Revista Ler

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Revista do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz

A cor do personagem Novembro de 2018

NĂşmero 12


EXPEDIENTE

DIRETOR GERAL

Heitor Fecarotta DIRETOR DE GESTÃO

Marcelo Chulam DIRETORA PEDAGÓGICA

Regina Scarpa

REVISTA LER CONCEPÇÃO E PESQUISA

Alexandre Leite e Sandra Salgado (Biblioteca Geral) PROJETO GRÁFICO

Kiki Milan e Juliana Lopes (Casa Vera Cruz) EDIÇÃO DE TEXTO

Priscila Pires e Renata Blois (Comunicação) REVISÃO DE TEXTO

Iara Arakaki e Laís Alcantara (Casa Vera Cruz)


Sumário Apresentação......................................................................... 5 O lugar do negro na literatura brasileira................................... 6 Processo histórico.................................................................... 7 A inserção de personagens negros na literatura infantojuvenil...... 9 Fontes.................................................................................. 12 Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz: Personagens

negras como protagonistas ........................................... 14

Agradecimento pelas doações................................................ 23



Apresentação Como os personagens negros são apresentados nos livros de ficção, seja no texto escrito ou nas ilustrações? Qual é a cor predominante dos heróis e das heroínas? Os livros silenciam, marginalizam ou contemplam positivamente a imagem, a história e a cultura da população negra? Quais são os motivos das diferenças existentes entre as representações dos personagens negros e dos brancos? Há personagens negros presentes na memória dos leitores? Na literatura brasileira, o personagem negro ocupa um lugar menor. Os brancos somam quase 4/5 dos personagens, com uma frequência cerca de dez vezes maior que os negros. Em 56,6% dos romances, não há nenhum personagem não branco. A partir da compreensão da importância de divulgar uma literatura que apresente a subjetividade de personagens negros e negras para reflexões sobre a subjetividade de indivíduos que compõem a maioria da população brasileira — de acordo com os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgados em novembro de 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, o Sistema de Bibliotecas Vera Cruz dedica o 12o número da revista Ler à cor dos personagens na literatura brasileira. Nas próximas páginas, tratamos sobre o lugar que o negro ocupa na nossa literatura, com destaque para dados históricos e para a situação na literatura infantojuvenil. Em seguida, apresentamos uma lista de publicações em nosso acervo protagonizadas por personagens negros. Por fim, destacamos e agradecemos as doações recebidas nos meses de junho a setembro de 2018. Navegue pelas páginas da nova edição da revista Ler, uma homenagem mais que merecida, preparada especialmente para nossos leitores no mês da consciência negra. Boa leitura!

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O lugar do negro na literatura brasileira De acordo com uma pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília, coordenada pela professora Regina Dalcastagnè, entre 2004 e 2014, apenas 4,5% dos personagens negros retratados nos romances eram protagonistas. Mais que a ausência de negros no romance brasileiro, chama atenção a forma como eles são retratados: ainda segundo o estudo, que analisou 549 livros de 3.014 autores diferentes, entre 1990 e 2004, as cinco principais ocupações dos personagens negros eram bandido, empregado doméstico, escravo, profissional do sexo e dona de casa. No cenário atual da literatura brasileira, essas parecem ser praticamente as únicas possibilidades de existência dos negros dentro de um conjunto imenso de representações literárias. Nas obras analisadas, há repetição de papéis estereotipados e pouco destaque para esses personagens – são muito mais coadjuvantes que protagonistas –, além de raríssima ocorrência de narradores negros. Falta à literatura brasileira contemporânea incorporar as vivências, os dramas, as opressões e, também, as fantasias, as esperanças e as utopias dos grupos sociais marginalizados, sejam eles definidos por raça e cor, classe, gênero, orientação sexual ou qualquer outro critério. Em relação à personagem negra na literatura brasileira, salienta-se a construção da figura da mulata, que se tornou a representação estereotipada da mulher negra brasileira no imaginário social. Ela é considerada objeto de desejo e prazer, dotada de uma irresistível sensualidade, que atende aos ímpetos sexuais dos homens, sendo, em geral, subjugada e inferiorizada. Trata-se de uma personagem recorrente, que, além de hipersexualizada, é, muitas vezes, apresentada como mulher serviçal. “É o racismo que distorce nossas relações, que dificulta a presença, a visibilidade e a valorização dos negros em todas as instâncias de representação”, avalia Regina Dalcastagnè. “E a literatura pode reforçar, e mesmo legitimar, o discurso racista, replicando sua ideologia, vinculando as múltiplas experiências dos negros exclusivamente à violência e à criminalidade. Escrever e ler protagonistas negros é algo que influencia leitores, mostra que negros também têm condições de realizar feitos significativos e que existe a chance de romper com a narrativa racista que ainda domina a sociedade.” À medida que a negritude vem batalhando por protagonismo na sociedade brasileira, a representatividade negra busca, com muito esforço, visibilidade no mercado editorial, na

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mídia e na publicidade. Ela é fundamental para a construção de uma identidade positiva daqueles que sofrem com o racismo, com o preconceito. Livros que apresentam diversidade de seres humanos e subjetividades inspiram leitores a buscarem uma sociedade mais justa e democrática.

Processo histórico A figura do negro na literatura brasileira anterior a 1850, antes do fim do tráfico de escravos, praticamente inexiste, o que é surpreendente, se for considerado o papel diário desempenhado pelos negros escravizados em muitas atividades nessa época. Esse silenciamento pode ser explicado sob a ótica de que o escritor brasileiro não considerava o negro escravizado um ser humano. Além disso, é possível que a maior parte dos escritores tenha surgido em função dos senhores de escravos ou dependido do amparo das instituições escravocratas. Com o fim do tráfico, os escritores brasileiros voltaram sua atenção aos negros escravizados, em particular a como eram tratados. Em 1856, surge a primeira obra com a temática da escravidão da população negra: O comendador, romance de Pinheiro Guimarães publicado no periódico Jornal do Comércio, de 20 de abril a 29 de maio de 1856. No período romântico (1836-1881), o projeto político dos escritores brasileiros estava voltado para a construção da identidade nacional, e o espírito nacionalista de independência e liberdade passou a ser representado pelos literatos na imagem do indígena. No final da fase indianista, dentro da tendência romântica, aparece o negro, mas apenas para contracenar com o indígena. Este era, por natureza, corajoso e profundamente orgulhoso de sua independência, enquanto o negro era de índole escrava, humilde e resignado, como no romance Til (1872), de José de Alencar. Com o início do movimento abolicionista, surge a primeira heroína escravizada na publicação A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães (1875). No entanto, embora a personagem fosse mulata, ela foi descrita com características físicas de uma mulher branca, como mostra o trecho a seguir: “A tez era como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada”. Castro Alves, considerado o escritor mais ilustre da causa abolucionista no Brasil, também reproduziu o mito europeu que considerava a África um continente desafortunado e

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abandonado pela civilização. Mesmo outros escritores que se dedicaram aos problemas da escravidão, como o já citado Bernardo Guimarães e ainda Fagundes Varela, reforçaram preconceitos e intolerâncias que rodeavam a questão da raça e da cor. A fase naturalista/realista (1881-1883) da literatura brasileira é inaugurada com O mulato (1881), romance de Aluísio Azevedo em que o negro é, pela primeira vez, o personagem principal. A obra denuncia o preconceito racial e a estreiteza do horizonte que dominam o meio provinciano e que impedem o protagonista Raimundo, um rapaz negro, de se casar com uma moça branca da sociedade local. O rapaz termina assassinado, e a moça casa-se com um português. Para pôr a nu o preconceito, o autor descreve o rapaz como um mulato fino, educado bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, procurando demonstrar que, mesmo com todo o prestígio social e intelectual, o negro continuava sendo alvo de discriminação pela cor da sua pele. A presença de personagens negros foi abundante na literatura brasileira no final dos anos 1800, mas a maioria dos escritores continuou a reforçar estereótipos claramente racistas e com exagerado tom sensual. Destacam-se dentre os principais romances e escritores abolicionistas: Bom crioulo (1885), de Adolfo Caminha; A carne (1888), de Júlio Ribeiro; O mulato (1881) e O cortiço (1890), de Aluízio de Azevedo. Avançando na cronologia, no início do século 20, destaca-se a obra Rei Negro (1914), de Coelho Neto, que entroniza, em pleno regime escravocrata, Macambira, um escravo de sangue azul. É também o século de Macunaíma, de Mário de Andrade, que nasce indígena/negro e se torna branco no deslocamento da selva para São Paulo. Na década de 1930, surgiram protagonistas afro-brasileiros: Antônio Balduíno, figura central de Jubiabá (1935), romance de Jorge Amado, e o moleque Ricardo, do livro homônimo de José Lins de Rego (1935). Outros exemplos são Xica da Silva, os negros, mulatos e mulatas de Jorge Amado e os personagens de João Ubaldo Ribeiro. Destaca-se também Damião, em Os tambores de São Luís (1975), protagonista de Josué Montello, que apresenta a ideia da mestiçagem como resolução de conflitos e apagamento das diferenças. Ao final do século 20, ainda se vê um embranquecimento da literatura brasileira. No entanto, a literatura afrodescendente se afirma cada vez mais, expressando de diversas formas a positividade das pessoas, revisitando a história, celebrando os ancestrais e as divindades das religiões de matriz africana e denunciando a discriminação racial contemporânea, sem deixar de tratar de temas universais. Muitas obras de escritores 8


contemporâneos afrodescendentes transitam em circuitos alternativos. Esses autores pretendem atingir mais visibilidade para formar um público leitor que se identifique com essas obras. O negro que nelas se apresenta é outro.

A inserção de personagens negros na literatura infantojuvenil No caso da literatura infantojuvenil, a ausência de personagens negros que ultrapassam os papéis estereotipados limita as possibilidades imaginativas das crianças e faz com que elas se tornem adultas sem referências positivas da negritude. Para aquelas pessoas que convivem com pessoas negras, o referencial passa a ser os personagens da vida real: a avó inteligente, a mãe corajosa e o pai que é sensível e ajuda as pessoas. Mas para quem não possui essas referências, nunca ver pessoas negras associadas a conquistas positivas, capacidades admiráveis e enredos inspiradores é algo que colabora ainda mais para a internalização e perpetuação da não valorização da população negra brasileira. Em meio a um universo de lindas princesas de pele branca como a neve, como é inserida a imensa riqueza e beleza das culturas africanas na literatura infantil? Como têm sido contadas as histórias da África? Quais são a importância e o papel dos educadores nesse contexto? A inserção de personagens negros na literatura para crianças e jovens ocorreu nas décadas de 1920 e 1930. No entanto, em nenhuma das representações desses personagens os traços da cultura africana eram ressaltados ou citados de forma positiva. Em geral, eles eram retratados de modo pejorativo, como ignorantes – evidenciava-se o fato de não saberem ler –, ingênuos e subalternos. Desde 1975, os personagens negros nas histórias infantis passam a figurar com mais frequência, numa tentativa de alguns autores introduzir o público desse segmento editorial a assuntos até então não debatidos pela sociedade – muito menos por crianças e jovens –, como o preconceito racial. A partir da década de 1980, alguns livros iniciam o que mais tarde viria a ser uma ruptura com as antigas formas de inserir o negro e seus traços culturais nas narrativas. Começam a entrar em cena a relutância em aceitar a discriminação, a necessidade de buscar uma identidade cultural até então negada, a possibilidade de exercer diferentes papéis na sociedade e de possuir uma cultura que deva ser valorizada. No que se refere

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às novas formas de representação da negritude na literatura infantojuvenil, destacam-se os seguintes pontos: inserção de traços e símbolos da cultura afro-brasileira, da capoeira, da dança e dos mecanismos de resistência; valorização da mitologia e das religiões de matriz africana como forma de ressignificação da ancestralidade e da tradição oral; e ilustrações mais diversificadas. Os livros que trazem histórias da África a esse público ganham mais espaço no mercado editorial, com uma nova forma de apresentar o continente africano. Estudiosos do tema apontam que há um longo caminho a ser percorrido para atingir algo muito maior: é preciso que as crianças negras vejam e sejam vistas com outro olhar, que sintam orgulho da imensa riqueza cultural que carregam. Dentre títulos diversos que costumam ser destacados por estudiosos do tema, há inúmeros presentes nos acervos do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz. Citamos alguns deles: As tranças de Bintou, de Sylviane Anna Diouf – Este livro conta a história de Bintou, uma menina negra que não se contenta com seus birotes no cabelo e sonha usar tranças como sua irmã mais velha. A história é contada a partir de um contexto cultural específico: a passagem da infância para a adolescência.

Bruna e a galinha d’Angola, de Gercilga Almeida – A obra retrata o universo mítico africano representado pela Galinha d'angola e sua relação com a criação do universo.

Chuva de manga, de James Rumford – O Chade é um país que fica no centro do continente africano. Seu povo vive uma realidade diferente e, ao mesmo tempo, próxima do nosso coração brasileiro. Há terras secas e alguns momentos de fertilidade, no solo árido – uma bênção da água que cai do céu. A leitura aproxima os povos. Por meio do dia a dia do menino Tomás, os leitores poderão imaginar o que é esperar pela chuva, fazer um carrinho de lata e apreciar os frutos da terra generosa, que nos oferece a alegria de saborear e cheirar uma manga dourada. Escola de chuva, de James Rumford – É o primeiro dia de aula em Kelo, no Chade, país da África. As crianças caminham pela estrada. “Vou ganhar um caderno?”, pergunta Tomás. “Vou ganhar um lápis? Vou aprender a ler como vocês?”. Mas quando ele e as outras crianças chegam à escola, não há sala de aula nem carteiras. Apenas uma professora. “A primeira lição é construir a nossa escola”, diz ela.

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Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado – Uma linda menina negra desperta a admiração de um coelho branco, que deseja ter uma filha tão pretinha quanto ela. Cada vez que ele lhe pergunta qual o segredo de sua cor, ela inventa uma história. O coelho segue todos os “conselhos” da menina, mas continua branco.

Nó na garganta, de Mirna Pinsky – Tânia tem 10 anos. Seus pais decidiram trocar a vida pobre e difícil da cidade grande por uma nova oportunidade no litoral, e ser caseiros na casa de dona Matilde. No novo ambiente, Tânia aprende e inventa novas brincadeiras, faz novos amigos e sofre muito preconceito pelo fato de ser negra. Ao mesmo tempo, nasce dentro dela uma consciência até então desconhecida, uma vontade de mostrar às pessoas sua verdadeira personalidade.

O menino marrom, de Ziraldo – É a história de um menino marrom, mas que fala também de um menino cor-de-rosa. São dois perguntadores inveterados que querem descobrir juntos os mistérios das cores: “Quem inventou que o contrário de preto é branco?”, “Se um de nós é marrom e outro não é exatamente branco, por que nos chamam de preto e branco?”. São muitas as perguntas, e muitas serão as descobertas.

Os tesouros de Monifa, de Sonia Rosa – O livro fala do encontro de uma brasileirinha afrodescendente com sua tataravó, Monifa, que chegou ao Brasil de lá do outro lado do oceano, em um navio negreiro. Mesmo escrava, aprendeu a escrever e, por meio das letras que aprendeu, deixou “Para os meus filhos e os filhos dos meus filhos!” o maior de todos os tesouros que alguém pode herdar. Passado de geração em geração, chega o dia desse tesouro ir para as mãos da garotinha, que se encanta e se emociona muito ao receber tamanha preciosidade e, com ela, descobrir a vida da sua tataravó e as suas próprias raízes.

Obax, de André Neves – Quando o sol acorda no céu das savanas, uma luz fina se espalha sobre a vegetação escura e rasteira. O dia aquece, enquanto os homens lavram a terra e as mulheres cuidam dos afazeres domésticos e das crianças. Ao anoitecer, tudo volta a se encher de vazio, e o silêncio negro se transforma num ótimo companheiro para compartilhar boas histórias.

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Tanto, Tanto!, de Trish Cooke – Uma divertida família se reúne para fazer uma festa-surpresa. Enquanto esperam o aniversariante, todos os parentes querem agarrar e beijar o bebê da casa e brincar com ele.

Bia na África, de Ricardo Dreguer – Bia é filha de uma diplomata e viaja com a mãe por diferentes partes do mundo: África, Europa, Ásia etc. Nessas viagens, ela conhece muitas das influências que outros países trouxeram para o Brasil. Prepare suas malas e viaje com a Bia para a África. Conheça o Egito e o Quênia e more com ela em Angola!

Fontes ARRAES, Jarid. A importância de protagonistas negras na literatura. Revista Fórum, Porto Alegre, 20 ago. 2015. Disponível em: <https://www.revistaforum.com.br/importancia-de-protagonistas-negras-na-literatura/>. Acesso em: 5 set. 2018. BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. (Série Novas Perspectivas, 7). CARVALHO, Aline. O lado negro da história: a trajetória do negro na literatura infantil e juvenil brasileira. Cartografias da Infância, 12 fev. 2016. Disponível em: < https://cartografiasdainfancia.wordpress.com/2016/02/12/o-lado-negro-da-historia-a-trajetoria-dos-personagens-negros-na-literatura-infantil-e-juvenil-brasileira/>. Acesso em: 20 set. 2018. CASTILHO, Suely Dulce. A representação do negro na literatura brasileira: novas perspectivas. Olhar de Professor, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p. 103-113, 2004. Disponível em: <http://www.redalyc.org/html/684/68470108/>. Acesso em: 5 set. 2018. DALCASTAGNÈ, Regina. Entre silêncios e estereótipos: relações raciais na literatura brasileira contemporânea. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, n. 31, p. 87-110, jan.-jun. 2008. Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index. php/estudos/article/view/2021/1594>. Acesso em: 5 set. 2018. 12


DALCASTAGNÈ, Regina. A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 19902004. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, n. 26, p. 13-17, jul.-dez. 2005. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/7380/1/ ARTIGO_PersonagemRomanceBrasileiro.pdf>. Acesso: 5 set. 2018. DUARTE, Eduardo de Assis. O negro na literatura brasileira. Navegações, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 146-153, jul./dez. 2013. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/navegacoes/article/viewFile/16787/10936> . Acesso em: 5 set. 2018. GOUVÊA, Maria Cristina Soares. Imagens do negro na literatura infantil brasileira: análise historiográfica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 84, jan.-abr. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n1/a06v31n1.pdf. Acesso em: 20 set. 2018. LICHOTE, Leonardo. Estudo sobre romances brasileiros aponta uma pequena presença de personagens negros. O Globo, Rio de Janeiro, 18 abr. 2015. Caderno Livros. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/cultura/livros/estudo-sobre-romances-brasileiros-aponta-pequena-presenca-de-personagens-negros-15909151>. Acesso em: 5 set. 2018. MONTEIRO, Thais. Consciência negra: onde estão os protagonistas negros na literatura infantojuvenil? Beco Literário, 30 nov. 2016. Disponível em: <https://becoliterario.com/consciencia-negra-onde-estao-os-protagonistas-negros-na-literatura-infanto-juvenil/>. Acesso em: 20 set. 2018. RABASSA, Gregory. O negro na ficção brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965. (Biblioteca de Estudos Literários, 4).

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Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz: Personagens negras como protagonistas MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2015. 300 p. (A Obra-Prima de Cada Autor). Resumo: O livro, publicado em 1869, traz três novelas que contam histórias de escravizados que se tornaram um pesadelo na vida de seus donos. Nas tramas, os senhores são evidenciados como vítimas dos servos que tomam atitudes cruéis e cometem crimes contra eles. O livro é um raro exemplo de romance abolicionista no qual os escravos são os vilões. Caracteriza-se como romance de tese, uma vez que o autor tenta provar, por meio de três situações, que a condição de escravizado tornava o negro um indivíduo cruel e desumano, perigoso para o convívio social e para o bem-estar de seus senhores, por mais bondosos que eles fossem. Teve repercussão negativa em sua época. GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. 4. ed. São Paulo: FTD, 1998. 160 p. (Grandes Leituras). Resumo: O livro, escrito em 1875, narra a atribulada história de amor entre um abolicionista exaltado e uma escrava branca, filha de um português com uma escrava negra. De caráter nobre, inteligente e dotada de natural bondade, Isaura foi criada como filha pela família que a possuía. Mas, com a morte da matriarca, fica à mercê de seu filho, o cruel e inescrupuloso Leôncio. Nas aventuras de Isaura para escapar do cativeiro, Bernardo Guimarães apresenta a situação do escravo no Brasil, às vésperas da abolição.

AZEVEDO, Aluísio. O mulato. 20. ed. São Paulo: Ática, 2003. 248 p. (Bom Livro). Resumo: Rica em temas e subtemas, como a crítica ao provincianismo, ao preconceito racial, à escravidão e, sobretudo, à ação nefasta do clero na sociedade, a obra narra a história de Raimundo, o mulato que dá nome ao livro. Na conservadora São Luís do Maranhão, de fins do século 19, o amor proibido entre Ana Rosa, uma jovem branca, e Raimundo sofre o preconceito de uma sociedade hipócrita, que não conhece limites para proteger a situação estabelecida. Publicado em 1881, o romance inaugura o movimento naturalista no Brasil.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Hedra, 2013. 348 p. (Clássicos na Escola). Resumo: Publicada em 1890, a obra recria a realidade dos agrupamentos humanos, sujeitos à influência da raça, do meio e do momento histórico. O predomínio dos instintos no comportamento do indivíduo, a força da sensualidade da mulher mestiça, o meio como fator determinante do comportamento são algumas das teses naturalistas defendidas pelo autor ao lado de fortes denúncias sociais. O protagonista do romance é o próprio cortiço, onde se acotovelam lavadeiras, trabalhadores de pedreira, malandros e viúvas pobres tentando superar a marginalização que a sociedade lhes impõe.

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CAMINHA, Adolfo. Bom crioulo. São Paulo: Hedra, 2009. 160 p. (Erótica). Resumo: "Bom crioulo" (1895) é uma das obras mais controvertidas e censuradas da literatura brasileira. A história conta a vida, no século 19, de um escravo negro foragido chamado Amaro que, sem escolhas, passa a trabalhar em navios. Sem experiências sexuais até os 30 anos, em uma de suas viagens apaixonase perdidamente por Aleixo, um jovem de olhos claros, pele branca e beleza andrógina. Este amor repentino o faz mudar de vida. Tudo era um lindo sonho até Amaro ser intimado a trabalhar em uma embarcação. Longe de seu amor, sua mente é invadida por um ciúme mortal e doentio.

BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Introdução de Alfredo Bosi. 2. ed. São Paulo: Penguin, Companhia das Letras, 2010. 312 p. Resumo: Mais de cem anos depois da 1ª edição, em 1909, esta obra não poderia ser mais atual. Ambientado no Rio de Janeiro do começo do século 20, o livro de estreia de Lima Barreto narra a história de um negro, culto e inteligente que, embora tenha todos os atributos para ser inserido na sociedade, é massacrado pelo preconceito racial. Na primeira parte do livro, o autor explora o preconceito sofrido pelos negros e mestiços após o período da abolição, já na segunda parte, a imprensa é retratada de forma tirana, parcial, corrupta e hipócrita.

COELHO NETO. Rei negro. Rio de Janeiro: Batel, 2011. 196 p. Resumo: Neste romance, publicado em 1914, a beleza absoluta da natureza confunde-se com o horror e a perversidade do ser humano na figura de senhores de escravos que humilham seus semelhantes de forma atroz. Eis a história de Macambira, um negro escravo que sonha com sua real linhagem que ficara na África e que sofre ao ver os de sua raça acorrentados, sob o severo jugo dos brancos.

BARRETO, Lima. Clara dos anjos. São Paulo: Escala Educacional, 2006. 150 p. (Nossa Literatura). Resumo: O preconceito racial, que Lima Barreto conheceu por experiência própria, é o tema deste romance, concluído pouco antes da morte do autor, em 1922. Conta a trajetória de uma jovem pobre e sonhadora que, devido à sua cor e condição social, experimenta a dor e a humilhação de ser discriminada. Nascida no subúrbio, Clara é seduzida pelo dom-juan Cassi Jones. Passa o tempo e descobrese que a moça está grávida, e Cassi foge. Clara vai à casa de Cassi esperando “reparação”, mas é maltratada pela mãe do rapaz. Então se dá conta de sua posição na sociedade: mulher, pobre e negra.

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LOBATO, Monteiro. Negrinha. 2. ed. São Paulo: Globo, 2009. 212 p. Resumo: Publicado em 1923, Negrinha compõe um painel que vai da farsa à tragédia, do sarcasmo à compaixão, passando pelo drama pungente da filha de uma ex-escrava negra. Os personagens dos 17 contos são um retrato da população brasileira das décadas iniciais do século 20. Por meio deles, Lobato denuncia e desnuda os bastidores de uma sociedade patriarcal que deixa entrever os vestígios de uma persistente mentalidade escravocrata, mesmo décadas após a abolição.

AMADO, Jorge. Suor. São Paulo: Martins, [s.d.]. 348 p. Resumo: A obra, publicada em 1934, mostra o cotidiano dos moradores de um prédio na ladeira do Pelourinho. Imersos na lógica do lucro e subjugados pelo sistema capitalista, as condições de exploração e falta de direitos dos trabalhadores são mostradas de forma explícita, refletindo-se nos salários que ganham, na parca alimentação e nas habitações em péssimas condições de higiene. O livro reúne várias narrativas curtas, organizadas por temas, como o capítulo dedicado a Henrique, trabalhador braçal negro, no qual é narrada a sua história de menino pobre nas ruas de Salvador.

AMADO, Jorge. Jubiabá. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 360 p., il. Resumo: Esse romance de Jorge Amado, tem como protagonista Antônio Balduíno, menino negro pobre nascido no morro do Capa-Negro, em Salvador. Ao longo do romance, acompanhamos as diferentes fases de sua vida: quando vivia nas ruas, ainda criança, cometendo pequenos delitos; agregado na casa de um comendador; malandro; boxeador; trabalhador nas plantações de fumo; artista de circo; e estivador. Publicado em 1935, quando o autor tinha apenas 23 anos, “Jubiabá” constitui um verdadeiro romance de formação e trata de um dos temas mais caros ao escritor, a força da cultura afro-baiana contra a opressão política e as injustiças sociais. AMADO, Jorge. Mar morto. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 272 p. (Companhia de Bolso). Resumo: Escrito em 1936, a obra sintetiza o mundo pulsante do cais de Salvador, com a rica mitologia que gira em torno de Iemanjá, a rainha do mar. Tendo a Bahia como cenário e picantes casos de amor como assunto, o autor cria histórias em que o povo comum é elevado à categoria de herói com toques românticos. Assim, Mar morto é a história dos velhos marinheiros que remendam velas, dos mestres dos saveiros, dos negros tatuados e dos malandros. Personagens como o jovem mestre de saveiro Guma parecem prisioneiros de um destino traçado há muitas gerações: o dos homens que saem para o mar e que um dia serão levados por Iemanjá, deixando mulher e filhos a esperar, resignados. Mas, nesse mundo aparentemente parado no tempo, há forças transformadoras em gestação.

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AMADO, Jorge. De como o mulato Porciúncula descarregou seu defunto. Ilustrado por Andrés Sandoval. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 80 p., il. Resumo: Obra-prima dentre as narrativas breves de Jorge Amado, foi publicado originalmente na revista Senhor, em 1959, e editado em livro apenas em 2004, numa coletânea de contos. Narrada como conversa de bar, conta, a rigor, duas histórias. Uma oculta, a do taciturno Gringo, que mesmo depois de beber litros de cachaça não se dispunha a falar sobre a morte que carregava nas costas, segundo diziam. E a outra, que se desvela aos poucos, a do amor platônico entre o mulato Porciúncula e Maria do Véu, prostituta obcecada por casamentos que ele conhece em Salvador e que havia sido expulsa de casa a pauladas, aos quinze anos, depois de perder a virgindade com o filho de um coronel. AMADO, Jorge. Os pastores da noite. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 308 p., il. Resumo: O casamento de Martim e Marialva provoca rebuliço na cidade da Bahia. O menino Felício é batizado em uma igreja católica do Pelourinho, mas tem como padrinho uma divindade negra, o orixá Ogum. A ocupação do morro do Mata Gato obriga os moradores a enfrentarem o proprietário inescrupuloso e a polícia. O romance, de 1964, é formado por três episódios independentes, mas que guardam relação profunda entre si e personagens em comum. Em tela, os aspectos fundamentais da existência negro-mestiça na cidade de Salvador e seu Recôncavo, onde os limites entre o convívio harmonioso e o conflito aberto são definidos diariamente. Em meio ao povo simples da Bahia, a solidariedade e a miscigenação são elementos que se refletem na amizade, no amor, na religião e no lugar onde se vive. AMADO, Jorge. O compadre de Ogum. Posfácio de Reginaldo Prandi. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 104 p. Resumo: Depois de longa ausência, a prostituta Benedita aparece com um bebê nos braços e, antes de desaparecer de novo, entrega-o ao negro Massu, que ela alega ser o pai da criança. Trabalhador braçal e muito popular na comunidade do Pelourinho, Massu precisa batizar o menino antes que complete um ano. Escolhida a igreja e a madrinha, resta o problema maior: eleger o padrinho da criança. Para não melindrar nenhum amigo, Massu consulta os orixás, e o próprio Ogum decide ser o padrinho. A situação põe em polvorosa a comunidade boêmia de Salvador. Publicado originalmente em 1964, como um dos relatos de Os pastores da noite. CAMARGO, Oswaldo de. A descoberta do frio. Cotia: Ateliê Editorial, 2011. 120 p., il. Resumo: Publicada em 1979, essa novela trata de uma praga que assola a população negra em pleno verão de uma grande cidade, o “frio” que se cobre de diferentes camadas: racismo, indiferença e desigualdades. Oswaldo de Camargo traz para a ficção as tensões de uma sociedade fracionada entre passado escravista e presente veladamente racista, marcada por uma memória de lutas e sofrimentos a todo instante atualizados. A obra polemiza com nossos mitos fundadores, como a alegada “democracia racial”, a fim de colocá-los contra a parede da dura realidade que mostra ao leitor.

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RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 704 p. Resumo: O romance histórico de João Ubaldo Ribeiro, publicado em 1984, é considerado uma das mais importantes obras da literatura brasileira. Apresenta histórias inspiradas nas raízes do povo brasileiro, tendo como personagens negros e indígenas, portugueses e holandeses. Porém, o livro não se trata de uma exaltação à história brasileira, e sim uma recontagem crítico-satírica dela, denunciando a devassidão presente no processo de formação do povo. A narrativa percorre quatro séculos da história do Brasil. Em suas páginas, vemos da chegada dos holandeses à Bahia, no século 17, até os anos 1970, representados ficcionalmente. O enredo, criado sob a perspectiva do negro, do indígena e de seus descendentes, abrange a história de várias personagens, destacando os negros escravizados, isto é, os excluídos do processo de formação da identidade nacional. LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 406 p. Resumo: Em seu romance de estreia, Paulo Lins faz um painel das transformações sociais pelas quais passou o conjunto habitacional Cidade de Deus no Rio de Janeiro: da pequena criminalidade da década de 1960 à situação de violência generalizada e de domínio do tráfico de drogas dos anos 1990. O romance apresenta ao leitor fortes traços culturais de um povo predominantemente negro, cultuador da umbanda e do candomblé, devoto de São Jorge, amante do Carnaval e dos ritmos brasileiros; tradicionalmente frequentador de clubes e bares, da praia do fim de semana, da culinária associada às “comidas fortes” e ao consumismo popular por influência da mídia. RIBEIRO, João Ubaldo. O feitiço da ilha do Pavão. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2010. 268 p. Resumo: Uma ilha isolada no Recôncavo baiano, no tempo do Brasil colônia. É nesse cenário em que se passa a trama, uma fantasia em torno da nossa história, que envolve feitiçaria, Inquisição e mistérios. Os personagens: a população da ilha, formada por indígenas aculturados, negros escravizados e libertos, brancos que enriqueceram com o tráfico negreiro, apátridas e um quilombo subvertido em reino tirânico. Uma aventura literária, utilizada pelo autor para mostrar algumas vertentes da formação do caráter do povo brasileiro. Publicado originalmente em 1997. FULANO DE TAL, Luís. A noite dos cristais: novela. São Paulo: Editora 34, 1999. 128 p. Resumo: A obra conta a história do negro Gonçalo, um brasileiro que nasceu na primeira metade do século 19. Gonçalo convivia com Diogo, o galego, filho do dono da casa, contando os navios negreiros que chegavam e partiam da Baía de Todos-os-Santos. Em janeiro de 1835, estoura uma rebelião de escravos: a chamada Revolta dos Malês. Dois mil negros encontram seu destino sob a repressão – mortos ou enviados às galés. Para pagar as perdas do Império, Gonçalo é vendido como escravo para um engenho em Pernambuco. A vida na senzala é o outro grande painel do livro. Escravo por dez anos, Gonçalo foge para a Guiana, onde inicia um manuscrito com suas memórias que, muitos anos depois, é encontrado por um estudante brasileiro.

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EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza, 2003. 128 p. Resumo: O livro narra a trajetória de uma descendente de escravos negros em suas dificuldades e angústias. Ela vive com os pais até o momento em que decide pegar o trem e ir para a cidade grande em busca de uma vida melhor. O romance é um exemplo da literatura afro-brasileira contemporânea. Evaristo relata a vida de uma menina negra e pobre, moradora da zona rural, até sua precoce maturidade, como uma espécie de romance de formação feminino e negro. A ação do enredo é composta pela busca de identidade em meio a desastres familiares, recuperados pela memória. A narrativa acompanha a evolução da protagonista pelos episódios de perda, desencontro e ausência familiar e cultural, que marcam sua trajetória. FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. 110 p. Resumo: Tendo como inspiração autores clássicos brasileiros como Cruz e Sousa, Lima Barreto e Jorge de Lima, Marcelino Freire trata, nesta obra, publicada em 2005, de temas delicados e polêmicos como racismo, turismo sexual, tráfico de órgãos e homossexualidade. A paisagem urbana é o cenário principal de seus cantos (contos). Alguns cenários de importantes centros urbanos, como Recife e São Paulo, como as zonas de prostituição, morros, favelas e pontos turísticos, tornamse palcos para a exposição de uma realidade complexa e miserável, vivida por prostitutas, “bichas”, negros, indígenas, além de abrigar traficantes de órgãos e de drogas, e turistas sexuais. GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. 16. ed. Rio de Janeiro: Record, 2017. 952 p. Resumo: Kehinde, africana que chegou ao Brasil escravizada, é a narradora dessa obra, publicada originalmente em 2006. No livro, ela conta em detalhes a sua captura, a vida como escrava na Ilha de Itaparica, na Bahia, os seus amores, as desilusões e sofrimentos e as viagens pelo Brasil em busca de um de seus filhos e de sua religiosidade. A obra reconstrói os modos de vida dos africanos, portugueses e brasileiros no tempo da escravidão, revela como os escravos negros professavam, escondidos, as suas diferentes religiões, dependendo da origem de cada um, e como se organizaram para sobreviver e lutar pela liberdade no país. Os negros são protagonistas dessa saga, que mostra como Kehinde conseguiu a sua carta de alforria e, na volta para a África, se tornou uma empresária bem-sucedida, apesar de todos os percalços e aventuras pelas quais passou. EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Rio de Janeiro: Pallas, 2017. 200 p. Resumo: no romance memorialista, publicado em 2006, deparamos com vários personagens verossímeis, moradores de uma favela que está para acabar. Nesse cenário, conhecemos histórias como a de Vó Rita, parteira e mulher respeitada por sua sabedoria e experiência, que agora cuida da misteriosa personagem Outra, que não recebe nome, mas é muito citada na narrativa da menina Maria Nova, adolescente negra que, curiosa, adora ouvir histórias. Personagens como Bondade, Tio Totó, Maria Velha e Ditinha surgem aos poucos da memória de Maria Nova, oferecendo ao leitor histórias sutis e ao mesmo tempo violentas e reais. Ao colocar em primeiro plano o sentimento do favelado que perde seu espaço, a narrativa de Conceição Evaristo se projeta nos dias de hoje como reflexão sobre a presença do negro na construção do país e da própria formação da identidade brasileira.

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Revista Ler novembro

LEAL, Marconi. Tumbu. Ilustração de Dave Santana e Maurício Paraguassu. São Paulo: Editora 34, 2007. 192 p., il. (Infantojuvenil). Resumo: Como seria a vida de um escravo no Brasil colonial? Na obra, Marconi Leal conta a história de um garoto africano que atravessa o oceano Atlântico escondido em um navio para tentar encontrar os seus pais, raptados e vendidos a traficantes negreiros por uma tribo rival. Inocente, mas também inteligente e audacioso, Tumbu não fazia ideia dos sofrimentos e das aventuras que viveria em solo brasileiro. Narrado pelo próprio personagem, o romance trata da escravidão negra e da vida na colônia portuguesa do ponto de vista de um menino negro, retratando, com originalidade e poesia, um dos momentos mais importantes, e terríveis, de nossa história. SANTOS, Joel Rufino dos. Bichos da terra tão pequenos: romance. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 208 p. Resumo: O livro, cuja narrativa apresenta a questão do racismo de forma pungente, traz a saga de Camilo, um brasileiro, pobre e negro, como muitos que se conhecem no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro. Camilo é a síntese de suas próprias vocações, vontades e decisões misturadas à influência das circunstâncias impostas pelo ambiente ao seu redor. Usando sua veia de historiador, Joel Rufino dos Santos reproduz com exatidão o cenário da narrativa: o morro do Urubu, no subúrbio carioca de Tomás Coelho. É na comunidade que a história de Camilo/Vinquinho/ Sapo se entrelaça com a de outros personagens, pessoas comuns que vivem uma rotina melancólica e, por vezes, violenta. LOPES, Nei. Oiobomé: a epopeia de uma nação. Rio de Janeiro: Agir, 2010. 224 p. Resumo: Oiobomé é um país fictício fundado no fim do século 18 pelo ex-escravo negro Domingo Vieira dos Santos, que, a partir do subúrbio carioca, chegou às terras do Grão-Pará fugindo de represálias por seu suposto envolvimento com os inconfidentes de Vila Rica. Decidido a formar o Estado perfeito, no qual não há criminalidade e a taxa de analfabetismo é igual a zero, Dos Santos se lança numa aventura sem limites em busca de seu ideal. Em sua epopeia, enfrentará moinhos para inventar uma nova cultura. Esse é só o começo da história de Oiobomé, o terceiro país a se tornar independente nas Américas e por onde desfilam personagens reais da história e outros tantos criados pela imaginação de Nei Lopes. BARBOSA NETO, Jacy do Prado. Terra sem mal. São Paulo: Planeta, 2013. 336 p. Resumo: Brasil do século 19, rico em matizes, paleta de furta cor. Flores, frutos, deuses, pássaros, pedras, instrumentos, tecidos. E rituais, canções e crenças tanto indígenas quanto africanas. Nesse cenário, dois personagens – a ex-escrava negra Júlia e o indígena Ararê – partem numa longa jornada em busca de um paraíso mítico dos índios guaranis ("para onde se pode ir sem precisar morrer"). Durante a viagem os personagens, de muitas formas, adquirem conhecimentos, refinam os sentidos, educam o espírito e desenvolvem potencialidades, tornando-se mais sábios e senhores de seu destino. No livro, o escritor Jacy do Prado Barbosa Neto convida o leitor a navegar num mundo de mitos, magia e sobretudo de muitas descobertas de um Brasil que se reflete e se reconhece por meio da história de personagens como Júlia e Ararê.

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EVARISTO, Conceição. Olhos d'água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014. 116 p. Resumo: Nos 15 contos que enfeixam o livro, a temática está relacionada às agruras diárias e excludentes pelas quais passam os afro-brasileiros. Nessas narrativas, ainda que existam alguns protagonistas masculinos, a ênfase centra-se em personagens femininas. Estão presentes mães, muitas mães. Também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a condição humana. Sem quaisquer idealizações, nessa obra, são recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira. SANCHES NETO, Miguel. A segunda pátria. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015. 320 p. Resumo: Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas resolve se aliar ao Terceiro Reich. No cenário criado por Miguel Sanches Neto, o país se alinha com o Eixo e, como parte do acordo, é estabelecido que os estados do sul, com grande presença de descendentes de alemães, podem pôr em prática os princípios do nazismo, como o racismo, o antissemitismo e a eugenia. Em Blumenau, à medida que a saudação “Heil Hitler” se torna corriqueira, o engenheiro Adolpho Ventura convive atônito com o progressivo cerceamento de sua liberdade. Seu crime é ser negro e pai de uma criança mestiça. Na mesma cidade, desenrola-se a trajetória de Hertha, jovem sedutora que encarna todos os predicados da superioridade ariana. A ela é confiada uma misteriosa missão. Com violência e sensualidade, o autor subverte os fatos para criar um Brasil que não está nos livros de história, mas que nem por isso deixa de ser assustadoramente plausível. LOPES, Nei. Rio Negro, 50. Rio de Janeiro: Record, 2015. 288 p. Resumo: As histórias – pois são muitas as vidas que se cruzam nesse romance – começam no dia 17 de julho de 1950, quando a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo motiva um assassinato absurdo, de fortes conotações racistas. O crime é discutido na roda do Café e Bar Rio Negro, epicentro da vida intelectual dos “homens de cor” na capital da República, onde somos apresentados a fascinantes personagens da história brasileira, como Dolores Duran e Abdias Nascimento, que se cruzam nas deliciosas criações ficcionais de Nei Lopes. É nesse microcosmo que percorremos uma década decisiva da cidade do Rio de Janeiro e da afirmação da cultura afro-brasileira. PEREIRA, Carlos Eduardo. Enquanto os dentes. São Paulo: Todavia, 2017. 96 p. Resumo: Em uma manhã chuvosa no Rio de Janeiro, Antônio, um cadeirante negro de classe média, circula pela cidade enquanto um caminhão carrega sua pequena mudança. Endividado e sem alternativa, Antônio está voltando à casa da sua infância, do pai, homem severo, que ele não vê há mais de vinte anos. Enquanto avança nessa odisseia particular, Antônio atravessa também um percurso acidentado pelos corredores de sua própria memória: o relacionamento com o pai, os anos na escola militar, a homossexualidade, o acidente que o tornou paraplégico. Carlos Eduardo Pereira constrói um retrato duro e necessário de um Brasil violento: não a violência das ruas, mas a agressividade da intolerância e da discriminação que se escondem dentro das próprias casas, famílias e instituições.

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Revista Ler novembro

PRANDI, Reginaldo. Aimó: uma viagem pelo mundo dos orixás. São Paulo: Seguinte, 2017. 200 p., il. Resumo: Imagine se encontrar, de uma hora para a outra, em um mundo totalmente desconhecido onde você não conhece ninguém, e ninguém demonstra saber quem você é. É o que acontece com uma menina nascida na África e levada para o Brasil para ser escrava, e que de repente acorda em um lugar estranho, habitado pelos deuses orixás e pelos espíritos dos mortos que aguardam o momento de seu renascimento. Ela não sabe mais o próprio nome nem lembra de sua família – está sozinha e não tem a quem pedir socorro. Por isso, aliás, ganha o nome Aimó, "a menina que ninguém sabe quem é". Tudo o que ela quer é retornar ao seu mundo de origem, mas para isso, Aimó partirá em uma longa jornada pelos tempos mitológicos, guiada por Exu e Ifá, e acompanhará de perto muitas aventuras vividas pelos orixás. Só assim poderá reunir o conhecimento necessário para fazer uma escolha que lhe permita, enfim, voltar para casa. MARTINS, Geovani. O sol na cabeça: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 120 p. Resumo: Nos 13 contos apresentados nesse volume, o autor narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades próprias da idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século 21. Na somatória dos contos, o autor constrói um universo variado de personagens vítimas de segregação racial e exclusão social, com dramas, afinal, humanos. Eis aí a pequena maravilha desse livro: enfraquecer o privilégio dos grupos dominantes na batalha pela representação do que é o humano na literatura brasileira. RUFFATO, Luiz (Org.). Questão de pele: contos sobre preconceito racial. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009. 236 p. (Língua Franca). Resumo: Luiz Ruffato, organizador dessa antologia, expõe questões raciais com uma seleção de textos ficcionais. Na introdução da obra, a escritora Conceição Evaristo chama atenção do leitor para a problemática da invisibilidade do negro na literatura. O livro é uma reunião de contos de alguns autores clássicos de nossas letras, como Machado de Assis, Lima Barreto e Coelho Neto, e de escritores da nova safra que se dedicam à discussão do preconceito, com histórias que perpassam diversas fases da história do Brasil, sobretudo o século 19.

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AGRADECIMENTO PELAS DOAÇÕES Andrea Felice Ana Lúcia Azevedo do Amaral Branca Mincarelli Albernaz Celso Mendes Claudia Cavalcanti Edna Ramos Pessel Mendes Josca Baroukh Márcia Godoy Gowdak Márcia Lopez Mariana Isnard Carneiro Marta Pinto Ferraz Paula Fava Ditt Lutti Renata Bozola

Editora do Brasil SM Edições



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