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(Bahia e Sergipe) Outros Estados: R$ 4,00
SALVADOR, BAHIA SEXTA-FEIRA, 12/10/2007 ANO 95 - NÚMERO 32.328 Fechamento desta edição: 23h50
FUNDADOR: ERNESTO SIMÕES FILHO
Hora de lazer e brincadeira nos 4 cantos da cidade
LEITURA BOA PARA A GALERINHA A TARDE fez um caderno especial para a criançada, com assuntos muito divertidos. A meninada também participou do projeto. São oito páginas de total alegria. É só ler e viajar bastante.
Hoje é dia de mergulhar no mundo da infância. E a criançada já está pronta para brincar e se divertir com uma vasta programação na cidade. Hoje também é um dia especial para o menino Marcos Maurício, 1 ano. Abandonado na última terça, ele foi reconhecido pelas avós | SALVADOR | PÁGINAS 4 E 5
SOB PRESSÃO ❚ O presidente do Senado anuncia licenciamento
Caderno 2 | Fim de Semana
Renan se afasta para tentar salvar mandato Depois de resistir por mais de quatro meses, e menos de um mês após sua absolvição em plenário, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acabou cedendo à pressão para que se afastasse do cargo, reforçada nas últimas horas pelo Palácio do Planalto. No início da noite de ontem, Renan anunciou pela TV Senado que se licenciou da presidência por 45 dias. Segundo analistas, a decisão foi uma tentativa de salvar o mandato e, para isso, ele estaria contando com a ajuda do governo. O vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), assume o comando, tendo como principal desafio pacificar a Casa e, assim, tentar garantir, para o governo, a prorrogação da CPMF | POLÍTICA | PÁGINAS 9 E 10
ACIDENTE MATA 4
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MILA PETRILLO | DIVULGAÇÃO
ASSINATURA — VENDA PROIBIDA
do cargo na tentativa de evitar a cassação com ajuda do governo
A HISTÓRIA DOS SENTIDOS “Caso tenha sido barganha, o governo vai ter que se explicar”
A companhia goiana Quasar, de dança contemporânea, apresenta seu 19° trabalho, amanhã e domingo, no TCA. A coreografia retrata a complexidade das relações | PÁGINA 3 DIVULGAÇÃO
Cláudio Abramo, líder da ONG Transparência Brasil ❚
DENÚNCIA ❚ LUIZ TITO | AG. A TARDE
Oposição vai investigar Solla A oposição prometeu entrar com representação no Ministério Público Federal (MPF) para investigar denúncia de que o secretário da Saúde, Jorge Solla, conduziu licitação vencida por empresa que o indicou como consultor
A ESTRÉIA DA TROPA O primeiro longa de ficção de José Padilha, Tropa de Elite, que já invadiu o lar de cerca de 12 milhões de brasileiros, estréia hoje nos cinemas da capital | PÁGINAS 1 E 4 FERNANDO AMORIM | AG. A TARDE
| POLÍTICA | PÁGINA 11
MUNDIAL ❚
Veja a tabela das Eliminatórias A Seleção Brasileira de Futebol inicia domingo, contra a Colômbia, em Bogotá, a disputa por uma das quatro vagas para o Mundial da África do Sul. A tabela das Eliminatórias, que começam sábado, está nesta edição |
ARTESANATO E CASACOR A Feira Baiana de Artesanato será realizada este fim de semana no estacionamento do Aeroclube Plaza Show. Na Associação Atlética, acontece a 13ª Casacor | PÁGINA 9
ESPORTE CLUBE | PÁGINAS 4 E 5
Quatro passageiros morreram e dez ficaram feridos no acidente entre um ônibus (foto) e um caminhão, na BR-242, perto de Cristópolis. O coletivo vinha de Goiânia | BAHIA | PÁGINA 8
SERVIÇO
Fies abre inscrições O Fies estará inscrevendo bolsistas do ProUni até o dia 16. A seleção permitirá ao estudante financiar 25% do valor total da mensalidade. Inscrições só pela internet | P. 6
Feira das Regiões O Sesc Piatã promove hoje, das 9 às 16 horas, a Feira das Regiões, que mostra características e costumes de todas as regiões do País, além de oficinas temáticas | P. 6
SÃO FRANCISCO ❚
MERCADO FINANCEIRO ❚
Concentração de bactérias contamina rio
Banco Central segura a queda do dólar
| SALVADOR | PÁGINA 4
| ECONOMIA | PÁGINA 12
ARTICULISTAS DE HOJE ❙ Cléo Martins | P. 3 ❙ Jonas Dantas | P. 3 ❙ Jorge Lins Freire | P. 3 COLUNISTAS DE HOJE ❙ Dora Kramer | P. 10 ❙ Samuel Celestino | P. 11 ❙ Mendonça de Barros | P. 12
EDITORIAL
ESTA EDIÇÃO
Rastro de sangue
5 CADERNOS - 50 PÁGINAS
Dois assaltantes fizeram moradores da Barra vivenciarem momentos de terror semelhantes aos que já se tornaram rotina no Rio e São Paulo | P. 3
CADERNO 1: 16 páginas CADERNO 2: 10 páginas ESPORTE CLUBE: 8 páginas DIA DAS CRIANÇAS: 8 páginas POPULARES: 8 páginas
ILUSTRAÇÃO | BRUNO AZIZ
DIA DAS CRIANÇAS
IRACEMA CHEQUER | AG. A TARDE
www.atarde.com.br
SALVADOR, BAHIA SEXTA-FEIRA, 12/10/2007 ANO 95 - NÚMERO 32.328 www.atarde.com.br
FUNDADOR: ERNESTO SIMÕES FILHO
a tardinha
caderno 2
“Brincar todo mundo brinca. Brincar é lei do Universo. Brincou Dom Pedro II. Brincando fiz este verso.” Confira o jeitão de brincar dos baianos Página 6 ❚
Dê boas risadas com as feiticeiras e o capitão Shakespeare do filme Stardust - O Mistério da Estrela (foto) e divirta-se com as peças do Festival Quarentinha Página 7 ❚
Ajude as pessoas a atravessar o labirinto para chegar às dez lições sobre a infância ❚
Escolas melhores já existem
Educação municipal de Salvador investe em ciência e tecnologia, mas avanço é a formiga diante do elefante Página 5 ❚
10 coisas que todo mundo deve saber sobre as crianças Espontaneidade é o melhor sinônimo para infância. Criança não tem compromissos inadiáveis. Está nas leis brasileiras que trabalho de criança é brincar e estudar. A TV aprisiona crianças. Banho de mangueira lava alma de criança. Todo mundo aprende a ser do bem na infância, o tempo de formação da personalidade. Apontar elogios e defeitos é uma resposta perceptiva, não é juízo de valor. Quando a criança diz espontaneamente: “Você é feia”, ou: “Eu te amo”, está traduzindo o que vê. A criança é atemporal porque a noção de tempo na infância é difusa. Ou você nunca perguntou, em uma viagem, se falta muito pra chegar? Adultos são guias, mesmo que não sejam da família. Será eleito guia quem oferecer confiança. A infância é como um videogame, não é possível mudar de fase sem passar pelos obstáculos que vêm primeiro. É preciso explorar todos os segredos de cada fase do crescimento. Críticas severas não fazem crianças felizes, e atitudes sempre ensinam mais do que palavras. Fontes: Luiza Helena Novelli, psicóloga, e Lília Rezende, pedagoga RESPOSTA NA PÁGINA 6
motor | digital FOTOS: IRACEMA CHEQUER | AG. A TARDE
esporte | tur ismo
s a l va d o r
PEDRO FERNANDES | DIVULGAÇÃO
CONTROLE REMOTO
PROVA DOS NOVE
ADRENALINA
Meninas e meninos escolhem os brinquedos preferidos, entre os que exploram tecnologia, velocidade e inteligência artificial. Chame seus pais e monte com eles um carrinho de rolimã
“Às vezes, eu queria estudar lá, porque os professores não se irritam”, disse aluna da Escola Municipal Joir Brasileiro sobre o Colégio Nobel, escola paga que ela visitou. Crianças trocam de escolas por um dia e avaliam o ensino
Ao praticar arvorismo subindo à copa de árvores, você vive emoções e observa macacos e passarinhos. Descubra também as praias de Ilha de Maré, bairro que já foi habitado por índios
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Preocupações com o futuro Sol e mar, de Lis da Silva, 7, da Escola Luz Divina, de Salvador, BA
“Meus filhos, porque vai dar trabalho de cuidar.” Kelvin Prates, 9 ❚
“Quando crescer, perder os amigos.” Alexandre Carneiro, 11 ❚
O cravo e a rosa, de Bruno da Silva, 7, do Centro Comunitário Frei Leônidas Menezes, de Salvador, BA
“O mundo, a humanidade, as crianças, o amor, a felicidade e o futuro de nossa gente.” Adilton Santos, 10 ❚
Como você imagina o futuro na Bahia e no Brasil ?
“Penso que o Brasil vai ficar ricão.“ Lucas Alexandre, 11 “O futuro na Bahia é que estão nascendo muitas pessoas, e, quando nascerem mais, elas vão ficar com mais criatividade.“ Lucas de Lima, 12
estar vazios e vai ter muitas lan houses. Não vai ter poluição nos mares. Não vai acabar a água do mundo, e vai ter grandes ondas, e não vai ter muito sol, e não vai ter cachorros bravos.“ Kelvin Prates, 9
“Do jeito que anda, o Brasil pode desaparecer do mapa. A poluição ”A tecnologia está fazendo as vai tomar conta do calotas polares mundo. Poucas coisas derreterem, e isso vão ser manuais, pois inundaria as cidades robôs, máquinas e do litoral. O Brasil e computadores irão mesmo a Bahia fazer quase tudo.“ seriam inundados Clara Carneiro, 10 pelo mar.“ Breno Costa, 10 “Vai estar tudo bom e vai estar todo “Imagino a mundo feliz para Bahia com falta sempre, todo mundo d´água, se a seca vai ter uma paixão continuar, pessoas no mundo e vão ter saindo aos montes lindos filhos e seus do Sertão, a filhos também vão agricultura conquistar uma prejudicada. O Brasil paixão.“ Wilian estará em guerra por Bonfim, 8 causa da água que estará acabando, “Vai estar pior.“ mas isso é uma Débora Santos, 9 hipótese minha.“ Rafael da Silva, 10 “A Bahia vai ser grande, não vai ter “Vão inventar muitos assaltos, vai mais tipos de carro, ter grandes parques mais lojas, mais aquáticos, vão famílias vão começar aumentar os preços, a inventar mais tipos vai ter moradia para de coisas, como todos, muitas pessoas comidas, carros, vão conseguir pegar colégios, e as ônibus, os carros não crianças, quando vão ser muito caros, forem adultas, vão se e todo mundo vai preparar para o conseguir emprego. futuro.“ Ana Os shoppings vão Carolina Silva, 7
EXPEDIENTE Coordenação de edição | Mônica Rodrigues da Costa e Carla Bittencourt | Projeto gráfico | Ana Clélia Rebouças, Valentina Garcia e Axel Augusto | Diagramação | Ana Clélia Rebouças | Ilustração | Bruno Aziz | Edição de fotografia | Carlos Casaes
“A gente vai começar a dirigir e ter mais dinheiro para comprar casas e ter que aprender a cozinhar e casar e ter filhos e fazer coisas de mais velhos, como aprender a cuidar dos filhos.” Ana Carolina Silva, 7 ❚
“Com quem vou me casar porque tem tantas mulheres no Brasil.” Mateus Pondé, 7 ❚
Feliz Dia das Crianças! MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
Enquete
mrcosta@grupoatarde.com.br
“Não ser bandido quando crescer”, disse Winis Barreto Souza, 11, aos repórteres de A TARDE, na semana passada, quando uma das jornalistas perguntou a ele qual sua maior preocupação com o futuro. Essa resposta entristeceu nossa equipe, porque achamos que preocupação de criança deve ser brincar e estudar. O que será do País se os pequenos pensam desse jeito? Por meio da enquete (perguntas) que A TARDE fez entre 120 meninas e meninos de 6 a 12 anos, o jornal descobriu como eles vêem o futuro e quais são seus maiores desafios quando forem adultos. As crianças estão preocupadas. Com a sujeira dos rios. Com o desmatamento. Com a camada de ozônio que protege a Terra. As respostas espontâneas, ou seja, sem os jornalistas entregarem às crianças qualquer alternativa de resposta, mostrou que a preocupação com o futuro do planeta vem em primeiro lugar, com 53 respostas. Família e amigos são vice-campeões. O terceiro lugar destaca preocupações existenciais, como o amor e a felicidade. A violência ficou em quarto lugar (confira as respostas na infografia ao lado). No dia delas, A TARDE deseja às crianças muitas brincadeiras e sonhos melhores de futuro, por isso, dedica-lhes este caderno especial. Que o Brasil tenha menos corrupção e uma economia que respeite o ambiente e dê dignidade a pobres e ricos.
"Qual a sua maior preocupação com o futuro?". Essa foi a pergunta que 120 estudantes de Salvador responderam, de duas formas. Primeiro, escreveram em um papel em branco o que tinham em mente. Em seguida, receberam uma lista com dez opções, das quais marcaram as que eram motivo de esquentar a cabeça ❙ RESPOSTAS ESPONTÂNEAS DAS CRIANÇAS
53
Meio ambiente Família e amigos
19
Trabalho
19 17
Violência
Amor, felicidade etc.. Educação
10 7 5 0
Vida de adulto 10
20
30
40
50
60
RESPOSTAS PARA ÀS PEGUNTAS DE A TARDE Violência nas cidades
104
Falta de água
104 102
Poluição da Terra
95
Guerras no mundo
71
Não completar os estudos Não formar uma família
60
Não conseguir trabalho
59
Corrupção na política
59 52
Ficar doente Não ganhar dinheiro 0
20
40
50 60
80
100
120
FONTES ❙ Foram entrevistadas 120 crianças das seguintes escolas: Colégio Nobel, Escola Municipal Joir Brasileiro, Colégio Gregor Mendel, Instituto Municipal de Educação Professor José Arapiraca (Imeja), Escola Municipal de Pituaçu, Escola Municipal Barbosa Romeo, Escola Municipal União EDITORIA DE ARTE A TARDE
| Simanca |
“Ser presa.“ Rosana Fernandes, 8 ❚
“Que uma onda gigante inunde o Brasil” Felipe Sampaio, 10 ❚
“O mundo se chocar com o Sol.” Thais Bezerra, 9 ❚
“O aquecimento global. Se continuar como está, o mundo não irá prestar no futuro.” Alberto Marques, 10 ❚
Para construir um mundo melhor para todos ALESSANDRO MARIMPIETRI marimpietri@terra.com.br
Interessante ver os resultados da enquete proposta por A TARDE – perguntas para mais de cem crianças, estudantes da rede pública e privada da cidade de Salvador. Quando fui solicitado a comentar resolvi escapar dos temas em si e olhar o que eles trazem de comum. As temáticas que mais figuraram como alvos de
preocupação com o futuro para os pequenos foram a violência e as problemáticas do meio ambiente, ambos temas do coletivo. As questões de ordem pessoal, como conseguir trabalho, ficar doente, ter dinheiro, formar uma família ou completar os estudos ficaram em segundo plano. Digo interessante porque o que atestamos na atualidade é um elogio exagerado do aspecto
Alessandro Marimpietri é psicólogo e professor da Universidade Salvador (Unifacs)
individual e um quase desaparecido compromisso com o coletivo. Esses meninos e meninas têm muito o que ensinar a todos nós. Eles estão nos dizendo que autonomia é sempre um pacto com o outro e que precisamos, com a urgência que a atualidade nos impõe, rediscutir o coletivo. Eles, com a pouca idade que têm, estão nos alertando para a necessidade de sairmos desse
aprisionamento de nós mesmos para começarmos a compreender que somos produtos e produtores da violência que nos assusta, assim como somos ecologicamente parte dos problemas e das soluções nas questões ambientais. Essas crianças redobram a esperança por um futuro mais compromissado com o coletivo sem tantos apelos aos brilhantismos individuais.
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IRACEMA CHEQUER
EDUCAÇÃO | Oito estudantes de Salvador experimentam um dia nas escolas uns dos outros
Diferenças todos os dias
Troca-troca de carteiras ANDRÉA LEMOS alemos@grupoatarde.com.br
Mochila nas costas, lancheira na mão. Hora de ir para a escola. No dia 3 de outubro, a jornada de aula foi dupla para Jamile Oliveira, 7, Denise Oliveira, 9, André Rogê, 10, e Bruna de Jesus, 8, que foram à aula no Colégio Nobel, no Itaigara. À tarde, foi a vez de Nicolas Nelli, 9, Júlia Rezende, 11, Pedro Pita, 10, e Giovana de Souza, 8, sentarem-se nas salas da Escola Municipal Joir Brasileiro, em Brotas. Quando chegou ao Nobel, Jamile deu a mão a Bruna para não se perder. Elas assistiram às aulas da 1ª série e aprenderam que bula de remédio é um texto chamado instrucional. André, da 3ª série, começou o dia com a aula que achou mais legal: a de educação física. Claro, ele passou 50 minutos jogando baleado. Denise, na 4ª série, leu um texto sobre o cordelista Patativa do Assaré e criou perguntas como se fosse entrevistá-lo. Na hora do recreio,
Giovana, que achou a professora da Joir tão legal quanto a do Nobel
Nicolas levou André para brincar na quadra. Jamile e Bruna correram para o parque. Júlia e Denise brincaram de vôlei. SEGUNDO TURNO - Quando todos chegaram, às 13h30, à Escola Joir Brasileiro, um monte de alunos esperava na porta. Júlia disse que se sentiu uma celebridade. Bruna, Jamile e Giovana assistiram às aulas da 2ª série. Giovana tentou fazer contas que foram difíceis, porque ela ainda não aprendeu isso no colégio. André e Nicolas, na turma da 3ª, tiveram que
escrever um texto sobre o que é ser criança. Denise e Pedro ficaram na sala da 4ª série, na aula de música. Uma sirene bem alta anunciou o recreio às 15h30. Nicolas ficou impressionado com as estripulias dos alunos da Joir, que subiam em muros e escalavam a rede que cerca a quadra. Giovana, Bruna e Jamile brincaram de pega-pega, e Júlia, de elástico. Pedro não quis correr. Ficou sentado, comendo o lanche que levou e respondendo às curiosidades dos meninos da Joir Brasileiro.
Jamile adorou montar pecinhas na aula de robótica, no Colégio Nobel
a u r a d ê c Á-bê d
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Dado – É uma coisa que brinca, que ganha, que faz aposta. Droga – É um vício que quer fumar o dia todo, e aí morre.
CARLA BITTENCOURT E TATIANA MENDONÇA
cbittencourt@grupoatarde.com.br, tmendonca@grupoatarde.com.br
A rua é o lugar onde todo mundo passa, anda pra lá e pra cá. É também um bom espaço pra brincar. Mas, para algumas crianças, rua é trabalho. É vender bala no sinal. Fazer malabarismo em troca de moedas. Há crianças que vão para a rua com os pais e, de noite, voltam pra casa. Quando tudo fica difícil, a rua vira casa, e a criança, adulto antes do tempo. A TARDE foi às ruas de Salvador e pediu para que meninos e meninas inventassem um á-bê-cê. Responderam: Júnior, 7, Iasmim, 6, Mari, 9, Ediwilson, 10, Alan, 11, e Anderson, 11. Eles falaram de coisas difíceis, como drogas, mas se lembraram da diversão da bola e da mágica que há nas quatro letras de “toró”. Desenhos feitos pelos autores do á-bê-cê.
a
Avião – Leva as pessoas para viajar para São Paulo, para a França, para a Itália. Tem uma turbina que bota ele no ar.
b
Barroquinha – É uma cidade pequena que tem na 28. 2. Não, é um bairro de muitas vendorias. Bicicleta – Queria ganhar uma no Dia das Crianças. Bola – Ela fica pulando, pulando. 2. A chuveirinho; se garrar no espinho, na mesma hora fura. Aí fica voando no ar.
e f g
Escola – Ensina o á-bê-cê. 2. Escola né bom, não. Escorregadeira – Gosto de descer na escorregadeira. Onde eu moro não tem parque.
Furacão – Começa na forma de vento, mas depois faz uma roda fortona que destrói tudo. Na água, leva os peixes. Gringo – É tudo rico. 2. Gringo pode ser pobre, como a gente, só que chega de outro país.
Hora – Às seis horas da manhã, tenho que ir pra escola.
h
i
Igreja – Igreja de Deus, da paz, da pessoa pública.
Júlia, Nicolas e Pedro, do Colégio Nobel, disseram que se sentiram celebridades na Joir, porque todo mundo queria saber onde moravam e estudavam. Pedro contou que o chamaram de “barão”, porque ele estuda em escola particular.
Jade – Habib, habib! Vi no filme Jade e a lâmpada mágica. Jesus – É o nosso irmão. 2. Não, Jesus é o nosso pai, a gente é que é irmão. Ladrão – Que gosta de roubar as coisas dos outros. Leite – Já bebi um leitinho bem natural, da vaca.
l m n
Mãe – Que cuida da gente, lava a roupa da gente. 2. “M” de manga. 3. Eu não tenho mãe, não vou falar nada. Malabares – Eu faço com paus. É massa, ganha um dinheiro.
q r
Quê?
Revólver – Não podia existir no Brasil. Causa muita violência. Roda-gigante – Vi quando passei no buzu. É bem grande e brilha. Rua – É onde todos passam. Passo mais de dez horas na rua. 2. A gente fica na rua bagunçando.
s
Sino – Quando bate, faz um som que dá a hora certa. Sinaleira – Quando eu treinar mais malabares, vou pra a sinaleira.
Nuvem – Se fosse de algodão doce, a gente ia de avião pegar.
o p
c
Capoeira – É uma dança que veio da África. Os negros começaram a gingar. Aí veio o mestre e ensinou pra todo mundo. Cerveja – É os cachaceiro que bebe e fica muito doidão. 2. Se beber, não dirija. Você pode dormir, cair no rio, e o peixe começar a beliscar seu bumbum. Chão – Durmo no chão, não tenho cama.
j
André e Denise, da Joir Brasileiro, acharam ruim ter que pagar pela merenda no Colégio Nobel. Onde estudam, o lanche é distribuído na cantina. Mas gostaram da variedade de quadras da escola e queriam que fosse assim na Joir também.
“Foi legal.” “Foi diferente e legal.” Quase todas as crianças disseram o mesmo sobre a experiência. Júlia achou a Joir pequena, e Jamile disse que os professores do Nobel são mais calmos. A professora Sara Martha Dick, da Faculdade de Educação da Ufba, contou que, “na história da humanidade, nunca houve uma escola única, que fosse igual para todos”, apesar de sempre ter existido uma luta para que todos tivessem direito a uma mesma educação, de qualidade. Na opinião da professora, as desigualdades entre as escolas existem porque “a educação é a expressão da sociedade”. Em uma sociedade desigual, a educação é desigual. O secretário municipal de educação, Ney Campello, enxerga as diferenças na estrutura de quadras, tamanho das escolas e equipamentos, mas disse que – segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – a diferença de qualidade do ensino não é tão grande entre instituições particulares e públicas. Em simulado do Prova Brasil, aplicado neste ano para todos os 26 mil alunos da 4ª e 8ª séries da rede pública de Salvador, mais de 51% dos estudantes acertou metade da prova.
Ovo – Da galinha, do galinho.
Polícia – Quando eu crescer quero ser polícia. Salva a cidade. 2. No Bairro da Paz, morreram cinco. Ninguém sabe mais se é polícia ou é ladrão. Pituba – Um bairro de praia que tem muitos movimentos. 2. É um bairro de rico. 3. Nada a ver, pobre tudo vai lá. Picolino – Ensina malabares, acrobacia, mortal.
t u x
Toró – É uma chuva bem forte que cai na nossa cabeça. 2. É uma água que vem do céu e aí vira um bocado de pingo. Traficante – Vende pedra, maconha. Tiro – Sai da arma. Vi um homem morto com três tiros.
Uva – Uma fruta bem doce.
Xica da Silva – É uma atora que fez uma novela. Ela era escrava.
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Vitória – É um time. Mas eu sou Brasil. Zoológico – Não tem urso-panda porque é muito caro, muito raro.
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SALVADOR,
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Apertem os cintos, encolhi os pilotos!
CAMILLA COSTA ccosta@grupoatarde.com.br
FOTOS IRACEMA CHEQUER
Tr ansvoltex
Sentado na poltrona, de panela na mão, ou empurrando o carrinho de supermercado, de todo jeito dá para imaginar como é dirigir um carro ou uma moto de verdade. Longe das carteiras de motorista e do trânsito, o que não faltam são brinquedos que fazem a gente se sentir verdadeiros pilotos. A Tardinha levou cinco crianças para testar os brinquedos que geram velocidade. Confira.
”São dois controles separados, para andar com o carro e para virar robô. Demorei para aprender. Gostei porque são dois em um.“ Giovanne Consolino, 9 Fabricante: Deltagift Preço: R$ 319,00
Patinete Eletric Scooter Helicóptero de controle remoto “É o mais legal, e dá pra aprender a controlar do mesmo jeito que um carrinho de controle. Nunca tinha brincado com um brinquedo que voa, adorei!“ Lucas Moraes, 9 Fabricante: Estrela Preço: R$149,00
“Uau, difícil de se equilibrar, mas é legal. Pena que não tem uma versão para meninas!“ Marina Thomazi, 9 Fabricante: Lifer Preço: R$ 439,00
Super Moto GP Elétrica “É muito legal poder andar, é o brinquedo mais legal. É bom, e melhor que bicicleta, porque não tem que pedalar. Assim, a gente não cansa rápido.“ André Bispo, 8
Criança sabe o que é política pública, porque alunos da Escola Municipal Úrsula Catarino disseram isso a A TARDE: “A gente sabe que o governo está fazendo algo pelas crianças quando vê o que ele está fazendo. Escolas, hospitais, coleta de lixo“. Segundo o secretário do Unicef na Bahia, Ruy Pavan, para cada direito da criança e do adolescente, existe uma ação ou projeto que o governo deve fazer. Essas ações são as políticas públicas, que devem garantir, no dia- a- dia, os direitos de todos. A reportagem de A TARDE foi conhecer ações que a Secretaria Municipal de Educação e Cultura desenvolve em Salvador, como os projetos de Escola Hospitalar e Ensino de Ciência e Tecnologia, além da reforma e construção de escolas municipais. MUNDO DENTRO DO ARMÁRIO - “Agora eu entendi como as coisas acontecem“, contou Lindinês Santos, 13, da 5ª série da Escola Municipal de Pituaçu. A escola dela está no Programa de Educação em Tecnologias Inteligentes, da Prefeitura de Salvador. “É como se o laboratório fosse para a sala de
aula“, explicou Ana Paula Lima, diretora da Escola Municipal da Palestina. Estudantes e professores contaram que ficou mais gostoso aprender ciências. Na Palestina, a 3ª série construiu termoscópios para medir a temperatura do corpo, e, em Pituaçu, a 4ª série fez terrários para ver o funcionamento do ecossistema terrestre (a vida na Terra). ESCOLA NOVA, ESCOLA VELHA – A Escola Comunitária Amai Pro surgiu em 1985, quando os moradores do loteamento Profilurbe, no bairro Campinas de Pirajá, construíram, sem ajuda de governos, uma sala de aula. Em 2005, a escola foi reconstruída e ampliada pela prefeitura. “Antes, ninguém colocava os filhos aqui. Agora, fazem fila para a matrícula“, contou a vice-diretora Taciana Torres. Hoje, os alunos têm uma biblioteca, computadores
Bruna Brito: “Já conhecia, gostei de brincar, ela é linda”. Marina: “É muito legal, que nem se fosse real”.
Giovanne: “Os jogos de matemática às vezes misturam contas que eu não sei. O jogo de adição é legal, mas meio fácil, e o de atravessar o rio é massa. Mas prefiro videogame e computador”. Lucas: “O jogo de multiplicar é massa, mas, dos outros, é mais massa o videogame ou jogo de computador”.
Fabricante: Mattel Preço: R$ 199,90
Fabricante: Oregon Preço: R$ 179,90
Barbie Roller Girls
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Hospital Irmã Dulce, onde as crianças estudam o corpo e a saúde
Jaime e Juciana têm aulas no quarto, no Hospital Roberto Santos, em Salvador
Projeto Participação Infantil, que reúne 22 alunos em Plataforma
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Boneca Amazing Ananda Marina: “É tipo um robô, ela aprende palavras e é pesadona. Eu vou pedir pra minha mãe. Eu gostei que ela fala e você tem que fazer o que ela diz”. Bruna (foto): “Minha predileta, não quero largar dela, é a mais linda de todas, e me chama pelo nome”. Fabricante: Mattel Preço: R$799,90
Escola Amai Pro, uma das 40 escolas reconstruídas desde 2005
A Escola Úrsula Catarino foi construída em 1926, em Plataforma, para trabalhadores de uma fábrica de tecidos. Hoje, as crianças da escola discutem condições de vida no bairro e o trabalho da prefeitura (políticas públicas), no projeto Participação Infantil, da ONG Cipó. Elas falam da falta de segurança, de áreas de lazer, de coleta de lixo e dizem que a escola, apesar de boa, não tem computadores nem biblioteca e precisa de reformas. Já organizaram uma passeata e pesquisas de opinião sobre o lixo. “Temos que conscientizar as pessoas para fazer o certo, não o errado“, disse Alexandre Xavier da Silva, 10.
IRACEMA CHEQUER
“A escola faz esquecer que dói”
escolas municipais em Salvador
Com a boca no trombone
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Alunos de Pituaçu e da Palestina estudam ciência praticando
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Fabricante: Bandeirante Preço: R$ 799,00
Engenhocas de inteligência artificial LapTop do Batman
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crianças na rede municipal, de um total de 640 mil crianças de 0 a 14 anos em Salvador (2000)
e “banheiro de shopping“. Mas ainda há problemas. “Quando chove muito, a escola alaga e estraga equipamentos“, explicou a vice-diretora. A Escola Municipal Professor Arx Tourinho, no bairro de Nova Esperança, foi construída em 2005, tem um prédio novo, internet e quadra de esportes. Mas já sofre infiltrações de água da chuva, e os brinquedos estão enferrujando. “Mas, para os alunos, agora é muito melhor do que antes“, disse a vice-diretora Josete Silva. Natanael, no
escolas com aulas de educação em tecnologia
Os cientistas inventam jeitos de fazer as coisas. Videogames mais reais, bonecas que falam e andam, walkie-talkies e bichinhos virtuais mostram que a tecnologia trabalha a serviço das brincadeiras. Os consultores de A TARDE para assuntos de brinquedo – as crianças – testaram e escolheram os preferidos.
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EDUCAÇÃO | Projetos em Salvador melhoram, aos poucos, a estrutura e o atendimento da rede pública
Estamos só no começo
A turma de consultores em assuntos de brinquedo se junta para mostrar os que mais gostaram para os colegas, na BMart da Estrada do Coco
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TESTE | A TARDE levou André, Giovanne, Lucas, Bruna e Marina para passar um dia testando brinquedos de veículos e tecnologia em loja especializada
MARINA NOVELLI
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? Que outros projetos existem para as escolas municipais? A prefeitura oferece ensino de inglês e espanhol nas escolas e aderiu à Agenda 21, de meio ambiente, na rede de ensino. Além disso, algumas escolas desenvolvem projetos, como rádios comunitárias, aulas de teatro e música, por conta própria e com a ajuda de ONGs. Como funciona o Programa de Educação em Ciência e Tecnologia? As escolas que participam desse projeto recebem, do Instituto Ben Sangari, um armário azul, com um tema para cada série. Dentro dele há livros de ciências e objetos para fazer experiências.
Tem gente que até inventa doença para não ir à escola. Mas, para quem está doente de verdade, aula é tão bom quanto brincadeira. “A gente fica aqui sem fazer nada. A melhor coisa então é aprender“, explicou João Lima, 12, internado no hospital das Obras Sociais de Irmã Dulce. O projeto Escola Hospitalar nasceu no hospital Irmã Dulce. Desde 2001, a prefeitura paga professores para ensinar crianças, jovens e adultos em 11 hospitais de Salvador. No Irmã Dulce, meninas e meninos têm uma sala especial para as aulas. “Mesmo que eles sejam de idades diferentes, aprendem juntos“, contou a professora Celeste Ramos. No Hospital Roberto Santos, nem todas as crianças internadas recebem os professores. As aulas só acontecem no setor de nefrologia, onde crianças com problemas nos rins têm que fazer um tratamento longo. “Depois que as crianças começaram a ter aulas, os adultos quiseram também“, explicou a médica Fátima Gesteira. “Precisamos de mais professores, porque agora temos que dividir o tempo entre crianças e adultos.“ A professora Luciana Carvalho garantiu que no ano que vem o número de professores vai aumentar. Enquanto isso, ela diz que “dá um jeito de atender todo mundo, na medida do possível“.
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FOTOS: IRACEMA CHEQUER | AG. A TARDE
Crianças brincam de gangorra feita com pneu no bairro de São Cristóvão, em Salvador
DIVERSÃO | Na rua ou no play, no pneu ou de patins, na capital ou no interior
Brincar é coisa séria
ZEZÃO CASTRO jcastro@grupoatarde.com.br
Brincar todo mundo brinca. Brincar é lei do Universo. Brincou Dom Pedro II. Brincando fiz este verso. Não interessa local, bairro, idade ou o tipo de brinquedo. O negócio é deixar rolar a imaginação para que a diversão pouse, como um passarinho procurando diversão. No bairro de São Cristóvão, junto à rótula do aeroporto, o que mais chama a atenção na cidade grande é ver uma penca de meninos balançando em uma gangorra de pneu. É uma algazarra só. O lugar mais parece um quintalzão, sem muros, no chão de terra, embaixo de várias mangueiras frondosas. Daria uma bela praça. O brinquedo, apesar de
rústico, é concorrido. “É o que eu mais gosto de fazer, brincar na gangorra, que já tem uns três meses aqui, e empinar arraia”, contou Welington Conceição Menezes, 11. Não há indicações de quantos meninos podem se pendurar. O limite de peso é a resistência da corda. Ou do galho. Welington começa a se balançar. Logo depois vêm chegando Vinicius, 6, Jonatan, Walace, Ian e Caio, 8, já dizendo: “Também quero”, e vão todos pongando no pneu. Ninguém está empinando pipa. O campo está vazio, e nenhuma bolinha de gude rola no terreiro. As crianças moram todas por ali, nas imediações da Rua São Francisco. O campinho também é visitado, mas há adultos da área, que não dispensam o tradicional baba.
Playground é da patinete, do sapato de mola e do skate
Na quadra do prédio, no bairro da Pituba, a brincadeira é sobre rodas
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O que é, o que é? É inteiro e tem o nome de pedaço? Trava-língua Se o papa papasse papa, se o papa papasse pão; o papa tudo papava, seria o papa papão O que é, o que é? Quanto mais cresce menos se vê?
Você sabe jogar tampilho? SERGINHO MARQUES | AG. A TARDE
criatividade. Nicolas, 6, e Bruno, 7, passam a manhã do sábado se divertindo. Jogam tampilho no bairro Moises Reis, onde moram. Com duas tampinhas de garrafa pet, apostam corrida em pista com obstáculos, desenhada na areia da rua. "Cada um pode dar três toques por vez. Se cair em algum obstáculo, começa tudo de novo", explicou Nicolas.
EDUARDA TORALLES | SUCURSAL DE EUNÁPOLIS toralles@grupoatarde.com.br
"Ono um, ono dois, ono três, pega zigue-zague, zigue-zague e sai", canta Juliane Teixeira, 12, enquanto salta sobre o elástico esticado por Jéssica Santos, 13, e Daniela Silva, 11. Minutos antes, o trio jogava futebol com os amigos Vinícius Costa, 10, e Helisson Ribeiro, 12, na Praça do Colibri, em Eunápolis, a 640 quilômetros de Salvador. A praça era um campo abandonado. "A gente vem para cá todos os dias depois da escola. Ficamos aqui até o horário do almoço", contou Daniela. Só na praça da Matriz, no centro, há balanços e escorregador. Nos demais bairros, a diversão vem da
André Vagner, 4, brinca de skate na praça Antônio Tito, em Porto Seguro, BA
SKATE – Na praça Antonio Tito, em Porto Seguro (a 707 km de Salvador), no bairro Areião, André Vagner, 4, é a atração. Apaixonado por esportes radicais, ele freqüenta a pista de skate do local. Faz manobras de deixar gente grande com inveja. Ele aprendeu a andar de skate há um ano, com seu tio Genilton da Cruz, 18.
No outro canto da cidade, o interfone toca na casa de Ana Clara Rocha, 6, na Pituba. É Jamile Menezes, 8, que já enjoou de ver Bob Esponja e Tom & Jerry, e chama a amiga para brincar no playground. O limite das brincadeiras é a portaria. Elas entram em contato com Davi Peixoto, que desliga o Play Station e abandona, por ora, a intenção de cravar um novo recorde no jogo Dragon Ball Z. Após o chamado, ele pega a patinete ou o skate e desce de elevador. Ana Clara está toda empolgada e vem saltitante, com um sapato de mola. Jamile desliza nos seus patins cor-de-rosa. A manhã é sempre para eles
porque os três estudam pela tarde. Mas nem sempre eles usam esses brinquedos. “A gente também gosta muito de brincar de esconde-esconde e de pega-pega aqui, vale no prédio todo, por isso, faço logo meus deveres de noite”, contou Davi. COMPUTADORIZADOS – Além das brincadeiras do mundo físico, real, a meninada está descobrindo jogos na internet . Jamile sugere o site www.orkutandonet.com, “com mais de dez jogos”. Davi conta que vários vídeos do Dragon Ball Z podem ser vistos nos sites www.youtube.com e www.monica.com.br.
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DAVID JAMES | DIVULGAÇÃO
CINEMA Bonecas estão em Bratz, o filme
Sonho com poeira das estrelas JOÃO CARLOS SAMPAIO jsampaio@grupoatarde.com.br
Stardust - O Mistério da Estrela é com atores de carne e osso, mas tem todo o jeito de conto de fadas. A história nasceu como um romance com desenhos, lançado nos EUA em 1997, do inglês Neil Gaiman. O ator Charlie Cox interpreta o jovem Tristan. Ele mora na comunidade de Wall, lugar cercado por um muro onde ninguém entra ou sai. Para chamar a atenção de Victoria (Sienna Miller), Tristan vai ao reino fantástico de Stormhold, onde enfrenta feiticeiras como a vaidosa Lamia (Michelle Pfeiffer).
Tristan atravessa oceanos no navio do Capitão Shakespeare (Robert De Niro) até conhecer a estrela cadente Yvaine, vivida por Claire Danes. O diretor do filme, Matthew Vaughn, recria um mundo onde um humano e uma estrela vivem uma grande aventura juntos. Parece aqueles sonhos com coisas difíceis de acontecer, quando a gente se deixa levar pela imaginação, ou, como diz o título original, pela poeira das estrelas. Stardust lembra a época medieval e o gênero de aventura mostrados na trilogia O Senhor dos Anéis, só que mais bem humorada e poética.
As bonecas Bratz, quarteto formado por Sasha, Cloe, Jade e Yasmim, deixaram de ser apenas brinquedos. Elas viraram personagens com manias de moda e estilos divertidos, em filme que estréia hoje. Sob a direção de Sean McNamara, as meninas vão enfrentar o desafio de conquistar espaço em um colégio de ensino médio, cheio de panelinhas. Vão ter de superar Meredith, a mimada filha do diretor da escola. Ela vai fazer de tudo para impedir que as novas alunas se tornem populares. Cena de Stardust - O Mistério da Estrela, com Yvaine (Claire Danes); o filme estréia hoje em todo o Brasil
Confira os horários das sessões no Caderno 2 dos adultos.
ARTIGO
Cadê o lazer das crianças de Salvador? O gato comeu! NELSON PRETTO nelson@pretto.info
Dia das Crianças é dia de brincadeira. Aliás, todo dia é de brincar. O problema é: onde brincar? Huumm.. tá difícil. Não tem espaço, não tem oportunidade, não tem programação e, o que é
pior, não tem emprego para os pais. E, assim, as crianças terminam tendo que ir brincar de brincar na frentes dos carros, nas sinaleiras, nas praias. Trabalham brincando ou brincam de trabalhar para dar sustento aos pais que não podem nem brincar
HQ Bruno Aziz | Fabulosos Um Dois Três
Angeli
nem trabalhar. Os filhos da classe média, para brincar, pensam primeiro em segurança. Por via das dúvidas, brincam de shopping center. Que brincadeira mais estranha essa de andar de um lado para outro, flanando pelas galerias e refletidos pelas
vitrines. Êta tempo estranho esse nosso... mas que é também interessante. Se nada disso satisfaz, a meninada brinca de videogame. As classes média e alta, conectadas em banda larga, trancadas dentro dos seus quartos com direito a tudo, vivendo
aquele jeito alt+tab de ser. Tudo ao mesmo tempo. Aos filhos das classes pobres restam os telecentros e infocentros. Lá, nesses lugares, jogar é proibido! Baixar música nem pensar. Papear com dez ao mesmo tempo, de jeito nenhum. Brincam de
aprender dois ou três programas de texto ou planilhas na expectativa, dizem os adultos, de melhorar as possibilidades de trabalho. E cadê o emprego pros pais?! O gato também comeu. Nelson Pretto é diretor da Faculdade de Educação da Ufba
TEATRO
Dona Onça e Romeu e Julieta Começa hoje o Festival Quarentinha, com seis peças na Sala do Coro do Teatro Castro Alves (Campo Grande). Meu Quintal (hoje, às 14h), tem brincadeiras como boca-de-forno. Romeu e Julieta & Caetano (hoje, às 17h e às 20h) mistura peça, poesia e canto. Amanhã assista à Comadre Florzinha, dona Onça e os cachorros fujões (às 10h e
às 14h) e As Sabichonas (às 20h), em que jovens decidem tirar os palavrões do dicionário. No dia 14, às 10h, é a vez de Passarinhos, que recria situações do dia-a-dia. Ingressos: R$ 4,00. Até o dia 28, o Teatro Vila Velha (Passeio Público) apresenta Rerembelde (hoje); Áfricas (nos dias 20 e 21/10) e Da ponta da língua à ponta do pé (foto; 27 e 28/10). Às 16h (R$ 8,00). MÁRCIO LIMA | DIVULGAÇÃO
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1 - Escada para a primeira base; 2 - Desafio nº 1; 3 Sirleide tem equilíbrio na corda bamba; 4 - Cada vez mais difícil; 5 - Laís vira Homem-Aranha; 6 - Altura foi motivo para pular etapa; 7 - Adriano finaliza com rapel
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ARVORISMO | Invenção de biólogos para estudar a copa das árvores foi transformada em esporte radical
Experimente ser Tarzan por algumas horas ANDRÉA LEMOS alemos@grupoatarde.com.br
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Quem nunca teve vontade de subir até o alto de uma árvore para ver o mundo lá embaixo, como fazem macacos e passarinhos? Existe um esporte que realiza esse desejo e faz tremer as pernas de emoção. A preparação para virar Tarzan começa na hora de vestir os equipamentos: cadeirinha, luvas e capacete. Pronto, então basta subir uma escada de madeira de cerca de 8 metros de altura e chegar a uma base (ou plataforma) montada no alto do tronco de uma árvore, seguida de outras. A andança entre as árvores tem início na primeira base. A adrenalina do arvorismo está em passar da base de uma árvore para a base de outra, seguro por cordas. A reportagem de A TARDE experimentou um circuito de arvorismo na Aldeia Sauípe Adventure, no quilômetro 85 da Linha
Verde. Quatro crianças moradoras do entorno da aldeia foram convidadas a conhecer o que é ser equilibrista por algumas horas. Aceitaram com empolgação e coragem. No começo, a altura deu medo, mas Adriano dos Santos, 8, Josilene dos Santos, 10, Laís dos Santos, 6, e Sirleide da Conceição, 12, não desistiram. No Aldeia Adventure há três circuitos – percursos entre um conjunto de
[ Onde praticar ] Aldeia Sauípe Adventure Onde: Linha Verde, Km 85, tel. 71 9966-0042 Quanto: R$ 80,00 (adultos) e R$ 40,00 (crianças) Indicação: A partir de 6 anos www.aldeiaadventure.com.br Conduru Ecoturismo Onde: Praia da Ribeira, Itacaré, (a 440 km de Salvador), tel. 73 3251-3089 Quanto: R$ 60,00 (para adultos e crianças) Indicação: Crianças mais altas que 1,40 metros www.conduruecoturismo. com.br
árvores. Em um dos circuitos, há quatro árvores. Nos outros dois, sete árvores. CANOAGEM E RAFTING - O Aldeia Adventure fica em uma reserva de Mata Atlântica. As árvores que você abraça no arvorismo são nativas, como a sucupira, a cajarana e a pau-d‘arco. O local tem trilhas por dentro da mata, escalada em um paredão de madeira, tirolesa, canoagem, cavalgada e rafting, esporte em que um grupo de pessoas desce um rio com pequenas cachoeiras, em um bote. O arvorismo foi criado por biólogos, na década de 1960, para estudar as árvores e a vida de animais no alto de suas copas. CUIDADOS - Quem pratica esportes na natureza tem que saber que é proibido jogar lixo no chão. Se vir algum bicho, observe-o de longe, porque você pode machucá-lo ou se machucar.
PEDRO FERNANDES/DIVULGAÇÃO
Campo em Ilha de Maré onde as crianças brincam de bola
Alan, Raquel, Liliana, Luana e Joice, em cima do reservatório, com vista para Salvador
Igreja Senhora Santana, onde Joice e Luana vão à missa
TURISMO | Em Ilha de Maré, banho de mar e passeio nas trilhas são atrativos
[como chegar]
Um bairro cercado por água
Pela BR-324, vá em direção ao bairro Águas Claras. Pegue a estrada do Derba. Siga até São Tomé de Paripe, onde há barcos para a Ilha de Maré. A passagem custa R$ 3,00.
Existe um bairro de Salvador que é uma ilha. Você sabia disso? Esse bairro se chama Ilha de Maré. O lugar era habitado por tupinambás, quando os portugueses chegaram aqui. Esses índios acreditavam que a Baía de Todos os Santos foi criada quando uma grande ave, depois de voar noites e noites, caiu na terra. No lugar onde suas asas tocaram, formaram-se praias. Onde seu coração
bateu, criou-se um buraco, que foi invadido pela água do mar. Hoje, crianças como Liliana Maciel, 11, Raquel Maciel, 10, Luana Vieira, 10, Joice Almeida, 14, Alan Carvalho, 10, e Elian Maciel, 8, moram na ilha. Se eles tivessem que mostrar o local onde vivem para algum amigo visitante, levariam-no primeiro para a praia de Itamoabo. “É a praia mais cheia, mais freqüentada, tem bares,
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“Aqui na ilha, o pôr-do-sol é na frente da gente.”
Luana Vieira, 10, moradora de Ilha de Maré. Ela gosta das belezas naturais, mas reclama da falta d‘água. ❚
muita gente”, disse Liliana. A Praia das Neves é o contrário. É bem calma, mas também é famosa. “Quem quiser mais sossego e não quiser ouvir zoada vai para as Neves”. A trilha no meio da mata é um bom passeio, “porque dá para ver a natureza de perto e tem os bichos, tem tatu, calango verde”, contaram Joice e Liliana. Para brincar, um dos melhores lugares de Ilha de Maré é o campo. (AL)
Pela Avenida Suburbana, siga até Paripe. Lá, pergunte como se chega a São Tomé de Paripe. Ônibus saem da Lapa, da Ribeira, do Campo Grande e da Pituba para São Tomé de Paripe.
Subida para o reservatório, onde soltam pipa
FONTE | O livro Baía de Todos os Santos, da Secretaria da Cultura e Turismo, 2000.