4ª Edição RVM

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edição de Outubro/Novembro de 2011

Photo Profile: Alexander Descoster A vida em foco.

Bahia O sertão que você não conhece.

Nova Zelândia Cruzando a terra dos “Hobbits”.

Entrevista: Zander Bike brasileira pelo mundo.

Xpress Uruguai Colônia Del Sacramento.

Novas matérias a cada semana!


Índice Crônica do corte de cabelo (Conexão Shangai).....................................04 Atrações em Lower Manhattan (Conexão NY).............................................12 Bloemencorso - A parada das flores...........22 Kumari - Deusa Menina.............................38 Photo Profile - Alexander Descoster A vida em foco............................................44 Bahia - O sertão que você não conhece...............................................62 Conexão Argentina - Passeando por Mendoza..........................................104 Conexão Espanha - Tickets Bar.................112 Dicas para dar a volta ao mundo............116 Nova Zelândia - Cruzando a terra dos “Hobbits”...........................................118 Dica de equipamento..............................140 Música - Luiz Gonzaga..............................148 Corpo são - Viagem sã................................152 Zander - Pelo mundo de bike...................156 Xpress Uruguai - Colônia Del Sacramento...............................................178 Filme - Deus e o Diabo na Terra do Sol..... 214


Palavras soltas pelo vento.

N

ão posso falar por todos, mas hoje, sem nenhuma dúvida, creio piamente em algo que um dia ouvi numa praia fluvial erma, localizada no vasto sertão nordestino, durante uma expedição: “Se você não absorve a vida com tesão, a vida te absorve com dor. A dor de quem tem medo de prosseguir.” – E portanto, tem pouca disposição para o novo, principalmente se combinado, na mesma oração, com a palavra “desconhecido”. Sentando ao redor da fogueira, no meio da escuridão, no frio cortante da noite sertaneja após todos irem dormir, enquanto compartilhava meus pensamentos com o pequeno cão que nos guardava durante o sono acabei ouvindo as palavras acima, que soltas pelo vento acharam lar em meus ouvidos. Estas palavras, que jamais esquecerei diziam que algumas coisas simplesmente são destinadas a ser. Assim mesmo, sem ter nem para quê. Sem perguntas, sem explicações. Apenas são e ainda assim, não guardam dúvida alguma. “Apenas ser.” Nesta edição, as coisas estão um pouco mudadas. A começar por este editorial, já que não sou o mesmo da semana passada e nem igual quem era na noite que se passou. Abracei a bastante tempo a necessidade de mudança constante, assim como um vírus agressivo que não dá descanso. Não se trata necessariamente de uma mudança física ou geográfica, está mais para uma mudança de conceitos. Um tipo de upgrade constante na vida, dia após dia. Mas que jamais cessa ou arrefece. Esta VAM número quatro que chega às telinhas de vocês hoje, traz uma matéria sobre o sertão brasileiro, visto sob um prisma completamente diferente do qual a grande maioria está acostumada. Ao invés de uma desolação triste, seca e sem vida será mostrada uma riqueza cheia de vida e água (sim, muita água!), uma visita à Colonia Del Sacramento, no Uruguai, um passeio pelas comidas e um corte de cabelo muito sui generis na China, dará continuação na história da Rosana Sun em sua Volta ao Mundo, um pouquinho da Holanda, música, filmes, livros, dicas de viagem, colunistas e muitas outras novidades. Encare esta edição como o prefácio de um caminho muito longo, difícil, excitante, divertido e aventureiro, como a própria vida. Pergunte menos, viva mais, viaje mais, pois a sua Volta ao Mundo começa aqui.

Um Abraço. Rodrigo F. de Oliveira Editor


Conexão:

CHINA

A crônica do corte de cabelo C

oisa mais simples do mundo: cortar o cabelo. Quando eu era criança, cortar o cabelo era um drama (pai, você se lembra?). Odiava ir ao barbeiro, ter de ficar parado, lavar, secar, passavam a gilete no pescoço da gente. Saco! Tinha duas opções, todas na mesma rua: Felipe Schmidt, quase na frente do Banco do Brasil e outra mais adiante, na frente do consultório do Dr. Peters. Cheguei a São Paulo e confesso que meu desgosto por cortar o cabelo não mudou. Ficar muito tempo parado, com um cara geralmente muito chato querendo puxar assuntos sobre futebol (não é a minha praia) e oferecendo cafezinho (urgh!), ou simplesmente ficando calado por um tempão - chato!



Conexão:

CHINA

Depois de mudar para a Jamaris, descobri um lado bom em cortar cabelo: o Soho oferece água, tem uma massagem deliciosa para relaxar e o Sílvio, que corta o meu cabelo, adora cinema e viajar – conversa boa, na certa. Sei que pago um pouco a mais, mas vale à pena. E nem precisa falar como eu quero, ele já corta meu cabelo há sete anos e não mudou tanto assim! Pois bem, resolvi mudar para a China e um mês depois tive que cortar o cabelo. Mas e aí, o que fazer? Como um bom laowai, primeiro fui dar uma olhada no salão que tem aqui no Shopping Times Square, localizado entre a loja da Chanel e da Prada, em sua portinha, pois eles são bem seletivos, existe uma tabela, escrita em chinês e inglês, informando os preços. Comecei a ler e logo na segunda linha descobri que teria que dar mais uma “andadinha”. O preço na primeira linha era 700 RMB (uns R$ 180), na segunda linha era uns 600 RMB (em torno de R$ 150), e acho que valia a pena pesquisar um pouco mais. No domingo anterior, andando perto do hotel, vi um gerente de um salão de cabelo fazendo sua “prédica” matutina com todos os empregados, na calçada na frente da loja. Devia estar falando para “fulano,


você precisa lavar melhor os cabelos, limpar seus instrumentos e precisa faturar muito hoje, etc.” e assim vai. Lembrei-me disso quando vi a tabela de preços do Times Square e parti para o plano B. Cheguei na frente do salão e tinha um chinês na porta, ele me olhou nos olhos e retribuí, com um dedo apontado para o meu cabelo e depois fazendo aquele encontro do indicador com o dedo médio, imitando uma tesourinha. Ele falou 是中 e eu entrei! Uns três caras me encaminharam para a cadeira, meio simples, mas tinha a famosa alavanca para tornar o cliente mais alto – embora eu esteja na China, acho que nem aqui sou o mais alto de todos – e ele teve que levantar um pouquinho. Ele perguntou: 要洗你的头发? e eu disse que “sim, quero lavar o cabelo”. Aí ele gritou com outro cara, que deduzi ser seu ajudante, que vem correndo com um tubo plástico com um grande bico, contendo um líquido. Só pra lembrar, eu estava na cadeira para cortar o cabelo, não para lavar. Tirei os óculos, falha fatal, pois daí por diante não enxerguei mais nada. O que é que eles estavam fazendo? Sei lá. Só sei que todos os outros no salão estavam rindo


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CHINA

de mim. Para você, amigo, que for cortar o cabelo em qualquer salão fora do Brasil, use lentes de contato! Assim mesmo, ele começou a despejar aquele líquido na minha cabeça e a fazer uma massagem circular, do centro para as bordas e eu pensei: “Deve ser algum tipo de óleo de massagem, preparando para o corte.” Estava até curtindo a massagem. Ao olhar para o espelho, no meio da nuvem distorcida que um míope sempre vê quando sem os óculos, começou a surgir uma coisa branca, tipo “clara de ovos” na minha cabeça. - “Ô owww!” - O cara estava na verdade lavando o meu cabelo aqui, no meio do salão. Era a versão do “banho de canequinha”, só que realizado no cabelo. E ele esfregava a minha cabeça com força para todos os lados e ficou fazendo uma massagem e lavando ao mesmo tempo, por uns 10 minutos. Confesso que começou a doer, depois de um tempo. O cara raspava a minha cabeça com as unhas. Se eu tivesse problema de caspa teria saído tudo, tudo mesmo e, por incrível que pareça no final, ainda havia alguns fios de cabelo para cortar. No final da super massagem e lavagem (ah, lavagem é como se diz em São Paulo, em SC é lavação, afinal, lavagem é comida de porco, né?) finalmente ele me pediu para “起床去冲洗 的水槽” e depois disse para levantar, tipo linguagem universal de mímica e apontou


para o fundo do salão. Levantei e o segui. Chegando lá, achei a nossa tradicional e conhecida pia para lavar cabelo – Sim, eles têm! Fui enxaguar a torta de espuma que estava na minha cabeça. Todos no salão olhavam para mim! Sim, coloquei os óculos para alcançar a pia e enxagüei. Finalmente o corte começou. Coloquei aquele avental de plástico para que o cabelo cortado fosse direto para o chão e relaxei. Lembrei-me de como era chato cortar o cabelo quando eu era criança, lá no Lord Cabeleireiros, e que agora nem futebol, nem café e nem conversa nenhuma. Então ele me perguntou: 如何你要我 把你的头发? e eu mostrei, com as mãos: shorter (mais curto), same shape (mesmo formato), e ele entendeu tudinho. Ou será que não? Sei lá. Mas dois segundos depois já começou o tic tic tic de um lado. A primeira mecha de cabelo que caiu ele pegou na mão e me mostrou e perguntou: 这是长度 是多久呢 e eu disse: ok, fine! Go ahead! E seja o que Deus quiser. Se eu fosse católico saberia o santo protetor dos cabelos, mas, sem saber mais referências, me lembrei do São Judas – aquele das causas impossíveis – e pedi uma ajudinha! Ele passou uns 30 minutos cortando


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CHINA

(o Sílvio, do Soho, não leva mais que 15 minutos no total) e me pediu novamente para levantar e ir lavar o cabelo. A princípio, ao colocar os óculos, ainda tinha cabelo – ufa, deve estar no finzinho. O cara que lavou, agora, não gostava de laowais, provavelmente! Lavou o meu cabelo como ele deve lavar suas camisetas num tanque – quanto mais quente a água melhor e quanto mais esfrega na tábua, mais rápido sai a sujeira – levei umas “pancadinhas”, água pelando de quente, mas foi rápido e sobrevivi! Ufa – tá no final! Sentei, agora em outra cadeira, ele novamente pôs o avental e começou a secar o cabelo e a passar a escova – achei que iria ficar como o Elvis Presley – fazendo escova depois de velho. Quando finalmente ficou seco perguntei: tá pronto? Ele acenou que sim, pegou a tesoura, e começou a cortar novamente – foi o mesmo procedimento e parece que começou do zero – foram mais uns 20 minutos cortando, aparando tudo, inclusive o pescoço com aquela gilete igual a de São Bento – para matar saudades. Pelo menos, ele não esfregou aquele álcool no pescoço, que arde pra caramba! Finalmente chegou ao fim – juro, levou


mais de uma hora - e, olhando para o espelho, ficou bom! Mais curto do que geralmente corto, mas bom! Veio a conta – como se fosse de um restaurante, numa bandeja de plástico e escrita em Chinês! Naturalmente usei a expressão que uso muito aqui – ergui os ombros para cima e fiz expressão que não entendi nada! Mas, chinês sabe fazer negócio, pegou a calculadora da gaveta (eles sempre têm uma) e digitou o valor! Me deu calafrios antes de olhar – me lembrei dos 700 RMB do outro lugar e veio o valor – 38 RMB, ou seja, uns R$ 9,50 – o quê, tá certo? Perguntei: is that the right amount? Is that it? E eles ficaram meio assustados – acho que eu pensei que estava sendo caro – e talvez até tivesse. Não tive dúvidas, peguei 40 RMB e paguei o corte e peguei mais 10 RMB e dei para o barbeiro – ele ficou super agradecido – falou o xié xié ni umas quatro vezes e abriu a porta para eu sair. Fui embora feliz, bom negócio e fui desfilar por Xitiandi com o meu corte de cabelo novo. Sábado à noite em Xangai!

O traveller autor Carlos Meinert mora em Shanghai e está numa jornada profissional de três anos pela China. Como ele mesmo diz, é difícil explicar todas as atrações da China em um só texto. Por essa razão, Carlos vai estar com a gente em vários momentos dessa jornada em volta ao mundo, explicando um pouco mais do que acontece lá do outro lado do planeta.


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EUA

Atrações em Lower Manhattan – New York L

ower Manhattan tem suas atrações, entre tantas opções para os visitantes e moradores de New York. A principal é, obviamente, a Estátua da Liberdade, cujo único acesso é através das balsas que levam os visitantes até Liberty Island e Ellis Island, principal porto de entrada para mais de vinte milhoes de imigrantes que entraram nos EUA entre 1892 e 1924. Mas, há muitas outras atrações nessa área de Manhattan e, portanto, descreverei apenas algumas. Há duas áreas de partida e chegada para as balsas que vão à Estátua da Liberdade e Ellis Island: em Manhattan, no Battery Park¹, e em New Jersey, na Liberty State Park. Os tickets podem ser comprados no local. As filas são geralmente longas na alta temporada e há medidas de segurança semelhantes às dos aeroportos, mas a vista de Manhattan e a experiência de se visitar a famosa estátua compensam a espera.

Subindo a Estátua Todos os visitantes podem chegar até a base da estátua, mas o único acesso à coroa é através de uma escada circular bastante estreita. Este acesso será suspenso no final de outubro, para reformas, com a reabertura prevista para o final de 2012. Eu subi à coroa uma vez, e posso confirmar que há um consenso: a demora para se chegar à coroa é grande, e a maior parte das pessoas fica desapontada ao chegar, já que o espaço é pequeno


Foto : http://br.taringa.net


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EUA

e a vista não parece ser muito melhor que a da base da estátua. Outra maneira para ter uma vista, tanto da estátua como de Manhattan, é se tomar a balsa para Staten Island (do lado da estação South Ferry da linha 1), sendo o ticket gratuito.

Touro de Wall Street Wall Street, o touro de bronze (que fica na Broadway, no Bowling Green Park, perto de Wall Street), o New York Stock Exchange (bolsa de New York), o Federal Hall e Ground Zero (local onde o World Trade Center estava localizado) são outras grandes atrações da área. A região mudou muito desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Muitos prédios residenciais foram construídos (ou convertidos a partir de antigos escritórios). Muitas empresas também deixaram a área, e com a destruição das torres gêmeas, dezenas de milhares de empregos foram perdidos por causa da mudança de várias empresas para outras áreas de NYC, New Jersey ou Connecticut.


Desde o final de setembro deste ano, a área em volta de Wall Street tem seu acesso bem mais restrito, com barreiras que limitam o número de pessoas trafegando no local ou, em alguns casos, restringindo o acesso apenas para quem trabalha ou mora na redondeza. Essas barreiras se devem aos manifestantes do Ocuppy Wall Street (Ocupem Wall Street), um movimento que se iniciou através das redes sociais e se expandiu para outras partes do mundo, com manifestações em outros grandes centros, como Los Angeles, Boston, Chicago, Miami, Madrid, Londres, etc. A base dos manifestantes é o Zuccotti Park, próximo do Ground Zero. A manifestação se inspirou na “Primavera Árabe” que resultou na queda do regime na Tunísia, Egito e Líbia e protestos no Yemen, Bahrain, Síria e outros países no Oriente Médio. A princípio, o protesto era contra a ganância dos banqueiros e corporações, mas agora há diversos grupos envolvidos e protestando contra diversos problemas. Escreverei mais sobre o assunto, refletindo a evolução da situação. O touro foi criado pelo escultor Arturo Di


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EUA Modica, que o instalou em frente ao prédio da Bolsa de Valores em 1987, depois da queda acentuada da bolsa de Nova Iorque daquele ano, como um símbolo da força e poder do povo americano, sendo movido posteriormente para o local atual. “Bull Market” é um termo utilizado para descrever um mercado de valores em ascensão, em contrapartida a um “Bear Market”, que representa um mercado em queda, justificando a utilização do touro na estátua de Di Modica. O prédio da Bolsa de Valores é conhecido pela enorme bandeira que foi colocada em sua fachada após os ataques de 11 de setembro de 2001. A bandeira não está lá todos os dias, sendo removida no final do dia e finais de semana. Além disso, em várias ocasiões, faixas representando o lançamento de ações ou eventos importantes de empresas listadas na bolsa são colocadas lá (veja as fotos com alguns exemplos). As visitas ao prédio da bolsa estão bastante restritas, desde os ataques de 2001.

Broadway Quem anda na Broadway, na área em volta de Wall Street, nota que há no chão, em letras douradas, várias


“faixas” indicando nomes, datas e eventos, mas sem uma clara explicação do que esses dados representam. Elas celebram paradas comemorativas (conhecidas com ticker-tape parades), celebrando visitantes ilustres e conquistas no esporte, ciência, conflitos militares, etc. Encontrei os nomes de alguns ilustres visitantes brasileiros: o presidente-eleito Julio Prestes, o presidente João Goulart (já desconfiei que desse azar para brasileiros ter seu nome nessa rua) e Eurico Gaspar Dutra (ufa!). Também descobri quem deu nome a uma via famosa


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EUA

em São Paulo: Giovanni Gronchi foi presidente da Itália. A lista completa dessas paradas pode ser encontrada no “The Canyon of Heroes”, neste website: http://www.downtownny.com/sites/ default/files/coh.pdf O monumento aos ataques de de 2001 foi inaugurado em 11 de setembro deste ano. Está aberto ao público, porém com acesso restrito – passes estão disponíveis no 9/11 Memorial Preview Site, localizado na 20 Vesey Street. É um belo monumento, com fontes de água marcando o local onde cada prédio estava localizado e os nomes de todas as vítimas oficialmente reconhecidas.

South Street Seaport O South Street Seaport é outra atração local conhecida. Com várias lojas e restaurantes, possui uma vista espetacular da Brooklyn Bridge. É ali também que está localizado o South Street Seaport Museum, incluindo o navio de quatro mastros Peking, construído na Alemanha em 1911, e outras atrações. Ali perto está localizada a TKTS downtown, oferecendo tickets com desconto para peças e shows da Broadway e para performances, no mesmo dia (funciona nos moldes do TKTS da Times Square). Para se fazer compras, o Century 21, que oferece grandes descontos para roupas de marca, está em frente ao Ground Zero. Para aqueles que procuram um presente mais sofisticado, uma paradinha na Tiffany’s, na 37 Wall Street é uma opção. Para eletrônicos, a J&R também é uma ótima escolha. Há varias igrejas famosas na área. A Trinity Church, na Broadway, em frente à Wall Street é uma delas. A King’s College, que deu origem à Columbia University - fundada em um prédio na área em volta da igreja. Há vários concertos oferecidos nessa


foto: http://commons.wikimedia.org/wiki/ File:South_street_seaport_August_2009.jpg


Conex達o:

EUA

foto: http://michaelminn.net/newyork/ museums/museum_of_the_american_indian/


igreja, confira as placas colocadas em frente a ela e aproveite a excelente acústica. Outras igrejas famosas: Saint Paul’s Church, episcopal, construída em 1766, é a igreja mais antiga de New York ainda de pé; St. Mark’s é outra famosa igreja episcopal; Saint James é a segunda igreja católica mais antiga da cidade; John Street Church fica no local onde existiu a mais antiga igreja Metodista da cidade; St. Peter’s Church representa a mais antiga congregação católica da cidade. Há diversos outros museus nessa área de Manhattan que podem ser visitados se você tiver tempo suficiente durante sua estadia: Museum of Jewish Heritage, The Skyscraper Museum, National Museum of the American Indian, Museum of American Financial History, Fraunces Tavern Museum, The New York City Police Museum. Enfim, se você tem pouco tempo, deve passar pelo menos um dia visitando essa área de New York. Se tiver mais tempo, você pode passar vários dias explorando. Diversas placas foram instaladas nos últimos anos, orientando os visitantes sobre a história dos prédios e ruas. Mais informações podem ser encontradas neste website: http://www.lowermanhattan.info/ about/play/

1. (as estações de metrô mais próximas são a South Ferry, ponto final da linha 1, e Bowling Green, nas linhas 4 e 5 e finalmente Whitehall, nas linhas R e W)

O traveller autor Sun Chen Leng formou-se em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e fez MBA em Finanças pela New York University. É vice-presidente da BNY Mellon em Nova Iorque, após passagens pelo Banco Francês e Brasileiro, Otis Elevator, Metlife, Citigroup e Alliance Bernstein. Reside com sua família em Long Island há mais de 12 anos.


Bloemencorso – A parada das Flores Por Roger Felix

“Antes mesmo do desfile começar, acabei descobrindo o quão popular é o evento. Parece que toda região de Brabant e norte da Bélgica resolveu visitar o desfile.”

L

ogo que cheguei em Breda, no verão de 2009, uma amiga me avisou que haveria uma parada, um desfile de flores (em holandês, “Bloemencorso 1”) num vilarejo chamado Zundert. Tenho que confessar que não me animei muito inicialmente. Um desfile de flores me pareceu algo monótono e pouco interessante além do fato de, naquele ano, algum compromisso ter me impedido de visitar o evento. No a n o s e g u i n t e , u m n o v o c o n v i t e e u m a n o v a desculpa. Desta vez eu estaria viajando e não chegaria a tempo de assistir o desfile. O Bloemencorso não me parecia páreo para Keukenhof², o parque das flores localizado próximo a Amsterdã. Fiquei intrigado, por que pessoas jovens estariam tão interessadas em visitar uma parada de flores? E finalmente, em setembro passado, tive a oportunidade de estar em Zundert durante o “Bloemencorso”. Para mais informações, visite os sites: 1 www.bloemencorsozundert.nl/ ² www.keukenhof.nl/en/



Chegamos em Zundert pouco depois do meio dia. A cidade fica apenas há 15 minutos de Breda. Enquanto procurávamos nossos assentos numerados próximos da tribuna de honra passamos por milhares de visitantes - que traziam suas próprias cadeiras e se enfileiravam ao longo da avenida principal de Zundert - à espera do início do desfile.

“Se poderíamos trazer nossas cadeiras, por que reservar assentos?” A tribuna de honra é onde o prefeito de Zundert e a comissão organizadora julgam o carro vencedor do desfile. Os carros alegóricos decorados com flores seguem um a um pela principal avenida de Zundert e param em frente à prefeitura, onde se localiza a tribuna de honra. Depois da breve pausa, continuam pela avenida e depois retornam pelo mesmo local. Na volta, apenas o carro vencedor é convidado a parar diante da tribuna de honra para ser, então, ovacionado pela multidão. A tradição do desfile se iniciou em 1936 e todos os anos, no primeiro domingo de setembro, 20 equipes desfilam pelas ruas de Zundert com seus carros alegóricos decorados unicamente com Dálias. Nos posicionamos nas cadeiras numeradas e aguardamos o desfile começar. Abrindo o evento, surgiu um pequeno carro alegórico em formato de bolo decorado. Sobre o carro, um apresentador dava as boas vindas aos espectadores.





Flores e Júlio Verne. Isso era o que eu tinha em mente, flores. Apenas flores - pensei. Parecia que minha expectativa sobre o evento estava certa e não passaria de uma tarde enfadonha. Alguns minutos depois, uma banda passa pela avenida e ao longe ouço um barulho estranho, algo como uma nave, um zepelin a cruzar os céus de Zundert. Quando a nave se aproximou pude distinguir os sons de seus tripulantes, figuras de um livro de Júlio Verne, tripulando uma nave que parecia flutuar em frente aos meus olhos. Eram estranhas criaturas que moviam hélices através de pedais e cujo capitão, ao centro, comandava o espetáculo dirigindo sua nave de flores ao longo de Zundert.



O carro seguinte me tirou dos sonhos de ficção científica e me levou ao México com sua homenagem ao dia dos mortos, esqueletos ornados com flores desfilavam por Zundart seguidos de um carro singular, onde a morte carregava almas para algum lugar não conhecido por nós. As esculturas em flores, dálias, apenas dálias, nas mais diversas cores, criavam sonhos num teatro a céu aberto cheio de sons pelo qual eu certamente não esperava.



Num outro carro, um astronauta deixava o módulo lunar e flutuava no infinito por alguns instantes até retornar ao encontro de um companheiro. Entre os sons da comunicação dos astronautas pelo rádio, a música de fundo e a fumaça, me esqueci que as figuras a minha frente eram feitas unicamente de dálias, de tão perfeitas que eram. Então ouço, pelo chiado do rádio, a comunicação dos astronatutas com o público: “This is the crew of Apollo 13 wishing everyone back on Earth a pleasant evening.” E seguiam outros carros. Um pastor a conduzir seu rebanho de ovelhas, acompanhado por seu cachorro. Um cavalo a puxar o arado conduzido por um fazendeiro, pelos campos holandeses. É difícil descrever o que se passa em Zundart durante o Bloemencorso. Eu não acreditaria se me contassem que uma parada de flores pudesse ser algo tão especial.






O grande vencedor O carro convidado a parar diante da prefeitura no fim do desfile, e grande vencedor da disputa, foi “O Astronauta”. Prêmio mais que merecido, definitivamente. Depois da parada, aqueles que trabalharam duro para construir os carros alegóricos, merecidamente tem o seu momento e se põem a celebrar. Um “carnaval” é organizado na cidade com muita música, dança e cerveja. Mais que um desfile de flores, o Bloemencorso é uma das expressõess mais típicas das terras baixas, atraindo centenas de pessoas em todas as suas edições. Vale a pena, caso esteja por lá durante o verão europeu, visitar a graciosa Zundert e apreciar a festa.


KUMARI – A Deusa Menina Por Cibele Rodrigues

A

cabando de chegar da gelada Leh, Ladak-Índia, me deparo com uns quase quarenta graus na colorida e suave Katmandu -Nepal. Mas, o calor foi de longe o que mais me impressionou, visto que pra qualquer mochileiro, trocar de roupa, ou no meu caso, ja passar pra frente aquelas roupas de frio, é uma tarefa que se faz num instante.Logo chegando, fui de cara buscar o sorriso nepalês mais aconchegante (tarefa não muito difícil num país de pessoas tão doces e cordiais) e achar um lugar baratinho pra ficar. Embora saiba que existam lugares mais complicados de interagir, ainda não entendo porque tantos estrangeiros preferem pedir dicas a outros estrangeiros do que aos locais. Bom, voltando a Katmandu, acho logo de cara, um amigo (que guardo até hoje). Um recém chegado de longos seis anos na Austrália, que trabalha como guia no enturistado bairro Tamel. No nosso primeiro rolé de moto naquela deliciosa e shanti* cidade, me deparo com um fato, talvez o mais curioso de toda a viagem: em Durbar Square, havia um belo prédio chamado Khumari Ghar, onde, acreditem, reside uma deusa hindu viva, a Deusa Kumari! Diziam todos, que essa Divindade atual é bem especial, pois assim como o Nepal, que tem uma divisão bem párea entre hindus e budistas, são os pais da pequena *Shanti : em hindi/nepalês = paz, pacífica


Foto de um cart達o postal da Kumari foto:http://www.sacred-destinations.com/nepal/kathmandu-kumari-ghar


Khumari Ghar – Katmandu-Nepal foto: http://www.panoramio.com/photo/25050927


Deusa: um budista, outro hinduísta, só não sei qual é a religião de quem. Enfim, deixa eu explicar melhor isso. Da mesma forma que vocês devem estar com sede de mais informações, imagina como estava eu, que atolei meu amigo com inúmeras perguntas - complementadas com a ‘santa‘ wikipédia. Kumari é o título concedido no Nepal às moças consideradas aspectos vivos de Durga, uma adorada Deusa Hindu. Literalmente, Kumari significa virgem, em nepalês. O título de Kumari é temporário; quando menstrua pela primeira vez, perde sangue em um acidente ou adquire certas doenças, a Kumari precisa renunciar formalmente ao título mediante cerimônias próprias que abrem caminho para a escolha de sua sucessora. A Kumari é venerada e idolatrada por alguns hinduístas do país e por budistas nepaleses, mas não por budistas tibetanos. Enfim, nao é todo dia e nem em toda viagem que topamos com uma deusa viva! Estrangeiros não tem direito de vê-la, mas sempre há brechas, e eu a ví pela janela, onde ela fez uma rápida aparição. Quanto ao posicionamento religioso e filosófico da existência da Deusa Kumari, ou mesmo de como deve ser sua vida pós-Deusa, deixo a critério da imaginação e indagação de vocês. Vou ficando por aqui deixando meu abraço e um ditado popular que é bem valioso e pertinente a essa experiência: ‘’a magia existe, para quem nela acredita!’’ A traveller autora Cibele Rodrigues, 28 anos, nasceu em Porto-Velho, Rondônia, e depois de morar muitos anos em Cuiabá e João Pessoa, sua grande paixão; foi passar um tempo além mares entre Europa, Africa e Ásia. Atualmente trabalha com pesquisa de mercado qualitativa e vai deixando sua vida cigana, fincando o pé cada vez mais em São Paulo. Amante de cultura popular do Brasil e do mundo.




Alexander Decoster

Photo Profile

A Vida em Foco


E

xiste um ditado no Brasil que diz que um homem deve fazer três coisas na vida: ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Eu tenho uma fantástica esposa e uma filha maravilhosa. Eu não me lembro de quantas árvores já plantei. Escrever? Bom, aí é que está o problema: odeio escrever. Portanto, sobre o livro, eu não sei. Acredito que fotografar é uma forma de escrever uma história ou representar uma visão. É outra maneira de capturar o espírito do lugar que você visitou durante sua viagem a um novo país.


Landscape

Autumn landscape


Moon rise

Como Presidente de uma multinacional Belga no Brasil, e agora na Grécia, eu precisava encontrar uma maneira de libertar a mente dos problemas rotineiros. O que funciona de maneira fantástica para mim é pegar uma câmera, algumas lentes e pôr o pé na estrada.

“A fotografia te dá a oportunidade de capturar momentos únicos, aquela fração de segundos que ninguém mais notou.”


Landscape

Mill Santorini HDR


Holy Monastery of St. Nicholas Anapausas


Cityscapes


Under the bridge


People

Indian farmer.


Old woman


People

Farmer


Embora eu sempre gostasse de tirar fotos, minha paixão pela fotografia surgiu em uma viagem de três semanas pela África do Sul, e acabou se tornando o hobby ideal. Desde lá, eu tive algumas aulas para aprender as diferentes técnicas utilizadas por fotógrafos verdadeiros. Você precisa encontrar sua paixão, encontrar o que realmente gosta de fotografar, sendo esta uma viagem por si só.

hard working


Abstracts

Colour abstract


Still live


Abstracts


rocks & ocean


Wildlife

reections in my eyes!

Take a walk on the wild side.


“É muito inspirador observar a natureza selvagem por horas a fio.”

Eu amo fotografar a natureza selvagem e minha família me permite viagens anuais para fotografar os gorilas em Ruanda, os tigres na Índia, etc. As paisagens, a arquitetura, a vida urbana, as pessoas e abstrato são os próximos objetivos como fotógrafo.

killer instinct


Bahia - O sertão que você não conhece Por Rodrigo F. de Oliveira

A

o se falar sobre o sertão nordestino a primeira ideia que vem à mente é a visão de pessoas e animais morrendo de fome num ambiente desolador, de crianças famintas com olhos desprovidos de felicidade. A venda do sertanejo como um povo sem esperanças obliterou durante muito tempo a percepção da sua verdadeira identidade, da real face desta parte do país. O sofrimento e a luta fazem parte da equação, no entanto não correspondem à totalidade da coisa. E vocês saberão, em primeira mão, que há muito mais a ser descoberto do que os noticiários e jornais têm, há décadas, mostrado. Como disse Euclides da Cunha: “O sertanejo, antes de tudo, é um forte.”


“O sertanejo, antes de tudo, é um forte.”


Bem vindo à Caatinga

Dizer que o Brasil “nasceu” no Nordeste não é de forma alguma exagerar na dose. O país realmente nasceu e, durante muitos anos, teve nos caminhos sertanejos suas mais fortes artérias. Pelas trilhas – hoje estradas - que cruzavam este vasto e sui generis território, circulavam as riquezas do Brasil. A caatinga é a vegetação que predomina no sertão. Suas árvores são especializadas em sobreviver com pouca água e a maioria delas possuem defesas formidáveis na forma de longos e afiados espinhos, perfurantes como agulhas. Talvez, para um viajante inexperiente nos caminhos do semi-árido, a vegetação possa parecer seca e desprovida de vida – ledo engano. As plantas, nesta área agreste, perdem as folhas para economizar energia até a tênue época das chuvas, quando então voltam a florescer dando um colorido impensável a este local tão rústico e aparentemente seco.



Uma coisa é o que se mostra...

Não se pode falar do sertão nordestino sem tocar no assunto seca. Contrariamente ao que se costumou a apregoar por aí, o semi-árido nordestino não é, e nem nunca foi, um deserto habitado apenas por uns poucos subnutridos desesperados. Esta condição, apesar de bastante explorada, principalmente durante os anos oitenta, pela imprensa e pelos políticos, não corresponde à realidade. No início dos anos oitenta uma grande falta de chuva afligiu a área do semi-árido. Foi nesta época que as imagens de homens, mulheres, crianças e animais moribundos cruzaram o planeta de norte a sul, causando uma enorme comoção e atraindo os olhares de todos para a região. O fato é: não se pode “curar” a seca, pois não se muda um fenômeno natural, no entanto, pode-se conviver com o problema, caso tratado com seriedade e justiça.


“O Sertão é rico em cultura, história e natureza. Muito diferente da imagem de África brasileira mostrada durante muito tempo”


“Separadas apenas pelo Rio São Francisco, Petrolina e Juazeiro são como duas grandes amigas/rivais, não sendo raro pessoas morarem em uma e trabalharem na outra.”

Juazeiro e Petrolina Saindo de Salvador, a cidade de Juazeiro fica a cerca de 500 km da capital baiana, localizada na divisa do estado baiano com a cidade de Petrolina, em Pernambuco. No caminho é impossível não perceber o quão abruptamente a vegetação vai tomando formas distintas e mudando de cor. Passamos por diversas cidades que cresceram às margens


Ponte entre Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), sobre o rio São Francisco.

das antigas estradas, por onde passavam as riquezas nos tempos antigos e permanecem desta vez, estagnadas, nas trilhas asfaltadas que cortam o estado de um lado a outro. Contudo, mesmo ante esta estagnação aparentemente insolúvel, a cultura transborda, num caldeirão que une festas tradicionais de mais de dois séculos de idade e as lans houses com sua globalização via internet.


Igreja matriz de Juazeiro.


Monumento na entrada da cidade de Bonfim, na estrada para o Sert達o.


Muito contrário do que possa parecer, por estarem tão próximas, sua diferença é gritante. Basta sair de um lado da ponte para o outro para perceber que são dois estados e duas administrações diferentes, por mais que culturalmente estejam ligadas intrinsecamente. Juazeiro é desorganizada e particularmente interessante no seu menor desenvolvimento urbano. Já Petrolina é organizada, muito limpa e desenvolvida, mesmo sofrendo das mesmas mazelas de sua irmã, a pobreza, relegada aos subúrbios, empurrados para os limites urbanos.

Coreto da praça principal de Juazeiro.


Família da dona Joaquina, que vende um delicioso mel de abelha mandassaia na beira da estrada.

Pegando a estrada para nosso destino, às margens do enorme lago criado pela barragem da Hidroelétrica de Sobradinho, saímos da cidade baiana, entramos em Pernambuco e novamente retornamos para dentro dos limites baianos, num caminho intrincado de estradinhas.

Casa Nova Durante horas rodamos em meio à caatinga, passando por vilarejos até encontrarmos a cidade de Nova Casa Nova. É chamada dessa maneira por conta de a cidade original, junto de Pilão Arcado, Sento Sé e Remanso, terem sido encobertas pelas águas da barragem, nos anos setenta. Este fato, por sinal, gerou muita confusão e foi alvo de protestos, acabando sendo cantado pela voz do eterno Reio do Baião, o grande Luiz Gonzaga.


Após um bom pedaço de chão, alcançamos as cercanias da cidade. Mesmo aos já acostumados a estas paragens não é possível deixar de espantar-se com a forma repentina com a qual estas cidades “aparecem”. Entramos na cidade, e após numa ou outra parada para informações e abastecimento, seguimos a estrada indicada para nosso destino real, um balneário, no meio da caatinga nordestina.

Pesca no Rio São Francisco.



Caminho errado Mais uma hora e meia, mais ou menos de chão, entramos numa estrada vicinal, completamente sem sinalização, que prometia segundo nossas informações, nos levar até lá. Mais uma hora e meia de estrada e nada de alcançarmos nosso ponto final. Começava a cair a tarde e não seria nem um pouco interessante ficar à deriva, perdidos entre estradinhas, no meio de lugar nenhum. Para onde quer que olhássemos a imagem era a mesma. Caatinga e mais caatinga, cercas, árvores espinhentas e alguns bodes, o que, ao menos em teoria, indicava que deveria haver seres humanos ou residências próximas. Mais um tempo na estrada empoeirada e cheia de “costelas de vaca” e resolvemos assumir que estávamos completamente perdidos.


Quando já pensávamos em parar em algum lugar, mais protegido para assentar acampamento e passar a noite um vulto é visto ao longe. Alcançamos o sertanejo que pastoreava suas cabras e após uma conversa breve, descobrimos que pegamos a estrada anterior à correta e que, portanto, estávamos completamente fora de rota. Mas, segundo nosso salvador, apertando o “passo” dava tempo de chegar antes do cair da noite, com folga.

Sertanejo com vestimentas típicas para proteção dos espinhos.


As bolotas eram tão duras que não se podia esmagá-las ou quebrá-las. Nem pulando em cima delas. Impressionante!

Caminho para Balneário.

De volta à rota Voltamos para a estrada estadual e sem muita dificuldade, uns 10 minutos depois, estávamos atravessando novamente os campos catingueiros por uma nova – e desta vez correta – estradinha de barro. Desta vez seguimos corretamente as instruções recém adquiridas e a cada sinal de referência percebíamos que estávamos no caminho correto. A estrada estava coberta de umas bolinhas pretas, duras como sementes e do tamanho de bolas de gude, destas que as crianças gostavam de brincar antigamente. Eram tantas que o carro parecia derrapar levemente, nos forçando a reduzir a marcha nas curvas.


Casa nativa no meio da caatinga.

Um dos meus companheiros de jornada, de maneira zombeteira me disse que era excremento de bode ressecado. Mal pude acreditar. Neste mesmo momento avistamos uma belíssima cadeia de morros, paredões e um lago enorme. Havíamos chegado ao nosso destino, ou quase. Pedi para que parassem o carro. Queria descer e ver de perto se era brincadeira ou verdade a explicação sobre as bolotas e precisava registrar uma foto daquela bela vista. Chegando próximo, encontramos uma casa, cercada com estacas feitas de ganhos e com uma grande árvore frondosa que se erguia no centro da construção. Depois de uma conversa, com o dono da casa, que bebia cachaça


Família do “Seu” João.


e jogava dominó com vizinhos, pedi autorização para fotografar sua bela família. Este senhor era o guardião, por assim dizer, dos portões de entrada deste pequeno e nada comum pedaço de paraíso natural. Seu filho, Marciano, nos foi incumbido de atravessar-nos com nossa bagagem pelo pequeno lago que separava a estrada da porteira.

Portão para a entrada do balneário.


Marciano retirando as plantas aquรกticas do motor do barco.


Piranhas Quando o pequeno barco atravessava a lagoinha, o motor parou, as plantas que se proliferam na floresta submersa, enrolaram-se na hélice. Fabrício, meu parceiro nesta viagem se ofereceu para descer e empurrar o barco, uma vez que a profundidade não ia nem ao metro e meio. “Desce aí não moço. Tem piranha. Se o senhor se machuca, da pobrema!” – avisa o atento Marciano.

Atravessando a lagoinha.


Resolvido o problema, seguimos até a margem, onde a Xuxa, uma burrinha nos esperava em sua carroça. Acomodamos a bagagem e fomos até a pequena cabana. Atrás havia uma duna, e um pouco depois deveria estar o real motivo de nossa vinda. Mas como era noite, preferimos esperar o dia seguinte, já que nada se via numa noite sem lua no meio do sertão.

Um mar no meio da caatinga

Jumentinha Xuxa nos dando uma carona.

Nenhuma expressão que conheça pode descrever a visão que tive naquela manhã. Acordei bem cedinho, com o barrir das cabras que se aproximaram, dóceis e famintas. Havíamos sido avisados que, caso isto acontecesse, deveríamos alimentá-las com o pó de milho, guardado nos fundos do casebre. Como era ainda o único já de pé, desempenhei esta função.


Varanda do casebre que nos serviu de hotel.


Catei a câmera e subi correndo a pequena duna que protegia a cabana onde dormimos do vento que assola aquela região quando não é verão. Meus olhos não podiam acreditar na beleza que jazia todo este tempo escondida. Um mar de água doce, de um verde vivo, sob um céu azul quase que sem nuvens e os paredões imensos que guardavam pelo menos 2/3 submersos.


“Mar do Sertão”


Como ainda era muito cedo, e todos estavam estafados da viagem do dia anterior, escolhi sair caminhando pelas margens daquele imenso lago e descobrir sozinho as coisas. Escolhi o caminho da esquerda e fui seguindo, ora subindo as dunas e adentrando um pouco na vegetação, ora apenas margeando. Durante o caminho, fui acompanhado pelo Toffi, o pequenino e simpático vira-latas que nos seguiu desde a casa do pai do Marciano, e desde então, tornou-se meu companheiro de explorações, tornando-as menos solitárias.

O cão Toffi.


Praia paradisĂ­aca formada pelo lago artificial de ĂĄgua doce.





Após uns 45 minutos de exploração, um gavião juntou-se ao nosso pouco comum grupo e seguimos assim, um humano, um canino e uma ave, que se aproveitava do vento contrário para planar e arriscar uma pescaria.



Foto do “Cavalinho do Cão”

Conheci quase da maneira mais desagradável o “cavalinho do cão”, um inseto, que tem uma “cara” – e ferrão - de escorpião. Soube que dói pacas e dá até febre. Mas correu tudo bem, rendendo uma foto do bichinho. De fato, esta leve caminhada, que levou algo em torno de duas horas, rendeu tantas fotos que pode até parecer que durou vários dias.


Juntei-me ao pessoal, que já fazia o desjejum e contei o que tinha visto. Após pormos algo na barriga, enchemos as garrafinhas d’água e rumamos para a “praia”, afim de um banho para aliviar o sol quente que nos torrava a cabeça. E após uma caminhada em grupo, entre um banho e outro, passamos o dia, em completa tranquilidade e paz. Exatamente como passaríamos os próximos que viriam.

Varanda do casebre.





A voz do Vento Após todos irem dormir, ficamos apenas eu e o meu amigo canino, apreciando o frio da noite. A brisa gelada que soprava parecia cantar em versos de cordel histórias de cangaceiros e seus bandos. Lembrei-me das histórias do meu falecido avô, sobre sua juventude na Casa Nova original, antes da inundação e de seu encontro com os homens que desafiavam a lei e a ordem em épocas préditadura. A vida parecia tão simples naqueles momentos. Parecia algo insano, ao recordar das aspirações e lamentos do Marciano, que cavalgou bons quilômetros para saber se “estávamos bem”. Juro, que no momento em que as palavras saiam de sua boca, questionei o quanto de civilidade a dita


civilização moderna nos trouxe, e o quanto de pureza foi perdido. Já me disseram que cada local guarda vestígios do seu passado e que a terra guarda suas lembranças, seus espíritos. Nitidamente ouvi-os falar naquela noite, sussurrando palavras nos meus ouvidos a cada uivo do vendo e silvo das aves noturnas, tomei a lição, com delicadeza agradeci e prometi jamais esquecer. O Toffi, que ficou até o fim, quando restávamos apenas eu, as estrelas e umas linguiças calabresas. Eu juro que quase vi aquele cão sorrir a cada uma que devorava. Sabe Deus se ele já havia provado uma em sua vida de cão pastor catingueiro. E acabamos contemplando a noite, assim, ambos em volta da fogueira, até que o cansaço venceu e o sono finalmente chegou.



Retorno ao “mundo moderno” No outro dia pela manhã, a realidade chamava. Rapidamente desmontamos acampamento e retornamos, fazendo o caminho de volta à civilização. Mas não sem um pequeno descontentamento. Sempre sinto um pouco ao deixar estes lugares. Talvez seja o fato de que lá no fundo, a civilização ainda não me capturou por completo e lá no fundo, aquele nômade selvagem ainda resista, em meio aos telefones celulares, carros, arranha-céus e computadores. Graças a Deus.


Conex達o:

ARGENTINA


Passeando por Mendoza C

onsegui tirar uma semana de férias na Argentina e resolvi conhecer Mendoza, a capital do vinho argentino. Mendoza tem muito mais a oferecer que apenas vinícolas, portanto, começaremos a conhecer a cidade, justamente por esses outros atrativos. A capital da província parece mais uma cidade do interior, muito melhor cuidada do que uma grande cidade. Cercada por praças e por um parque enorme, chamado San Martin, onde se pode visitar o Zoológico e o Morro da Glória. A cidade encanta pelo jeito de ser, todo tranquilo e pelo verde espalhado em toda a cidade. O tratamento das pessoas é sempre cálido e confortável.


Conexão:

ARGENTINA

Comer bem, não é uma dificuldade. Minha preferida, para tomar um café ou sorvete é a Rua Sarmiento, uma rua bem bonitinha, apenas para pedestres, onde se pode aproveitar para ver a feira de artesanato da praça independência. O lugar mais interessante para comer é a Av. Colon, cruzando a Rua Belgrano, que é cercada de pubs e restaurantes por todos os lados. Se o dia estiver agradável, aproveite uma mesa do lado de fora e veja o movimento.



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ARGENTINA

De Mendoza, pode-se aproveitar para fazer vários passeios bem interessantes. Desde os passeios repletos de aventura, como rafting nos rios gelados que descem da cordilheira, mountain bike pelas montanhas, até algo como apenas visitar as montanhas mais próximas. Eu escolhi dois passeios: seguir até Potrerillos e conhecer o lago ao pé da montanha, onde é possível fazer windsurf e conhecer Termas de Cacheuta, um parque de águas quentes encravado nas montanhas. No primeiro, além da beleza do lugar uma grata surpresa: Caminhando por Potrerillos encontrei não um restaurante, mas o que os donos chamam de


“comedor de montanha”. O Comedor de Montanha Los Condres é um pequeno e charmoso lugar, onde se é atendido pelos próprios donos e pode-se apreciar uma comida deliciosa. As carnes de porco e truta são as especialidades, mas não saia sem experimentar um flan, o mais gostoso que comi, entre os muitos que tenho provado desde que cheguei à Argentina. Em Termas de Cachueta, vale tirar um dia pra descansar


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ARGENTINA


nas piscinas de águas termais bem no meio das montanhas. O parque é bem simples, mas é um passeio agradável e de muita beleza. Comer no próprio parque pode ser algo desagradável. Recomendo levar sanduíches e pensar em um dia de piquenique, será muito mais interessante. Agora, para qualquer um dos passeios, reserve espaço na sua câmera para tirar muitas fotos das montanhas, o caminho é perfeito e a imagem imperdível.

O traveller autor O brasileiro Cristiano Garcia é consultor de sistemas que atua na América Latina. Por causa do trabalho, já morou na Venezuela, Colômbia e Holanda. Atuou também em Equador, Peru, Chile, Espanha e EUA. Adora a cultura latina, viajar, mergulhar e comer um ótimo doce. Escrever é uma grande paixão e cozinhar outra. Sendo assim, encontrar a história perfeita acompanhada de um ótimo jantar e um bom vinho é o maior sonho.


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ESPANHA

foto: Google Images


Tickets Bar – La Vida Tapa Por Camilla Perrotta

N

o verão passado, o respeitado restaurante El Bulli foi fechado, deixando orfãos os admiradores da comida do Chef Ferran Adrian. Agora, este problema foi resolvido. Ferran, junto com os irmãos Iglesias, proprietários do restaurante Rías de Galicia, mais o seu irmão Albert Adrian, inauguraram em primeiro de março, um incrível bar de tapas, localizado na avenida Parallel, 164, em Barcelona. Logo na entrada vale observar as vitrines que contam a história do estabelecimento. A entrada é como se fosse a de uma bilheteria de cinema, teatro ou circo e dentro é bastante colorido. O ambiente é separado de maneira que em cada barra tenha uma decoração diferente,


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ESPANHA

foto: Google Images


mas que se encaixam com o tema principal: a arte. O lugar é bastante disputado e as reservas só podem ser feitas online. Fui com alguns amigos em setembro e quando tentei reservar uma data para levar outros amigos brasileiros descobri que havia disponibilidade somente após três ou quatro meses, tamanha a procura. O ideal é reservar o último horário, o das 22h30min. Assim, não é necessário jantar com pressa para dar lugar à reserva seguinte.

Delícias Inexplicáveis O cardápio está em três idiomas: catalão, castelhano e inglês. Experimente Las Olivas de Tickets (azeitona liquida, simplesmente sem explicação!); Steak Tartar de tomate com lâminas de pão; Jamon de Toro (fatia finíssima de atum, Toro); Jamon Gran Reserva (ir a Espanha e não comer um presunto cru, é como não ter ido ate lá.); Ravioli Líquido ( maravilhoso!). vale muito “se aventurar” no extenso cardápio da casa! Um bom vinho tinto para acompanhar é uma boa pedida. A sobremesa, deixamos à cargo do garçom. Se estiver em Barcelona, não deixe de conhecer. Absolutamente imperdível!

http://www.ticketsbar.es


Dicas de como dar a volta ao mundo O mundo é grande, e todo mundo sabe. Mas o que poucos se dão conta, é que as possibilidades são maiores ainda. Algumas dicas para você realizar sua grande aventura: No caso de decidir utilizar o meio aéreo – o mais rápido e com o melhor custo benefício - saiba que existem três alianças aéreas que vendem os bilhetes de Volta ao Mundo ou RTW - Round The World, em inglês, são elas: One World Explorer, Sky Team e StarAlliance. Todas elas têm saídas do Brasil.

Os preços e empresas aéreas coligadas variam, mas as regras são mais ou menos estas: 1 - A viagem deve começar e terminar no mesmo país; 2 - A viagem deve seguir uma única direção, ou leste ou oeste; 3 - Só é permitido atravessar o Atlântico e o Pacífico uma única vez; 4 - O número de escalas é de no mínimo três e no máximo quinze; 5 - Uma passagem pode incluir no máximo dezesseis cupons de voos; 6 - Os deslocamentos por terra, feitos por conta própria, chamados de trechos de superfície, contam como cupons de voos e também somam milhas no cálculo das tarifas; 7 - É permitido fazer apenas uma escala por cidade (ou três por país). No entanto, nos EUA, a quantidade permitida é de cinco.


A validade é de no mínimo dez dias (e no máximo um ano) a contar da data do primeiro voo. Mudanças em datas e locais podem ter uma multa. É bom checar as diferenças de cada aliança.

Vale à pena? A maior vantagem é o preço. Os custos com as passagens são bem mais baixos do que comprar todos os trechos separadamente. É que ao utilizar o sistema RTW, todas as companhias aéreas funcionam como uma única empresa.

Quanto custa? O preço vai depender da distância, da classe (econômica, executiva ou primeira classe) e das taxas de cada empresa (além das taxas aeroportuárias). Existem quatro bases tarifárias: até 26, 29, 34 ou 39 mil milhas.

Mais dicas nas próximas edições.


Nova Zelândia – Cruzando a Terra dos Hobbits Por Rosana Sun Fotos: Rosana Sun

E ste país, localizado no sudoeste do Oceano Pacífico e que é formado por duas ilhas principais (norte e sul) e numerosas ilhas menores, se tornou mundialmente conhecido por ter se tornado cenário da terra dos Hobbits e Orcs. Toda a paisagem da trilogia “O Senhor dos Anéis” foi filmada lá. É fácil se encantar por este país que em poucos quilômetros apresenta mudanças drásticas de paisagens, variando de lagos para montanhas, geleiras cobertas de neve, terrenos áridos, praias e muito mais. Os nativos deste país, os Maoris, são retratados em filmes com


suas danças, aparentemente bastante agressivas, e que muitas vezes precedem uma partida de Rugby, seu esporte nacional. Os Maoris são minoria, e a maioria da população é composta pelos de ascendência européia, e a língua mais falada é o inglês, com um sotaque bem carregado, característico do país, que para nós, brasileiros, é bem difícil de entender no início. De fato, é preciso de alguns dias para se acostumar e começar a entender o “diferente” inglês desta terra encantada.

Queenstown


Circulando por Aotearoa A melhor forma de conhecer as belezas deste país é de carro. No entanto, eles usam a mão inglesa, portanto, cuidado para não guiar do lado errado da pista. A carteira de motorista brasileira é válida, todavia é bom checar se houve alguma mudança nas regras antes de ir. Outra forma eficiente de viajar por lá é de ônibus. Existem dois tradicionais ônibus que diferem um pouco dos ônibus turísticos ou ônibus de linha. São eles, os Kiwis e o Magic Bus. Os Kiwis (http://www.kiwiexperience.com) são para jovens festeiros. Todas as noites têm baladas e é onde se encontram a maioria dos recém formados de vários países da Europa. O Magic Bus (http://www.magicbus.co.nz/) já é um pouco mais


“Aotearoa é o nome indígena na língua maori que significa: A Terra da grande nuvem branca”.

conservador, no entanto, nem por isso menos divertido. Você compra um passe da região ou das regiões que deseja visitar, recebe uma agenda de quando os ônibus passam no local e pode subir e descer deles quando quiser. O motorista faz de tudo um pouco. É guia, ajuda a reservar locais para dormir, dá dicas em cada cidade e faz paradas nos principais locais turísticos. Ele ajuda a agendar saltos de bungee jump, assim como a visita aos parques e até jantares nos restaurantes típicos de cada local. Vale estar preparado, pois os ônibus da Nova Zelândia não possuem banheiros, mas normalmente eles vão parando em pontos estratégicos.


Um roteiro é essencial Seja de carro ou de ônibus, é importante traçar seu roteiro antes de partir, pois nesta terra encantada é fácil ficar muito mais tempo do que o previsto. Além das belezas naturais, a Nova Zelândia é conhecida como a terra dos esportes radicais. Foi em Kawarau Bridge que surgiu o primeiro bungee Jump do mundo, em 1988 (http://www.bungy.co.nz), em uma ponte, entre as montanhas e sob um rio, com 43 metros de altura e uma paisagem de tirar o fôlego em Queenstown, na ilha Sul. Em minha viagem de Volta ao Mundo, como estava só, optei pelo roteiro Norte e Sul do Magic Experience. É um passe de no mínimo 12 dias. O ideal é deixar livre uns 20 dias para aproveitar cada local com tranquilidade. Eu fiz em 15 dias e foi bem corrido.





A Ilha do Norte A Ilha do norte é marcada por vulcões, isto por si só já a torna muito interessante. Não deixe de visitar o parque Nacional em Rotorua onde se pode ver gêiseres e lagos aquecidos. A cidade inteira cheira a enxofre e tem nos pratos defumados a especialidade da culinária típica local. Existem jantares com apresentações típicas do povo Maori, que são imperdíveis.


Perto de Taupo, fica o famoso parque nacional Tongariro, cenário do Senhor dos Anéis. A famosa trilha Tongariro leva 7 horas para ser percorrida e é necessário um razoável preparo físico, pois o terreno é bastante irregular, com subidas íngremes e mudanças bruscas de temperatura. Informe-se no local e se estiver preparado fisicamente é realmente imperdível. Lagoas azuis-esmeralda e montanhas com picos cobertos de neve fazem parte desta caminhada que é considerada uma das mais bonitas do mundo.

No caminho para Milford Sound


Rotorua


Ilha do Sul


A Ilha do Sul A Ilha Sul é a mais famosa, por ser montanhosa. Seus Alpes contam com 18 picos com mais de 3.000 metros de altitude, o mais alto é o Monte Cook com 3.754 metros, assim nomeado em homenagem ao famoso navegador/descobridor Capitain James Cook. Christchurch é a maior cidade e conta com diversos festivais no decorrer do ano, como o festival de artistas de rua. É uma cidade com alto astral, segura e muito agradável.


Christchurch




Queenstown é uma cidade de esportes radicais. Além do primeiro bungee jump do mundo, possui também um dos mais altos, com mais de 100m de altura. Queenstown tem restaurantes internacionais e a vida noturna é bastante ativa. Dunedin e outras cidades menores muitas vezes parecem cidades do velho oeste e todas contam


Queenstown

Taupo

Taupo

Taupo


com uma paisagem incrível. Não deixe de visitar Franz Josef e caminhar no glaciar, sempre com um grupo e na presença de um guia especializado, pois além de ser proibido é muito fácil se perder e cair em canyons altíssimos. Não vale a pena arriscar e nem deixar de ter a incrível experiência de caminhar por entre as paredes de gelo.

Franz Josef


Franz Josef


Kawarau Bungee Jump Queenstown


Se você tem acompanhado minha Volta ao Mundo, talvez tenha notado que não contei histórias pessoais nesta etapa. Isso porque eu já conhecia a Nova Zelândia, mas resolvi voltar para conhecê-la um pouco mais. Portanto, foi uma parte da viagem sem grandes surpresas. Talvez a maior dificuldade tenha sido a travessia da ilha do norte para a ilha Sul. O Ferry pegou uma tempestade e a balsa, com mais de 10 andares, chacoalhava como num liquidificador. As ondas atingiam o sétimo andar da balsa. Era como num filme, pratos se quebrando, pessoas cambaleando e passando mal. Após umas três horas tudo ficou mais calmo. Mais uma vez, enfrentei um desafio acompanhada de minha amiga Martina, que conheci nas Ilhas Cook e do meu amigo Taiwanes. Encante-se com este país que possui temperaturas amenas e uma beleza única. Quem sabe você não encontra um hobbit, um elfo ou um anão por entre as trilhas?


Como escolher a câmera certa. Por Luís F. N. Carbonari

C

aros leitores, nesta matéria vamos falar um pouco sobre fotos. O registro de uma viagem é quase tão importante quanto a própria. Após algum tempo, quando as imagens começam a se perder na memória, restam apenas as fotos ou os vídeos e é neste momento que bate o sentimento de que devíamos ter fotografado mais, ou para aqueles que fotografaram o suficiente as vezes fica o sentimento de que a captura da cena não fez jus ao que os olhos contemplaram. Para tal, pensamos em algumas orientações para que estas situações não voltem a ocorrer. Com o advento das máquinas digitais, o número de pessoas que passaram a registrar seus momentos aumentou incrivelmente e este novo mundo, nos colocou diante de termos técnicos que muitas vezes atrapalham na hora de escolher e utilizar um equipamento.


A escolha Temos que observar alguns aspectos que se relacionam entre si: - Finalidade x Mobilidade (Peso e dimensões do equipamento); - Discrição da câmera x Megapixels x Qualidade ótica; - Conhecimento sobre fotografia x Autonomia de bateria. Parece confuso? Mas não é. Vamos a cada um deles.

Finalidade Não abordamos aqui fotos para fins profissionais ou para fotógrafos avançados. Estes possuem uma demanda muito mais específica, que são tratadas em publicações próprias. Falamos aqui para o viajante que simplesmente deseja registrar a grande maioria dos lugares por onde passou com a máxima qualidade que o seu equipamento consegue oferecer. Simples?


Nem tanto. Para atingirmos tal objetivo precisaremos de um pouco de empenho, um mínimo de estudo e algum treino, ou então continuaremos reclamando do fato de nossas fotos nunca ficarem como desejamos.

Mobilidade e discrição da câmera Quanto menor e mais leve for a câmera, mais fácil será para sacá-la guardala após cada foto e conseqüentemente, mais “invisível” ela será aos olhos das outras pessoas, situação desejável se estivermos em algum local não tão seguro, ou se o intuito for capturar imagens espontâneas do ambiente que nos cerca. Existem alguns locais, que para que sejam tiradas fotos para uso profissional é necessária uma autorização especial e uma grande máquina pode causar uma confusão. Já fui impedido por seguranças de tirar fotos, para uso pessoal, em um grande parque da cidade onde moro, somente pelo fato do meu equipamento ser “profissional”, enquanto todos ao meu redor usavam à vontade suas câmeras compactas e celulares. Fora o fato de que em determinados lugares a “imprensa”


não é bem recebida, enquanto que o contrário acontece com os turistas.

Megapixels x Qualidade ótica Aqui serei categórico se tiver que escolher entre quantidade de megapixels e qualidade ótica, FIQUE COM A QUALIDADE ÓTICA. Lentes de qualidade produzem imagens com melhores cores, menos distorções e muito mais nitidez. Uma situação bastante comum é nos depararmos com equipamentos de configuração igual, de um mesmo fabricante e que possuem preços diferentes, apenas por conta da lente que equipa cada um. Volto a dizer: se tiver que cortar algo, diminua os megapixels não a qualidade da lente.

Conhecimento sobre fotografia Exatamente neste tópico que se aplica o que falei sobre “um pouco de empenho, um mínimo de estudo e treino”. Não tem jeito. Temos que conhecer o equipamento, se já possuir algum conhecimento sobre fotografia será mais fácil, do contrário, o manual é a porta de entrada para aprender tudo o que nossa


câmera pode nos oferecer. E como diz o ditado: “A prática leva a perfeição”. Levando a situação ao extremo, um bom celular com câmera pode produzir fotos incrivelmente melhores nas mãos de um usuário que conhece todos os seus recursos, em comparação a uma máquina profissional na mão de alguém, que se limita apenas a apertar o botão de disparo.

Valores Pensando em valores, se investimos uma determinada quantia em uma câmera e utilizamos apenas 50% de seus recursos, seja por desconhecimento ou simplesmente por que algumas funções não nos atendem, estamos jogando fora os outros 50%. Portanto, caros leitores, cuidem do orçamento, pois todo dinheiro economizado nos preparativos, poderá ser gasto durante a viagem. Muitas vezes não temos tempo de pensar muito sobre o ajuste do equipamento para fazermos uma captura, a intimidade com sua câmera pode fazer toda a diferença entre registrar o momento para sempre ou guardá-lo apenas na memória.


Então, afastemos a preguiça! Vamos ao estudo e as fotos de teste.

Autonomia de bateria Outro ponto importante, a quantidade de fotos que pode-se tirar com um ciclo de carga da bateria varia muito de equipamento para equipamento, portanto devemos estar familiarizados com as características do nosso para, se necessário, adquirirmos baterias de reserva, deste modo não correremos o risco de ficarmos na mão ao final do dia.

Algumas dicas finais - Ao fazer retratos não fazê-los utilizando a lente em modo de grande angular (com o zoom no mínimo), sempre use no mínimo um zoom médio , a não ser que o efeito desejado seja deixar a pobre pessoa com a cara redonda e sem profundidade. - Entenda bem como a sua câmera lida com fotos noturnas e em locais de baixa luminosidade. Se aventurar por este


terreno, é garantia de lindas fotos com um toque profissional. Vale lembrar que um tripé ou qualquer sistema que mantenha a máquina fixa é quase sempre necessário. - Não deixe seu equipamento escolher em qual objeto ele fará o foco, ainda não foram inventados equipamentos que lêem pensamento, se disponível, escolha como área de foco o centro do campo de visão, aponte para o objeto que gostaria de focar, pressione metade do disparador para travar o foco e refaça o enquadramento. - Lembre-se de preencher a foto somente com o que interessa, limpe da composição itens dispensáveis. Me explico, acredito que muitos já viram a clássica foto de bebê sentado no sofá, o assunto é o “rebento” mas o que mais se vê é o sofá, ocupando 80% da composição, enquanto o modelo fica perdido em algum lugar entre as almofadas. Pense na composição antes de disparar. - Force o uso do flash durante o dia para iluminar as áreas de sombra.Outra foto clássica....Amigos na praia, todos de chapéu, sol a pino, cena registrada, resultado.... a foto no computador virá jogo para descobrir de quem é o rosto misterioso sob o chapéu, a sombra deixou todos irreconhecíveis. Os equipamentos fotográficos não conseguem lidar com


uma diferença de luz tão grande, isto é um privilégio do olho humano, como recurso utiliza-se o flash forçado para iluminar os rostos na sombra. - Aprenda a limpar a lente da sua câmera, siga a recomendação do fabricante. - Não concentre todas as fotos da sua viagem em um único cartão de memória, se tiver algum problema com este perderá tudo. Caso tenha algum modo de efetuar uma cópia de segurança para outro dispositivo (HD externo, Notebook, Smatphone, etc), faça sempre que possível. Estas são apenas algumas linhas gerais para um assunto extremamente extenso, caso tenham alguma dúvida específica, por favor, escreva para o endereço de contato. Até breve e boas fotos!


Música

Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Por Rodrigo Oliveira

N

asceu no dia 13/12/1912 na fazenda Caiçara, no sopé da Serra de Araripe, na zona rural de Exu, sertão de Pernambuco, lugar revivido anos mais tarde em “Pé de Serra”, uma de suas primeiras composições. Seu pai, Januário, trabalhava na roça, num latifúndio, e nas horas vagas tocava acordeão (também consertava o instrumento). Foi com ele que Luiz Gonzaga aprendeu a tocá-lo. Não era nem adolescente ainda, quando passou a se apresentar em bailes, forrós e feiras, acompanhando seu pai. Autêntico representante da cultura nordestina, manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no sul do Brasil.

“A canção mais famosa de sua carreira foi Asa Branca, que compôs em 1947, em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira.” foto: http://www.objetosim.com.br


Luiz foge de casa em 1930 para servir o exército como voluntário. Viajou pelo Brasil como corneteiro, de vez em quando se apresentando em festas, tocando sanfona. O soldado “Bico de Aço”, como ficou conhecido por sua habilidade com a corneta, deu baixa em 1939 e foi morar no Rio de Janeiro, com sua sanfona nova à tiracolo. Passou a tocar nos mangues, no cais, em bares, nos cabarés da Lapa, além de se apresentar nas ruas, passando o chapéu para recolher dinheiro. Começou a participar de programas de calouros, inicialmente sem êxitos, até que, no programa de Ary Barroso, na Rádio Nacional, solou uma música sua, “Vira e mexe”, e ficou em primeiro lugar. A partir de então, começou a participar de vários programas radiofônicos, inclusive gravando discos, como sanfoneiro, para outros artistas, até ser convidado para gravar como solista, em 1941. Trabalhou na Rádio Clube do Brasil e na Rádio Tamoio, e prosseguia gravando seus mais de 50 solos de sanfona. Em 1943, já na Rádio Nacional, passou a se vestir como vaqueiro nordestino e começou a parceria com Miguel Lima, que colocou letra em “Vira e mexe”, transformando-a em “Chamego”, com bastante sucesso. Nessa época, recebeu do ator Paulo Gracindo o apelido de “Lua”. Sua parceria com Miguel Lima decolou e várias músicas fizeram sucesso: “Dança,


Música Mariquinha” e “Cortando Pano”, “Penerô Xerém” e “Dezessete e Setecentos”, agora gravadas pelo sanfoneiro e, também cantor, Luiz Lua Gonzaga. No mesmo ano, tornouse parceiro do cearense Humberto Teixeira, com quem sedimentou o ritmo do baião, com músicas que tematizavam a cultura e os costumes nordestinos. Seus sucessos eram quase anuais: “Baião” e “Meu Pé de Serra” (1946), “Asa Branca” (1947), “Juazeiro” e “Mangaratiba” (1948) e “Paraíba” e “Baião de Dois” (1950).

Em 1945, assumiu a paternidade de Gonzaguinha, seu filho com a cantora e dançarina Odaléia. E, em 1948, casou-se com Helena das Neves. Dois anos depois, conheceu Zé Dantas, seu novo parceiro, pois Teixeira cumpria mandato de deputado estadual, afastando-se da música. Já em 1950, fizeram sucesso com “Cintura Fina” e “A Volta da Asa Branca”. Nessa década, a música nordestina viveu sua fase áurea e Luiz Gonzaga virou o Rei do Baião.

Outros ritmos, como a bossa-nova, subiram ao palco, e o Rei do Baião voltou a fazer shows pelo interior, sem perder a popularidade. Zé Dantas faleceu em 1962 e o rei fez parcerias com Hervê Cordovil, João Silva e outros. “Triste Partida” (1964), de Patativa do Assaré, foi também um grande sucesso. Suas


músicas começaram a ser regravadas pelos jovens cantores: Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Caetano Veloso, que o citavam como uma das influências. Durante os anos 70, fez shows no Teatro Municipal, de São Paulo e no Tereza Raquel, do Rio de Janeiro. Nos anos 80, sua carreira tomou novo impulso. Gravou com Raimundo Fagner, Dominguinhos, Elba Ramalho, Milton Nascimento etc. Sua dupla com Gonzaguinha deu certo. Fizeram shows por todo o país com “A Vida de Viajante”, passando a ser chamado de Gonzagão. Em 84, recebeu o primeiro disco de ouro com “Danado de Bom”. Por esta época apresentou-se duas vezes na Europa; e começaram a surgir os livros sobre o homem simples e, por vezes, até ingênuo, que gravou 56 discos e compôs mais de 500 canções. Luiz Gonzaga morreu em 02 de agosto de 1989, em Recife, Pernambuco. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte, à contragosto do seu Filho, Gonzaguinha, que desejava que o velório fosse realizado na cidade de nascimento de seu pai. Com sua morte, o Brasil perdia o Rei do Baião, e o Nordeste, o maior expoente de sua música natural. Até hoje suas canções embalam festas e exalam muita alegria, influênciando músicos de todas as correntes, da MPB até o Rock.

foto: http://3.bp.blogspot.com/


Corpo são, viagem sã Por Ítalo Lourenço Fotos: Karina Magosso

Cuide bem das suas pernas - parte II

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s exercícios que veremos nesta matéria, são sugestões importantes para o fortalecimento de todos os membros inferiores. Realizando-os de maneira correta, eles trarão benefícios que ajudarão em todo o trajeto de caminhada da sua viagem. Mas, lembre-se: Consulte sempre um educador físico, pois ele informará qual a melhor sequência desses exercícios e controlará toda a sobrecarga imposta em cada um deles. Um treinamento exige coerência e não é saudável fazer exercícios aleatoriamente. O que iremos abordar são apenas sugestões para o trabalho de fortalecimento dos membros inferiores.


Cadeira Extensora Na cadeira extensora você inicia o exercício sentado. O quadril deve estar bem encaixado e alinhado com o encosto do banco. O apoio da perna precisa estar posicionado próximo à articulação do tornozelo para realizar o movimento de extensão completo do joelho e depois retorne à posição anterior sem deixar que as barras de carga encostem uma na outra.

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Cuidados importantes com a execução: Ajuste muito bem o aparelho de acordo com o tamanho de seu corpo. Controle é importante, pois um movimento muito rápido poderá levá-lo ao desconforto. O grupamento solicitado nesse exercício são os músculos do quadríceps.


Cadeira Flexora Posicione seu corpo sentado na cadeira e colocar os pés em cima do apoio. Ajuste o tronco, deixando-o alinhado e bem encaixado com o encosto do banco. Deve-se alinhar a perna onde o apoio fique na direção dos calcanhares e travar bem a perna, para que não ocorra o deslocamento do quadril. Realize o movimento de flexão do joelho até o máximo que o aparelho permitir e retorne logo após, mantendo a perna estendida novamente.

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Cuidados importantes com a execução: Verifique sempre os ajustes dos aparelhos, pois o equipamento bem utilizado não deve acarretar nenhum tipo de desconforto e tome cuidado para que o quadril não se movimente muito durante a execução do exercício.

Os músculos envolvidos nesse exercício são os Isquiotibiais, Bíceps Femoral.


Gêmeo Unilateral no Step Posicione seus pés sobre um step de maneira que somente a ponta de um dos pés esteja apoiada e mantenha a postura ereta e equilibrada. Equilibre-se sobre o espaldar, fazendo um movimento de flexão plantar e dorsiflexão do tornozelo. Faça esse exercício unilateralmente. Caso o exercício fique fácil, segure um pesinho na mão oposta a da perna em execução, isso dará mais equilíbrio. Cuidados importantes: Não faça esse movimento apoiado somente pelos dedos dos pés. Posicione o pé de apoio mais a frente e deixe a outra perna livre.

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Desejo a todos uma ótima viagem e até a próxima!

Ítalo Lourenço é preparador Físico e Personal Trainer – Graduado em Educação Física e Especialista em Biomecânica da Atividade Física e Saúde.



Zander - Pelo mundo, de bike. Por Rodrigo F. de Oliveira

F

ábio Zander é um cara descomplicado que adora planejar e fazer viagens de bicicleta. Nasceu em 30 de julho de 1976, em São Paulo. Morou alguns anos em Londrina, no Paraná. Desde 2005 vive na Europa e há dois anos em Munique, no sul da Alemanha.


O gosto por viagens, veio desde cedo? O gosto pelas viagens começou cedo, com as viagens em família e com os escoteiros. Também com a leitura de livros.

Qual foi a primeira? As primeiras viagens foram entre Londrina e São Paulo. Morávamos em Londrina por causa do trabalho do meu pai e visitávamos constantemente a família em São Paulo. Também tenho boas recordações de viagens com os meus pais para Argentina, Chile ou mesmo no Brasil em Florianópolis, Itambezinho, Pico da Bandeira, Itatiaia, etc.

E a bike? Soube que a paixão pela “magrela” veio como influência do teu pai. Esta informação procede? Sim, a paixão em fazer viagens de bicicleta começou com uma pedalada entre Guarujá e Bertioga em 1991 com o meu pai. Aproximadamente 25 quilômetros que mudaram muita coisa em minha vida nos anos seguintes.



Então, você entrou nesta de ciclismo – ou clicloturismo – relativamente tarde, apenas em 91? Com a bicicleta comecei cedo, eu já pedalava antes de 1991 pelas ruas e praças perto de casa, em São Paulo e em Londrina. As viagens de bicicleta “apenas” comecaram com 15 anos.

Você é quase arquiteto, correto? Porque abandonou o curso? Em certo momento tive que decidir entre arquitetura e as viagens de bicicleta. As viagens ocupavam cada vez mais espaço e tempo em minha vida. Decidi pela bicicleta e, é claro, deixei alguns descontentes com a decisão, principalmente os meus pais. Eu os entendo: trocar a “segurança” de um diploma nas mãos por viagens que poderiam ser realizadas durante as férias. Foi um grande risco que topei, que no final deu certo e não me arrependo pelas decisões tomadas até então.



A mudança para Munique. Qual foi a motivação? Em 2003 perdi um patrocinador e não consegui renovar a parceria. Queria continuar envolvido com as viagens de bicicletas, mas não dependendo de


patrocínio ou eventuais palestras que apresentava. Decidimos (junto com a Dani, esposa) mudarmos para a Alemanha em 2005. Entre muitas razões para a mudança, a minha principal motivação era a de trabalhar como “bike guide” (guia em pedaladas) para alguma agência européia.


A sede por projetos de aventura parece ser uma constante na sua vida. Pode explicar um pouco esta vontade de desbravar? Puxa vida é difícil explicar essa sede por viajar de bicicleta e desbravar alguns cantos desse planeta. Eu sei que adoro sair para viajar e ao mesmo tempo, quando estou em uma longa viagem, tenho vontade de voltar para casa. Essa vontade de ir e vir é difícil de se explicar! Gosto de fazer essas viagens pelo planeta, também como guia, mostrando e empolgando as pessoas que me acompanham.


Pode-se dizer que você gosta de descobrir, de testar os limites? Gosto de descobrir novos lugares, de preferência com a bicicleta. Em algumas viagens, como no Himalaia, também tem um pouco de conhecer, testar ou transpor os próprios limites, por exemplo, pedalando na altitude. Acho que todos nós temos essa vontade ou necessidade de testar ou transpor limites, no meu caso, são principalmente nas pedaladas.


Filosoficamente ou espiritualmente falando, viajar muda o homem? Definitivamente viajar muda o homem, só não sei o quanto filosoficamente ou espiritualmente. Viajar nos faz ver novas culturas, novos modos de vida, traz vivências com pessoas totalmente diferentes, vê-se riqueza, pobreza, felicidade, tristeza... creio que essas impressões e experiências trazem mudanças nos viajantes. Nas viagens, guiando grupos europeus, vejo que muitos ao final da viagem percebem, por exemplo, que os problemas que têm em casa são pequenos ou nada, comparados aos problemas que algumas pessoas têm na região mais pobre da Índia.


Fala um pouco sobre a experiência de participar do “Desafio nos Andes”... “Desafio nos Andes” foi a primeira viagem mais longa que fiz de bicicleta, com mais dois amigos, no exterior. O objetivo era sair pedalando do oceano Pacífico, no sul do Chile, atravessar os Andes e pedalar pela Patagônia até o oceano Atlântico, na Argentina. A viagem foi uma ótima experiência para as futuras viagens pela América do Sul e a certeza pelo gosto por viagens longas.


Fala um pouco sobre a experiência de participar do “Desafio nos Andes”... “Desafio nos Andes” foi a primeira viagem mais longa que fiz de bicicleta, com mais dois amigos, no exterior. O objetivo era sair pedalando do oceano Pacífico, no sul do Chile, atravessar os Andes e pedalar pela Patagônia até o oceano Atlântico, na Argentina. A viagem foi uma ótima experiência para as futuras viagens pela América do Sul e a certeza pelo gosto por viagens longas.


...E sobre a “Pedalada Del Fuego”? “Pedalada del Fuego” foi umas das experiências mais marcantes que tive na Patagônia e na Terra do Fogo. Uma pedalada solitária, no início do inverno, com destino final à cidade mais austral do planeta, Ushuaia. Atravessando a região da Patagônia e a Terra do Fogo, em alguns dias, cobertos de neve e temperaturas abaixo de zero. A experiência para mim foi tão marcante que acabei escrevendo um livro em 2004, baseado em meu diário de viagem.


Pude observar que você sempre procura aprender com suas experiências: O que você aprende? Aprendo muita coisa sobre a região que percorro, sobre natureza, geografia ou como as pessaos vivem. De certa forma acabo também me conhecendo melhor: aprendo muitas coisas com meus acertos e erros ou com as metas que crio para serem atingidas durante uma viagem. A experiência o levou a realizar exposições fotográficas, escrever artigos para revistas, boletins em rádios. Como é que foi deixar uma vida de projetos arquitetônicos (ou quase) para projetos de aventura e viagens pelo mundo? Muitas vezes tenho que escutar que sou um egoísta, por causa dessas viagens, o que pode até ser em alguns pontos, mas gosto de dividir e


compartilhar essas minhas viagens com os outros na forma de exposições de fotos, publicacão de textos ou palestras, seja no Brasil ou na Alemanha. O site também é uma forma de compartilhar essas experiências. A fotografia é uma paixão ou uma necessidade? A fotografia não é paixão como a bicicleta (risos). Talvez seja a minha necessidade em tentar mostrar para as pessoas o que eu vejo e vivencio durante as viagens. 16) Os livros, “Ciclotrópico de Capricórnio” e “Pedalada del Fuego” foram apenas uma preparação para o “Panorama Brasil”? Atualmente só escrevi um livro para a “Pedalada del Fuego”. O livro “Panorama Brasil” foi uma obra de outros autores e a minha única participação foi com um pequeno texto com destaque ao “Ciclotrópico Capricórnio”.


Hoje, qual a sua profissão? O que exatamente você faz quando não está em aventuras? Eu estou 100% ligado às viagens de bicicleta. Sou guia e palestrante. Sou “bike guide” autônomo trabalhando para agências alemãs e suíças, guiando grupos pelo Himalaia, Jordânia, Cuba, Vietnam, Cambodia, Sri Lanka, etc. No meio tempo vendo algumas matérias para revistas e apresento minhas palestras pela Alemanha. Até novembro abro minha própria agência, a “Zander Bike Tours”.


As palestras, sobre o que elas falam e como apareceram na sua vida? As palestras surgiram a pedido de amigos querendo escutar as histórias e ver fotos. Acho que é a melhor forma de mostrar às pessoas, lugares e experiências diferentes. Lugares que, provavelmente, os próprios participantes nunca irão conhecer pessoalmente. As palestras sobre minhas pedaladas no Himalaia são, no momento, bem procuradas aqui na Alemanha.


Você acha que a época das grandes realizações já acabou ou ainda há muito a se fazer? Acho que a época de grandes descobertas e pioneirismo passou, mas as grandes realizações sempre acontecerão. Poderia dar alguns conselhos para quem deseja realizar algo do gênero e acha que não é possível? Se conselho fosse bom... mas acho que é preciso acreditar e ir atrás, independente do que os outros pensam, claro que escutar outras opiniões é muito importante e ter a capacidade de poder fazer mudanças no decorrer do caminho também. Hoje, após todo este tempo e todas estas experiências, quem o Zander acabou se tornando? Sei lá, pergunte para os outros (risos). O que é a volta ao mundo para você? E o ato de viajar? Volta ao mundo é uma grande e longa viagem. Viajar é ver e vivenciar outras coisas, lugares e culturas, é a oportunidade de sair da rotina e do cotidiano.




O que você faria se não fosse quem você é? Uau, complicado! Talvez estaria infeliz, fazendo arquitetura, se não fosse o que sou hoje. Tem arrependimentos? Não tenho. O caminho escolhido não foi e não é fácil até hoje, mas eu, de certa forma, sabia disso e topei. Quem foram suas influências principais? Puxa, muita gente e principalmente muitos livros. No início “100 dias entre céu e mar” do Amyr. Últimas palavras para os nossos leitores? Realizem seus sonhos e sejam felizes. Tristes são as pessoas presas a rotinas desgastantes e nem percebem isso. Fábio, foi um enorme prazer. Um grande abraço de toda a equipe da Volta ao Mundo!



Colonia del Sacramento - Uruguai Xpress - Especial fotografia Por Mari Fonseca Fotos: Mari Fonseca

N

esta edição, deixaremos a correria de lado. Nada de calcular cada segundo do seu dia a fim de visitar o maior número de pontos turísticos possível. É hora de relaxar, de vigiar os pensamentos, reenergizar-se em meio a natureza e fotografar. Neste especial, o foco é um dos aspectos que eu considero impossível de deixar fora das prioridades quando se está viajando: a fotografia. A imagem não serve apenas como lembrança dos locais que visitamos, mas é uma ferramenta capaz de registrar a maneira como estávamos nos sentindo no momento do click, nossas percepções e o que consideramos “belo” e importante o bastante.


Na minha última viagem, tive menos de uma semana para conhecer Buenos Aires (AR), precisamente 5 dias. Montei e remontei roteiros que me permitissem visitar todo o centro, experimentar comidas típicas, dar uma corridinha aos arredores e vivenciar boa parte da cultura portenha. Obviamente, Buenos Aires tem suas particularidades mas, assim como São Paulo, é uma cidade grande, agitada e populosa. Há filas, turistas, perigos, tudo o que uma metrópole acaba hospedando. Por conta disso, logo no meu segundo dia, percebi que precisava mesmo era de algo diferente. O que fazer? Well, eis a primeira regra do bom viajante: ser flexível e adaptar-se à mudanças!


Buenos B Aires est谩 situada bem de frente a uma col么nia no Uruguai, separadas apenas pelo Rio de la Plata. Colonia del Sacramento era o meu destino!



6h30 da manhã Café da manhã, câmera na mochila e táxi do hostel para o Terminal fluvial em BsAs. Há pelo menos 3 companhias que fazem o trajeto de Buenos Aires para a colônia. Opte por aquela que o faça direto, pois algumas te levam para a capital do Uruguai, Montevideo. Com documentos à mão e passaporte já carimbado, à espera para embarcar no ferryboat, pude assistir a um maravilhoso nascer do sol que pintava o céu com diversos tons de rosa.



Viajei com uma câmera compacta, nada comparada com as DSLR (câmeras com lentes intercambiáveis). Se este é seu caso, durante o nascer/pôr-do-sol, mantenha a configuração na opção paisagem ou nublado, avaliando se você conseguiu ou não captar as cores do céu de forma nítida. Desta maneira, o foco da imagem será levado ao infinito, gerando uma condição boa para visualização. Se estiver fotografando de dentro de outro local (meu caso), ou não quiser esquentar a cabeça com menus, utilize o modo automático, não esquecendo de desativar o flash. A viagem leva em torno de 1h, aproveite a vista!



A moeda local é o peso uruguaio, lembrando que o real, o dólar e o peso argentino também são aceitos, sendo convertidos na hora. Aproveite a chegada ao terminal para trocar um pouco de dinheiro, apesar dos restaurantes aceitarem cartão internacional, boa parte do comércio de artesãos e lojas de souvenirs só aceitam peso uruguaio.



A Colonia del Sacramento conta a história de disputas entre Portugal e Espanha, de 1679 a 1822. Conflitos ocorreram neste período com a tentativa de ocupação permanente por parte de ambos os países. Até o Brasil chegou a controlar a colônia, por um curto período de tempo, antes da indepência total do Uruguai, em 1825. Cada batalha, negociação e disputa por terras estão registradas nas construções, arquitetura e ruínas do local.






Como já mencionado, a colônia é um excelente destino para “sentir”. As belas paisagens se apresentam a cada calle, não há a necessidade de esforços para a fotografia e muito menos para descansar a mente. O silêncio, o cheirinho de terra, o vento que sopra e navega pelo Rio de la Plata até a margem, a boa comida e a explêndida arquitetura mexem com nossos sentidos a ponto de querermos ficar por lá por um bom tenpo.





Hoje, a colônia é reconhecida pela UNESCO como patrimônio da humanidade, e apesar de estar lincada a destinos turísticos, é um local tão tranquilo que você sequer nota a presença de turistas passeando pelas ruas.





Puerta de la Ciudadela

Portão de entrada. Um dos principais acessos à colônia, inaugurado em 1745. Para captar as características rústicas deste local, sugiro apenas uma bela investida no melhor ângulo a fim de registrar a ponte e o muro de pedra.





O Farol O farol da colônia é único no Uruguai, devido ao seu formato: união de uma base quadrada e forma cilíndrica. Se você enfrentar a subida dos 116 degraus, poderá fazer uma foto panorâmica, se o seu lema é “ter os pés no chão”, crie um conceito envolvendo o farol e os objetos ao redor. Taí uma ótima referência para você treinar o enquadramento.



Puerto de Yates A poucos metros do centro hist贸rico, o Rio de la Plata abriga diversos veleiros e iates. Passear pela plataforma do porto e fotografar a vista, 茅 uma 贸tima pedida para um fim de tarde.






Sorvetereia Freddo Para quem é fã da clássica sorveteria de Buenos Aires, Freddo, também pode se deliciar com o tradicional sorvete de dulce de leche, entre outros sabores, pelos cantos da colônia. Vale a pena sentar nas mesinhas em frente ao local, depois de um dia longo de caminhada. Durante o momento, aproveite para treinar no modo macro da sua câmera.

A traveller autora Mari Fonseca é paulistana, cosmetóloga, ama fotografar e conhecer novas culturas. Por isso, sempre que pode, mesmo que por 48 horas, viaja para lugares diferentes.


Filme

Deus e o Diabo na Terra do Sol Por Rodrigo F. de Oliveira

“Vou contar uma história. Na verdade é imaginação. Abra bem os seus olhos. Pra escutar com atenção. É coisa de Deus e Diabo. Lá nos confins do sertão”.

Delírios sobre o Sertão O Sertanejo Manoel e sua mulher Rosa levam uma vida sofrida no interior do país, uma terra desolada e marcada pela seca. No entanto, Manoel tem um plano: usar o lucro obtido na partilha do gado com o coronel para comprar um pedaço de terra. Quando leva o gado para a cidade, alguns animais morrem no percurso. Chegado o momento da partilha, o coronel diz que não vai dar nada ao sertanejo, porque o gado que morreu era dele, ao passo que o que chegou vivo era seu. Manoel se irrita, mata o coronel e foge para casa. Ele e sua esposa resolvem ir embora, deixando tudo para trás. Em sua jornada, eles acabam cruzando com um Deus negro, um diabo loiro e um temível homem. Esta é * Preço sugerido. considerada a obra-prima de Glauber Rocha, um dos mais importantes cineastas brasileiros da história.



Filme

O real e o ficcional se misturam A partir desse momento a história passa a ser contada por personagens fictícios que em alguns casos remetem a personagens e situações de cunho histórico. Como a alusão feita à comunidade religiosa de Canudos, que é tratada no filme com a presença do beato Sebastião um tipo de novo “Antônio Conselheiro” o de um cangaceiro – Corisco – que nitidamente lembra Lampião. Os elementos constituintes do povo sertanejo estão claramente representados, desde a extrema religiosidade, a miséria, o latifúndio, o coronelismo e o banditismo social. A ingenuidade do sertanejo também surge nos momentos em que Manuel mostra ter esperança que no futuro sua vida será melhor, também aparece a sensação de isolamento, pois não existe por parte de Manuel uma consciência de que o mesmo ocorre com outros sertanejos.


“Transe” Podemos observar no filme que os protagonistas estão em uma “espécie de transe” durante quase toda a narrativa, depois de fugirem da fazenda, Rosa e Manuel irão transitar durante a história como pessoas que sofrem num mundo do qual não fazem parte, incapazes de achar um “lugar” onde se encaixem. O filme faz diversas críticas aludindo à injustiça e crueldade com a qual o povo é tratado pelos latifundiários e coronéis, principalmente na cena da partilha do gado entre o vaqueiro Manuel e o coronel Morais, pois é possível ver a tensão existente entre as classes, com o mais fraco sofrendo as penas pelo gado ter morrido devido ao clima árido. Outro detalhe interessante é o ataque repentino do coronel sobre o vaqueiro, é uma cena em que fica bem claro a posição em que se considera estar o coronel, ele trata Manuel como se fosse uma de suas propriedades, como se fosse o próprio bicho que pode receber punições por contrariá-lo.


Filme O filme crítica o fanatismo quando fala sobre a comunidade religiosa. Cabe destacar as cenas que representam Monte Santo. Elas estão embriagadas de um sentimento confuso. Na narrativa também está presente o momento do massacre de Canudos, os protagonistas são salvos para registrarem o fato e servirem como testemunha dessa crueldade.


Mais perguntas do que respostas O final deixa no ar uma sensação de perplexidade no espectador, por não apresentar uma conclusão exata, provocando – característica intrínseca às obras de Glauber Rocha – forçando o espectador a refletir sobre o que acabou de assistir. Para muito o melhor filme brasileiro já feito e para outros, menos afeitos à densidade da criatividade de Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol não é unanimidade, e é justamente por isso que é tão importante.

Ficha técnica: Drama. Duração: 110 min. Ano: 1964. direção: Glauber Rocha.


EDIÇÃO #4 OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

EXPEDIENTE Diretores Executivos: Rosana Sun e Johnny Wang Editor: Rodrigo Ferreira de Oliveira Diretor de Arte: Richard Porcel Colunistas: Alexander Descoster, Camila Perrotta, Cibele Rodrigues, Carlos Meinert, Cristiano Garcia, Ítalo Lourenço, Luís Fernando Carbonari, Mari Fonseca, Roger Felix, Rosana Sun, Sun Chen Leng.

Fotógrafos: Alexander Descoster, Carlos Meinert, Cristiano Garcia, Fábio Zander, Ítalo Lourenço, Mari Fonseca, Rodrigo F. de Oliveira, Roger Felix ,Rosana Sun, Participe da Revista Volta ao Mundo com seus comentários, críticas, sugestões e elogios. Escreva e nos envie um email: contato@revistavoltaaomundo.com Para você leitor que gosta de viajar, escrever e dividir experiências, seja nosso correspondente. Se você é brasileiro(a) que mora fora do Brasil e gostaria de dividir suas experiências com os outros leitores viajantes, entre em contato conosco através do email: correspondente@revistavoltaaomundo.com E se você for nativo de algum país fora do Brasil e quiser ser nosso correspondente também poderá entrar em contato conosco através do email: correspondente@revistavoltaaomundo.com Obrigado e boa leitura! copyright 2011 revista volta ao mundo | todos os direitos reservados.


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