Volume 1, edição 1
Setembro de 2014
A Lira J
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Camões do Brasil
C O M P R E E N D A A L I R A
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Mal do Século (Publicações de Poesias Românticas de antigamente e contemporânea dirigidas à alguém em especial).
A escola das letras lhes foi útil por apenas quatro meses. O que o tornou um dos maiores poetas de nosso país foi a escola dura e seca da vida.
Classificados Poéticos (Produção de Haicais).
A Pedra no Caminho (Divulgação de eventos literários, ofertas de cursos, notícias do mundo poético).
Penso, logo Existo… (Publicações livres de artistas).
Pseudônimo (Editorial).
N E S T A E D I Ç Ã O :
Pseudônimo
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Mal do Século—Eduardo e Mônica dos tempos modernos
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A Pedra no Caminho— Patativa do Assaré
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Epitáfios—Triste Partida
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Classificados Poéticos
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Antônio Gonçalves da Silva nasceu no município de Assaré, CE, em 05 de março de 1909. Sua poesia é tão bela que ele mereceu ser apelidado de Patativa, em comparação ao canto majestoso da ave. Aos oito anos de idade, ficou cego do olho direito. Frequentou a escola tradicional por apenas quatro meses, tempo necessário para se alfabetizar e se encantar pela poesia. Suas produções
E d u a r d o
Quem um dia irá dizer Que existe razão Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer Que não existe razão?
E com esses simples versos da canção de Renato Russo, iniciamos o dra-
exaltam o árido universo da caatinga nordestina e o povo sofrido e valente do sertão. A política também foi tema recorrente em sua poesia. Criticou o regime militar, participou das “Diretas Já” com a publicação do poema “Inleição Direta 84”. Tornou-se conhecido nacionalmente quando Luiz Gonzaga gravou “Triste Partida”, obra de sua autoria. Morreu no dia 08 de julho de 2002, aos 93
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anos, em consequência de falência múltipla dos órgãos, em sua casa em Assaré.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Patativa_do_Assar%C3%A9
M ô n i c a d o s M o d e r n o s ma de amor do nosso Leitor “Dirceu”, que apaixonou-se por sua “Marília” em uma festa da república… No começo, era apenas uma amizade colorida, regada a muita vodka e whisky 15
T e m p o s
anos, afinal, quando se está “alto” por conta dos efeitos do álcool, o mundo fica muito mais colorido…
P á g i n a
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L i r a
Segue o Seco P o r
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Muito antes de 1964, quando Luís Gonzaga gravou “Triste Partida”, Patativa já retratava uma realidade comum ao nordestino: o problema da seca. Porém, a ideia de descrever a dor da partida do retirante, seu trajeto de perdas e mais perdas até chegar a São Paulo e a desilusão ao se deparar com uma realidade pouco esperançosa da cidade grande, trazia, implicitamente, a ideia de que era possível peregrinar em busca da água. Hoje, 2014, a tal da “terra da garoa”
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passa por, talvez, sua pior crise de estiagem em séculos. Nós, paulistas, paulistanos, nordestinos, estrangeiros e habitantes desse trecho da serra do mar, enfrenta o racionamento de abastecimento de água (apesar do governo jurar que não é motivo para pânico), convive com brigas políticas com o Rio de Janeiro em relação ao funcionamento de nossas hidrelétricas e procura a cada dia dançar conforme a música até que venha a chuva. Diante do exposto,
fica o seguinte questionamento: para onde peregrinaremos? A desesperança de hoje é muito maior que a de 64! O que é encantador no artista matéria de capa desta edição de nosso jornal, é que sua sensibilidade em cantar a falta da chuva no nordeste prediz as consequências da finitude dos recursos naturais explorados de maneira inconsequente. O que nos move a refletir sobre mais um ponto: será que quando não tivermos mais para onde ir, será tarde de-
Fonte: http://f.i.uol.com.br/ fotografia/2014/05/14/392541970x600-1.jpeg
mais para pensar em desenvolver uma atitude sustentável? Que a Literatura nos impulsione a apreciar mais que o cerne das palavras, mas a essência do que somos enquanto parte da natureza.
“E os dois comemoraram juntos E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E d u a r d o e M ô n i c a d o s T e m p o s M o d e r n o s
E todo mundo diz que ele completa ela E vice-versa, Que nem feijão com arroz.” Renato Russo E o nosso poeta romântico Dirceu, resolveu então tentar conquistar sua Marília dedicando-lhes seus sublimes versos: Amor
Amor
do
Palavra tão pequena
Por toda a eternidade
Mas que me leva até o calor dos seus braços
E então, sinto meu peito arder
E no meio dos seus abraços
Todas as vezes que me imagino no emaranhado dos seus cabelos
Me faz até perder o ar.
Apenas quatro letras Carregadas de muitos sentimentos… Sentimentos que me transportam até você.
Em nosso leito de amor. Amor Uma vontade louca de ter você comigo Cada minuto, cada segun-
Dirceu sem Marília. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/6LX7vo4UpWs/UUS1_IP5KGI/ AAAAAAAAAZE/PorgthICbBA/s1600/ viva+o+amor!.jpg
V o l u m e
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e d iç ã o
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P á g i n a
Camões do Brasil Ele viveu toda sua vida de for- do. E assim ficou Patativa do ma simples e com dignidade, Assaré. Ave tipicamente norcantando como quis e de im- destina, traduziu o sertão, disproviso, ao modo dos poetas secou sentimentos em versos, repentistas, as mazelas e an- recebeu homenagens, mas seios do seu povo: do povo nunca aceitou voar para longe mais puro, sofrido e humilde de sua terra, apesar dos convido Brasil, especialmente o do tes. Sensível à miséria e ao Nordeste. Ele foi, em muitos analfabetismo que sempre dosentidos, a voz da consciência minou o sertão, usou sua poecoletiva dos sertanejos oprimidos, inconformados e rebelados contra a miséria secular e a opressão do latifúndio. Uma voz sempre altaneira clamando contra as injustiças e as desigualdades sociais. Não almejava utopias, Fonte: http://www.miseria.com.br/ mas via na dinâfotos_not/2012/07/08/20120708002714_meio.jpg mica da natureza a explicação para se exigir as igualsia como protesto contra o dades. abandono do nordestino, conAntônio Gonçalves da Silva tra a seca e contra o descaso nasceu no dia 5 de março de 1909 na localidade de Serra de dos governantes. Santana, zona rural do município de Assaré, cerca de 600 km ao sul de Fortaleza. O apelido, ele ganhou aos 20 anos, em viagem ao estado do Pará. Um jornalista da cidade, comparava a espontaneidade de seus versos à pureza do canto de uma ave típica do nordeste, a patativa. Contudo, naquela época, diversos cantadores usavam o mesmo nome artístico, então veio a idéia de fazer referência à cidade de Antônio, diferenciando-o de outras patativas que estavam surgin-
Aos 16 anos, adquiriu uma viola e começou a fazer improvisações seguindo a tradição sertaneja dos violeiros. Autodidata, conheceu clássicos da poesia como Guimarães Passos e Olavo Bilac, dos quais leu o famoso "Tratado de Versificação", e também Camões e Castro Alves. Com este último, o poeta dizia ter uma identificação muito grande, já que ambos cantavam em defesa dos oprimidos. Em 1937 casou-se com Belarmina Paes Cidrão. O casamen-
to durou 57 anos: D. Belinha, como era chamada, faleceu em 1994. No meio acadêmico, Patativa encantava a intelectualidade por construir estrofes utilizando estruturas presentes nas regras clássicas. Ele dava muita importância à metrificação e compunha seus versos, sem lápis e sem papel, guardando tudo na sua memória. No poema abaixo, ele pede licença para versar os prazeres e o sofrimento do homem do campo e colocar o que pensa sobre a poesia sem rima. A política também nunca ficou distante de Patativa. Subiu no palanque pela anistia dos presos políticos, na época da ditadura, e defendeu o movimento das "Diretas-Já". Patativa do Assaré fale- Eu sou de uma ceu no dia 08 terra que o povo de julho de 2002, aos 93 padece anos de idade, Mas não esmorece vítima de uma e procura vencer. pneumonia dupla, além Sou brasileiro, filho de uma infec- do Nordeste, Sou ção vesicular e complica- cabra da Peste, sou ções renais. do Ceará. Seu enterro foi acompa- Patativa do Assaré nhado por cerca de 20 mil pessoas .
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CLASSIFICADOS POÉTICOS
Roseana Murray
R O S E A N A M U R R A Y
Procuro um amor bandido,
http://www.roseanamurray.com
Daqueles que fazem chorar, Assaltam o coração da gente, Tanto que não queremos mais amar. Procuro um amor honesto, Repleto de gentilezas,
Fonte: http://www.roseanamurray.com/fotos/ Roseana6-md.jpg
Que traz a paz dum verde pasto, Que afasta qualquer tristeza.
Troco um fusca branco por um cavalo cor de vento um cavalo mais veloz que o pensamento Quero que ele me leve pra bem longe e que galope ao deus-dará que já me cansei deste engarrafamento…
Procuro um amor pra vida inteira, Que encha essa vida chata, Sem eira nem beira. Tratar: Laetitia Di
Tratar: Roseana Murray
Epitáfios Triste Partida – Patativa do Assaré (trecho) Rompeu-se o Natal
Meu Deus, meu Deus
Porém barra não veio
Sem chuva na terra
Mas nada de chuva
O sol bem vermeio
Descamba Janeiro
Tá tudo sem jeito
Nasceu muito além
Depois fevereiro
Lhe foge do peito
Meu Deus, meu Deus
E o mesmo verão
O resto da fé
Na copa da mata
Meu Deus, meu Deus
Ai, ai, ai, ai
Buzina a cigarra
Entonce o nortista
Ninguém vê a barra
Pensando consigo
Agora pensando
Pois a barra não tem
Diz: "isso é castigo
Ele segue outra tria
Ai, ai, ai, ai
não chove mais não"
Chamando a famia
Ai, ai, ai, ai
Começa a dizer Meu Deus, meu Deus
http:// imguol.com/c/ noticias/2014/02/04 /4fev2014--reservatorio-dosistemacantareira-dasabesp-principal-
Apela pra Março
Eu vendo meu burro
Que é o mês preferido
Meu jegue e o cavalo
Do santo querido
Nós vamos a São Paulo
Senhor São José
Viver ou morrer