Revista n6 2016

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ler Revista do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz

Escritores que sofreram perseguição Novembro de 2016

Número 6



Novembro de 2016

Sumário Apresentação........................................................................... 5 Direitos Humanos: quando tudo começou.................................... 6 Declaração Universal dos Direitos Humanos: um divisor de águas.... 7 Artigo 19o: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão”............................................................ 8 Pen: escrita pela paz................................................................. 9 Fontes...................................................................................... 10 Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz........................... 11 Agradecimento pelas doações.................................................... 36

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Apresentação Dez de dezembro é o Dia Internacional dos Direitos Humanos, data instituída em 1950, dois anos após a Organização das Nações Unidas (ONU) adotar a Declaração Universal dos Direitos Humanos como marco legal regulador das relações entre governos e pessoas. Dentre os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ressaltamos dois: o artigo 2o, o qual afirma que não deverá existir nenhum tipo de distinção entre seres humanos, e que todos devem ter seus direitos cumpridos independentemente de cor, sexo, religião ou qualquer outro tipo de opinião ou particularidade; e o artigo 19o, que garante o direito à liberdade de expressão e de informação. Para celebrar a importante data que se aproxima, o Sistema de Bibliotecas Vera Cruz dedica o sexto número da revista Ler ao tema. Em nossos acervos, encontram-se vários livros de escritores que foram perseguidos por motivos políticos, religiosos, raciais, dentre os muitos existentes. Por terem lutado por seus direitos, denunciado o que lhes parecia incorreto e tentado tornar o mundo mais justo, alguns perderam a vida e, outros, a liberdade. Navegue por esta edição para conhecer suas biografias, e procure suas obras em nossas bibliotecas. Boa leitura!

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Direitos humanos: quando tudo começou O primeiro registro de uma declaração de direitos humanos foi o Cilindro de Ciro, escrito por volta de 539 a.C. por Ciro, rei da Pérsia. No Iluminismo, filósofos europeus desenvolveram teorias da lei natural, que deixou de estar submetida a uma ordem divina. Os

racionalistas

acredi-

tavam que todo homem é livre por natureza, e que

Parte frontal do Cilindro de Ciro, que se encontra exposto no Museu Britânico, em Londres

certos direitos inatos não podem ser despojados quando vivem em sociedade. Essa linha de pensamento inspirou o atual Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos. A concepção moderna de direitos humanos surgiu na esteira da Segunda Guerra Mundial, devido às atrocidades cometidas pelo nazismo alemão. Até então, a forma como os Estados tratavam seus habitantes era considerada uma questão interna – conceito chamado de Soberania de Vestfália –, e não uma preocupação legítima para o mundo exterior. Com o intuito de construir um mundo sobre novos alicerces ideológicos, os dirigentes das nações que emergiram como potências no período pós-guerra, lideradas por Estados Unidos e União Soviética, estabeleceram em 1945, durante a Conferência de Yalta, na Rússia, as bases de uma futura paz mundial: foram definidas áreas de influência das potências e acertada a criação de uma organização multilateral que promovesse negociações sobre conflitos internacionais para evitar guerras, fortalecer os direitos humanos e promover a paz e a democracia.

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Declaração Universal dos Direitos Humanos: um divisor de águas Assim, o período entre os anos 1945 e 1948 tornou-se o mais importante na história dos direitos do homem, culminando na criação da Organização das Nações Unidas (ONU). Foi por meio da Carta das Nações Unidas, assinada em 20 de junho de 1945, que os povos expuseram a sua determinação “em preservar as gerações futuras do flagelo da guerra; proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor da pessoa humana, na igualdade de

Assinatura da Carta da ONU, em 1945

direitos entre homens e mulheres, assim como das nações, grande e pequenas; em promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa maior liberdade”. Porém, o consenso entre a comunidade mundial era de que a Carta das Nações Unidas não tinha definido suficientemente os direitos aos quais se referia, o que fez necessária uma declaração universal para especificar os direitos individuais dos homens. Surgia, assim, em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que foi adotada pela Organização das Nações Unidas, com 48 votos a favor, nenhum voto contra e oito abstenções – a maior parte do bloco soviético, como Bielorrússia, Checoslováquia, Polônia, Ucrânia e Iugoslávia, além da África do Sul e da Arábia Saudita. Dois anos depois, em 1950, o dia 10 de dezembro foi estabelecido pela ONU como Dia Internacional dos Direitos Humanos.

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Artigo 19o: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão” A liberdade de expressão e a liberdade de informação, presentes no artigo 19o da Declaração Universal dos Direitos Humanos, contribuem para assegurar que o Estado seja administrado por pessoas competentes e honestas. Numa democracia, o livre debate sobre e entre partidos políticos expõe os seus pontos fortes e fracos, o que permite que os eleitores formem uma opinião sobre quem está mais qualificado para gerir o país. Dessa forma, o escrutínio da mídia sobre o governo e sobre a oposição ajuda a expor irregularidades, como casos de corrupção, e a impedir uma cultura de desonestidade. A liberdade de expressão e de informação promove ainda a boa governabilidade, permitindo que os cidadãos apresentem suas preocupações perante as autoridades. Se as pessoas podem dizer o que pensam sem receio, e se a mídia pode relatar o que se diz, o governo fica ciente das preocupações Eleanor Roosevelt com cartaz contendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos

do povo. Além disso, jornalistas e ativistas podem

chamar atenção para questões relativas aos direitos humanos e seus abusos, persuadindo o governo a tomar medidas. O direito à liberdade de expressão está garantido graças a uma série de tratados sobre os direitos humanos globais e regionais, assim como sob o direito consuetudinário internacional. No entanto, apesar da liberdade de expressão ser um direito universal e, portanto, entendido da mesma forma em todos os tratados, existem diferenças relacionadas à forma como esse direito é implementado. O Direito Internacional declara a liberdade de expressão como sendo a regra. As limita8


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ções são a exceção, permitidas apenas para proteger os direitos e reputações dos outros, a segurança nacional, a moral, a ordem e a saúde públicas. Porém, na prática, observam-se várias tentativas de calar vozes críticas, independentemente do que está disposto no artigo 19o. Até hoje, centenas de autores e intelectuais são perseguidos em todo o mundo por exporem o que pensam. Muitos acabam assassinados.

PEN: escrita pela paz A associação Poets, Essayists and Novelists (PEN), sediada em Londres e fundada em 1921, dedica-se à cooperação e integração global de escritores engajados em uma literatura que luta pela paz universal e, claro, pela liberdade de expressão. Porém, com a realidade das perseguições a autores incômodos, a PEN fundou, em 1960, o comitê Writers in Prison, que se ocupa exclusivamente de autores ameaçados, perseguidos e censurados, denunciando casos urgentes, mantendo-os informados sobre tendências mundiais que afetam a liberdade de expressão por meio de cartas de protesto, pressão aos governos e conscientização pública. Os membros da PEN escrevem a familiares e, quando possível, diretamente aos prisioneiros para dar-lhes esperança e apoio. Atualmente, há Comitês de Escritores em Prisão em 64 centros PEN de todo o mundo, cujos membros mantêm sempre viva e acesa uma vontade inabalável de que as vítimas da censura à liberdade de expressão nunca caiam no esquecimento, “pois são elas que lutaram por um amanhã melhor, e por isso sofrem. Não se pode deixá-las sós”. Às vésperas das comemorações dos 69 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, convidamos vocês, queridos leitores, a conhecerem escritores que já foram vítimas de perseguição e que integram – e enaltecem – o acervo das nossas bibliotecas.

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Fontes CARVALHO, Gilda. “Dia Internacional dos Direitos Humanos: uma data para ser lembrada todos os dias do ano”. Turminha do MPF: assunto de gente grande para gente pequena, Brasília, dez. 2011. Disponível em: <http://www.turminha.mpf.mp.br/direitos-das-criancas/direitoshumanos>. Acesso em: 10 out. 2016. “COMO se garante internacionalmente o direito à liberdade de expressão?”. Artigo 19: defendendo a liberdade de expressão e informação, Londres, 2016. Disponível em: <https://www. article19.org/pages/pt/international-guarantee.html>. Acesso em: 10 out. 2016. “DIREITOS humanos”. Artigo19: defendendo a liberdade de expressão e informação, Londres, 2016. Disponível em: <https://www.article19.org/pages/pt/human-rights.html>. Acesso em: 10 out. 2016. “PEN Club se bate por autores perseguidos em todo o mundo“. Bastidores do poder, Cuiabá, 16 nov. 2011. Disponível em: <http://www.bastidoresdopoder.com.br/geral/pen-club-se-bate-por-autores-perseguidos-em-todo-o-mundo/>. Acesso em: 10 out. 2016.

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Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz Confira a seguir a biografia de alguns escritores que sofreram perseguição e seus títulos presentes em nossas bibliotecas. A relação dos autores está organizada por ano de nascimento. Sua próxima leitura pode estar aqui!

Escritores brasileiros Luiz Gama Nascido em 21 de junho de 1830, Luiz Gonzaga Pinto da Gama era filho da revolucionária ex-escrava Luiza Mahin e de um fidalgo português. Aos dez anos, tornou-se cativo, vendido pelo próprio pai. Aos 17, conseguiu libertar-se e alfabetizarse. Quis ser bacharel pela Faculdade Direito de São Paulo, mas seu ingresso foi recusado por ser negro. Isso, contudo, não abateu o jovem ex-escravo, que conquistou o direito de advogar, mesmo sem diploma. “Não possuía pergaminhos, porque a inteligência repele os diplomas como Deus repele a escravidão”, escreveu Gama no artigo intitulado “Pela última vez”, em 1869, após ter sido demitido por motivação política de um cargo público. Como advogado, sem diploma, Gama libertou mais de 500 escravos, gratuitamente. Como poeta, ele deixou em suas Primeiras trovas burlescas poesias com temas sociais e, de maneira irônica, mostrava as mazelas dos poderosos da época. Dedicou seus 52 anos de vida à causa da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Venceu o racismo e a perseguição política e tornou-se a figura central da luta contra a escravidão. GAMA, Luiz. Com a palavra, Luiz Gama: poemas, artigos, cartas, máximas. Organizado por Ligia Fonseca Ferreira. São Paulo: Imprensa Oficial, 2011. 304 p., il. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Um dos principais líderes abolicionistas brasileiros, o jornalista e advogado baiano Luiz Gama (1830-1882) produziu uma vasta obra intelectual. Escreveu artigos, muitos deles com reflexões sobre a libertação dos escravos, e até poemas, cheios de lirismo e máximas de sabedoria. A publicação apresenta uma linha do tempo sobre a vida do autor, além de estudos sobre a sua produção textual e a repercussão de sua morte nos jornais e entre intelectuais da época como Raul Pompéia e Rangel Pestana. SANTOS, Luiz Carlos dos. Luiz Gama. São Paulo: Selo Negro, 2010. 120 p. (Retratos do Brasil Negro). Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM Resumo: Este título trata da vida e da obra de Luiz Gama, figura da militância negra.

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Graciliano Ramos Nascido na cidadezinha alagoana de Quebrangulo, em 1892, Graciliano Ramos era o primogênito de uma família de 16 irmãos e filho de rudes sertanejos comerciantes. Após breve passagem pelo Rio de Janeiro, ele voltou ao sertão nordestino em 1915. Em contato com figuras variadas da realidade social nordestina de então, Graciliano, pouco a pouco, foi se formando um agente político. Em 1933, foi nomeado, por sua militância e envolvimento com a educação, diretor da Instrução Pública do Estado das Alagoas. Graciliano foi preso em 1936 por sua vida política, sua obra, seus contatos e amizades a mando da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). Nenhuma acusação formal foi feita, nenhum processo criminal foi aberto contra ele. Apesar de rabiscar algumas notas enquanto esteve preso, Graciliano somente escreveu suas recordações sobre a vida na cadeia dez anos após ter sido libertado, originando Memórias do cárcere. RAMOS, Graciliano. Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1982. 226 p. Unidade: EM Resumo: Viabilizada pela colaboração de pessoas que conviveram com o escritor, principalmente sua viúva Heloísa Ramos, a publicação reúne cartas enviadas por Graciliano de 1910, quando morou em Palmeira dos Índios, no agreste de Alagoas, até a viagem que fez em 1952 pela União Soviética, Tchecoslováquia, França e Portugal. Além de curiosidades sobre a vida desse ilustre escritor, a obra traz referências históricas do Brasil que são citadas em muitas de suas correspondências. O livro proporciona uma íntima relação entre o autor e o leitor, uma vez que suas vivências são narradas minuciosamente de forma peculiar, além de ser esteticamente reveladoras. RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Prefácio de Nelson Werneck Sodré. Ilustrado por Percy Deane. 17. ed. São Paulo: Record, 1984. 378 p. Unidades: EJA / EM Resumo: Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas iniciou uma caça aos comunistas para possibilitar o fortalecimento da ditadura. Graciliano Ramos, que na época não era comunista – só entrou no PCB em 1945 –, foi um dos presos durante o período, sem qualquer justificativa ou processo. Em Memórias do cárcere, o autor relata o sofrimento do enclausuramento e a tortura por que passou do dia 3 de março de 1936 até sua soltura, em 1937, devido à pressão da opinião pública e intelectual da época. Escrito dez anos depois da prisão e só publicado após sua morte, o livro é um testemunho histórico de quem viveu na pele as privações, humilhações e a brutalidade de um regime ditatorial, com uma narração amarga, fundamental para a memória do país. RAMOS, Ricardo. Graciliano: retrato fragmentado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2011. 272 p., il. Unidade: Instituto Resumo: Retrato profundo feito por traços generosos, movidos pela memória afetiva do filho Ricardo Ramos, também escritor, que desenham e destacam aspectos e momentos desconhecidos da vida de Graciliano Ramos. Um dos pontos de partida do autor foi a constatação de que as várias biografias do grande escritor alagoano não davam a conhecer o homem por trás da obra, algo que este retrato desfaz definitivamente, ao apresentar suas sutilezas e complexidades

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MORAES, Dênis de. O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos. São Paulo: Boitempo, 2012. 360 p., il. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: A nova edição ampliada e atualizada de O velho Graça revisita a extraordinária trajetória existencial, literária, intelectual e política de Graciliano Ramos. Tendo como objeto de estudo um escritor aferrado ao seu tempo, o livro desenha o pano de fundo de cinco décadas de grande efervescência política e de transformações aceleradas no processo modernizador do Brasil. Com base em um valioso material documental, o autor traça a interligação entre as várias personas de Graciliano Ramos: o menino traumatizado pelas surras na infância, o jovem autodidata que lia Balzac, Zola e Marx em francês, o revolucionário prefeito de Palmeira dos Índios, o zeloso diretor da Imprensa Oficial e da Instrução Pública de Alagoas, o preso político no inferno da Ilha Grande, o escritor sufocado por apuros financeiros, o estilista da palavra na redação do Correio da Manhã, o militante comunista aos esbarrões com o stalinismo. Moraes recompõe a emergência dessa complexa figura – responsável pela criação de uma das obras mais significativas da literatura brasileira do século XX. E mais... Alexandre e outros heróis

Infância

Angústia

S. Bernardo

Caetés

A terra dos meninos pelados

Garranchos

Vidas secas

Dyonélio Machado Nascido em 21 de agosto de 1895, em Quaraí, cidade do Rio Grande do Sul situada na fronteira com o Uruguai, Dyonélio Tubino Machado transferiu-se ainda jovem para Porto Alegre, onde, além do jornalismo, praticou a medicina psiquiátrica. De seus estudos para o exercício profissional resultou a tese de doutorado Uma definição biológica do crime, defendida em 1933. O tema conjugava dois polos de interesse do autor: a questão médica e a social. Seu forte comprometimento o levou a participar da fundação da Aliança Nacional Libertadora, que fazia frente à ditadura imposta ao país por Getúlio Vargas. O fato custou-lhe a prisão, em 1935, quando foi transferido de Porto Alegre para o Rio de Janeiro. Lá, além de ficar detido por dois anos, estabeleceu contato com o Partido Comunista Brasileiro. MACHADO, Dyonélio. Os ratos. São Paulo: Planeta do Brasil, 2004. 208 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Naziazeno Barbosa precisa de 50 mil réis para pagar a conta do leiteiro e sai pela cidade – uma Porto Alegre do começo do século XX – para cavar o dinheiro. Como num lance de jogo, a narração seguirá as andanças desse pequeno funcionário público, movido pela mais estrita necessidade, durante um único dia. Ele retorna à casa com alguns cobres, já noite feita, encerrando o círculo de uma narrativa paranoide marcada pela busca obsessiva que raia o delírio, sem que, afinal de contas, se resolva o problema mais geral da existência de Naziazeno.

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Jorge Amado Em 10 de agosto de 1912, nasceu Jorge Leal Amado de Faria na Fazenda Auricídia, no município de Itabuna, sul da Bahia. A década de 1930 marcou a mudança de Jorge Amado para o Rio de Janeiro, sua estreia na literatura e o início de sua militância política. Em 1933, publicou o livro Cacau, que teve a primeira edição esgotada em 40 dias. O livro foi apreendido, mas liberado logo depois. No mesmo período, o autor aproximou-se do Partido Comunista. Com o lançamento de Jubiabá, Jorge Amado alcançou a consagração no cenário internacional. No entanto, pressionado por perseguidores políticos, saiu do país e, do exílio, fez oposição ao Estado Novo. Em novembro de 1937, militares baianos queimaram, a mando de Getúlio Vargas, centenas de seus livros. De volta do exterior, em 1942, o autor foi preso. Após a legalização do Partido Comunista Brasileiro, foi eleito deputado federal por São Paulo, em 1946. Dois anos depois, teve o mandato cassado e voltou ao exílio, dessa vez em Paris. Em 1950, expulso do país por motivos políticos, foi morar em Praga, de onde acompanhou o lançamento de seus livros na União Soviética. Voltou ao Brasil em 1952. AMADO, Jorge. Os ásperos tempos. 43. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. 350 p., il. (Os subterrâneos da liberdade, v. 1). Unidade: EJA Resumo: Primeiro volume da trilogia Os subterrâneos da liberdade, o livro narra a instauração do regime ditatorial do Estado Novo, imposto em 1937 por Getúlio Vargas. São Paulo e seus escritórios, seus salões da alta sociedade, seus espaços operários e aparelhos clandestinos são os principais cenários da narrativa. Os movimentos de resistência ganham destaque, como um foco de guerrilha camponesa que leva à revolta dos índios pataxós no sul da Bahia. Acompanha-se também a passagem de Apolinário, um membro do Partido Comunista, pelo Uruguai, onde o militante encontra apoio. Apesar do forte conteúdo político, a estrutura narrativa se sobressai, pois aproveita o formato de folhetim para descrever negociatas, paixões, adultérios, casamentos arranjados e perseguições policiais. AMADO, Jorge. Agonia da noite. 41. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 366 p., il. (Os subterrâneos da liberdade, v. 2). Unidade: EJA Resumo: Segundo volume da trilogia Os subterrâneos da liberdade, descreve a implantação do Estado Novo (1937-1945) e as primeiras reações ao governo ditatorial de Getúlio Vargas. O livro retrata as ações criminosas do regime e a resistência inspirada pelo Partido Comunista Brasileiro. A narrativa aborda a situação política no Brasil, mas também o panorama internacional, com a Segunda Guerra Mundial e os interesses imperialistas. O enredo apresenta o negro Doroteu, estivador no porto de Santos, e sua companheira, Inácia. Doroteu participa de um protesto contra a venda do café brasileiro ao governo de Francisco Franco, ditador espanhol. Os trabalhadores do porto iniciam uma greve, o que, durante o Estado Novo, era crime previsto na Constituição. A greve repercute em outras paragens revolucionárias: nas fábricas de São Paulo e no Mato Grosso. Agonia da noite descreve o endurecimento do Estado Novo e a necessidade urgente do combate político e da luta pela liberdade.

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AMADO, Jorge. Cacau. Posfácio de José de Souza Martins. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 176 p. (Jorge Amado). Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM Resumo: Segundo livro de Jorge Amado, Cacau, de 1934, é narrado em primeira pessoa por um lavrador, filho de industrial decaído, que trabalhara brevemente como operário fabril. O pequeno romance é a saga de uma tomada de consciência social e política. E atesta o clima de polarização ideológica da época em que foi escrito, além do entusiasmo revolucionário de seu jovem autor. Cacau inaugura também um dos veios mais ricos da literatura de Jorge Amado, o dos livros dedicados à rica e sangrenta história da região cacaueira da Bahia, imortalizada em várias de suas obras. AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 286 p., il. (Jorge Amado). Unidade: Educador EF 2 e 3 / EF 2 e 3 / EM / Instituto Resumo: O livro, de 1937, foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado. Nele, notam-se grandes preocupações sociais. A história crua dos meninos pobres, que moram num trapiche abandonado e vivem de pequenos furtos e golpes, é narrada sem condescendência pelo autor. As autoridades e o clero são sempre retratados como opressores cruéis, responsáveis pelos males. Em geral, dominam as preocupações sociais, mas os problemas existenciais dos garotos os transformam em personagens únicos, corajosos capitães da areia de Salvador. AMADO, Jorge. Hora da guerra: a Segunda Guerra Mundial vista da Bahia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 266 p., il. Unidade: EM Resumo: Reunião em livro das 103 melhores crônicas que Jorge Amado publicou diariamente, entre 1942 e 1945, no jornal O Imparcial, de Salvador. As crônicas revelam um escritor engajado no esforço dos aliados para derrotar o nazifascismo na Europa, na África e na Ásia.

AMADO, Jorge. A luz no túnel. 41. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 438 p., il. (Os subterrâneos da liberdade, v. 3). Unidade: EJA Resumo: Último volume da trilogia Os subterrâneos da liberdade, retrata, como os demais livros, episódios ocorridos durante o Estado Novo (1937-1945) e a resistência do Partido Comunista Brasileiro durante o período. As perseguições aos comunistas intensificaram-se em 1938, com as greves nas fábricas de Santo André, e vários membros do partido foram detidos. A história segue até 1940, quando ocorre o julgamento do líder revolucionário Luís Carlos Prestes, preso desde 1936. O cenário é ainda mais negativo para o Partido Comunista, mas os companheiros não perdem o otimismo. Novos militantes enxergam uma luz no túnel: em massa, eles acompanham o julgamento de Prestes, herói maior e estímulo para continuarem na luta.

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RAILLARD, Alice. Conversando com Jorge Amado. Traduzido por Annie Dymetman. Rio de Janeiro: Record, 1990. 320 p. Unidade: EJA Resumo: O livro é um painel da vida política e cultural do Brasil desde os anos 1930, com os romances de Jorge Amado analisados pelo próprio escritor ao longo da narrativa. São depoimentos reais, com uma visão crítica e às vezes bem-humorada, em que desfilam homens de Estado, intelectuais, atores, músicos, políticos, pessoas famosas do mundo todo e o povo da Bahia – matéria viva de seus romances. A partir de perguntas de Alice Raillard, tradutora e amiga do escritor, Jorge Amado fala sobre seu livro preferido, as experiências dramáticas e poéticas de sua infância e adolescência, o grupo Arco & Flecha, o primeiro romance escrito, sua prisão, o quadro que deu a Zélia Gattai quando queria conquistá-la e muitas outras situações pitorescas. E mais... ABC de Castro Alves

O menino grapiúna

O amor do soldado

O milagre dos pássaros

A bola e o goleiro O capeta Carybé O compadre de Ogum De como o mulato Porciúncula descarregou seu defunto A descoberta da América pelos turcos

A morte e a morte de Quincas Berro D’Água As mortes e o triunfo de Rosalinda O país do carnaval Os pastores da noite Seara vermelha Suor

Dona Flor e seus dois maridos

Tereza Batista cansada de guerra

Farda fardão camisola de dormir

Terras do sem-fim

Gabriela, cravo e canela

Tieta do Agreste

O gato malhado e a andorinha Sinhá

Tocaia Grande

Jubiabá

Os velhos marinheiros

Mar morto Josué Guimarães Em 7 de janeiro de 1921, em São Jerônimo, no Rio Grande do Sul, nascia Josué Guimarães. Em 1939, ele foi para o Rio de Janeiro, onde, no Correio da Manhã, iniciou-se como jornalista. Trabalhou em inúmeras funções, de repórter a diretor de jornal, em funções como secretário de redação, colunista, comentarista, cronista e correspondente internacional. De 1961 a 1964, foi diretor da Agência Nacional, hoje Empresa Brasileira de Notícias, a convite do então presidente João Goulart. A partir de 1964, perseguido pelo regime autoritário, foi obrigado a escrever sob pseudônimo. Em 1969, foi descoberto pelos órgãos de segurança da ditadura militar e respondeu a inquérito em liberdade. Democrata e humanista ferrenho, Josué Guimarães foi sistematicamente perseguido pela ditadura e pelos poderosos de plantão, mas manteve a admirável coerência que acabou por alijá-lo do meio cultural oficial.

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GUIMARÃES, Josué. As muralhas de Jericó. Porto Alegre: L&PM, 2001. 210 p. Unidade: EM Resumo: O relato é o resultado de uma grande viagem que foi realizada em 1952 à então União Soviética e à recém-convertida China comunista. Josué Guimarães fez parte do primeiro grupo de jornalistas brasileiros a entrar na China de Mao Tsé-tung e constatar as profundas modificações operadas pela revolução comunista de 1948. Narrado na primeira pessoa, As muralhas de Jericó revela, além das novidades que o repórter encontrava a todo o instante, um pouco da alma de Josué, do seu humor, de seu profundo senso de observação e, acima de tudo, de sua generosidade. É com essa generosidade que Josué Guimarães descreve, entusiasmado, a construção de uma utopia que, imaginava, poderia conduzir a um mundo melhor. E mais... Amor de perdição A casa das quatro luas

Enquanto a noite não chega

Dias Gomes Alfredo de Freitas Dias Gomes nasceu em Salvador, em 19 de outubro de 1922, mas aos 13 anos já estava no Rio de Janeiro, onde construiu sua carreira. Dias Gomes era contista, romancista e autor de novelas e minisséries para TV, mas foi a carreira no teatro que sempre o motivou. Em 1961, começou a ser perseguido politicamente, principalmente por sua opção pública pelo comunismo. Nesse ano, foi demitido do cargo de diretor artístico da Rádio Nacional e, até os anos 1970, passou a ter cortes ou proibições de seus trabalhos. GOMES, Dias. O pagador de promessas. 44. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. 146 p. (Ediouro Jovem). Unidade: EM Resumo: Peça dividida em três atos, os dois primeiros subdivididos em dois quadros cada um. A história, escrita em 1959, se passa na cidade de Salvador, já em processo de modernização. O personagem principal, o sertanejo Zé-do-Burro, deseja levar uma grande cruz até o interior da Igreja de Santa Bárbara para pagar uma promessa. Ao longo do trajeto, sofre com as mentiras, a corrupção e a ganância da sociedade. GOMES, Dias. O santo inquérito. 27. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. 132 p. (Ediouro Jovem). Unidade: EM Resumo: Peça em dois atos, escrita por Dias Gomes em 1966, O santo inquérito conta a história de Branca Dias, cristã-nova e ingênua, que foi vítima de perseguição após cometer um ato que, aos seus olhos, julgava ser de extrema bondade: salvar de um afogamento o padre da cidade. Baseado num episódio histórico ou lendário – Branca Dias, vítima da Inquisição, é considerada por alguns estudiosos uma espécie de Joana D’Arc cabocla –, para Dias Gomes o que importa é narrar o conflito entre a pureza da personagem, a sua boa-fé, a sua sinceridade, e aqueles que deturpam seu comportamento, enxergando-o como uma ameaça à ordem e ao sistema de ideias estabelecido.

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Ferreira Gullar José Ribamar Ferreira nasceu em 10 de setembro de 1930, em São Luís, Maranhão. Em 1951, mudou-se para o Rio de Janeiro. A obra de Ferreira Gullar é marcada principalmente pelas questões políticas e sociais, embora seja um dos poetas mais relevantes da literatura brasileira. No ano do golpe militar de 1964, o autor se filiou ao Partido Comunista Brasileiro. Foi preso em 1968, com o estabelecimento do AI-5. Seu posicionamento político fez com que fosse exilado durante o regime militar brasileiro. Um dos escritos mais importantes do autor, Poema sujo foi criado durante o exílio na Argentina. O poema foi gravado e trazido clandestinamente para o Brasil. Durante os anos de exílio, Gullar passou por Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires. Seu retorno ao Brasil aconteceu somente em março de 1977. GULLAR, Ferreira. Dentro da noite veloz. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. 226 p. Unidade: EM Resumo: Obra excessivamente política, os poemas de Dentro da noite veloz foram escritos uns no Brasil e outros no exílio, alguns ainda ligados às ideias do Centro Popular de Cultura (CPC), com a preocupação de denunciar o sofrimento das pessoas. A obra traz um Gullar preocupado com a necessidade de mudanças radicais no país. Sem fazer concessão à panfletagem, o poeta vence a traiçoeira vertente da poesia com matiz político-social. GULLAR, Ferreira. Poema sujo. Prefácio de Alcides Villaça. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. 110 p. Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM / Instituto Resumo: Esta é a obra mais conhecida e considerada a mais ousada do concretista Ferreira Gullar. O livro é uma espécie de desabafo do autor sobre um passado que ele não consegue e não quer calar, intensificado pelo exílio imposto pela ditadura em que se encontrava – a obra foi escrita em Buenos Aires, por volta de 1975. Com temática sexual, gírias e expressões de baixo calão, os poemas que compõem o livro fazem jus ao título da obra, na qual também se destacam as evocações ao passado vivido em São Luís e os questionamentos provocados pela realidade adversa. E mais... Barulhos

O menino arco-íris

Bichos do lixo

O rei que mora no mar

Cultura posta em questão, vanguarda e subdesenvolvimento Dr. Urubu Em alguma parte alguma A estrela e o gatinho Um gato chamado gatinho A luta corporal Os melhores poemas de Ferreira Gullar

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Relâmpagos Resmungos Sobre arte, sobre poesia Toda poesia


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Augusto Boal Augusto Pinto Boal nasceu no Rio de Janeiro, em 1931. Foi autor, diretor e teórico do teatro. Por ser um dos poucos a escreverem sobre sua prática, formulando teorias a respeito de seu trabalho, Boal tornou-se referência do teatro brasileiro e principal liderança do Teatro de Arena de São Paulo, nos anos 1960. É o criador do Teatro do Oprimido, metodologia internacionalmente conhecida que alia teatro à ação social. A entrada em vigor do AI-5 fez com que o dramaturgo deixasse o país com o Arena, em uma excursão de um ano, entre 1969 e 1970, pelos Estados Unidos, México, Argentina e Peru. Quando voltou ao Brasil, foi preso e torturado, e decidiu seguir para a Argentina. Boal passou ainda por outros países antes de voltar ao Brasil, em 1984. BOAL, Augusto. Crônicas de nuestra América. São Paulo: Codecri, 1977. 168 p., il. (Edições do Pasquim). Unidade: EJA Resumo: Escritas entre 1971 e 1976, na fase do exílio latino-americano do dramaturgo, quando vivia em Buenos Aires, as crônicas se inserem no mesmo contexto em que Boal transforma sua visão de arte política para criar o Teatro do Oprimido, apresentando um novo sentido para toda a sua obra. Por meio da publicação regular dessas crônicas no jornal O Pasquim, Augusto Boal reata pela primeira vez seu vínculo com o público brasileiro, após sua prisão pelo regime militar e o exílio involuntário. Publicadas em conjunto em 1977, estas pequenas histórias revelam ainda uma faceta pouco conhecida de sua obra: a do cronista mordaz e bem-humorado dos tempos obscuros das ditaduras em nosso continente. E mais... 200 exercícios e jogos para o ator e o não ator com vontade de dizer algo através do teatro Jogos para atores e não atores

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Escritores estrangeiros Giordano Bruno Giordano Bruno nasceu em Nola, perto de Nápoles, em 1548. Durante um período da história em que a prática da Inquisição corria solta nos lábios de homens poderosos da Igreja que viam heresia em quase tudo, o gênio Giordano Bruno recusou-se a medir suas palavras, optando por escrever livremente sobre as suas crenças panteístas e outras ideias consideradas blasfêmia pela Igreja. Ele foi preso e, depois de um longo julgamento, queimado vivo pelo que escreveu. Bruno era um astrônomo notável e criou teorias que ainda hoje são usadas no campo da filosofia. BRUNO, Giordano. Sobre o infinito, o universo e os mundos. Traduzido por Helda Barraco. São Paulo: Nova Cultural, 1988. 278 p. (Os Pensadores). Unidade: EJA Resumo: Mesmo no século XXI, os enigmas do universo ainda não foram completamente desvendados graças à constatação, séculos atrás, de um pensador que expôs pela primeira vez a infinitude do universo e a possibilidade de vidas inteligentes em outros mundos. Seu nome era Giordano Bruno. Estimulado pela introdução do sistema heliocêntrico de Copérnico e tomado de um profundo gosto pela controvérsia, defendeu a ideia da pluralidade dos mundos. É evidente que suas ideias não foram prontamente aceitas, já que o homem tem em sua natureza, talvez para se sentir seguro, a tendência de acreditar naquilo que é comprobatório ou palpável. Entretanto, isso não foi empecilho para o desenvolvimento de sua teoria. Seu ponto de partida foi contestar com veemência as posições aristotélicas, favoráveis ao geocentrismo e à ideia da existência de um único mundo. Sobre o infinito, o universo e os mundos é uma obra que contribuiu sobremaneira para a astronomia, pois, em razão de sua conclusão, hoje estamos cientes da amplitude do universo e, mesmo que novas descobertas caminhem a passos lentos, é inegável que seu conteúdo nos legou a base necessária para explorarmos novas ocorrências. Fiódor Dostoiévski Nasceu em Moscou, no dia 30 de outubro de 1821. Um dos maiores autores da história da humanidade, Dostoiévski teve uma vida complicada. Ele foi detido e preso em 23 de abril de 1849 por participar de um grupo intelectual revolucionário chamado Círculo Petrashevski, sob a acusação de conspirar contra o czar Nicolau I. Condenado à morte, teve sua pena transformada em trabalhos forçados e exílio somente quando já estava prestes a ser fuzilado. Tal fato o marcou para sempre. Dostoiévski viveu anos preso na Sibéria até finalmente ser solto em 1854. Durante esse tempo, começou a escrever Memórias da casa dos mortos, baseado em suas experiências como prisioneiro. Como ex-detentos eram proibidos de escrever memórias e relatos, Dostoiévski disfarçou a obra de ficção, como a história de um homem preso por assassinar a esposa em uma crise de ciúme. Esse fato gerou um equívoco e, por anos, muitas pessoas acreditaram que esse havia sido o crime do escritor. A obra alcançou um grande sucesso na Rússia e restabeleceu a reputação literária de Dostoiévski.

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DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Uma criatura dócil. Traduzido por Fátima Bianchi. São Paulo: Cosac Naify, 2003. 96 p., il. (Russinhos). Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM Resumo: Um homem frio e solitário, que busca “vingar-se do mundo” devido às humilhações sofridas no passado, encontra no casamento uma oportunidade para destilar seu rancor, numa relação de poder opressora com sua esposa. Dostoiévski traça um mapa de como os oprimidos tornam-se opressores, criando novas vítimas. O processo ocorre de forma totalmente inconsciente, o que é perceptível na evolução do pensamento do protagonista, que está sempre se justificando e, na verdade, não tem a menor ideia do que está fazendo. Autocentrado, o personagem não é capaz de enxergar a esposa, apenas suas próprias necessidades de ser admirado e querido. As circunstâncias do livro se tornam ainda mais dramáticas porque toda a história é narrada a partir das memórias do marido tomado pelo desespero e culpa, depois do suicídio da esposa. DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os demônios: romance em três partes. Traduzido por Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2004. 704 p., il. (Leste). Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM / Instituto Resumo: Clássico da literatura universal, o romance conta a história de personagens terroristas. Motivado por um episódio verídico – o assassinato do estudante Ivanov pelo grupo niilista liderado por Nietcháiev, ocorrido em 1869 –, o livro foi concebido no ano seguinte com fins assumidamente panfletários. Entretanto, ao recriar ficcionalmente esse acontecimento, o escritor acaba por compor também um estudo do pensamento político, social e filosófico de seu tempo. Escrito numa época em que a violência, a ignorância, o terrorismo e a impostura ideológica eram considerados os verdadeiros demônios que assolavam o século XX, o livro, além de mostrar o talento do autor, apresenta muitos traços da realidade atual. DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Uma história lamentável. Traduzido por Gulnara Lobato de Morais Pereira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 102 p. (Leitura). Unidade: EM Resumo: Esta obra é uma pequena narrativa sobre a classe política dos liberais russos, mais preocupados com os próprios cargos do que com o bem-estar do povo. Iván Ilítch Pralínskii é um jovem de alto cargo, o conselheiro de Estado da Rússia. Vindo de boa família, estudou nos melhores colégios e teve bom êxito em seu cargo, tornando-se general muito novo. Bastante rico, mas de uma imaginação excessiva e exagerada, adotou para si as novas ideias liberais da Rússia. DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os irmãos Karamázov. Traduzido por Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2008. 439 p. (Leste). Unidades: Educador EF 2 e 3 / EJA / EM / Instituto Resumo: Um pai é morto pelo filho. Em torno desse parricídio a obra-prima de Dostoiévski se desenvolve, concluída pouco antes da sua morte. O enredo policial é apenas o ponto de partida do romance, que avança na compreensão do ser humano. Partindo de cada um dos filhos de Karamázov, a obra se aprofunda com reflexões sobre os problemas da Rússia do século XIX e a apresentação de um painel dos dramas universais.

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DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Memórias da casa dos mortos. Traduzido por Natália Nunes, Oscar Mendes. Porto Alegre: L&PM, 2009. 328 p. (L&PM pocket). Unidade: EM Resumo: Publicada em capítulos entre 1860 e 1862 na revista Mundo Russo, a obra beira o relato documental, já que foi construída a partir de anotações que o escritor fez às escondidas, de diálogos que presenciou e também de suas próprias impressões. Por meio do personagem de Alieksandr Pietróvitch, assassino confesso da própria mulher, Dostoiévski constrói um brutal e minucioso relato do dia a dia dos prisioneiros. Aqui, o grande autor perscruta a fundo a alma de cada um deles, revelando o sofrimento físico e mental do cárcere e a progressiva anulação da individualidade, sem deixar de criticar um sistema que fomenta o ódio e que não se preocupa em recuperar os cidadãos. E mais... O adolescente A aldeia de Stiepântchikov e seus habitantes

Notas de inverno sobre impressões de verão Um pequeno herói

Crime e castigo

A senhoria

O crocodilo

O sonho de um homem ridículo

O duplo O eterno marido Gente pobre Humilhados e ofendidos O idiota Um jogador Memórias do subsolo Niétotchka Niezvânova Noites brancas Thomas Mann O escritor Paul Thomas Mann nasceu em Lübeck, norte da Alemanha, em 6 de junho de 1875, filho do comerciante Johann Heinrich Mann e da brasileira Júlia da Silva Bruhns. Em 1901, seu primeiro romance, Buddenbrooks, foi editado, o que o tornou um dos escritores mais notáveis do século XX. Em 1929, Thomas Mann recebeu o Nobel de Literatura. Mann emigrou da Alemanha para Küsnacht, perto de Zurique, na Suíça, em 1933, ano da chegada de Hitler ao poder. Durante o regime nazista, o jornal Völkischer Beobachter (Observador Popular) publicou as chamadas listas de expatriados. Os nomes de Thomas Mann, sua mulher e seus filhos constavam na lista. Após ter perdido a nacionalidade alemã, em 1936, Thomas Mann permaneceu na Suíça até 1938, mudando-se então para os Estados Unidos da América. Diante da perseguição aos emigrados perpetrada durante o macartismo, Mann retornou à Europa em 1952.

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MANN, Thomas. Doutor Fausto: a vida do compositor alemão Adrian Leverkühn narrada por um amigo. Traduzido por Herbert Caro. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 624 p. (Thomas Mann). Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Publicada em 1947, a obra é uma releitura moderna da lenda de Fausto, em que o autor constrói uma alegoria da ascensão do Terceiro Reich e da renúncia da Alemanha à sua própria humanidade. O protagonista é o compositor Adrian Leverkühn, gênio isolado da cultura alemã, que cria uma música radicalmente nova e balança as estruturas da cena artística da época. Em troca de 24 anos de verve musical sem paralelo, ele entrega sua alma e a capacidade de amar as pessoas em um pacto metafísico. Mann faz uma reflexão profunda sobre a identidade alemã e as terríveis responsabilidades de um artista. MANN, Thomas. A montanha mágica. Traduzido por Herbert Caro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. 958 p. Unidade: EM Resumo: A obra trata da história do jovem engenheiro naval alemão Hans Castorp. Ele visita o primo Joachim Ziemssen num sanatório para o tratamento de doenças respiratórias localizado em Davos, nos Alpes suíços, pouco antes do começo da Primeira Guerra Mundial. Apesar de encaminhado ao sanatório apenas para tratar uma anemia, Hans Castorp mostra sinais de uma tuberculose pulmonar e acaba estendendo sua visita durante anos. Nesse período, Castorp, pouco a pouco, afastase da vida “na planície” e conquista o que chama de liberdade da vida normal. Desligase do tempo, da carreira e da família e é atraído pela doença, pela introspecção e pela morte. Ao mesmo tempo, amadurece e trava contato mais profundo com a política, a arte, a cultura, a religião, a filosofia, a fragilidade humana (incluindo a morte e o suicídio), o caráter subjetivo do tempo e o amor. O sanatório forma um microcosmo europeu. Os numerosos personagens do livro são representações de tendências e pensamentos que predominavam na Europa do pré-guerra, conhecido como o período dos anos loucos. Janusz Korczak Pseudônimo de Henryk Goldszmit, nascido em Varsóvia em 22 de julho de 1878 ou 1879, foi pediatra, autor infantil e pedagogo judeu polonês. Entre 1911 e 1912, tornou-se diretor do Dom Sierot, orfanato para crianças judias na capital polonesa. No orfanato, criou uma espécie de república das crianças, com um parlamento, tribunal e jornal próprios. Depois da Primeira Guerra Mundial, fundou outro orfanato chamado Nasz Dom (Nosso lar). Em 1939, testemunhou a chegada do exército alemão a Varsóvia. Quando os nazistas criaram o gueto de Varsóvia em 1940, seu orfanato foi obrigado a se mudar para dentro do gueto. Para não abandonar suas crianças, Korczak foi junto. Em agosto de 1942, soldados alemães levaram cerca de 200 crianças do orfanato, 12 funcionários e Janusz Korczak para o campo de concentração de Treblinka. Não se tem claro o que aconteceu com Korczak após o episódio. O mais provável é que tenha morrido numa câmara de gás ao chegar ao campo de concentração.

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LEWOWICKI, Tadeusz; SINGER, Helena; MURAHOVSCHI, Jayme (Org.). Janusz Korczak: perfil, lições, “o bom doutor”. São Paulo: EDUSP, 1998. 108 p. Unidade: Instituto Resumo: Mais de meio século se passou desde a morte de Janusz Korczak e suas 200 crianças em Varsóvia pelas forças nazistas, na Polônia. O método e obra de Korczak expressam um espírito pioneiro, ousado e, por isso mesmo, até hoje polêmico e inovador no campo da pediatria e da educação. Dentre os seus vários livros publicados, destacase O direito da criança ao respeito, que constitui a base adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a formulação da Declaração dos Direitos da Criança, com parâmetros de atuação mundial para a infância. E mais... Como amar uma criança

Quando eu voltar a ser criança

O direito da criança ao respeito Stefan Zweig Nascido em 1881, em uma família judaica rica, viveu a efervescência cultural de Viena no começo do século XX. Amigo de grandes intelectuais e artistas, desde a Primeira Guerra Mundial se tornou pacifista. Humanista e crítico de primeira hora do nazifascismo, Zweig foi um escritor profícuo: seus romances e biografias fizeram enorme sucesso nos anos 1920 e início dos anos 1930, mas, com a ascensão de Hitler, teve seus livros queimados em praça pública. Perseguido, iniciou sua peregrinação de exilado. Após passar por vários países, refugiou-se no Brasil em 1941, mais especificamente em Petrópolis (RJ), onde se suicidou com a mulher no ano seguinte, desolado com o aumento do autoritarismo e da intolerância no mundo. ZWEIG, Stefan. Autobiografia: o mundo de ontem: memórias de um europeu. Traduzido por Kristina Michahelles. Posfácio de Alberto Dines. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. 400 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: O livro de memórias de Stefan Zweig é o retrato nostálgico de um mundo desaparecido – o da Europa anterior a 1914, a que se contrapõe o período conturbado de duas guerras mundiais, intercaladas por uma curta época de paz e de esperança no renascimento da Europa. Trata-se de uma obra que permite ao leitor inteirar-se das principais mudanças ocorridas na sociedade europeia, desde o final do século XIX até os anos 1940. ZWEIG, Stefan. O mundo que eu vi. Traduzido por Lya Luft. Rio de Janeiro: Record, 1999. 528 p. Unidade: EM Resumo: Lâmpadas elétricas substituíam lampiões, o telefone e os aviões começavam a eliminar distâncias e a Europa parecia o lugar mais seguro para se viver. O escritor já tinha percorrido o mundo, da América à Rússia, e presenciado a barbárie das guerras. Por ser judeu, não tardou para que seus livros fossem queimados e entrassem para a lista de publicações proibidas. Em 1934, Zweig che-

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gou ao continente americano a pretexto de conferências e negociações com editores e descobriu um novo paradeiro: o Brasil. Desse encantamento pelo país resultaram o livro Brasil, país do futuro e a decisão de morar em terras tropicais, mas somente em 1941 o pacifista Zweig encontrou tranquilidade na serra fluminense para finalizar sua autobiografia O mundo que eu vi, um de seus livros fundamentais. E mais... 24 horas na vida de uma mulher

Três novelas femininas

Maria Antonieta Boris Pasternak Boris Leonidovitch Pasternak nasceu em Moscou, em 10 de fevereiro de 1890. Poeta próximo ao futurismo russo, Pasternak caiu em desgraça com as autoridades soviéticas durante os anos 1930, acusado de subjetivismo. Em 1958, ele publicou seu mais conhecido trabalho no mundo ocidental: o romance Doutor Jivago. O livro não pôde ser editado na União Soviética devido às críticas ao regime. Os originais foram contrabandeados para fora da chamada Cortina de Ferro e editados na Itália, e o livro rapidamente se tornou um best-seller, pelo qual Pasternak recebeu um Nobel de Literatura. Entretanto, como o livro era proibido pelo governo de Moscou, Pasternak foi impedido de receber o Nobel e obrigado a devolver a honraria. A censura a Doutor Jivago dentro da União Soviética vigorou até 1989, quando a política de abertura de Mikhail Gorbatchev, líder da então URSS, liberou a obra. PASTERNAK, Boris. Doutor Jivago. Traduzido por Zoia Prestes. Rio de Janeiro: Record, 2002. 630 p. (Grandes Traduções). Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Por meio da história do médico e poeta Iuri Jivago, o autor recriou parte da história moderna da Rússia, com foco em seu povo. Nascido no regime czarista, criado durante a Primeira Guerra Mundial e incapaz de controlar seu destino diante da revolução e da guerra civil entre o Exército Branco e o Vermelho, Jivago firmou-se como um dos grandes heróis trágicos da literatura russa. Jovem médico, rico, preso pelos bolcheviques e obrigado a colaborar com a revolução, foi separado da mulher e, mais tarde, de Lara, seu grande amor. Dashiell Hammett Hammett nasceu em 27 de maio 1894, no estado de Maryland, nos Estados Unidos. Começou a trabalhar aos 14 anos para ajudar a sustentar a família e, em 1915, foi contratado pela Agência de Detetives Pinkerton. Esse período serviu-lhe de inspiração para a escrita de romances policiais. O falcão maltês, publicado em 1930, é o seu livro mais famoso. Dashiell Hammett foi membro do Partido Comunista nos anos 1930 e pagou um preço caro por isso: processado e perseguido pelo macartismo, o escritor entrou para a lista negra, amargou meses na prisão e teve seus livros retirados das bibliotecas.

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HAMMETT, Dashiell. A chave de vidro. Traduzido por Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 264 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Estados Unidos, 1930. Dois grupos de mafiosos se digladiam por poder político. O chefe de um deles, Paul Madvig, está empenhado na campanha de reeleição do senador Ralph Bancroft Henry. Seus interesses são políticos e afetivos, já que ele tem a intenção de se tornar seu genro. Às vésperas das eleições, o filho do senador é encontrado morto e se transforma em arma na disputa pelo poder. Num cenário de corrupção, que envolve um promotor público subserviente, policiais desonestos e muito uísque, sucedem-se, em ritmo vertiginoso, cenas de violência, sequestros, assédio e traição. HAMMETT, Dashiell. Safra vermelha. Traduzido por Marcos Augusto Pessoa Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 1987. 277 p. (Circo de letras). Unidade: EF 2 e 3 Resumo: Ninguém melhor que Dashiell Hammett compreendeu o submundo da violência nos Estados Unidos. Em Safra vermelha, poder político e econômico revelam o gangsterismo. Poderosos e marginais estão todos no mesmo barco, arrastados pela sangrenta enxurrada de acontecimentos. Frio e penetrante como um estilete, este livro, dos mais violentos do gênero noir, é uma verdadeira metáfora da engrenagem da sociedade capitalista. E mais... O falcão maltês

Maldição em família

Isaac Babel Isaac Emmanuilovich Babel nasceu em Odessa, Império Russo, em 13 de julho de 1894. Autor da prosa mais intensa e original da Rússia pós-revolucionária, Isaac Babel tornou-se conhecido mundialmente a partir da publicação dos contos de O exército de cavalaria, em 1926. Figura enigmática, seu enorme prestígio junto às autoridades do regime soviético não o poupou da perseguição stalinista. Babel decidiu parar de escrever quando Stalin forçou todos os escritores russos a seguirem os preceitos do realismo socialista. O escritor selou o seu destino quando tentou apresentar a peça Maria, que não só foi contra as preferências artísticas de Stalin como também era carregada de referências à corrupção do Estado. O NKVD (agência antecessora da KGB) fechou o teatro durante os ensaios e prendeu Babel, declarado como traidor. Ele foi morto a tiros e jogado em uma vala comum. BABEL, Isaac. O exército de cavalaria. Traduzido por Aurora Fornoni Bernardini, Homero Freitas de Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2006. 256 p. (Prosa do mundo). Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Conhecido em todo o ocidente como A cavalaria vermelha, este livro de 1926 é formado por contos que compõem um mosaico estilhaçado das convulsões sociais por que passou a Rússia nos anos 1920. O livro reflete a experiência de Isaac Babel na Guerra Polaco-Soviética de 1919 a 1921. Judeu, russo e míope, o narrador registra sua permanente sensação de deslocamento em meio aos brutais cossacos que lutam a seu lado. Com sua prosa expressionista, Babel parecia encarnar o ideal soviético de uma literatura revolucionária.

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BABEL, Isaac. Maria: uma peça e cinco histórias. Traduzido por Aurora Fornoni Bernardini, Homero Freitas de Andrade, Boris Schnaiderman, Rubem Fonseca. São Paulo: Cosac Naify, 2003. 144 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: A reunião de cinco contos (“Mamãe, Rimma e Alla”, “História do meu pombal”, “Uma carta”, “A morte de Dolguchov” e “Meu primeiro ganso”) e uma peça teatral fornece amostra significativa do estilo e dos temas de Isaac Babel. Maria é a última peça criada pelo escritor russo. Escrita em 1935, a peça nunca foi encenada diante da repressão política que vigorava na URSS stalinista. De teor polêmico, Maria trata da vida numa ordem cada vez mais autoritária, na qual o espaço para o romantismo dos bandidos (tema presente em diversas obras de Babel) é cerceado pelas próprias engrenagens do Estado soviético. Bertolt Brecht Nasceu em 10 de fevereiro de 1898, em Augsburg, Alemanha. Em 1927 Brecht conheceu o músico Kurt Weill, e dois anos depois eles criaram juntos a Ópera dos três vinténs, que se tornaria um grande sucesso. A partir daí, o dramaturgo passou por um período de grande produtividade. Escreveu, dentre várias outras peças, Mãe Coragem e seus filhos, Ascenção e queda da cidade de Mahagonny e A Santa Joana dos Matadouros. Em 1933, com a perseguição nazista, Brecht exilou-se na Suíça, depois em Paris e, finalmente, na Dinamarca. Com a invasão da Dinamarca pelos alemães em 1941, partiu novamente, refugiando-se em Nova York. Dois anos após o fim da Segunda Guerra, em 1947, retornou à Europa e instalou-se definitivamente em Berlim no ano seguinte. BRECHT, Bertolt. O círculo de giz caucasiano. Traduzido por Manuel Bandeira. São Paulo: Cosac Naify, 2002. 214 p. (Prosa do mundo). Unidade: EM Resumo: Peça escrita ao final da Segunda Guerra Mundial, durante o exílio americano de Bertolt Brecht. O dramaturgo alemão se questionava sobre a disputa global ao escrever este drama em que duas fazendas coletivas disputam a posse de um vale fértil na União Soviética. Os antigos donos do local afirmam que o vale é deles por tradição. Já a outra comunidade, que deseja repartir o vale, apresenta propostas e projetos para que a terra seja, de fato, bem aproveitada. Para resolver a questão, elas recorrem a um bardo local, que lhes conta a história do círculo de giz na Geórgia. BRECHT, Bertolt. A Santa Joana dos Matadouros. Traduzido por Roberto Schwarz. São Paulo: Cosac Naify, 2001. 212 p. (Prosa do mundo). Unidade: EM Resumo: Ao escrever em meio à turbulência do entreguerras, Brecht fez do palco um espaço de investigação estética. Sua investida contra os valores burgueses culmina em um conjunto de obras na década de 1920. No centro da peça está uma militante dos Boinas Pretas (uma espécie de Exército da Salvação), que acredita na bondade e no amor da religião como forma de promover um acordo entre os empregados e os patrões em meio à crise da indústria de carne de Chicago. Sua experiência sangrenta, porém, vai obrigá-la a tomar consciência, já à beira da morte, do antagonismo de classes, da hipocrisia da religião e da ilusão das boas intenções.

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BRECHT, Bertolt. Mãe Coragem e seus filhos. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. 266 p. (Teatro). Unidade: EM Escrita em 1939, é uma das nove peças compostas na tentativa de conter o avanço do fascismo e do nazismo. Seguindo os princípios brechtianos de drama político, a peça não está situada em sua época, mas na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Ela retrata o destino de Anna Fierling, apelidada de Mãe Coragem, uma mascate determinada a viver da guerra que segue o exército sueco. Durante o curso da peça, ela perde seus três filhos para a mesma guerra que a faz lucrar. E mais... A cruzada das crianças Os fuzis da senhora Carrar Poemas: 1913-1956 Vida de Galileu Federico García Lorca García Lorca nasceu em Fuente Vaqueros, Granada, na Espanha, em 5 de junho de 1898. Por meio de sua obra, identificou-se com os mouros, judeus, negros e ciganos, alvos de perseguições ao longo da história de sua região. Ele próprio sentiu na pele a discriminação com que os espanhóis trataram sua homossexualidade. Lorca se opôs à ideologia de Francisco Franco durante a Guerra Civil. Recebeu apoio de seus amigos intelectuais, mas rejeitou o asilo político oferecido por países como México e Colômbia. Em 16 de agosto de 1936 foi capturado e, embora prometessem a sua libertação antecipada, foi fuzilado e enterrado em uma vala comum. GARCÍA LORCA, Federico. Prosa viva / Ideário coligido. Traduzido por Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, 1975. 160 p., il. (Biblioteca Manancial, 13). Unidade: Instituto Resumo: O gênio lírico e teatral de Federico García Lorca absorveu a tal ponto a atenção de leitores e estudiosos que seus escritos em prosa são, muitas vezes, injustamente silenciados ao se proceder à avaliação global de sua obra. Este volume reúne uma série de trabalhos de natureza crítica, de ensaios e cartas que revelam a universalidade do talento do grande poeta granadino. GARCÍA LORCA, Federico. Romanceiro cigano. Traduzido por Fábio Aristimunho Vargas. São Paulo: Hedra, 2011. 164 p. Unidade: EM Resumo: Publicado em 1928 e considerado um dos pontos altos da obra de Lorca, o livro reúne dezoito poemas que têm como tema aspectos da cultura cigana de Andaluzia. Além de poemas estritamente líricos, há também os narrativos, que se inserem na tradição hispânica dos romances, forma de poesia narrativa de temática prosaica, muito em voga nos séculos XVI e XVII. O Romanceiro pode ser entendido no âmbito das trocas entre a cultura popular e a produção erudita, que ocasionou grandes obras no século XX, tanto nas letras quanto em outras artes.

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E mais... Os encontros de um caracol aventureiro

Poemas de amor Santiago

Meu coração é tua casa Varlam Chalámov Varlam Tíkhonovitch Chalámov nasceu em 18 de junho de 1907, em Vólogda, Rússia. Em 1926 foi admitido no curso de Direito da Universidade de Moscou, quando começou a escrever seus primeiros poemas. Em fevereiro de 1929 foi detido numa gráfica clandestina imprimindo panfletos contra Stalin. Condenado a três anos de trabalhos correcionais, cumpriu a pena na região de Víchera, nos montes Urais. Libertado, retornou a Moscou no início de 1932. Em 1936 teve sua primeira obra publicada: o conto “As três mortes do doutor Austino”. Em janeiro de 1937 foi detido novamente e condenado por “atividades trotskistas contrarrevolucionárias”, sendo enviado para a região de Kolimá, no extremo oriental da Sibéria, onde permaneceu por 15 anos em diversos campos de trabalhos forçados. No final dos anos 1940, extremamente debilitado pelas condições extremas de sobrevivência nos campos, foi ajudado por um médico e fez um curso de enfermagem, passando a trabalhar em hospitais de prisioneiros. Em 13 de outubro de 1951, chegou ao fim sua pena. CHALÁMOV, Varlam. Contos de Kolimá: v. 1. Traduzido por Denise Sales, Elena Vasilevich. Apresentação de Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34, 2015. 304 p. (Leste). Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Em Kolimá, região desolada no extremo leste da Sibéria, onde as temperaturas alcançam 60 graus negativos, localizavam-se alguns dos campos de trabalhos forçados mais terríveis da era stalinista. Foi aí que o escritor russo Varlam Chalámov cumpriu a maior parte de sua pena de quase 20 anos, trabalhando até 16 horas por dia em minas de ouro e carvão, constantemente doente e subnutrido. Ao final desse período, retornou a Moscou e, no ano seguinte, começou a escrever sua obra monumental: as mais de 2 mil páginas dos Contos de Kolimá, trabalho que lhe tomaria outros 20 anos e no qual a escavação profunda da memória e o relato autobiográfico são acompanhados a cada passo por uma reflexão aguda sobre os limites do humano em face de experiência tão brutal. Mario Benedetti Benedetti nasceu em Paso de los Toros, a 200 quilômetros ao norte de Montevidéu, em 14 de setembro de 1920. Seu primeiro envolvimento político se deu em 1952, quando participou do movimento contra o tratado militar com os Estados Unidos. No ano seguinte, publicou Quién de nosotros, seu primeiro romance. Em 1960, lançou A trégua, seu romance mais conhecido. Em 1971, participou da vida política uruguaia como membro do Movimiento 26 de Marzo. O golpe militar no Uruguai em 1973 o obrigou a abandonar sua pátria; Benedetti partiu para o exílio em países, como Argentina, Peru e Cuba, até chegar à Espanha. Retornou a Montevidéu apenas depois de dez longos anos.

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BENEDETTI, Mario. A borra do café. Traduzido por Joana Angélica d’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2012. 188 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Mario Benedetti mescla memória e ficção ao resgatar suas lembranças de infância em Montevidéu para construir uma narrativa lírica. As surpresas e as dificuldades do amadurecimento aparecem em pequenos acontecimentos de uma vida distante, fazendo com que o leitor reconheça a si mesmo nos relatos. Na figura do jovem Claudio, Benedetti reinventa muitas passagens marcantes de sua própria vida: as brincadeiras de rua com os amigos, as constantes mudanças de bairro com a família, a trágica morte da mãe e a descoberta do amor e do sexo. BENEDETTI, Mario. Correio do tempo. Traduzido por Rubia Prates Goldoni. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007. 168 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Publicado em 1999, o livro reúne relatos breves que mesclam ironia, delicadeza e profundidade, num estilo que consagrou Mario Benedetti em romances como A trégua, clássico contemporâneo da literatura latino-americana. Os contos tratam dos mais diversos tipos de encontros e despedidas, do distanciamento e da passagem do tempo. São recortes precisos em que o autor, mesmo nos momentos mais duros, é capaz de aliar humor e, sempre, a possibilidade de redenção. BENEDETTI, Mario. A trégua. Traduzido por Joana Angélica d’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007. 180 p. Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM Resumo: Publicado em 1960, A trégua é o mais famoso romance de Mario Benedetti e uma das obras mais importantes da literatura latino-americana contemporânea. Escrito em formato de diário e com fina ironia, o livro conta a história de Martín Santomé, um “homem maduro, de muita bondade, meio apagado, mas inteligente”. Prestes a completar 50 anos, viúvo há mais de 20, Santomé mora com os três filhos. Ele não se relaciona bem com nenhum deles, tem poucos amigos e mantém uma rotina monótona. Conta os dias que faltam para a aposentadoria, mas não tem ideia do que fará quando se vir livre do trabalho maçante. Seu destino, no entanto, muda quando conhece Laura Avellaneda, uma jovem discreta e tímida contratada para ser sua empregada. Com ela, Martín Santomé volta a conhecer o amor. Muito mais do que uma história de afeto, A trégua é um questionamento sobre a felicidade e um retrato, às vezes bem-humorado, às vezes ferino, dos difíceis relacionamentos humanos, tema que é uma de suas especialidades. Eduardo Galeano Nascido em Montevidéu em 3 de setembro de 1940, Eduardo Galeano começou muito jovem no jornalismo e nos mais variados gêneros literários. Ensaísta, historiador e ficcionista, publicou mais de 30 livros, quase todos traduzidos no Brasil. É autor de As veias abertas da América Latina, traduzido para dezenas de idiomas, em que denunciou a opressão e a amargura do continente. Durante o golpe militar no Uruguai, em 1973, Galeano foi preso. Para fugir da cadeia, exilou-se na Argentina. Em 1976, outro golpe militar, desta vez liderado pelo general Jorge Videla, colocou novamente sua vida em risco. O nome do escritor foi parar na lista dos esquadrões da morte, que executavam opositores ao regime. Dessa vez, refugiou-se na Espanha. Ele só voltaria ao Uruguai em 1985, com a redemocratização do país.

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GALEANO, Eduardo. Memória do fogo. Traduzido por Eric Nepomuceno. Porto Alegre: L&PM, 2010. 3 v. (L&PM pocket). Unidade: EM Resumo: Na trilogia Memória do fogo, Eduardo Galeano traça um painel da história da América Latina nos últimos 500 anos. Personagens, mitos, lendas, batalhas, vencedores e vencidos desfilam diante dos leitores em flashes carregados de lirismo e emoção. Os nascimentos, primeiro livro, tem como palco a América précolombiana e o período entre os últimos anos do século XV até o ano de 1700; o segundo, As caras e as máscaras, os séculos XVIII e XIX; e O século do vento, o último a compor a trilogia, fecha o século XX. Galeano tornou-se símbolo de resistência à exploração dos povos oprimidos do continente latino-americano. GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Traduzido por Galeno de Freitas. 45. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 368 p. (Estudos latino-americanos, 12). Unidade: EM Resumo: Editado pela primeira vez em 1970, este livro tornou-se um “clássico libertário”, um inventário da dependência e da vassalagem de que a América Latina tem sido vítima desde que nela aportaram os europeus no final do século XV. No começo, foram os espanhóis e portugueses. Depois vieram ingleses, holandeses, franceses, e, modernamente, os estadunidenses. Com seu texto lírico e amargo a um só tempo, Galeano sabe ser suave e duro, e invariavelmente transmite uma mensagem que transborda humanismo, solidariedade e amor pela liberdade e pelos desvalidos. E mais... Bocas do tempo

O livro dos abraços

História da ressurreição do papagaio

A pedra arde

Antonio Skármeta Skármeta nasceu em 7 de novembro de 1940, em Antofagasta, no Chile. Em 1969, recebeu o Prêmio Casa de las Américas por Desnudo en el tejado. Produziu um filme sobre o Movimento de Ação Popular e Unitária (MAPU), do qual era membro. Com o golpe militar em 1973, Skármeta foi obrigado a deixar seu país. No seu exílio em Berlim, escreveu, dentre outras obras, Não foi nada, lírica história de um adolescente filho de exilados, seus conflitos existenciais e políticos num país que ele não escolheu, onde não conhecia ninguém e cuja língua não falava. Em 1989, retornou ao Chile. SKÁRMETA, Antonio. Não foi nada. Traduzido por Ari Roitman, Paulina Wacht. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. 106 p., il. Unidade: EF 2 e 3 Resumo: Em Não foi nada, Skármeta lança um olhar sobre a ditadura de Pinochet no Chile a partir da observação do comportamento dos filhos de diversos amigos exilados, como ele. O adolescente Lucho, personagem principal, desperta para a vida em Berlim sem se esquecer dos motivos políticos que o levaram para a cidade. As experiências que todos vivem um dia – a primeira namorada, as amizades, a descoberta da música e a transição para a vida adulta – são narradas com emoção e bom humor.

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E mais... O baile da vitória

O carteiro e o poeta

As bodas do poeta

A garota do trombone

Salman Rushdie Salman Rushdie nasceu em Bombaim, na Índia, em 1947. De família muçulmana liberal e abastada, aos 13 anos ele foi estudar na Inglaterra, onde permaneceu e se tornou cidadão britânico. Seu romance Versos satânicos, de 1988, inspirado na vida de Maomé, foi considerado uma heresia pelos fundamentalistas islâmicos. Por causa disso, Khomeini, líder da Revolução Iraniana, decretou contra ele uma fatwa, ou sentença de morte. Temendo a ameaça, o escritor viveu por muitos anos em paradeiro desconhecido no interior da Grã-Bretanha. RUSHDIE, Salman. O último suspiro do mouro. Traduzido por Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 452 p. Unidade: EM Resumo: Em 1988, o aiatolá Khomeini condenou Salman Rushdie à morte por ter escrito um livro que desagradou aos fundamentalistas islâmicos. A resposta do autor foi este romance: uma defesa contundente das virtudes do pluralismo e da tolerância, em oposição às pretensas verdades únicas. Uma história fantástica, que começa no sul da Índia, no tempo em que a independência ainda era um sonho distante, passa pela Bombaim feérica dos anos 1980 e 1990 e termina no sul da Espanha, à sombra do Alhambra. Uma história narrada por um herói picaresco em cujas veias correm sangue português, judeu, árabe e indiano, afirmação viva do indivíduo que escapa às classificações estreitas de todos os sectarismos nacionalistas, étnicos e religiosos. RUSHDIE, Salman. Os versos satânicos. Traduzido por Misael H. Dursan. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 526 p. Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM Resumo: Dois homens caem do céu, depois que terroristas explodem o avião em que viajavam. São indianos e atores. Ambos chegam incólumes ao solo da Inglaterra e se metamorfoseiam – um em diabo, outro em anjo. Muitas coisas opõem e associam os acidentados: um é apolíneo, o outro, dionisíaco; um é apocalíptico, o outro, integrado; um é apegado à sua origem, o outro está decidido a conquistar a nova nacionalidade. Transitando livremente entre o real e o fantástico, entre o bem e o mal, entre a infinidade de opostos complementares e inconciliáveis da vida, este romance alegórico, impregnado de magia, é autobiográfico no conjunto de seus episódios e, principalmente, em sua questão filosófica central: quem sou eu? Desde a Grécia clássica essa pergunta é o divisor de águas entre o homem ocidental e o oriental. Nos sistemas de pensamento unificadores da Ásia ela é impensável, pois ameaça a submissão à palavra revelada – razão de ser do homem islâmico. E é esse o pecado imperdoável de Rushdie a olhos muçulmanos: questionar a validade do sagrado. E mais... A feiticeira de Florença Haroun e o mar de histórias

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Luka e o fogo da vida


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Ma Jian O escritor Ma Jian nasceu em 1953, apenas quatro anos depois da ascensão de Mao Tsé-tung ao poder na China. Em 1966, Mao e seus partidários lançaram o movimento conhecido como Revolução Cultural, cujo objetivo era manter o fervor revolucionário. Era preciso exterminar o que os comunistas consideravam “ideais burgueses”. A família de Ma Jian sofreu com a política do governo maoísta. Seu avô, um grande conhecedor de chás e proprietário de terras, considerado antirrevolucionário, foi preso e privado de tomar qualquer tipo de bebida, até morrer de sede. Em 1983, Jian é denunciado por seus vizinhos por suas “atividades burguesas”. Chamado para um interrogatório no Ministério de Segurança Pública, ao voltar para casa três dias depois, descobriu que tudo havia sido revirado pela polícia. Com a ajuda de amigos, conseguiu um visto e mudou-se para Hong Kong em 1987. Nunca mais reencontrou em Pequim um lugar que pôde chamar de casa. MA JIAN. A cozinha da revolução. Traduzido por Heloísa Mourão. Rio de Janeiro: Record, 2011. 256 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Dois improváveis amigos – um escritor de propaganda política e um doador de sangue profissional – se encontram toda semana para jantar. Durante uma noite de muita bebedeira, o escritor narra as histórias que realmente gostaria de escrever. Dentro de sua cabeça, vive um livro não escrito, cheio de personagens intensos, com muito a dizer sobre a verdadeira China. A cozinha da revolução é uma virtuosa demonstração do “humor vermelho” em um romance tragicômico sobre absurdos e crueldades da vida na China moderna. Xinran Xinran nasceu em Pequim, em 1958, quando a China não podia estar mais pobre. Ela, no entanto, era rica e vivia em Pequim com a avó. De modo geral, foram as mulheres as que mais sofreram no regime chinês, sobretudo as meninas que cresceram durante a Revolução Cultural. Quando, em 1983, Deng Xiao Ping iniciou o processo vagaroso de abertura política, os jornalistas começaram a fazer pequenas mudanças nas notícias. Xinran, então radialista, elaborou um programa que tinha como objetivo ser um canal aberto para a mulher falar de seus problemas, medos e sonhos. Com esses relatos e entrevistas, decidiu publicar um livro, mas foi proibida pelo governo chinês. Assim, resolveu sair da China e mudou-se para Londres. XINRAN. As boas mulheres da China: vozes ocultas. Traduzido por Manoel Paulo Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 282 p. Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM Resumo: Entre 1989 e 1997, a jornalista Xinran entrevistou mulheres de diferentes idades e condições sociais a fim de compreender a condição feminina na China moderna. Seu programa de rádio, Palavras na Brisa Noturna, discutia questões sobre as quais poucos ousavam falar, como vida íntima, violência familiar, opressão e homossexualidade. De forma cautelosa e paciente, Xinran colheu inúmeros relatos de mulheres em que predomina o trauma da humilhação e do abandono – casamentos forçados, estupros, desilusões amorosas, miséria e preconceito. Nos relatos do livro, a autora possibilita que essas vozes, antes silenciadas, revelem provações, medos, esperança e uma capacidade de resistência que as permitiu se reerguer e sonhar em meio ao sofrimento extremo

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XINRAN. As filhas sem nome. Traduzido por Caroline Chang. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 290 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: O desgosto de Li Zhongguo por não ser pai de um filho homem era tanto que ele sequer batizou suas seis filhas. Conhecidas pela ordem em que nasceram, Três, Cinco e Seis, protagonistas desta história baseada em relatos reais, são as filhas que partem de sua aldeia natal em direção à cidade de Nanjing, contrariando o destino das mulheres camponesas entregues à submissão e à ignorância. XINRAN. Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida: histórias de perdas e amores. Traduzido por Caroline Chang. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 272 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: Com este livro, Xinran retorna às histórias verídicas de mulheres chinesas que a tornaram mundialmente conhecida. Desta vez, ela aborda o sofrimento humano resultante da interação de uma milenar cultura machista com circunstâncias históricas, econômicas e sociais específicas. Os dez capítulos apresentam dez histórias marcadas pela interrupção da relação mãe-filha, de meninas que nunca conheceram suas mães biológicas e mulheres que deram a filha a casais de camponeses que, para burlar a lei do filho único, vivem sem endereço fixo. XINRAN. Testemunhas da China: vozes de uma geração silenciosa. Traduzido por Christian Schwartz. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 486 p., il. Unidades: Educador EF 2 e 3 / EM Resumo: Para elucidar a formação da China contemporânea, Xinran foi em busca do depoimento de homens e mulheres comuns com mais de 70 anos (um deles tinha 97 e havia participado da Grande Marcha de Mao Tsé-tung), de diversas regiões e diferentes estratos sociais, que sobreviveram a problemas como miséria e fome, à invasão japonesa e às perseguições e humilhações da Revolução Cultural, processo pelo qual a China passou para chegar à modernização e ao espantoso crescimento econômico do início deste século. E mais... Enterro celestial O que os chineses não comem Roberto Saviano Nascido em Nápoles, em 22 de setembro de 1979, Saviano é jornalista e escritor. O escritor italiano foi jurado de morte depois de publicar o livro Gomorra, que documenta a atuação da Camorra, a máfia napolitana, e sua relação com as instituições do país. A obra se tornou um best-seller em todo o mundo. Saviano vive sob escolta permanente de cinco policiais desde 2006. Ele muda constantemente de endereço e não frequenta lugares públicos, em virtude das ameaças dos mafiosos.

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SAVIANO, Roberto. Gomorra: a história real de um jornalista infiltrado na violenta máfia napolitana. Traduzido por Elaine Niccolai. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. 350 p. Unidade: Educador EF 2 e 3 Resumo: O porto de Nápoles é o ponto de partida para a jornada do livro-reportagem Gomorra. Lá desembarca diariamente todo tipo de mercadorias, vindas da Itália e de várias partes da Europa. São resíduos químicos, material tóxico, cadáveres e esqueletos humanos. Tudo despejado clandestinamente na região da Campânia. Dos contêineres à alta-costura, passando por Las Vegas, China, hotéis de luxo e culminando em toneladas de cocaína, o jornalista Roberto Saviano se infiltrou em setores camorristas para descobrir as artérias do funcionamento da máfia napolitana, considerada a mais perigosa e temida do mundo.

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Agradecimento de doações

Branca Mincarelli Albernaz Elisangela Pereira dos Santos Josca Ailine Baroukh Márcia Lopez Marcio Caparica Carlos Paula Monteiro de Camargo Renata Seripierri Chaves

Companhia das Letras Editora 34 Editora FTD Editora Kapulana Editora Paulus Editora RHJ Global Editora Instituto Vera Cruz

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