2 minute read

CAMISOLAS POVEIRAS A ARTE QUE MANTÉM VIVO O LEGADO CULTURAL DA PÓVOA DE VARZIM

Impossível de descrever o profundo e intenso cheiro a mar que nos recebe ao chegar à Póvoa de Varzim e que caracteriza as suas gentes e cultura, é-nos difícil ficar indiferente.

A presença e proximidade do mar na vida dos Poveiros, nome dos e das habitantes desta terra, sempre foi uma realidade. Era através da pesca e das embarcações diárias no alto mar, no meio de tantas incertezas, onde a vida era colocada, tantas vezes, em risco, que o sustento se mantinha.

Advertisement

Criadas há mais de 150 anos, as camisolas poveiras, na altura apenas feitas por mulheres – mães, esposas, filhas, primas –, serviam para proteger os pescadores do frio e não só... os cordões das camisolas, cosidos junto ao pescoço – e também eles feitos de lã –, quando atados, tinham uma tarefa muito importante. Não permitiam que as camisolas saíssem pela cabeça, na eventualidade de afogamento, e, assim, os símbolos bordados nas camisolas permitiam reconhecer cada pescador. Símbolos estes que continuam a representar nomes de famílias.

Fomos recebidos e recebidas pelo Atelier Poveiro, no centro histórico da Póvoa de Varzim. Ao chegarmos, deparamo-nos com seis mulheres – Maria da Luz, Maria do Céu, Luísa Bento, Clara Silva, Ana Beatriz, Maria Apolinária, – e um homem – Sérgio Antunes.

Maria da Luz, proprietária e formadora, já tricotava as camisolas poveiras desde os 12 anos, aprendeu esta arte com a mãe e as vizinhas sentadas à porta. “Lembro-me de que na altura, na minha rua, em Vila do Conde, todas as pessoas sabiam tricotar”, conta. Contudo, quando o seu negócio das peles começou a atravessar um período mais difícil, aplicou a lã poveira à pele e nessa altura os e as clientes começaram a pedir somente artigos de lã poveira. E tudo começou em 2009.

Para si, a polémica em torno da estilista norte-americana “deu um impulso muito grande à camisola, colocou-a na boca do mundo. A Tory Burch só veio acrescentar à nossa cultura e às nossas camisolas poveiras. A camisola não era tão valorizada antes”. A par desta situação, considera que as vendas das camisolas aumentaram muito - por exemplo, muitos turistas compram estas camisolas porque ouviram falar sobre elas graças à polémica.

Quanto às camisolas propriamente ditas, Maria da Luz explica-nos, com todo o entusiamo e detalhe, que a tipologia da camisola tem sempre de ser náutica e as siglas nunca podem ser alteradas, sendo que nascem nas letras vikings. Relativamente às cores, a tradicional é a cru, bordada a preto e vermelho. Antigamente, as lãs eram recolhidas das ovelhas e daí a cor natural. Só mais tarde com as lãs a serem tingidas é que houve uma evolução nas cores. Um barco, cordas, âncoras, peixes, lagostas, caranguejos, remos... os símbolos das camisolas, todos eles, apetrechados de objetos e utensílios náuticos.

Outrora utilizadas para identificar os barcos e a quem pertencia os instrumentos marítimos, as siglas funcionavam como uma espécie de brasão para este povo analfabeto. Toda uma linguagem própria fora criada e, ainda hoje, utilizada para identificar famílias.

This article is from: