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Combate SOCIALISTA
Apresentação
Caro leitor
Bolívia: Com toda a força!
Correspondência Internacional
Esta edição especial do Combate Socialista foi elaborada em conjunto com Correspondência Internacional, publicação da UIT – Unidade Internacional dos Trabalhadores*, e apresenta uma análise política dos principais fatos da luta de classes em nível mundial.
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verdadeiro genocídio, que o exército sionista, apoiado pelo imperialismo norte-americano, está implementando no Líbano, merece um lugar de destaque. Sob a hipócrita desculpa da prisão de dois soldados, o governo de Israel pratica um brutal terrorismo de estado ao melhor estilo nazista. A destruição sistemática dessa pequena nação, mediante bombardeios indiscriminados que matam a população civil sem distinção de crianças, mulheres e idosos, configura um crime de lesa humanidade praticado pelo estado nazi-sionista de Israel que devemos condenar e deter. Mais perto, na Bolívia, vivem-se tempos de mudanças. A eleição do dirigente cocaleiro Evo Morales para presidente e os desdobramentos das medidas adotadas, como a nacionalização dos hidrocarbonetos, merecem uma análise minuciosa. Bolívia necessita atravessar uma etapa de construção capitalista para depois transitar ao socialismo, como afirma o ex-guerrilheiro e atual vice-presidente Álvaro Garcia Linera? Na Venezuela, o processo revolucionário continua aberto. Porém, cada vez mais, surgem contradições. De um lado os setores da burocracia governamental e os representantes dos partidos da base do governo Chaves tentando deter este processo. De outro, o povo pobre e os traba-
Líbano: A resistência continua
lhadores, que querem continuar avançando para derrotar de vez à oligarquia golpista, representante direta do imperialismo e assim poder avançar nas conquistas. Este confronto é o que explica a possibilidade de começar a construir uma ferramenta política democrática e revolucionária dos trabalhadores e do povo. Isto se viu de forma categórica no recente congresso da União Nacional dos Trabalhadores, e você poderá acompanhar nestas páginas.
Alckmin e Lula: Farinha do mesmo saco
Certamente não poderia ficar de fora o processo eleitoral brasileiro. Depois de quatro anos de governo, Lula e o PT vão à eleição completamen-
te transformados depois da histórica traição às bandeiras dos trabalhadores. Acompanhados do mais corrupto e fisiológico da política brasileira e tentando conquistar uma nova base eleitoral apoiado em políticas assistencialistas, o PT faz campanha de forma envergonhada, com grande parte de seus candidatos envolvidos direta ou indiretamente nos escândalos de corrupção. De outra parte, os tucanos na figura de Alckmin só oferecem mais do mesmo. Em essência, são iguais, irmãos gêmeos, representantes dos interesses do imperialismo, do sistema financeiro, dos ricos e dos poderosos de nosso país. O novo nesta eleição é o PSOL. Nascido da luta contra as políticas do PT no governo, o PSOL e a Frente de Esquerda, conformada junto ao PCB e ao PSTU, vem ganhando força com a figura da senadora Heloísa Helena como candidata à presidência. Os números das pesquisas, a simpatia que nossa campanha recebe nas ruas, assim como a grande quantidade de companheiros que se incorporam nesta caminhada, demonstram que existe uma alternativa eleitoral de esquerda, de luta e conseqüente. Este avanço frente à traição do PT confirma o grande acerto de ter construído esta ferramenta política. Finalmente, dedicamos uma extensa análise à situação
Combate SOCIALISTA A serviço da construção do P-SOL
EUA: Marcham os imigrantes
do imperialismo norte-americano. Ainda sob os escombros do Furacão Katrina de 2005 e o impacto das grandes mobilizações dos imigrantes, realizadas nas mais importantes cidades dos Estados Unidos, contra as leis racistas do governo Bush, os EUA se debatem numa importante crise que está aumentando as desigualdades e despertando as lutas sociais. Mas se em casa as coisas não estão bem para o imperialismo, muito menos pelo mundo fora. “Pela segunda vez na sua história, os Estados Unidos estão à beira de uma derrota política e militar no Iraque, como há trinta anos no Vietnã”, escreve Carmen Carrasco, demonstrando que as mobilizações no território ianque e no mundo, estão colocando o todo-poderoso Bush frente a sérios problemas. Esperando que estas análises sejam úteis para nos armar frente à luta de classes e aos importantes desafios que ela nos coloca lhe desejamos: boa leitura! (*) Combate Socialista é uma publicação da CST – Corrente Socialista dos Trabalhadores, corrente interna do PSOL. Correspondência Internacional é o órgão de imprensa da UIT - Unidade Internacional dos Trabalhadores, organização trotskista internacionalista que reúne correntes revolucionárias de vários países, entre elas a CST.
Jornal da CST-Corrente Socialista dos Trabalhadores e do mandato do Deputado Federal do P-SOL: Babá Av Gomes Freire 367 - 2° Andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ
As matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. Diretor Responsável: Miguel Malheiros — Coordenação de Edição: Adolfo Santos Correção e tradução de textos: Pablo Andrada e João Santiago — Diagramação: Carlos www.brasiliatur.com.br Henrique Bodê Entre em contato: combatesocialista@bol.com.br - Sites: www.babacst.org - www.psol.org.br
Venezuela: O povo nas ruas contra a oligarquia golpista
Combate SOCIALISTA
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LIBANO / PALESTINA
Parar os ataques terroristas israelenses! Mais uma vez, o Estado de Israel desenvolve seu terrorismo genocida, semeando morte e destruição em Gaza, Cisjordânia e Líbano. Até o escritor peruano Vargas Llosa, pró ianque e pró israelense, disse que “... se envergonha de ser amigo de Israel..”. Quem não tem vergonha é Bush, que o provê de aviões e mísses. Nem os supostos governos amigos democráticos do ocidente, que guardam um silêncio cúmplice frente ao massacre.
s invasores israelenses já mataram centenas de pessoas, na sua imensa maioria civis indefesos frente aos aviões F-16, aos barcos com poderosa artilharia e aos helicópteros Apache. Demoliram pontes, usinas elétricas, aquedutos, postos de gasolina, o aeroporto de Beirute (o de Gaza já tinha sido destruído no ano passado), estradas, escolas, fábricas, centros comerciais, prédios públicos, a Universidade de Gaza, e até o farol do porto de Beirute. Um ônibus cheio de famílias desesperadas, que fugiam de uma cidade bombardeada ao sul do Lí-
bano, foi bombardeado em plena estrada, com o resultado da morte de muitos de seus ocupantes. Um milhão e meio de habitantes de Gaza estão submetidos a uma situação desesperadora. Fora os bombardeios, não têm eletricidade, nem comida, e foi interrompido o serviço de água potável. Centenas de milhares de libaneses são obrigados a fugir de suas casas e procurar refúgio nas montanhas.
Qual é a causa de tanta loucura? Israel, supostamente, começou esta escalada militar porque foram capturados
três soldados israelenses. Um na Faixa de Gaza e dois próximo à fronteira com o Líbano. Disse que os operativos militares eram para “resgatá-los”. Como ninguém acreditava que um ataque dessa magnitude fosse para resgatar três soldados, o governo israelense pretende, agora, justificar suas ações afirmando que quer “terminar com os terroristas do Hamas e do Hezbollah”. A lógica do sionismo e do Estado de Israel é a expulsão de todos os palestinos da Palestina histórica. Fazer em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém, o
Correspondência Internacional
MIGUEL LAMAS
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Combate SOCIALISTA
Correspondência Internacional
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mesmo que fizeram em 1948 no que hoje é o Estado de Israel, e o que continuaram a fazer em todos esses anos: aterrorizar os palestinos, assassinar seus dirigentes, destruir sua economia, deixá-los sem água, como estão fazendo agora em Gaza, para que tenham que ir embora definitivamente de seus territórios. Esse é o objetivo de Israel, como foi reiteradamente confirmado pelos seus fundadores e governantes. Conseguiu assim expulsar a metade do povo palestino, e à maioria já despojou de suas terras e propriedades. Essa lógica genocida está sustentada e alimentada pelo imperialismo mundial. Israel foi uma criação do imperialismo anglo-ianque para derrotar o nacionalismo árabe e dominar Oriente Médio. E Israel não existiria sem a permanente ajuda econômica e militar dos EUA. Somente em ajuda econômica, os Estados Unidos entregaram a Israel quatro bilhões de dólares por ano, 20% da ajuda total mundial, equivalente a 700 dólares por habitante, além de uma gigantesca ajuda militar. Israel conta com 3.800 tanques, 1.500 peças de artilharia pesada, dois mil bombardeiros, helicópteros de combate e caças, incluídos os F-16 de fabricação estadunidense, e estima-se que tenha 300 bombas nucleares. Por isso, ademais de sua política de limpeza étnica contra os palestinos, Israel vive em agressão constante contra todos seus vizinhos árabes: Ocupa parte da Síria (as alturas do Golan) e atacou diversas vezes o Líbano, o Egito, a Jordânia e o Iraque.
Deter o genocídio Em dezembro passado, o partido Hamas ganhou as eleições na Palestina. Os
palestinos o escolheram porque se opunha à capitulação frente a Israel, desenvolvida anteriormente pelo governo da Al Fatah. Em nome da “paz” pactuada com Arafat, os israelenses invadiram Gaza e Cisjordânia com 400 mil colonos que se apropriaram das melhores terras. Desde que assumiu o governo do Hamas, eleito democraticamente pelos palestinos, Israel quer derrubá-lo. Esse é um dos objetivos de sua agressão. Em um operativo militar dentro da Cisjordânia, encarcerou 21 deputados, oito membros do governo, 65 dirigentes do Hamas e tentou assassinar o primeiro-ministro. Israel tenta esmagar o Hamas e o Hezbollah, além de destruir toda a infra-estrutura de Gaza, para expul-
sar todos os palestinos e, possivelmente, recuperar o sul do Líbano. Os palestinos de Gaza lutam de armas na mão contra tanques e aviões. O Hezbollah, no Líbano, tem mais armas e foguetes Katiusha, de pouca precisão, mas tem um grande apoio popular. Mas pouco pode fazer contra os bombardeios. É necessária e urgente a maior solidariedade internacional, com a exigência do fim dos bombardeios, pela retirada israelense de Gaza, Cisjordânia e Líbano; a libertação dos 10 mil palestinos presos e o reconhecimento do governo palestino, democraticamente eleito pelo seu povo. Exigir dos países árabes, em primeiro lugar, à Síria e ao Irã, que ofereçam toda a ajuda militar e humana necessária, e permitam a
ida de voluntários para apoiar a resistência. É necessária a mobilização popular para organizar o boicote internacional a Israel, e exigir a todos os governos a ruptura de todas as relações econômicas, militares, diplomáticas e culturais. Repudiamos a declaração do Presidente Lula que condenou “... a irresponsabilidade dos dois lados.” como se não houvesse um país agressor, que utiliza o terrorismo de Estado, armado pelos Estados Unidos! Ninguém que se considere democrático pode permanecer indiferente frente a este genocídio! Exigimos do governo Lula a imediata ruptura com o governo do Estado de Israel e a retirada da representação diplomática como já fez Hugo Chávez, presidente da Venezuela.
A ONU condena Coréia e cala frente a Israel O Conselho de Segurança da ONU votou por unanimidade de seus membros impor sanções à Coréia do Norte por seus testes com mísseis. Entre os membros do Conselho estão China, Rússia, França, Grã Bretanha e Estados Unidos, com poder de veto, mais outros dez membros. A punição não se justifica quando os Estados Unidos estão ameaçando e agredindo países no mundo inteiro, detêm a metade das armas de todo o planeta e realizam, permanentemente, testes com armas muito
piores que os mísseis da Coréia do Norte, sem dar explicações a ninguém. É legítimo que a Coréia do Norte queira armar-se para sua defesa. Além disso, o Conselho de Segurança nada falou frente ao bárbaro bombardeio israelense ao Líbano e à Gaza. É um escândalo que se reúna e nada decida sobre esse desastre. Mais uma vez, fica demonstrado que a ONU não é neutra, nem incompetente, mas cúmplice e instrumento dos Estados Unidos e das potências imperialistas.
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LIBANO / PALESTINA
Cronologia da ocupação sionista
1936 - Rebelião palestina contra a exploração e a perseguição dos colonos sionistas e ingleses. Exigem um governo árabe independente, mas são esmagados. 1948 - Fundação do Estado de Israel em acordo com a ONU, ocupando 56% do território palestino. Chegam dezenas de milhares de judeus europeus, sobreviventes do holocausto nazista. O terrorismo sionista contra os palestinos deslancha a guerra contra os países árabes: Egito, Iraque, Líbano, Síria e Jordânia. Israel, armada pelos imperialistas, vence a guerra e ocupa 78% do território palestino. Expulsa 900 mil palestinos após assassinar 10 mil. Os palestinos se refugiam nos países vizinhos e no pequeno território que ainda resta da Palestina (Gaza e Cisjordânia). 1956 – O Egito nacionaliza o canal de Suez. Israel o ataca apoiado pela França e Inglaterra. Ocupa uma parte do Sinai. 1967- Guerra dos Seis Dias. Israel ataca o Egito e ocupa todo o Sinai, Gaza e Cisjordânia, completando a ocupação da Palestina. Também ocupa as Alturas do Golan, pertencentes à Siria. 1973 - Guerra de Iom Kipur. Egito e Síria atacam Israel para recuperar seus territórios. Somente a Síria consegue recuperar uma pequena parte. 1975 - Israel invade e destrói o Líbano. Pretende expulsar os palestinos refugiados nesse país, mas não consegue. 1978 - Egito e Israel assinam um acordo de paz, pelo qual Israel devolve o Sinai. 1981 - Israel invade mais uma vez o Líbano. Destrói sua infra-estrutura e assassina 25 mil libaneses. Em junho de 1982, o exército israelense, comandado por Ariel Sharon, junto aos falangistas cristãos, lança um ataque contra os acampamentos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila em Beirute (capital do Líbano). A população desarmada é massacrada, sendo assassinados quatro mil refugiados. Dezenas de milhares de palestinos fogem do Líbano.
1987 – Começa a Intifada, a rebelião dos palestinos de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, com paus e pedras contra os ocupantes israelenses. 1993 – Acordos de Oslo. Yasser Arafat reconhece o Estado de Israel. Yitzhak Rabin promete autonomia para Gaza e Cisjordânia. É criada a Autoridade Nacional Palestina, mas Israel jamais se retira de Gaza e da Cisjordânia. Pelo contrário, instala colônias sionistas nas melhores terras, 400 mil colonos roubam a água e as terras a 3.100.000 palestinos que vivem em Gaza e Cisjordânia. Maio de 2000 - Israel se retira às pressas do sul do Líbano, que ainda controlava, frente à ofensiva militar do Hezbollah que derrota o exército sionista. Setembro de 2000 - Explode a Segunda Intifada palestina frente aos contínuos ataques sionistas. Os palestinos utilizam armas leves e realizam atentados suicidas. Os sionistas atacam com mísseis, helicópteros Apache e aviões F16. Arrasam populações inteiras. Em abril de 2002, acontece o pior massacre: em Jenin, Israel assassina centenas de palestinos em um campo de refugiados e com seus tanques derruba as moradias deixando a terra arrasada. Novembro de 2004 - Morre Arafat. É velado na sua residência, a Mukata, em ruínas pelos bombardeios de Israel. Seu sucessor é Mahmoud Abbas, que se declara contrário a toda a resistência armada palestina, a favor da paz e dos dois Estados, cedendo ainda parte da Cisjordânia e toda Jerusalém a Israel. Janeiro de 2006 - O Hamas vence as eleições palestinas com um programa de oposição aos acordos de capitulação a Israel.
DADOS IMPORTANTES Israel: 6.000.000 habitantes judeus: 5.000.000 palestinos: 1.000.000 Gaza e Cisjordânia Judeus: 400.000 (colonos) palestinos: 3.200.000 Palestinos nos outros países árabes: 4.000.000 (reclamam o direito a voltar ao seu território de onde foram expulsos seus avós)
Bush financia o terrorismo sionista
Pérez Esquivel: “Israel, um Estado terrorista” O prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, afirmou: “É doloroso ter que assinalar o comportamento aberrante do Estado de Israel contra o povo palestino, atacando, destruindo, oprimindo e massacrando mulheres, crianças, jovens, vítimas de atrocidades que não podemos calar”. Caiu o Muro de Berlim, mas foram erguidos outros muros como o que Israel levantou para dividir o povo palestino. Acreditando que isso lhes brindava maior segurança, pelo contrário, gera maior confronto, dor e divisão... “Os ataques, a destruição e morte em Gaza e no Líbano e as ameaças permanentes a outros povos tem levado o Estado de Israel a se transformar em um Estado terrorista, utilizando torturas e ataques à população civil...”.
Quem é o Hezbollah? A propaganda sionista e ianque apresenta o Hezbollah como uma “organização terrorista”. Assim como chamam terrorista também ao Hamas quem venceu de forma transparente as eleições democráticas palestinas. Hezbollah é uma importante organização político-militar libanesa, cujas milícias derrotaram militarmente Israel, forçando sua retirada do Líbano em 2000. Conseguiram derrotar o exército israelense porque tem combatentes com um grande apoio popular, principalmente entre a população islâmica xiita (um dos ramos do Islã). Mas seu peso popular foi aumentando. Os jornalistas destacam que a maior parte da população vê o Hezbollah como a única defesa frente ao terrorismo israelense. O Hezbollah possui restaurantes populares e organizações que prestam uma importante ajuda social. Tem também catorze deputados e faz parte do governo libanês, onde tem ministros. Dirige prefeituras e tem dirigentes sindicais. O Hezbollah é uma organização de ideologia islâmica, sustenta o governo e o regime capitalista do Líbano e está vinculado ao regime iraniano. Ainda que não compartilhemos seu programa, a luta militar e a do povo libanês, a resistência a Israel, merece o apoio de todos aqueles que nos identificamos como antiimperialistas, e de todos aqueles que defendem a autodeterminação dos povos.
Correspondência Internacional
1922 – A Inglaterra, potência colonialista, em acordo com o movimento sionista, promove a imigração massiva de judeus europeus à Palestina para dominar o Oriente Médio.
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Combate SOCIALISTA VENEZUELA
BALANÇO POLÍTICO DO II CONGRESSO DA UNT
Tremem os alicerces do sindicalismo venezuelano
Correspondência Internacional
NELSON GÁMEZ
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No marco do processo revolucionário que atravessa a Venezuela, aconteceu um evento de grande transcendência política. Trata-se do II Congresso da União Nacional de Trabalhadores (UNT) realizado entre os dias 25 e 27 de Maio de 2006. Mas nosso objetivo com estas linhas não é o de fazer uma descrição de todos os fatos que aconteceram. Mas queremos precisar as transformações profundas que estão acontecendo no seio da classe trabalhadora venezuelana, e desvelar as motivações políticas dos diferentes setores, assim como o marco político nacional no qual aconteceu o congresso, e a atitude de governo frente ao evento.
partir da intervenção decisiva dos trabalhadores petroleiros no enfrentamento à paralisação patronal e à sabotagem à PDVSA, abriu-se uma nova etapa na vida do movimento sindical venezuelano, no qual a classe operária começa a cumprir um papel de protagonista no processo revolucionário do país. Isto se expressa na rebelião anti burocrática que se manifesta na dura luta contra as velhas burocracias sindicais de ADEI e COPEI e no surgimento de novos ativistas e sindicatos classistas alternativas que se impõem nos referendos e eleições sindicais que estão sendo realizados desde aquela época. Este ponto de inflexão se fortaleceu nas ocupações de fábricas que os patrões fecharam depois da paralisação patronal, assim como na luta quotidiana do movimento sindical por melhores condições de trabalho, por aumento de salários, pela reintegração dos trabalhadores demitidos. O confronto não acontece só contra os patrões, mas se manifesta também contra os governadores, prefeitos, funcionários do ministério de trabalho e de empresas estatais. A culminação deste processo foi o surgimento da UNT em abril de 2002, como fruto direto da luta que os trabalhadores começam a desenvolver de forma cada vez mais independente a partir da sabotagem petroleira patronal. Na atualidade todos os estados do país já têm seções da UNT, surgem poderosas federações nos setores chaves da economia como é o caso da construção civil e a indústria de
bebidas e alimentos, e a quantidade de filiados supera 1 milhão de trabalhadores. Após mais de sete anos, as ruas das principais cidades do pais, voltam a serem ocupadas pelos trabalhadores em coloridas e combativas mobilizações exigindo respeito aos seus direitos. Assim, os resultados do II Congresso da UNT ratificam estas características fundamentais que identificam a situação do movimento sindical venezuelano desde dezembro-janeiro de 2003 e, o que é mais importante, lhe incorpora novos elementos que dinamizam a rebelião das bases sindicais. Agora os ativistas e trabalhadores filiados da UNT dirigem suas lutas contra a nova burocracia surgida no seio da V República, questionam aqueles que pretendem acabar com a autonomia da Central e exigem atenção e solução imediata a suas justas reivindicações, em muitos dos casos adiadas ou ignoradas pelo governo e os empresários. Uma rebelião das bases No Congresso, no qual participaram em torno de 2 mil delegados provenientes de todos os cantos do país, e pertencentes a todos os setores da produção e dos serviços, de empresas públicas e privadas, produziu-se, em pequena escala, um triunfo de uma “revolução” das bases sindicais. Após mais de um ano de intensa batalha política, as bases impuseram a realização do Congresso, derrotando as injustificadas razões defendidas pela
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VENEZUELA
burocracia para não realiza-lo. Em meio ao Congresso, impediram as manobras do setor encabeçado por Marcela Maspero, que tinham roubado os crachás, e conseguiram credenciar os delegados de todo o país. Defenderam o Congresso quando provocadores profissionais tentaram sabotá-lo; impuseram sua vontade de realizar em setembro as eleições gerais para legitimar a direção. E terminaram reconhecendo majoritariamente o setor encabeçado por Orlando Chirino, Rubén Linares, Stalin Pérez e Richard Gallardo, como os mais conseqüentes defensores da realização do congresso, da democracia sindical, da luta pela legitimação da direção da central e os mais aguerridos defensores dos direitos dos trabalhadores. No Congresso, muitos ativistas de base das diversas correntes burocráticas e pró chavistas existentes no seio da central (Máspero, Força Bolivariana dos Trabalhadores, Autonomia Sindical-PPT, Franklin Rondon, PCV)
romperam com sua direção e deram um passo à frente se aproximando da corrente classista e autônoma que lidera Orlando Chirino. Ou seja, no Congresso expressou-se, com toda força este profundo processo que percorre o movimento operário, que não terminou ali, e que provavelmente caracterizará as lutas dos trabalhadores nos próximos meses e anos. Sim, efetivamente estamos em uma etapa altamente volátil e explosiva, onde rebeliões como a que aconteceu durante o congresso da UNT não serão a exceção, mas a regra. O que está por trás do debate Que ninguém se engane. Fora as calúnias de Marcela Máspero, da FBT, de Autonomia sindical ou da CUTV, o que está em jogo por um lado, são os interesses burocráticos de importantes setores do governo do presidente Chávez, e por outro, as necessidades dos
setores mais dinâmicos, classistas e independentes do movimento sindical venezuelano. Mas como é que se expressou isto? A FBT, braço sindical do governo do MVR, o grupo encabeçado por Maspero, vinculado à democracia cristã internacional e com forte apoio do aparelho de estado através da vice-presidência executiva da República; de Franklin Rondon e do PPT, colocaram o falso dilema entre a realização de eleições este ano para a escolha democrática de uma nova direção para a UNT (posição defendida pela CCURA) e a necessidade de privilegiar a luta pelos 10 milhões de votos para a reeleição do Presidente Chávez, pelo qual defendiam adiar até março a eleição da direção da Central. Se apoiando no prestígio do Presidente Chávez, tentaram impor a consigna “Chávez primeiro”, respondida pela maioria dos delegados com um contundente grito de “eleições já”.
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Os delegados votando no II Congresso da UNT
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Emilio Bastidas e Richard Gallardo, dirigentes da UNT de Aragua
Marcha da UNT em Aragua
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A UNT de Aragua encabeça as lutas
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As lutas dos trabalhadores do Estado de Aragua, sua combatividade e seus triunfos, têm fortalecido a UNT local, que tem a frente os dirigentes Richard Gallardo e Emílio Bastidas. No dia 26 de abril Maracay, capital do Estado, foi sacudida por uma marcha de mais de 5.000 trabalhadores de 90 sindicatos que foram levar suas reivindicações ao governo e a Assembléia Legislativa. Esta marcha é parte de uma série de duras greves e ocupação de empresa como Sanitários Maracay, a fábrica têxtil Gotcha, Ivica, Gamma, Seravian, Servipork, Alucenca e os trabalhadores da economia informal. Depois de 42 dias de luta, os 650 operários de Sanitários Ma-
O que estava por trás era a necessidade de construir uma central autônoma e independente do governo, dos patrões e do Estado. Uma Central democrática, com dirigentes legitimados pelas bases, que privilegia os interes-
racay conseguiram dobrar a intransigência patronal. Também depois de uma dura luta as operárias da empresa de confecção Gotcha triunfaram. Além da fortaleza dos trabalhadores em conflito foi chave a solidariedade organizada pela UNT de Aragua que ameaçou fazer uma paralisação em solidariedade aos conflitos operários. “Os empresários desconhecem os sindicatos e passam por cima da estabilidade trabalhista. O governador, muito ligado a várias empresas, toda vez que acontece um conflito autoriza a polícia para nos agredir. Os deputados do MVR, do PPT e Podemos fazem coro com a burocracia sindical da
ses dos trabalhadores, que se coloque à frente das lutas contra os patrões e burocratas governistas. A rejeição generalizada à chantagem da consigna “Chávez primeiro” não foi outra coisa que a expressão disto. Para os delega-
velha CTV ou de “boina vermelha” para tentar diminuir a influência do sindicalismo classista”, disse Richard Gallardo, dirigente sindical de Aragua e integrante da Coordenação Nacional da UNT. Gallardo resumiu o término da “Santa Aliança” entre todos esses fatores de poder unidos à patronal. “Se unem pelo medo de nossas mobilizações. Mas temos demonstrado com as lutas e a mobilização de abril do que somos capazes de lutar para defender nossos direitos”. Com os triunfos obtidos e pelo nível de combatividade, a UNT vem se consolidando como a primeira força sindical do estado e como um exemplo a seguir.
dos presentes no Congresso meta meridianamente claro que primeiro são os trabalhadores, e a necessidade de escolher uma nova direção da central como forma de evitar as velhas práticas burocráticas herdadas da CTV, nas
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VENEZUELA como apêndice corporativo das políticas governistas; uma central que aceite sem criticar todas as disposições do governo; uma central que legitime as negociações e acordos entre o governo e a burguesia e as multinacionais, especialmente as petroleiras, automotrizes, dos bancos e das telecomunicações. Por isso o levante contra a burocracia de “boina vermelha” dentro da central está diretamente relacionado com a autonomia política da central. Um avanço da independência política O que aconteceu no Congresso da UNT é a expressão no seio do movimento operário do que acontece no pais. Não é somente um problema “sindical”, ou limitado aos trabalhadores. Em rigor, é a rebelião das bases sindicais que reflete o processo revolucionário que acontece na Venezuela. Os camponeses lutam e se mobilizam pela reforma agrária; os sem-teto reúnem entre 10 a 15 mil pessoas na capital exigindo moradia. Todos os dias diferentes comunidades populares do país
ocupam as estradas exigindo moradia, água, eletricidade e outros serviços; os comitês de saúde enfrentam à burocracia estatal. Isto acontece todos os dias. A luta é pelos direitos operários e populares; por mais participação e democracia. O setor social que melhor reflete e onde mais avança a independência política, ainda que não se manifeste em uma ruptura com Chávez, é no movimento operário. O que aqui acontece é a procura constante por parte dos trabalhadores de uma nova direção classista, democrática e revolucionária que lute pelos direitos dos trabalhadores que estão sendo violentados todos os dias. É verdade que este processo de avanço da independência política dos trabalhadores respeito do governo é limitado e restrito à vanguarda operária, mas o mais significativo é que este processo cresce incentivado pelas lutas dos trabalhadores que acontecem todos os dias, no meio a um processo revolucionário que continua aberto no país e que faz avançar a consciência de classe.
Stalin Pérez Borges “O II Congresso vai passar para a história do movimento operário venezuelano”. No evento do dia 23 de Junho, o companheiro Stalin Borges, Coordenador Nacional da UNT foi um dos principais oradores e apresentou as propostas a serem discutidas e votadas. Reproduzimos trecho de seu discurso: “O II Congresso tem sido um triunfo das bases que são o fruto de três anos de unidade e fortaleza para construir uma central combativa e classista (...) É necessário que a revolução venezuelana tenha um instrumento social poderoso, que desde as bases represente os interesses dos trabalhadores. Que seja um instrumento para o governo dos trabalhadores, que é o verdadeiro socialismo (...). O II Congresso vai passar para a história do movimento operário venezuelano como um grande triunfo das bases, que derrotou as imposições burocráticas de um setor da UNT. São os que não querem a autonomia da central e os não querem que as bases decidam em eleições a seus dirigentes”.
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quais seus dirigentes inventavam argumentos para se legitimar frente às bases. Isto é um interesse e uma necessidade histórica dos trabalhadores venezuelanos, independente que a maioria concorda com se organizar para conseguir re-eleger o presidente Chávez, o que ninguém pode colocar em dúvida. Mas o que pretendem os setores que dentro da UNT defendem adiar as eleições com o argumento insustentável de priorizar a re-eleição do presidente? Por um lado, querem evitar ou adiar uma segura derrota no processo eleitoral da UNT. As vaias que sofreram seus principais dirigentes no Congresso e a rejeição às suas posições os convenceram da iminência de sua liquidação como burocratas dentro da UNT. Mas o fundamental é que eles querem uma central controlada e subserviente do governo, um governo que se autodefine “trabalhista” e que “irá em direção ao socialismo do século XX”, razões que fazem, de acordo com seus raciocínio, desnecessária a independência política da UNT. O que eles defendem é uma central
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O II CONGRESSO DA UNT
Um triunfo histórico das bases Pela importância do evento, de suas conclusões e sobretudo pelos novos desafios que as correntes classistas, revolucionárias e socialistas têm no interior da UNT, fizemos uma entrevista com o camarada Orlando Chirino, dirigente da Corrente Classista, Revolucionária e Autônoma (C-CURA) e integrante do Comitê Nacional Impulsionador do Partido Revolução e Socialismo (PRS).
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Orlando Chirino, dirigente da UNT
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Chirino, como resume o resultado do II Congresso? O.C.: Só o fato de que o Congresso tenha se realizado é, em si mesmo, um grande triunfo das bases. Temos que lembrar que foram dois anos de intensa luta contra todas as correntes burocráticas que se opunham a sua realização, o que fez com que as bases se auto convocassem e impusessem a realização do Congresso, no qual participaram 2.000 delegados, representando mais de um milhão de trabalhadores filiados. E o mais importante, sem dúvida, é o resultado político, já que se conseguiu derrotar a burocracia da IV e da V República. Para mim, isso é um fato histórico, porque o “normal” era que todas as correntes que foram apoiadas pelo governo e que se amparam no prestígio do Presidente Chávez, terminassem vencendo, mas isto não se deu. Quando a buro-
cracia se sentiu derrotada abandonou o Congresso com a intenção de deslegitimá-lo, mas nem isso conseguiu. Temos as provas fotográficas, o vídeo que capta as imagens, do momento em que os delegados deles começaram a agressão física contra nossas companheiras e companheiros e as próprias declarações das delegações internacionais que reconhecem que a maioria dos delegados ficaram reunidos no local do congresso, enquanto que uma pequena fração que não superava as 200 pessoas terminaram reunindose nos jardins Quais foram os debates fundamentais? O.C.: Em todos os temas ouve divergências, mas sem dúvida, as comissões que geraram mais debate foras as dos Estatutos, a UNT que necessitamos e a data para a realização das eleições gerais. Mas, no fun-
do, acredito que o grande debate que atravessou o Congresso foi sobre o caráter da Central que os trabalhadores venezuelanos querem. Considero que as manobras desenvolvidas pela burocracia governista tinham o objetivo de impedir que a maioria dos delegados adotasse duas decisões fundamentais para a vida do movimento sindical venezuelano: em primeiro lugar, definir que a União Nacional dos Trabalhadores é plenamente autônoma e independente dos patrões, dos partidos políticos, do Governo e do Estado. E, em segundo lugar, a realização imediata de eleições gerais para legitimar a direção da Central. De toda forma quero destacar algo: apesar do debate ter sido difícil, nas comissões por unanimidade, incluindo os delegados que estavam com as outras correntes, aprovaram-se as propostas sobre Princípios
e Plataforma de Luta que apresentamos como C-CURA. Isso pode te dar uma idéia da disposição de luta que os trabalhadores têm para defender seus direitos e avançar até o socialismo. Ali se aprovou a luta por aumento de salários, pela expropriação e a favor da co-gestão, pela reestatização das empresas, entre outros aspectos, além de ratificar o compromisso de lutar contra o imperialismo e a oposição golpista. Mas, apesar desse triunfo, existe o risco de uma divisão na UNT? O.C.: Eu continuo sendo otimista e quero repetir algo que venho dizendo á mais de um ano. A burocracia fará todos os esforços para dividir e destruir uma Central que não sirva aos seus interesses. Mas o processo revolucionário é tão profundo e a rebelião política nas fileiras dos trabalhadores
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é tão dinâmica que dificilmente poderão quebrar a UNT. Quem mais avança para a divisão é a corrente liderada por Marcela Máspero, deputada nacional pelo MVR. Para isso utiliza o método das calúnias e nos fatos quer instalar uma UNT paralela. Mas, isto está vindo contra ela e está cada vez mais debilitada. A coisa é simples: quem joga para a divisão perde; os trabalhadores não se intimidarão nunca. Por isso, foi muito valioso o ato pela unidade da Central que realizamos no último dia 23 de Juno, que contou com uma grande participação de diri-
gentes e trabalhadores de base que ratificaram as decisões do II Congresso e reiteraram a exigência a todas as correntes minoritárias de respeitar as resoluções do Congresso. Foram escolhidos os representantes de nosso setor para a Comissão Nacional Eleitoral e numa demonstração de unidade adotou-se a decisão de propor que continue como direção da UNT a Coordenação Nacional acordada em 15 de abril de 2003. Com esta fórmula fica claro que o setor majoritário da UNT, que nós representamos, não tem nenhum interesse particular em controlar hege-
monicamente a UNT, mas sim de recompor sua equipe de coordenação até que se realizem as eleições para salvaguardar a unidade da Central. Esta é uma nova prova que os dirigentes e os trabalhadores de base propõem às outras correntes. Que significado teve a participação dos trabalhadores da economia informal, da Frente Nacional Camponesa Ezequiel Zamora e ANMCLA e coletivos estudantis no evento pela unidade do dia 23 de junho, realizado pelo setor majoritário da UNT?
O Encontro de 23 de Junho No dia 23 de Junho, em uma nova reunião dos delegados do II Congresso da UNT, foi confirmada a direção classista da Central encabeçada por Orlando Chirino. A minoria não se apresentou. A Mesa do Evento esteve integrada, entre outros, por Orlando Chirino, Stalin Pérez Borges, Rubén Linares (Transporte), Marco Túlio Diaz (Construção), Marcos Garcia (Servidores Públicos), Vilma Vivas (Docentes de Táchira) e Tony Leon do Setor de Energia e Petróleo. Como convidados estiveram na mesa e levaram saudações, entre outros, a Frente Nacional Camponesa Ezequiel Zamora, Associação Nacional de Médios Comunitários livres e Alternativos – ANMCLA e Miguel Sorans, pela UITCI, quem levou a solidariedade dos dirigentes sindicais classistas e combativos de diversos países da América Latina. Houve intervenções de dirigentes das lutas de Hielomatic do Estado de Carabobo; da “Azucarera Venezolana de Yaracuy”, dos educadores de Zulia que anunciaram uma marcha
para o dia 29 de junho, da siderúrgica Sidor em conflito e dos operários da construção da Ponte Orinoco que estavam havia 40 dias em greve. As resoluções foram votadas uma a uma. Entre as mais importantes estão: uma marcha no dia 19 de Julio até o Palácio de Governo para reclamar ao presidente Chávez solução aos conflitos e fundamentalmente, para que seja aberta a discussão sobre o convênio coletivo dos servidores do estado que desde 2004 não tem aumento salarial; o aumento do salário mínimo e a escala móvel dos salários; que seja respeitada a Inamobilidade Trabalhista (que impede as demissões) e o decreto da Solvência Trabalhista (ação do estado para obrigar às empresas que cumpram com os convênios) desrespeitada pelas empresas públicas e particulares; ratificar a direção transitória da UNT que inclui a dirigentes da minoria; sustentar uma Comissão Eleitoral da UNT com representantes de todas as correntes, ou seja, uma proposta para tentar manter a unidade da nova Central.
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Reunião da UNT, realizada no dia 23 de junho de 2006
O.C.: Isto é muito importante e acredito que temos que ressaltá-lo. Além de demonstrarmos a justeza de nossa política também é uma forte pressão nas outras correntes para que retrocedam em seu “Plano de Ruptura” e regressem a Central. Neste ato estiveram os representantes dos trabalhadores da economia informal, que como bem sabes são centenas de milhares em todo o país. Eles pediram sua incorporação a Central, a qual foi apoiada por aclamação por todos os participantes. Chegaram os companheiros da Frente Nacional Camponesa Ezequiel Zamora, que lideram a luta no campo por uma revolução agrária, que acabe com os latifúndios, que entregue terras aos camponeses e castigue os latifundiários que utilizam grupos armados de pistoleiros para assassinar centenas de camponeses. Participaram os companheiros das rádios comunitárias, com os quais temos uma relação muito especial por sua imensa colaboração em difundir nossas posições, já que os meios de comunicação estatais demonstraram sua to-
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Combate SOCIALISTA VENEZUELA tal parcialidade com o setor que encabeça Marcela Máspero e os deputados da FBT. Temos que conseguir com que estes companheiros de filiem a UNT em sua condição de trabalhadores da comunicação e sejam parte do setor classista, revolucionário e socialista da Central. Também se fizeram presentes coletivos estudantis e muitos sindicatos novos que pediram sua incorporação na UNT. Esta realidade repercutirá positivamente sobre as bases das outras correntes e estamos seguros que elas se rebelarão contra seus dirigentes que estão impedindo esta grande oportunidade de recompor a unidade de todos os trabalhadores venezuelanos ao redor da UNT e ao mesmo tempo a unidade com outros setores sociais comprometidos com o processo revolucionário. Poderíamos afirmar que avança a unidade sindical, cam-
ponesa, estudantil e popular? O.C.: Exato. Acredito que é a melhor definição. Esta unidade transcende o sindical e reivindicativo. Estamos conjugando esforços entre diversas organizações sociais com implantação entre os trabalhadores, os camponeses, os estudantes e os setores populares. As pessoas, e em particular os trabalhadores, querem fazer valer seus direitos, querem que seu esforço e sacrifício durante todo este tempo se traduza em melhores salários, emprego digno, estabilidade no trabalho, reforma agrária, que o dinheiro do petróleo seja utilizado para cancelar a enorme dívida social existente. Para conseguir isso sabem que têm que construir novas organizações e coordenar suas ações para enfrentar os obstáculos do caminho. Nesse sentido, a UNT de uma maneira ou de outra está respondendo ao fato de que o povo quer um novo tipo de es-
truturas livres de burocratas e corruptos para travar estas novas batalhas. Ao povo já não servem mais as organizações que se resguardam por trás da figura do Presidente Chávez. Isto é o mais admirável nesta etapa revolucionária na Venezuela. Surgem novas organizações e todas elas querem avançar até o socialismo, mas sem burocratas, sem corruptos, sem exploradores, sem latifundiários, sem capitalistas e golpistas imperialistas. Por isso, ninguém nos pode caracterizar como divisionistas. Nosso setor é o que mais construiu sindicatos nos últimos três anos, o que mais federações regionais e sindicatos nacionais consolidou, e o que mais defendeu os direitos dos trabalhadores e agora estamos a frente da unidade sindical, popular, camponesa, estudantil. Que relação isto tem com tua
proposta de construir um partido revolucionário e socialista? O.C.: Tem um vínculo estreito. A UNT não nasceu por um capricho, nasceu por uma necessidade histórica diante da débâcle da CTV por seu nefasto papel a serviço do golpismo imperialista e nativo. Do mesmo modo, o partido revolucionário e socialista é uma necessidade histórica para os trabalhadores e o povo por duas razões fundamentais. A primeira – e perdoem-me se sempre repito o mesmo: se os patrões, se os latifundiários, se os burocratas, se os corruptos constroem seus partidos, por que nós, os trabalhadores, não podemos construir o nosso? Em segundo lugar, porque milhares de venezuelanos têm feito a experiência com os partidos que dizem respaldar o Presidente Chávez, como o MVR, o PPT, Podemos, o Partido Comunista e se deram conta que não satisfazem suas necessidades, que são organi-
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A luta dos camponeses
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A Frente Nacional Camponesa Ezequiel Zamora (FNCEZ) tem se mobilizado diversas vezes até Caracas em protesto contra a corrupção e a burocracia que impedem a aplicação da Lei de Terras e o desenvolvimento da reforma agrária, e contra dos paramilitares (“sicários”) que já assassinaram centenas de camponeses. Aumentando ainda mais a insatisfação dos camponese, no dia 25 de Maio, na localidade de Sabaneta, no Estado Barinas, forças militares e policiais prenderam militantes e membros da Direção da FNCEZ, e invadiram a casa onde estavam os camponeses e suas famílias. A UNT e a C-CURA se solidarizam com a luta da FNCEZ e chamam à unidade na mobilização. Stalin Perez declarou: “O mais preocupante é que os presos sejam os camponeses, quando já houve camponeses assassinados pelos paramilitares a mando dos latifundiários e não existem detidos por estes fatos; o que significa que as três forças de segurança do estado são capazes de se coordenar em uma operação conjunta contra os lutadores sociais revolucionários, como são estes camponeses, que lutam para aplicar a Lei de Terras, mas estas mesmas forças são ineficazes para garantir os direitos
dos camponeses... para impedir os crimes de assassinos contra-revolucionários que exterminam lideranças agrárias”. A FNCEZ continua sua luta exigindo a libertação dos dirigentes, o pleno respeito pela sua integridade e o atendimento das suas justas reivindicações pela efetiva redistribuição das terras. Rejeita qualquer tentativa de criminalizar a luta camponesa, enquanto continua a condescendência com o latifúndio e se mantêm a impunidade para a ofensiva genocida dos “sicários”.
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VENEZUELA sos militantes são reconhecidos como os melhores defensores dos direitos do povo. Expressamos a solidariedade com todos os setores em luta e também nos pronunciamos solidariamente com a luta dos povos irmãos. Nosso projeto de partido vem crescendo, tem notável influência e acaba de definir seu apoio à reeleição do Presidente Chávez e a luta por uma Venezuela socialista sem patrões, burocratas nem corruptos. Propõe um programa de luta e mobilização para que efetivamente avancemos nessa direção, acompanhando dia a dia os trabalhadores em sua experiência política, comprometendo-nos até a morte a defender o governo diante de qualquer ataque por parte do golpismo internacional ou nacional, por mínimo que seja ou pareça. Para retomar as questões da UNT. Quais são, então, os desafios da Central? O.C.: O prioritário agora é defender de toda forma a unidade para impedir que os setores burocráticos desvirtuem a imensa conquista que a UNT. Em segundo lugar, com a plataforma de luta adotada por
Chirino entre Scarletti Diyesi e Vilma Vivas, dirigentes da educação
unanimidade, os trabalhadores entregaram o mandato à direção para colocar-se a frente na defesa de seus direitos e na solução de suas reivindicações fundamentais, que se resumem em melhores salários, emprego, educação, saúde, moradia, plena soberania sobre o petróleo, etc. Estamos obrigados a mobilizar os trabalhadores e coordenar ações com outros setores da população como os camponeses, para lutar pela reforma agrária. Temos também a responsabilidade de aprofundar a luta contra o imperialismo e as multinacionais, de nos colocar a frente da defesa da cogestão e na luta pelo controle operário, e participar ativamente no processo eleitoral pela reeleição do Presidente Chávez. Indubitavelmente,
esta é a batalha política mais importante contra o imperialismo e a oposição golpista daqui até o fim do ano. E em termos estratégicos sentimos que estamos diante de uma responsabilidade histórica. Temos o desafio de dirigir a UNT no marco do processo revolucionário ascendente, onde a classe operária e o movimento sindical são protagonistas e onde a Central começa a ser vista por centenas de milhares de trabalhadores, camponeses, estudantes e setores populares como uma esperança política que pode efetivamente conduzir o conjunto da população até a libertação definitiva, até a liquidação do capitalismo e a instauração do socialismo sob um governo verdadeiramente dos trabalhadores e dos pobres do campo.
Processo contra a Globovisión “Proponho discutir como contribuímos para conformar um sistema público de comunicações nas mãos das comunidades e organizações populares. Esses médios de comunicação que violentaram os direitos humanos, atentando contra a democracia de todos os venezuelanos, devem ser expropriados do espaço radioelétrico, das suas instalações e seu material técnico, que devem passar para as mãos do povo”. Esta foi a declaração de Gonzalo Gómez, dirigente do PRS, no programa Dando e Dando, que se transmite no canal do Estado Venezuelano de Televisão. Esse mesmo dia a pagina web Aporrea org. recebeu um prêmio na celebração do Dia do Jornalista. Gonzalo Gómez é um dos impulsionadores do recurso contra o Globo-visão, que apoiou o golpe de 2002. Este processo na justiça é apoiado por uma campanha de assinaturas de diversas organizações sociais, entre elas a C-CURA.
Gonzalo Gómes
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zações clientelistas, oportunistas, burocráticas, cheia de corruptos e em conciliação aberta com os patrões. Estas duas razões se resumem em reivindicar a construção de uma genuína opção revolucionária e socialista que lute para aprofundar conseqüentemente o processo revolucionário. Esta revolução não tem futuro se os trabalhadores e o povo não levantarem seu próprio programa alternativo que lute pelo socialismo, que não é outra coisa que o poder para os trabalhadores e o povo, sem nenhum tipo de exploradores e em ruptura com o imperialismo. Há um ano fizemos o ato de fundação do PRS e os resultados estão à vista. Muitos trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, camponeses, moradores e líderes comunitários estão se vinculando à organização. Por onde vou falo do partido revolucionário e as pessoas não o vêem com receio, inclusive rechaçam as infâmias e calúnias que outras correntes utilizam para intimidálas a que não nos escutem ou que não se filiem ao PRS porque somos “trotskystas”. Temos um jornal nacional, nos-
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O PRS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
Pela reeleição de Chávez
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Em 3 de dezembro deste ano acontecerão as eleições presidenciais na Venezuela. Entrevistamos Miguel Angel Hernández, docente universitário, membro do Comitê Nacional Impulsionador do PRS (Partido Revolução e Socialismo) sobre as circunstâncias em que acontecerá o processo eleitoral e a política que terá o partido.
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Miguel Ángel, na tua opinião, quais são os principais elementos que caracterizam a conjuntura política na qual acontecerá o processo eleitoral? M.A.: Acreditamos que chegamos às eleições presidenciais de dezembro em condições sumamente favoráveis para as lutas do povo e dos trabalhadores. Na Venezuela continua prevalecendo uma situação revolucionária aguda, na qual os trabalhadores e o povo continuam obtendo importantes triunfos, avançam na consciência política e antiimperialista, e seguem golpeando as forças contra-revolucionárias encabeçadas por Bush. O próximo processo eleitoral vai mostrar os partidos políticos dos “esquálidos” imersos em
uma tremenda crise. Estão divididos, têm vários candidatos, e não se colocam de acordo se realizarão ou não prévias para escolher um candidato único. Por outro lado, diante da eventualidade de uma derrota esmagadora, mantém a expectativa de retirar-se da disputa eleitoral no último momento. Entretanto, o povo e os trabalhadores querem continuar aprofundando o processo revolucionário, e se enfrentam com a burocracia governamental, assim como os representantes dos partidos de Chávez. Sem dúvida, todo o período anterior configura um quadro excepcional para que o processo revolucionário avance e se possa começar a construir uma ferramenta política democrática e revoluci-
onária dos trabalhadores e do povo. Onde isto se viu de forma mais clara foi no recente congresso da União Nacional dos Trabalhadores. Como isto se expressaria no terreno concreto e no cotidiano do povo e dos trabalhadores? M.A.: Em primeiro lugar, é necessário deixar claro que a Venezuela continua sendo um país capitalista. Sua constituição, suas leis, suas instituições, estão a serviço da dominação de classe exercida pela burguesia. O governo de Chávez, para além de seu discurso sobre o socialismo do século XXI e de sua retórica incendiária contra o governo Bush, não rompeu com a propriedade privada dos meios de pro-
dução, nem tomou medidas econômicas contra o imperialismo. Não obstante, para relativizar e colocar em seu justo lugar a afirmação anterior, como já dizíamos anteriormente, na Venezuela continua aberta uma situação revolucionária, e nesse contexto, o povo e os trabalhadores obtiveram, graças a sua mobilização, grandes conquistas sociais e democráticas, assim como um avanço extraordinário em sua consciência política e antiimperialista. E isto se reflete em muitos aspectos e em praticamente todos os setores sociais. Manifesta-se com a realização de eleições primárias em alguns municípios para escolher os candidatos que devem representar as comunidades, contradizendo os interes-
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através da recuperação econômica, e principalmente da indústria petroleira, do qual são artífices os trabalhadores venezuelanos, o governo de Chávez vem incorporando tanto as empresas nacionais como multinacionais em seus planos econômicos, em um processo que temos chamado de “normalização” das relações governo-empresariado. Apesar disso, o período de confronto com o imperialismo e seus acólitos nacionais não se fechou. Continua vigente na medida em que o processo revolucionário e suas possibilidades de aprofundamento seguem abertos. E deste perigo o imperialismo está plenamente consciente, e por isso, não deixa de pressionar o governo de Chávez. Não obstante, favorecido pela bonança econômica e da relativa estabilidade política, o governo busca fórmulas de entendimento com a burguesia e as multinacionais, enquanto mantém sua retórica contra o governo de Bush. Daí que sigamos caracterizando a Venezuela como um país independente, na medida em que, apesar destes avanços no entendimento econômico com as transnacionais, o governo de Chávez, no terreno político, não se submete
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VENEZUELA ses burocráticos dos partidos de Chávez; se expressa nas inumeráveis lutas operárias, tanto no setor privado como no público, contra os patrões e a burocracia estatal, ou pela decisão de uma comunidade de não aceitar um diretor de hospital imposto pelo ministro ou a decisão da maioria dos delegados do recente congresso da UNT, de afirmar seus interesses e a autonomia da central em relação ao governo, rechaçando a burocracia chavista que queria converter a central em um apêndice do governo. Estes são apenas alguns exemplos da profunda rebelião que atravessa o tecido social venezuelano. O presidente Chávez tem defendido a idéia do “Socialismo do Século XXI” como forma de superar o capitalismo. Não obstante, como tu dizes, a Venezuela segue sendo um país capitalista com um Estado burguês. O Que opinam sobre isso? M.A.: Efetivamente, Chávez fala de socialismo, não obstante, acreditamos que a luta para construí-lo, assim como a luta contra o imperialismo, não se reduz a uma mera retórica incendiária, senão que deve se manifestar em medidas concretas que apontem na direção de sua verdadeira e progressiva construção. Por exemplo, não basta dizer a Bush “barriga verde” e do mal que se vai morrer, é necessário tomar medidas efetivamente antiimperialistas e anticapitalistas, como por exemplo, não continuar dando concessões às multinacionais para explorar gás ou mudar os convênios operativos por “empresas mistas”, transformando as multinacionais em sócias da PDVSA no ramo petrolífero; ou dar dólares preferenciais e isenção de IVA às companhias automobilísticas enquanto estas descumprem suas obrigações com os trabalhadores; ou continuar pagando fielmente a dívida externa em lugar de cancelar a enorme dívida so-
O presidente Hugo Chávez discursa nas Nações Unidas
cial que todavia existe com o povo. No campo venezuelano continuam sendo assassinados dirigentes camponeses por grupos paramilitares e pela pistolagem, enquanto que os títulos agrários seguem engavetados, postergando o avanço da revolução agrária, como a denomina a Frente Nacional Campesina Ezequiel Zamora. Recentemente lemos em um diário de economia do país que apenas no mês de maio os bancos haviam ganhado mais de 281 milhões de bolívares (*) e se preparava para receber em seus cofres 3,5 bilhões (*) de dólares de bônus da PDVSA. O certo é que na Venezuela o capitalismo goza de boa saúde, apesar dos discursos de Chávez. Como vocês avaliam as relações do governo com o empresariado? M.A.: A rigor, o que prevalece hoje é um processo de negociação e progressivo entendimento do governo com a burguesia e as multinacionais. Certamente, não sem contradições, e com o pano de fundo do permanente confronto político com o imperialismo, ainda que menos no plano econômico (a Venezuela continua enviando petróleo seguro aos
Estados Unidos; paga sem atraso a dívida externa e garante os negócios das multinacionais norte-americanas e européias). En rigor, lo que prevalece hoy es un proceso de negociación y progresivo entendimiento del gobierno con la burguesía y las transnacionales. Por supuesto, no sin contradicciones, y con el telón de fondo de la permanente confrontación política con el imperialismo, aunque menos en lo económico (Venezuela sigue suministrando petróleo seguro a EE.UU., paga sin retrasos la deuda externa y garantiza los negocios de las transnacionales tanto norteamericanas como europeas). Como isto se explica? M.A.: Desde a realização do referendum em agosto de 2004, o governo vem tendo encontros com a burguesia nacional e com setores transnacionais. Aproveitando a estabilidade política obtida naquele momento, graças às derrotas consecutivas patrocinadas pela mobilização popular aos “esquálidos” e seus partidos, que se materializou também no terreno eleitoral, assim como o sólido piso material obtido
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aos desígnios dos Estados Unidos e, desde nosso ponto de vista, não concretizou um acordo formal com este, pelo contrário, tenta manter sua autonomia política em relação ao imperialismo, a qual continua gerando confrontos permanentes com a administração Bush.
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E a partir da situação política que vens descrevendo, qual é a posição eleitoral do PRS? M.A.: Em primeiro de julho passado realizamos uma plenária nacional onde discutimos e definimos nossa tática eleitoral. Esta foi o coroamento de um processo de discussão que vinha se realizando há vários meses, cruzado, certamente, por nossa intervenção no interior da UNT, assim como a preparação de seu II Congresso e a participação em inumeráveis conflitos trabalhistas existentes no país. A plenária a que faço referência foi resultado de um exercício interessante de democracia interna, provavelmente inédito, comparado com a forma com que outras organizações de esquerda dirimem suas controvérsias políticas. Várias posições foram debatidas em um clima de muita paciência e extrema tolerância. Diversos documentos foram explanados à militância e, ao final, concordou-se em apoiar a reeleição do presidente Chávez, mas sobre a base de nossa independência política, o que consideramos fundamental na hora de definir nossa política frente às eleições de dezembro, agitando nossas próprias consignas e uma base programática que tem como referência as resoluções adotadas no II Congresso da UNT. Em base a que critérios políticos apóiam a reeleição de Chávez? M.A.: Partimos da realidade de que a maioria do povo e dos trabalhadores segue a liderança de Chávez. Queremos manter o diálogo com milhões de trabalhadores que vêm fazen-
do a experiência com o atual governo. Sem despertar nenhum tipo de confiança nem esperanças no governo de Chávez acompanhamos os trabalhadores e o povo na luta eleitoral. Propondo um conjunto de exigências, através das quais façam sua experiência, possam continuar obtendo triunfos, os quais favorecerão o avanço de sua consciência política e antiimperialista, enquanto seguimos lutando pelo poder operário, popular e camponês, até conquistar um governo dos trabalhadores. Isto só poderá ser obtido com a expropriação da burguesia, dos latifundiários, dos donos dos meios de comunicação, dos banqueiros e das multinacionais. Quando passarem para as mãos dos camponeses pobres todas as terras do país, quando se nacionalizar o comércio exterior e se reestatizar, sob controle dos trabalhadores, as empresas privatizadas. Por isso tomamos para nós as consignas adotadas no II Congresso da UNT: “Vote pela reeleição de Chávez. Pelos 10
milhões de votos. Por uma Venezuela socialista, sem patrões, sem latifundiários, burocratas, nem corruptos”, propostas que se unificam com o programa de exigências que reivindicamos. Qual é esse programa? M.A.: Enquanto continuamos apoiando e lutando com os trabalhadores em todos os seus conflitos e em defesa de seus direitos, agitamos eleitoralmente um programa pelo qual chamamos os trabalhadores e o povo a votar em Chávez e mobilizar-se por esse programa de exigências para avançar na ruptura com o imperialismo. Neste sentido, dizemos aos trabalhadores e ao povo: Vote pela reeleição de Chávez. Por 10 milhões de votos e por uma Venezuela Socialista, sem patrões, latifundiários, burocratas, nem corruptos. 10 milhões de votos para que se cancele a enorme Dívida Social. Que o dinheiro do petróleo deixe de ir para o pagamento da dívida externa
e para créditos aos empresários. Que sirva para um aumento geral de soldos e salários de emergência e um plano nacional de obras que garantam trabalho verdadeiro para os desempregados. Pelo respeito aos direitos dos trabalhadores, da Estabilidade e das negociações trabalhistas. Basta de empresas mistas. PDVSA 100% Estatal sob a co-gestão dos trabalhadores. Terra para os camponeses pobres, Reforma Agrária Já. Castigo aos assassinos dos camponeses. Basta de impunidade aos golpistas assassinos de 11 de abril e os criminosos empresários que paralisaram o país em dezembro-janeiro de 2003. Pelo respeito à autonomia da UNT do governo e do Estado. Em defesa da soberania nacional. Preparemo-nos para enfrentar qualquer tentativa do imperialismo e da oposição golpista de desestabilizar o país ou derrubar o Presidente Chávez.
“Fora as multinacionais”* Com o governo de Chávez conseguimos com que mais de 4.500 bilhões de dólares do orçamento da PDVSA fossem destinados aos projetos sociais (as Missões), que são uma grande conquista social e democrática obtida pelo povo com sua mobilização e sua luta, ainda que não seja suficiente porque não chega a todo o povo(...)Por uma questão de justiça devemos dizer que boa parte do dinheiro do petróleo tem sido utilizado para pagar a dívida externa(...) Lamentavelmente o governo de Chávez mantém as concessões petrolíferas às multinacionais e muitas se associaram a PDVSA como empresa mista. Tampouco o governo aceita a cogestão operária por considerar o petróleo “indústria estratégica”. (...) Nós exigimos a anulação de todas as concessões às multinacionais e a convocação de uma Constituinte Petroleira onde democraticamente decidamos o que fazer com nosso petróleo.
José Bodas, dirigente petroleiro da refinaria de Puerto La Cruz
(*) Reproduzido de um artigo de Opção Socialista, de maio de 2006.
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POLÊMICA SOBRE AS TESES DE ORIENTE DA TERCEIRA INTERNACIONAL
MERCEDES PETIT processo revolucionário venezuelano esta produzindo importantes realinhamentos políticos em toda a vanguarda latino americana. Por um lado, nunca faltam grupos e partidos sectários que colocam um signo de igual entre Chávez e outros presidentes como Lula e Kirchner, agentes diretos do imperialismo ianque na região. Por outro lado, e com força muito maior, existem na esquerda e inclusive entre os socialistas revolucionários, posições oportunistas. Entre elas, vamos nos referir aos companheiros da revista Movimento. Tentam defender seu apoio ao governo Cháves desde posições supostamente leninistas e trotskistas. E atualizam o debate sobre as Teses de Oriente, aprovadas em novembro de 1922 pelo Quarto Congresso da Terceira Internacional Comunista.
O apoio a Chávez O dirigente panamenho Olmedo Beluche, do Conselho Editorial da Revista Movimento, é o expoente mais claro do apoio a Chávez por parte desta
corrente. Integrando uma delegação de panamenhos, viajou no ano passado a uma reunião organizada pelo ministério de Industrias e Comércio da Venezuela, cujo objetivo “foi o de apoiar o governo da Venezuela”. No seu informe do evento, define que o presidente Chávez “é uma esperança para os povos da América Latina” (especial para Argenpress – Info 24/11/05) O principal dirigente desta corrente, Pedro Fuentes do MÊS brasileiro (integrante do PSOL) escreve posições parecidas. Em uma matéria de dezembro de 2005 comenta os resultados da Cúpula de Mar del Plata e afirma: “Hoje, na Venezuela, o governo Chávez está liderando um processo progressivo de luta contra o imperialismo. Ademais apresentou um projeto concreto de transição para o socialismo do século XXI”. E conclui a matéria afirmando: “Isto exige agora, para os revolucionários latino americanos, uma política audaciosa, uma política de apoio à ALBA e as medidas progressistas do governo venezuelano (...) Não se trata apenas de um apoio circunstancial (...) Ser
parte desta frente antiimperialista é a melhor – ou a únicaforma de construir a organização socialista, revolucionária e independente na própria Venezuela”. Em toda a matéria não existe uma única crítica ao governo Chávez. Em um outro texto posterior, de bálano do Foro de Caracas 2006 (Notas sobre o Foro Social Mundial e a situação venezuelana) podemos detectar uma primeira, única e solitária crítica de Fuentes a Chávez: que alimentou a campanha de apoio a Lula no Foro. Para finalizar, e como não poderia ser diferente, não existe em toda a matéria publicada na revista Movimento Nº 5 nenhuma definição clara de classe do governo Chávez. Mas dá indícios de que não seria burguês. Existe uma descrição que diz: “Não é a primeira vez que um setor das forças armadas se radicaliza e forma um governo contra a maioria dos setores burgueses do país e adota medidas antiimperialistas, a favor da reforma agrária ou de nacionalização de indústrias e sérvios e de cogestão operária”. Até aqui, seu caráter de classe ficaria ambíguo. Mas
depois agrega: “Chávez e a revolução bolivariana existem em um novo contexto da situação latino americana (...) Podemos afirmar que, de alguma forma, estes movimentos são mais progressistas, pois permitem a conformação de um bloco de classes exploradas com uma política nacional conjunta.” Se possibilita a conformação de um “bloco de classes exploradas”, o governo Chávez não seria burguês. Nós, da Corrente Majoritária da UIT-CI, defendemos de forma incondicional o governo Chávez frente aos ataques imperialistas ou da reação golpistas, e o definimos como um governo nacionalista burguês que tem atritos importantes com o imperialismo. Simultaneamente, consideramos errado o apoio político ao governo que defende Pedro Fuentes. Também discordamos com a conclusão organizativa: para ser parte da “frente anti-imperialista”, o caminho é a integração na organização chavista Movimento 13 de Abril (M13). É claro, na sua descrição do M13 Fontes omite que está integrado por importantes funcionários do governo. Ademais,
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O governo Chávez e a “frente única antiimperialista”
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O governo Chávez esta produzindo diversos realinhamentos na esquerda latino americana
sustenta que este movimento não “teria uma política própria definida” ocultando que sim tem: ser parte e apoio do governo Chávez.
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Que defendiam as Teses de Oriente e sua frente única anti-imperialista
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Pedro Fuentes justifica seu apoio político a Chávez como a aplicação da “frente única antiimperialista” formulada pelas Teses de Oriente em 1922. Na revista Movimento Nº 6 as reproduz parcialmente, junto a uma matéria de comentário. É verdade que esse texto, aprovado com toda a autoridade de Lênin e Trotsky, propõe a “frente única antiimperialista: com “os movimentos nacionalistas revolucionários” da burguesia”. E que a Terceira Internacional deu apoio político a governos da burguesia nacionalista, tal como agora propõe Fuentes em relação a Venezuela. Mas o que não diz Fuentes é que essas Teses, assim como outros textos prévios da Terceira Internacional e do próprio Trotsky não defendiam a revolução socialista para aqueles países.
Nahuel Moreno fez uma polêmica, que Fuentes conhece muito bem, em torno deste texto com o dirigente trotskista francês Pierre Lambert no começo da década de 80. Em um dos capítulos do livro “A traição da OCI” (Capítulo III: A Frente Única Antiimperialista como expressão da teoria dos campos burgueses progressivos), Moreno documentou amplamente que houve um período “etapista” ou “centrista” da Terceira Internacional para Oriente. Não é como afirma Fuentes, que essas Teses rejeitam “a teses etapista de uma fase democrático burguesa pela qual os governos burgueses poderiam aplicar essas tarefas democráticas e antiimperialistas” (Movimento N° 6). Pelo contrário: nesses anos Lênin e Trotsky impulsionaram uma “teses etapista”, descartando por uma etapa histórica a revolução socialista para China, Índia, Pérsia e outros países coloniais e semi coloniais. Moreno documenta que, após o triunfo de 1917, ao entrar em contato com os países da Ásia e da África e comprovar a tremenda debilidade de seu desenvolvimento capitalista, tan-
to Lênin quanto Trotsky consideraram que a revolução nos países atrasados de Oriente e da África passaria por duas etapas; primeiro a revolução nacional e democrática, até que o proletariado se consolidasse como classe, depois, a etapa da revolução socialista. De qualquer forma, não se tratava do típico etapismo dos reformistas, tipo menchevique e depois estalinistas. Todo o enfoque da Terceira Internacional tinha como ponto de referência tanto a total independência política da organização revolucionária, a solidariedade efetiva com a União Soviética, assim como o impulso ao triunfo da revolução socialista nos países adiantados da Europa Ocidental. Desde o Primeiro Congresso, na Internacional se considerou que os países da Oriente não haviam ainda amadurecido para a revolução socialista. As Teses de Oriente e outros textos sobre o tema defendiam que nestes países não estava colocada a perspectiva socialista, e definia como os inimigos aos opressores estrangeiros, os senhores feudais, padres e agiotas, e não à burguesia,
cujos governos podiam avançar nas tarefas anti imperialistas de democráticas. Conseqüente com este enfoque, propunha a “frente única antiimperialista” com a burguesia nacional e considerava também o apoio político a seus governos. Agora, em sua reivindicação daquele texto, Fontes esconde aquela polêmica e cai em diversas contradições. De acordo com ele, as propostas das Teses de Oriente seriam parte fundamental de seu programa “desde uma perspectiva socialista” (Movimento nº 6). Mas isto não passa de uma formalidade que contradiz à Terceira Internacional. O objetivo explícito das Teses de Oriente era o triunfo de uma revolução democrático-burguesa em Oriente. Fuentes é conseqüente com aquele enfoque de 1922 visto que sustenta que já não serve mais a defesa de uma Federação Socialista da América Latina, que para ele seria uma repetição litúrgica do passado. As Teses de Oriente também não defendiam a perspectiva da federação socialista, mas porque enxergava a revolução socialista para uma etapa do futuro.
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VENEZUELA Se não está colocada hoje uma etapa de revolução democrático burguesa encabeçada pelos movimentos revolucionários nacionalistas burgueses, não corresponde se apoiar nas Teses de Oriente. Mas Fuentes agrega uma segunda contradição. Afirma que “em aquelas épocas se viam em Oriente movimentos nacionalistas burgueses que cumpriam um papel progressivo contra regimes que conservavam fortes rasgos feudais ou semi feudais, e esta possibilidade não está agora colocada para América Latina”. Mas se não existe burguesia progressiva, também não corresponde se apoiar nas Teses de Oriente. Essa declaração sobre a inexistência de “movimentos nacionalistas burgueses”’ que possam cumprir um “papel progressivo” é outra formalidade que procura dar um verniz trotskista à sua posição, enquanto passa uma posição anti trotskista da Frente Única antiimperialista e de apoio à Chávez. Mas foi Trotsky quem, desde 1927 polemizou com aqueles que afirmavam o mesmo que agora escreve Fuentes.
tempo, desde 1923, Trotsky impulsionou a Oposição contra Stalin, e foi criticando cada vez com mais força sua política para China. No segundo semestre de 1927 modificou definitivamente suas analises, política e programa para China e os países atrasados. O expressou em seu texto “Crítica ao programa do Sexto Congresso da Internacional Comunista” (publicado no livro “Stalin, o grande organizador de derrotas, edito-
as conclusões da revolução chinesa e de sua derrota, modificando definitivamente as Teses de Oriente e outros textos prévios e posteriores. Diz que não se “pode acreditar jamais que a burguesia seja capaz de levar adiante uma luta real [ou efetiva] contra o imperialismo” (pág. 229). Trotsky não diz “luta conseqüente”, ou luta “até o fim”, como afirma Fuentes. Simplesmente diz uma luta real e efetiva.
o socialismo (por exemplo, na Tesis 11 do resumo final). Desde aquela época nunca mais defendeu a “frente única antiimperialista” e sustentou, na sua concepção da revolução permanente, que as tarefas da libertação nacional eram parte inseparável da revolução socialista. Nunca mais alentou o apoio a nenhum governo burguês. E este é o centro do debate a respeito da história e da atualidade venezuelana.
A Revolução Chinesa e sua derrota acabaram com as Teses de Oriente
ra Yunque 1974”.). E no ano seguinte fez sua segunda formulação da teoria da revolução permanente. Trotsky traz uma citação do programa de Bujarin que diz: “A burguesia liberal representou na China, durante uma série de anos, e não de meses, um papel objetivamente revolucionário e depois se esgotou”. E afirma: “Todo está errado, do princípio ao fim”. Eram ele e Lênin, antes do ascenso revolucionário chinês, os que haviam aventado um período de desenvolvimento dos movimentos nacionalistas revolucionários. Lênin já não esta, mas Trotsky tira
E agrega mais adiante: “A burguesia chinesa é suficientemente realista e conhece bastante bem o imperialismo mundial como para compreender que uma luta realmente séria contra ele exige uma pressão tão forte das massas revolucionárias que a própria burguesia vê-se ameaçada desde o princípio”. A partir dessa experiência fará sua formulação mais geral da teoria da revolução permanente, onde explicitamente sustenta que o desenvolvimento da revolução mundial eliminou toda diferenciação entre países “maduros” e “imaturos” para
A unidade de ação antiimperialista Com a sua teoria da revolução permanente, Trotsky deu uma grande importância à luta antiimperialista e pela libertação nacional. E trabalhou sistematicamente as características particulares das burguesias semi-coloniais, as quais definiu como “semi-exploradoras e semi-exploradas”. É totalmente certo, tal como o lembra Fuentes, que se entusiasmou com as expropriação das empresas petroleiras inglesas e ianques por parte do governo do mexicano Lázaro Cárdenas
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Leon Trotsky no México, onde viveu seus últimos anos de exilio
Pedro Fuentes faz um vôo sem escalas em direção ao passado, para se apoiar no texto de 1922, calificando-o como “um dos principais materiais elaborados sobre a luta nos países coloniais e semicoloniais”, esquecendo o que aconteceu pouco depois. Após a morte de Lênin, Stalin manteve formalmente alguns aspectos das Teses, despojando-os de todo conteúdo revolucionário e com o criminoso agregado de subordinar o PC Cines ao partido nacionalista burguês o Kuomintang. Manteve uma capitulação direta à burguesia até que Chiang Kai Shek afundou em um banho de sangue à revolução proletária. Ao mesmo
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em 1938. Tanto no Programa de Transição como em todos os escritos de Trotsky sobre os países semi-coloniais, e inclusive em seus conselhos aos grupos que lhe acompanhavam nos países metropolitanos, tem grande peso as tarefas antiimperialistas, agrárias e de independência nacional. Nossas críticas assim não se referem à importância das tarefas antiimperialistas e democráticas, mas ao apoio político ao governo de Chávez e sua proposta da frente única antiimperialista. Defendemos que, a partir de final de 1927, nunca mais Trotsky propôs o apoio a nenhum governo burguês, ainda que fosse semi-colonial e estivesse em luta contra o imperialismo. Também, nunca mais voltou a propor uma “frente única antiimperialista”, mas muitas vezes propôs a frente operária. Tanto o Programa de Transição (1938) como o Manifesto de Emergência (1940) e numerosos artigos daqueles anos dão grande importância à luta pela libertação nacional. Em nenhum deles aparece a “frente única antiimperialista”. Trotsky se refere sempre a acordos circunstanciais, unidade de ação ou expressões parecidas. Existem fatos contundentes. Quando o Japão invadiu a China em 1935, Trotsky foi um firme defensor da luta antiimperialista junto a Chiang Kai Sek, que era rejeitada por alguns de seus grupos. Nunca falou de Frente Antiimperialista, e muito menos de apoio político de nenhum tipo a Chiang. Também, não aconselho o apoio ao governo de Cárdenas quando fez as expropriações. totalmente certo, tal como o lembra Fuentes, que se entusiasmou com as expropriaç As lições de Trotsky nos deixaram assim a tática da unidade de ação ou de acordos antiimperialistas, que significa uma política ampla e unitária com todos os setores da sociedade que estão dispostos a participar de ações por aspec-
Marcha antiimperialista no Equador em 2006
tos pontuais contra o imperialismo. Mas por sua vez, esta política significa também a confrontação, pela inconseqüência da burguesia crioula visto que nunca darão uma batalha real e efetiva contra seus amos. Também, esta unidade não pode implicar nenhum tipo de permanência orgânica que possa limitar a independência política das organizações operárias e revolucionárias, ou que possa criar expectativas nos circunstanciais aliados. A corrente que encabeçou Moreno foi aplicando diversas táticas frente aos processos latino-americanos, como o peronismo na Argentina, o governo da Unidade Popular no Chile, ou a luta do sandinismo na Nicarágua. Participando na primeira fileira da luta com táticas unitárias, sem apoio aos governos, nem unidades orgânicas, estratégicas e de longo prazo com setores não operários, como propõe a frente única antiimperialista de Pedro Fuentes.
As críticas ao PRS venezuelano Já temos escrito no começo do texto que, de acordo com Fuentes, ser parte da “frente única antiimperialista” e apoiar politicamente Chávez é a única forma de construir uma organização socialista revolucionária na Venezuela. Conseqüente com suas posições, ele faz críticas muito fortes ão PRS. Quem não aceita dita frente “se coloca por fora da realidade das massas” afirma Fuentes. Aludindo a seu programa, alerta do perigo de que “a necessidade permanente de sustentar uma política revolucionária” fará cair o PRS na “auto proclamação” e no “isolamento”. A forma de raciocinar de Fuentes por momentos é muito simples: se as massas são chavistas, para não se isolar, os revolucionários devem ser chavistas. E copia os funcionários de Chávez, que sem argumentos respondem às críticas e propostas dos dirigentes do PRS os acusan-
do de “fazerem o jogo da direita” (Apuntes...) Ninguém ignora que os companheiros que atualmente impulsionam o PRS e a C-CURA na UNT estiveram na primeira fila da luta contra o golpe de abril de 2002. Que cumpriram um papel decisivo em diversas refinarias e bairros para quebrar a paralisação patronal petroleira do verão de 2002-2003. Que sistematicamente chamam a defender as conquistas que os trabalhadores e o povo venezuelano obtiveram nestes anos. Por isso não tem força, frente aos lutadores e a vanguarda, as acusações de que o PRS faria o jogo da direita. Os companheiros atuam desde uma posição independente do governo, sem dar-lhe apoio político e apoiando as lutas e reivindicações dos trabalhadores. Os artigos sobre Venezuela desta revista assim o demonstram. Corresponde o apoio ao governo que faz empresas mistas de petróleo entre PDVSA e as multinacionais? E que continua pagando a dívida externa e enviando petróleo aos EUA para manter sua guerra suja no Iraque?Achamos que não. Corresponde que os militantes e lutadores brasileiros do PSOL apóiem Chávez, enquanto este apóia decididamente a reeleição de Lula? Também afirmamos que não. Ou quando vende petróleo à oligarquia equatoriana, furando a greve dos petroleiros desse país? Também não. Nem podemos apoiar politicamente o governo venezuelano que compra bônus da dívida externa Argentina para que Kirchner continue pagando ao imperialismo. A polêmica com Fuentes é clara. Para os companheiros do PRS, que se constroem tratando de combater o oportunismo e o sectarismo, a tarefa é “sustentar uma política revolucionária” de forma permanente, porque tem como objetivo construir um partido dos trabalhadores na estratégia de lutar pelo poder. Fuentes rejeita este objetivo político, achando que é “autoproclamatório” e equivocado.
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Heloísa Helena Presidente! Rumo ao segundo turno! uinze dias após a largada oficial da campanha eleitoral, a candidata do PSOL e da Frente de Esquerda, Heloísa Helena, apareceu nas pesquisas com 10% das intenções de voto. Nas principais capitais do país essa porcentagem sobe para 13%, 15% e até 19%. Definitivamente, a candidatura de Heloísa Helena entrou para valer na disputa eleitoral, assustou os petistas e alertou os tucanos. A disparada de Heloísa não só abre a possibilidade de um segundo turno da disputa: coloca a possibilidade que ela seja uma das candidaturas a chegar lá. Daí o contra-ataque do PT que, através de seus amigos da rede Globo, de numerosos jornalistas e do dirigente petista Valter Pomar (que pertence a uma corrente que no passado se situava no campo da esquerda petista) tenta desqualificar Heloísa, mas essa história nós já conhecemos. Por
Mensaleiros e sanguessugas à caça do voto É verdade que Lula se mantém como favorito com mais de 40% das intenções de voto, mas não podemos subestimar
os problemas do PT e do governo. Parte importante de seu favoritismo baseia-se na fantástica máquina publicitária, na utilização do aparelho do estado e na sistemática exposição do Presidente durante os últimos meses inaugurando obras
outro lado, também preocupados com uma eventual derrota de Lula e com o avanço da Heloísa Helena, começaram a se mobilizar os apoios de alguns presidentes. Chávez foi o primeiro em declarar publicamente que aposta em Lula. Kirchner, desde Buenos Aires, ofereceu realizar um grande ato em apoio ao candidato do PT. Ambos, preocupados em que não se fortaleça uma verdadeira alternativa de esquerda conseqüente. Trata-se assim de manter o perfil de oposição de esquerda intransigente às falsas “alternativas” de Lula e Alckmin, e divulgar as propostas da Frente de Esquerda. Também, de ampliar e massificar a campanha convocando toda a militância e apoiadores da candidatura da companheira Heloísa e dos candidatos da Frente e do PSOL, espalhando em todos os cantos do país o chamado a derrotar Lula e Alckmin votando Heloisa Helena 50 - Presidente! país afora (muitas delas fantasmas) e, sobretudo, na utilização eleitoreira dos 11 milhões de bolsas família. Também baseiase no senso comum de muitas pessoas que, ainda que decepcionadas com o governo do PT, consideram Lula o “mal menor”
que evitaria a volta ao passado de um novo governo do PSDB. Os tucanos por sua vez, penaram durante meses com um candidato que não decolava para, uma vez começada a campanha, subir nas pesquisas até atingir respeitáveis 28%.
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MIGUEL MALHEIROS E SILVIA SANTOS
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Lula e Alckmin, os dois candidatos dos grandes empresários e do sistema financeiro, apostaram todas suas fichas na criação de uma falsa polarização para que o povo não tivesse outra alternativa a não ser optar pelo modelo neoliberal na sua versão tucana ou na sua versão petista. Para isso, desde o Planalto, o PT em cumplicidade com Sarney e Renan Calheiros, operou para impedir a candidatura própria do PMDB, pensando que assim somente restariam os “nanicos” incapazes de saírem da marginalidade e atrapalhar o sonhado “bipartidarismo”. Mas as coisas não estão saindo como pensavam, porque um importante setor da população que não quer mais os tucanos e está revoltada com a traição do governo Lula, começa a ver na candidatura da companheira Heloísa Helena uma alternativa, um canal político para expressar não só sua rejeição frente à falsa polarização, mas também a afirmação de um novo projeto que efetivamente responda às necessidades da maioria da população trabalhadora. A cumplicidade de petistas e tucanos para esconder embaixo do tapete a poeira da corrupção e inocentar mensaleiros e sanguessugas não está passando despercebida. O PT decidiu “esconder” seus candidatos sob o prestígio de Lula e o voto de legenda, porque sabe que subir no palanque ou aparecer na TV com professor Luizinho, Paulo Rocha, João Paulo, Mentor ou Palocci – entre outros que chegaram a ocultar até nas cuecas o dinheiro “não contabilizado” – com certeza tirará votos. Para piorar a situação, a máfia das ambulâncias, chamada de “sanguessuga” está composta em mais de 60% por parlamentares da base aliada do PL, e do PTB, e também por alguns petistas. Tudo isso é o que pode empurrar o eleitor a produzir uma importante renovação da composição do Congresso Nacional e das Câmaras Legislativas.
Heloísa Helena e César Benjamin encabeçaram o lançamento da campanha eleitoral no RJ
Com Lula ou com Alckmin, haverá mais desemprego e menos salário Como se não bastassem os mais de três anos de governo do PT para tirar a conclusão que definitivamente passou para o lado dos poderosos, uma nota dos grandes empresários não deixa dúvidas. O Comitê de Empresários, que apóia Lula, esclareceu quais serão os compromissos do petista no seu segundo mandato, caso venha a ganhar: aplicar a terceira fase da reforma da Previdência, realizar as reformas sindical e trabalhista, reduzir o gasto público com um novo ajuste sobre o povo trabalhador, taxar ainda mais o consumo e outorgar completa autonomia para o Banco Central. Obviamente, os mesmos compromissos a serem assumidos pelo candidato Alckmin, vinculado ao reacionário “Opus Dei”. Pese a algumas concessões menores, o governo Lula não conseguiu esconder seu projeto antipopular nem sequer na campanha eleitoral. Sem piedade com os aposentados, aos quais atacou com a reforma da previdência e com a taxação de 11% sobre seus magros proventos, decidiu agora vetar o reajuste dos seus vencimentos, para imediatamente depois, vetar também o FGTS para as trabalhadoras domésticas. No contraponto o número de bilionários cresceu no país,
os mensaleiros aumentaram seu patrimônio, e Lula está prestes a chegar ao milhão! A traição do presidente ex-operário se mede agora em propriedades e títulos bem remunerados com os juros fixados pelo Ministro Meirelles, nomeado por Lula para satisfazer o sistema financeiro... e aumentar seu patrimônio pessoal! Com menos caixa dois e com esquemas mais sofisticados, os grandes bancos, setor absolutamente privilegiado durante o tucanato e ainda mais nos anos do governo petista, continuarão contribuindo generosamente com as campanhas de Lula e de Alckmin, visto que os dois são garantia que a defesa dos lucros do sistema financeiro continuará sendo prioridade do próximo governo, seja de um ou de outro.
Lula e Valter Pomar, aliados com Sarney, Jader Barbalho e Renan Calheiros atacam Heloísa Helena Os jornalistas a soldo do Planalto, o Ministro Tarso Genro (menino de recados do presidente Lula) e o dirigente petista Valter Pomar, partiram para o contra-ataque, uma vez que tomaram consciência que Heloísa Helena não só pode forçar a realização do segundo turno, como pode estar ela nessa disputa final. Da mesma forma o Comitê Central do PC do
B divulgou um texto mentiroso e calunioso assinado por Altamiro Borges. Vindo de Tarso Genro e dos jornalistas, é normal. Também virou normal, infelizmente, ver dirigentes que no passado se reivindicaram da esquerda petista, ou de partidos que se reivindicam “comunistas” hoje sendo porta-vozes dos ataques do governo neoliberal de Lula, para acusar HH de instrumento da direita, insinuando que César Maia seria seu conselheiro para “suavizar sua imagem”, que estaria sendo favorecida pela Rede Globo (!), que César Benjamin seria o incumbido de fazer de forma “realista” o programa de governo de Heloísa Helena, e mostrando-se altamente interessado em influir no PSOL para definir o voto dos psolistas no segundo turno, (“O inimigo não é Heloísa Helena, mas Alckmin” escreve Valter Pomar) além de outros falsos e agressivos argumentos. Os primitivos argumentos, que já antecipou meses atrás Emir Sader, são que “Lula representa a esquerda, Alckmin a direita”, e HH assim, faria o jogo da direita! Como é impossível tapar o sol com a peneira, não dá para esconder que Lula é o preferido de Bush e do sistema financeiro. Ou seja, a direita está com Lula... mas também com Alckmin, e qualquer dos dois que vença a disputa eleitoral deixará os banqueiros satisfeitos. Os bancos lucraram ainda mais no governo do PT
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A força do “fenômeno Heloísa Helena” Assim intitularam alguns jornais o expressivo aumento das intenções de voto para Heloisa Helena. Pese a tê-la ocultado da mídia e até manipulado pesquisas, nas ruas se sentia que a admiração, o carinho, o respeito e o apoio pela candidata psolista da Frente de Esquerda estava crescendo. Não sem dificuldades, visto que o PSOL é um partido financeiramente pobre e não pretende vender sua alma ao diabo para conseguir financiamento de banqueiros nem de empresários, o PSOL e a Frente de Esquerda começaram a botar o bloco na rua. A largada foi dia
06 de Julho com uma caminhada no Rio de Janeiro. A partir daí Heloísa Helena percorre as principais capitais, viajando de avião de carreira, com as passagens financiadas pela militância e os simpatizantes dos estados, dormindo nas casas de companheiros ou em hotéis modestos, passando por São Paulo, Campinas, Guarulhos, Porto Alegre e região metropolitana, Fortaleza e diversas cidades do Ceará; Florianópolis, Amapá, Paraíba, Belém, Recife, etc. em um roteiro que abarcará praticamente o país todo. Caminhar com Heloísa pelas ruas é um sufoco. As pessoas se aproximam, abraçam, pedem autógrafos, fotos, parabenizam sua coerência e garra, dão ânimo, se oferecem para ajudar na campanha. Como chegou Heloísa Helena a ter esse percentual de votos, com um volume franciscano de campanha e sendo censurada pela mídia que praticamente a escondeu no último período? De onde provêm a força do fenômeno HH? Evidente que a exposição na mídia a partir do começo da campanha, e as suas aparições como candidata presidencial, provocaram um aumento das intenções de voto. Mas a força de Heloisa não vem da “exposição” na mídia, exposição que, por outro lado também tem Cristovam Buarque e outros candidatos. A exposição na mídia ajudou as pessoas a visualizar, agora como candidata,
aquela guerreira que não se curvou, que enfrentou junto aos chamados “radicais” a traição de Lula e do PT; aquela brava lutadora que junto aos socialistas e petistas que não arriaram as bandeiras, ficou do lado dos trabalhadores, enfrentou Meirelles, Sarney, Lula e suas contra reformas, e com Babá, Luciana Genro e centenas de outros dirigentes e militantes mantiveram sua dignidade e fundaram o PSOL. Isso é o que está vivo e latente na memória de uma boa parcela da população, sobre tudo de milhares de petistas que se afastaram e continuam se afastando do PT, que buscam e aplaudem a coerência, a luta e rejeitam a patifaria neoliberal e a corrupção deslavada na qual se submergiu o PT. A manobra da falsa polarização começou a ser quebrada, visto que uma importante parcela da população, servidores públicos, estudantes, trabalhadores e classes médias empobrecidas, intelectuais e donas-de-casa procuram uma alternativa política, e seguindo os ventos da América Latina, de enorme rejeição ao neoliberalismo e aos partidos que o aplicaram, procuram essa alternativa à esquerda, cujas bandeiras abandonou e traiu a direção do PT e Lula. Por isso não pode haver nenhuma vacilação por parte da campanha dos candidatos do PSOL: confrontar de forma conseqüente Lula e Alckmin
para demonstrar que se hoje existem três candidaturas competitivas, na realidade existem somente dois projetos em disputa: o do imperialismo, as multinacionais e os velhos e corruptos partidos da ordem, representados hoje pelas candidaturas Lula e Alckmin, e o projeto da esquerda conseqüente através da candidatura da Heloísa Helena e os candidatos da Frente de Esquerda.
Os candidatos do PSOL e da Frente de Esquerda No país inteiro foram apresentadas as candidaturas do PSOL e da Frente de Esquerda. Alguns dos candidatos a governador são antigos dirigentes petistas como Plínio de Arruda Sampaio (SP), Milton Temer (RJ) ou Edmilson Rodrigues (PA). Mas na imensa maioria dos casos, trata-se de companheiros que estão fazendo sua primeira disputa eleitoral, e disponibilizaram seus nomes para ajudar a construir o projeto alternativo nestas eleições fortalecendo a candidatura de Heloísa Helena para presidente e chamando a votar pelos candidatos proporcionais. A maioria destes novos candidatos foi do PT, alguns do PSTU; muitos nunca tiveram militância ativa e a maioria são trabalhadores do serviço público federal ou ativistas do movimento estudantil e popular. Mulheres de luta, seguindo os exemplos de Heloísa Helena ou Luciana Genro se destacam nas listas, como as candidatas ao senado pelo Amapá e Pará, as candidatas ao governo no Piauí e Roraima, ou em MG, onde a candidata da Frente é a companheira Vanessa Portugal, militante do PSTU. Os parlamentares federais e estaduais pelo PSOL concorrem à reeleição, junto com novos militantes que desde todos os estados conformaram as listas do PSOL e da Frente de Esquerda. Babá, Heloísa Helena e Milton Temer candidato a governador do Rio de Janeiro
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do que lucraram com FHC, e não por acaso doaram 7,9 milhões ao PT e 4,3 milhões ao PSDB nas eleições de 2004. Os argumentos de Valter Pomar, Tarso Genro ou Altamiro Borges, não são mais que desculpas esparrafadas de políticos vendidos ao capital, para defender seus interesses materiais de burocratas pagos pelo andar de cima para em nome da “esquerda” continuar traindo os trabalhadores e o povo. Assim, esta campanha tem um claro objetivo: além de tirar votos da Heloísa Helena, pressionar para enfraquecer e moderar o discurso e as propostas do PSOL para obter os votos psolistas caso Heloísa Helena não chegue ao segundo turno.
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O Deputado Federal Babá, formado em engenharia mecânica e professor universitário, fundador do PSOL, e dirigente da Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST – corrente interna do PSOL) e já no seu quinto mandato como parlamentar, disputará desta vez no Rio de Janeiro, para onde ele mudou seu domicílio eleitoral para ajudar na construção do PSOL de massas neste importante estado da federação. Babá tem uma longa trajetória de lutador. Presente nas mobilizações dos trabalhadores e do povo pobre, conhecido como deputado piqueteiro, junto com Heloísa Helena e Luciana Genro, foram os primeiros a enfrentar a traição do Lula, negaram-se a votar a reforma da Previdência e ficaram junto aos servidores públicos que deflagraram a primeira grande greve contra o governo do PT. Por isso foram expulsos em um tribunal da inquisição chamado de “Tribunal de Ética do PT”, acusados nada menos que por Delúbio e Silvinho “Land Rover” Pereira. Babá está morando há mais de um ano e meio no RJ, onde a acolhida tem sido excelente. Hoje, começada a campanha, são muitos os ativistas que estão se somando à campanha eleitoral, abrindo comitês, dis-
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Candidatos do PSOL manifestam contra o voto secreto
tribuindo panfletos, participando das caminhadas, reunindo novos companheiros e buscando divulgar por todo canto a candidatura de Heloísa para presidente, Milton Temer para governador e Babá – 5051 - para Deputado Federal. A largada foi com uma forte plenária com mais de 250 companheiros contando com uma numerosa presença de candidatos a deputado/a estadual que estão realizando sua campanha em “dobradinha” com Babá. Desde cedo, todos os dias, Babá e os militantes da sua campanha percorrem distribuindo panfletos entre os trabalhadores do Judiciário, IBGE, UERJ, UFF, diversos Hospitais e postos do INSS; os Ministérios da Fazenda e de Trabalho; a Petrobrás, o Banco do Brasil, os Estaleiros de Niterói e a Petrobrás em
Macaé. Também, se organizam grupos com bandeiras e panfletos no largo da Carioca; no metrô Sans Peña; panfletagem e visitas em Nova Iguaçu, Caxias, Niterói, São Gonçalo, Bangu, Senador Camará, Mendanha, Complexo da Coréia; Morro do Estado, Del Castilho e Hospital Rocha Faria. No domingo as panfletagens acontecem na orla de Copacabana, no aterro do Flamengo, em Niterói, etc. Babá visita o interior, também para dar apoio a candidatos a deputado/a estadual, e assim esteve em Macaé, Itaocara, Aperibé, Cambuci, Carapebús, Cabo Frio e Saquarema. Por sua vez, a extensão da campanha está se refletindo na abertura de comitês junto com as dobradas, e já estão funcionando os de Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Maracanã e Vila
Isabel. Todas as quintas feiras, na sede do Partido, se realizam reuniões abertas com os apoiadores da campanha Heloísa Helena e Babá, da qual participam, debatem política e se engajam nas atividades muitos companheiros de diferentes setores e categorias que, cada vez mais, na medida que avança a aceitação da Heloísa Helena e do Babá, se enchem de entusiasmo e se comprometem com as atividades. Pertencentes à CST também estão concorrendo trabalhadores como Alex (para deputado federal, dirigente do metrô de SP); a companheira Julieta Lui para deputada Estadual/SP, professora e ex-vereadora, a primeira a ser expulsa do PT de São Carlos (SP); a professora Silvia Letícia, dirigente do PSOL/Pará, para deputada estadual enquanto que a companheira Neide Solimões, coordenadora do Sindicato dos Servidores Públicos Federais/PA é a candidata da Frente ao Senado e no Amapá concorre para deputado federal, o presidente do PSOL/AP e servidor público Dorinaldo, enquanto que a companheira Celisa, também professora disputa a vaga pelo Senado da Frente. Como representantes da juventude, podemos nomear o companheiro Roberto de Desobedeça, no RS, que conta com apoio na comunidade GLBT; Fábio Félix no DF, estudante da UNB e também ativo militante GLBT (deputado distrital) ou Denise, jovem ativista da UFMA e fundadora do
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BRASIL a submissão do Brasil ao imperialismo e ao capital financeiro, defendendo a auditoria e a suspensão do pagamento dos juros da dívida pública; para acabar com a falsa democracia do poder econômico e dos corruptos, defendendo a revogação dos mandatos, entre outras medidas; e para defender e conquistar as reivindicações dos trabalhadores e do povo brasileiro, por salário, emprego e terra. Uma das bandeiras consideradas fundamentais é, sem dúvida, o compromisso destes companheiros na luta pela anulação da Reforma da Previdência, reforma à serviço dos fundos de pensão e do capital financeiro, que marcou o primeiro grande confronto dos trabalhadores com o governo Lula e foi votada graças ao mensalão.
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Apoio a Heloísa Helena Orlando Chirino, coordenador geral da nova central dos trabalhadores da Venezuela UNT (Unidade Nacional dos Trabalhadores) declarou seu apoio à candidatura da Heloísa Helena. (www.aporrea.org.) “Apoiamos Heloísa Helena quando foi expulsa do PT junto aos deputados Babá, Luciana Genro e João Fontes, por defenderem as bandeiras socialistas e antiimperialistas originais desse partido, e por se opor às políticas neo-liberais aplicadas pelo governo Lula. Hoje a apoiamos mais uma vez como candidata à presidência do Brasil, por representar a independência de classe em relação aos partidos da burguesia, assim como a luta contra a reforma da previdência que só beneficia banqueiros, as reformas trabalhista e sindical que corta os direitos dos trabalhadores, e a reforma universitária privatizante que o governo Lula pretende instrumentar em favor dos interesses da burguesia, das multinacionais e do imperialismo. Por isso nos somamos à campanha: Somos Trabalhadores, votamos Heloísa Helena! Por uma alternativa socialista para o Brasil, contra os banqueiros, o imperialismo e os políticos corruptos!”
Orlando Chirino no Brasil convidado ao I Encontro Internacional do PSOL
Os debates colocados Muitas são as pressões para que o PSOL rebaixe seu programa. Internamente, mais uma vez, se recoloca a discussão sobre as possibilidades de um período de desenvolvimento nacional sem uma clara ruptura com a subordinação do país ao imperialismo. Dirigentes do Enlace (Corrente Interna do PSOL) contribuíram com um texto com diversas propostas que, no nosso entender, comprometem as diretrizes programáticas votadas pela conferência do PSOL realizada em Maio em Brasília. Com base na correta definição de colocar no centro do debate a crise social brasileira, nos apresentam como iniciativas de campanha outro perfil e outra saída programática. Em defesa da soberania e a solidariedade com as lutas populares em curso na América Latina, nos propõem estabelecer um diálogo com governos que avançaram em medida anti-neoliberais sem especificar com quem, nem que medidas concretas propor de “integração que enfrentem a lógica financeira e o endividamento externo”. Se for com Chávez ou com Kirchner, lembramos que os dois estão apoiando Lula. De qualquer forma, consideramos muito importante uma proposta de integração latino-americana e de apoio às lutas dos povos, mas temos que nos deter em quais serão as medidas que ajudem a recuperar a soberania. No nosso entender, qualquer integração à serviço dos povos, precisa ser em primeiro lugar para enfrentar a dominação imperialista. Por isso, uma proposta fundamental, é o chamado à conformação de um bloco de paises devedores para não pagar as dívidas que condenam nossos povos à fome e a miséria, mas nem Chávez nem Kirchner estão dispostos a dar este passo. Outra política fundamental para integrar nossos povos, e o controle dos setores estratégicos, tirando-os das mãos das multinacionais imperialistas. Por isso, devemos defender a estatização das empresas petrolíferas, como a Petrobrás no Brasil, defendida pelo PSOL, mas não defendida por Kirchner em Argentina, onde a espanhola Repsol continua tranqüila no controle da ex-estatal argentina YPF. Da mesma forma, quando os companheiros propõem um Novo Modelo de Desenvolvimento falam de “enfrentamento ao rentismo e na retomada do desenvolvimento econômico com distribuição de renda”... para propor organizar uma reunião nacional com economistas e intelectuais, onde possam se agregar “setores mais amplos” , mas em nenhum momento se fala sobre quais bases programáticas. Ou seja, volta a se colocar a questão se o PSOL pode iludir os eleitores e o povo se comprometendo com um utópico processo de desenvolvimento nacional que não pressuponha o confronto e a ruptura com a dominação imperialista, proposta mais do que demonstrado que leva ao fracasso. Desenvolvimento favorável a maioria do povo trabalhador só pode haver com a auditoria e a suspensão do pagamento dos juros da dívida, o controle de capitais, a taxação das grandes fortunas, o que sem dúvida leva ao confronto não só com as multinacionais mas com os chamados “capitalistas nacionais” hoje sócios menores do imperialismo na exploração do país e dos trabalhadores brasileiros. Também, no seu afã propositivo os companheiros do Enlace propõem “fortalecer a democracia” através do fim da cláusula de barreira e do voto aberto. Negam assim um aspecto central da denúncia que faz o PSOL da atual falsa democracia do poder econômico e a corrupção, e as propostas votadas na conferência de medidas radicais que vão muito além destas duas medidas, como a revogação dos mandatos, o salário dos governantes e parlamentares definido através do plebiscito pela população, o castigo exemplar para os corruptos, a necessidade da participação e mobilização popular na tomadas de decisões sobre os aspectos fundamentais da vida do país, tanto no terreno da economia, política, cultura, etc. Por isso, nesta fase crucial da campanha, quando as pressões dos “apoios mais amplos” para ganhar mais votos, correm o risco de desfigurar e diluir o projeto original do PSOL, é crucial manter a fidelidade ao programa definido na instância partidária e aos acordos realizados com os parceiros da Frente de Esquerda.
Correspondência Internacional
PSOL que disputa no MA a uma vaga como deputada estadual, entre outros valorosos/as companheiros/as que nos seus estados, seja Roraima, Espírito Santo, Minas Gerais ou Mato Grosso, disponibilizaram seus nomes para esta batalha eleitoral. A enorme maioria destes companheiros, sendo abnegados lutadores e jovens militantes, estão fazendo sua primeira experiência como candidato, considerando esta como uma tarefa militante, para disputar um projeto político de esquerda frente às falsas alternativas neoliberais de Lula e Alckmin, e para fortalecer a campanha por Heloísa Helena Presidente! Todas estas candidaturas levantam bem altas as bandeiras e propostas programáticas votadas na Conferência Nacional do PSOL, para acabar com
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Combate SOCIALISTA BRASIL
MANIFESTO DA FRENTE DE ESQUERDA PSOL-PSTU-PCB
Por uma alternativa para o Brasil
Contra os banqueiros, o imperialismo e os políticos corruptos
Correspondência Internacional
Heloísa Helena-Cesar Benjamin
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Lançamos este chamado desde o Quilombo dos Palmares, inspirados na força da luta de Zumbi, para construir a frente de esquerda (PSOL, PSTU, PCB), e proclamar a candidatura de Heloísa Helena à Presidência da República. Assim como foi necessária a resistência dos escravos e um forte movimento abolicionista para terminar a escravidão no passado, atualmente, para derrotar a escravidão moderna e conquistar uma pátria justa e soberana, os trabalhadores, os camponeses, as classes médias, os intelectuais e artistas, a juventude brasileira, o povo pobre necessitam erguer sua voz e se mobilizar. O povo brasileiro não pode ser condenado a escolher entre Lula e Alckmin, dois
candidatos que defendem o mesmo programa neoliberal, a mesma prática política marcada pela corrupção que impera no Congresso Nacional e no Governo. A candidatura de Heloísa Helena é uma alternativa real para o povo brasileiro contra estes dois candidatos apoiados pelos banqueiros. A Frente de Esquerda quer libertar o país das garras do capital financeiro e do imperialismo. Têm lugar nesta frente os trabalhadores, os desempregados, os milhões de homens e mulheres que estão na economia informal vivendo a duras penas de seu trabalho, organizações políticas e sociais dos trabalhadores, ativistas independentes, enfim todos os brasileiros que se revoltam diante
da corrupção e da submissão aos grandes capitais financeiros e banqueiros. Vamos estar juntos nas lutas diretas das ruas e nas entidades de massas, e vamos disputar também o apoio eleitoral dos trabalhadores contra os dois blocos da classe dominante, PT e PSDB-PFL.
PT e PSDB governam para 20 mil famílias A batalha eleitoral é parte da luta do povo. Nas eleições vamos mostrar que os banqueiros e os grandes empresários representados pelos políticos e partidos conservadores, já governam e não representam uma alternativa para o Brasil. Vamos apresentar uma nova alternativa diante do bloco governista do PT e da “oposição” burguesa do PSDB-PFL. Eles apenas disputam e brigam para ocupar mais espaço político, para ver quem fica com a máquina do governo, mas têm acordo no essencial: no plano econômico neoliberal e na defesa destas instituições marcadas pela corrupção. É só uma
briga para ver quem usufrui mais dos privilégios do poder. O PSDB e o PFL já mostraram com FHC que governam para os banqueiros, que usam a corrupção no dia a dia do poder. Mas a direita não está só com o PSDB-PFL, está também no governo Lula. Os bancos têm mais lucros ainda com o governo do PT do que tiveram com FHC, que já eram fabulosos. Não por acaso doaram 7,9 milhões ao PT e 4,3 milhões ao PSDB nas eleições de 2004. O governo Lula vai pagar aos banqueiros em seu governo cerca de 520 bilhões de reais de juros da dívida pública. Mais de 70% desta montanha de dinheiro vai parar nas contas das 20 mil famílias mais ricas do Brasil. Enquanto isso, o governo gasta 5,5 bilhões ao ano no Bolsa Família, o programa assistencial que é utilizado como seu principal cabo eleitoral. Para combater a concentração de renda, defender o povo e mudar o Brasil, a frente de esquerda apresenta uma série de propostas. Faz um chamado à luta e pede seu voto.
Lula e FHC aprofundaram a miséria no Brasil
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BRASIL
Conquistar a verdadeira soberania e independência nacional, rompendo com o imperialismo e o capital financeiro realizadas sem uma ruptura com a dominação imperialista. A eliminação da tirania financeira, da especulação e do fardo das dívidas, o controle dos capitais, a recuperação da capacidade de intervenção e regulação estatal, a expansão dos serviços públicos, assim como redistribuição e garantia de renda, geração de empregos, reforma agrária e urbana, preservação ambiental, são medidas imprescindíveis para superarmos a miséria em que está mergulhada a maioria da população brasileira e atender as reivindicações histórias dos trabalhadores e do povo. Com os 520 bilhões das dívidas que Lula terá pago aos banqueiros em seu mandato, seria possível fazer um grande mutirão nacional para resolver problemas sociais gravíssimos. Poderíamos construir , por exemplo, seis milhões de casas populares (o déficit habitacional do país) a um custo unitário de 12 mil reais, e empregar neste esforço a massa de desempregados do país. Este dinheiro ainda daria para financiar um plano real de reforma agrária assentando as 4,5 milhões de famílias de sem terras, a um custo de 17,5 mil reais cada. E poderíamos ainda dobrar o orçamento nacional de educação (21 bilhões) e saúde (40,5 bilhões) de 2005. A soma dessas iniciativas, qualitativas para resolver os problemas sociais do país, custaria 394,5 bilhões, bem menos que os bilhões entregues por Lula aos banqueiros.
Contra a democracia dos ricos, que os trabalhadores e o povo decidam
Por novas instituições realmente democráticas que signifiquem um novo poder sob controle direto dos trabalhadores e do povo O Governo Lula transformou-se em palco de uma crise política que como nenhuma outra expôs à opinião pública as vísceras do regime da falsa democracia do poder econômico e da corrupção. Revelou, de forma escancarada, a podridão de suas instituições. Desde a Presidência da República e do Executivo até o Poder Judiciário, passando pelo Congresso Nacional e pelos partidos políticos, as principais instituições da República foram identificadas de maneira avassaladora, como instrumentos das classes dominantes a serviço da corrupção e da exploração do povo. Lula e Alckmin são os representantes da corrupção reinante neste país. Não é possível que se dissemine a idéia de que “todos são assim”, porque a maioria absoluta do povo não é assim. A corrupção dos políticos e das elites é intrínseca deste sistema capitalista. A apresentação de uma proposta de democratização radical do poder e da ação política deve ser feita combinando, sempre e sistematicamente, a denúncia da decadente democracia do dinheiro e da corrupção com o contraponto da verdadeira democracia da participação e da ação dos trabalhadores e do povo que precisamos construir. A necessidade Por uma Petrobrás 100% estatal !
de democratizar radicalmente o poder alterando o seu conteúdo de classe deverá ser repetida exaustivamente como condição preliminar para a aplicação de um programa de emergência capaz de tirar o país da crise e de resolver os problemas da maioria do povo. Queremos que os eleitores possam revogar o mandato dos que forem eleitos e não cumprirem suas promessas. Defendemos a prisão e confisco de bens dos corruptos e corruptores. Queremos a alteração radical da representação popular e de seus mandatos, através da instituição do financiamento público exclusivo de campanha, da democratização dos horários para a propaganda eleitoral nos meios de comunicação, na introdução da revogabilidade dos mandatos, do fim da cláusula de barreira que dificulta a representação dos partidos ou candidatos sem poder econômico. Estas medidas têm que atacar radicalmente a corrupção instituindo também o fim dos foros privilegiados, o fim dos sigilos bancário e fiscal, o salário dos parlamentares e governantes definidos através de plebiscito e vinculados com o salário mínimo. Com o propósito de conquistar a verdadeira soberania popular no Brasil é que a frente de esquerda anuncia que no
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A política econômica do governo está dirigida para atender os interesses dos mercados internacionais, com altas taxas de juros, livre circulação dos capitais especulativos, livre remessa de lucros das empresas estrangeiras, fazendo do Brasil um exportador de capitais para os países ricos. A dívida externa segue sendo uma sangria dos recursos nacionais. O orçamento da União é consumido em cerca de 40% para pagamento dos juros da dívida pública, enquanto que para os investimentos resta menos de 5%. Defendemos a proposta sustentada pelo movimento Jubileu contra a dívida: Suspender o pagamento da dívida externa, e realizar auditoria. Em relação à dívida interna defendemos auditoria, conforme prevista na Constituição de 88 e a discriminação de seu perfil, para identificar os especuladores e as grandes empresas para os quais defendemos suspender o pagamento. Grupos estrangeiros se utilizam de áreas estratégicas para remeter grandes lucros para suas matrizes. As áreas estratégicas devem estar sob controle do povo brasileiro como no petróleo, telecomunicações, energia, siderurgia. A proposta de um novo projeto alternativo econômico e social exige mudanças estruturais que o capitalismo brasileiro nunca realizou e, nos marcos da globalização neoliberal, estão mais distantes do que nunca porque não poderão ser
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Combate SOCIALISTA BRASIL dade de uma verdadeira independência nacional; a reforma agrária e urbana e um novo estatuto sobre a propriedade da terra; o valor do salário mínimo e as prioridades orçamentárias; os parâmetros para a preservação da ecologia, etc.
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governo da companheira Heloísa Helena o povo brasileiro será chamado, através de uma intensa jornada de mobilizações, para decidir, dar a última palavra, sobre as relações com o imperialismo (FMI, ALCA, etc.); a dívida externa e interna e a necessi-
Que os eleitores possam revogar o mandato dos corruptos e dos que não cumprem as promessas de campanha 28
É necessária uma nova abolição para acabar com a moderna escravatura Um contingente gigantesco do povo brasileiro ainda vive em situação de semi-escravidão. A começar pela escravidão do trabalho assalariado mal remunerado e com direitos trabalhistas desrespeitados. São 22 milhões de brasileiros que vivem do salário mínimo, um dos mais baixos do mundo. Levantamento do IBGE revela que 46,7% das famílias consideram não comer o suficiente, índice que chega a quase 70% no nordeste. Enquanto isso, as cinco mil famílias mais ricas do país, que representam 0,01% das famílias existentes concentram patrimônio equivalente a 46% de toda a riqueza gerada por ano no país (PIB). Caso Lula ou Alckmin fossem eleitos a situação iria piorar muito. Lula já se comprometeu a implementar uma reforma trabalhista que vai significar um golpe duríssimo contra conquistas históricas dos trabalhadores, cortando as férias e o décimo terceiro salário. O projeto do Super Simples do governo, em discussão no Congresso já é uma antecipação desta reforma, cortando estes direitos para os trabalhadores das micro empresas. Uma política radical de enfrentamento à superexploração do trabalho no Brasil, motor do desemprego crônico e da precarização do trabalho, é uma das diretrizes do programa da frente de esquerda. Queremos um plano de obras públicas para absorver o desemprego, ao lado da redução da jornada de trabalho sem redução salarial. Queremos dobrar o salário mínimo de imediato. Por uma re-
forma agrária ampla e controlada pelos trabalhadores do campo. Defendemos a revogação das reformas neoliberais, a começar pela reforma da previdência. Não à reforma trabalhista e sindical do governo e do FMI. Não à reforma universitária privatizante do governo. Queremos a revogação imediata das privatizações das empresas estatais, a começar pela da Vale do Rio Doce. Anulação das privatizações parciais da Petrobrás e dos leilões das reservas de petróleo. Pela retirada imediata das negociações da ALCA. Pela retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti. Todo apoio à nacionalização do gás na Bolívia. Em defesa da mulher trabalhadora, defendemos a criação de creches e pré-escolas para crianças de 0 a 6 anos. Lutamos contra toda forma de discriminação racial e sexual. Além disso, defendemos a tributação severa das grandes fortunas, dos lucros dos bancos e das grandes empresas. O controle público dos trabalhadores e dos consumidores sobre a produção de bens essenciais é uma necessidade para que a distribuição de renda ocorra acabando com a enorme desigualdade que envergonha nosso país. Desde o Quilombo dos Palmares chamamos os trabalhadores a se rebelar novamente contra a nova escravidão. A dignidade do trabalhador começa por seu direito ao trabalho e a um salário digno. É preciso ousar, é preciso criar o novo. O novo é a frente de esquerda. Nem Lula nem Alckmin! Heloísa Helena Presidente!
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BOLÍVIA
O governo de Evo Morales e a revolução boliviana O “decreto supremo”28701, que estabelece uma nacionalização parcial dos hidrocarbonetos da Bolívia, comoveu a América. Evo Morales fez o anúncio em um ato público no dia primeiro de maio, em uma refinaria petroleira, após ordenar a ocupação militar e rodeado de manifestantes operários. Comentários e debates sobre o tema percorrem desde as cúpulas do poder e reuniões de empresários, até o chão das fábricas, escritórios e bairros populares. Posteriormente, Evo Morales anunciou o inicio da reforma agrária, outra reivindicação longamente adiada do campesinato boliviano. Estas medidas despertaram imensa simpatia popular na Bolívia e em toda a América Latina. Qual o seu significado? Que tipo de governo preside Evo Morales? ão se pode compreender nada do que acontece na Bolívia, nem o decreto de nacionalizações, nem os anúncios da reforma agrária, nem o esmagador triunfo eleitoral do MAS em dezembro de 2005, se não o enxergamos como parte de um processo que arranca no ano
2000, que por sua vez, se nutre da experiência histórica dos trabalhadores bolivianos que teve um fato histórico em 1952 quando uma insurreição operária derrotou o exército. Por outra parte, a Bolívia não está sozinha. O processo boliviano é parte de um poderoso ascenso das lutas operárias, populares
e camponesas no conjunto da América Latina, contra os planos neoliberais, contra o imperialismo e seus servis governantes locais. Bolívia é vanguarda desta luta latino americana. Desde o ano 2000 viveu um profundo processo revolucionário que incluiu insurreições populares,
chamadas de “guerras” pelos bolivianos. Sim, são verdadeiras guerras de classe, protagonizadas pelos trabalhadores, o povo pobre urbano e os camponeses, que impediram privatizações, derrubaram dois presidentes, demoliram aos velhos partidos, criando instituições de poder operárias e populares,
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MIGUEL LAMAS mlamas@elsocialista-mst.org
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Combate SOCIALISTA BOLÍVIA
Evo Morales anuncia a nacionalização parcial dos hidrocarbonetos
e impuseram eleições antecipadas, exigindo a chamada “agenda de outubro”, e empossaram no governo a Evo Morales por uma maioria absoluta de 54% dos votos, fato sem precedentes na Bolívia.
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As eleições de dezembro de 2005
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Frente à derrocada dos velhos partidos, a oligarquia teve que improvisar um novo movimento político, “Podemos” em torno do empresário “crucenho” (de Santa Cruz de la Sierra) Tuto Quiroga, ex. vice-presidente do neoliberal e antigo ditador Banzer, para tentar derrotar eleitoralmente o MAS de Evo Morales. A mídia toda e a embaixada norte americana se colocaram a disposição do triunfo do Tuto Quiroga. Na Bolívia, se nenhum dos candidatos obtém mais de 50% dos votos, é o Congresso eleito quem elege o presidente. Existia a especulação que, se ganhava Morales por poucos votos, o Congresso eleito, com a colaboração de todos os partidos da direita tradicional: MNR, NFR, UM, etc. escolheria a Quiroga, repetindo o que aconteceu em 2002 com Sánchez de Losada. Entretanto, o MAS jun-
to a organizações camponeses e indígenas assegurava que 800 mil camponeses tinham sido “depurados” do padrão pelo Tribunal Eleitoral, arbitrariedade amparada na precariedade da documentação eleitoral na Bolívia. Mas foi tão profundo e drástico o efeito eleitoral do processo revolucionário vivido pelas massas bolivianas, que todos os pesquisadores erraram o prognóstico. Evo Morales obteve 54% (15% acima do previsto por ele!). Este resultado supressivo deve-se a um fenômeno eleitoral profundo e inédito, de giro dos mais oprimidos e marginalizados, (especialmente os indígenas e camponeses e pobres urbanos, “invisíveis” nas pesquisas, provavelmente porque se perguntados, não responderiam por quem eles iriam votar) que decidiram sua participação política votando no MAS. E tudo isto é produto da revolução. Os camponeses e a maioria indígena, que nas eleições anteriores era abstencionista ou grosseiramente manipulada por oligarcas ou por militares, desta vez votaram e houve uma participação recorde de quase 90% dos inscritos. A este giro camponês e operário, uniu-se um importante setor da classe mé-
dia que também votou por Morales. Quiroga foi eleitoralmente humilhado com 28% dos votos. O histórico MNR, partido que governou com Paz Estenssoro e ganhou em 2002 com Sánchez de Losada, apenas chegou a 6% dos votos. O MAS conseguiu os maiores porcentagens nos setores que foram vanguarda das insurreições, a cidade operária de El Alto, os camponeses aymará (os aymará e quéchuas são as etnias indígenas mais numerosas) próximos de La Paz; o povo operário e camponês de Cochabamba. No departamento de La Paz (Bolívia se divide em 09 departamentos) que é o mais populoso, obteve 67% dos votos; na cidade de Cochabamba 65%; em Oruro 62%. Dentro de La Paz, na cidade revolucionária de El Alto, o MAS obteve 80%. O Movimento Podemos do Tuto Quiroga ganho em Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando, que são as zonas com menos população, mas onde está o gás e o petróleo, as terras mais ricas e se concentra o poder dos latifundiários e do agro negócio. O MAS conseguiu maioria absoluta na Câmara dos Deputados. No Senado, pelo antide-
mocrático sistema de eleição, visto que se elege por Departamento sem proporcionalidade, fica com o mesmo numero de senadores que Podemos.
O governo de Evo Morales Evo Morales assumiu o poder e fez seu juramento no Altiplano, em Tiawanacu, o local sagrado dos indígenas aymarás, em uma cerimônia nunca realizada em 500 anos. O fato teve um altíssimo conteúdo simbólico em um país onde os habitantes originários, batizados de “índios” pelos espanhóis, viveram marginalizados desde a chegada dos colonizadores. Evo prometeu que “com a força do povo vamos a acabar com o estado colonial e o modelo neoliberal” e pediu “unidade dos povos indígenas para torcer o braço do império”. Proclamou-se continuador da luta do líder rebelde indígena boliviano do século XIX Tupac Katari e do Che Guevara. No seu primeiro ato de governo, ao nomear seus ministros, já apareciam todas as contradições que vão marcar seu governo. Salvador Ric Riera, um milionário catalão de Santa Cruz, assumiu a pasta de Obras
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BOLÍVIA Públicas. O importante ministério das minas foi entregue a Walter Villarroel, um mineiro cooperativista, fortemente questionado pelo sindicato dos mineiros, por ter sido parte do sucateamento e desmantelamento das minas estatais. Dois dos ministros, o da Educação e o das Águas, provêm da gloriosa Fejuve (Federação
de Juntas de Vizinhos de El Alto), mas a própria Fejuve os desautorizou por não ter sido aprovado em assembléia. O Ministro dos Hidrocarbonetos é Andrés Solís Rada, um intelectual nacionalista. Na Fazenda, foi nomeado Luis Alberto Arce, com fortes vínculos com as instituições internacionais financeiras imperialistas. Tam-
bém integra o gabinete como ministra da Justiça, Casimira Rodriguez Romero, dirigente das empregadas domésticas e um dirigente operário, Alex Gálvez Mamani. Nos primeiros dias, Morales foi a Santa Cruz a negociar diretamente com a oligarquia cruzenha. Ali se comprometeu a licitar a riquíssima jazida de
ferro de El Mutum, mas afirmou que deveria ser industrializado na Bolívia. O governo de Evo é, por um lado, o resultado do processo revolucionário. E o MAS que governa, é um partido fundado pelos camponeses indígenas (ver nota) e especialmente dos cocaleiros, protagonistas de grandes lutas.
A CENTRAL OPERÁRIA BOLIVIANA REAFIRMA A LUTA PELA “AGENDA DE OUTUBRO”
Nos últimos dias do mês de Junho realizou-se o XIV Congresso da Central Operária Boliviana – a COB -. O debate central que atravessou todo o congresso foi a relação com o governo. Dirigentes do MAS impulsionaram o chamado Estado Maior do Povo como uma estrutura paralela à COB. O dirigente Jaime Solares, que acabou seu mandato nesse congresso, denunciou que o governo queria ocupar a direção da Central. “Aqui existe a intenção do governo de Evo Morales de dividir os sindicatos e fazer o mesmo que fez Hugo Chávez (...) temos a informação de que no “presidium” vai ficar Edgar Patana (...) se o Presidente quer nomear de uma vez a Patana para a presidência e fazer fracassar o congresso da COB nós não vamos permitir” advertiu. A Central está enfraquecida pelo fechamento de grande parte das minas de Estanho, já que os mineiros foram historicamente o eixo da COB. Mas continua sendo um ponto de referência muito importante e reúne na só aos mineiros, os operários das fábricas, os combativos professores, mas também à Central camponesa. Quando se reuniu o Congresso, na cidade de Viacha, os dirigentes pró governo, como viram que não tinham maioria, tentaram adiar por 90 dias o Congresso. Mas os delegados de mais de 50 organizações decidiram por maioria realizar o congresso e eleger uma nova diretoria. Foi eleito o mineiro Pedro Montes como o novo secretário geral da COB. “Ao concluir o XIV Congresso, a plenária exigiu à nova Executiva da COB que imponha uma linha revolucionária frente à posição reformista do governo, e que seja efetiva a luta pela nacionalização do gás e do petróleo, e não fictícia como as declarações do presidente Morales. “É o
Mineiros bolivianos criticam o presidente Evo Morales
momento de reorganizar nossas organizações sindicais, vamos lutar pelos direitos dos trabalhadores, pela independência do movimento sindical e a libertação nacional” assegurou Montes. Montes foi crítico frente à Assembléia Constituinte, e afirmou: “Nós, os que lutamos nas jornadas de outubro, pedimos uma Assembléia Constituinte, mas com a participação das organizações sociais, não temos lutado para ajudar a sobreviver aos velhos partidos tradicionais como a ADN, o MNR ou o MIR...” O congresso de trabalhadores proclamou sua “independência frente aos governos de turno” e chamou a construir um “instrumento político dos trabalhadores”. (www.econoticias.bolivia.com). Frente ao governo, Montes afirmou: “O Presidente da República, que no passado tem sido, ao igual que eu, dirigente, no passado temos compartido todo, soubemos lutar, e têm que cumprir a agenda de outubro.”
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XIV Congresso da COB
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Mas Evo Morales se propõe publicamente a manter o capitalismo e a governar com os empresários, e inclusive estende sua mão para os oligarcas de Santa Cruz e tenta pactuar com as multinacionais. Por isso a nacionalização é parcial e cria empresas mistas seguindo o modelo petroleiro de Chávez na Venezuela. Isto é o que o marxismo definiu como “governos de frente popular”, quer dizer, um governo que exercem organizações operárias e populares em aliança com setores capitalistas, e que se propõe governar nos marcos do capitalismo. No caso boliviano, a pressão que sofre desde o movimento de massas é enorme, porque está no marco de grandes processos e triunfos revolucionários. Ademais, é um dos países mais pobres da América junto com Haiti: um de cada três bolivianos é pobre. Isto faz mais agudas todas as contradições e obriga Evo Morales a confrontos parciais com o imperialismo ianque, espanhol, e com o subimperialismo brasileiro, especialmente no tema dos hidrocarbonetos, e com a oligarquia pela questão da terra. Depois dos discursos iniciais, Evo Morales negociou diretamente com a oligarquia de Santa Cruz, cedendo em dois pontos muito importantes: a Assembléia Constituinte e as autonomias dos departamentos, esquecendo de todas as exigências populares sobre estes temas e do próprio programa do MAS (ver nota sobre Constituinte). Isso é o que permite à direita se recuperar da esmagadora derrota eleitoral. Ao mesmo tempo, desde os primeiros dias o governo do MAS teve que enfrentar conflitos sociais. Houve greves e reclamações salariais de trabalhadores da saúde e professores. O governo só outorgou 7% de aumento, muito menos que o exigido e do que tinha prometido na campanha eleitoral. O conflito mais grave foi com os trabalhadores da privatizada LAB (Lloyd Aéreo Bolivia-
no) frente à crise pelo esvaziamento da empresa pela administração fraudulenta de seu acionista majoritário Ernesto Asbún. Os trabalhadores exigiram a nacionalização e punição para Asbún, conseguindo um grande apoio popular. Mas
o governo reprimiu os trabalhadores do LAB e negou-se rotundamente a nacionalizar a empresa, e só acedeu a intervir para “investigar”. A COB (Central Operária Boliviana) lançou uma paralisação de 24 horas exigindo o cumprimento da
“agenda de outubro”, mas foi muito parcial. Houve bloqueio de estradas em uma cidade para destituir o prefeito do MAS, que terminou destituído. Houve também uma paralisação patronal do transporte contra um imposto do governo.
As nacionalizações e a reforma agrária O governo Evo Morales ficou prensado entre a pressão crescente da oligarquia e do imperialismo para que ceda totalmente, como já o fez Lula no Brasil, por exemplo, e o movimento de massas que exige o cumprimento da “agenda de outubro” (nacionalizações, constituinte e reforma agrária). Esta situação explica porque, depois de três meses de tentativas de “concertação” com o imperialismo, as empresas petroleiras e a oligarquia de Santa Cruz, Evo Morales lançou seu decreto de nacionalização parcial do petróleo e poucos dias depois o da Reforma Agrária. É um giro em relação aos seus primeiros meses de governo. Nem a nacionalização dos hidrocarbonetos nem os decretos da reforma agrária vão até o fundo. Mas também não são medidas meramente “cosméticas”. A própria forma dos decretos, anunciados em um ato público com ocupação das instalações petroleiras, a proclamação da reforma agrária, se converteram em fortes sinais políticos para o conjunto do movimento de massas boliviano e latino americano. Mas, também, existe um real aumento dos impostos às multinacionais e maior controle estatal sobre o petróleo, pese a não ser a nacionalização com expropriação exigida pela “agenda de outubro”. Também os decretos da reforma agrária tem merecido o apoio de organizações indígenas que os consideram positivos. Isto gerou de imediato atritos com o imperialismo ianque e espanhol (dono da petrolei-
ra Repsol); com os governos do Brasil (dono da Petrobrás, que por sua vez tem sócios multinacionais) e da Argentina (onde Kirchner é um agente da Repsol há muitos anos e compra o gás a Bolívia). Espanha e Brasil denunciaram duramente a medida de Evo Morales e ameaçaram com processos nos tribunais internacionais. Depois Lula reuniu-se com Kirchner, Evo Morales e Chávez e afirmaram que chegariam a um acordo. Mas os atritos públicos continuam. Bush declarou sua “preocupação pelo desgaste da democracia na Venezuela e na Bolívia” (O Novo Herald, Miami, 22/06/06). Respeito da reforma agrária, houve uma reação muito forte da oligarquia que se negou a participar da reunião de “concertação”, e anunciou veladamente que iria criar bandas armadas para defender seus latifúndios e que haveria risco de guerra civil. Por outro lado, os camponeses, considerando um fato a reforma agrária, começaram a ocupar terras. Evo Morales também anunciou que rejeita o TLC (tratado de livre comércio com os EUA) e assinou acordos com Cuba e Venezuela frente a um ato de massas com 50 mil camponeses no Chapare (Cochabamba, região agrícola de produtores de coca da qual saiu Evo Morales). “No marco dos acordos da ALBA e TCP, os mandatários da Bolívia, Venezuela e Cuba assinaram acordos comerciais e de cooperação por 100 milhões de dólares destinados a 207 projetos comunitários, pequena e me-
dia empresa que abarcam rubros produtivos, minérios, petroquímica, saúde, educação, turismo, finanças, defesa e médio ambiente”. (Rede Bolívia). Ao mesmo tempo denunciaram os EUA, os TLC e as tentativas de desestabilização contra o governa da Bolívia. Tudo isto significa que Evo Morales deu uma virada em direção a uma política revolucionária e vai cumprir a agenda de outubro? Achamos que, lamentavelmente, não é assim. Tenta fugir das pressões se apoiando nos movimentos sociais para conseguir negociar em melhores condições. Também os acordos com Cuba e Venezuela vão nesta direção pese a que alguns de seus pontos são positivos para os povos. Mas, a política de Cuba, como a de Chávez, é abertamente contrária a expropriar às multinacionais, os oligarcas e os capitalistas, como o fez Cuba na década de 60 e como o sintetizou a famosa palavra de ordem do Che: “Ou revolução socialista ou caricatura de revolução”. Ao contrário, a política de Fidel Castro atual é, como já foi na Nicarágua na década de 80, conseguir acordos de cooperação nos marcos capitalistas. Esta política levou à derrota da revolução nicaragüense. Também, estes acordos não se propõem criar uma empresa petroleira latino americana sobre a base da estatização total dos recursos de gás e petróleo, e controlada pelos trabalhadores, o que seria um imenso passo adiante na integração sobre bases independentes da América Latina.
Combate SOCIALISTA
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BOLÍVIA A atualidade da “agenda de outubro”
A teoria do “capitalismo andino e amazônico” Os imensos avanços na consciência do povo boliviano obrigam o MAS e o governo de Evo Morales a explicar porque supostamente “não se pode” iniciar transformações socialistas. O teórico desta explicação é o intelectual, ex. guerrilheiro e vice-presidente Álvaro Garcia Linera, que diz: “O capitalismo andino é como imaginar a modernidade no capitalismo por um tempo mais a médio ou corto prazo, mas onde o potencial comunitário, artesanal e semi mercantil deslancha suas próprias capacidades de geração e distribuição de riqueza, de criação de sabedoria e tecnologia. Esta economia de comunidades indígenas, colonizadores, pequenos produtores está vinculada ao capitalismo clássico... Essa é uma definição acadêmica, que tenho utilizado e constata de forma prática que a Bolívia, pelas suas próprias características como sociedade não pode transitar a um socialismo sem ter passado antes por uma etapa capitalista. O socialismo é o amadurecimento extremo do capitalismo e no nosso país não existe capitalismo. Na Bolívia 70% dos trabalhadores da cidade pertencem à economia familiar. Não se constrói o socialismo sob esta base, mas sob a base de uma grande indústria, que não temos. Não podemos construir o socialismo sob a base de uma população rural, 95%, que vive de uma economia tradicional e comunitária.”(entrevista Bolpress.com). Assim, para Garcia Linera, “na Bolívia não há capitalismo” e o que faz falta é mais capitalismo. Repete a velha teoria stalinista da revolução por etapas. Primeiro, deve se passar do capitalismo neoliberal ao “capitalismo andino e amazônico” e depois de várias décadas, poderia se passar ao socialismo. Mas Bolívia sofreou o capitalismo desde a própria colonização. E Bolívia sofreu o pior capitalismo colonial, o mais dependente e predador. Levaram-se a pra-
ta do Potosí; o salitre lhe foi roubado pelo Chile em uma guerra (assim como também a saída para o mar) e não deixaram quase nada do estanho. Milhões de índios morreram no fundo das minas. Não existe hoje na Bolívia um capitalismo de pequenos produtores. 75% do PBI pertence ao setor formal capitalista e dominante da economia. Repsol, Petrobrás, Total e as transnacionais de hidrocarbonetos, Eletropaz, Entel, o grupo têxtil Ametex, os bancos vinculados ao capital estrangeiro e latifundiários exportadores proprietários de milhões de hectares. Estes são os donos da Bolívia e não os pequenos produtores e a economia comunitária que mal vive encurralada e explorada pelo grande capital Todas estas grandes empresas são imperialistas ou estreitamente articuladas com o imperialismo. Assim foi se instalando a exploração capitalista na Bolívia desde 500 anos atrás e assim continuará funcionando, sem nenhuma “grande industria”, mas produzindo riqueza para poucos e ruína para a maioria. Como fará Evo Morales para alcançar este capitalismo com “rosto humano”? Expropriar os monopólios e multinacionais, não seria ainda o socialismo, mas seria o primeiro passo de uma revolução socialista, de ruptura real com o imperialismo e o grande capital. Seria fazer igual ao que fez Cuba em 1961. Mas não. Garcia Linera e Evo Morales não se propõem expropriar esses grandes grupos econômicos. Afirmam que os querem como “sócios”. Ou seja, que as multinacionais e a oligarquia, que saquearam a ferro e fogo a Bolívia, se arrependeriam pelos seus crimes e virariam gente fina dedicada à filantropia para ajudar a Bolívia, com o objetivo de conquistar finalmente um capitalismo “bom” que industrialize o país e faça progressar os pequenos produtores. A realidade está desmentindo rapidamente, mais uma vez, esta equivocada teoria.
Correspondência Internacional
A COB, organizações indígenas e outros movimentos sociais, que se reuniram em 16 de junho numa plenária no El Alto, têm denunciado que o MAS e Evo Morales abandonaram a “agenda de outubro”, de nacionalização total dos hidrocarbonetos, assembléia constituinte soberana, reforma agrária integral, castigo aos repressores e assassinos, e estão exigindo seu cumprimento. Eles têm toda razão. É necessária uma alternativa política operária e popular para continuar a luta por esses objetivos, assim como para lutar por um governo dos operários e dos camponeses, defendida no “Cabildo Aberto de La Paz” em julho de 2005 e por dezenas de plenárias de trabalhadores. Para construir essa alternativa, está bem denunciar que Evo Morales não cumpriu com a agenda de outubro. Mas essa denuncia não basta. É necessário considerar que Evo Morales tem um grande apoio popular que se baseia nas medidas parciais antiimperialistas que tomou e que têm projeção latino americana. O fundamental é que a mobilização operária, popular e camponesa continue, lutando pelo salário, a nacionalização e a reforma agrária. E esta luta passa hoje em grande parte pela exigência ao governo de Evo Morales, junto a todos aqueles que mantêm grandes expectativas que ele continue avançando. É necessário apoiar as lutas pelo salário; as ocupações de terra, exigindo a Morales a expropriação dos latifundiários; apoiar aos que exigem a Morales que não vão aceitar nem um passo atrás dos 82% dos ingressos petroleiros para o Estado boliviano. Também passa por exigir do MAS na Constituinte para que faça o que prometeu: “Refundar a Bolívia”, estabelecendo todos os direitos territoriais e culturais indígenas, a reforma agrária integral como decisão constitucional e a propriedade total dos hidrocarbonetos pelo Estado.
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CONSTITUINTE PACTUADA
O MAS obteve 51% dos votos, mas a direita comemora
Correspondência Internacional
No dia 02 de Junho realizaram-se eleições para Assembléia Constituinte e plebiscitos para as autonomias dos departamentos. O MAS venceu com 51% dos votos. O principal partido da direita, Podemos, obteve 15%. O MNR de Sanchez de Losada obteve 17%. No entanto, a direita de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando saiu festejando e afirmando que tinha derrotado o MAS. Que aconteceu na realidade?
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a Bolívia, a exigência de uma Assembléia Constituinte é antiga e tem sido defendida especialmente pelo movimento indígena com a idéia básica de que a Bolívia foi fundada em 1825 pela minoria branca, sem os índios. Por isso se fala em uma Assembléia Constituinte originária e soberana. Tanto os movimentos indígenas, como movimentos urbanos, por exemplo, a Fejuve de El Alto, a Federação dos Mineiros e a COB exigiram que essa Assembléia Constituinte incorporasse uma quantidade importante de seus membros eleitos de forma direta pelos movimentos sociais, mediante seus “usos e tradições”, que, no geral, são de democracia direta. Ou seja, não pelo voto universal, mas por assembléias de base, sem a mediação dos partidos políticos tradicionais e pela configuração política de departamentos como é atualmente. O próprio Evo Morales e o MAS tomaram essa idéia em 2002 e a mantiveram, ainda que de forma pouco clara, até março de 2006. Outro aspecto é o da exigência de autonomia de Santa Cruz e Tarija, que são os depar-
tamentos onde esta o petróleo, o gás, e as terras mais ricas. Ali a direita oligárquica tem mais peso e “Podemos” venceu as eleições. Uma alta autonomia para eles supõe que estas oligarquias decidam sobre a terra, para impedir qualquer reforma agrária e sobre os hidrocarbonetos, em acordo com as multinacionais. Porém, os indígenas defendem sua exigência de autodeterminação dos seus territórios, que significaria dividir os atuais departamentos. E, particularmente, os guaranis exigem criar o décimo departamento no seu território, que é parte do atual departamento de Santa Cruz. O “detalhe” é que o território do Chaco guarani no qual exigem formar o décimo departamento concentra 75% da riqueza do gás. Com esta reclamação, dão um golpe tremendo à autonomia pretendida pela oligarquia de Santa Cruz. Evo Morales disse que era favorável às autonomias indígenas. Mas, no dia 04 de março pactuou com Podemos uma convocatória a Constituinte que varreu com todas estas reivindicações populares e cedeu totalmente às exigências da oligarquia cruzenha.
Não houve representantes diretos dos movimentos sociais. Não existiu o direito dos índios guaranis nem de nenhum outro povo indígena para votar em plebiscito pela sua própria autonomia. Ademais, na convocatória se acordou realizar também no mesmo dia da eleição para deputados constituintes, referendos vinculantes sobre as autonomias dos departamentos, que serão de cumprimento obrigatório para a Constituinte. Por outra parte, a Constituinte foi eleita pelo voto universal por circunscrição (três por cada uma das 70 circunscrições, dois pela maioria e um pela minoria) e cinco por cada departamento. Isto é antidemocrático, liquida a demanda dos representantes eleitos de forma direta e, ademais, toda proporcionalidade, visto que somente os partidos majoritários terão representação. Dentro disso, a direita tem uma representação sobre dimensionada. Nas circunscrições, porque terão um deputado ainda que com uma pequena minoria e nos departamentos, porque naqueles com menor população, onde a direita de Podemos é maioria, têm cinco deputados,
o mesmo número que os departamentos com grande população. La Paz, com mais de dois milhões de habitantes, onde ganha o MAS, tem igual que o Beni, com menos de 200 mil, onde ganha a direita. Por outro lado, foi estabelecido somente duas semanas para legalizar novos partidos, e um alto número de assinaturas para coletar. Outra trava para que os povos indígenas e/ou organizações operárias e populares participassem. Se tudo isto não bastasse, a direita exigiu e o MAS aceitou, que não se pode realizar nenhuma reforma constitucional sem o voto de 2/3 dos representantes. Isto significa um pacto, para uma constituinte que, desta forma, já não é soberana e não poderá resolver nada fundamental. O resultado eleitoral deu ao MAS 135 representantes sobre 255. Maioria, mas não tem os dois terços. E ganharam as autonomias em Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija. Por isso comemora a oligarquia. Prepara-se para travar qualquer iniciativa de reforma agrária ou de nacionalização constitucional do petróleo.
A NACIONALIZAÇÃO ANUNCIADA Combate SOCIALISTA
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BOLÍVIA
Petroleiros pintam logomarca YPFB na sede Senkata. Bolívia maio 2006
decreto supremo 28701 de Evo Morales estabelece que o Estado terá 50,1% das ações das empresas petrolíferas, que receberá 82% dos lucros até que sejam assinados novos contratos em um prazo de 180 dias e que controlará a comercialização do petróleo. As empresas multinacionais se apropriaram de ricas jazidas que já tinham sido descobertas e postas a produzir pela YPFB, a antiga empresa estatal boliviana. Com baixíssimos custos de produção, tem pagado como tributos somente 18% do que levaram. Isto teoricamente, porque como vendem entre suas próprias empresas (Repsol para YPF Repsol argentina e Petrobrás Bolívia para Petrobrás Brasil) podem manobrar facilmente sobre seus lucros. O decreto muda esta situação. Em realidade já tinha sido realizado em parte com a lei 3058 de 2005, que não chegou a ser
aplicada. Os cálculos são que a Bolívia tem reservas comprovadas de gás e petróleo de 200 mil milhões de dólares. Isto equivale a 100 mil dólares por cada família boliviana. Não se trata de uma nacionalização completa da atividade petroleira. Não são expropriados os bens das multinacionais como Repsol, Petrobrás, Shell, Total, etc. que atuam na Bolívia com contratos fraudulentos visto que nunca foram aprovados pelo Parlamento, e cometendo todo tipo de fraude. É importante destacar que a Petrobrás também não é uma estatal, visto que o estado controla em torno de 35% das ações e o resto está sob controle de multinacionais. A COB e alguns setores da esquerda criticaram o decreto afirmando que não é a nacionalização exigida na guerra do gás de 2003, e sustentam que o decreto favorece as petroleiras, visto que estas passariam a ter
seus contratos legitimados e legalizados, salvando-se da expropriação de seus bens. Defendem esta expropriação visto que seria um ressarcimento pelos anos de saque ilegal do petróleo e do gás da Bolívia. Concordamos que o decreto é muito limitado, e que não é o exigido pela rebelião operária, indígena e popular. Mas acreditamos, no entanto que é claramente um passo adiante: 1) Porque estabelece que o Estado controlará a comercialização; 2) Porque fixa publicamente a meta de 82% que, pese a ser negociável nos futuros contratos, fica como uma meta assumida publicamente e que pode ser defendida pelo movimento para exigir que seja cumprida. 3) Porque a própria lei 3058 que foi produto direto da pressão popular, não estava regulamentada e não era cumprida pelas multinacionais.
O cumprimento real destas metas fixadas no decreto gerará todo tipo de contradições, tanto com as empresas multinacionais como com o movimento operário e popular. As transnacionais jamais estarão dispostas a perder seus super lucros; deixariam de ser o que são se assim o fizessem. Por isso a sociedade com o Estado em empresas mistas só será viável para estes interesses se podem continuar com o saque. Vão chantagear, ameaçar, provocar e comprar quem seja para poder apagar dos contratos o que estabelece o decreto. Por outro lado, o decreto pode e deve ser defendido pelo movimento, como uma ferramenta para avançar, um patamar do qual não se pode recuar, e, frente ao inevitável confronto com as multinacionais, exigir a expropriação e a nacionalização total com controle operário.
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O decreto 28.701 “Heróis do Chaco”
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A reforma agrária
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o dia 16 de Maio, o governo de Evo Morales apresentou em Cochabamba as linhas gerais de uma nova política sobre a terra. Anunciou um projeto de lei e seis decretos destinados a distribuir terras que não cumpram uma função econômica e social; entregar 4,5 milhões de hectares fiscais exclusivamente a comunidades indígenas e camponesas; agilizar o saneamento e a entrega de títulos. O anúncio foi feito pelo ministro da Terra, Alejandro Almaraz, acompanhado pelo vicepresidente Álvaro Garcia Linera. Além das terras fiscais, foi anunciado que serão revertidas para a reforma as terras que não cumpram uma função econômica e social, ou seja, improdutivas. E também as apropriadas ilegalmente. O objetivo declarado é reduzir a extrema pobreza de 40% da população boliviana que vive no campo, e a sorte de 650 mil famílias que têm, somente, “parcelas de sobrevivência”, que ganham menos de um dólar por dia, em condições parecidas às da Somália ou do Haiti, de acordo com o que disse o vice-presidente. Também negou que o Executivo fosse promover ocupações de terras e anunciou uma atitude “rigorosa e inflexível com os que difundem essas “infâmias”. Em um informe sobre Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de 2005, foi denunciado que na Bolívia menos de 100 famílias são proprietárias de 25 milhões de hectares, enquanto que dois milhões de famílias camponeses têm acesso, apenas, a esse recurso natural e trabalham em cinco milhões de hectares. Essas 100 famílias latifundiárias adquiriram seus latifúndios graças às ditaduras militares e aos governos oligár-
O governo convidou empresários, camponeses, povos indígenas e população civil em geral, para uma “concertação nacional”. Mas essa “concertação” entre camponeses pobres e latifundiários é praticamente impossível. Os
tês de Defesa da Terra para preservar seus investimentos frente às ameaças de atropelamentos e autorizaram seus filiados a realizar as medidas e ações necessárias para defender o setor produtivo”. Os líderes da Câmara responsabilizaram o governo pelos iminentes confrontos entre bolivianos devido ao clima de incerteza que geraram as medidas agrárias, e afirmaram estarem decididos a defender seus direitos constitucionais “com os meios que tenham ao alcance.” “Se o presidente Evo Morales não suspender seus de-
latifundiários, de forma alguma, vão querer ceder pacificamente suas terras. E os camponeses o sabem. Por isso, poucos dias depois de anunciada a Reforma Agrária, setores camponeses começaram a ocupar as terras. Os oligarcas, por sua parte, negaram-se a concorrer às reuniões da “concertação” convocadas pelo governo e, reunidos em um Congresso Extraordinário da Câmara Agropecuária do Oriente, decidiram “criar Comi-
cretos nacionalizadores de redistribuição de terras, o oriente não assume a responsabilidade por uma guerra civil”. No dia da “tradição crucenha” o prefeito de Santa Cruz, Ruben Costas anunciou uma ferrenha defesa dos grandes proprietários de terras. “Defenderemos até o fim o que nos pertence, o que ninguém nos deu de presente e ninguém tem porque se atrever a usurpar o que por legalidade e legitimidade nos cor-
quicos. Terras roubadas aos povos originários e às comunidades camponesas, inclusive as que têm títulos “legais” outorgados quase todos por governos ilegais.
A oligarquia ameaça com guerra civil
responde”, advertiu Costas. “Não nos obriguem a utilizar nosso legítimo direito a nos defender, não nos agridam”.
Começaram as ocupações de terras Os indígenas da província Guarayos, de Santa Cruz ameaçaram tomar 14 mil hectares de terra do empresário Branco Marincovic. No município de El Puente, da mesma província, 60 famílias de camponeses de San Julián e de alguns núcleos de Brecha Casarbe ocuparam parte dos 2 mil hectares da fazenda 29 de junho, propriedade do ex-presidente de Cotas e superintendente do Banco Luis del Rio. Também, os sindicatos agrários de Montenegro e 24 de Setembro ocuparam o fundo menonita Vila Carinho, de Jorge Andrés Moreno. Entretanto, na cidade de La Paz, o representante da empresa Produtos do Titicaca AS Yerki Garáfulic denunciou que a Federação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da província Manko Kápac aprovou a resolução Nº. 003 que determina a recuperação das terras abandonadas pelos expatrões, instituições públicas, privadas, o clero, ex-comunários e outros, nas 57 comunidades da Primeira, Segunda e Terceira Seção da província, para serem distribuídas entre os comunários sem terra ou os que têm pouca terra. Aprofundar este caminho, o da mobilização camponesa e das ocupações de terras, a exigência ao governo para que concretize a reforma agrária, é o que pode garantir que os indígenas e camponeses bolivianos recuperem a terra e a façam produzir para acabar com a fome e a miséria.
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O MAS (plenárias) do MAS, compostos exclusivamente pelos deputados, prefeitos e vereadores e a CSUTCB ficou reduzida ao papel de um participante a mais, pese a ser a principal fornecedora dos votos. Enquanto nas eleições de 2002 participaram nas listas do MAS e foram eleitos parlamentares 18 dirigentes indígenas, nas listas das últimas eleições de 2005 os indígenas foram suplentes, como Carlos Cuasase em Santa Cruz, enquanto que somente alguns poucos dirigentes camponese, os mais destacados pela sua lealdade pessoal a Evo, conseguiram estar na chapa (Pablo Reglasky: “Bolívia indígena y campesina, uma larga marcha”). Em outubro de 2003, o MAS cumpriu um papel totalmente secundário na insurreição que derrubou Sánchez de Losada (Evo Morales estava viajando na Suíça). Mas, quando Sanchez de Losada fugiu, o papel do MAS foi decisivo, pelo seu peso político e parlamentar, para permitir que o Congresso nomeasse Carlos Mesa presidente e para que pudesse governar. Evo Morales sempre afirmou que Mesa deveria governar até 2007, quando finalizava o período constitucional. Somente em 2005, quando começa uma nova rebelião popular, o MAS retirou o apoio a Mesa. A insurreição de junho de 2005 derrubou Mesa e quando no Cabildo Aberto de La Paz se discutiu a necessidade de um governo operário e camponês através de uma Assembléia Popular, o MAS jogou todo seu peso para que fossem convocadas eleições antecipadas e desviar esse grande processo de mobilizações para o processo eleitoral. No entanto, para o movimento de massas, o MAS representa eleitoralmente suas demandas. Evo é um camponês
População: População rural: Desnutrição: Pobres: Indigência: Povos originários: Idiomas: Mestiços: Brancos:
9 milhões 40% afeta 27% das crianças 2 em cada 3 1 em cada 4 62% (quéchua, aymara, guaranis, etc.) castelhano, quéchua, aymara, guarani, etc. 25% 13%
indígena, que fala em nacionalizações, Assembléia Constituinte para refundar o país, em reforma agrária. Assim, em dezembro de 2005 conseguiu a façanha de 54% dos votos, contra todos os prognósticos, inclusive os do próprio MAS.
Para a Constituinte, o MAS ofereceu “representar” aos diversos setores sociais populares. Mas salvo em alguns distritos, nem os próprios camponeses puderam intervir diretamente para escolher os candidatos.
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MAS (Movimento ao Socialismo) é um partido fundado por um congresso da Central Camponesa de toda a Bolívia, acontecido em Santa Cruz em 1995. Seu primeiro nome foi Assembléia pela Soberania dos Povos (ASP), e não é chamado de partido mas de “instrumento político”. Nas eleições municipais do Departamento de Cochabamba, onde se apresentou, conseguiu triunfos em 14 municípios, pese à oposição frontal do governo e de todos os partidos oligárquicos. O novo partido passou a se chamar de MAS e contou com uma grande base social entre os 40 mil camponeses cocaleiros da zona de El Chapare, que estava em meio a um duríssimo confronto com o exército e a DEA (departamento antidrogas dos ianques) para obter o direito de cultivar a milenar folha da coca. Evo Morales ficou nacionalmente reconhecido por encabeçar esta luta. Em 2002 o Mas conseguiu, inesperadamente para todos, um grande peso a nível nacional, chegando inclusive a disputar a presidência da república nas eleições nacionais, quando Evo Morales ficou como o segundo colocado com 21,8% dos votos, perto de Sanches de Losada que obtêm 22,5%. O Congresso escolheu presidente a Sanchez de Losada, e numerosos indígenas e camponeses foram eleitos deputados. Mas, nesse momento aconteceu uma mudança fundamental ao interior do MAS: deixou de ser o braço político da CSUTCB, cujas orientações eram fixadas nos Congressos Nacionais camponeses. Começou a se burocratizar. Começaram a adquirir peso os funcionários políticos e deixaram de consultar com os congressos camponeses. As decisões passaram a ser tomadas nos “ampliados”
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Marcha em Cochabamba, 2000
Milhares marcham na praça Murillo, La Paz 2006
Da “guerra da água” ao triunfo do MAS São seis anos que a Bolívia vive um profundo processo revolucionário que impediu privatizações, criou novas organizações operárias e populares, derrubou dois presidentes e impôs a antecipação das eleições nas quais triunfou Evo Morales.
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MIGUEL LAMAS
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A “guerra da Água” Em abril de 2000 se sublevou o povo de Cochabamba, a terceira cidade da Bolívia, exigindo a anulação da privatização da empresa de água. Foi a chamada “guerra da água” que se iniciou quando o governo decidiu entregar os poços de água, administrados durante séculos pelas comunidades, à multinacional Betchel. Formou-se a Coordenadora da Água, uma organização de massas, com assembléias em todos os bairros populares. A cidade e os caminhos próximos foram ocupados por dezenas de milhares de manifestantes que derrotaram à polícia. Em um plebiscito massivo, resolveram que a Betchel devia ser expulsa do negócio da água. E a Betchel teve que ir embora. O governo do Presidente general Hugo Banzer “decidiu” rescindir o contrato. No dia 11 de Abril terminou a guerra com o “cabildo aberto” no qual 100 mil pessoas festejaram o triunfo e exigiram uma Assembléia Constituinte para refundar a Bolívia. O Levante aymara Em setembro de 2000 iniciou-se o levante das comunidades ayamarás do altiplano. Com exigências de desenvolvimento das zonas rurais, reforma agrária, contra as privatizações, contra o racismo branco e o colonialismo interno, ocuparam suas
comunidades. Este levante durou meses, com bloqueios de estradas periódicos. Em junho de 2001 foi criado o Quartel Geral Indígena em Kalachaka, na província Omasuyos, que gerará a criação de outros quartéis gerais em toda a zona e o bloqueio de caminhos durante 27 dias. Isto significou concretamente o desaparecimento das autoridades nacionais e as comunidades começaram a se reger com suas próprias autoridades e brigadas armadas. Calculase que participaram 500 mil indígenas camponeses neste movimento. A “Guerra da coca” Em janeiro de 2002 o governo de Banzer, cumprindo com as ordens dos ianques, tentou fechar o mercado da folha de coca de Sacaba, no Chapare. O governo quer aplicar a “erradicação da coca” pactuada com os Estados Unidos. E enviou o exército ao Chapare. Mas, a folha da coca é um cultivo milenar e parte da alimentação andina. É também hoje o único meio de subsistência para milhares de camponeses, muitos de eles operários demitidos das minas e das indústrias fechadas. Por isso aconteceu uma grande insurreição camponesa, com bloqueios de estradas, dezenas de feridos e mortos, encabeçada pela Federação do Trópico, de sindicatos camponeses do Chapare. Evo Morales é seu máximo dirigente. O governo finamente tem que recuar e retira o exército.
Eleições nacionais de junho de 2002 Nas eleições presidenciais e parlamentares aconteceu um novo fenômeno eleitoral. O MAS, encabeçado por Evo Morales consegue 21,7% dos votos e o MIP, do aymará Felipe Quispe, 7%. A primeira minoria é o MNR encabeçado por Sánchez de Losada, com 22,5%, uma pequena diferença com o MAS. De acordo com a Constituição boliviana ao nenhum partido obter mais de 50% dos votos, corresponde ao Congresso eleger o presidente. Com os votos do MNR, MIR e NFR, partidos de direita neoliberais, mas que haviam feito campanha contra Sánchez de Losada, escolheram Sanchez de Losada – que, criado e educado nos Estados Unidos, mal falava o espanhol-. Pela primeira vez na história, com os votos do MAS e do MIP uma forte bancada de deputados indígenas chegou ao Parlamento. A insurreição de fevereiro de 2003 em La Paz Pese aos poucos votos e ao forte questionamento popular com o qual assumiu, o Presidente Sánchez de Losada intentou continuar aplicando com maior rigor ainda a política neoliberal. Em janeiro de 2003, milhares de aposentados do país inteiro marcharam sobre La Paz protestando contra a redução das suas aposentadorias, mas foram violentamen-
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A “guerra do gás” derruba Sanchez de Losada Em setembro de 2003começaram grandes manifestações no país inteiro. Começaram no El Alto os estudantes da Universidade Popular unidos aos vizinhos e organizados na Federação de Juntas Vecinais (FEJUVE) contra o aumento de impostos que finalmente foi retirado. Quando virou público o acordo de exportar gás aos EUA passando pelo Chile, foi o elemento que faltava para detonar um processo de mobilização nacional. Mais de 150mil pessoas se mobilizaram no país inteiro exigindo a nacionalização dos hidrocarbonetos. Em 20 de setembro forças do exército e da polícia reprimiram os camponeses que bloqueavam estradas, causando 5 mortos e 20 feridos. Poucos dias depois a COB convocou à greve geral desde 29 de setembro. A Fejuve, os estudantes e a Central Operária Regional (COR) de El Alto bloquearam La Paz. Nos dias 12 e 13 de outubro o povo de El Alto começou a descer sobre La Paz. O governo desencadeou uma tremenda repressão com dezenas de mortos em el Alto: a população se organizou com barricadas, pedras e dinamite para enfrentar à polícia, com um saldo de 30 mortos e centenas de pessoas feridas. Em 16 de outubro dezenas de milhares de populares, indígenas, camponeses e trabalhadores ingressam em La Paz. Chega uma marcha de mil mineiros desde Oruro e 14 mil indígenas do altiplano central. Mais de 150 mil manifestantes rodeiam a casa de governo. Os movimentos sociais exigem a destituição e punição de Sanchez de Losada, a nacionalização dos hidrocarbonetos e
Assembléia Constituinte “para refundar a Bolívia”. Esta será chamada desde essa data, como a “agenda de outubro”, o programa da revolução. O vice-presidente Carlos Mesa chama por telefone a Jaime Solares, dirigente da COB para solicitar que permita a reunião do Congresso Nacional, e Solares acede. Em 17 de Outubro o presidente Sánchez de Losada foge de helicóptero para Santa Cruz (com o apoio do governo brasileiro de Lula) e daí para os EUA. Reunido o Congresso, o vice-presidente Carlos Mesa é eleito com o voto do MAS, do MIP e dos partidos indígenas. No dia seguinte a COB e a Federação Camponesa dirigida por Felipe Quispe declararam uma trégua de três meses ao novo governo. Em uma plenária da COB, respondendo a enfurecidos delegados de base, Solares afirmou que os trabalhadores não puderam tomar o poder porque faltou um partido revolucionário. Evo Morales afirmou por sua vez, que Carlos Mesa deverá completar o mandato de cinco anos e governar até 2007. Assim, os dirigentes mais importantes do movimento de massas insurrecto renunciaram a lutar por um governo de suas organizações, por um governo dos operários e dos camponeses.
O governo de Carlos Mesa Mesa não mudou nada, somente o discurso. Prometeu que o estado controlaria o petróleo e o gás. Seu apoio inicial foi o dos dirigentes do movimento, e especialmente o apoio de Evo Morales. Em junho de 2004 lançou um plebiscito para legitimar seu governo, convocando a votar a favor ou contra de cinco perguntas bastante imprecisas que falavam do “controle” estatal do petróleo. Tanto Mesa quanto Evo Morales convocaram a votar sim, afirmando que era para que a Bolívia recuperasse seus hidrocarbonetos. A oligarquia de Santa Cruz exigiu a total autonomia de seu departamento (Bolívia se divide em nove departamentos) para poder controle eles o petróleo que está em Santa Cruz e Tarija, em aliança com as multinacionais. Os protestos sociais cresceram. O mais importante aconteceu em janeiro de 2005, quando uma grande mobilização em El Alto exigiu a expulsão da empresa de águas, uma multinacional francesa. O governo de Mesa afirmou que seria res-
cindido o contrato, o que foi festejado como um triunfo. Mas a companhia não foi expulsa e ainda continua ai...
Nova insurreição popular derruba Carlos Mesa Em junho de 2005 o governo de Carlos Mesa, sem haver concretizado nenhuma de suas promessas, começou a desabar. Começou uma nova rebelião popular exigindo novamente a nacionalização dos hidrocarbonetos e o MAS retirou seu apoio ao governo. Novamente La Paz foi bloqueada e rodeada de milhares de manifestantes que chegaram de forma massiva. No oriente, departamento de Santa Cruz, os indígenas guaranis ocuparam as instalações petrolíferas e reclamaram criar “o décimo departamento”. Na própria Santa Cruz, ninho da reação oligárquica, camponeses bloquearam os caminhos. Em La Paz foi realizado um massivo Cabildo Aberto, onde o dirigente da Federação dos Mineiros anunciou a formação de uma Assembléia Popular para assumir o poder e nacionalizar os hidrocarbonetos. Dezenas de milhares de manifestantes falaram em governo operário e camponês. Mas os dirigentes não deram nenhum passo prático para organizar realmente a Assembléia Popular. Carlos Mesa renunciou. O Parlamento teve que se reunir em Sucre, porque não havia garantias para se reunir em La Paz. O MAS propôs uma saída, que finalmente foi aprovada: que o presidente da Suprema Corte, Eduardo Rodriguez, assumisse à presidência e convocasse a eleições antecipadas.
Eleições de dezembro, o triunfo do MAS Com 54% dos votos, o triunfo do MAS foi esmagador, sem precedentes na Bolívia. Superou também todas as pesquisas pré-eleitorais que falavam de um virtual “empate” com o empresário Tuto Quiroga de Santa Cruz, apoiado pela embaixada ianque e a oligarquia. Tuto Quiroga conseguiu 28% dos votos. Os camponeses foram massivamente a votar, rompendo com anos de armadilhas e empecilhos. As massas se apropriaram do MAS e de Morales como o instrumento eleitoral para impor a “agenda de outubro”.
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te reprimidos quando chegaram à cidade. A noticia comoveu o país. Em muitos locais, especialmente no Chapare, reiniciaram-se os bloqueios de estradas. Em fevereiro Sánchez de Losada tentou impor um novo imposto de 12% sobre os salários. Explodiu a indignação com greves e uma surpresa para o presidente “gringo”: os policiais se rebelaram e atacaram a bala a casa do governo, desencadeando uma batalha campal entre policiais e o exército na Praça Murillo, frente à Casa de Governo, com um saldo de 30 pessoas mortas, a maioria policiais e soldados. Losada recua e retira o imposto sobre os salários. desencadeando uma batalha campal entre polcasa do governo. salssumiu, o Presidente Scampanha contra S
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A síndrome do Iraque persegue Bush
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POR CARMEN CARRASCO
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ela segunda vez na sua história, os Estados Unidos estão à beira de uma derrota política e militar no Iraque, como há trinta anos no Vietnã, derrota que terá vastas conseqüências. Faz três décadas se instalou a “síndrome do Vietnã”, isto é, a negativa do povo norte-americano em apoiar as sangrentas guerras que deixavam milhares de vítimas próprias à serviço dos escuros interesses das multinacionais e do Pentágono. Após os ataque do 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush acreditou que a “síndrome” já tinha passado e que o povo norte-americano, ferido, apoiaria novamente suas aventuras bélicas. Assim foi… por um breve período, que já chegou ao seu fim. A princípios de 2005, quando as vítimas norte-americanas no Iraque chegavam a 1500, a percentagem que considerou a guerra um erro (quase a metade da população) foi a mesmo que considerou a guerra de Vietnã um erro em 1968, durante a ofensiva do Tet, quando 20.000 soldados haviam morrido.1 Com as baixas norte-americanas somando 2500 e o custo das guerras com Iraque e Afeganistão chegando ao meio bilhão de dólares, a popularidade de Bush está desabando, como aconteceu com o presidente Richard Nixon trinta anos atrás. Os generais criticam o Ministro da Defesa, os oficiais criticam os generais, os soldados criticam os oficiais, a popu-
lação repudia os crimes de guerra como o massacre de Haditha; crescem os escândalos de corrupção, se dispara o preço da gasolina, irrompe o movimento de massas através das mobilizações dos imigrantes, aprofundando a divisão do governante Partido Republicano, e cresce a possibilidade de que perca o controle do Parlamento nas eleições de Novembro, quando restam a Bush ainda dois longos anos e meio de governo. A crescente rejeição da guerra nos Estados Unidos é paralela à rejeição nos países aliados. A coalizão que iniciou a invasão no Iraque se desmoronou, os sócios de Bush caíram em desgraça, como Sílvio Berlusconi, derrotado eleitoralmente na Itália, e Tony Blair, que vive o seu pior momento na Grã Bretanha. A maioria das tropas dos outros países já se retirou e se anuncia a retirada das tropas italianas e japonesas. Nos Estados Unidos, o poderoso sentimento contra a guerra no Iraque, também colocou na ordem do dia o retiro das tropas. “Tragam nossos jovens de volta”, a palavra de ordem do movimento pacifista durante a guerra do Vietnã, está na ordem do dia e tem se convertido no tema obrigatório para os candidatos que se apresentam nas eleições parlamentares de Novembro de 2006. Crise nas Forças Armadas Os fantasmas do Vietnã voltaram. O desastroso resultado das operações no Iraque abriu uma crise nas Forças
Armadas. Vários generais se expressaram publicamente contra o Ministro da Defesa Donald Rumsfeld, o artífice desta guerra. No dia 19 de Março, o maior general retirado Paul Eaton, que esteve a cargo do treinamento do exército iraquiano, chamou Rumsfeld de “incompetente, estratégica, operacional e taticamente”. No dia 02 de Abril, o general retirado Anthony Zinni, ex-chefe do Comando Central, disse: “Foram feitas análises militares muito pobres nesta missão”. No dia 09 de Abril, o tenente general retirado Gregory
Newbold, escreveu: “Lamento não ter questionado com mais força aos que estavam determinados a invadir um país cujas ações eram periféricas à real ameaça -Al Qaeda”. No dia 13 de Abril, o general retirado, maior John Riggs, e o general Charles Swannack, ex-comandante da 82ª divisão aerotransportada, acusaram Rumsfeld de pedir conselhos militares quando lhe convém e o responsabilizaram pelas torturas no cárcere de Abu Ghraib. A revolta dos generais se alimenta no profundo descontentamento dos uniformiza-
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dos pelas políticas de corte de despesas implementadas pelo governo Bush, à serviço da “doutrina Rumsfeld”, que teve o seu batismo de fogo (e seu enterro) no Iraque: reduzir o Exército, operar com pequenas unidades mais leves, providas de armas e instrumental de alta tecnologia produzidas pelas empresas amigas do Pentágono, e terceirizar ou privatizar a maioria dos serviços que precisa o exército, magnífico negócio para os aliados do Bush, como Halliburton. A rebelião dos generais é o iceberg do profundo descontentamento com a guerra entre os jovens soldados. Após a guerra do Vietnã, os Estados Unidos eliminaram o serviço militar. Seu exército está formado por voluntários assalariados, que se alistam na procura de um melhor salário e algumas regalias. Por esta razão, as Forças Armadas se encheram de pobres, negros e latinos. Em 2004, 16,4% dos recrutados eram negros quando estes representam só 14,3% da população. 70% dos soldados negros e 64% dos soldados latinos vêm de lugares que estão por debaixo da média nacional de ingressos, comparado com 57% dos recrutas brancos. Na medida em que a guerra perde popularidade as cifras do recrutamento caíram, pois os negros e os latinos são os setores onde tem mais rejeição às ações armadas contra o Iraque2. O mais preocupante para os mandos militares é que cada vez mais jovens oficiais, incluindo um crescente número de capitães, se retiram no prazo mais breve possível. Para resolver a falta de homens, os oficiais tiveram que reduzir as exigências, retendo soldados que, de outra maneira, deveriam ser excluídos por problemas de dro-
gas, álcool ou baixo rendimento. Por isso, o Ministério da Defesa teve que recorrer aos serviços de mais de 30.000 mercenários privados, que recebem seis vezes mais que os recrutas. De acordo com o jornal “USA Today”, tem pelo menos 8.000 desertores e no dia 07 de Junho, o tenente Ehren Watada se converteu no primeiro oficial a negar-se publicamente em viajar para o Iraque, alegando que a guerra é ilegal. Cresce entre os uniformizados a desaprovação dos métodos genocidas, dos assassinatos de civis como em Haditha, em Novembro, e Ishaki, em Março, que foi denunciados pelos próprios soldados e que trazem à memória a matança de centenas de civis na aldeia de My lai no Vietnã em 1968, fato que marcou um ponto de não retorno na guerra, pela enorme rejeição que provocou na população e os soldados. 72% dos soldados interrogados no Iraque pelo instituto Zogby Internacional, acham que o exército norteamericano deveria fazer as malas ainda este ano3. Crise nas alturas O desastre no Iraque tem provocado uma queda brusca na popularidade do Bush. Todas as pesquisas dão 37% de aprovação e 58% de desaprovação. A sensação que fica é assim resumida por um analista conservador: “Antes, Bush era visto como um homem que controlava os acontecimentos e agora é visto como alguém que não dirige nada. A dura palavra ‘incompetência’ é escutada aqui e acolá. Se tomarmos a política exterior, o problema do presidente não é só Iraque, mas o problema de se tem o controle dos preços da gasolina”4. Altos membros da administração Bush estão salpica-
dos por escândalos e a palavra corrupção é cada vez mais utilizada. O vice-presidente Dick Cheney está comprometido no caso de Lewis Libby, o seu ex-chefe de gabinete, que revelou a identidade de Valerie Plame, agente do FBI, em vingança contra seu marido, um dos primeiros em desmentir que o Iraque tivesse armas de destruição massiva. Porter Goss, chefe da CIA, renunciou após um breve mandato. Já vão três chefes da CIA em algo mais de um ano. Foi preso por corrupção um dos principais lobbystas republicanos no Congresso, Jack Abramoff, e como conseqüência disso teve que renunciar Tom deLay, chefe da bancada republicana na Câmara de Representantes, assestando um duro golpe no partido de Bush no parlamento. Acaba de ser sentenciado Kenneth Lay, o executivo da Enron, culpado da maior falência fraudulenta da história norte-americana, que estafou milhões de acionistas, com a particularidade do que Lay era amigo íntimo do Bush e um dos maiores contribuintes das campanhas republicanas. A crise do partido republicano Bush ganhou duas eleições presidenciais, obrigando o apoio militante dos conservadores puros e duros, que propunham reduzir ao mínimo o gasto público, uma política dura com os imigrantes, tolerância zero em assuntos como aborto ou matrimônios do mesmo sexo. Este é o setor que agora o está abandonando, insatisfeito pelo colossal aumento dos gastos, pelo fracasso em conter a migração ilegal e pelo abandono dos princípios republicanos básicos. A explicação desta erosão é o desgosto por “o abando-
no completo do governo limitado”, conforme o republicano Pat Toomey. O compromisso de fazer um governo menor tinha sido uma idéia unificadora para a maioria dos conservadores desde a presidência de Ronald Reagan5, mas desde que Bush assumiu o governo, o gasto público aumentou mais de 25%, a maior percentagem que qualquer outra administração desde o presidente democrata Lyndon B. Jonson. Conforme uma pesquisa da Associated Press, a aprovação de Bush entre os conservadores é de 52% e só 33% tem uma opinião favorável do Congresso de maioria republicana. De acordo com Zogby Interactive, só um quarto dos conservadores apóia o manejo do tema da migração pelo Bush6. Alguns dos mais importantes aliados religiosos cristãos estão se afastando cada vez mais do Bush, ameaçando com não votar pelos candidatos republicanos nas próximas eleições. Os religiosos exigiam que Bush freasse a lei que permite os matrimônios de um mesmo sexo, mas o presidente norte-americano, que tem perdido o seus súperpoderes, não conseguiu impedir a aprovação da lei, para desgosto da direita religiosa7. A responsabilidade dos democratas Embora os democratas se preparem para ganhar as eleições parlamentares em Novembro, também estão pagando o custo do seu apoio à guerra. Os democratas votaram a favor da Ata Patriótica que recortou as liberdades democráticas dos norte-americanos para perseguir eventuais terroristas e a favor da invasão do Iraque e agora, o partido se encontra dividido sobre a melhor saída à guerra. Enquan-
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to a senadora Hillary Rodham Clinton, provável candidata presidencial para 2008, se nega em fixar uma data para a retirada das tropas, outros dirigentes, como John Kerry, o ex-candidato presidencial em 1994, se autocriticam publicamente por haver apoiado a guerra. Numa megaconferência democrata realizada para lançar a campanha em direção às eleições parlamentares de Novembro, Hillary Clinton foi vaiada pela sua negativa em fixar uma data para o retorno das tropas, ao mesmo tempo em que Kerry reconheceu que “a guerra foi um erro” e que se equivocou ao votar pela guerra8. Rebelião na casa Aproveitando o repudio aos atentados de 9/11, o governo Bush acompanhou as guerras contra o Iraque e o Afeganistão com uma ofensiva contra as liberdades democráticas do povo norte-
americano -detenções sem julgamento nem processo, escutas telefônicas, espionagem de correios eletrônicos, e um enorme dispositivo policial e de inteligência, enquanto as tropas ianques utilizavam métodos genocidas, como as massacres do Fallujah, o Haditha e o Ishaki; torturas, como na prisão de Abu Ghraib e as detenções ilegais em Guantánamo, assim como detenções em cárceres secretos em nove países eu-
ropeus e vôos charter ilegais com prisioneiros de guerra. A grande contradição do imperialismo norte-americano é que, se por um lado tem a mais potente maquinaria contrarrevolucionária do planeta, por outro lado se assinta num regime de amplas liberdades democráticas, que é a principal conquista do seu povo. Quando os norte-americanos comprovaram que Bush mentiu ao assegurar que no Iraque havia armas de destruição massiva, a memória do Vietnã aflorou com mais força que nunca e o apoio a guerra começou a decair. Com as primeiras baixas, o descontentamento deu passo à mobilização, que foi ganhando dimensão nacional. Iniciou-se um movimento contra o recrutamento nos colégios secundários e faculdades: os estudantes expulsavam os encarregados do recrutamento dos campi universitários, protesto que se estendeu por todo o país, ao mesmo tempo em que crescia a mobilização dos veteranos e familiares de soldados e vítimas, refletidos em Cindy Sheehan, a mãe de um soldado morto, que acampou durante o verão passado diante a fazenda do Bush no Texas. Durante todo 2005 e o que vai de 2006 tem se realizado grandes mobilizações nas principais cidades.
Da mão dos imigrantes, irrompe o movimento de massas. O pano de fundo do rápido desencanto com a guerra é o empobrecimento cada vez maior de amplos setores da população (ver artigo), especialmente daqueles que nutrem as Forças Armadas de soldados. Por isso, o movimento contra a guerra confluiu, quase sem solução de continuidade, com o descontentamento diante dos desastrosos efeitos do furacão Katrina, e continuou com a poderosa mobilização de milhões de imigrantes (ver quadro) em Março e Abril e o grande boicote do Primeiro de Maio, que pela primeira vez se celebrou em massa nos Estados Unidos. Com anterioridade, houve importantes ações operárias, como a greve dos trabalhadores do transporte de Nova Iorque, que deixou a grande cidade paralisada durante vários dias. A tudo isso se une a sensação de mal-estar coletivo por uma das mais graves e sensíveis conseqüências da guerra para o norte-americano meio: o aumento no custo da gasolina, que dobrou seu preço desde que Bush chegou ao governo, passando de 1,46 dólares o galão a 2,91, se fazendo sentir demais na economia de todos os lares9.
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EUA como se viu na decisiva votação sobre a lei de migração. A instâncias da Casa Branca, os democratas e uma parte dos republicanos, fizeram votar em Maio, no Senado, um projeto para se opor ao que aprovou a Câmara de Representantes a final de 2005, que criminalizou a imigração e desatou uma oleada de mobilizações. O projeto legaliza a situação para os imigrantes que levem mais de cinco anos no país, tentando desta maneira desativar as grandes mobilizações. 32 republicanos votaram contra e 23 votaram com os democratas, a favor do projeto. A síndrome do Iraque Ainda não se sabe quando voltarão as tropas, mas já se fala da “síndrome do Iraque”. A diferença com Vietnã é que o gigante imperialista está mais enfraquecido do que estava até então, quando a existência da União Soviética o respaldava diante da ascensão revolucionária mundial. A primeira vítima da “síndrome do Iraque” é a doutrina Bush: promover guerras preventivas, ainda sem responder a uma agressão de jeito unilateral, passando por cima de todos os órgãos internacionais, para vingar o
orgulho norte-americano ferido pelos ataques de 11-9 contra o Afeganistão e o Iraque. Para a conservadora revista Foreign Policy, “crescerá o ceticismo sobre algumas noções fundamentais: que os Estados Unidos deverão começar ações militares unilaterais para corrigir situações ou derrubar regimes que lhe desagradam, mas que não são uma ameaça imediata, que pode e deve levar a democracia a outras nações, que têm a tarefa de libertar o mundo do mal, que ter o maior orçamento de defesa no mundo é necessário e benéfico, que a cooperação internacional tem um valor muito limitado, e que os europeus e outros estrangeiros são ingênuos e decadentes”.11 Por isso, para a revista, “a probabilidade de qualquer aplicação de poder militar ou inclusive uma ameaça militar focalizada contra algum dos países da lista de inimigos do Bush, tem diminuído substancialmente… Em última instância, os principais beneficiados da guerra no Iraque serão os parceiros do Iraque na lista do “eixo do mal”.12 O fracasso político e militar dos Estados Unidos no Iraque, que tem sido possível graças a mobilização do
povo norte-americano, ao heroísmo do povo iraquiano e ao repúdio mundial à guerra, está brindando aos trabalhadores norte-americanos as melhores condições para desenvolver suas lutas contra o governo e os patrões. Os povos do mundo, por sua vez, celebram este novo fracasso imperialista: a Fera está ferida. É hora de aproveitá-lo.
1
John Mueller, professor de Ciências Políticas na Universidade de Ohio, Foreign Affairs (Novembro - Dezembro 2005).
2
O mesmo aconteceu na Inglaterra, na qual neste a no a meta de recrutamento estará por debaixo de 3.000 soldados.
3
Libération, 17-04-06.
4
James M. Lindsay, Council on Foreign Relations, Maio 11 de 2006.
5
Esse era o discurso, porque os déficits fiscais gigantes começaram com Reagan e o seu projeto de guerra das galáxias. Contraditoriamente, quem levou o orçamento a superavitário foi Clinton. The Washington Post, Maio 11 de 2006.
6 7
The New York Times, 15-05-06.
8
Washington Post, Junho 14 de 2006.
9
Não por nada Bush é o representante da indústria petroleira que fixa os preços da gasolina. Durante o seu mandato, a dependência do petróleo importado tem aumentado em bilhões de barris, ao mesmo tempo em que a guerra no Iraque privou o mercado de 900 bilhões de barris que provinham desse país.
10
“As propostas principais consistem numa quase total retirada nos próximos dezoito meses. Devem: reduzir imediatamente nossa presença militar a uma taxa de 9.000 por mês até um total de 60.000 para final de 2006 e a zero virtualmente para final de 2007. Trazer a todas as unidades da Guarda Nacional este ano. Dobrar o número de tropas no Afeganistão, colocar uma divisão do Exército no Kuwait, uma força expedicionária no Golfo Pérsico e um adicional de 1000 forças especiais na África e na Ásia. Abandonar o paradigma central da política no Iraque - “construir uma nação” – e substituí-la por “solucionar conflitos”.
(Tom Haydn, The Nation, Maio 16 de 2006). John Mueller, Foreign Policy, Novembro – Dezembro de 2005. 12 Idem. 11
O jejum pelos pela volta dos soldados para casa Os atores Susan Sarandon, Sean Penn e Danny Glover juntaram-se a centenas de celebridades e ativistas que participaram do jejum de 24 horas, na véspera do 04 de julho, Dia da Independência dos Estados Unidos, para exigir o retorno dos soldados para casa. O jejum começou no dia 03 de julho, na frente da Casa Branca, quando os participantes fizeram sua última refeição.
Ao mesmo tempo, Cindy Sheehan, a mãe do soldado morto no Iraque que tem encabeçado a luta dos familiares por fazer retornar os soldados para casa, o comediante Dick Gregory, a defensora do meio ambiente Diane Wilson e a militar aposentada, Ann Wright, iniciaram uma greve de fome por tempo indeterminado. Estarão todos os dias do verão, às dez da manhã, em frente à Casa Branca.
Em todo o país, cerca de 2700 celebridades, mães, veteranos e ativistas, participarão desta greve de fome durante todo o verão, como se fosse uma corrida de revezamento, substituindo aos que não resistirem, até chegar o dia 21 de setembro, Dia Internacional da Paz, quando serão realizadas grandes manifestações, exigindo o retorno dos soldados para casa.
Susan Sarandon
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A retirada do Iraque: a tarefa imediata O tema obrigado destas eleições é a retirada das tropas. No 15 de Junho, pela primeira vez em quatro anos, a Câmara de Representantes discutiu o tema e, embora o governo prometa manter as forças de ocupação no Iraque, já existem distintos planos que falam da retirada. Um deles circula nas escrivaninhas dos dirigentes do Partido Democrata. O plano, elaborado por dois autores republicanos do Center for American Progress, propõe a saída de 60.000 soldados para final deste ano e da totalidade, para final de 200710. Em Novembro de 2005, um senador democrata muito ligado aos conservadores, John Murtha, armou um escândalo ao apresentar uma resolução para o imediato retorno das tropas norte-americanas. Com as eleições atravessadas pelo tema da guerra, a perspectiva de um triunfo democrata enfraquece ainda mais Bush, pois tem pela frente dois anos e meio de mandato. Por isso, para sustentarse no poder, Bush tem tido que deixar de lado sua base conservadora pura e dura, procurando nos fatos um acordo com os democratas,
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Os imigrantes despertam
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s maciças mobilizações dos imigrantes nos Estados Unidos marcam a entrada da revolução latino-americana no coração do império. Pela primeira vez, celebrou-se o Primeiro de Maio, dia internacional dos trabalhadores, com passeatas que reuniram milhões de pessoas em todo o país, após décadas em que esta data, histórica para o movimento operário mundial, foi suprimida do calendário norte-americano. “A grande greve americana de 2006” foi celebrada com atos e passeatas em mais de 200 cidades. A mobilização, chamada “Um dia sem imigrantes”, incluiu um boicote, uma greve, no qual milhões de imigrantes faltaram aos seus trabalhos ou escolas e fecharam suas lojas para participar das passeatas. Na Califórnia, mobilizaram-se cerca de três milhões de pessoas em Los Angeles, San Francisco, San José e San Diego, e em todos os povoados e cidades. Em Chicago, o berço do Primeiro de Maio, a passeata juntou meio milhão de pessoas, sob o grito de “O povo unido jamais será vencido”. Em Nova Iorque, às 12:16 pm, milhares de pequenos comerciantes fecharam suas portas e saíram às ruas em oito pontos da cidade, usando roupa branca, somando cerca de 200.000 pessoas. A grande mobilização foi a continua-
ção das enormes marchas de março e abril, realizadas contra a lei de imigração votada pela Câmara de Representantes no final de 2005, que transforma em criminosos aos imigrantes e aprova a construção de um muro ao longo da fronteira com o México. No mês de março, 300.000 já tinham marchado em Chicago, e um milhão em Los Angeles. No dia 10 de abril, realizou-se uma ação nacional em 140 cidades. Essa passeata demonstrou a extensão geográfica adquirida pela força dos imigrantes, que têm sido empurrados para os distintos estados e indústrias, difundindo seu protesto pelo país todo. Os organizadores têm comparado o movimento com as marchas pelos direitos civis dos negros durante os anos sessenta, quando se conquistou o fim da segregação racial nos Estados Unidos, lembrando à Rosa Parks, a mulher negra que se negou a ceder sua poltrona no ônibus a um branco, iniciando assim a rebelião. Calcula-se que existem doze milhões de imigrantes ilegais, enquanto todo ano, entre 500.000 e um milhão ingressam no país, a maioria pela fronteira de 3.200 quilômetros com o México. Os imigrantes realizam os trabalhos que a maioria dos norte-americanos não aceita, pelos baixos salários e a inexistente proteção legal. Por isso, trata-se de um movimento de trabalhadores, especialmente os agrários, de serviços e da cons-
trução, que são os mais explorados e os mais mal pagos dos Estados Unidos. Daí, o importante papel nas passeatas dos trabalhadores latinos e dos sindicatos que os agrupam, o SEIU (Sindicato de Empregados de Serviço), o Sindicato de Trabalhadores de Hotéis, Restaurantes e Confecção (UNITE HERE), United Electrical Workers (UE) e do United Farm Workers. Após as multitudinárias mobilizações, o Senado aprovou um projeto de lei que permitirá a legalização de 8 a 9 milhões de indocumentados, que se opõe ao projeto aprovado pela Câmara de Representantes. No entanto, o projeto só vigorará para aqueles que estão há mais de cinco anos nos Estados Unidos, enquanto obrigará os que estão há menos de dois anos a viajar para as fronteiras e reingressar com visto. Obrigará os imigrantes a pagarem até 3.250 dólares em multas, aprenderem inglês, pagarem impostos atrasados e aguardarem no final da fila, porque a prioridade será para os 3,3 milhões de pessoas que esperam nos seus países para ingressar legalmente. Ainda falta a negociação entre os dois projetos que, com certeza, piorará as condições de legalização para os imigrantes ilegais, que já constituem significativa força de trabalho explorada há décadas nos EUA. Por isso, é fundamental continuar a mobilização.
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Os Estados Unidos por dentro
POR JOSÉ CASTILLO Furacão Katrina em 2005 e as manifestações de protesto dos latinos puseram de manifesto uma realidade muitas vezes oculta: nos Estados Unidos da América existe no seu interior uma sociedade terrivelmente desigual, tendência que está se aprofundando nas últimas décadas. Sempre foi racista com os afro-americanos descendentes de escravos, ocupando os últimos degraus sociais, mas agora se acrescenta a superexploração dos milhões de novos imigrantes latinos (a maioria, mantidos como ilegais) e também, um recuo no padrão de vida, salários e níveis de ocupação da velha e tradicional classe operária branca. Nos anos 50 e 60 houve uma relativa elevação do nível de vida da classe trabalhadora ianque. Com eixo na indústria de automóveis, houve uma classe operária branca, fortemente sindicalizada, base da central AFL-CIO, localizada geograficamente no Oeste Médio (Detroit, Chicago), que obteve salários mais elevados, estabilidade trabalhista e seguro de saúde. Ainda nessa época de ouro, os Estados Unidos eram a terra de marginalização e pobreza para milhões de negros, que povoavam as maiores cidades (Nova Iorque, Washington D.C., Chicago e Los Ángeles). E a isso, devia se acrescentar a superexploração e o mais repugnante racismo dos Estados do Sul (Alabama, Mississipi, Arkansas e Carolina do Sul). A crise econômica, porém, chegou lá nos começos dos anos 70. Iniciou-se um período de deterioro salarial devido à inflação, durante os governos de Nixon, Ford e Carter. Depois, Reagan inaugurou uma etapa de ofensiva direta sobre a classe operária, que baixou ainda mais os salários.
Cresce a desigualdade social Do final de 1992 até o ano 2000, a economia norte-americana voltou a crescer.
Logo após, veio uma curta recessão em 2001 e depois, outra vez os indicadores econômicos registraram crescimento. No entanto, não tem se revertido a tendência à maior desigualdade social. Pelo contrário, tem se aprofundado. Conforme dados da própria Reserva Federal, em 1989, só 1% da parte de cima da pirâmide social ganhava 10 vezes mais que 50% da parte de baixo. Quinze anos depois, a diferença se havia ampliado 13 vezes. O número de pessoas que vive por debaixo da linha da pobreza é de 37 milhões (12,7%), e 15,6 milhões deles, em situação de pobreza extrema. Durante o boom (1947-1967), a taxa de pobreza se havia reduzido de 22% da população até chegar a um mínimo de 10% na primeira metade dos anos sessenta. A partir desse momento, voltou a subir. O balanço é que hoje, os Estados Unidos têm mais pobreza que há 30 anos. Os números se tornam mais graves ainda se os olharmos à luz dos diferentes grupos populacionais: quase 30% dos afro-americanos e 30% dos hispânicos são pobres, enquanto na população branca, o número é de 8,5%, com tendência a incrementar-se. Os novos pobres ianques não surgem só dos latinos imigrantes e dos negros. Muitos vêm da antiga “classe média”, sendo trabalhadores que perderam os seus seguros e relativamente bem remunerados empregos da época do boom.
Katrina: a marginalização dos afro-americanos no sul O Furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleans, pôs ao descoberto a realidade social de um país que segue sendo tão racista como antes da Guerra Civil. Conforme o Departamento de Justiça, um negro de cada três esteve alguma vez na prisão (55% da população carcerária é negra, quando o total dos afro-americanos são apenas 17% da população total do país).
Inúmeros estudos demonstram que, para milhares de jovens afro-americanos, a única saída é se juntar a quadrilhas do crime organizado que dirigem a distribuição varejista das drogas mais baratas, como o craque. A deserção escolar alcança patamares do Terceiro Mundo em muitas zonas. O Katrina, que aconteceu pela negligência do Estado Federal ao não votar os fundos orçamentários para aumentar as defesas da cidade, deixou um número aproximado de 10.000 mortos (sobre uma população de 485.000 habitantes, dois terços deles negros), com 300.000 casas destruídas. Aproximadamente 70% desses lares pertenciam à população pobre, como em Orleans Parish, onde havia 60.000 habitantes que não tinham carro e a Prefeitura não enviou ônibus para resgatá-los. A destruição de Nova Orleans pôs em evidência o que acontece com o sul marginalizado dos Estados Unidos. Os Estados de Arkansas, Mississipi e Lousiana, concentram uma imensa massa da população afro-americana, descendente dos antigos escravos do século XIX, que hoje segue sendo a mais pobre e explorada. No “cinto da pobreza”, desde o Leste de Arkansas até o cruzamento com o rio Mississipi, vivem amontoados em pequenos povoados 9,4 milhões de pessoas, dos quais 1,7 são pobres. Todos os índices estatísticos são piores nessa área do país. O abandono da escola secundária, que é de 4,4% na média nacional, alcança 5,5% nos Estados do sul. A mortandade infantil, que é de sete por mil no país, sobre ali até 10 por mil. Os “countries” mais pobres sequer têm ligação a Internet e a maioria da população não têm cobertura de saúde.
Também em Nova Iorque O prefeito Giuliani, com o pretexto do delito, erradicou milhares de homeless (sem teto) que moravam nas ruas de Manhattan e fechou os refúgios que tinham em inver-
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Já desde o final da década de sessenta, aumenta e se acentua a exploração e a desigualdade social no país do Norte. A tendência se aprofunda tanto nas épocas de crise quanto nas fases de crescimento econômico, como na década de noventa ou na atual. A marginalização atinge especialmente os negros e os hispânicos, mas também importantes setores da classe operária branca.
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no. Depois veio a especulação imobiliária: subiram os impostos e alugueis bairro por bairro, na medida em que se levantavam grandes complexos imobiliários. Assim, foram deslocando os velhos habitantes do Harlem negro, das áreas latinas do Brooklin e dos bem cotados bairros do sul da cidade.
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A superexploração dos ilegais latinos
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As mobilizações dos hispânicos, que culminaram na impressionante jornada do 1º de Maio contra a nova legislação imigratória, puseram de manifesto a realidade da comunidade latina. Existem 12 milhões de “indocumentados”, que realizam os trabalhos com a pior remuneração. Por exemplo, o salário mínimo é de 5,50 dólares a hora, com o qual é impossível viver dignamente. O aluguel de uma casa em Albuquerque, Novo México, custa 1.500 dólares mensais e nos Estados mais caros, como Nova Iorque e Califórnia, sobe a 2.000. Uma das áreas de maior concentração latina é Califórnia: em San Diego, Sacramento, Los Ángeles, San Francisco, San José, Oakland e Berkeley, se concentram quase todas as multinacionais das novas tecnologias, cujo símbolo é Bill Gates e a Microsoft. Detrás disto, porém, se esconde a mais brutal exploração de dúzias de milhares de trabalhadores latinos que moram nessas cidades, a cargo das atividades mais desqualificadas -como faxina e consertos, terceirizados pelas grandes empresas, onde também a especulação imobiliária faz quase impossível alugar uma moradia digna, são perseguidos cotidianamente pela “migra” e têm um governador que ameaça com tirar deles até os menores direitos.
A decadência do Detroit e da classe operária branca A velha classe operária branca norteamericana, fortemente sindicalizada, ocupava a área industrial dos Estados de Michigan -com Detroit à cabeça, Wisconsin (Milwaukee), Illinois (Chicago), Chita (Indianápolis) e Ohio (Cincinnatti e Columbus), com uma enorme presença da Central Sindical AFL-CIO durante os anos 50 e 60. Hoje a realidade é muito diferente. A deterioração salarial é muito forte. Uma pesquisa do Filadélfia Inquirer mostra que, enquanto os lucros dos executivos melhor pagos cresceram 951% entre 1975 e 1995 cinco vezes a taxa da inflação, os salários de mais de 73 milhões de trabalhadores e empregados de todas as empresas privadas subiu só 142%, por debaixo de da taxa de inflação do período, que foi de 183%. A perda de milhões de bons empregos tem sido uma das causa do aumento da pobreza. Mais de 43 milhões de postos de trabalho tem desaparecido desde 1979. Os dados do Ministério de Trabalho mostram que só 35% dos que perdem um emprego, encontram outro igual, ou melhor pago que o anterior. Os 65% restantes têm que ficar contentes com receber menos, trabalhar horas a mais e, com freqüência, em outra localidade, a centos ou milhares de quilômetros da sua cidade de origem. Uma das características das últimas décadas é a queda na taxa de sindicalização. A central AFL-CIO tinha organizado, há 50 anos, 35% da força de trabalho. Hoje, essa percentagem caiu a 12%, num total de 12 milhões de filiados. É notável a diferença no salário de um posto de trabalho num lugar sindicalizado com relação a um outro que não está: um caixa da Wall-Mart, empresa que proíbe a sindicalização, recebe 8
dólares por hora, enquanto na Cadeia Ralphs, onde os trabalhadores estão filiados ao sindicato, a empresa viu-se obrigada a pagar 18 dólares pelo mesmo trabalho.
O único país do mundo sem cobertura universal de saúde Uma das maiores vergonhas do Imperialismo Ianque é o seu sistema de saúde. O Estado não tem nenhum mecanismo para certificar o acesso a este serviço para todos os seus habitantes. Supõe-se que todo norte-americano deve pagar o seu próprio sistema particular de saúde, ou bem individualmente, ou através das empresas nas quais trabalha. Estas sequer têm a obrigação de filiar o trabalhador a algum plano. E cada vez oferecem cobrir menos benefícios de saúde a seus empregados. Assim, muitos têm uma parte dos seus serviços cobertos pelo Medicaid (que teoricamente é o serviço para os pobres). Todo isto faz que 52 milhões de pessoas tenham cobertura por parte do sistema para pobres Medicaid, o qual ano trás ano sofre cortes e cada vez cobre menos serviços. O mais trágico, porém, é que existem nos Estados Unidos outros 46 milhões de pessoas (16% do total da população) que diretamente não têm acesso a nenhuma cobertura de saúde, nem sequer ao Medicaid, e devem, portanto, pagar em dinheiro à vista os horrorosos preços pelo atendimento médico ou se resignar a não ser atendido. Estes Estados Unidos profundo é o que começa a se rebelar. A classe trabalhadora ianque, com as suas distintas histórias e culturas, branca, hispânica e negra, se levanta contra o escândalo da exploração e a miséria no país mais rico do mundo.
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Conferência da International Socialist Organization (ISO)
A participação refletiu o despertar das lutas sociais nos EUA Sem dúvida, essa multitudinária participação de lutadores e ativistas, em sua grande maioria jovens, é o reflexo do dinamismo que tem adquirido as lutas sociais naquele país, em virtude das gigantescas mobilizações de trabalhadores imigrantes, fundamentalmente latino-americanos. Lutas precedidas pela greve do transporte de Nova Iorque e pelos protestos contra a desídia discriminatória e racista do governo Bush diante das conseqüências do furacão Katrina, em Nova Orleáns, que colocou às claras a enorme desigualdade social e a fragilidade das comunidades pobres da principal potência imperialista do mundo.
As mobilizações dos imigrantes: o grande catalisador Numa das palestras realizadas no contexto da conferência, intitulada “O novo movimento pelos direitos dos imigrantes”, participou Nativo López, talvez o mais importante dirigente das mobilizações contra a lei de imigração de Bush, da cidade de Los Angeles, e membro da Mexican American Political Association, uma das organizações impulsionadoras do boicote do 1º de Maio. O 1º de maio norte-americano de 2006 converteu-se em um fato inédito na Vista parcial da conferência da ISO
história dos Estados Unidos, país no qual se produziram os acontecimentos trágicos que deram lugar para que essa data fosse reconhecida internacionalmente como o Dia do Trabalhador, mas no qual, contraditoriamente, não se realiza nenhuma atividade para lembrar os mártires de Chicago.
A conferência deu seu apoio à Venezuela e aos dirigentes classistas da UNT Também teve um lugar privilegiado nos salões da Colúmbia University, o processo revolucionário que vive a Venezuela. Realizaram-se duas palestras, uma dedicada a rechaçar a intervenção norte-americana na Venezuela; e outra, a cargo de Miguel Ángel Hernández, docente universitário, dirigente do Partido Revolução e Socialismo (PRS), venezuelano, e membro da Unidade Internacional dos Trabalhadores (Corrente Majoritária), a qual aprofundou a análise da conjuntura política desse país, a situação atual e as contradições do processo revolucionário, a dinâmica do movimento operário e da União Nacional de Trabalhadores (UNT), particularmente, a luta do setor classista da central sindical, em defesa da autonomia e da independência da UNT com relação ao governo, contra as tendências burocráticas, mais ligadas ao governo Hugo Chávez. A palestra do companheiro Hernández contou com uma significativa audiência,
com mais de uma centena de pessoas. Foi grande o interesse que despertou o debate entre os assistentes, evidenciado nas numerosas reflexões e questões formuladas ao expositor. Como conseqüência de uma proposta apresentada à Conferência por parte do companheiro Hernández, na sessão final, celebrada no dia 25 de Junho, cerca de mil pessoas presentes no auditório, aprovaram, por aclamação, uma resolução de apoio ao processo revolucionário venezuelano, e de rejeição à ingerência imperialista no país. Aprovado, também, o respaldo aos dirigentes classistas da UNT, Orlando Chirino, Stalin Pérez Borges, Richard Esperto e Rubén Linares, e contra a campanha de calúnias que vêm sofrendo por parte dos setores burocráticos da central sindical, campanha essa que tem o único objetivo de desmoralizar àqueles que lutam por manter à UNT independente frente ao governo e na luta pelo aprofundamento da revolução.
Solidariedade com os dirigentes da Corrente Classista da UNT venezuelana A resolução adotada pela Conferência 2006 da ISO, diz: “Apoio ao processo revolucionário na Venezuela, contra os ajustes do imperialismo e solidariedade com os dirigentes da Corrente Classista da União Nacional de Trabalhadores, Orlando Chirino, Stalin Pérez Borges, Rubén Linares, Richard Esperto, e demais dirigentes classistas, que enfrentam uma campanha de calúnias contra eles”.
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ob o impacto das grandes mobilizações dos imigrantes, realizadas nas mais importantes cidades dos Estados Unidos, contra as leis racistas do governo Bush, aconteceu, na prestigiada Columbia University de Nova Iorque, a Conferência Socialismo 2006. A Conferência foi organizada pela International Socialist Organization (ISO), partido da esquerda radical norte-americana. O evento anual, que reúne numerosos intelectuais de esquerda, assim como ativistas operários e populares dos Estados Unidos e de outros países, recebeu, este ano, 1500 participantes que vieram de diversos estados do país. Conforme os organizadores, 500 pessoas a mais do que no ano passado.
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