sob os holofotes da política partidária. Ou também estimulados pela própria postura de quem domina o discurso. Imaginem se as tradicionais lideranças políticas deixassem transparecer o quão frágeis, ridículas e inseguras elas muitas vezes são. O ímpeto de não deixar submergir essas contradições dentro do processo político pode ser devastador para o distanciamento da maioria que se interessa em participar mas não se vê “capacitada” para tal. Me parece relevante lembrar da necessidade de aprender a lidar com essas contradições a despeito de criar espaços e situações onde o reduzido número de atores cria uma coerência ilusória, que apenas faz sentido nas ações mais paliativas e pouco transforma ou convence pessoas fora daquele pequeno círculo. O exercício da política é tão complexo que, por mais que não transpareça, muitas vezes as pessoas não sabem o que estão fazendo ou buscam suas inspirações das fontes mais contraditórias possíveis. Mas sobre isso não há necessidade de constrangimento. Se somos contraditórios na medida em que a contradição é característica fundamental da nossa realidade, e se uma sociedade nova não vai aparecer pronta na cabeça de ninguém, pra que esse desconforto todo? Paremos de idealizar essas histórias e voltemos a discutir entre todos.

Referências:

No instante agora. Direção: João Moreira Sales. Produtora: Maria Carlota Bruno. 2017 JORNAL DO BRASIL. Slogans de Maio de 68, apesar de apagados pelo tempo, marcaram a história e resistem até hoje. 2004. Disponível em: http://www.jb.com. br/1968-mundo/noticias/2018/04/29/slogans-de-maio-de-68-apesar-de-apagados-pelo-tempo-marcaram-a-historia-e-resistem-ate-hoje/. Acesso em: 28/07/2018.

Entre montanhas O mar, o vazio, os pássaros O sol ilumina

..

Enquanto caminho sinto o vento no rosto, a luz na pele, me distraio com os sons de vida. Mas me pergunto, por que ela não? Ela olha para baixo, ela sente dor. A cada passo que ela dá, ela dá com pés descalços, a cada passo que ela dá ela está mais próxima de seus calçados. O chão parece tão duro e áspero do seu lado, pelo menos não é necessário se preocupar quando a chuva molha seu carpet como comigo. Ela está frustrada, pessoas retiram as pedras de seu tapete e jogam no caminho dela, ora, o dela já é cheio, por que se preocupar? Ela está frustrada, começa a pedir calçados e carpetes, que audácia, os dela estão no final do caminho, ela não sabe andar com as próprias pernas? Seus pés sangram… Ela parece fraca, engraçado, andamos a mesma quantidade, a fraqueza dela me impressiona. Ela está desesperada, ela está tentando forçar os próximos a ajudá-la… Finalmente a situação dela me incomoda… Não deixarei isso permanecer assim... Pronto… Espero que isso não manche meus vans.


Me coloco no mundo. Paro. Penso. Sinto a cidade? Reconheço minha vizinhança, minha história? Cresci sem saber o que o tempo causou, memórias perdidas em edificações abandonadas, espaços esquecidos na cidade. Na correria do dia a dia escolho viver o hoje, o atual. Sigo a rotina e a rotina me persegue. Percorro sempre as mesmas ruas, mesmas edificações, mesmas pessoas. Paro. Me pergunto. Reconheço esse local que me encontro todo os dias? Vivo o espaço? Ou deixo que ele viva sem mim? A partir do meu olhar sobre o mundo me permeio em dúvidas quanto ao que sinto na cidade. Talvez certas circunstâncias me penetrem com uma sensação de bem estar, muitas vezes de fraqueza. O passar inquietante do relógio parece não permitir que separemos um tempo para pensar os espaços que nos fazem bem,

qual a cidade que me faz feliz?

A rotina segue passando e deixamos de lado o porquê de se gostar de tais locais sobre outros, talvez como uma simples reflexão para se replicar no futuro as pequenas sensações de bem estar. O mundo que nos rodeia muitas vezes é aquele limitado pelo que nós nos permitimos sentir, a cidade que vivemos vai além de configurações viárias ou conjuntos de edificações distribuídas. Talvez esteja naquela sensação de uma manhã quente de vento norte em pleno inverno, no barulho dos skatistas rodopiando toda vez que adentro a universidade, ou simplesmente no sentimento de adentrar àquela mesma rua que desde criança sempre coube chamar de minha. Me desprendo do meu espaço da infância, tento, aos poucos, entender. Que cidade é essa que por 24 anos habitei? Aquela mesma rua, hoje tão difícil de se imaginar. Pessoas chegando, partindo, se encontrando, outra época, outros usos, outras pessoas? Ao me posicionar em frente à praça da igreja torna-se quase impossível imaginar que esse espaço, hoje esquecido pela maioria das pessoas, já foi outrora o centro econômico e social do bairro. Ouço o barulho do vento, um carro que passa longe, aos poucos um casal se aproxima, conversa, caminha, segue, some, silêncio, o vento mais uma vez. Ao longe observo a edificação esquecida no tempo, quantas histórias se perderam e foram enterradas junto à alma da antiga estação férrea. Fecho os olhos e tento imaginar o que já foi, não consigo. Frequentei esse espaço desde criança, na minha memória sempre foi vazio, gelado, esquecido. O bairro que uma vez surgiu e aconteceu nesse espaço se desprende completamente da sua origem. Os tempos passaram, as rodovias foram instaladas, o centro agora é outro, a cidade agora é outra. O comércio se fundiu junto às grandes vias de deslocamento, o pedestre perdeu o espaço no centro urbano e junto a ele se deixou de lado a verdadeira identidade do bairro,

que bairro?

Me coloco nesse espaço e penso, onde antes era vida agora é vazio, o que antes foi permanência agora é só passagem. Talvez meu olhar de intrusa num tempo que não foi meu não transmita o que esse espaço já foi. Reconheço essa rua, esse bairro, esse espaço, mas realmente sei de onde ele veio, seu significado, sua importância? Me pergunto ainda, isso realmente importa, senão pra mim, pros outros, pra cidade? Ao permear no discurso de alguns moradores me deparo com uma nova visão desse espaço, o lugar antes abandonado agora ressurge enquanto cidade narrada, criada, reinventada. “Os trilhos de trem fazem parte da minha vida. Sou filho de ferroviário e o som, o cheiro, a presença do trem remetem a um tempo de grandes felicidades: a infância. Ainda, o trem cruza o bairro Camobi, sendo outra marca importante” (morador 1). “Porque passei a minha infância brincando nos trilhos, ficava horas nos domingos esperando para ver o trem e muito viajei com o mesmo para várias cidades do Rio Grande do Sul, como Santa Maria, Cacequi, Rosário do Sul, Livramento, Uruguaiana, Porto Alegre, etc. Sinto muitas saudades daquele tempo. Ouvia o apito do trem de longe e já dava um friozinho na barriga. A emoção falava mais alto. Tempo muito bom” (morador 2). Mais uma vez me proponho a percorrer as ruas, por um breve instante, ou mais, me perco em pensamentos. Através das narrativas me questiono, qual o momento em que deixamos de apreciar os espaços, senão a vida, com toda a pureza da perspectiva da infância? Em que momento nossas experiências pularam da percepção dos sons, cheiros e cores para a corrida incessante contra o relógio? Ao me aproximar da antiga estrada de ferro uma imagem me provoca. PARE. OLHE. ESCUTE. Me pergunto, será que ainda sou capaz de me permitir tal brincadeira, mais uma vez? Ao tentar entender o passado, novamente, me perco. Entender de onde venho, pra onde vou, aos poucos vou escrevendo minha história pelas linhas do tempo. Talvez a pergunta aqui já não seja mais o que é esse espaço, de onde ele veio, quem foram seus habitantes? Talvez agora eu deva começar pelo simples, mas igualmente tão complexo,

quem sou eu?

Mestra em Arquitetura e Urbanismo - Pósarq UFSC, 2018.



Pisar, Adentrar (sopro/respiro) E lar. Entre o urbano, pisar Acontece Espaço(s) e trocas Usos e diversidade Alegria, sons Criação! Jardim e risada, Silêncio... Passeio por mundos Entre origens Trama habitacional

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Entre o urbano Entrar - na - arquitetura No sítio, concebido (a). Pisar, errar no breve Às vezes, (acontece) Acertar! Consagrar à intenção. Do passeio que se constrói Sem freio, por entre [a grama, a terra O barro (seco) Mãos de sonhos por mãos de sonhoilusão... Entre o urbano, pisar (Acontece).

..

O espírito rebelde se alimenta do descontentamento com a realidadeexistente. Esse descontentamento só surge quando se analisa e discute a realidade em que se vive. O espírito rebelde, enquanto só, é como um coquetel molotov em uma garrafa pet, pouco eficiente. Mas é preciso que o mesmo se organize com outros espíritos descontentes, então não haverá realidade que não sucumba. O corpo estudantil do curso de Arquitetura e Urbanismo precisa discutir enfaticamente sobre o momento que estamos vivendo nos diversos contextos. Há pendências não resolvidas de décadas e a mobilização se faz mais necessária do que nunca. É imprescindível que cada estudante se compreenda como agente transformador do curso, e que isso só se faz pela união e participando dos grupos organizados. Uma escola defasada em seus conceitos, que não analisa profundamente a realidade do país e não constrói junto aos estudantes, coletivos organizados e professores, alternativas para superar os seus problemas, gera frustrações e por vezes um sentimento de impotência na atuação. O resultado disso pode ser um profissional que, desprovido da bagagem política sobre o papel social do arquiteto e urbanista, contenta-se em atender apenas uma classe social mais privilegiada. Aqueles que mais necessitam de nosso trabalho, luta e ideias, quase nada obtém do que aprendemos na universidade pública: esse afastamento cria uma situação concreta de impedimento que os convence do discurso de que essa universidade pública, então, é desnecessária, pois não vai de encontro à suas demandas mais básicas - inclusive, acabam por fortalecer essa ideologia. E, como diz Simone de Beauvoir, “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”. É essa atuação transformadora que responderia a recorrente pergunta que ouvimos da sociedade: para que serve um arquiteto?! Quando o ensino superior não reflete sobre a sociedade e sua base de ensino, pesquisa e extensão não dá retornos ou atende às demandas sociais,


se encontra defasado da realidade. Um campo de formação que tem medo de discutir autores que propõem alternativas a esse modelo desigual de sociedade, não se assume política e ideologicamente, não discute as lutas de classe, não dialoga com coletivos organizados de lutas atuais e não defende politicamente aos interesses dos estudantes, está fadado a não reconhecer a sua totalidade e ainda por cima levar seus alunos a acreditar, muitas vezes, que há um campo de discussão neutro no espaço, e que evidenciar os conflitos de ideias contrárias não é positivo. É necessário aproveitar o momento de avanços no curso e unir-se com os grupos comprometidos a mudar a realidade de ensino que nos massacra e inviabiliza a formação de diversos colegas pobres ou com adversidades. A implementação das ações afirmativas e sua consequente - e reduzida! - política de permanência faz com que essa discussão não se aprofunde, não havendo entendimento da importância da luta coletiva por esses direitos. Assim, muitos acabam acreditando que só essas políticas já bastam, mesmo havendo quem não tenha suas necessidades básicas atendidas. Saber de todos esses problemas e não se propor a fazer a mudança é aceitar que outras pessoas sofram com tudo que nos atinge hoje e ser mais um espírito rebelde frustrado. Essa sociedade, universidade, e curso são construídos, modificados e pensados por nós, seres políticos e sociais, e hoje, mais do que nunca, precisamos estar unidos como coletivos para fortalecê-los.

O LABURB (Laboratório de Urbanismo) é um espaço democrático onde se desenvolvem projetos relacionados ao planejamento urbano e regional, e visa proporcionar um suporte ao curso de arquitetura e urbanismo com a divulgação de pesquisas, material cartográfico e fotos, bem como promover um maior diálogo entre professores e alunos, sendo eles, graduandos, mestrandos e doutorandos da academia de Arquitetura e Urbanismo. Os projetos em desenvolvimento de pesquisa e extensão atualmente são: 1) “Operando Cidades” e 2) “Planos diretores e Planos setoriais dos municípios catarinenses” tendo ambos como Orientadora a professora Marina Toneli Siqueira. O primeiro é um projeto de pesquisa que trata sobre operações urbanas consorciadas, realizando a análise da prática como instrumento nas cidades brasileiras e aplicação do mesmo pelo Plano Diretor de 2014 de Florianópolis. O segundo é um projeto de extensão que aborda sobre o levantamento e análise dos planos diretores, planos setoriais (mobilidade, habitação e saneamento) dos municípios catarinenses apoiando o trabalho do Conselho da Cidade do Estado de Santa Catarina. 3) Projeto “Organização e Catalogação da Produção Técnica do Laboratório de Urbanismo” tendo como orientadores o professor Sérgio Moraes e o professor Renato Saboya. Tem como objetivo geral a organização, catalogação e digitalização do material produzido nas pesquisas realizadas no Laboratório de Urbanismo da Arquitetura e Urbanismo - UFSC. O acervo deve dar suporte às pesquisas de professores e alunos do curso e deverá estar on-line em breve. 4) O projeto de pesquisa - “Estudo da Vulnerabilidade Socioambiental da Bacia Hidrográfica do rio Itapocu”, do prof. Sérgio Moraes, que estuda as áreas de risco e vulnerabilidade daquela Bacia Hidrográfica a partir dos dados do IBGE e prefeituras. 5) E em andamento, também está o trabalho de extensão a “Charrete do Bosque do CFH”, que faz parte de um projeto de extensão e é desenvolvida junto com o Centro de Filosofia e Ciências Humanas, para a requalificação do bosque, que é o espaço verde público mais importante do Campus da UFSC. É uma boa oportunidade de lidar com projeto de paisagismo e contribuir com o Plano Diretor do Campus. Esse trabalho tem como orientadores a professora Soraya Nór e o professor Sérgio Moraes. Vale ressaltar que o LABURB é um espaço aberto para todos! Então é só chegar e ajudar a construir esse espaço, com harmonia e criatividade!


Você não me vê, mas eu te vejo. Tem um alface no seu dente e eu te aviso, mas você não me ouve, que pena. Você continua andando pela rua, com um alface no dente, até que pisa em um chiclete. Eu te aviso, mas você não me nota e vai andando com um alface no dente e um chiclete no sapato. Tem um buraco na rua, enorme, daqueles que matam pessoas desavisadas e eu grito pra ti, mas mesmo assim não me ouves. Você cai. Então eu te digo oi e você finalmente me ouve: "você tem um alface no dente e um chiclete no sapato". Mas você quase que não agradece, afinal não tem mais dente e muito menos sapato.

“só não precisa ser tão a s s i m, tenho medo do que pode acontecer, você sabe” - mãe “que coisa feia, tira isso aí” - pai “fico desconfortável de mãos dadas na rua. tudo bem, né?” - ex ficante “focar nessa questão nos faz ignorantes quanto ao resto” - amigo e aos poucos me vejo no armário d e

n o v o

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Uns filminhos de boas? ACHO QUE NÃO. Guarda as bronca pra depois e vai assistir Relatos Selvagens, que basicamente fala de pessoas passando um pouquinho do limite. Não estamos insinuando nada com isso. Mas talvez sim. Prepara os lanche, a coberta e só relaxa com filmes de boas para ficar na paz como Julie e Julia; Festa de Babette; Tempero da Vida; Garfield e Fábrica de Chocolate. É sério, separa os lanches mesmo porque se não vai ficar passando vontade.Avisado. Sabemos que você é complexa. Várias reflexões e umas crises de vez em quando, só mais um dia normal de um geminiano. Pra ti temos Cisne Negro; Clube da Luta; A dupla Vida de Véronique; Asas do Desejo; Jogo de Cena. As recomendações são várias mas tenta assistir um de cada vez tá. Prepara os lenços. Muitos lenços. Quer saber? Faz estoque. E só vai (chorar) com Minha Vida Sem Mim, Um Amor pra Recordar, A Vida é Bela, O Cão e a Raposa e Para Sempre ao Seu Lado. Ou então simplesmente qualquer filme com cachorríneos. Vai pra frente da TV, e depois da meia hora que sabemos que você vai ficar se olhando pelo reflexo, curte essas recomendações que temos com personagens lindos, maravilhosos, inteligentíssimos e etc., etc., como você. Maria Antonieta, Carlota Joaquina, Party Monster, Zoolander e O Formidável. Filmes como Assassinato no Expresso do Oriente, Melhor Impossível e Interiores trazem as características de um típico Virginiano. É para ser tudo bem organizado sim! O cenário todo arrumadinho também! E com certeza é para ter final com tudo solucionado!!!! Tá difícil decidir né? Tudo bem. A gente te ajuda! Fica a sugestão de um ÚNICO filme para que sua única escolha seja somente o sabor da pipoca que vai fazer (vai ter problema com isso também né? Tá, faz a de manteiga então). O filme é Dona Flor e Seus Dois Maridos porque, afinal, quem disse que sempre precisa decidir entre um dos dois?

Talvez nada mais escorpião do que Ninfomaníaca (se é que você me entende ( °͡ ʖ͜ °͡ )). Bem, talvez Kill Bill, afinal sair por aí em busca de vingança com uma katana na mão deve representar pelo menos um pouquinho do rancor escorpiano. Na dúvida assiste os dois. Se tiver tempo entre os rolês muito loucos que sabemos que você tem fica a sugestão de filmes com outros rolês também muito loucos. Pode ser de gente indo pro meio do mato como em Into The Wild, falando sobre uma viagem introspectiva, ou em E Sua Mãe Também, igualmente uma viagem mas não tão solitária assim... ( ͡° ͜ʖ ͡°) ou gente só Curtindo a Vida Adoidado.

Sabemos que foco é uma característica dos que tem sol em capricórnio e que não vão desistir de algo até conseguirem (usualmente esse algo é dinheiros). Assim como os capricornianos, em O Lobo de Wall Street e Psicopata Americano os protagonistas fazem o que podem para atingir seus objetivos. P.S. nós também sabemos que os capricornianos são mais sensatos que os dois tá?! "Ah mas a bunita não vai me tirar desse prédio mesmo!" Disse a Clara em Aquarius. Tá, pode não ter sido exatamente assim, mas a teimosia e a forte personalidade e valores do aquariano são bem representados nesse filme. Além disso, também tem muito de aquariano em Enter The Void - Viagem Alucinante; Orgulho e Preconceito e Poesia Sem Fim. Existindo numa dimensão somente sua, você pisciano vai se identificar muito com Frances Ha, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus. Filmes bem gostosinhos para liberar a imaginação e, dando uma de sagita, viajar demais. Bem, um tipo peculiar de viagem. Mas uma viagem.


esse estado de exceção sobe as paredes da minha alma como as chamas das paredes de um museu o universo pegando fogo e eu preso aqui dentro dessa caixa de pandora pronta pra explodir como panela de pressão dentro de mim vivo de orelhas baixas e sobrancelhas curvadas a cara de cão assustado com meu rabo sacudindo entre as pernas aqui eu sinto genuinamente e as sutilezas dos fenômenos são tão reais que aceito sem vergonha as quedas e as lágrimas os desejos inibidos e os grandes pacotes de arrependimentos as histórias que nos contam e a profusão de sofrimentos dessa pedra que os humanos juram ter conquistado vestido com a minha melhor máscara levanto o queixo e caminho em ritmo como se as calçadas fossem passarelas e os cidadãos fossem plateia sentindo uma invencibilidade que ultrapassa a masculinidade e a força dos músculos e mais parecem super poderes escondidos debaixo dos meus cabelos que voam como num comercial de shampoo uma hora isso explode tudo é estado de exceção e nossa vida se tornou um hiato histórico de meios que justificam fins

e vivo essa experiência calorosa

então o meu nariz torto e de ponta arredon-

pois o meu deus imaginário parece com o jesus imaginário do imaginário popular

mas aqui não vivemos essa publicidade da imagem do filho de deus

se caísse nas mesmas correlações que o público faz comigo

e a barba dele tão desgrenhada como a minha

saberia que ele me fez à sua imagem

o meu deus imaginário

agradeço a um deus imaginário

aqui não é diferente o estado é de exceção e isso me dá direitos e privilégios que eu nunca

enlamaçada

e todas as partes de nós estão vinculadas

o fim nunca chega


o estado é de exceção

fazem fogo e isso é o suficiente para eu sentir um pedaço pequeno de culpa entendendo que eu sou responsável pelo demorado e magistral fim do mundo

eu lembro do toque e esqueço

e você não é deus algum logo não sou deus também

esse deus é você

e quem é deus

aceite meus parabéns

sem que fossem reflexo das tuas atitudes foram ações de outras pessoas agradeça a elas não a mim

e que ele não teria poder algum senão satisfazer a minha necessidade de ter alguém muito perto na relação mais íntima que nenhuma

diz pra mim que não tem

quando agradeço a ele

everybody on the floor

você quase me convenceu que sou real você me deu tanta coisa pra sentir enquanto choro pelo fim de nós esse fogo todo não me queima

é a minha jaula e a alma é a minha arma contra a privação dos meus direitos o estado de exceção

e elas não me doem

parece um amigo imaginário as coisas extremamente críticas e tudo o que eu quero é dançar

o inferno fazendo parte da existência esse só me educa e diz onde errei

aquelas que ele mesmo não aprovaria


eram, sem dúvida, os mais legais que já vi na vida, nada de balanço e gangorra sob o sol, mas um universo lúdico tidade de mães e crianças que estavam passando por ali. Uma em especial chamou minha atenção, estava eu es- um respeito pelo povo holandês por considerar a cidade perando na calçada de semáforo um tanto quanto len- para todos, sejam eles crianças, adultos, idosos ou pessoas com mobilidade reduzida. Em todos os ônibus, trams uma daquelas típicas travessias suicidas que todo pedes- ou metrôs que circulei sempre havia um espaço para pais tre já fez em um dia de pressa. Essa mulher, todavia, não com carrinhos de bebê, assim como todo um trabalho de estava sozinha, puxava pelo braço uma criança que a se- suspensão dos veículos para não precisar daquela coisa guia em passos trôpegos um pouco atrás. As crianças são consideradas dentro da cidade com Notando a confusão no olhar da criança fiquei imao mesmo peso que os adultos, proporcionar espaços de qualidade para elas é tão fundamental quanto para seus sar a rua somente quando o semáforo está fechado para turistas, as moças de biquíni nas vitrines e o cheiro de pedestres (no caso a mãe dela estava desrespeitando os dois pontos). É mais provável que ela estivesse apenas tiva aos olhos de uma criança do que as cidades brasileiras. Ali, mesmo com a trepidação do carrinho sobre as ruas de pedra sabe-se que nenhuma distância a pé será muito longa, existe transporte público de qualidade para isso. Ficar parado preso no trânsito em uma daquelas como as crianças enxergam as cidades. cadeirinhas cada vez mais esquisitas chega a ser utópico. Bicicletas acopladas com uma espécie de baú na sua para a construção de espaços públicos de qualidade. O parte frontal são o que levam os pequenos de um lado que se percebe, entretanto é que a cidade contemporâ- a outro. Ao crescerem mais um pouco elas mesmas já ganham sua própria bicicleta e passam a seguir seus pais transeuntes para calçadas cada vez mais estreitas e criando cada vez mais pistas para alimentar o trânsito incessante. Não obstante, se as cidades já se apresentam dessa forma caótica e estranguladora para os adultos, imagine pretencioso dentro do cenário que as cidades brasileiras para uma criança. se encontram inseridas. Todavia, é importante notar que ao se projetar o espaço urbano considerando as crianças se projeta também para todo o resto, afinal ao se rebaixar a guia da calçada para um carrinho de bebê também panfletos de propaganda, mas continuo em frente. Ago- se ajuda um cadeirante por exemplo. A única diferença seria portanto a de tentar fazer esse pensamento de uma maneira mais descontruída e menos objetiva, com por minhas memórias, me recordo de uma cena de quan- menos cinza e mais cor, de maneira mais lúdica, transdo tinha uns seis ou sete anos, e soltei da mão de minha formando aos poucos a vida urbana em algo mais fácil babá e acabei quase sendo atropelada por uma bicicleta. nha direção enquanto a babá me agarrava novamente e puxava para trás. A cidade na escala de uma criança é completamente diferente. O nível de seu olhar só vê pernas, cada degrau é uma barreira a ser transposta, cada quadra uma longa maratona. Como introduzi-las a este espaço tornando-o atrativo e seguro para elas também? Antes da percepção da cidade o mundo todo é sua casa, ele cabe em um engatinhar, tudo está a um choro de distância. A transição de uma escala para a outra é inexistente, simplesmente um dia a criança se vê carregada nos braços de seus pais sendo introduzida naquela balbúrdia. Tudo é enorme, tudo é longe, o mundo passa a ser uma confusão de cheiros, dando oi e outras sem ao menos notá-lo).


Os créditos da criação dessa torta vão para Nigel Mackenzie e Ian Dowding, proprietário e chef, respectivamente, do restaurante e Hungry Monk O nome é uma combinação de duas palavras “banana” e “toffee”, que são seus principais ingredientes. O toffee se refere ao caramelo obtido através do cozimento do leite condensado, que nada mais é que o doce de leite, só que mais consistente. E banana é isso aí mesmo.

_3 colheres de sopa de açúcar ou leite condensado

Triture as bolachas (biscoitos) com o auxílio de um liquidificador, mixer ou processador, até virar uma farinha grossa, e transfira para um recipiente; Adicione a manteiga ou margarina à farinha da bolacha e, com as mãos, misture bem até ficar com uma textura de areia molhada; Aos poucos vá colocando a massa na forma, primeiro cobrindo as laterais e, por fim, forrando o fundo. Com o auxílio de uma colher, pressione bem a massa na forma para firmar. Leve para assar em forno pré-aquecido a 200°C, por 10 min, retire e deixe

Bata a nata rapidamente com o auxílio de um fuê, ou numa batedeira, para amolecer. Pare de bater e adicione 3 colheres de sopa de açúcar ou de leite condensado e volte a bater até ficar um creme liso e firme (atenção para não bater a nata de mais ou muito rápido, se não ela vira manteiga!). Espalhe so-


O poder não fala.

O povo não desiste

A família inala. O filme é triste O silêncio é bala O final, despiste. O preço é a tala.


Chico Buarque, estudante de arquitetura, gazeia as aulas e, com seu violão nos bares da redondeza da FAU Maranhão, ensaia desde lá outra arte. Desistiu de conformar o vazio e anos mais tarde, não deixa de fazer um acerto de contas com a arte abandonada, compõe e canta: É sempre bom lembrar Está cheio de ar. John Cage, outro compositor, queria “ouvir” o silêncio absoluto: entra na câmara enoica da Dentro da câmara passa a ouvir as batidas de seu coração e o fluxo do sangue nas suas veias. No entanto, é a partir desta experiência que ele compõe o que considera a sua “melhor música”, a chamada 4’33”, que é o tempo que fica frente ao instrumento musical em silêncio.

vazio do espaço com uma infinidade de bolinhas. A noite se recolhe numa clínica psiquiátrica, não muito longe de seu atelier. Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFSC: o ar a que se refere Chico inflam as bolinhas de Yayoi, passando à forma de bolhas. Em cada uma, do seu interior, se instaura um membro da comunidade do Arq. Alguns tentam fazer de suas bolhas uma câmara enoica, mas tal como John Cage, sempre há uma permeabilidade. Assim passam a receber informações, contatos físicos, que partem de outras bolhas. Com maior ou menor resistência estas bolhas se alteram No entanto, há momentos que as bolhas se desmancham, não todas, mesmo porque algumas tendem a se enrijecer. Mas são destes momentos que a escola se alimenta, ou melhor, ela se torna escola: uma festa, a semana da arquitetura, debate e construção de um projeto político pedagógico, uma boa aula ...


Me Jogue no chão, Me dê o beijo de suas mãos Sufoca-me com seu silêncio Faça-me (entender) Deixe-me sentir o peso de seu coração

estou há um tempo tentando juntar forças para sair de casa. já amanheceu, e eu permaneço, meus vizinhos se mexem, saem, reviram-se, conversam - e eu permaneço. uma dor nas costas não resume quem vive na dor dos outros. eu sou a ferida que arde às vistas. eu sou a violência nos o ar puro não resume minha vontade de viver. não vou talvez nem humano eu seja mais. não importa. não tenho família nem chefe para satisfazer. meu quarto tem uma só porta, ela dá para o meu quintal. foi em algum momento imperceptível - tão singelo quane pernas, ouvindo e cheirando a manhã, e ainda assim não

casa. sorri e dei bom dia, sem olhar na face. esboçaram


A sustentabilidade originou-se das teorias econômicas e evoluiu em relação ao viés social. Do crescimento econômico ao desenvolvimento sustentável, galgou os degraus do pensamento. Hoje há quem a desdobre em pelo menos nove dimensões que perpassam questões co-participação e co-working e os sistemas produto-serviço, em busca de soluções de compartilhamento que

ser a insustentabilidade) até níveis de mais sustentabilidade que requerem a análise de quantitativos de materiais, seleção de técnicas construtivas, estratégias bioclimáticas, soluções tecnológicas mais adequadas a determinado contexto, que é sempre específico e único, de difícil reprodução e de grande complexidade para análise. hoje, podem já ter sido respondidas quando olhamos para a história, como na arquitetura vernácula, que persiste por séculos de resistência daqueles edifícios que com baixo custo, resultando em soluções de sucesso. Mas

forma de emprego dos materiais nas soluções projetuais ambiente construído? E o meio urbano? O processo de- é crucial para seu resgate nas construções atuais. cisório não pode partir da análise de variáveis isoladas e O Grupo de Pesquisa Virtuhab é interdisciplinar e bussim de soluções baseadas em um contexto. Por exemplo, pode um edifício projetado para ser sustentável, não ser sustentável? Pode um edifício projetado para ser sustentável atingir tal objetivo em uma cidade nada sustentável? Pode um material ecologicamente correto não ser sustentável quando empregado em um edifício? As resavaliação do desempenho das soluções empregadas nos edifícios e nas cidades.

recursos para sua produção e que possui rápido crescimento, pode ser insustentável quando empregado em um projeto sem o cuidado necessário para assegurar a durabilidade deste material no edifício ou mesmo detalhes técnicos mínimos que permitam a substituição do características, como é o caso nos tratamentos para combater os organismos xilófagos que atacam o material ou que o preservam contra a ação da umidade. Por fim, rotular uma edificação como sustentável, requer um comparativo entre um estágio inicial (que pode

dos edifícios dada a complexidade do conceito, como as técnicas de construção retrospectivas podem ser empregadas nas edificações mais sustentáveis contemporâneas, como os materiais alternativos na figura do bambu, das rochas, da terra e todas suas variações podem ser empregados, que ferramentas são necessárias para possibilitar a melhor decisão já no projeto. Como os conceitos de flexibilidade, reciclabilidade, funcionalidade, disponibi-

cursos do Labrestauro/Matec, na investigação dos materiais e sua composição, no resgate de técnicas e materiais de arquitetura vernácula, na avaliação do ciclo de vida do edifício e seus elementos constituintes e nas busca de soluções em tecnologia da informação (building information modelling) que possam dar respaldo às soluções

Virtuhab e venha nos visitar!!! Nosso espaço está aberto à participação de todos.


“inadequado” morre... A imensidão do mundo Vazio, a força que cala Não se mistura com o ser Enterra “a bala”. Seu tradutor já mudou

Você come sem sentir [seu próprio sabor

“Sem eira nem beira” Aqui, gentrificação ali Poucos se vê, os que

Não tem pedigree Aqui! A mistura é que

“Ele não”

..


que isso, temos dever de não o ser. Inseridos nessa lógica acostumamos a ver como apenas números sem personificação. Nos insensibilizamos à essa realidade e, naquele Andando pelas ruas mineiras, entre altos prédios e dia, junto ás flores do asfalto, ao ouvir uma delas contar casas térreas a perder de vista, me deixei penetrar na sua história e vê-la chorar em minha frente, implodi a pedra que coloco em lugar de meu coração para poder por debaixo dos nossos pés e em volta de nossas cabeças. Adentramos um recinto específico, onde nasce uma flor meiros sentimentos confusos de culpa, pena e angústia, em meio ao asfalto. Nessa sociedade desenfreada que só sabe fechar portas, acho uma ponta de lança na transluta, cheia de contradições e longe da perfeição, precisam formação e questionamento do que está dado. A ocupatambém de companheiros de luta e, com troca mútua, ção Anita Santos me foi um soco na boca do estômago. nós com o conhecimento técnico e eles com os saberes cisam de nós, os que não tem moradia e, sem auxílio, lutam por uma. A luta foi algo que me chamou atenção, seja ela velada nas pequenas contradições da cidade ou escrachada nos conflitos por terra. A luta não se dá, ela vem. Não se pode impor aos que tem faltas que lutem por comida e moradia, eles não vão iluminar-se de um dia para o outro com sua palavra. Você, intelectual, não é seu salvador, por mais que, entre as linhas, seu ego tente te convencer disso. Você é seu companheiro, lutando lado a lado, no limiar eterno de diminuí-lo sendo Quando o ser que foi excluído percebe que deve lutar, é dessa realização que vem os novos conhecimentos e as novas verdades sobre a vida. É quando esse ser se enche de angústia e procura a resposta para tudo que sofre, é que então aprenderá realmente o sentido da luta lado a

As mudanças que queremos e procuramos construir com eles e para eles não é da noite para o dia e nem de cima para baixo. Como assim? Um exemplo: Não é porfamílias estarão felizes em ter apenas uma cozinha coletiva e que se, realmente construída, seu funcionamento será perfeito e sem conflitos. Isso nunca vai acontecer porque a vida em conjunto é feita dessas divergências e, também, porque a aceitação dessas mudanças é um longo processo. A classe mais oprimida, influenciada pela ideologia de seu dominante, sempre quer ascender até têm. Como não é possível que todos ascendam juntos, isto cria, além de tudo, um sentimento de competição mito meritocrático que existe apenas alguns que mere-

Quando se instaura a luta, precisa-se então de recoem cada residência, cria-se uma estratégia para uma munhecimento. O reconhecimento histórico de que todos dança, ao mesmo tempo que se respeita os desejos de têm direito à cidade e de que as propriedades privadas, quem mora no local. Com esses ajustes e tentativas é que, até então tidas como verdade instaurada, são na verdade diferenciar ocupação de invasão traz validação. Este se mostrou para mim, nas ocupações de Belo Horizonte, peça chave desse novo viver a cidade, reconhecendo a importância das reivindicações por morar. Outro fator importante é a coletivização das relações. Como a luta junto com o outro traz mais resistência, aqueles que lutam contra o status quo, acabam lutando também contra o individualismo e subvertendo certas noções capitalistas. Ao invés de fechados em seu pequeno mundo burguês, essas pessoas caminham para certas desconstruções, como a apropriação de espaços que possibilitem Nós, como arquitetos, temos mais que uma função de decoradores e replicadores da estética burguesa. Até mais


Repito que sou eu sem você Repito meu silêncio Repito você nas minhas pálpebras Repito seus esforços Repito sem você ações (a)diverças Repito as distâncias Repito meu cansaço

Que grite o teu silêncio: Amo e não posso parar Renasça de encontros; Mas não vá pra voltar. Lembre-se que só porque já foi, Não deixou de ter sido; Que fica o amor no teu tecido A lembrança no teu peito, Que a primavera seguirá Toda vez florirá! Só existe o momento pulsante:

Que, assim como vão, as pessoas vêm; vá também


Você alguma vez já se sentiu não pertencente à algum lugar?

fora constantemente, pois, além de existirem pessoas que vão falar “aqui não é o seu lugar, saia”, existe também o espaço em que estamos, feito e pensado para brancos, um espaço elitista,

assim, quando vou para o prédio pelidas. O espaço universitário para negros é torturante e angustiante, dessuas funções, o estudo de projetar espaços para pessoas, mas como vamos projetar um espaço para todos se não estudamos num espaço para todos? Espaço este, que não se limita apenas ao nosso préEssa problemática surge com o

particular, fizeram cursinho e não se preocupavam com nada além de estudar, pessoas que não tinham que se preocupar se sua juventude está morrendo, com a hipersexualização do seu corpo, que não tem que se doer com sua solidão, e assim acabamos

mente o racismo institucional é o fracasso das instituições públicas/privadas em prover serviço adequado às pessoas em virtude

não-hegemônicos. Nós não temos referências negras, não é nos colocado durante a graduação, e não somente no nosso curso, isso vai muito além, e também não é por falta de produção de pessoas negras, é o fato da omissão dessa produção. Neste momento, você leitor me pergunta: “Mas como resolver isso?”, basicamente, as instituições criando políticas de permanência e fazerem com que as que já exispara o que está acontecendo. E o

pouquíssimos alunos negros. Essa formando um vazio de referênauxilia na permanência dos alunos neste espaço, representativi-

ou étnica, ou seja, a imparcialidade dessas instituições de garantir a permanência dessas pessoas.

rências de arquitetos e arquitetas rodas de conversas, e também, os

cracia às necessidades do racismo, precária, diante de barreiras interpostas na vivência dos grupos e indivíduos aprisionados pelos esquemas de subordinação deste último. estão desistindo dos seus cursos porque não tem mais condições psicológicas e/ou financeiras para permanecer e nenhuma medida é não se posiciona perante esses fatos, ela está sendo racista. problemática, é necessário citar a questão da violência simbólica. O ambiente acadêmico é um espaço

bém. Trazendo isso, nos sentiría-

pessoa negra, não só do espaço, mas também da educação, está contido na abordagem de epistemicídio. Mas o que é epistemicídio ? Renato Nogueira, professor de filosofia da Universi-

para repassarem essas referências aos alunos, afinal, eles tem que

nos sentindo inúteis e estimulando a nossa desistência.

(UFRRJ), define o epistemicídio como a colonização, o assassinato e a recusa da produção de conhecimento de deo negro e o indígena. “Falar em epistemicídio no Brasil remonta ao processo de colonização, ou seja, é uma invisibilidade, uma recusa à produção africana de conhecimento”. Em outras palavras, o epistemicídio acontece

ao espaço, pois com um referenoutra perspectiva, não me enxerque tudo isso aconteça, precisamos parar de achar que o espaço é para todos, que é acessível, prenência e sobre representatividade, é necessário preencher esse vazio,


A Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS) é um direito das famílias brasileiras com renda de até 3 salários-mínimos, previsto na Constituição Federal e na Lei Federal 11.888/2008. Esse assunbrasileiros desde 1976 – começando no Rio Grande do Sul e se espalhando pelo Brasil. Mas, após a aprovação especialmente as públicas, e em empreendimentos habitacionais por conta do seu esvaziamento financeiro e A ATHIS, entretanto, pode voltar à tona no âmbito técnico e social e, para tanto, depende de alguns fatores: a inclusão dela em políticas de habitação de todas as formas; maior participação dos profissionais de arqui-

nas na graduação e, especialmente criando a residência em ATHIS, como já faz a UFBA.

A tinta verde escorria no vidro. Na praça, fumaça de cigarro, cheiro de pipoca. Lia-se “Coffee” no letreiro. “Um café, por favor. Pra levar”. Zé pingou no copo, passou para o troco, de moeda em moeda, até na cédula, o líquido verde se espalhou. Nanico, raquítico, a pele branca, os olhos pretos, o cabelo cinza. Lá fora, cachaceiros e índias deitam no mosaico sujo de pombos, criancinhas correm a fim de via de vaso ao mato bravo, imitando telha; o relógio marca seis horas. No pico da cruz já goteja, o céu cinza da tarde, “Gracias”, disse, aceitando o dinheiro com influência: pa retrô. Virou os ganchos com o vento. Pingava no café, protegido da chuva. Leis e manias, o Zé tinha. “Toc-toc” na porta antes de entrar. Descalçar sapatos e, a mesa, pôr. Temia, ele, fatias e migalhas de pão não fossem suficientes. Abriu a Bíblia, escolheu o salmo. Nela, tinha fé. Música. Dançava can-can, sertanejo e bolero, até. “Tá no sangue”, diziam. Variabilidade genética em um só: América, Oceania, da Austrália ao Brasil. Positivo, como sempre, sua voz repetia na mente em coros: “Positivo”. Fez festa até não Ao fim, o exame, leu. Se, meados atrás, houvesse procura-

de, peruanos vendiam guarda-chuvas chineses à senhorita, à senhora, à moça; em latim. “Saúde!”.

com novas ideias sobre a habitação e, essencialmente com o cumprimento da função social da nossa profissão.

Escorria café pela fórmica da mesa, molhava a cabeça inanimada de Zé, a folha de papel do exame nas mãos frouxas. A fita cassete chegou ao fim com um estalo. O silêncio do suicídio espalhava-se pelo apartamento do hipocondríaco, decretando o fim. O cérebro parou de funcionar, de ver infecções, viroses, vermes e germes; parou de ver doença em tudo. Acabou-se o medo, a ojeriza. Na morte, encontrara a cura. Vencera a doença. Pelo café silente, esverdeado pelo veneno, refletiam luzes de letreiros lá fora. Sobre o toca-fitas, o relógio piscava “7:00”, e a Bíblia pousava aberta no salmo 36:9, Gênesis 9:5: “O suicídio é, na verdade, um assassinato (…)”.

brando a instituição para a abertura desses novos espaços de disputa e de formação profissional que tanto

fluenciados por essa temática social, que envolve o projeto e o urbanismo, a participação social, a cidadania, com intensa participação dos movimentos sociais e de outras agremiações. A ATHIS é um direito social e é uma necessidade da população mais pobre que não tem como atuar em obras que não seja com o nosso apoio e participação. O


Sei que não vou morrer nunca mais E também amanhã talvez

Me entrego pra escuridão E no outro dia pode ser que sim ou o quê?

transcender em você A comissão editorial do Jornal Sem Revestimento agradece o apoio do CTC por possibilitar esta edição.

Ana Colle, Bárbara Amaral, Francisco Brum,

Rodrigo Gonçalves

Jornal do Centro Acadêmico Livre de Arquitetura Participe das próximas edições! Entre em contato atráves do email


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