Revista Ler - nº15

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Revista do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz

Equidade e diversidade racial: uma causa de todos Novembro de 2019 NĂşmero 15


EXPEDIENTE

DIRETOR GERAL

Heitor Fecarotta DIRETOR DE GESTÃO

Marcelo Chulam DIRETORA PEDAGÓGICA

Regina Scarpa

REVISTA LER CONCEPÇÃO E PESQUISA

Alexandre Leite e Sandra Salgado (Biblioteca Geral) PROJETO GRÁFICO

Kiki Milan e Juliana Lopes (Casa Vera Cruz) TEXTOS

Priscila Pires e Renata Blois (Comunicação) REVISÃO DE TEXTO

Laís Alcantara (Casa Vera Cruz)


Sumário Apresentação..................................................................................................... 5 Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz........................................... 7 Textos teóricos relacionados ao tema ............................................. 7 Literatura............................................................................................15 Literatura infantil .............................................................................. 22 Filmes................................................................................................. 23 Agradecimentos pelas doações..................................................................... 26



Apresentação Embora não haja obrigatoriedade de discussão sobre o racismo nas escolas brasileiras, a Lei 10.639 prevê o contato com a história e cultura afro-brasileiras na Educação Básica (assim como o estudo da cultura indígena) com o objetivo de resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política. Mais recentemente, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) inseriu nas competências específicas de História do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental o debate sobre racismo, darwinismo e direitos civis. Independentemente das diretrizes estabelecidas pelos órgãos oficiais, o Vera sempre teve em seu horizonte a importância da educação e o papel da escola na discussão em torno da questão da equidade e diversidade racial — e o ano de 2019 tem sido especialmente prolífico em atividades organizadas em torno do tema. No 1º semestre, as turmas do 5º ano participaram de uma visita à exposição “Para respirar liberdade — 70 anos da Declaração de Direitos Humanos”, do artista plástico e ativista político Otávio Roth, no Sesc Belenzinho, e retornaram de lá bastante tocadas, em especial pelo tema da discriminação racial. Mergulhados no assunto, que repercutiu também entre equipe e familiares, os alunos fizeram algumas reflexões em sala de aula e receberam para palestras e conversas convidados externos — dentre eles, dois representantes da Defensoria Pública da União, autores de um projeto de discussão da temática dos direitos humanos em escolas particulares e públicas, uma ex-professora da Escola que falou sobre a resistência histórica desde a época dos quilombos, e um avô de alunas do Vera, que tratou do tema da discriminação racial a partir de sua experiência pessoal. A causa também ecoa fortemente entre pais e mães do grupo da OPS, como é conhecida a Organização de Pais Solidários do Vera Cruz. Em parceria com a Escola, a OPS tem procurado sensibilizar a comunidade escolar por meio de encontros, palestras e outras ações. Organizados em diferentes frentes de trabalho, os integrantes da OPS já promoveram importantes encontros. Em agosto, o convidado foi Luís Carlos dos Santos, ex-professor do Vera; e, em outubro, foi a vez da pedagoga Clélia Rosa falar sobre diversidade na escola. Destaque-se também um encontro do grupo com a Coordenação do Ensino Médio para conversar sobre o projeto ISMART — Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos. Outras ações preveem encontros com profissionais de outras escolas particulares para discussão das questões propostas, compilação e compartilhamento de publicações de literatura infantojuvenil que promovam a diversidade, realização de eventos culturais e lúdicos e pesquisa sobre a busca por professores negros no mercado de trabalho na organização EmpregueAfro.

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Revista Ler novembro

A Ler, revista do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz, não poderia ficar de fora desse movimento na Escola. Neste número, convidamos você, leitor e profissional do Vera, a uma reflexão sobre equidade e diversidade racial. Nas páginas seguintes, vocês poderão conferir 74 indicações de leitura relacionadas ao tema presentes em nosso acervo — são 33 livros teóricos, 26 de literatura, 6 publicações de literatura infantil e 9 filmes, todos organizados por ordem alfabética de título. Sobre esse tema, vocês também podem consultar o nosso Acervo de Links, que tem um número expressivo de indicações de leitura. Para acessá-lo, cliquem aqui e naveguem por alguns dos marcadores relacionados ao assunto, como “discriminação”, “raça”, “desigualdade” e “cultura afro-brasileira”.

Boas leituras!

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Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz As sinopses das publicações a seguir fazem parte do material de divulgação das editoras. Textos teóricos relacionados ao tema SISS, Ahyas. Afro-brasileiros, cotas e ação afirmativa: razões históricas. Rio de Janeiro: Quartet, 2003. 207 p., il. Em todas as sociedades que hoje se dizem democráticas, a cidadania não caiu do céu, foi conquistada através de lutas sociais travadas de baixo para cima para alcançar direitos civis, políticos e sociais. É justamente na história de luta social do movimento negro nacional contemporâneo e da reação do Estado brasileiro que Ahyas Siss fundamenta sua análise sobre atitudes e ações a serem articuladas para se implantarem políticas de ação afirmativa em benefício da população afrodescendente.

FERREIRA, Ricardo Franklin. Afro-descendente: identidade em construção. São Paulo: EDUC, 2004. 186 p. Este livro reforça os traços, para além das fronteiras acadêmicas, do esboço da identidade que descansa na prancheta conceitual do movimento social das populações de ascendências africanas: exercício indispensável para a realização dos anseios materiais e transcendentais dos afrodescendentes do país, em correspondência com a gramática exigida por este novo cenário em transformação.

BASTIDE, Roger; FERNANDES, Florestan. Brancos e negros em São Paulo: ensaio sociológico sobre aspectos da formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana. 4. ed. São Paulo: Global, 2008. 304 p. O estudo de Bastide e Fernandes inova ao adotar instrumentos teórico-metodológicos da sociologia crítica para o enfrentamento de uma questão premente do desenvolvimento do país: a inserção do negro na ordem social capitalista brasileira.

BENTO, Maria Aparecida da Silva. Cidadania em preto e branco: discutindo as relações raciais. São Paulo: Ática, 1998. 80 p., il. A obra informa e amplia a conscientização sobre a problemática do racismo no Brasil. Estimula o leitor à reflexão sobre si próprio, sobre os acontecimentos de seu cotidiano e sobre os fatos históricos ligados às teorias raciais.

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CASHMORE, Ellis. Dicionário de relações étnicas e raciais. Traduzido por Dinah Kleve. São Paulo: Selo Negro, 2000. 600 p. A obra registra uma revisão da palavra provocada por novas demandas sociais. Alguns dos verbetes nos dão uma aula sobre a história dos termos, outros nos esclarecem sobre fatos ou personalidades que marcaram presença nas questões étnicas e raciais num mundo em transformação. Ao fornecer os fundamentos e a agilidade para uma consulta, o dicionário torna-se um instrumento para o ato de escrever a história dos povos.

ALMEIDA, Heloisa Buarque de; SZWAKO, José Eduardo (Org.). Diferenças, igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2009. 239 p., il. (Sociedade em foco: introdução às ciências sociais). O objetivo desta coleção, com foco na introdução à sociologia e às ciências sociais, é contribuir para uma compreensão da sociedade contemporânea em sua complexidade. Este volume trata das formas de hierarquia e diferenciação social. O leitor é convidado a refletir sobre alguns dos conceitos centrais da disciplina: classes sociais, raça, gênero, sexualidade e geração.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. São Paulo: Leya, 2017. 240 p. O autor argumenta que a visão do brasileiro como vira-lata, pré-moderno, emotivo e corrupto decorre de uma leitura liberal, conservadora e equivocada de nosso passado. Para ele, é preciso reinterpretar a história do Brasil tomando a escravidão como o elemento definitivo que nos marca como sociedade até hoje.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil: 1870–1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 288 p. Um grande laboratório racial: era essa a imagem do Brasil no final do século passado. Construída pelos inúmeros viajantes que aqui aportavam, a alusão a um país de raças híbridas encontrava boa acolhida entre nossos intelectuais — juristas, médicos, literatos, naturalistas. Como entender, no entanto, que esses mesmos pensadores tenham feito das teorias raciais deterministas e evolutivas o seu baluarte intelectual, espalhando pela sociedade brasileira noções de superioridade racial e o estigma do pessimismo quanto ao futuro de uma nação mestiça? Esse é o desafio que a autora busca vencer, com base em documentos raros e muitas vezes inéditos: a compreensão da mentalidade de uma época em que conviveram o liberalismo político e o racismo oriundo das várias escolas darwinistas. Um paradoxo que marca até hoje e põe em xeque o país da democracia racial.

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NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Prefácio de Florestan Fernandes. São Paulo: Perspectiva, 2016. 232 p. Ao longo do século passado, prevaleceu a visão de que os descendentes dos africanos se encontravam, no Brasil, numa condição muito mais favorável do que a vivida pelos negros no sul dos Estados Unidos ou na África do Sul do apartheid. Mais do que estabelecida, essa era uma visão oficial: o Brasil seria uma “democracia racial”, um lugar em que o grande problema do negro era a pobreza e não o preconceito de cor. Foi contra essa falácia que Abdias Nascimento se insurgiu ao apresentar, no Segundo Festival de Artes e Culturas Negras, em Lagos (Nigéria, 1977), em plena vigência da ditadura militar, um texto combativo, a começar pelo título, demonstrando que a condição dos negros no Brasil não era realmente como aquela nos EUA ou na África, era pior, vítimas que são de um racismo insidioso, de uma política que conduz a um “genocídio”, para usar o termo do autor, que, ausente das leis e dos discursos políticos, se revela cotidianamente.

MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue: história do pensamento racial. São Paulo: Contexto, 2009. 398 p. Libelo contra o que o autor chama de mito das raças — a necessidade de diferenciar seres humanos por sua ancestralidade, por uma única gota de sangue —, o livro mergulha fundo nas origens do racismo e seus desdobramentos nos tempos atuais. O livro mostra como essa invenção teria sido desinventada no pós-guerra e reinventada pelos movimentos multiculturalistas de 30 anos mais tarde, culminando em um tema caro a Magnoli: a crítica ao sistema de cotas raciais adotadas em universidades públicas brasileiras. O autor sustenta ainda um polêmico paradoxo: o de que os defensores de leis raciais de hoje resgatam o discurso que ontem ajudou a justificar a segregação entre brancos e negros.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Traduzido por Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. 248 p. Este livro é uma compilação de episódios cotidianos de racismo, escritos sob a forma de pequenas histórias psicanalíticas. Das políticas de espaço e exclusão às políticas do corpo e do cabelo, passando pelos insultos raciais, Grada Kilomba desmonta, de modo incisivo, a normalidade do racismo, expondo a violência e o trauma de se ser colocada/o como Outra/o. Obra interdisciplinar, que combina teoria pós-colonial, estudos da branquitude, psicanálise, estudos de gênero, feminismo negro e narrativa poética, esta é uma reflexão para as práticas descoloniais.

REIS, Letícia Vidor de Sousa; SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). Negras imagens: ensaios sobre cultura e escravidão no Brasil. São Paulo: EDUSP, 1996. 236 p., il. Onze estudos, assinados por pesquisadores da USP e da Unicamp, em torno dos mais variados aspectos políticos e culturais que cercam a questão negra. A coletânea é uma decorrência de projeto mais abrangente, realizado pela Estação Ciência (CNPq/USP) e docentes do Departamento de Antropologia da USP no contexto dos eventos que marcaram o tricentenário da morte de Zumbi.

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MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. 3. ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 96 p. (Cultura negra e identidades). O que significam a negritude e a identidade para as bases populares negras e para a militância do movimento negro? Por onde deve passar o discurso sobre essa identidade contrastiva do negro, cuja base seria a negritude? Passaria pela cor da pele e pelo corpo unicamente ou pela cultura e pela consciência do oprimido? A partir de questionamentos como esses, Kabengele Munanga debruça-se sobre a construção identitária do Brasil ao longo dos tempos, partindo do princípio de que o conceito de identidade recobre uma realidade muito mais complexa do que se pensa, englobando fatores históricos, psicológicos, linguísticos, culturais, político-ideológicos e raciais.

MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. Editado por Ação Educativa. São Paulo: Global, 2006. 224 p., il. (Para entender). Para entender “nossa” história e “nossa” identidade é preciso começar pelo estudo de todas as suas matrizes culturais. Neste livro, os autores contam um pouco da história esquecida dos povos africanos que ajudaram a construir o país em que vivemos, um país que pertence a todos os brasileiros sem nenhuma distinção.

FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. Apresentação de Lilia Moritz Schwarcz. 2. ed. rev. São Paulo: Global, 2011. 313 p., il. A obra estuda a situação do negro e do mulato na sociedade brasileira, vista a partir de São Paulo. Centrado na preocupação com a supremacia da “raça branca” e o controle do poder que ela exerce em nossa sociedade, o livro ajuda a avaliar a situação real do negro na sociedade brasileira.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário. São Paulo: Claro Enigma, 2012. 152 p., il. (Agenda brasileira). Um racismo muito particular marca o Brasil: negado publicamente, praticado na intimidade. Das origens coloniais do país aos dias de hoje, este ensaio nos mostra que, por trás do mito da convivência pacífica e da exaltação da miscigenação, na prática, a velha máxima do “quanto mais branco melhor” nunca foi totalmente deixada de lado.

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RODRIGUES, Rosiane. “Nós” do Brasil: estudos das relações étnico-raciais. São Paulo: Moderna, 2012. 152 p., il. (Polêmica). O livro fala de integridade negra, identidade africana, identidade indígena. Fala de ciganos, de judeus, de muçulmanos, das diversas Áfricas que existem dentro da África, suas diferenças culturais, povos e religiões, e fala do Brasil. Este livro proporciona viagens, buscando possibilitar conexões históricas para a compreensão de quem somos nós. Ele busca mostrar que há saídas para a aplicação da temática das relações raciais sem incorrer em dogmas, estereótipos ou folclorizações.

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. 112 p. (Feminismos plurais). Fazendo o questionamento de quem tem direito à voz numa sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, o conceito de lugar de fala se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes. Partindo de obras de feministas negras como Patricia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Sueli Carneiro, o livro aborda, pela perspectiva do feminismo negro, a urgência pela quebra dos silêncios instituídos explicando didaticamente o que é conceito ao mesmo tempo em que traz ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história.

BERND, Zila. O que é negritude. São Paulo: Brasiliense, [s.d.]. 58 p. (Primeiros passos). Negritude é orgulho — orgulho de ser negro em uma terra onde ainda prevalece o racismo. Nesta obra Zila Bernd trata do orgulho da cultura e das tradições afro-brasileiras em um Brasil que na maioria das vezes não soube valorizar as contribuições da raça negra para a cultura nacional. Uma valorização que no ano da comemoração do centenário da Abolição da Escravatura mais do que nunca se torna oportuna para não dizer obrigatória.

SANTOS, Joel Rufino dos. O que é racismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1980. 84 p. (Primeiros passos). Alguns tentam provar que as diferenças sociais são determinadas por fatores biológicos. Outros explicam que o racismo surgiu da necessidade de justificar a agressão. Seria verdade? Faria o racismo parte da natureza humana? Neste livro, os primeiros passos para a compreensão deste fenômeno universal, suas modalidades e suas implicações sociais.

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GOMES, Nilma Lino (Org.). Um olhar além das fronteiras: educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 136 p. (Cultura negra e identidades). O diálogo além das fronteiras realizado neste livro está alicerçado em um dos ensinamentos de Paulo Freire: de que uma das nossas brigas como seres humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas para a desesperança que nos imobiliza. Nesse sentido, a recusa ao fatalismo cínico e imobilizante pregado pelo contexto neoliberal, pela globalização capitalista, pela desigualdade social e racial deve se pautar em uma postura epistemológica e política criticamente esperançosa.

RODRIGUES, Rosiane. Para pensar diferente: cidadania, igualdades e direitos. São Paulo: Moderna, 2016. 64 p., il. (Desafios). A obra tem por objetivo lançar um olhar diferente sobre os temas “cidadania, igualdade e direitos”, possibilitando uma visão real sobre as questões que englobam racismo, desigualdade e discriminação. Com dados esclarecedores, o livro proporciona a conscientização necessária para a desconstrução do “mito da democracia racial”, que impede o real exercício de liberdade, igualdade e direitos e torna invisíveis questões referentes ao racismo e às desigualdades, impossibilitando que medidas eficazes sejam tomadas e que políticas públicas sejam implementadas.

SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. 332 p. (Estudos brasileiros, 9). Compreender a situação do negro na sociedade brasileira, no momento da transição entre a escravidão e o trabalho livre, e elaborar o projeto de construção da nação brasileira seriam, na interpretação de Skidmore, as preocupações fundamentais da nossa elite entre 1870 e 1930. Na procura de respostas, o autor vasculha a produção intelectual brasileira do período, na qual identifica fortes influências da cultura francesa e da tradição jesuítica.

QUILOMBO: vida, problemas e aspirações do negro. Apresentação de Abdias Nascimento, Elisa Larkin Nascimento. Introdução de Antônio Sérgio Alfredo Guimarães. São Paulo: Editora 34, 2003. 128 p., il. Edição fac-similar do jornal dirigido por Abdias do Nascimento. Ligado ao Teatro Experimental do Negro, “Quilombo” circulou mensalmente no Rio de Janeiro entre 1948 e 1950, visando combater o racismo e ampliar o espaço da cultura negra no Brasil. Nele colaboraram nomes como Gilberto Freyre, Murilo Mendes, Roger Bastide e Nelson Rodrigues.

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GRUNSELL, Angela. Racismo. Traduzido por Celso Mauro Paciornik. Adaptado por Isis Valéria Gomes. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1998. 32 p., il. (Sinal de alerta). Piadas, insultos e ataques violentos de caráter racista acontecem o tempo todo e muitas pessoas tentam fingir que o racismo não existe. Este livro examina corajosamente o que é o racismo, os efeitos que provoca e por que ele é tão pernicioso para todos.

BERND, Zila. Racismo e anti-racismo. 3. ed. São Paulo: Moderna, 1995. 64 p., il. (Polêmica). Este livro se propõe a discutir o racismo apontando suas origens, sua entrada em circulação e suas principais manifestações. Como o racismo se sustenta por um discurso, é a partir dessa perspectiva que se enfoca o tema. Sua persistência se deve a um fato simples: o discurso que surge para combatê-lo organiza-se como uma nova forma de racismo, criando uma cadeia infindável de mútuas exclusões.

LOPES, Nei. O racismo explicado aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007. 206 p. Paulinha, filha de pai negro e mãe descendente de judeus, chega em casa com uma pergunta: por que as pessoas são tratadas de maneira diferente por causa da cor da pele? A partir dessa questão, o professor Paulão e sua esposa, a advogada Lia, começam a discutir diariamente com Paulinha e seu irmão, Pedrinho, a origem e as diversas caras que o racismo assumiu durante milênios. O livro é um amplo e esclarecedor panorama do racismo e de suas manifestações através dos séculos.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Racismo no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2001. 104 p. (Folha explica, 31). Explica a formação do povo brasileiro e a importância da raça negra no processo de miscigenação, acompanhando a trajetória do conceito de raça ao longo da história do Brasil, tendo como perspectiva entender o momento presente e seus desafios. A obra ajuda a compreender os motivos segundo os quais o racismo no Brasil é velado.

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BORGES, Edson; MEDEIROS, Carlos Alberto; ADESKY, Jacques D'. Racismo, preconceito e intolerância. São Paulo: Ática, 2002. 80 p., il. (Espaço e debate). A intolerância, o racismo e o preconceito são problemas do nosso tempo, que desafiam a sociedade e colocam em questão nossa capacidade de tratá-los racionalmente. A necessidade, cada dia mais premente, de reconhecermos a igual dignidade de todos os seres humanos traz à tona duas perguntas fundamentais: Por que as pessoas manifestam intolerância e preconceito diante daqueles que julgam diferentes? Por que uma pessoa vítima do preconceito, inclusive por racismo, pode vir também a discriminar? Boa parte deste livro destina-se, precisamente, a explicar as diversas formas de discriminação, que nascem do menosprezo pelo outro. Busca esclarecer o debate teórico sobre conceitos como xenofobia, antirracismo, etnocentrismo e ação afirmativa, entre outros. BETHENCOURT, Francisco. Racismos: das Cruzadas ao século XX. Traduzido por Luís Oliveira Santos, João Quina Edições. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 608 p., il. Análise histórica abrangente e compreensível do racismo — um fenômeno relacional, que sofre alterações com o tempo e não pode ser compreendido em sua totalidade através de estudos segmentados de breves períodos, de regiões específicas ou de vítimas recorrentes. O autor mostra as formas de racismo que precederam as teorias de raça, observando-as no contexto de hierarquias sociais e condições locais. O foco é o mundo ocidental, mas o autor também propõe comparações com tipos de segregação presentes em outras regiões do mundo. Ao provar que não há uma tradição constante de racismo, Bethencourt amplia nossa compreensão das relações interétnicas e contribui para o fim da história deste preconceito. MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 128 p., il. (Cultura negra e identidades). É à luz do discurso pluralista emergente (multiculturalismo, pluriculturalismo) que a presente obra recoloca em discussão os verdadeiros fundamentos da identidade nacional brasileira, convidando pesquisadores da questão para rediscuti-la e melhor entender por que as chamadas minorias, que na realidade constituem maiorias silenciadas, não são capazes de construir identidades políticas verdadeiramente mobilizadoras. E essa discussão não pode ser sustentada sem que se coloque no bojo da questão o ideal do branqueamento, materializado pela mestiçagem e seus fantasmas. SILVÉRIO, Valter Roberto; PINTO, Regina Pahim; ROSEMBERG, Fúlvia (Org.). Relações raciais no Brasil: pesquisas contemporâneas. São Paulo: Contexto, 2011. 206 p., il. (Justiça e desenvolvimento / IFP–FCC). Volume da série Justiça e Desenvolvimento/IFP–FCC, cujo objetivo é divulgar as pesquisas desenvolvidas por bolsistas egressos/as do Programa Internacional de Bolsas de PósGraduação da Fundação Ford (International Fellowships Program – IFP) no decorrer de seus cursos de mestrado e doutorado. A publicação permite ressaltar o fato de que pesquisadores/as provenientes de grupos sociais marginalizados podem contribuir de forma substancial para a discussão abalizada sobre a realidade social brasileira, acrescentando informações valiosas ao corpo disponível de conhecimento e trazendo novas perspectivas para o tratamento de questões fundamentais de grande importância para a sociedade como um todo.

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VALENTE, Ana Lúcia E. F. Ser negro no Brasil hoje. 16. ed. São Paulo: Moderna, 1997. 88 p., il. (Polêmica). A promulgação da Constituição brasileira, em 1988, definiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Apesar de alguns avanços no plano legal, na prática o racismo permanece dificultando o acesso dos negros à cidadania. A antropóloga Ana Lúcia E. F. Valente convida o leitor a descobrir os fatos que se escondem sob a aparência de “democracia racial” e propõe uma discussão complexa mas imprescindível para a busca dos meios eficazes de combate ao racismo.

JACQUARD, Albert. Todos semelhantes, todos diferentes. São Paulo: Augustus, 1993. 82 p., il. (O mundo em seu bolso). O livro sustenta a ideia de que o racismo não tem base científica. além de discutir o surgimento dos seres, explicando os princípios básicos do DNA, o livro aponta para a necessidade de se evitar o preconceito a qualquer custo.

Literatura EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Rio de Janeiro: Pallas, 2017. 200 p. Romance memorialista que nos conta várias histórias de personagens verossímeis, moradores de uma favela que está para acabar. Nesse cenário conhecemos histórias como a de Vó Rita, parteira e mulher respeitada por sua sabedoria e experiência, que agora cuida da misteriosa personagem Outra, que não recebe nome, mas é muito citada na narrativa da menina Maria Nova, curiosa adolescente negra que adora ouvir histórias e expressar sua curiosidade. Personagens como Bondade, Tio Totó, Maria Velha e Ditinha vão surgindo da memória de Maria Nova e preenchendo o leitor de narrativas sutis e ao mesmo tempo violentas e reais. A autora traduz, a partir de seus muitos personagens, a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria; dos que a cada dia têm a vida por um fio. SANTOS, Joel Rufino dos. Bichos da terra tão pequenos: romance. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 208 p. O livro é a saga de Camilo, um brasileiro, pobre e negro — o racismo é destacado com força na narrativa —, como muitos que se conhecem no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro. Camilo é a síntese de suas próprias vocações, vontades e decisões misturadas à influência das circunstâncias impostas pelo ambiente ao seu redor. Usando sua veia de historiador, Joel Rufino dos Santos reproduz com exatidão esse ambiente: o morro do Urubu, no subúrbio carioca de Tomás Coelho. É na comunidade que a história de Camilo/Vinquinho/Sapo se entrelaça com a de outros personagens, pessoas comuns que vivem uma rotina melancólica e, por vezes, violenta.

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SANT'ANNA, André. O Brasil é bom. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. 192 p. Escrevendo em um permanente tom irônico, André Sant’Anna criou aqui o seu livro mais mordaz. Nos 22 contos que formam “O Brasil é bom”, a velha classe média observa — apavorada e temerosa — a ascensão da nova classe média, o consumismo é uma epidemia nociva, o dinheiro é a única coisa que move os brasileiros e a Igreja explora os fiéis. A metralhadora de André Sant’Anna aponta para diversos alvos — em um momento, satiriza o discurso daqueles que se consideram 'cidadãos de bem' e nutrem fantasias dignas do tempo da ditadura; em outro, critica as medidas paliativas que transformaram a classe C em uma horda de consumidores, dando a eles a ilusão de que o país está melhorando e de que agora foram incluídos na sociedade. O resultado é uma visão pessimista e apocalíptica, que expõe os conflitos raciais e sociais do Brasil. ARANHA, Graça. Canaã. Introdução de Dirce Cortês Riedel. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.]. 256 p. (Prestígio). Numa pequena colônia alemã do Espírito Santo, Milkau e Lentz vivem o desafio de construir uma nova vida em terra estrangeira. Canaã retrata a saga dos imigrantes europeus no Brasil no início do século e seu sonho de encontrar a “terra prometida”. Mostrando o confronto entre visões de mundo antagônicas e a violência dos preconceitos raciais, é uma obra fundamental para a compreensão da cultura brasileira.

BARRETO, Lima. Clara dos anjos. São Paulo: Escala Educacional, 2006. 150 p. (Nossa literatura). O preconceito racial, que Lima Barreto conheceu por experiência própria, é o tema deste romance, concluído pouco antes da morte do autor, em 1922. Conta a trajetória de uma jovem pobre e sonhadora que, devido à sua cor e condição social, experimenta a dor e a humilhação de ser discriminada.

FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. 110 p. Tendo como inspiração autores clássicos brasileiros como Cruz e Sousa, Lima Barreto e Jorge de Lima, Marcelino faz uma releitura moderna do preconceito, mas não só mais o racial — nos quinze 'cantos' deste volume, ele também esquadrinha, com ironia e humor, questões como homossexualismo e conflito de classes.

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AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Penguin – Companhia das Letras, 2016. 316 p. Publicada em 1890, a obra recria a realidade dos agrupamentos humanos, sujeitos à influência da raça, do meio e do momento histórico. O predomínio dos instintos no comportamento do indivíduo, a força da sensualidade da mulher mestiça, o meio como fator determinante do comportamento são algumas das teses naturalistas defendidas pelo autor ao lado de fortes denúncias sociais. O protagonista do romance é o próprio cortiço, onde se acotovelam lavadeiras, trabalhadores de pedreira, malandros e viúvas pobres tentando superar a marginalização que a sociedade lhes impõe.

CAMARGO, Oswaldo de. A descoberta do frio. Cotia: Ateliê Editorial, 2011. 120 p., il. Em “A descoberta do frio”, o “frio” cobre-se de diferentes camadas: racismo, indiferença, desigualdades... Oswaldo de Camargo traz para a ficção as tensões de uma sociedade fracionada entre passado escravista e presente do racismo velado, marcada por uma memória de lutas e sofrimentos a todo instante atualizados. E polemiza com nossos mitos fundadores, a fim de colocá-los contra a parede da dura realidade que traz ao leitor.

JESUS, Carolina Maria de. Diário de Bitita. São Paulo: SESI–SP, 2014. 208 p. A dura luta cotidiana de uma família negra, nas primeiras décadas do século passado, narrada do ponto de vista de uma menina inteligente e interessada. A obra documenta os esforços da autora para, ainda criança, encontrar trabalho, garantir a sobrevivência material e manter a dignidade, acima de tudo. Um painel da sociedade agrária brasileira, realçado com tintas de injustiça social, preconceito e discriminação.

PEREIRA, Carlos Eduardo. Enquanto os dentes. São Paulo: Todavia, 2017. 96 p. Uma manhã chuvosa no Rio de Janeiro. Antônio, um cadeirante negro de classe média, circula pela cidade enquanto um caminhão carrega sua pequena mudança. Endividado e sem alternativa, Antônio está voltando à casa da sua infância, do pai, homem severo, que ele não vê há́ mais de vinte anos. Enquanto avança nessa odisseia particular, Antônio atravessa também um percurso acidentado pelos corredores de sua própria memória: o relacionamento com o pai, os anos na Escola militar, a homossexualidade, o acidente que o tornou paraplégico. Carlos Eduardo Pereira constrói um retrato duro e necessário de um Brasil violento: não a violência das ruas, mas a agressividade da intolerância e da discriminação que se escondem dentro das próprias casas, famílias e instituições.

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CARRASCO, Walcyr. Irmão negro. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2003. 80 p., il. (Veredas). Leo, é filho único e sempre desejou ter irmãos. Quando sua mãe recebe uma carta, fica chocada ao saber que sua irmã faleceu e deixou um filho, Sérgio, que está abandonado, vivendo nas ruas. A mãe de Leo viaja para Salvador e de lá traz seu primo, que deverá ser incorporado à família como 'irmão' de Leo. Sérgio é negro e a convivência se mostra difícil. Desconhece vida de classe média. É discriminado pelos amigos de Leo e sofre o preconceito quando sai a passear com ele. O menino negro possui também um segredo. Só quando Leo consegue descobrir seu afeto pelo irmão negro o mistério é revelado. Assim, aos poucos, Leo aprende a enfrentar as dificuldades causadas pelo preconceito e ajuda seu irmão a se integrar com outras crianças e amigos.

ZATZ, Lia. Jogo duro: era uma vez uma história de negros que passou em branco. Ilustrado por Robson Araújo. Belo Horizonte: Dimensão, 2004. 104 p., il. Vô Chico é avô de João e quem lhe ensina, e aos colegas de escola, brancos, negros e mulatos, sobre a escravidão. E a história de João reencena a discriminação contra negros e pobres que se prefere acreditar inexistente no Brasil. Lia Zatz reconta o fenômeno da escravidão sob a ótica dos negros tendo em vista as contingências econômicas que o geraram e que pressionaram a sua extinção. Passagens e personalidades que protagonizaram a versão conhecida e oficial da história, como a Lei Áurea e a princesa Isabel, são “desmitificadas”. Com isso, a verdade que está nos livros é relativizada em função da tradição oral. Lia Zatz também recupera em seu texto as relações de amizade e transmissão de conhecimento entre avô e neto.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Lima Barreto: triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 648 p., il. Durante mais de dez anos, Lilia Moritz Schwarcz mergulhou na obra de Afonso Henriques de Lima Barreto, com seu afiado olhar de antropóloga e historiadora, para realizar um perfil biográfico que abrangesse o corpo, a alma e os livros do escritor. Abarcando a íntegra dos livros e publicações na imprensa, além dos diários e de outros papéis pessoais de Lima Barreto, muitos deles inéditos, a autora equilibra o rigor interpretativo com uma sensibilidade para as sutilezas que temperam as relações entre contexto biográfico e criação literária. Escritor militante, como ele mesmo se definia, Lima Barreto professou ideias políticas e sociais à frente de seu tempo, com críticas contundentes ao racismo (que sentiu na própria pele) e outras mazelas crônicas da sociedade brasileira. “Lima Barreto: triste visionário” presta um tributo a um dos maiores prosadores da língua portuguesa de todos os tempos, ainda moderno quase um século depois de seu triste fim na pobreza, na doença e no esquecimento.

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SCOTT, Paulo. Marrom e amarelo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2019. 160 p. Os irmãos Federico e Lourenço são muito diferentes. Federico, um ano mais velho, é grande, calado e carrega uma raiva latente. Lourenço é bonito, joga basquete e é "muito gente boa". Federico é claro, "de cabelo lambido". Lourenço é preto. Filhos de pai preto eles crescem sob a pressão da discriminação racial. Lourenço tenta enfrentá-la com naturalidade, e Federico se torna um incansável ativista das questões raciais. Federico, o narrador desta história, foi moldado na violência dos subúrbios de Porto Alegre. Carrega uma dor que vem da incompletude nas relações amorosas e, sobretudo, dos enfrentamentos raciais em que não conseguiu se posicionar como achava que deveria. Agora, com 49 anos, é chamado para uma comissão em Brasília, instituída pelo novo governo, para discutir o preenchimento das cotas raciais nas universidades. Em meio a debates tensos e burocracias absurdas, ele se recorda de eventos traumáticos da infância e da juventude. E as lembranças, agora, voltam para acossá-lo. RAMOS, Lázaro. Na minha pele. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017. 152 p. Movido pelo desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja vista como um valor positivo, e não uma ameaça, Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, gênero, família, respeito, afetividade e discriminação. Ainda que não seja uma biografia, em “Na minha pele” Lázaro compartilha episódios íntimos e também suas dúvidas, descobertas e conquistas. Ao rejeitar qualquer tipo de segregação ou radicalismos, Lázaro nos fala da importância do diálogo. Não se pode abraçar a diferença pela diferença, mas lutar pela sua aceitação num mundo ainda tão cheio de preconceitos. Um livro sincero e revelador, que propõe uma mudança de conduta e nos convoca a ser mais vigilantes e atentos ao outro. PINSKY, Mirna. Nó na garganta. Ilustrado por Andréa Ramos. 50. ed. São Paulo: Atual, 2004. 88 p., il. (Entre linhas). Tânia é uma menina negra de 10 anos cuja família decidiu trocar a vida pobre e difícil na cidade grande por uma oportunidade diferente no litoral. No novo ambiente, Tânia defronta-se com a dura realidade do preconceito racial. Uma experiência amarga que a levará a descobrir coisas importantes a respeito de si mesma, como seu poder de enfrentar com dignidade as injustiças do mundo em que vivemos.

EVARISTO, Conceição. Olhos d'água. Rio de Janeiro: Pallas, 2016. 116 p. Nos quinze contos que enfeixam “Olhos d’água”, de Conceição Evaristo, a temática está relacionada às agruras diárias pelas quais passam os afro-brasileiros numa sociedade excludente como a nossa. Nessas narrativas, ainda que existam alguns protagonistas masculinos, a ênfase centra-se em personagens femininas. Estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres — todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.

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DORNELLAS, Deborah. Por cima do mar. São Paulo: Patuá, 2018. 344 p., il. Lígia Brasil, negra brasileira que vive em Angola, decide reunir num texto algumas de suas lembranças. Enquanto escreve, vai costurando e editando suas memórias, remotas e recentes, num movimento de vaivém que atravessa o oceano e o tempo. Constrói pontes entre sua infância e juventude pobres na Ceilândia, periferia de Brasília, e seu cotidiano na cidade de Benguela; entre a ancestralidade africana e a identidade brasileira. O ontem e o hoje. A margem de lá e a margem de cá.

KUCINSKI, Bernardo. Pretérito imperfeito. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 152 p. A adoção de um bebê por um casal que não consegue ter filhos é o fato fundador de “Pretérito imperfeito”, romance em que B. Kucinski conta a história de uma paternidade que começa intensa e amorosa e termina em destroços. A derrocada tem início na adolescência do menino, marcada pelo envolvimento com maconha, crack e anfetaminas, um processo descrito pelo narrador como uma busca frenética de um paraíso artificial. Entrelaçam-se nessa história de vida três situações limite: a adoção, a dependência química e o racismo.

BRAZ, Júlio Emílio. Pretinha, eu? 2. ed. São Paulo: Scipione, 2002. 64 p., il. (Diálogo). Caro e tradicional, o Colégio Harmonia nunca teve uma criança negra entre seus alunos. Até o dia em que Vânia ganha uma bolsa de estudos do dono da escola. Diante desse “escândalo”, a sala da 5a série torna-se o campo de uma batalha covarde. Todos os alunos se unem contra Vânia pelo único fato de ela ser negra e pobre. O diretor e os professores, então, mobilizam-se em uma cruzada contra a discriminação.

SANTANA, Bianca. Quando me descobri negra. Ilustrado por Mateu Velasco. 2015 São Paulo: SESI–SP. 96 p., il. (Quem lê sabe por quê). “Tenho 30 anos, mas sou negra há 10. Antes, era morena.” É com essa afirmação que Bianca Santana inicia uma série de relatos sobre experiências pessoais ou ouvidas no círculo de mulheres negras que organiza. Com uma escrita ágil e visceral, denuncia com lucidez — e sem as armadilhas do discurso do ódio — nosso racismo velado de cada dia, bem brasileiro, de alisamentos no cabelo, opressão policial e profissões subjugadas.

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JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007. 200 p., il. (Sinal aberto). Diário de Carolina, uma catadora de papéis, semianalfabeta, negra, pobre e favelada. É, também, autora, personagem e narradora do livro. Ela representa a voz dos excluídos, marginalizados por questões sociais e étnicas. É um diário autobiográfico e um documento sobre a vida de uma favela.

RUFFATO, Luiz (Org.). Questão de pele: contos sobre preconceito racial. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009. 236 p. (Língua franca). Luiz Ruffato, organizador do volume, expõe em “Questão de pele”, em textos ficcionais, a problemática da questão racial. Na introdução da obra escrita por Conceição Evaristo, a autora chama a atenção para a problemática da invisibilidade do negro na literatura. O livro é uma reunião que traz 14 contos dos chamados ícones de nossas letras, alguns clássicos, entre os quais Machado de Assis, Lima Barreto e Coelho Neto. Reúne também escritores da nova safra, desconhecidos ou ignorados do grande público, mas que, na verdade, ao longo dos anos, se dedicam, literariamente falando, à discussão do preconceito de cor, com histórias que perpassam diversas fases da vida nacional, sobretudo no período que permeia o século 19. BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Introdução de Alfredo Bosi. 2. ed. São Paulo: Penguin – Companhia das Letras, 2010. 312 p. Mais de cem anos depois da 1ª edição, “Recordações do escrivão Isaías Caminha” não poderia ser mais atual. Ambientado no Rio de Janeiro do começo do século XX, este livro de estreia de Lima Barreto narra a história de um negro, culto e inteligente que, embora tenha todos os atributos para ser inserido na sociedade, é massacrado pelo preconceito racial. Na introdução o crítico Alfredo Bosi investiga a figura do narrador, que oscila entre as fantasias de prestígio social e o cotidiano sempre à beira de humilhações.

LOPES, Nei. Rio Negro, 50. Rio de Janeiro: Record, 2015. 288 p. As histórias — pois são muitas as vidas que se cruzam neste romance — começam no dia 17 de julho de 1950, quando a derrota do escrete brasileiro na Copa do Mundo motiva um assassinato absurdo, de fortes conotações racistas. O crime é discutido na roda do Café e Bar Rio Negro, epicentro da vida intelectual dos “homens de cor” na Capital da República, e onde somos apresentados a fascinantes personagens. A partir desse microcosmo da então capital da República, em que personagens da história brasileira, como Dolores Duran e Abdias Nascimento, se cruzam nas deliciosas criações ficcionais de Nei Lopes, percorremos uma década decisiva da cidade do Rio de Janeiro e da afirmação da cultura afro-brasileira.

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SANCHES NETO, Miguel. A segunda pátria. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015. 320 p. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas resolve se tornar um aliado do Terceiro Reich. No cenário alternativo criado por Miguel Sanches Neto, o país se alinha com o Eixo e, como parte do acordo, é estabelecido que os estados do sul, com grande presença de descendentes de alemães, podem pôr em prática os princípios do nazismo, como o racismo, o antissemitismo e a eugenia. Em Blumenau, à medida que a saudação Heil Hitler se torna corriqueira, o engenheiro Adolpho Ventura convive atônito com o progressivo cerceamento de sua liberdade. Seu crime é ser negro e pai de uma criança mestiça. Na mesma cidade, desenrola-se a trajetória de Hertha, jovem sedutora que encarna todos os predicados da superioridade ariana. A ela é confiada uma misteriosa missão. Com violência e sensualidade, o autor subverte os fatos para criar um Brasil que não está nos livros de história, mas nem por isso deixa de ser assustadoramente plausível.

Literatura infantil LEITÃO, Míriam. Flávia e o bolo de chocolate. Ilustrado por Bruna Assis Brasil. Rio de Janeiro: Rocco Pequenos Leitores, 2015. 36 p., il. Uma mulher que não conseguia ter filhos decide procurar uma criança que não tenha mãe e que a queira. Realiza seu sonho ao encontrar a pequena Flávia. Por muitos anos, a menina cresce feliz, ao lado de Rita. Até o dia em que percebe a diferença entre a cor de sua pele e a da mãe. É quando entra em crise e começa a questionar as diferenças. Com uma estratégia criativa, a mãe vai desmontar o desconforto da filha com o fato de serem diferentes uma da outra. As duas farão um passeio pela sociedade brasileira, que tem vários tons de pele, para que a mãe mostre à filha que não há uma pessoa melhor que a outra. CALÇA, Rafael. Jeremias: pele. Ilustrado por Jefferson Costa. São Paulo: Panini Comics. 98 p., il. Numa reinterpretação ousada, porém necessária, como enaltece Mauricio de Sousa, em seu prefácio, o roteirista Rafael Calça e o desenhista Jefferson Costa dão vida a uma história forte, dura, emocionante, na qual Jeremias lidará pela primeira vez com o preconceito por causa da cor da sua pele. A história é recheada de dor, superação, aprendizado e preparação para a vida.

MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. Ilustrado por Claudius. 9. ed. São Paulo: Ática, 2011. 24 p., il. (Barquinho de papel). Uma linda menina de fita no cabelo desperta a admiração de um coelho branco, que deseja ter uma filha tão pretinha como ela. Mas antes precisa descobrir o segredo de como ter aquela cor. O simpático coelhinho faz de tudo para conseguir seu intento: entra numa lata de tinta preta, come jabuticabas até passar mal e toma inúmeras xícaras de café. Tudo em vão! Entretanto, quando a mãe da criança entra em cena, tudo se explica para o curioso animal. Daí para a frente, o coelho segue um caminho natural que o leva a se aproximar cada vez mais de sua admirada criança negra e do seu objetivo de ter os pelos escurecidos. Nesta obra, a autora coloca em cena diversos aspectos muito debatidos nos dias de hoje, como a autoestima das crianças negras e a fraternidade inter-racial.

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ZIRALDO. O menino marrom. Ilustrado por Ziraldo. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 2013. 32 p., il. (Mundo colorido). 4. Esta é a história de um menino marrom, mas fala também de um menino cor-de-rosa. São dois perguntadores inveterados que querem descobrir juntos os mistérios das cores. “Quem inventou que o contrário de preto é branco?”. “Se um de nós é marrom e outro não é exatamente branco, por que nos chamam de preto e branco?”. São muitas as perguntas, e muitas serão as descobertas.

RAMOS, Rossana. Na minha escola todo mundo é igual. Ilustrado por Priscila Sanson. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 20 p., il. Neste livro, cada página revela toda forma de discriminação no âmbito étnico, cultural ou socioeconômico, que sofre parte da população por ser considerada diferente. Temas polêmicos, mas que precisam ser trabalhados dentro e fora do ambiente escolar, para que, desde pequenas, as crianças percebam que todos têm direitos iguais e devem ser respeitadas suas diferenças.

AIBÊ, Bernardo. A ovelha negra. Ilustrado por Mariana Massarani. São Paulo: Mercuryo, 2000. 24 p., il. Tita, a ovelha negra, queria ser branca como todas as suas amigas. Por isso era uma ovelha infeliz. E quanto mais infeliz ficava, mais diferente se sentia. Por viver só pensando nisso, o mundo se resumia à sua dor. E como ninguém nasceu para ser infeliz, Tita terá que descobrir que a aparência nem sempre traz a felicidade.

Filmes BESOURO. Direção de João Daniel Tikhomiroff. Brasil, 2009. 1 DVD (94 min), NTSC, son., dolby digital 5.1, color. Besouro foi o maior capoeirista de todos os tempos. Um menino que — ao se identificar com o inseto que ao voar desafia as leis da física — desafia ele mesmo as leis do preconceito e da opressão. Um filme de aventura, paixão, misticismo e coragem, no qual fantasia e registro histórico se misturam no cenário do Recôncavo Baiano dos anos 20.

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CASA grande. Direção de Fellipe Gamarano Barbosa. Brasil, 2014. 1 DVD (115 min), son., dolby digital 5.1, color. Jean é um adolescente rico que luta para escapar da superproteção dos pais, secretamente falidos. Quando o motorista de longa data é demitido, Jean tem a tão sonhada chance de pegar o ônibus público pela primeira vez. No ônibus, ele conhece Luiza, uma aluna da rede pública que começa a abrir seus olhos para as contradições de dentro e fora da casa grande.

O CONTADOR de histórias. Direção de Luiz Villaça. Brasil, 2009. 1 DVD (105 min), son., dolby digital 5.1, color. O filme relata a trajetória de Roberto Carlos Ramos, um menino cheio de imaginação que, nos anos 70, é deixado pela mãe em uma entidade assistencial recém criada pelo governo. Aos treze anos, após incontáveis fugas, ele é classificado como 'irrecuperável' nas palavras da diretora da entidade. Contudo, para a pedagoga francesa Margherit Duvas, que vem ao Brasil para o desenvolvimento de uma pesquisa, Roberto representa um desafio. Determinada a fazer do menino o objeto de seu estudo, ela tenta se aproximar dele. O que surge entre os dois é uma relação de amizade e ternura, que porá em xeque a descrença de Roberto em seu futuro e desafiará Margherit a manter suas convicções.

ENCONTRO com Milton Santos. Direção de Silvio Tendler. Brasil, 2006. 1 DVD (100 min), NTSC, son., color. Apresenta a última entrevista do geógrafo Milton Santos, na qual ele traça um painel das desigualdades entre o norte rico e o mundo do sul saqueado, apresentando alternativas e um prognóstico otimista sobre o futuro da humanidade. Suas ideias e práticas, inspira o debate sobre a sociedade brasileira e a construção de um novo mundo. Seu pensamento é, sobretudo, uma aula de cidadania.

NINGUÉM sabe o duro que dei. Direção de Claudio Manoel. Brasil, 2009. 1 DVD (100 min), NTSC, son., color. Traça a trajetória impressionante de Wilson Simonal, ex-cabo de exército, que reinou soberano e acabou condenado ao ostracismo por um delito que jurava inocência. Através de depoimentos de amigos, inimigos e, principalmente, de imagens das exuberantes performances do grande artista, o filme mostra também as respostas que nunca apareceram. Simonal era informante da ditadura? Era favorável aos militares? Ou seu maior crime foi ser negro, milionário, símbolo sexual num país e numa época em que existia muito racismo?

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ÔNIBUS 174. Direção de José Padilha, Felipe Lacerda. Brasil, 2002. 1 DVD (118 min), NTSC, son., dolby digital 2.0, color. No dia 12 de junho de 2000, um ônibus cheio de passageiros é sequestrado no Rio de Janeiro, em plena luz do dia. O sequestrador, Sandro do Nascimento, aterroriza suas vítimas durante quatro horas e meia, enquanto todo o país assiste ao drama levado ao vivo pela TV. Baseado numa extensa pesquisa sobre a cobertura do crime, com entrevistas e documentos oficiais, “Ônibus 174” é uma investigação cuidadosa do sequestro, focalizando Sandro do Nascimento, sua infância, e como ele inevitavelmente estava destinado a se tornar um bandido.

ÔRÍ. Direção de Raquel Gerber. Brasil, 1989. 1 DVD (91 min), NTSC, son., dolby digital 2.0, color. Ôrí significa “cabeça”, “consciência negra”, em língua yorubá. A música, a dança, o gesto, o ritual, na expressão da cultura mais antiga da humanidade. Ôrí documenta os movimentos negros brasileiros entre 1977 e 1988, passando pela relação entre Brasil e África, tendo o quilombo como ideia central de um contínuo histórico e apresentando como fio condutor a história pessoal de Beatriz Nascimento, historiadora e militante negra, falecida prematuramente no Rio de Janeiro, em 1995. O filme mostra também a comunidade negra em sua relação com o tempo, o espaço e a ancestralidade, através da concepção do projeto de Beatriz, do “quilombo” como correção da nacionalidade brasileira.

PRAÇA Paris. Direção de Lucia Murat. Brasil : Portugal : Argentina, 2017. 1 DVD (110 min), son., dolby digital 5.1, color. Gloria é ascensorista na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É filha de um pai abusivo e irmã de Jonas, chefe do tráfico. Camila é uma jovem psicanalista portuguesa que está no Brasil para estudos sobre violência na mesma faculdade, onde começa a atender Gloria. Camila é estrangeira e deslocada em meio ao caos de uma cidade desigual, hostil e em constante transformação. Um vínculo inicialmente improvável se estabelece entre as duas e, em um contundente caso de contratransferência entre analista e analisado, essa relação extravasa as barreiras do consultório.

QUANTO vale ou é por quilo? Direção de Sérgio Bianchi. Brasil, 2005. 1 DVD (108 min), NTSC, son., color. O filme desenha um painel de duas épocas aparentemente distintas, mas, no fundo, semelhantes na manutenção de uma perversa dinâmica socioeconômica, embalada pela corrupção impune, pela violência e pelas enormes diferenças sociais. No século XVIII, época da escravidão explícita, os capitães do mato caçavam negros para vendê-los aos senhores de terra com um único objetivo: o lucro. Nos dias atuais, o chamado Terceiro Setor explora a miséria, preenchendo a ausência do Estado em atividades assistenciais, que na verdade também são fontes de muito lucro. Com humor afinado e um elenco poucas vezes reunido pelo cinema nacional, “Quanto vale ou é por quilo?” mostra que o tempo passa e nada muda.

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AGRADECIMENTO PELAS DOAÇÕES Alex Rosato Andrea Felice Claudia Cavalcanti Márcia Lopez Maria do Carmo G. Kopp Silva Maria Luiza Correa Paulo Padilha Regina Scarpa Sandra Salgado Theo Scott Vanessa Almeida de Carvalho

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