Sem Revestimento #14

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JORNAL DO CENTRO ACADÊMICO LIVRE DE ARQUITETURA - UFSC DEZ 2017 · #14 · ANO 12 CRÔNICA. 3 ARTIGOS 6 A 16 CENTRO DE CONVIVÊNCIA. 20 MULHERES NO CAU. 22 COLETIVO URBANAS. 23 15 ANOS DO AMA 26 GESTÃO TIJOLO POR TIJOLO. 27

GESTÃO 2017-2018


EDITORIAL Caros Colegas, Em uma assembleia de estudantes de uns anos atrás, a gestão do CALA falava sobre ter conseguido fazer quase tudo, menos o Sem Revestimento. Será que a mídia impressa estaria morta? Ainda não. É com imenso prazer que apresentamos para vocês mais uma edição do Jornal Sem Revestimento. Depois de quase 4 anos, finalmente a edição 14 está finalizada e na suas mãos. Saiu. Faz tempo: a edição 13 saiu lá em 2013. Quanta coisa mudou desde então, não é? Teve gente que conheceu o SR quando era caloura/o e agora já está no TCC… mas saiu. A política brasileira mudou drasticamente, o pavilhinho caiu e voltou, surgiram a Atlética e o Coletivo Urbanas, várias FantasiARQs passaram, nomes se foram e novos nomes chegaram ao lado de cá da rua. Demorou. Mas saiu. Nesta edição optamos por trazer alguns dos acontecimentos recentes que fizeram desse ano tão singular. Em 2017, ano que a política brasileira consolida seu lugar de concorrente ao Emmy de “Melhor Série de Drama”, enquanto grupos conservadores atacam a liberdade de expressão. Nesse contexto, vimos o projeto “Escola sem Partido” avançando sorrateiramente pelas instâncias políticas, exposições de arte sendo fechadas por protestos, Judith Butler sendo atacada em sua visita ao Brasil. E na nossa própria universidade, uma crise que parece um microcosmo do país.

porque merecemos neste fim de semestre. Aliás, falando em arte... Preparamos essa edição enquanto acontecia a Semana Acadêmica, com intervenções, atividades e com os personagens desse curso mostrando todo o seu talento nas oficinas e na Mostra de Arquitetura e Urbanismo. A arte é o tema central desta edição. Mas no fundo, ela sempre foi: a arte dos nossos queridos futuros arquitetos e urbanistas está aqui, no Sem Revestimento, em todas as edições. É o que faz dele um jornal que não é só um jornal noticioso, é uma construção de muitas mãos. Igual esse texto aqui, que foi feito pelos cinco editores do jornal no Google Docs que mal existia na edição 13 - o futuro chegou, não é? Pois as vezes nem parece, já que estamos aqui vendo um tema que parece do século passado, como os limites da arte. Como disseram por aí: pleno 2017, deveríamos estar discutindo robótica e clonagem e estamos ainda tentando legalizar o aborto e manter direitos básicos. Mas não vamos perder a esperança. O verão sempre vem depois do fim do ano letivo. É assim, vencendo os fantasmas que querem nos puxar para trás na maré da história, que o Sem Revestimento retorna, e é pra ficar. Avancemos.

Mas nem tudo é tão ruim, vai: o SR trás artigos, notícias, relatos e experiências. Trás um TCC que chamou atenção no início deste semestre. Fala do aniversário do nosso curso, que completou 40 anos esse ano. Trás um pouco de diversão e arte,

Não vire xícaras de café! Não vire noites! Não deixe que esse curso te faça virar louco

Título: Uma Alegria Contagiante Técnica: Nanquim e lapis de cor Autor: Gabriel Villas Ano: 2016

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Bárbara Amaral Filipe Souza Chaves Francisco Brum Gabriel Querne Matheus Lima Alcântara Editores do Sem Revestimento #14


GABRIEL QUERNE

GABRIEL QUERNE

CRÔNICA

O MENOR ESFORÇO Quando foi que o charme do processo, o caminho a ser percorrido, gerou uma fadiga tão grande que quase ferida é? Ninguém mais tem tempo para o acaso. Até o caminho entre o pavilhão (se tem um pavilhinho, o prédio branco é o pavilhão? Perdoem a ignorância) e a gráfica mais famosa da região do conglomerado independente semi-unido da arquitetura e urbanismo é cansativo. Que as anjas da secretaria te imprimam o quarto atestado do mês, ó malandro. Mas que pressa é essa? Se o curso que escolhestes é cheio de permeabilidades, inconstâncias, é a ciência mais não-ciência, é o concreto mais abstrato, menos armado, a certeza mais incerta, por que tentas a todo jeito fazer como se tudo fosse a coisa mais objetiva e simples que existe? Não, nem tudo pode ser mais simples, as vezes as coisas devem ser discutidas exaustivamente, até que cadernos voem, nanquins explodam e aquele café amargo, que custara 1,50 em tempos idos, derrame naquele pacotinho aberto de tabaco que comprastes por 9 pila e respingue nos teus trabalhos de URB II. Caro. É a síndrome dos fãs da objetividade. Será que dá pra gente agilizar essa discussão sobre o projeto? Tenho prova de uma disciplina que o professor é péssimo, o conteúdo tem pouquíssima utilidade mas são 6 créditos e vai valer pra aumentar meu IAA. Agora, irritadíssimo, o aluno se exalta, sob um misto de vontade apaziguadora, preguiça incontrolável e democracia enraizada: SERÁ QUE NÃO PODEMOS VOTAR? ESTAMOS NOS DESGASTANDO AQUI PARA NADA.

Para nada? E se nós desistissemos dessa tentativa conciliadora a todo custo e nos colocássemos a desafiar o outro de forma pacífica? Confrontando o pensamento do outro e não a pessoa do outro? Quem sabe algum dia deixaremos essa literalidade toda de lado para tocar na subjetividade necessária e sobreviver nesse curso cabuloso. Seguimos ignorando a coletividade do espaço, da tomada de decisões, do processo da construção civil, da gestão universitária, da gestão daquilo que é público. Levamos nossas individualidades, empurrando as minhas demandas contra as suas demandas. Até que um consiga colocar a sua individualidade acima da dos outros. Até que a falta de debate seja insuportável. Ninguém mais tem tempo para o acaso. Seja para descobrir que discorda profundamente do coleguinha de lanche no recreio, ou para descobrir afinidade com o coleguinha que senta distante na aula. O tempo para o acaso não existe mais porque nos tornamos óbvios e super previsíveis. Nos acostumamos com o branco das paredes, o verde dos quadros, a autoridade dos mestres, a burocracia da universidade, a metodologia do pensamento, a petrificação da criatividade. Assim, para nós, uma simples parede pintada de vermelho é resistência.

Gabriel Querne é estudante da ARQ desde 17.1 e faz parte do PET-ARQ.

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ambulantes, carregando olhos que sempre pousam so-bre situações já consideradas positivas ou negativas. Existe uma ideia pré-determinada do que é bom ou ruim, e é assim que os alunos rotulam o que observam. Fotos são tiradas para ideias já pensadas de projeto, como turistas fotografando cartões postais. Essas características superficiais, coletadas na visita, são levadas como partido de projeto. Os visitantes raramente permanecem ou param no lugar. Passam como um carro em uma via rápida, e às vezes, passam de carro pela via rápida. Há medo presente antes de conhecer o lugar. Medo que impede de conhecer o lugar. Árvores são contadas como áreas verdes ou de lazer. O relevo acidentado é sentido, preocupando- se com a porcentagem acima ou abaixo da norma. O desconforto do calor é motivo para terminar a visita. Refugia- se no ar-condicionado e internet da sala de aula. O que falta coletar de dados, utiliza- se de imagens de satélites, referências e documentos de outros órgãos e instituições. A credibilidade do levantamento se dá pela citação dessas referências, não pela experiência própria com o local de intervenção. Elabora-se mapas prontos: Cheios e vazios, gabaritos, fluxos que ignoram a experiência no lugar. Mapas idênticos que são elaborados por pessoas diferentes. Faz- se o que os professores pedem. Preocupa- se muito em não perder tempo com aquilo que não é pedido: Com “aquilo que não precisa”. O projeto é desenhado pelo achismo: “Acho que isso é assim... Acho que precisa disso... Acho que é isso que querem...”. Croquis, maquetes volumétricas, todas as representações são feitas depois de o desenho pronto no computador. São inúmeras representações finais de um projeto que está sendo desenhado: “Não queria ter que mudar isso, eu acabei de desenhar assim”. E fica assim. No entanto, muda -se ideias próprias, de horas pensadas, por palpites de professores. Faz- se o que foi pedido sem questionar: “Mas eu acho que não é isso que os professores querem...”. Plantas são traçadas no ritmo de um projeto relâmpago para se ficar em dia com a turma. Essas plantas são levadas até o final do projeto, fazendo -se questionamentos profundos em cima de um desenho feito sem pensar. O projeto final não cabe mais no lugar inicial de intervenção. Cabe apenas em uma maquete topográfica, com curvas de nível que nunca estiveram lá. Com o clima que a carta diz. Com o som de auto-estradas em plantas-baixas. Tem cheiro de papel e a cor branca da maquete. Os habitantes são números, idades, salários mínimos. Se o projeto foi feito para alguém, foi para os professores, que avaliam o trabalho com uma nota dez.

e o chuveiro me cantando em um contínuo som gutural

só o som da água no meu corpo e nas paredes e na janela e no piso

o mundo não tem mais sons o mundo nem existe mais

nada importa

(CAMARGO, G.; GONZAGA, L; GONÇALVES, R. Experiência perceptiva no processo de projeto arquitetônico. PET Arquitetura/UFSC, Santa Catarina, p. 7-11, 2016.)

ou a água sou eu e eu derreto transparente e limpo

olho para baixo e o ralo se parece comigo

muito quente

e lá fora o ar é úmido e a água congelada entra nos fios dos cabelos e da minha barba

muito quente

a água é quente

devolvo o frasco para o lugar dele

ao pegar o shampoo percebo que eu já havia terminado o meu banho

e me ensaboei de novo

me enxaguei

Insustentável

Não é assim que quero projetar. O corpo, máquina computadora, processa informações dadas, dados. O projetar arquitetura está longe de sentir o outro, a quem projeta. Não quero projetar como ensaio. Ensaio é uma desculpa para não colocar meu corpo em contato com outro, no lugar. Absorvendo dados visuais, contábeis; executando alternativas de um catálogo. O arquiteto é esse corpo-máquina que computa repertórios e materializa algo frio, longe do corpo, dos sentidos e do sentido. Um arquiteto recém formado apresenta seu projeto de conclusão de curso, avaliado com nota máxima, a uma sala de interessados estudantes de arquitetura. Com uma vasta gama de estratégias e metodologias, mostra um repertório na montagem de um projeto de habitação. Utiliza, em seu ensaio, dados visuais: Porcentagens, mapas, relatos e fotos coletados por outros. O arquiteto impressiona a audiência com imagens de sua maquete virtual, representando pessoas que não moram ali, convívios que não acontecem, pássaros que não existem, balões que não sobrevoam aquele lugar. Imagens frias, sem cheiros, sem sons, carregados de luz e cores, tentando imitar ao máximo uma realidade que é apenvista. São ilustrações que não permitem completá- las com a imaginação. Essa realidade gráfica que seu computador gerou é uma engenhosa e arrojada combinação de blocos e elementos, onde todas as questões já estão respondidas. Os cheios e vazios são linhas com dimensões regradas por normas: Ambientais são metros quadrados, janelas são estratégias bioclimáticas, pavimentos variam de três em três metros. A estrutura é encaixada em um volume já pronto. O problema da permeabilidade visual é resolvida por pilotis. A maquete física é uma caixa retangular. Os dados foram coletados, mas as sensações foram ignoradas. A insegurança é uma porcentagem. A temperatura é uma carta de máximas e mínimas. A história do lugar é uma taxa de ocupação. O que se conhece dos moradores é sua renda e regularidade da residência. Desconhece quem irá habitar sua habitação. Perguntei ao arquiteto: “Para quem é esse projeto?”. A resposta foi um número. Em uma disciplina de projeto, estudantes de arquitetura projetam longe do corpo, presos em métodos, ferramentas e ensinamentos. Alunos encaram o projeto arquitetônico como um conteúdo a ser aprendido. Não se questionam o que estão fazendo. Questionam os professores, adotam suas respostas como o correto, como uma solução para um problema matemático. Realizam projetos- ensaios, utilizam algum lugar de intervenção para fazer exercícios de urbanismo, paisagismo, tecnologias, conforto ambiental. O projeto tornase uma desculpa para apreender os conteúdos de cada disciplina. Lugares de intervenção, esses, visitados por alunos que adentram o local pelas ruas dos carros, sem qualquer intenção de interagir ou conversar com alguém. Não se toca em nada, não se sente nada. Os corpos dos projetistas, ali, funcionam como tripés

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o tempo para

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como eu consigo me sentir tão bem aqui? sozinho num retângulo de noventa por um e dez

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muito quente

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PET-ARQ O que é o PET-ARQ?

O que o PET tem a ver com a intervenção artística?

O Programa de Educação Tutorial (PET) da Arquitetura e Urbanismo UFSC desenvolve ações de ensino, pesquisa e extensão com objetivo de integrar essas três esferas da vida acadêmica e também de fortalecer o curso de graduação em que se insere. Atualmente, compõem o Grupo: 12 bolsistas, 7 acadêmicos voluntários, a professora tutora Patrícia Biasi Cavalcanti e diversos professores colaboradores.

Quem define o que é arte? Quem define onde ela acontece? Onde a arte é permitida? Onde ela é transformadora? Onde ela agrega pessoas? Onde ela separa pessoas? Os questionamentos sobre a quebra de paradigmas que a arte proporcionou ao longo da história são inúmeros e, na contemporaneidade, os artistas se apoiam na efemeridade das intervenções artísticas, no questionamento sobre o direito de uso dos espaços e das superfícies e na internet como meio de realização e difusão.

Dentre as atividades organizadas recentemente pelo Grupo PET-ARQ estão: oficinas, workshops, mini cursos, palestras, seminários internos e externos, Mostra de Arquitetura e Urbanismo, entre outros. Incluem-se ainda nas atividades do Grupo a participação em eventos externos como a SEPEX, o SULPET, o INTERPET, além de congressos e conferências. O Grupo oferece ainda a possibilidade de iniciação científica para alunos interessados e está aberto a participação de voluntários, bem como atua junto a comunidade externa, por meio de projetos de extensão em desenvolvimento.

Essa relação entre o surgimento do cinema como arte e como espaço físico foi analisada e desenvolvida, com foco na cidade de Florianópolis, pela pesquisa “Inventário e Memória: Cinemas de Rua em Florianópolis”, realizada sob orientação do Prof. Dr. Rodrigo de Almeida Bastos, com as arquitetas Adriana de Lima Sampaio, bolsista do PET-ARQ entre 2012 e 2013 e formada pela UFSC em 2016, e Sofia Arrias Bittencourt, bolsista do PET-ARQ entre 2008 e 2012 e formada pela UFSC em 2014 . A pesquisa teve como objetivo compreender como os cinemas de Florianópolis configuraram o cenário do centro da cidade e existiram como marco e ponto de encontro. Ainda, os pesquisadores desenvolveram uma análise vasta sobre o processo de esvaziamento dos cinemas de rua e do deslocamento das atividades que eram inerentes ao centro da cidade, acarretando na perda de um sentido agregador desses espaços. Foram levantadas informações técnicas e históricas sobre 13 cinemas de rua da cidade e, ainda, sobre o centro de Florianópolis, seus marcos relevantes e sobre a memória da população - por meio de entrevistas e vivências com antigos frequentadores desses espaços. Em um esquema de fichas técnicas, a pesquisa “Inventário e Memória: Cinemas de rua em Florianópolis” reuniu em fichas sobre cada um dos treze cinemas selecionados: fotos atuais dos cinemas; situação da edificação em relação ao centro da cidade; histórico da edificação; fotos em ordem cronológica; descrição dos edifícios quanto aos elementos compositivos; e quadro síntese dos elementos comuns aos cinemas.

enquanto o ralo chora e o chuveiro chora o ar gruda em mim como o próximo e gelado segundo

volta a fazer barulho

e o mundo lá fora

desligo o chuveiro

não consigo mais respirar o vapor que sai de mim

giro mais e fica mais quente

e eu conto até dez e eu conto até dez e eu conto até dez e eu esqueço que estava contando e estou no 241

girei a torneira para a direita pouco o suficiente pra ficar mais quente

só calor e o som dali de dentro

muito quente

A pesquisa oferece uma rica análise sobre a relação entre os cinemas de rua florianopolitanos, sua configuração dentro do modernismo urbano como ponto de encontro da cidade e dentro do desenvolvimento da arte moderna catarinense. O caderno de pesquisa está disponível na sala do PET-ARQ, no segundo pavimento do prédio da Arquitetura-UFSC, ou na íntegra no link issuu.com/petarqufsc/docs/caderno_cinemas_ final_pdf.

sem perceber que gastei toda a água do mundo

despejando toda a represa do Córrego Grande nas minhas costas

nunca mais

de entrar e não sair mais

tenho medo do banho

minha vida feliz

meu corpo feliz

muito quente - eu importo - e a água queima minha pele feliz

Durante o ano de 2017, bolsistas e voluntários do grupo PET Arquitetura e Urbanismo experimentam diversas atividades, entre elas, 11 pesquisas e 2 extensões. Ao final das atividades de pesquisa e extensão, o conteúdo é disponibilizado online e em versão impressa, que fica disponível na sala do PET e pode ser consultada via LDA, bem como costuma ficar disponibilizado também gratuitamente online.

É interessante observar, segundo Sampaio et al (2013), na constante quebra de paradigmas da história da arte, um momento extraordinário que eliminou a necessidade da coexistência em um mesmo espaço da arte e do observador. O surgimento do cinema, seu entendimento como arte, e das salas de cinema como espaços na cidade permitiu a replicação e a distribuição dos filmes produzidos. A peça artística, que antes existira somente por conta própria, alocada em uma sala de museu ou em uma coleção privada, com o cinema vira dependente da existência de um interlocutor e de uma sala de reprodução.

Silka

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ARTIGO

LINO FERNANDO BRAGANÇA PERES

A INDISCIPLINA PEDAGÓGICA E A EXPRESSÃO ARTÍSTICA E COLETIVA NA ARQ/UFSC Desde o início da criação do nosso Curso, tínhamos duas grandes linhas que o tensionavam. Uma delas era o projeto como atividade subjetiva e objetiva de criação (exigência de programa, metodologias e planejamento muitas vezes rígidos, prazos indiferentes à dinâmica da aprendizagem etc). Outra era a finalidade e destinação do projeto e da produção do conhecimento em geral e sua vinculação ou não com a realidade ou temas reais e que partissem de necessidades das comunidades e/ou da sociedade. As cinco situações em que tal dicotomia se diluía ou se suspendia eram os eventos coletivos com a participação dos estudantes ou da comunidade acadêmica e administrativa. Eles eram 1) os eventos promovidos pela direção do Curso; 2) os eventos organizados pelos estudantes, incluindo os acadêmicos, científicos culturais e as festas; 3) intervenções artísticas ou instalações na Arquitetura e no campus; 4) as viagens de estudos; 5) os concursos acadêmicos e/ou públicos. De todos eles – que deveríamos registrar como memória do quanto a nossa Escola produziu e vivenciou nesses 40 anos destaco dois que sacudiram o nosso Curso: o “Lá na Lona” e o “Aqui na Lona”, momentos em que desapareceram, pelo menos durante sua realização, as fronteiras entre o projeto e a arte, entre docente, estudante e servidor(a) técnico(a)-administrativo(a), entre o fazer e o pensar, entre mente e corpo, entre tarefa e prazer etc. Foram nesses momentos, entre tantos outros, que pude realmente conhecer os estudantes para além da divisão acadêmico-administrativa do ensino, entendido como prática docente e não como processo de ensino-aprendizagem efetivo.

- Tem que resolver essa p*rra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa goteira. - Rapaz, a solução mais fácil era fazer outro prédio. - É um acordo, derrubar o prédio, num grande acordo entre os estudantes. - Com o CTC, com tudo. - Com tudo, aí parava tudo. (As goteiras, chover dentro do prédio, dentro dos laboratórios, da biblioteca)

Aluno Frustrado

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FERNANDO FLESCH

No “Lá Na Lona”, realizado em 1981, o professor Américo Ishida e eu, na coordenação Curso, instalamos, com estudantes e servidore(a)s, entre o prédio do CTC atual e o extinto

prédio de laboratório da Engenharia Civil, uma enorme lona de circo, na qual, durante uma semana, ocorreram várias atividades culturais, debates sobre o Curso, palestras de convidado(a) s, como o ator Paulo Betti, que veio ao CIC para uma peça de teatro. A própria instalação e desmontagem posterior da Lona, em si, foram um processo de aprendizagem em que professores e estudantes se empenharam com os trabalhadores contratados, colocando em prática a relação pensar e fazer. Esta experiência, contando com o apoio do diretor do CTC, prof. Longuinho, já falecido, sofreu muita resistência de alguns professores e estudantes diante de tanta ousadia de realizar-se um evento que rompia com a prática burocrática e rotineira da formação técnica do Centro. Para a época, ainda de ditadura militar, foi um choque que até hoje mantém o frescor do seu conteúdo e proposta. Ali, pudemos discutir as nossas práticas de ensino, os estudantes debateram a sua formação; ao mesmo tempo, passavam-se conteúdos que aparentemente eram extracurriculares, mas que de fato foram de aprendizagem curricular. Rompeu-se com a matriz cartesiana e da grade disciplinar. Foi a primeira vez, se não me falha a memória, que a Escola vivenciou o que era uma indisciplina pedagógica, ou que a disciplina perdeu o seu centro fragmentário. O outro momento, inesquecível para mim, foi o “Aqui na Lona”, desta vez construído pelos estudantes e com maior duração, já no pátio entre as instalações de madeira que abrigaram o nosso Curso por longo tempo e que ainda abrigam uma parte dele. O “aqui” significava que finalmente o Curso estava em seu lugar fora do CTC e na entrada do Campus pelo Pantanal. Com uma estrutura em semigeodésica de bambu e papelão de embalagens de caixinhas de leite, os estudantes cobriram o que foi um pequeno anfiteatro entre os prédios de aula, local em que hoje


CALA/FACEBOOK

há somente vestígios – que devem ser recuperados - pois sua memória vai se apagando entre ruínas do que foram aquelas instalações de madeira prenhes de memórias e vivências.

naqueles momentos produziu conhecimento para além de uma disciplina: rompeu os limites do que é curricular ou não, do que é escrita e do que é vivido etc.

Neste lugar, realizaram-se muitos eventos, desde palestras ao ar livre, assembleias até shows. Mas o que mais me impactou foi um evento que promovi, junto a outras atividades, a partir da disciplina de História da Arquitetura e Urbanismo, em que os estudantes, além de elaborar textos sobre a produção artística e arquitetônica dos séculos XVIII e XIX, puderam fazer instalações a partir de suas habilidades e aptidões pessoais. Surgiram as mais diversas manifestações, para mim até hoje inesquecíveis. Um estudante, que era violoncelista, trouxe a Camerata de Florianópolis para tocar uma peça clássica embaixo da cobertura de bambu. Mostrando o classicismo e sua influência na arquitetura, estudantes bailarino(a)s dançaram um fragmento do Lago dos Cisnes, outros instalaram ambientes burgueses do século XIX, expondo a revolução da arquitetura de interior, mobiliário e iluminação. E assim por diante.

Para concluir, quis aqui destacar que as atividades coletivas de aprendizagem, quando são criadas com prazer e de forma conjunta entre professores, estudantes e técnicos administrativos (que garantiram as condições logísticas, de forma motivacional e coletiva), fazem com que o processo de ensino-aprendizagem passe a ser uma obra de arte para além de seu tempo. Aquela tensão a que me referi no início deste texto desaparecia entre o processo de projetação como atividade objetiva e subjetiva de criação, assim como os dilemas a respeito da finalidade e destinação do processo de conhecimento diante do real. O projeto e sua concretização se fundem na forma de uma instalação, por meio da atividade coletiva, em que a subjetividade está integrada e lhe é estruturante. As dualidades, que atormentam tanto o processo de ensino, se suspendem e se realizam no momento de criação.

O que ocorreu de diferente nesta experiência? É que o(a) estudante trouxe seu corpo e aprendizagem pretérita para a atividade acadêmica. Com isto, ela se tornou infinitamente mais rica, variável coletiva e imprevisível. Em vez de o docente somente controlar o processo de ensino, com conteúdos programados e atividades que ele determina com perguntas muitas vezes já formuladas a priori, o(a) estudante é que constrói a experiência didático-pedagógica, estimulando-o(a) à pesquisa para além dos cânones acadêmicos. O corpo exigia uma nova linguagem e investigação do conhecimento. Foi um dos momentos mais marcantes de minha vida acadêmica, em que o(a) estudante apareceu para além de nome e número de matrícula. A Escola

Estas experiências foram tão fortes que até hoje estes eventos não me saem da memória e me fazem vibrar e crer, entre outras experiências docentes, também importantes, que valeu a pena toda esta saga em direção à liberdade de criação sob as asas do conhecimento e da formação humana. Lino Fernando Bragança Peres é vereador da cidade de Florianópolis e professor aposentado da ARQ/UFSC.

o teu lábio toca o meu e teu calor me faz viva consigo sentir o gosto de paixão na tua saliva a batida que me move agora é uma sinfonia de dois corações vorazes em perfeita sintonia aqui só existem nós dois nesse infinito momento e eu e tu formamos pois esse universo inteiro L.K.T.

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ARTIGO

RODRIGO GONÇALVES [GONÇA]

LIMITES EXPANDIDOS, FRONTEIRAS NEBULOSAS O que a arte (e a arquitetura) nos instala? Insinuo um poema:

É arte aquilo que dá prazer, universalmente, sem conceito. É arte aquilo que alguém designa como tal – que outros assim aceitam, ou não – que dá prazer, universalmente, sem conceito. É arte aquilo que alguém designa como tal – que outros assim aceitam, ou não – que dá prazer, ou desprazer, universalmente, sem conceito. É arte aquilo que alguém designa como tal – que outros assim aceitam, ou não – que dá prazer, ou desprazer, universalmente (de um universal simbólico), sem conceito. É arte aquilo que alguém designa como tal – que outros assim aceitam, ou não – que dá prazer, ou desprazer, universalmente (de um universal simbólico), sem conceito, instalando um mundo ímpar, um possível do real. Acredito na experiência estética. No entanto, eu ressalto que quando penso em experiência estética, registro a ideia de uma ciência específica para o conhecimento sensível. Logo, a experiência estética se dá antes que se estabeleça uma relação entre o eu e o mundo; ela é a relação do eu com a obra (de arte). Há um momento do gozo/fruição, no qual o prazer vem antes da discussão da obra de arte. Ser arte: imersão em prazer. Nem toda arte atinge, nem toda arte é prazer ou desprazer. Adentrando na necessidade de escrever sobre arte, faço uma advertência: para se falar de arte (e escrever é uma espécie de fala) necessita-se fazer arte. Uma obra artística (plástica, visual ou textual) é texto de prazer. Se para falarmos sobre uma obra de arte é preciso fazer outra obra, paro e revejo o que estou fazendo… Há uma arquitetura-arte-texto de prazer? Deixo em aberto… No entanto, reflito sobre a questão do designar a arte. Geralmente, a arte seria algo designado por um artista, um crítico, um conhecedor de arte, alguém que possui o aval de uma instituição atística. Ao contrário, se não há nenhum designio, se não há palavra, a coisa permanece coisa, apenas objeto natural, o simplesmente dado pela natureza ou o criado pela natureza humana. Assim, sem intuito de ser arte só existe o feito. Pos-

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so, então, não designar minha arquitetura como obra artística, não dando a ele a intenção de ser arte, transformando-a (ou deixando-a permanecer) em algo “apenas feito”. De repente, este “apenas feito” não gera uma experiência estética, e, consequentemente, não me comprometo. Talvez, com análises desta envergadura, possamos nos confrontar com objetos de arte “por aí”. E se já estivermos habituados a procurar prazer em nossa análise do ambiente cotidiano, podemos, quem sabe, apreender a arte que insiste em se mostrar. Inclino-me em direção à arte contemporânea e proponho compreeder a prática artística como um campo fértil de experimentações sociais, como um espaço parcialmente poupado à uniformização dos comportamentos. Sugiro aprender a habitar melhor o mundo, em vez de tentar construí-lo a partir de uma ideia préconcebida da evolução histórica. Isto significa dizer que as obras já não perseguem a meta de formar realidades imaginárias ou utópicas. As obras de arte procuram construir modos de existência ou modelos de ação dentro da realidade existente, qualquer que seja a escala escolhida pelo artista. Situo a possibilidade de uma arte relacional. A arte relacional atesta uma inversão radical dos objetivos estéticos, culturais e políticos postulados pela arte moderna, trazendo uma mudança da função e do modo de apresentação das obras mostrando uma “urbanização” crescente da experiência artística. A arte relacional faz desaparecer sob nosso olhar a disposição das obras de arte ligada ao sentimento de adquirir um território. A obra de arte já não é mais um espaço a ser percorrido (como um museu cheio de quadros, por exemplo). Agora ela se apresenta como uma duração a ser experimentada, como uma abertura para discussão ilimitada. O que isto nos instala? Um regime de encontro casual intensivo criando práticas artísticas correspondentes. É uma forma de arte cujo substrato é dado pela intersubjetividade. O tema central da arte relacional é o estar junto, é o encontro do observador com o observado (a obra de arte). Temos, assim, elaboração coletiva do sentido, estreitando o espaço das relações. Temos a proposição dos “estados de encontro fortuito”. Coloco que neste quisito, parece se configurar uma espécie de relação underground ao nosso contexto social tão restritivo. Está em pauta, aqui, o jogo das interações humanas, no qual a forma assume sua consistência, nascendo de uma negociação inteligível entre sujeitos. Na invenção destas relações entre sujeitos; cada obra de arte (ou de arquitetura) seria a proposta de habitar um mundo em comum, enquanto o trabalho comporia um feixe de relações com o mundo, que geraria outras relações, e assim por diante, até o infinito.


Diante de uma obra de arte (e de arquitetura), o corpo do espectador é trazido em sua totalidade, bem como toda sua história e seu comportamento. Não se trata apenas de uma simples presença física abstrata. Daí, o critério de coexistência. Toda obra de arte (e de arquitetura) produz um modelo de socialidade, que tranpõe o real ou poderia se traduzir no real. Portanto, há uma pergunta que cabe fazer a qualquer produção estética: Esta obra me autoriza o diálogo? Eu poderia, e de que forma, existir no espaço que ela define?

CRÔNICA FRANCISCO BRUM

Insinuo um derradeiro poema:

A arte é comunicação não-liguística, voz do corpo e cor do grito. É criar o outro discurso, a des-ordem do grito. Grito do ser humano. Significações incertas. A indeterminação é desejada. É uma busca dos entremeios, um criar gambiarras. Desvelar o outro no mundo, o mais real que a realidade, sem conceito. A essência da arte (e da arquitetura) é a poesia? A essência da poesia é a instauração da verdade? Uma semelhança entre arte, arquitetura e poesia: um devir, um acontecer da verdade. Num poema há poesia. A poesia é o momento da linguagem no qual o finito é aberto para o infinito. É difícil falar (escrever) sobre arte (e arquitetura) utilizando a linguagem que usamos no cotidiano. Esta linguagem está envelhecida, às vezes, sem vida. O que nos falam a arte, a arquitetura e a poesia? A forma mesma de um ser no mundo: só. A poesia seria a obra suprema da produção humana? Rodrigo Gonçalves, o Gonça, é professor da ARQ/UFSC e subchefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo.

monótona Hoje me deparei com uma parede monótona. Não era só a falta de cor (ou o exagero de uma mesma), nem a falta de movimento. Era simplesmente sem graça. Não tinha rachadura, nem saliências chamativas no reboco. Era quase que perfeita. A esta simples análise não me bastei, era preciso mergulhar mais na monotonia diante de mim. Dentre as infinitas outras paredes iguais a esta, por quê logo aqui fui parar? Toda parede deste prédio tem marcas e gritos, mesmo que tímidos. Todas as paredes sofrem ação do tempo, do espaço, da transformação, são tão vivas quanto nós, tão humanas - ou seremos nós tão humanos por causa delas? E logo esta maldita, perfeita, brotou na minha frente! Não faz sentido, tenho vontade de uivar sobre esta perfeição, fazê-la dizer algo! Pois se para aqui estar, em completa monotonia, alheia às ações de todo mundo à volta, como posso eu afirmar que ela existe?! O mofo aqui não brota, a tinta não descasca, o reboco não trabalha, o vento não lhe toca, nem a luz e nem a sombra são capazes de reverberá-la. Que ironia! Tudo que eu sempre quis falar, da minha cabeça pra uma outra qualquer, está escondido neste manto que tudo absorve e nada reflete. Eis então que de meus olhos escorreu a mais verdadeira pintura, recaindo sobre minha face. E nada pude fazer, além de aceitar a cor que eternamente ali perecerá. Mas mesmo após estes instantes de insignificação da minha alma, calada, pude esboçar um irônico sorriso, e olhar nos olhos da maldita - "em ti não jaz somente uma cor, mas todas as outras coisas que tu não pudeste ser, és, antes de qualquer algo, um nada mascarado de tudo.". E pela primeira vez a parede foi capaz de refletir meu rosto, mostrando nela as pinceladas da subversão, as quais - enquanto nos olhos de algum espectador aleatório, perdido em pensamentos, for capaz de alguma coisa transformar - jamais se calarão. Francisco Brum é estudante da ARQ desde 16.1 e faz parte do PETARQ e do AMA/UFSC.

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ARTIGO

SAMUEL STEINER DOS SANTOS

INTERREGNO A crise do planejamento urbano e o papel do arquiteto-urbanista Entre o crepúsculo do que já era e a aurora de novos tempos, encobertos pelo manto tenebroso da noite, vigem os riscos do interregno. O poder dominante, rarefeito de substância, não murcha ao se esvaziar. Ao contrário dos balões, ele mantém luzidas suas formas vazias. Além do dom de iludir, conserva até o limite da extrema-unção o monopólio legal do uso da força. O tempo de duração e os tumultos desta perigosa travessia serão definidos no campo aberto da luta política. Nada estará de antemão decidido. No interior do interregno, como no coração das trevas, tudo pode acontecer, inclusive nada. Léo Lince. Disponível em: https://brasiledesenvolvimento.wordpress.com/2013/09/03. O planejamento urbano, desde sua origem, mobiliza saberes profissionais com a ideia de gerenciar a complexidade de fenômeno urbano, de antecipar e de abordar seus problemas, suas escalas espaciais e temporais. Um problema é normalmente percebido como uma divergência entre uma situação real, tal como ela é, e uma situação ideal futura, tal como ela deveria ser. Um desejo, uma aspiração. A compreensão do planejamento urbano está, portanto, fortemente vinculada ao seu tempo. Seu conteúdo e suas práticas modificam-se ao passo das transformações mais amplas da sociedade na qual se inscreve.

questionado é o seu uso político, ideológico e doutrinário.

O Brasil tem vivenciado, nas últimas décadas, rápidas transformações institucionais, econômicas, políticas e territoriais. No planejamento urbano, estas mutações impõem um cenário de crise, não somente aos tradicionais modelos urbanísticos e referenciais teóricos, mas também ao chamado conhecimento competente sobre a cidade. Um conhecimento que foi, por muito tempo, quase que exclusividade da academia e dos órgãos oficiais de planejamento. Do urbanismo higienista de fins do século XIX, passando pelo urbanismo utópico das primeiras décadas do século XX, as últimas décadas do século passado assistiram a imposição de um planejamento urbano pragmático – de ação regulatória - que tem sido confrontado pela demanda por maior participação social.

(…) O interregno é o tempo da falência histórica de um ciclo da política, de um modelo, de um sistema até então dominantes. Mas é também o tempo da inexistência de nexos que articulem (projeto alternativo) os diferentes pólos de condensação dos conflitos e das culturas críticas ao modelo que agoniza.

Tais transformações têm significado a passagem de uma prática urbanística pautada em valores como teleologia, determinismo espacial e metanarrativas para uma prática pouco afeita aos planos de longo prazo; do refluxo das utopias; de ações pragmáticas; do padrão reativo de atuação; da fragmentação das instâncias tradicionais de atuação técnica; de emergência dos poderes de recusa de parcela da população; da perda de legitimidade e de autoridade dos técnicos do planejamento; e da politização do planejamento urbano. Vivenciamos este cenário ambíguo, marcado, de um lado pela politização do planejamento urbano e a disputa pela legitimidade da ação sobre o espaço urbano; e de outro, pela emergência de uma sociedade complexa que passa a exigir respostas rápidas e definitivas dos quadros técnicos, respostas estas que na maior parte das vezes eles não possuem, ou não têm condições de desenvolver. Não significa, no entanto, que o “saber competente” se torne desnecessário. O que passa a ser

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Poderíamos compreender este contexto de perturbações generalizadas como a consequência de um período histórico descrito por GRAMSCI (2001) como interregno, marcado por uma forte crise de autoridade e legitimidade nas formas de vida e organização social pregressas: “a crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer”. (p.275).

LINCE. Disponível em: https://brasiledesenvolvimento.wordpress.com/2013/09/03). A dinâmica concreta das experiências mais recentes de planejamento urbano no Brasil, tomando por exemplo o Plano Diretor de Florianópolis, está distante dos anseios das teorias democráticas mais ambiciosas, já que “os atores incluídos não são representativos, nem igualitários, nem completamente profanos ou desinteressados, tampouco agem segundo uma racionalidade ampla e coletivista”. (BLONDIAUX, 2003, p. 23). A abertura democrática, segundo esta visão, se converte antes em problema que solução: no lugar de explicitar diferenças e alternativas que possibilitem um modo esclarecido de decisão, tem servido para exacerbar conflitos políticos, culturais, econômicos e territoriais que acabam por fragilizar o já combalido planejamento urbano enquanto campo de conhecimento e prática profissional. A emergência do ideário da participação social tem provocado, além do enfraquecimento da legitimidade dos discursos e práticas ligadas ao planejamento urbano, também uma forte capacidade de obstaculização dos processos participativos. Estes embaraços são motivados por disputas diversas: a disputa pela


GABRIEL QUERNE

legitimidade da ação e da decisão; as diferentes compreensões sobre o alcance da democracia participativa; a fragilização dos órgãos locais de planejamento; a apropriação acrítica do conceito de cidadania; a manutenção dos valores e princípios tecnocráticos; a reprodução da lógica patrimonialista de atuação dos poderes executivos e legislativos; e um refluxo do poder de articulação dos movimentos sociais urbanos. Em momentos de transição e incertezas como este, as questões são mais numerosas que as respostas. Presume-se que o papel de um profissional do planejamento urbano não seja mais somente o de interpretar e reproduzir modelos, desenhar cenários abstratos ou de encontrar a boa forma da cidade. Mais do que produtos, a politização do planejamento urbano parece exigir processos mais abertos e menos deterministas. Significa uma demanda pela recomposição da prática profissional: solicita procedimentos situados fora do círculo de atividades rotineiras e métodos usuais. O fato de

assumir que a natureza real da tomada de decisão tem um caráter essencialmente de arbitragem política e não de escolha justificada pela lógica técnica tem exigido do profissional mais que um parecer especialista: impõe sua participação, enquanto ator social, do jogo político onde a melhor escolha não é necessariamente aquela com maior eficacidade econômica, técnica ou estética, mas aquela construída a partir das interações entre diferentes interessados. Exige não somente a reinvenção do substrato técnico, mas igualmente a ultrapassagem do processo de burocratismo institucional e a transposição da noção disciplinar que permeia o meio acadêmico e profissional do planejamento urbano. Samuel Steiner dos Santos é professor da ARQ/UFSC e chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo.

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ARTIGO

MOEMA PARODE

SERES INVISÍVEIS Reproduzo neste título a série fotográfica catalisadora da maior inquietação que pude experimentar, e que hoje, está materializada na construção de uma dissertação de mestrado. Parece-me essencial que se conheça e explore a obra do artista urbano Xadalu (infelizmente não sendo de sobressalto nas ruas de Porto Alegre), para que a temática deste texto possa ser visualizada por cada leitor. Recentemente, em abril deste ano, o artista teve seu primeiro livro publicado, “Xadalu- Movimento Urbano”, disponível para download no site da Joner Produções. O livro, pelo menos para mim, as vezes abraça, e do começo ao fim, esbofeteia. Leiam! (Explorem as imagens, sintam..). O artista também está presente nas redes sociais, e segui-lo é ter seu feed abastecido de arte, poesia, empatia e humildade. E quando possível for, caminhem por Porto Alegre explorando a arte dos muros, tapumes, mobiliário urbano, fachadas.. Foi assim que notei um enorme mural com a frase “Atenção - Área Indígena”, na Avenida Mauá, junto ao cais. Imagino que como qualquer pessoa, no meio da tarde, parada no trânsito, sendo pega de surpresa por essa paisagem, os pensamentos entraram em um looping infinito. Será que é mesmo um lugar destinado para os indígenas dentro da cidade? Será que está inclusive demarcado? Ou será que é em tom de manifesto, que essa e todas as outras cidades é óbvio que eram áreas indígenas? Será que os próprios indígenas interviram nesse muro? Enfim. Para minha sorte, o Google tem a capacidade de responder quase todas as dúvidas, e ao pesquisar, encontrei o artista urbano, consagrado na cidade (e agora em grande parte do mundo), falando sobre seus trabalhos, como o “Indiozinho”, “S.O.S Brasil Guarani Kaiowá em perigo”, “Seres invisíveis”, entre outros. Exposições em Lambe-lambe, murais, e instalações, ancoradas também em museus de Porto Alegre, mas principalmente nas ruas, nas periferias, sob os viadutos, que segundo ele “são passos e rastros que ficam”.

que diariamente, circulando, vendendo, comprando, e criando suas próprias dinâmicas de ressignificação de modo de viver e do lugar. Depois que passamos a enxergar estes seres, é impossível “desver”. Nas cidades de Santa Maria, Cruz Alta, Caxias do Sul, entre outras no Rio Grande Sul, estes personagens estão cotidianamente presentes no cenário dos centros urbanos, assim como em Florianópolis. Inclusive, nem poderia imaginar que no leste de Santa Catarina existiam inúmeras Terras Indígenas, em torno de dezesseis, com mais de 3.500 pessoas.

Pensar, e mais que isso, visualizar indíAo refletir, depois de um ano e meio de genas no meio urbano, através das obras mestrado, pesquisando a população inde Xadalu, fez com que eu percebesse dígena presente diariamente no Centro que na realidade, eles estão ali. Quase

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fundador de Florianópolis, e a maneira como ressignificam o lugar, a apropriação e a própria cultura, parece-me óbvio que, sim, este meio urbano, edificado, capitalizado e segregado, também os pertence. Mesmo que neste processo civilizatório do país os tenhamos negado, e submetido a pequenos territórios, separando-os da convivência em sociedade, e os colocando “sob nossa tutela” – o que ainda é presente no nosso imaginário. Ao vermos as mães com os filhos, vendendo seus artesanatos, ervas, e com um recipiente para receber doações em dinheiro, o que chamam de “troquinho”, nos sentimos no direito de pensar por várias linhas. A da criança, questionando o que poderíamos


deputado federal indígena, Mário Juruna, que estão inseridos onde bem desejarem/necessitarem, plenos de seu poder político. Simbolicamente, o pensamento dos citadinos, também os conecta as suas aldeias, sem avaliar as transformações (no sentido negativo) da fauna, da flora e dos cursos d’água, em todo o território brasileiro, que impactam os territórios indígenas de maneira até mesmo a não conseguirem obterem alimentos da própria terra. Ou seja, reinventar-se passa ser além de tudo, uma necessidade. Com a educação básica intercultural para as crianças nas aldeias, e a graduação cada vez mais frequentada pela etnia indígena, este instrumento de luta política que é a educação exerce papel fundamental, para que os modos de viver, as práticas culturais, sociais e de troca, atuem de maneira naturalmente “híbrida”.

ver pela ótica do trabalho infantil; a da higiene, contrariando a “limpeza estética” com que o nosso dia-a-dia se apresenta; a da venda, por que, afinal, estão na cidade, sentadas (os) ao chão, e não interagem, não oferecem seus produtos; e por fim, a do território, onde parecem figuras deslocadas, não pertencentes ao espaço oitocentista, cravejado de prédios modernistas, e turistas, do centro da capital, Florianópolis. Falando de forma legislativa, é contraditório que o próprio Estatuto do Índio (de 1973) ainda os defina estritamente como “silvícolas” (ligados à selva), quando desde 1943, estes povos demonstram, com a significativa eleição do primeiro

Para eles (as), a atividade das mulheres venderem artefatos acompanhadas dos filhos, não é nada além do óbvio, já que para a etnia Guarani, a criança fica exclusivamente com a mãe, onde quer que ela vá, até a puberdade. Uma forma de “aprender com”, de serem ensinadas sobre os caminhos, trajetórias, sobre a cidade, e o modo de vida alheio, que também interpenetram. A forma como se colocam, sentadas ao chão, sob panos, esperando, fala muito da sua cultura. Um povo que possui a capacidade de se fazer ser visto nas sutilezas, na invisibilidade de suas ações, imprimindo significações em pequenos traços que deixam vir à tona. Expõe sua cultura, antes de sua personalidade. Estampam em seus corpos, o contato permanente com a natureza, com a terra, com aquilo que entendemos por sujeira, e para eles, nada mais é que apenas o sagrado. Podem transitar entre aldeias, entre cidades e entre Estados, procurando manter os laços familiares, e incrementar a renda das famílias entre uma venda e outra. Penso que construímos um efeito cascata: nossa memória cons-

truída leva à uma falta de empatia, ao preconceito, à xenofobia, e à exclusão. A cidade de Porto Alegre, por exemplo, é pioneira em legislação que regulamenta a presença indígena na cidade, o seu direito a ocupar as calçadas, a estar com as crianças, e efetivamente ser cidadão. Deixo claro, que exponho aqui sobre cultura e identidade da maneira que minha formação de arquiteta e urbanista me permite, muito simplista. O meu interesse foi em compartilhar com os colegas os questionamentos e inquietações que a temática indígena no meio urbano, envolve. Nós, que tanto estudamos direito à cidade, será que conseguimos interpretá-lo de forma a incluir todas as etnias, raças, credos, idades, classes, gênero? Catalisar processos de presença e apropriação do espaço nos permitiria a legislar sobre e para cidades mais coerentes, e de pertencimento para todos (as). As relações que se moldam na cidade são por sua gênese, dialéticas, cabe aos processos legislatórios e técnicos adentrarem este mundo de reciprocidade e constantes modificações. Mais que resistir (à destruição do habitat natural, à segregação do mundo interconectado, da informação, das trocas culturais), o que os (as) indígenas nos apresentam, estando nas cidades, é uma forma de (re) existir. Uma forma de nos expor uma cidade que pulsa, por atores nada tradicionais e incomuns, que demandam lugar para si, para a sua maneira de apropriar do lugar, de forma legítima e única. Tento olhar para um futuro de inclusão, de legitimação das novas práticas sociais, onde as diretrizes urbanísticas consigam fornecer bases sólidas para pensar a cidade como direito de todos, e de todas as práticas culturais.

Moema Cristina Parode é arquiteta e urbanista e é estudante de mestrado no Pós-ARQ.

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MATHEUS LIMA ALCÂNTARA

PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO

ARTIGO

A PISCINA DOS OUTROS

ou: “The Gracious Little Daughter” was human too

Contém spoilers. Muitos. “Que horas ela volta?” Quantas vezes cheguei em casa após a escola e perguntei isso pra alguma irmã ou irmão mais velho? Porque meu pai também não estava em casa. Talvez eu não tenha usado exatamente essas palavras (confesso). Talvez eu as tenha usado quando minha mãe saía de casa à noite pra terminar o ensino médio — na época, o “segundo grau”. Mas eu sou sim filho de nordestina. Sou sim filho de doméstica. E também estou aqui, tentando manter minha piscina cheia. A impressão geral de “Que horas ela volta” pra mim, é basicamente um grande e doído déjà vu. Cada cena, cada situação é nada mais que uma situação comum à minha vivência. Um lugar que eu já estive. É algum limite que eu já vi ser traçado pessoalmente. Eu cresci sendo o filho da empregada. E ainda sou. Mas eu não era Jéssica (talvez não ainda). Eu não comi o sorvete. Eu não entrei na piscina. E essa é a questão da minha vida. Vagando pelas casas — como Jéssica diria “meio que modernistas, mas não exatamente” — de patrões e patrãs, desde que o mundo é mundo, aprendi o pequeno balé do ser invisível — de estar não estando — onde aquela pequena legislação não dita impera sobre uma vida ingênua e passiva à existência de um código. O filme toca no cerne da questão de como é ser pobre, fudido e mal pago no Brasil. De que tipo de relações nos restam quan-

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do se fala de trabalho. E olha que nem era tão fudido assim. Florianópolis não é realmente um lugar com tanta populaçao de baixa renda (não como São Paulo ou outras capitais), contudo a parcela de ricos e “bem-de-vida’s” é bem grande. E é aí que os serviços de doméstica entram. No pequeno palco onde ocorrem as pequenas cenas básicas da tradicional família brasileira. E isso que talvez seja o foco disso tudo, o como, de fato, dois núcleos familiares vivem (mas não co-nvivem) no mesmo espaço. O como a casa brasileira é plano de fundo das pequenas realidades de uma sociedade excludente e mal resolvida. “Quando alguém te oferece algo, não é pra você aceitar, porque se eles oferecem, é só por educação!” Quem disse isso? A Val. E a minha mãe. Inúmeras vezes. Incontáveis. Em milhares de situações. E isso que me doeu tanto nesse filme. E que não devia doer. Cada coisa que a Val fazia era algo que eu já vi sendo feito pessoalmente. Os pequenos prazeres proibidos sendo cada vez mais proibidos, cada vez mais negados. O sorvete “do Fabinho”, o sentar na mesa “deles”. E Jéssica aponta justamente essa ironia de não existir nada que seja realmente posse da Val por ali. De que talvez nada seja realmente permitido pra ela (nem existir). Afinal, não existe a mesa da Val. Afinal, ela nem aparece comendo dentro da casa. Até o jardineiro aparece comendo na mesa “deles”. Mas curiosamente a Val não. A mesma Val que é “praticamente família”, expressão que acaba marcando pela recorrência, tanto no filme, como na minha vida. Minha mãe também foi “praticamen-


te família” várias vezes. A Val é de fato praticamente da família. Talvez em alguns momentos, mais família pro Fabinho (filho da patroa) do que ela é para Jéssica (sua filha). E é aí que está a questão. Mesmo sendo próxima de Fabinho, ainda existe, sempre existiu, e sempre vai existir a barreira intransponível do “eles”. A mesa deles. A comida deles. A casa. Também deles. E aí encontramos nosso paradoxo. Por um lado, existem relações fortes, afetivas (como a que existe entre a Val e o Fabinho, ou que poderia até existir entre as Val’s e Donas Bárbaras da vida), o que nos daria a entender aquilo tudo como uma grande família. Mas na realidade isso não existe. Ainda existem duas famílias. Uma da casa grande. E outra da senzala. Unidas pela evolução da arquitetura, ou pelo encarecimento das propriedades (pick one). Essas famílias não vão se juntar, a não ser que seja para manter a forte relação de dominância e poder. De dúvida e distância entre os dois núcleos — “da porta pra lá” como Dona Bárbara diz, e “da porta pra cá” como Val repete. Cada um no seu canto. Como água e óleo. E então chega Jéssica. E Jéssica é o dedo na ferida. Jéssica é o megafone do que ninguém nunca fala. Jéssica é o que eu nunca fui quando criança. Curiosamente, Jéssica chega na casa por acaso. E chega de má vontade. Ela nunca quis estar naquela situação. Ela nunca quis estar ali. E diferente de mim, de Val, da minha mãe e das minhas irmãs, Jéssica não age perante a código nenhum. Talvez ela não tenha sido avisada. Na verdade ela é avisada. Inúmeras vezes. Mas tanto a rebeldia, a relação conturbada com a mãe e a própria posse de um código próprio, diferente daquele, a fazem parecer um alienígena dentro daquela casa. Jéssica vive no limite. Jéssica cruza os limites que os outros inventaram com frequência. Visita o atelier do patrão. Sai para passeios com o mesmo. Senta à mesa. Entra na piscina. Come o sorvete, toma livros emprestados. Aos poucos, ele lhe mostra os diferentes limites com os quais eu lidava com frequência. Ela esfrega na cara do bom brasileiro o que realmente é visto com certa dose de cinismo. O quanto algumas coisas (teoricamente sem significado) acontecerem entre os núcleos familiares presentes pode ser visto como tabu. “Eu não me acho melhor do que os outros. Eu só não acho que eu seja menos do que os outros.” Jéssica, Diva.(não necessariamente com essas palavras) Em toda sua sagacidade, Jéssica é perceptiva e sensata. E parece realmente ser a única a compreender o que está em jogo ali naquela situação. O fato de ser obrigada a relembrar sua própria mãe que ela não é “menos” do que ninguém é uma questão importante. Ironicamente, Jéssica está ali para prestar vestibular para Arquitetura e Urbanismo, na FAU/USP. Curso que normalmente é associado à costumes burgueses, como o de construir casas como aquela em que a história se passa. “Meio que modernistas, mas não exatamente”. E o fato dela falar desta vontade com tanta naturalidade deixa o “eles” escandalizados e desconfiados. A filha da empregada quer ser arquiteta.

Quase como uma provocação, ao ser questionada sobre seus motivos, Jéssica explica, que a arquitetura pode ser um “instrumento de transformação social”, dando uma dica nada sutil sobre que tipos de relações sociais talvez devessem ser transformadas. Através do filme, somos apresentados aos poucos ao íntimo da vivência doméstica de uma parcela significativa da população brasileira. (Essa que mora nos Morumbis do Brasil). Apoiadas na servidão excessiva (para acordar, alimentar e abrilhantar os utensílios de prata “da minha vó”) e na separação clara entre o núcleo familiar e o núcleo de empregados (empregada, diarista, motorista, jardineiro). Jéssica por sua vez nega ambas as situações. De forma um tanto incômoda, diria eu. O filme trabalha sempre com situações normalmente incomuns para demonstrar o quão profunda é essa construção social. Num momento memorável ao melhor estilo silencioso de “me serve vadia, me serve”, Jéssica consegue fazer Bárbara, que ela se nega a chamar de “Dona”, lhe servir café da manhã. Na sua própria mesa. Na mesa “deles” A arquitetura aparece no filme como mote organizador da vida doméstica. O corredor icônico que organiza os quartos nos deixa claro o grau de importância de cada um ali dentro do sistema hierárquico residencial, suas relações com o “lugar ao sol” (que desce pela escada) e também com os outros personagens. O quarto do casal, “dono da casa” fica mais próxima da escada, mais próximo do sol. Do conforto. Seguindo, cada vez mais longe da luz, há o quarto de Fabinho, que fica ao lado do quarto de Val, evidenciando a relação afetiva entre os dois (as portas ficam na parede oposta do quarto do casal, lado a lado). Por fim, no canto mais próximo do espectador (propositalmente, imagino eu), está o quarto de Val. Pequeno e amontoado, o quarto de Val é justamente o contrário do resto da casa. Não é “meio que modernista”. Nem tem o aspecto de “suíte” como Jéssica nos relembra em cada um dos outros quartos que entra. E é aí, nesta visita, que o mundo desaba. Quando Jéssica se promove como hóspede (ou se promove a ser humano). Se declara merecedora de um lugar ao sol (curiosamente bem mais próximo da escada ensolarada, mais perto ainda que o quarto de Fabinho) e então, a partir daí, água e óleo são obrigados a conviver juntos. E é aí que ela se nega a manter essa separação não dita entre os habitantes daquele lugar. E consequentemente, ambos pai e filho se tornam estranhamente interessados por ela. Por ser diferente da mãe empregada, ela se mostra justamente igual perante todos os outros. E é daí que vem o “se achar melhor que todo mundo ou não se achar pior que todo mundo”. E sendo igual, ela tem as mesmas regalias sociais (como ser servida pela própria mãe). Então, “The Gracious Little Daughter” força a situação, ou pelo menos, parece para o espectador que ela esteja forçando a situação. Contudo, a pergunta que fica é: Será que devemos achar que ela esteja forçando a situação? ou ainda “Será por que Jéssica parece tão subversiva fazendo isso? Afinal, por que diabos ser tratado igual a um ser humano parece tão anormal neste contexto?”

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Porque quando alguém me oferecia algo, eu recusava. Porque quando o filho da patroa me convidava pra fazer algo, eu deveria dizer não. Porque quando eu tivesse fome, eu tinha que esperar minha mãe terminar o trabalho. Porque eu não podia entrar na piscina. Eu só podia limpá-la. Porque eu não podia deitar na rede. Eu só podia pintar o muro ao lado. E é muito estranho como isso se desenvolve. Não é uma questão de abuso. Nunca fui maltratado por nenhum patrão/patroa que minha mãe já teve, Na verdade, sempre fui muito bem tratado. Mas claro. Bem tratado como todo filho de empregada deve ser bem tratado. Da porta pra lá. Por favor. Obrigado. Nada menos. Nada mais. Então, o que será que nos impede de transpor essa barreira? O que será que impedia Jessica de entrar na piscina mas não impedia Val de fazer cafuné em Fabinho? A última questão que quero levantar é a questão do vestibular de Jéssica. Confesso que eu mesmo não consegui confiar nela quando ela dizia que realmente iria estudar (seria um preconceito meu talvez? a própria mãe dela também não parecia convencida de fato). Enquanto eu não a vi, nos momentos finais do filme, realmente falando da faculdade, com os livros de matemática, após sua mãe se demitir, não havia me convencido sobre ela ter passado ou não. De qualquer forma, é isso que Val acredita. E com razão. A filha acabou de passar numa das faculdades mais concorridas do Brasil. A filha terá a oportunidade que ela não teve. E então, o que antes foi visto como profano tanto por Val como pela Dona Bárbara, é o momento libertador da empregada. Entrar na piscina, especialmente vazia, tem um significado tão forte, que não sei se palavras são suficientes pra explicar o quanto essa cena foi emocionante. O telefonema, em meio a barulhos d’água é um momento libertador. Onde Val finalmente entende o que Jéssica estava tentando lhe mostrar desde o começo. Elas duas também são gente. E não há

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nada de errado com isso. Não há nada de errado em ter uma piscina cheia pra si. Mais importante, talvez, seja o fato de a piscina estar vazia. Quase como indicando que mesmo que quisesse, que tentasse, que se esforçasse, que se libertasse, talvez Val nunca conseguisse uma piscina cheia. Mesmo assim, a felicidade estava ali. Tão clara como a água que ela jogava pra todo lado. Aquilo era suficiente. Tinha que ser. Porque era tudo que ela ia conseguir.

RENATA SCHRAMM CORREA

E eu sei o porquê. Porque, I must say, I’ve been there. Too many times.

Essa parte do filme teve uma consequencia extremamente pessoal pra mim. Como disse, eu também sou filho de empregada. Eu também sou filho de nordestinos. E o que não contei antes, é que também entrei no curso de arquitetura (em Florianópolis). Essa semelhança aparentemente inocente, é extremamente crucial tanto para o meu entendimento, como para os meus sentimentos um tanto à flor da pele nesta parte da história, e como para o próprio roteiro do filme. Logo, neste momento, a felicidade da Val, é a minha felicidade. Arquitetura é e tradicionalmente sempre foi uma atividade burguesa. Uma atividade da mesma elite que quando vê um problema, vai viajar para esquecê-lo (como fez Fabinho quando se frustrou com o vestibular). Uma atividade de quem não quer “transformação social”. De quem só quer se manter no lugar ao sol. De quem só quer manter os outros “da porta pra lá” E Jéssica (a partir de agora, minha heroína e guru espiritual) decide fazer arquitetura. Decide desenhar. Decide fazer exatamente o que todos “eles” acharam que era um tanto ridículo para a filha da empregada. Rebeldia ou Clareza. Um pouco dos dois. E aí, está a parte mais saborosa, e mais ambígua. De saber que mesmo com a piscina vazia, Val e Jéssica vão conseguir seguir a vida. Ou que talvez não. Que talvez a piscina sempre se mantenha assim, vazia mesmo. Meio Vazia. Ou Meio Cheia. É realmente um aprendizado. Real demais para mim para não ser sentido. Próximo demais para não ser discutido. Enquanto isso, eu só continuo querendo encher minha piscina. Matheus Lima Alcântara é estudante da ARQ desde 13.1 e faz parte da atual gestão do CALA.

nós andamos a passos lentos os outros estão na frente apressados para chegar a nenhum lugar mas nós não temos pressa andamos a passos lentos o bastante para observar o sol amarelo formando estrelas no vazio entre as folhas verdes nós olhamos para o céu azul enquanto andamos a passos lentos para que esse instante breve dure por mais um momento para que a luz matinal nos ilumine por mais tempo para que nossa conversa tenha vírgulas somente e não um ponto final andamos a passos lentos porque o dia começou, mas não queremos que a noite acabe e não temos pressa para nos deitarmos L.K.T.


LARA NORÕES ALBUQUERQUE

Dois meses desde que pousei o pé em terras Lusitanas e começo a sentir a mudança do hábito. Não me sinto mais a passageira que em momentos atrás achei que fosse neste exato momento tenho meu mercado favorito e uma rotina pra dizer que é minha. Já houve tempos em que procurei nos rostos desconhecidos similaridades com aqueles que amo, agora posso dizer que encontrei nestes novos rostos pessoas com quem começo a criar laços e memórias. Na faculdade, sei o que esperar das minhas aulas e o quanto posso aprender em cada uma delas, entendi que o interesse é meu e o esforço pode ser particularmente recompensante - projeto ainda é uma questão duvidosa. E agora, finalmente habituada com minha cidade portuguesa, me programo pra me colocar em situações culturalmente distintas, em cidades e países vizinhos onde pouca, ou

VIAGEM

LARA NORÕES ALBUQUERQUE

VIAGEM

Ponte do Infante, Porto, Portugal. nenhuma, pessoa conheço. Afinal, Sinto que ainda aprenderei muito com tudo que entendi que a melhor experiência viverei. de um intercâmbio é justamente Lara Norões Albuquerque é estudante da ARQ desde me ver nesse constante encontro 12.2. Ela está em intercâmbio na Cidade do Porto. com o desabitual.

NATHALIA MARCELLO DE OLIVEIRA

De onde a gente vem, pra onde a gente vai. Onde a gente fica, por onde a gente sai. Com quem a gente anda, o que a gente faz. O que a gente fala, o que a gente escuta. Onde a gente tá agora e o que a gente sente. Cada uma dessas condições é infinita e eu sou a única pessoa responsável por decidir tudo isso. Os lugares são infinitos, e as pessoas também, mas o mundo tem um formato só e o mais importante de tudo é que o mundo inteiro se trata apenas de mim. Eu que vejo. Eu que falo. Eu que escuto. Eu que sinto. Eu que penso. Eu que grito. Eu que choro. Eu que revido. Eu que saio. Eu que fico. Eu que interpreto. O que é mais importante nessa vida do que eu? No começo da minha viagem eu me deparei com um homem que quase não me escutava, ele só falava e supostamente estava sempre certo. Ele me disse uma hora “Você têm que estar totalmente aberta a culturas diferentes e deixar elas te mudarem de verdade por dentro”. Na hora eu pensei, sem ter a oportunidade de falar, como na verdade eu sou eu independente de onde eu for e de quem esteja comigo. O mundo é o mundo em qualquer lugar que eu for. Eu tenho uma tia que sempre me dizia “O mundo é a tua casa, filha. Não se sinta mal e nunca tenha medo de estar num lugar estranho, sempre esteja confortável consigo mesma porque você é a sua casa”. Então eu sou o mundo. Eu fui pro outro lado do continente pra ver eu mesma. Nesse lugar que chamam de América Latina, a gente não fala espanhol nem português. A gente fala

brasileiro, chileno, argentino, peruano, boliviano, colombiano, uruguaio... A gente tá sempre atrás do que a gente quer, e fugindo do que não quer. Não importa onde. Eu encontrava gente no meio do meu caminho que falava francês, inglês, mexicano, americano, australiano, israelense... Toda essa gente. Eles tavam ali pra ver a mesma coisa que eu. A gente se olhava e via. Cada um éão infinitamente diferente, mas a gente é igual. A nossa origem é só uma parte das ferramentas que a gente usa pra compartilhar experiências um com o outro. Quando a gente compartilha a gente percebe que a gente é tudo igual. Eu sou o mundo, mas o mundo também é eu. Eu tenho que me lembrar sempre que não adianta tratar só a mim mesma da melhor maneira possível se eu não trato os outros da mesma maneira. E eu não posso tratar os outros da melhor maneira possível se eu não trato a mim mesma da mesma maneira. Quem sou esse eu que tanto fala e nada diz? Eu sou qualquer pessoa do mundo, eu sou o mundo inteiro. Então agora, àquele homem eu deveria ter perguntado: As culturas mudam a gente? Ou elas só nos dão uma chave pra algo que a gente já tinha dentro do nosso coração o tempo inteiro mas não sabia? Nathalia Marcello de Oliveira é estudante da ARQ desde 13.2. Ela esteve alguns meses nos Andes no último semestre.

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TCC

LUÃ OLSEN

ABERTURA, TRAVESSIA, REVERBERAÇÃO: FRAGMENTOS DE UM DESLOCAMENTO LUÃ OLSEN Ao finalizar minha dedicatória para o professor Alcimir de Paris, que foi meu orientador nesse período de um ano de TCC e, além disso, durante a disciplina de p7, escrevi que havíamos fechado ali aquele ciclo, “depois de tantas conversas. Estou feliz em poder me ver nesse caderno, sabendo que, no futuro, poderei aqui me reencontrar, beber dessa fonte”. Porque falar desse trabalho é falar dos personagens que surgiram nesse percurso e é por isso que quando falo desse TCC, falo também de mim, e falo deles: não estávamos sozinhos. Muitos personagens cruzaram e andaram juntos nessa travessia. Caminhamos como “uma tropa que irrompe numa cidade”, como diria Antoine Roquentin, o personagem d’A Náusea, de Sartre. E para falar desse trabalho, preciso falar do que aconteceu, e não de algum resultado último. É como uma viagem, onde contamos os acontecimentos, a travessia, e não o fato de que chegamos. Partimos de uma certeza, única, que o TCC seria uma abertura: uma oportunidade para me reconhecer em minhas paixões e aceitá-las como desafio. 21. Nas idas e vindas sobre si mesmo, redescobrindo-se em suas vivências, experiências e questionamentos, tem-se uma espiral. É como subir essas escadas helicoidais, que tanto me atraem: para que possamos subir, voltamos constantemente em torno do eixo central, retornando sobre nós mesmos, de forma diferenciada. Nos opomos e nos encontramos, nos distanciamos e nos tangenciamos. Passado, presente e futuro se misturam ao subir uma escada helicoidal: subindo, estamos em constante reencontro com a lembrança, “o passado está presente na memória, assim como o futuro, sempre começando a se realizar”¹. Foram 320 fragmentos formalizados no caderno final. Antes disso, trabalhei em um rolo de papel kraft com 1 metro de largura e que surtiu um comprimento de 23 metros. Nunca consegui apreendê-lo em sua totalidade. Depois disso, fragmentos do rolo em 40 pranchas A3. Os números são físicos, pois as dimensões são imensuráveis. Enrolei-me e me desenrolei por esses suportes. Narrativa dentro de narrativa. Um trabalho deve ser, não um pedaço de nós mesmos, mas um todo em sua completude, devemos nos entregar totalmente à intensidade da experiência. Caminhávamos de descoberta em descoberta.

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116. Desenvolvíamos o trabalho, mas seu desenvolvimento carregava-nos juntos. Era como um jogo de criança em que nos adaptamos às regras, mas depois o jogo se adapta às crianças. Ou ainda a viagem a qual, apenas de início, planejamos: partimos, mas no percurso, a viagem nos guia, nos leva. No revirar de minhas experiências, vivências e questionamentos, o tema da viagem foi recorrente. Eu realizara travessias de bicicletas de longa distância nos últimos anos. Também explorara a cidade em derivas incertas. Um explorador é um viajante, um aventureiro. A viagem, então, foi analisada como deslocamento físico no espaço. Perguntava-me se era possível que esse sentimento da travessia, do se afastar, do criar o percurso enquanto se desloca, seria possível de ser replicado na própria cidade, em nosso cotidiano e, ainda mais, no próprio edifício. Ruas, becos, pontes, escadas, passarelas, mirantes, esquinas. Degrau por degrau, ângulos que surgem, paisagens que impressionam, encontros não planejados, caminhos diversos. largura e que surtiu um comprimento de 23 metros. Nunca consegui apreendê-lo em sua totalidade. Depois disso, fragmentos do rolo em 40 pranchas A3. Os números são físicos, pois as dimensões são imensuráveis. Enrolei-me e me desenrolei por esses suportes. Narrativa dentro de narrativa. Um trabalho deve ser, não um pedaço de nós mesmos, mas um todo em sua completude, devemos nos entregar totalmente à intensidade da experiência. Caminhávamos de descoberta em descoberta. 52. “No fundo, é exatamente o que carrega de misterioso que a obra de arte se assemelha à própria metrópole, esse universo a ser percorrido e vivenciado, mas que não pode nunca ser relatado ou dissecado de maneira objetiva”. ² Alcimir agia como um provocador, nunca incentivava que permanecêssemos em nossa cômoda zona de conforto. Quando falei sobre viagens, caminhadas e deslocamentos, emendou que “o caminhar não seria só com as pernas”, abrindo um impressionante leque de possibilidades. Assumi o termo “travessia” para sintetizar o deslocamento. Ao tangenciar outras possibilidades ganhamos ainda mais força. Como viajante, arrisquei-me em devaneios, não pelo perigo de não voltar, mas com a certeza de que voltaria modificado. Con-


cluí que um deslocamento surge a partir de travessias: estamos abertos, e o deslocamento reverbera em nossa existência. 258. A percepção do edifício é análoga à existência. Cada sedimentação (ou tentativa de apreensão) é travessia, uma abertura por onde atravessamos e somos atravessados: reverbera em mim, no outro e no meio. A lentidão na apreensão, que é o contrário da precipitação: uma apreensão autêntica, intensa e infinita. Um vínculo com o lugar, um vínculo para o habitar. Habitar é criar vínculos e criar vínculos é identificar-se, saber orientar-se. Saber que o ambiente tem significado. Heidegger diz que habitar é estar em paz em um lugar protegido. Não podemos estar em paz consigo mesmo, ou seja, habitar, se não estamos em equilíbrio em relação ao ambiente. Nossa vida é uma sequência de acontecimentos, momentos e situações, em constante relação com o outro e com o meio. Para entender a situação, estudei a Gestalt Terapia, de cunho existencialista e fenomenológico, que confere ao indivíduo todo o poder e responsabilidade de equilíbrio perante à realidade. Utilizando todo nosso potencial, devemos reagir de forma saudável e completa à sequência de situações que a vida nos proporciona. O ser humano é, por si só, uma obra inacabada. É preciso se construir nessa sucessão de instantes, através de aberturas e travessias. 206. “as relações de uma pessoa consigo mesma comandam as alterações internas do lugar”. ³ Percorrer, experimentar, tocar e modificar. Completar com nossa presença um edifício, uma cidade. 49. “E se esse espaço não pode ser constantemente modificado pela própria natureza do projeto arquitetural, pelo menos que se modifique a percepção desse espaço: o trajeto pelo espaço”. ⁴ 55. O sólido movimento: “o corpo que espacializa o espaço” . O movimento que acontece quando percorremos. Não é a mudança contínua da estrutura física da cidade ou de um edifício. Mas uma mudança constante de percepções. A espacialização que surge quando entramos em contato com o espaço. 237. “ (...) uma enorme cidade construída segundo todas as regras da arquitetura e de repente sacudida por uma força que desafia todos os cálculos”. ⁶ Um edifício incompleto. O movimento, a ação, são, assim, exigidos para que o edifício se preencha. Heterotopias: espaços outros. Passagens que não exigem deslocamento físico. Mundos outros, travessias organizadas sobre suas próprias regras, nesse mesmo mundo. O cotidiano está cheio de heterotopias. Difere-se da utopia por ser a própria realizada.

Cinemas, teatros, bibliotecas, feiras e circos. Passagens, deslocamentos, espaços-outros. Um edifício pode ser um potencializador de heterotopias. Assume essa característica ao permitir diversos usos que extrapolam seu programa funcional, rompendo sua estaticidade, por mais físico que o seja. Assim, chega-se aqui à explosão do edifício, inapreensível pois imprevisível e infinito, tamanha a complexidade e contradições abrigadas e proporcionadas pelo edifício. 236. “O espaço não como uma noção essencialmente matemática, mas como uma dimensão existencial”. ⁷ Ilustrei meus experimentos com uma série de registros de um terminal de ônibus da cidade, o Terminal Velho. Um edifício aberto, sem catracas, repleto de eventos diários. Cada olhar da câmera era uma abertura, um impulso. Há uma travessia, conversas, percepções, situações e, instante após instante em nossa percepção, há reverberação. Um momento é cheio de travessias. Tentava evidenciar a complexidade do lugar. Gostaria de, nesse texto, me aprofundar nesses pontos que me surgiram durante minha travessia pelo Trabalho de Conclusão de Curso. Mas eles não são o trabalho em si. Tudo o que me foi surgindo, amarrado pelo tema da viagem, veio para eu entendesse aquilo que estava atravessando. Encontrei eco em textos, em filósofos, em imagens diversas. Desenvolvia-se uma nítida metalinguagem: falávamos sobre percurso, mas praticávamos tal travessia. 197. “Viajar? Para viajar basta existir. (...) Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir. A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos”. Deparamo-nos com perguntas que desenvolveram, não respostas, mas aberturas para possíveis caminhos e que sedimentaram essa trajetória. Vejo, então, o trabalho final de graduação como um aprofundamento daquilo que nos move, não apenas enquanto acadêmicos, mas como indivíduos em meio coletivo, impregnados de nossas concepções da vida. Ao darmos conta das possibilidades e complexidades das travessias, temos a oportunidade de ampliar nossas experiências, no intensificar da percepção e atuação no mundo. Estamos em permanente travessia. Material disponível no LDA e no site: www.luaolsen.wix.com/fragmentos ¹ JACQUES, Paola Berenstein (2001). Estética da Ginga – a Arquitetura das Favelas através da Obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007. 3ª ed. Pág. 50. ² VISCONTI, Jacopo Crivelli. Novas Derivas. São Paulo: FAUUSP, 2012. Tese. Pág. 41. ³ CERTEAU, Michel De (1980). A Invenção do Cotidiano. Petropólis: Editora Vozes, 2000. Pág.191. ⁴ NETTO, J. Teixeira Coelho. A Construção do Sentido na Arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1979. Pág. 78. ⁵ Martin Heidegger. ⁶ CERTEAU, Michel De (1980). A Invenção do Cotidiano. Petropólis: Editora Vozes, 2000. Pág.191. ⁷ NORBERG-SCHULZ, Christian (1976). O Fenômeno do Lugar. In: NESBITT, Kate (org). Uma Nova Agenda para a Arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2ª ed. rev., 2008. Pág. 449. ⁸ Fernando Pessoa.

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GUSTAVO RODRIGO DE SOUZA

MATHEUS ALVES/COTIDIANO UFSC

ARTIGO

O interior do Centro de Convivência.

A ESTRATÉGIA DO ABANDONO Esse texto não se propõe uma caracterização detalhada sobre o histórico de descaso da administração universitária para com os espaços de convívio e integração estudantil. Ele é, antes de tudo, um primeiro esboço sobre essa discussão. Acredito ser urgente para o Movimento Estudantil um acompanhamento mais apurado do estado de conservação e uso desses espaços, além da articulação de novas propostas de requalificação. Como primeiro passo, acho necessário apresentar quais são, no Campus Trindade da UFSC, os espaços voltados para a integração estudantil que apresentam pouco ou nenhum apoio institucional para sua manutenção e qualidade arquitetônica. De maneira geral, são os espaços de uso cultural público - palco do bosque, concha acústica, pavilhinho da arquitetura e varandão do CCE - e aqueles voltados à organização política dos estudantes - DCE e centros acadêmicos. O Centro de Convivência, espaço apropriado historicamente dessas duas formas, aparece como um edifício paradigmático nesse debate. É, ao contrário da maioria dos CA’s, extremamente espaçoso e com inúmeras possibilidades de aproriação. Apesar disso, sua ocupação consiste hoje apenas por uma agência dos Correios e pelas sedes do DCE e da APG, tendo boa parte do térreo e do segundo pavimento interditados por razões até hoje pouco explicadas. Por isso o Convivência tem um papel central nessa discussão. É sobre ele que, há pelo menos 10 anos, rondam boatos que facilmente se espalham e confundem os estudantes. O mais

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bem difundido deles fala sobre o edifício estar “condenado estruturalmente” e essa ter sido a razão de sua progressiva desocupação. Ora, se isso é fato, por quê então que nunca tivemos nem pista de um laudo estrutural assinado por alguém com real competência técnica? Em reunião com a diretora do Departamento Projetos em Arquitetura e Urbanismo (DPAE), tive, enquanto representante do DCE a resposta de que esse laudo nunca existiu. Nem menos uma perícia básica. O professor e arquiteto Américo Ishida afirma que, segundo avaliação de um conhecido calculista aqui da Ilha, existe apenas um problema estrutural que compromete as esquadrias e que o dimensionamento da estrutura não contempla grandes festas no segundo pavimento. Ainda que nem isso esteja devidamente provado, mesmo essas restrições não explicam o porquê desse edifício estar até hoje totalmente afastado das atividades da comunidade universitária. Desde 2009, foram 2 tentativas de reforma frustradas e uma reforma concluída apenas na cobertura. Segundo o DPAE, a primeira tentativa parou na incompetência da empresa que havia ganhado a licitação. Dessa época, sabemos apenas que nada aconteceu. Na segunda tentativa, a qual ganhou força ao longo da gestão da Reitora Roselane Neckel, a proposta do arquiteto Américo chegou quase ao nível de licitação, parando logo após a entrada de um novo grupo político na reitoria, liderado pelo falecido reitor Luiz Carlos Cancellier. A mudança nos grupos políticos dominantes veio também acompanhada de uma nova


diretriz que contribuiu ainda mais para atravancar o debate: não havia mais consenso de que se deveria recuperar a edificação. Parte desse grupo político, que vinha com a mesma linha de outras reitorias anteriores, acreditava que a demolição do prédio seguida da construção de uma nova edificação maior e mais adaptável aos interesses privados, seria melhor para o conjunto da universidade. No meio dessa indecisão, o que reina é o cínico clima de normalidade numa universidade onde doutores e estudantes ricos tem lugares grátis para seus carros enquanto a grande maioria dos estudantes, técnicos, e trabalhadores terceirizados pouco acesso tem à espaços de lazer e descanso qualificados. É aqui que fica evidente como a desocupação e a desinformação acerca desses espaços não são problema para quem vendo controlando a UFSC, são solução. Enquanto movimento estudantil, não nos cabe esperar nada dos nossos conselheiros docentes, pró-reitores ou diretores de centro. A linha mais acertada aqui é a construção participativa de projetos de recuperação seguida de propostas de ocupação que possam retomar sua importância para toda a comunidade acadêmica.

Gustavo Rodrigo de Souza é estudante da ARQ desde 15.1 e faz parte das gestões do CALA e do DCE.

ATELIÊ MODELO DE ARQUITETURA O que é o AMA? O AMA (Ateliê Modelo de Arquitetura) é um Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo, isso significa que fazemos projetos para a comunidade externa voluntariamente buscando levar o trabalho do arquiteto para todos. Nos baseamos na horizontalidade e no processo participativo, por isso dentro do AMA não existe hierarquia e esse ideal é levado aos projetos, onde tratamos a comunidade como membro ativo da construção do projeto, demonstrando sempre interesse pela opinião daqueles que serão os usuários do espaço e contribuindo com conhecimento técnico. Buscamos desenvolver uma arquitetura que se coloque como processo e não como produto e assim almejamos despertar um senso de pertencimento ao espaço na comunidade trabalhada. Todo esse trabalho desenvolvido interfere também na vida acadêmica dos participantes do AMA, proporcionando uma formação que vai além das salas de aula. É importante ressaltar que o AMA é uma entidade gerenciada pelos alunos do curso e dentro do nosso processo professores atuam nos auxiliando como orientadores nos projetos. Por isso a participação estudantil é essencial para que o AMA exista e possa assim atender as necessidades da comunidade, possibilitando que exerçamos mesmo ainda na universidade a função social do arquiteto.

O que o AMA tem a ver com a intervenção artística? O AMA nunca trabalhou especificamente com intervenções artísticas, mas a importância desta é inegável dentro do processo participativo dos nossos projetos. Pode-se tomar o exemplo da vivência no CAPs, ocorrida dia 14 durante a Semanarq, onde organizamos intervenções nos muros em conjunto com os usuários. O simples fato de estarmos junto a eles, criando e intervindo sobre o espaço que utilizam, pôde nos aproximar, não só na escolha das cores e traçados, mas em conversas e experiências, já que uma coisa leva a outra. Mesmo quem não quis pintar o muro, ora ou outra se aproximou para conhecer os estudantes. Alguns eram mais tímidos, mas participavam da ocasião; outros, exímios contadores de histórias. Nessa (con)vivência pudemos superar inúmeros preconceitos, sair por um momento de nossa cúpula acadêmica (e talvez dar algum sentido a ela), e ver que a realidade é muito mais rica quando se olha de perto, participando e intervindo. Bastaram algumas tintas, pincéis e um muro - a interação se fez naturalmente.

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ARTIGO

FRANCIELE DAL PRÁ

REPRESENTATIVIDADE FEMININA NO CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – CAU/BR e os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo dos Estados e do Distrito Federal – CAU/UF foram criados em 2010. O CAU é o órgão que regulamenta o exercício da Arquitetura e Urbanismo no país. Possui a função de “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de arquitetura e urbanismo, zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe em todo o território nacional, bem como pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da arquitetura e urbanismo” (§ 1º do

Art. 24º da Lei 12.378/2010). O atual Conselho de Arquitetura e Urbanismo de SC (CAU/SC), cujo mandato vigorará até 31 de dezembro de 2017, conta com os cargos de 13 conselheiros estaduais e um conselheiro federal, além de o mesmo número correspondente de suplentes. Embora atualmente as arquitetas representem 61% da categoria profissional em Santa Catarina, apenas duas ocupam cargos dentro do Conselho Estadual, sendo os outros 12 ocupados por homens.

Diante deste cenário de grande falta de representatividade feminina, não só em SC, como em todo o Brasil (infográfico abaixo), a chapa “Arquitetas para o CAU” de SC, surgiu como uma ação denunciadora desse modelo patriarcal e opressor, que afasta as minorias dos espaços de decisões políticas. O corpo de conselheiros do CAU se forma de acordo com a proporção de votos que cada chapa candidatada receber, ou seja, cada chapa elege apenas a porcentagem de candidatos de sua lista correspondente à quantidade de votos que

BASEADA EM IMAGEM DE JULIAN PIRAN PARA O ARCHDAILY. DADOS DE 2017, DE ANTES DA ELEIÇÃO.

DIVULGAÇÃO/CHAPA 2 NO FACEBOOK

obtiver. Sabendo disto, a chapa Arquitetas para o CAU compôs-se em 100% de mulheres, a fim de garantir que a sua parcela de eleitas fossem mulheres e contribuir, dessa forma, com o equilíbrio da representatividade de gênero dentro do Conselho.

Integrantes da Chapa “Arquitetas para o CAU”

Nossa ação foi vitoriosa, pois conseguimos eleger 5 conselheiras apenas com a nossa chapa para o próximo mandato, que se inicia em janeiro de 2018. Objetivamos contribuir para a construção de um Conselho e sociedade com maior equidade entre as pessoas. Sabemos que assim estaremos caminhando em direção ao fortalecimento necessário da função social da Arquitetura. Franciele dal Prá é arquiteta e urbanista e fará parte do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de SC como suplente.

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COLETIVO URBANAS

QUEM TIROU OS LAMBES? Durante a ocupação contra o golpe governamental no semestre 2016.2, o Coletivo Urbanas com a comunidade LGBT+ realizou intervenções no prédio da Arquitetura, UFSC. Lambes, dentre outras intervenções, foram espalhadas pelas paredes de maneira a denunciar casos de abusos sofridos em salas de aula ou eventos nas imediações do prédio, os quais foram recebidos anonimamente através da nossa página no Facebook. Pouco tempo depois, os lambes começaram a ser arrancados e descartados.

GABRIEL QUERNE

Um ano se passou e, durante a semana acadêmica, o Coletivo reviveu a discussão com a série de lambes ‘’QUEM TIROU OS LAMBES?’’, abrindo a questão sobre a apropriação do espaço por meio do grito referente às opressões sofridas por mulheres. Desta forma, buscamos nos posicionar frente a atitudes invasivas bem como nos perguntas qual o lugar de fala de uma mulher dentro de um curso que silencia seus alunos. #nãopassaráembranco

refletida em tuas pupilas eu me vejo a te encarar eu nado nas tuas palavras mergulho no teu olhar no marrom da tua íris me perco até me encontrar percorrendo pelos cantos da tua mente singular percebendo meu desejo de fazer de ti meu lar

COLETIVO URBANAS

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ENCONTROS 2018

Regional Norte: EREA Amazônia, em Manaus, AM

Quase todo mundo conhece ou pelo menos já viu a figura alta e inquieta, normalmente de regata e moletom andando pelo prédio branco. Entre piruetas, espacates, alongamentos, pliés e taps, Fernando Flesch Fernandes, mais conhecido como Flesch é referência na arquitetura.”O Menino que sapateia”. E que não só sapateia, mas trabalha e vive arte. Por isso a importância dos apontamentos tão autênticos sobre fazer arte e estudar arquitetura.

Regional São Paulo: EREA Carlão, em São Carlos, SP

SR - NO MOMENTO, ATÉ ONDE VAI A DANÇA NA SUA VIDA? QUAL O PAPEL DA DANÇA NA SUA VIDA?

O calendário FeNEA dos encontros de arquitetura para 2018 fechou: Teremos: Regional Sul: EREA Satolep, em Pelotas, RS

Regional Centro: EREA Toca, em Palmas, TO Regional Leste: EREA Beagá, em Belo Horizonte, MG Regional Nordeste: EREA REC, no Recife, PE Nacional: ENEA Siará, em Fortaleza, CE

ARQBANCADA

Ainda tem SeNEMAU em São Luís do Maranhão e, fora do circuito da FeNEA, o ELEA na Colônia do Sacracamento, Uruguai.

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ENTREVISTA FERNANDO FLESCH

9 DE DEZEMBRO

Despidos e mortos agora o inseparável Céu e Mar. Escondem a mais nobre Cor nas profundezas do teu olhar. da noite

[...] Não consigo viver minha vida sem estar inserido no meio da dança. Ela já me levou a muitos lugares, pode me levar a muitos lugares [...] Eu acredito que na minha vida ela é essencial por isso, por causa do bem estar, por causa do amor pelo que tu faz. E agora vem sendo meu meio de ganhar dinheiro.

SR - NESTA TERÇA (14/NOV), VOCÊ FEZ MAIS UMA VEZ A OFICINA DE LINDY HOP NA SEMANARQ. COMO FOI? O mais incrível que eu gosto dessas oficinas, é que elas oferecem uma forma de interação entre os alunos. Parece que as pessoas só se falam ou pelos likes do facebook, ou numa baladinha que vai e todo mundo se beija, e pronto. Happy hour no máximo. É muito legal pro ser humano, e que se tenha essa interação, essa interação corporal mesmo, você abraça a pessoa, vocês dançam juntos. E isso pode trazer muita vantagem pro nosso curso, que tem muita gente grossa, ente que insiste em ser petulante, competitiva demais. SR - E QUAL A IMPORTANCIA PRA VOCÊ, OU PROS ESTUDANTES DE ARQUITETURA DA ARTE? A IMPORTÂNCIA DA ARTE NO ENSINO DE ARQUITETURA? [...] O legal, é que a arte ela copia a natureza e ao mesmo tempo ela complementa a natureza. A arte ela te leva pra lugares impossíveis, pra lugares que você cria. É o negócio da transgressão, você vai pra outro espaço. Outra sintonia, que não é essa, que a gente tem que estar, de produzir, de projeto, de “ah meu deus, você precisa fazer isso” “oh meu deus você não sabe fazer isso, não sabe fazer aquilo”, “você precisa renderizar desse jeito” etc. Tem horas que as pessoas precisam se entregar, sair daquilo ali, ouvir uma música legal, tirar essa coisa que fica dentro da gente o tempo todo, pra gente funcionar bem, acho que isso também é uma boa. SR - O QUE VOCÊ ACHA DO ESTUDANTE DE ARQUITETURA? NUM VIÉS MAIS ARTÍSTICO. Eu vejo estudantes com muito potencial, na parte de criação. Vários alunos que são músicos, que interpretam, que mostram o lado poético. E vejo pessoas que desenham bem por exemplo, mas que as pessoas elas têm medo. E é isso que deixa elas longe do mundo da arte. É o medo delas. É o jogar e dizer, “isso é o meu trabalho”. SR - POR QUE QUE VOCÊ DANÇA? OU PORQUE VOCÊ CONTINUA DANÇANDO? Sinceramente, porque eu gosto muito de aparecer sabe, a dança ela me faz aparecer, não só pros outros, mas pra mim mesmo. eu consigo me dar valor. “eu sou uma pessoa” e isso é o lance da identidade.

O legal, é que a arte ela copia a natureza e ao mesmo “[…] tempo ela complementa a natureza. A arte ela te leva pra

lugares impossíveis, pra lugares que você cria. É o negócio da transgressão, você vai pra outro espaço. Outra sintonia, que não é essa, que a gente tem que estar, de produzir […]


SIGNOS

JOÃOZINHO BIDU

Áries Se acha a geodésica de PVC, mas tá mais pras de canudinho. É tempo de de atirar a maquete na parede. Mas tudo passa. Exceto o vento na planta que você não cruzou a ventilação. Touro Tá se sentindo a própria isca de carne requentada do RU, mas os dias de strogonoff vão chegar. E cuidado pra não perder a carteirinha. Se for dormir aproveita o isopor que é macio e usa a cortina pra se enrolar. Gêmeos Se acha o teto verde, mas é uma laje maciça sem selador. Tente não abandonar seu grupo por mais que ele seja chato. Valorize seu amigo que, junto com você, são mais que gêmeos, twins. Leão Se acha um P6 finalizado, mas tá mais pra P2 com conceito I. Sabemos que você tá esperando a entrega final pra dar aquele show. Mas todo mundo só quer que o semestre acabe. Guarde seu brilho pro LuARQ. Virgem

BATE PRONTO

Sua vida tá pare cend o uma aula das 7h30 , mas as féria s vem aí. Fina l do seme stre não é hora de ser perf eccio nista , acei ta que dói men os. Não esqu eça de salva r com com patib lidad e para vers ões ante riore s do Sket chup . Libra A única coisa em equilíbrio da sua vida é a viga da aula de estruturas, mas as coisas vão melhorar. Cuidado com a quantidade de ervas medicinais utilizada para fazer projeto. Proerd é a solução.

Uma cor - Verde Um lugar - Dresden (onde ele fez intercâmbio) Uma música - Wannabe (Spice Girls) Uma comida - Macarrão Um animal - meu cachorro (aun) Um sonho - Broadway Um medo - ah eu tenho medo de palhaço! Uma banda - Spice Girls Um homem - o Américo (que estava sentado algumas mesas pro lado no centro de eventos) Uma mulher - Dormeshia Sumbry-Edwards (sapateadora norte-americana) Um professor - Rodrigo Gonçalves (o Gonça) Uma professora - a Marta (Dischinger) Um palavrão - Caralho Cigarro ou Álcool? - Álcool Bar ou Balada? - Balada Manhã ou Noite? - De noite Projeto ou Urb? - Projeto

Escorpião Tá querendo uma piscina, mas vai ter no máximo uma Caixa d’Água Brasilit. Pelo menos ambas são de 1000 litros. Bom período para finalmente aprender a usar o QGIS. E ó: pegar material que tá escrito “em uso” não é legal. Sagitário Se acha a Cafeína, mas tá mais pro Maracujá Joinville. Pare de pensar em bocas pra beijar e faça projeto de uma vez. Quem sabe você possa começar a road trip uma semana antes. Capricórnio Tá mais pra baixo que o porão, mas você vai ser dessa fossa. Lembre que pra muitas plotagens a Alexplot tem um custo-benefício melhor e que o café da esquerda é um pouquinho mais barato que o outro. Aquário Elegante como o papel pluma, difícil como o paraná. Aproveita as férias pra fazer mais parcerias que a Anitta. Mas ó: ninguém liga pra sua prancha desconstruída diferentona. Apenas faça o que tem que fazer.

Nos fizeram uma pergunta

Peixes Achou que seria mais fácil, mas já se encontra no chão do prédio branco. Não mande o trabalho pro professor errado de novo. E cuidado pra não deixar o nome do arquivo atéqueenfimentregueiestamerda.dwg ao deixar no Moodle.

Eu ri baixo, o Alvar Aalto

Eu toco violão, o Renzo Piano s o Mies Van dERROU

. Eu acertei a resposta, ma

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ATARQ

AMA 15 ANOS

Para comemorar os 15 anos de atividade, os atuais integrantes do Ateliê Modelo de Arquitetura prepararam uma verdadeira Festa de 15 Anos no final da XVIII SemanARQ. Confira as fotos:

A primeira coisa que veio à cabeça na hora de elaborar o texto da atlética nessa edição de retorno do Sem Revestimento foi de falar sobre algo relacionado ao tema: Existe limite para arte? Mas pensando melhor, essa é a primeira edição que a ATARQ participa, então acho que seria melhor e mais legal apresentar pra todo mundo, e principalmente, agradecer àqueles que se esforçaram e deram suor e lágrimas para que essa entidade desse certo. A Atlética, pra quem não sabe, começou lá em 2013 com um grupo bem pequeno formado pela Maísa, Cunha e Schurhauss, nossa primeira “diretoria”. Levantaram a ideia e começaram a mobilizar uma galera. Naquela época as atléticas vinham ganhando força dentro da UFSC e dos movimentos estudantis e começaram a ser reconhecidas. Desde o início buscou-se pela integração do curso através do esporte e dos encontros entre a galera. Algo pra desestressar. A atlética ainda não tinha pego no tranco, pela falta de grana, pelas poucas pessoas tendo de se virar. Até que em 2017 começou a dar certo. E continuará dando certo, graças à dedicação e ao esforço dos que estão presentes e dos que já passaram. Porque não precisamos só de saúde física, precisamos de saúde mental e de pessoas pra compartilhar os momentos bons e ruins. De coração, gostaria de agradecer a todos os que passaram por aqui e fizeram/fazem parte disso. Então, é isso. Vem com o veadão!

sorrio para sentir a dor e sinto a dor para sorrir pois nada é tanto que seja ainda sem aquilo que não é minhas lágrimas são compostas do que já foram sorrisos e os meus sorrisos são lágrimas ressussitadas a felicidade nasce só com o morrer da dor dor é felicidade e felicidade é dor L.K.T.

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CALA

ORGANIZAÇÃO INTERNA

GESTÃO TIJOLO POR TIJOLO

QUEM FAZ O QUE?

Daniel

FINANÇAS

Luisa

Matheus M. Gargioni

Gustavo

Sérgio

Milena

Thayse

Matheus L. Alcantara

Jéssica

Marcella

PERMANÊNCIA

Bárbara

Franciel

ATIVIDADES

Gabriel

Victor

RELAÇÕES EXTERNAS

COMUNICAÇÃO

Ana Clara

Sabrina

Jorge

Matheus Curi

INFRAESTRUTURA

Pedro

Angela (Lela)

Maria Luisa (MaLu)

Guilherme (Gui)

O QUE É CADA COMISSÃO? Organização interna: Faz e divulga atas das reuniões e organiza documentação.

Finanças: Cuida do dinheiro, garantindo transparência e independência.

Relações externas: Envolvimento com outras entidades da ARQ e laboratórios.

Infraestrutura: Cuida do espaço do CALA, incluindo a manutenção e mutirões; além do envolvimento com a reforma do pavilhinho e a luta pelo ateliê 24h.

Comunicação: Cuida das redes sociais, do contato da comunidade acadêmica, divulgações, notícas e produção de materiais como o Manual do Calouro e o Sem Revestimento.

Permanência: Cuida das questão da permanência estudantil. Atividades: Cuida dos eventos, atos e outras atividades como a SemanARQ.

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EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO BÁRBARA AMARAL FILIPE SOUZA CHAVES FRANCISCO BRUM GABRIEL QUERNE MATHEUS LIMA ALCÂNTARA

TEXTOS GABRIEL QUERNE GABRIEL VILLAS LUIZ GONZAGA PHILIPPI FILHO RODRIGO GONÇALVES LINO FERNANDES BRAGANÇA PERES SAMUEL STEINER DOS SANTOS FRANCISCO BRUM MOEMA PARODE MATHEUS LIMA ALCÂNTARA NATHALIA MARCELLO DE OLIVEIRA

LARA NORÕES ALBUQUERQUE FRANCIELE DAL PRÁ GUSTAVO RODRIGO DE SOUZA COLETIVO URBANAS ATARQ AMA PET-ARQ

ARTES FOTOS: PÁGINA 2: GABRIEL VILLAS PÁGINA 3, 11, 23 E 27: GABRIEL QUERNE PÁGINA 9, 21 E 26: MARIA LUISA BOABAID PÁGINA 6/7: FERNANDO FLESCH PÁGINA 11: ANGELA BIESUZ E JOÃO ORTIZ PÁGINA 7: CALA/ARQUIVOS PÁGINA 12-13: MOEMA PARODE PÁGINA 14: PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO PÁGINA 12-13: MOEMA PARODE PÁGINA 16: RENATA SCHRAMM CORRÊA PÁGINA 17: LARA NORÕES ALBUQUERQUE PÁGINA 18: LUÃ OLSEN PÁGINA 20: MATHEUS ALVES/COTIDIANO UFSC PÁGINA 22: ARQUITETAS PARA O CAU/DIVULGAÇÃO POEMAS PÁGINA 4-5: EDUARDO SILKA PÁGINAS 7, 16, 23 E 26 (L.K.T.): LUARA KARINA TAUFE O RESTANTE FOI ANÔNIMO.

PÁGINA 23: COLETIVO URBANAS PÁGINA 25: MURILO HIRATOMI PÁGINA 26: AMA PÁGINA 26: CALA/TIJOLO POR TIJOLO

PÁGINA 25, SIGNOS: BASEADA EM SUGESTÕES DE ANA CLARA FLEURY, STEFAN MAIER E ANA LETÍCIA GONÇALVES PÁGINA 25, PIADAS: LUARA KARINA TAUFE E FRANCISCO BRUM

“Gratidão aos envolvidos com esse trabalho tão Poxa, obrigado, “Mozões”. Não será a última, tenha certeza. importante para o curso” AGRADEMOS A TODOS E TODAS QUE CONTRIBUIRAM E AJUDARAM A FAZER O SR #14, SEJA COMENTANDO, (Mozões) SUGERINDO OU MANDANDO CONTEÚDO. PARTICIPE DA PRÓXIMA: ENVIE PARA SEMREVESTIMENTO@GMAIL.COM

CAPA: INTERVENÇÃO NO PRÉDIO DA ARQUITETURA, 2017. FOTO DE GABRIEL QUERNE facebook.com/calaufsc twitter.com/calaufsc issuu.com/calaufsc cala.ufsc.br cala@fenea.org

EDITORIAL. 2 PET-ARQ. 5 VIAGEM. 17 TCC.18 ENTREVISTA. 24 SIGNOS 25 AMA 21 ATARQ. 26


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