Sem Revestimento #6

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"É com muita satisfação que o Sem Revestimento chega ao fim desse ano. Tudo bem, pode ter ficado uma argamassa ou outra por cima, ou mesmo mal passamos da primeira camada de tinta. Alguns dirão: "aaaah!"; outros: "Ebaaa!"; e outros ainda: "..."... mas não importa, o concreto aparente é polêmico mesmo, alguns gostam, outros não, e é indiferente para alguns outros. Que contradição, não? É, meu chapa, a realidade é contraditória, e por isso nossa satisfação vem também com um certo ar de preocupação. Talvez muitos pensaram em pegar esse jornaleco para ler só o editorial, pois é sempre muito engraçadinho e tal, e os outros textos são chatos; mas hoje estou sério, muito sério... deve ser por que já estou na sexta edição... Nossa! Sexta edição!? UFA! Pelo menos isso me conforta, pois sempre dizem que as pessoas velhas são assim mesmo: vão ficando velhas e não acreditam mais em nada, não têm mais sonhos, não pensam em um mundo melhor... Admirável é o arquiteto Artigas, que velhinho ainda repetia: "Reservo-me o direito de manter minhas utopias", mas não me iludo, ele era só uma excessão. Bom, mas falava da minha preocupação. Minha preocupação, meus amigos, é que estamos perdendo nossos direitos aos poucos. Talvez você nem perceba, mas daqui a pouco nem mais esse jornaleco chegará às suas mãos. Estão destruindo a universidade, a saúde, as águas, o ar, o ser humano! Tudo virando mercadoria. Inclusive VOCÊ! Sim, você também! Bom, mas não vamos ficar aqui chorando mágoas, pois não queremos que você fique deprimido, ou puto da vida com esse jornaleco antes mesmo de começar sua leitura. Por isso preparamos alguns textos sobre a situação da universidade, a discussão do projeto político e pedagógico, semana da arquitetura, professores na arq e muito mais! Boa leitura.

outubro.de.2007.jornal.do.centro.acadêmico.livre.de.arquitetura CALA concretoeaparente@yahoo.com.br

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PASSOU.O.TROTEe.agora?

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Bom, falar sobre o trote é fácil. Todos chegamos na faculdade meio apreensivos, com medo do que será o trote, curiosos mesmo. A maioria esperava que acontecesse logo na segunda semana, depois de passar uma semana com um chapéu com os apelidos de cada escrito na cabeça, e descobrir que éramos os primeiros a pagar pelo trote, e caro! E o trote não vinha. Quinta feira, último dia da terceira semana, turma toda reunida na aula de projeto, de vez em quando alguém descia para “beber água” e voltava revoltado, não havia nem sinal de veteranos na arq. Quando acabou aula de projeto, alguns até embora foram, indignados, achando que mais uma semana passava e nada de trote. Decidimos fazer nós mesmos uma festa, e quando íamos saindo da arq, eis que surgem alguns veteranos, mandam o pessoal voltar pro pavilhinho, pois queriam conversar. Com algumas desculpas, explicam que aconteceram uns problemas, e que não vai dar pra fazer trote, a revolta era geral. Diria até que por sorte dos veteranos, já que tinha gente bem nervosa com o fato, era só uma brincadeira, e as pulseirinhas foram distribuídas. No caminho até o pida, elefantinho e musiquinhas em coro, chegando lá calouros em roda, devidamente pintados, se apresentando pra todo mundo, pra depois começar a gincana. Na gincana, alguns tombos e outras cenas impagáveis e inesquecíveis. Depois dessa longa espera, com a pulseira já pesando no braço, finalmente liberam a cerveja aos calouros e começa a festa, com direito até a visitas pós-festa ao hospital. É consenso entre os calouros que participaram que, fora a evaporação da cerveja, o trote foi divertido, sem que ninguém saísse constrangido ou machucado. Enfim, como dizem, foi uma experiência bastante saudável.

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Rafael Soares Simão

ASSEMBLÉIA.ESTUDANT

Assembléia Estudantil da ARQ – 22/08/07

Em assembléia, uma comissão foi formada para compilar, de forma organizada e confiável, todas as informações fornecidas pela organização do curso a respeito da falta de professores e das turmas superlotadas. Apesar da disparidade entre as informações constatadas pôde-se observar um grande desleixo no planejamento da distribuição das disciplinas entre os professores e a falta de interesse deles em assumir cargos administrativos. Verificou-se o descaso de alguns em relação à graduação por se dedicarem mais à pós-graduação e a projetos de pesquisa. Percebeu-se a existência de mais professores substitutos que o permitido e que por isso eles acabam assumindo o posto de professores efetivos aposentados. Analisou-se também a superlotação das turmas, que provoca um grande decréscimo na qualidade das aulas e um desgaste maior do professor. DISCIPLINAS COM EXCESSO DE ALUNOS E/OU SEM VAGAS NAS TURMAS (INÍCIO DO SEMESTRE 2007/02) Disciplinas Conforto Ambiental - Iluminação Urbanismo V Paisagismo II Sistemas Urbanos Arquitetura Brasileira I Arquitetura Brasileira II Projeto VII Análise de Estruturas Tecnologia III Tecnologia III Tecnologia do Restauro Prática na Construção Instalações I Instalações II Estática Estruturas em Aço Estruturas de Madeira

Turmas 0531B 0831A 0531 0631B 0531 0631B 0931A 0231 0531A 0531B 0731 0831 0431 0531 0531 0731 0831

Vagas oferecidas 22 22 29 22 40 20 15 45 22 22 15 15 40 40 50 40 40

Vagas ocupa das 22 24 29 28 45 24 19 50 30 37 15 15 50 55 50 45 45

Sem Vagas 17 07 08 Absorveu 10 03 02 Absorveu Absorveu Absorveu 06 10 Absorveu 19 23 13 10

DISCIPLINAS COM FALTA DE PROFESSOR (INÍCIO DO SEMESTRE 2007/02): Urbanismo II, apenas uma das turmas; Teoria Urbana II e III; Projeto Arquitetônico e Programação Visual II, apenas uma das turmas; Física do Ambiente Nicole Porto Balen


AH!que.TORTURA.ah!Que

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Olha. Veja bem: fazemos arquitetura. Fazemos arquitetura, fazemos arquitetura... que diabos será isso? Ah, sim! Aqui está: as pessoas precisam construir moradias para si, locais de convivência, precisam se proteger das intempéries climáticas. Enfim, faz parte da organização da vida do homem construir lugares nos quais poderá sentir-se mais seguro e confortável. Claro, isso é fazer arquitetura. Mas fazer arquitetura, como sabemos muito bem, dá trabalho! Viramos noites, comemos mal, e essa coisa toda. Quando pronto, é um alívio, está feito o projeto. Ufa! Acabou o sofrimento... Pois é assim que aprendemos. Passamos toda a nossa graduação (ouvindo palavras do Mestre) imaginando que fazer arquitetura se limita a expressar com traços e maquetes nossas idéias espaciais. Será? Será que as pessoas vão morar nos nossos desenhos? Claro que não. É preciso transformar a idéia, expressa no papel, em edificação de verdade. Portanto, quando termina um projeto, o grosso da coisa ainda está por vir. Mas você já pensou em conversar um pouco com aqueles para os quais você vai “passar a bola” quando seu projeto estiver concluído? Bom, nós fizemos, ainda que brevemente. Fomos até uma obra no dia 25 de setembro ao meio dia para saber o que pensam aqueles que colocam de pé a nossa idéia, tijolo após tijolo. Vamos, portanto, a um breve resumo de como se deu o causo: Chegamos à obra e encontramos muitos trabalhadores deitados, alguns sobre o asfalto, outros sobre a grama, alguns no sol, outros na sombra. Haviam acabado de almoçar, aproveitavam o único “grande” descanso do dia. Segundo eles, há uma parada ao meio dia, de uma hora, para o almoço, e mais duas de quinze minutos para o café da manhã e lanche da tarde. Isso para os que recebem por jornada de trabalho. Há ainda os que são contratados por metragem, como os que fazem o revestimento da edificação. Sim, cabe aqui esclarecer que não se trata daqueles pedreiros que construíram a sua casa, pois aqueles constroem desde a fundação até a massa corrida, realizam um trabalho quase que artesanal. Em grandes obras, os operários são divididos em grupos que são “especializados” (está mais para fragmentados) em apenas uma tarefa, por exemplo, o reboco. Desta forma, os que recebem por metragem podem trabalhar na hora que quiserem, desde que cumpram o prazo. Por isso, vimos alguns operários trabalhando naquele horário (aproximadamente 12h20). Podem assim, ganhar abonos devido à maior produtividade sobre isso, já dizia o Mestre: “Quem recebe esses abonos são os trabalhadores, o empregador não recebe nada”. (...Se ele diz...). Perguntamos a eles qual era a relação que

tinham com os arquitetos e engenheiros da obra. A resposta foi: nenhuma! É, bom. Isso ficou ambíguo. A resposta foi: “nenhuma”, relação nenhuma, não há relação. Só quem fala com eles para dar ordens é o mestre de obras. O arquiteto, nunca viram. O engenheiro fica em sua salinha, e só – pois já dizia o Grande Mestre: “Vocês devem evitar ao máximo o contato com os operários, isso é função do mestre de obras”. Perguntamos, também, sobre os desenhos – esses que fazemos com tanto esmero, que viramos noites fazendo –, a resposta: nunca viram. Nunca viram a resposta? Não, nunca viram os desenhos. Recebem ordens diretas. “faça isso, faça aquilo”- o Grande Mestre não falha: “Ponham cota em seus desenhos, pedreiro não sabe somar” -, mal sabem por que, mal sabem qual será o resultado final. Seguindo a conversa, indagamos a respeito da forma como são contratados. Disseram que a experiência conta muito. Quem tem a carteira de trabalho em branco não consegue nada. Naquela obra mesmo, muitos jovens apareceram tentando um emprego, mas voltaram para casa sem nada. Porém, parece que com a grande quantidade de obras sendo construídas em Florianópolis, trabalho não falta (e viva a moeda verde!). Mas calma, isso não é motivo para euforia geral. Se aqui falta mão de obra com experiência, em algum município perto ela sobra. Há um grupo de operário de Turvo (sul do estado) trabalhando naquela obra. Dormem no barracão e só voltam para casa nos finais de semana. E quanto às demissões? Eis o perigo. Podem ser demitidos a qualquer momento. Não é preciso aviso prévio. É tudo na hora: errou, vai para a rua – bem que o Grande Mestre tinha razão: “O operário é melhor demitir na hora mesmo. Porque, vocês sabem, né? Ele já tem menos cultura, então pode destruir alguma coisa na obra, furar um cano ou coisa assim...” (Mas que estranho, não nos pareceram pessoas más). E quem demite? O contratante? Não, nem sabem quem é o contratante, isso é serviço para o mestre de obras. E, por falar em mestre de obras, perguntamos a respeito da ascensão profissional. Apenas confirmaram o que já sabíamos: todos começam como serventes, à medida em que vão aprendendo o ofício, vão subindo na hierarquia. Alguns passam para pedreiro (ou armador, ou carpinteiro) em um ano ou menos, outros levam mais de dez anos. Daí para a frente, a história é outra – O Grande Mestre nos falou um pouco sobre o mestre de


tORTURa!aH!QUE.tortura. obras:”O mestre de obras não produz, então, tem que ratear um pouquinho de cada trabalhador para pagar o salário dele” (Que contraditório, a pouco os operários recebiam abonos e agora já perdem parte do pequeno salário). Perguntamos, ainda, sobre os acidentes de trabalho. Disseram que no passado este foi um problema grave, mas hoje a segurança até que é boa – o Grande Mestre sabe o que diz: “A construção civil ainda tem altos índices de acidentes de trabalho, mas as empresas começaram a se preocupar com isso, pois dá muito prejuízo” (É. Prejuízo até dá, mas não machuca?). Não perguntamos nada diretamente relacionado ao escândalo de moeda verde ou coisa que o valha, mas nos disseram que esperam que sempre haja obras em Florianópolis, para que possam ter sempre trabalho. Quando um deles disse que se faltasse lugar era só acabar com a favela e construir no morro, outro respondeu de pronto: “Que é isso? Só não vá querer ferrar com os pobres...” (Que estranho... o Mestre não nos falou nada sobre os pobres...). Enfim. Chegou a hora em que eles deveriam voltar ao trabalho e nós aos estudos. E voltamos com muito a refletir – com palavras do Mestre na cabeça: “Deixando o lado humano de lado. Pedreiro não pode pensar” (Ah! Temos muito a refletir mesmo!). Para nós, estudantes de arquitetura, é difícil pensar como é concretizar algo que só terá uma visualização total quando estiver pronto. Pois nosso processo é o inverso. Mas, quem foi que disse que é preciso separar os dois processos (concepção e execução)? Sempre foi assim? Sempre será? Voltemos um pouco no tempo. Até o Renascimento, não havia distinção entre a atividade do projeto e a execução do mesmo. Todos os produtores tinham plena consciência de todo o processo construtivo, organizados em Corporações de Ofício. O desenvolvimento da técnica, assim como dos instrumentos de trabalho, vinha gerando uma especialização cada vez maior de cada atividade e um conseqüente aumento da produtividade do trabalho. Eram as chamadas manufaturas, onde o todo do processo produtivo depende da perícia individual de cada trabalhador, sendo cada um, órgão de um organismo de produção. A especialização desses instrumentos de trabalho e da técnica chegou a um ponto onde a base sobre a qual se organizava a produção (manufatura) não servia mais. Veio a Revolução Industrial, junto com diversas revoluções burguesas, onde a burguesia não só dominava economicamente como passou a ter o poder do Estado, poder político. A Revolução industrial proporcionou uma mudança qualitativa na base de

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produção: os operários deixavam de ser órgão, para se tornarem apenas apêndices vivos; deixaram de controlar os instrumentos de trabalho, para serem agora, controlados por eles, as máquinas. A depreciação da força de trabalho e a intensificação gerada pelo grande maquinário geraram um aumento da produtividade nunca visto, gerando a dominação do capital sobre o trabalho e alienando o trabalhador do produto final. A construção civil não passou por essa transformação. Ainda hoje, a sua produção segue sendo essencialmente manufatureira. Isso ocorre porque a construção civil absorve grande parte do excedente de força de trabalho (mão-de-obra desqualificada e barata). Ainda mais em um país como o Brasil, onde esse excedente é imenso (desemprego) e a desqualificação é uma constante à grande massa da população. Ou seja, torna-se mais vantajoso (ou lucrativo, à sua escolha) para o empregador (burguês) contratar vários “peões” para construir um prédio do que investir em mecanização e produção de pré-moldados. Desta forma, para que se aumente a produtividade, tendo em vista que não ocorreu o advento da proliferação das máquinas, surgiu o desenho arquitetônico, como necessidade de manutenção da taxa de exploração de mais-valia (trabalho excedente) no canteiro e como elemento aglutinador de um trabalho idiotizado, necessário para impedir a auto-organização dos trabalhadores. O desenho, portanto, é desenho para a produção. Separa o trabalho intelectual criador, do arquiteto, do trabalho braçal alienado, do operário. Cria-se, então, uma relação dependente e despótica do desenho sobre a materialização (reflexo da dominação do capital sobre o trabalho), onde arquiteto, engenheiro, mestre de obras, pedreiro e servente são como meras peças em um mesmo jogo de xadrez: seguem uma hierarquia, mas servem ao mesmo comandante. Neste caso, o capital. “Hoje os operários não se reúnem por vontade própria, mas é o capital que os põe juntos, após comprar sua força de trabalho. A finalidade do capital é a exploração desse trabalhador coletivo, a apropriação da mais-valia. Os trabalhadores então não são livres, devem obedecer a vontade de quem os comanda, são mão de uma cabeça alheia. Ora, é possível pensar um trabalhador coletivo livre. A cooperação autônoma, autogerida, livre, permitindo que mão e cabeça se unifiquem, que o pensamento e as habilidades coletivas dêem forma ao material comum, sem intervenção de nenhum poder dominador, abre o campo para a arte no seu sentido mais puro: expressão da alegria no trabalho livre. E, sendo o trabalhador coletivo livre a união de muitas vontades, sua obra escaparia da estreiteza do indivíduo isolado, e manifestaria melhor os valores éticos da comunidade: a arquitetura seria assim a maior das artes.” [Sérgio Ferro, 2006] José Rodolfo Pacheco Thiesen Fausto Moura Breda


REUNI.reNUI.REInu.reuni. REUNI: Qual será o destino da nossa Universidade?? A universidade brasileira está em coma. A insatisfação da comunidade universitária frente aos atuais problemas é tanta que esse ano vimos greves de servidores técnico-administrativos a nível nacional, além de diversas ocupações de reitorias exigindo garantia dos direitos estudantis. A situação se agravou esse semestre aqui na UFSC e, mais especificamente, no nosso curso de Arquitetura não foi diferente. Iniciamos o semestre com falta de professores para 6 disciplinas e 17 turmas lotadas ou superlotadas. Então nos perguntamos: por que tanto descaso com a educação pública? Pois é, a universidade não é uma instituição que vai se moldando conforme as coisas funcionam ou deixam de funcionar. Logo percebemos que por traz dessas leis aprovadas de maneira autoritária, por decretos e medidas provisórias (ver texto “Universidade Brasileira: quem dá mais?”, Sem Revestimento nº2), existe um projeto de universidade que vem se afastar dos anseios populares em prol de uma mercantilização da educação, sem formação crítica, apenas reprodutora de conhecimentos. A última novidade desses pacotes, que o governo resolveu chamar de “Reforma Universitária”, é o REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, aprovado pelo Decreto nº 6.096, no dia 24 de Abril. Esse programa, que deve ser aprovado em cada instituição pelo Conselho Universitário, tem como diretrizes gerais elevar a taxa média de conclusão dos cursos dos atuais 60% para 90%, além de aumentar a relação professor/aluno de 1/10 para 1/18, em apenas cinco anos. Em troca, conforme decreto, oferece um acréscimo de recursos “limitado em 20% das despesas de custeio e pessoal da universidade”. O projeto por si só já fere a Autonomia Universitária, ao estabelecer os rumos que devem ser tomados pelas instituições. Assim, a Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC) já, de pronto, dá as “recomendações” de como se pode alcançar as metas em tão pouco tempo e com tão poucos recursos: 1) “Práticas Pedagógicas (...) com predominância de aulas expositivas e uso incipiente de recursos tecnológicos e outras formas inovadoras de ensino”; 2) “flexibilidade curricular”; 3) estabelecer “mecanismos de inclusão social”. O primeiro ponto, claramente coloca a substituição do ensino presencial pelo ensino à distância, colocando um abismo entre o ensino teórico e o prático, relação fundamental para a formação de um bom profissional. O segundo ponto estabelece o “bacharelado interdisciplinar”, substituindo as atuais graduações por aulas “não

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Decreto presidencial põe a Universidade Brasileira em cheque.

voltadas à profissionalização precoce e especializada”. Esse sistema, que muitos vêm chamando de “escolão”, ou “colegião”, não garante nenhuma formação, colocando no mercado pessoas literalmente formadas em nada. E por último, muito se fala em condições de permanência dos estudantes, no entanto, em nenhum momento o documento coloca quais serão os possíveis métodos de garantia dos direitos estudantis que, aliás, já sabemos que são muito falhos. Com a necessidade de aprovação de 90% dos estudantes, a aprovação seria automática, ou seja, sem análise crítica das particularidades. Mesmo os países mais avançados na educação possuem taxas de conclusão que não passam de 75%, como é o caso da Suécia e da Finlândia. Com o REUNI, os estudantes para chegarem a profissionalização teriam que, além de passar pelo funil do vestibular, se sujeitar a uma competição durante o tal bacharelado, por um “bom rendimento”, reafirmando e prolongando o método meritocrático dos atuais sistemas de seleção. Por fim, é um golpe certeiro sobre o tripé ensino-pesquisaextensão, ao precarizar a atividade docente e limitar a contratação de novos profissionais. Pretende-se uma expansão irreal para as atuais condições do país, trabalhando na lógica do capital, com a gestão pura e simples de resultados, sem qualquer garantia de qualidade! Não nos iludiremos! Embora utilizem uma bandeira histórica do movimento estudantil (o aumento de vagas), nossa compreensão vai além à forma do projeto, expressada em simples metas, mas do conteúdo que ele representa que é preparar o estudante para enfrentar as flutuações cada vez maiores das crises de nosso sistema de produção, apto a enfrentar a incerteza, o desemprego e a falta de direitos trabalhistas. Devemos lutar contra o REUNI, por uma educação sólida, que veja o profissional em sua plenitude, atuando a partir experiências concretas e conhecendo a verdadeira realidade do nosso povo, estando apto a atuar na solução de suas necessidades contribuindo para um projeto de universidade e de sociedade construído pelo povo e para o povo. Ps: Ps: Ps: Aqui na UFSC, o REUNI estará em votação no Conselho Universitário no dia 23 de Outubro. Fausto Moura Breda :

O REUNI estará em votação no Conselho Universitário no dia 23 de Outubro.

Nota: REUNI, Universidade Nova e o “professor equivalente”. ANDES-SN. A Universidade Nova, O REUNI e a Queda da Universidade Pública. Prof. Claudio Antonio Tonegutti – Departamento de Química da UFPR; Profa. Milena Martinez – Departamento de Ciências Sociais da UFPR (aposentada). REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades, Diretrizes Gerais. SESu/MEC.


PROJETO.POLÍTICO.PED

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Fórum do PPP, o que foi e como fica daqui pra frente.

O Fórum do Projeto Politico Pedagógico teve ótimas discussões e idéias que parecem caminhar para uma mudança pra melhor no nosso curso. As perguntas que ficam são: como isso tudo vai chegar a ser realizado?* Como realizar o que foi levantado se mais da metade dos professores e muito mais da metade dos estudantes não participaram, e agora estão seguindo suas rotinas como se nada tivesse acontecido? Eles, não todos é claro, estão continuando com seu métodos pedagógicos que ninguém entende de onde tiram, nem por que continuam já que não funciona (precisa de exemplos? acho que não né.). E os estudantes, esses que tanto batalharam pra entrar numa universidade pública, que são os poucos porcento da população que chegam à universidade, e pública ainda, etc, etc, parece que estão muito satisfeitos com o nosso curso (ele tirou até o prêmio de faculdade cinco estrelas do guia do estudante, deve ser bom...) e preferem deixar tudo queto, ir passando sem se incomodar muito, afinal são só cinco anos de correria pra chegar no mercado de trabalho. E é preciso chegar logo neh! "Pra que ficar arrumando discussão? Não adianta mesmo. Não vai mudar, etc etc". Essas posturas conformistas são os principais responsáveis por não mudar, melhorar, aperfeiçoar! Depois vem os que críticam, mas na hora de fazer tiram o corpo fora. Esses pelo menos parecem estar preocupados, mas também não ajuda muito. Mas e daí? O que fazer diante disso tudo? (...) Se mexer! Pensar! Refletir! Agir! Questinonar! Conversar! Foi incrível ver como vários problemas do curso pareceram não ser nada muito além de falta de diálogo e compreensão entre as pessoas! Agora, quem tá afim precisa se ajudar e trabalhar junto. Deixar de picuinha e construir um curso que respeite a diversidade, que seja coerente com a realidade sócio-econômica do país, que promova o respeito à Natureza, incluindo as pessoas, que faça valer o título de curso público, gratuito e de qualidade! É possível! E isso não vai mudar só pra quem entrar em 2008. Todos nós que já estamos dentro seremos influenciados pelas mudanças. Mas ainda tem outra questão: e o REUNI? Você sabe o que é? Como ele entra nessa história toda? Pois é, tem essa também e se deixarmos ele de lado... *Nota: A discussão a partir dos encaminhamentos tirados no último dia do Fórum está em processo através do Ambiente Virual de Aprendizagem em Arquitetura e Design (AVA-AD), para que todos possam contribuir, na hora que quiserem. Para se cadastrar no ambiente, caso não esteja ainda, é só preencher uma ficha que está no balcão da secretária do Curso, com a Jaque. O site do AVA-AD é www.ava.ufsc.br/ava/ad. Utilize este espaço, se expresse para melhorar o curso.

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Diego Fagundes da Silva

EsPAÇO.RESIDUAL.espa

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Fernando Carneiro Pires


é.o.fim.É.O.FIM.É.o.FiM.É.O.fiM.É...

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No caminhar coração encontrar Razão, negar ração Pairar sobre o duro solo compreender mais que eu mesmo e mais que o universo inteiro. Até mesmo cotidiano louco viagem deslumbrante cachorro a uivar na madrugada flor; aulas de história da parte. Parte já ida, tempos bebidos de homens embriagados por sua sede, que parece não ter fim, de caminhar de ração sem coração.

Hugo Koji Miura

EDIFÍCIO EM desCONSTRUÇÃO DIEGO FAGUNDES DA SILVA

SÉRÍE FOTOGRÁFICA EM DESENVOLVIMENTO. DEZEMBRO2006/SETEMBRO2007


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