Revista Um Giro pelo Graja - edição 2 (dez. 2014)

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Dezembro 2014 | Edição nº 2

Revista


Fotografias:

Eq ui pe

Adriano Santos Edilson Lisboa Israel Dantas

Textos Denis Nascimento Evi Sitri Helen Sefer Thaísa Nascimento Thaís Bernardo

Adriano

Revisão Andrea Viana

DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Denis

Caroline Pires e Diana Freixo Studio Azulê

Patrocínio VAI (Valorização das Iniciativas Culturais) Secretaria Municipal de Cultura

Edilson


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Somos estudantes de 14 a 20 anos de idade da escola Maria Juvenal, situada no extremo Sul do Grajaú, no bairro Castro Alves.

Através de oficinas de jornalismo que aconteceram na escola, pelo projeto Um giro pelo Graja (contemplado pelo VAI), nós produzimos essa revista. Nosso grupo conta com 8 pessoas, todas estudantes do ensino médio. A Helen é nossa mascote, uma garota supimpa! É tímida e fica vermelha com facilidade. A Thaís é muito comunicativa e adora expor suas opiniões, já o Dênis gosta de dançar, cantar e fazer vídeos. O Edilson é o palhaço da turma, super talentoso e toca vários instrumentos. O Adriano, mais conhecido como San, dança vários estilos e adora grafitar. A Evi Sitri dança, canta, adora escrever e muito mais.

Evi

Divirtam-se!

Israel

Helen Thaís

Thaísa


índice

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Cia Humbalada

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Cia Louco’tores

10 pagode da 27 er l a G

ia

s a u R da s

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Mitus Lima

13

Vários grafiteiros

12 Ateliê Daki


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Você

ainda n ã o

v i u

17

O q uG ei r or

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v a i . . .

Fa l a a í !

s a b e r

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faça seu giro (cruzadinha)

21a

N a d a r Queb ! Tem


Cia

Humbalada A Margem

A Cia Humbalada entre o mês de setembro e outubro apresentou um espetáculo que fala de situações importantes do cotidiano, de um jeito diferente e com bastante humor. O espetáculo “A margem” foi apresentado na beira da represa Billings pelos atores Tatiana (26), Bruno César (27), e Vanessa (24), representando três nômades em suas “caminhanças”.

O coletivo que começou através das oficinas do vocacional de teatro com jovens do extremo sul de São Paulo. Tendo atualmente sua sede no Grajaú, seus espetáculos geralmente são apresentados em espaços abertos para que o público seja surpreendido e tenha a chance de poder participar e interagir. Eles se consideram atores e atrizes marginais, até porque, geograficamente, estão na margem da cidade. Com este espetáculo eles foram literalmente à margem, na beira da represa. Quando perguntamos como fazem as escolhas dos locais para as apresentações a atriz Vanessa nos respondeu:


“Na verdade resolvemos dar nome as nossas pesquisas e a gente dá esse nome do ator e atriz marginal e entra dentro de um contexto da gente estar a margem como atores e atrizes, como um grupo que trabalha num contexto de teatro que não é grandioso e que também não deseja sair em novelas, TV, fazer musicais. É um teatro de pesquisa que é considerado marginal e também geograficamente estamos a margem.”

Apesar da simplicidade e modéstia, e por ser um grupo de teatro de rua, que já foi contemplado pelo VAI (Valorização das Iniciativas Culturais) e pelo Fomento, a Humabalada já apresentou um de seus espetáculos no México. Essa oportunidade surgiu através de um festival que participaram em Hortolândia, onde conheceram um grupo de mexicanas que perceberam que o tipo de teatro da CIA se identificava com o Cabaré - modelo muito praticado no México. Bruno nos contou dos desafios: “Traduzimos o nosso espetáculo em espanhol. Foi legal porque vimos que nossa pesquisa, que fala da mídia, religião, política, e

como esses três poderes conversam. Lá também tem o capitalismo, que permeia o mundo inteiro, e esses poderes estão manipulando a gente o tempo inteiro e no mundo inteiro.” Mesmo com as diferenças culturais e linguísticas, Bruno completa que “no México é a mesma coisa”. Tatiana nos conta que o grupo sente que conquistam melhor o público quando esse é pego de surpresa, seja no trem ou na rua, do senhor que está voltando do trabalho ou da senhora que foi dá uma passada no mercado, afinal, aquele público não estava preparado e não sabia que ia assistir uma peça teatral. Com isso eles se sentem mais “atravessados” e se atravessam mais.

Quando perguntados sobre o que sentiam ao ver o público rindo daquilo que eles apresentam o grupo nos respondeu que acham que não há nada mais do que uma identificação do público, afinal, as pessoas sorriem daquilo que entendem, então entendem que o caminho é aquele, e os leva a pensar: “Que riso e esse? O que nós estamos propondo?”.

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cia “ est e es P etÁC u Lo n os t raz Mu itas eMoÇ Ões e Qu est ion aMen t os s ob re n os s os iD eais e C oMo v eMos as P es s oas a n os sa v oLta”. Alex Leandro

O monólogo “Como sempre somos motivos de chacota” da CIA Louco’tores, contemplada pelo VAI, é um espetáculo que traz diferentes histórias de travestis e garotas de programa. Tudo começou quando eles ainda estavam com o espetáculo “O cortiço” e haviam sobras do cenário. Isso mesmo! A partir disso, eles estudaram alguns dramaturgos e tiveram a ideia de fazer um trabalho sobre

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travestis, utilizando essas “sobras”. Durante a entrevista, o protagonista da peça, Alex Leandro, nos contou que o que mais o comoveu foi ver que muitas vezes as travestis são vistas como bichos, mas que ao conversar com algumas delas, percebeu o quanto são amigas. Ele também falou sobre o seu irmão que é travesti, e como o barulho do seu salto o incomodava, por isso a cena se inicia com o mesmo barulho.


louco’tores O espetáculo foi apresentado para público de todas as idades, inclusive crianças, sendo necessárias adaptações para algumas cenas. O problema social envolvido no monólogo é a ausência da família: alguns traumas dentro de casa, a falta do aconchego e compreensão, podendo exercer influência para que essas pessoas busquem nas ruas alguma forma de suprir o vazio, principalmente por se sentirem excluídos. “Este espetáculo nos traz muitas emoções e questionamentos sobre nossos ideais e como vemos as pessoas a nossa volta”.

FiC H a t É C n iC a D r aMaturgia: aLex LeanDro DireÇão: J osÉ raMos C e n o gr aFi a e i L u Mi n aÇão : MiCHeLLY Dos santos P r oDuÇão: giseLe raMos

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pagode Nos reunimos e fomos entrevistar um dos grupos mais reconhecidos do Grajaú, o Pagode da 27. Lá entrevistamos dois dos onze integrantes, que foram o Ricardo Rabelo e Jefferson Santiago, ambos músicos, compositores e fundadores do pagode. O grupo surgiu através de alguns encontros entre amigos para compor, cantar e relembrar sambas de diversos tempos e gerações. Aos poucos foram crescendo e ganhando repercussão passando a se apresentar em vários lugares, sua música alcançou um jogador de futebol Luisão em Portugal os fazendo ganhar mais um fã, como tantos outros incluindo Caetano Veloso. Histórias e fatos cotidianos são suas inspirações.

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“ eu c omecei c om 1 2 an os t o can do balde” Ricardo Rabelo


pagode

Podemos ver que sonhos não estão tão longe de se tornar reais. De alguma forma temos que começar “Eu comecei com 12 anos tocando balde” diz Ricardo Rabelo, e vemos que muitos jovens tem vários talentos, que podem se destacar em suas comunidades e, quem sabe, na cidade.

da

2 7

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G aleria

s a Ru das

Ateliê Daki O Ateliê Daki é um espaço cultural que contribui com a ampliação do repertório cultural da região do Grajaú. Abrindo espaços para poesias, obras de artes que ficam expostas e podem ser compradas, o espaço também propõe diálogos sobre cultura e melhorias para o nosso Graja.


Vรกrios grafiteiros Em um sรกbado a escola Maria Juvenal foi aberta para a comunidade e recebeu as cores no muro pelos grafiteiros Thainรก Neves - ร ndia, LPDS, Alex Jardim - Cabelo, Raul, dentre outros.

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G aleria

s a Ru das

Mitus lima, 31 Grafiteiro há mais de 10 anos, opta por fazer seus grafittis comercias. Já viveu disso e hoje, mesmo sendo mais por hobby, ele aplica oficinas para a garotada que curte o grafitti. Nas fotos, feitas próximo à Estação Primavera da CPTM, ele recebeu ideias de seu consultor especial, Pedro Henrique, 9, seu filho.

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Pediram-me uma poesia, Achei engraçado, não sou poeta, Mais sei escrever palavras. Inspiro-me no mundo, na liberdade, Num sofrimento, Chamado coragem. Como disse Renato “Ter coragem é ter bondade”. Bondade rima com verdade, Verdade verdadeira de querer Conquistar o que Não se pode ter, Ter alguém pra eternidade, Ter liberdade da pátria, liberdade que só pode ser conquistada, pra quem procura-lá Gabriel Pereira, 18 Estudante da Escola Maria Juvenal

Você

ainda n ã o

v i u Dentro de mim existem vários mundos E todos estão desabando. Já pensei em desistir, Mas meus muros me impedem de sorrir. Queria sorrir, ser livre, voar Quem sabe morrer e renascer pra tentar me entender. Gritar, chorar, sentir, doer Talvez escrever todos os sentimentos que me fazem morrer. Não queria ser poesia, mas tudo que estou vivendo Pode ser uma real fantasia Gustavo Bismarch, matemático

Raul Zeferino, 20, estudante do Maria Juvenal


São Paulo tem mais de 180 pontos de poesia e aqui vamos conhecer melhor Os Retirantes, um grupo performático poético que trabalha com rap e com experimentações. Formado por Robert Holanda, Jean Gonçalves, Amadio, Davi e Ulisses, o grupo nasceu a partir de uma vontade de fazerem uma homenagem a todos os nordestinos, mesmo não sendo todos os integrantes descendentes de nordestinos.

M e conta

tudo !

O G i r o q u e r s a b e r

Os entrevistados pelo Giro foram Robert Holanda e Jean Gonçalves, confiram: Quem deu o maior incentivo? Jean: Na verdade nem nós sabíamos o que estávamos fazendo, se ia dar certo, foi mais um querer fazer do que uma pessoa empurrar em forma de incentivo, foi uma vontade conjunta de fazer a poesia e levar a palavra que juntou e formou o grupo. O que você acredita que o seu trabalho acrescenta em nossa comunidade? Jean: Eu fui um incentivado. Eu ficava na praça aprendendo a tocar violão, tinha um rapper, colega nosso, ficávamos trocando rima e pensei “Poxa, eu também posso escrever”, mas na verdade eu não queria fazer rap. E fazendo do jeito que faço nas escolas, no meu bairro, alguém pode ver, gostar e acrescentar também. Nosso trabalho tá nisso, no fazer e no

levar. Os Retirantes não quer ser só poesia e música, quer ser também teatro, rap, quer ser rock, punk, quer ser uma orquestra, quer ser tudo e o que a gente traz e é a união. Vocês tiveram muita dificuldade? Ainda tem? Robert: A dificuldade nada mais é que incentivo, e o governo nem sempre incentiva e isso é um desafio, não problema, e a gente supera. Se formos parar pra pensar, as crianças da escola talvez aprenderam mais o que é a poesia em um sarau do que em cinco anos de aula.

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Faça seu (Cruzadinha)

Vocês se inspiram em obras? Jean: Sim, claro, em músicas também. Mas nosso trabalho é referência política, referência das ruas, claro que nos aprofundamos em Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, entre outros, mas muitas inspirações vêm da rua. O que vocês acham da

7) Sarau do Grajaú

cultura do Grajaú? Robert: Nossa, tem muita coisa boa. Quando se fala do Grajaú, muitas pessoas pensam no Criolo, que por sinal tem um bom som, mas além dele tem muitos outros por aí, como o Expresso Perifa, Imargem - Grafiteiros, Teorema dos Restos. Final de semana sempre tem muita cultura e geralmente tudo é grátis.

6) CAPS 5) Liberdade 4) Os Loucotores 3) Ateliê Daki 2) Corpografia 1) DocArte

Vocês sempre gostaram de poesia? Na verdade a gente se encontrou na poesia e cada um em seu momento. Trabalhamos também com a Maria Vilani, no fórum de Cultura do CAPS.

Dicas

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giro

TESTE SEUS CONH E SOBRE CIMENTOS A CUL T DA NO SSA R URA EGIÃO DIVI R TA - SE !

1

2 3

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Vertical

Horizontal

1. Coletivo que apresenta talentos periféricos 2. Transformando movimento em arte 3. Espaço onde diversos artistas se reúnem para expor suas ideias e produzir arte 5. Você é livre, seu sobrenome é? 6. Tem como fundadora Maria Vilani

4. Como sempre somos motivo de chacota 7. Batizado com o nome do nosso distrito


VAI . . .

Fa l a a í ! Jovens talentosos, mas não valorizados A palavra talento, quando pronunciada, remete ao talento de cantar, interpretar ou algo do tipo. Mas talento não se resume somente a isso. Em muitas quebradas existem grandes talentos que não são valorizados, talvez pelas suas origens. Na nossa periferia temos todo tipo de talento: os que cantam, dançam, que desenham como ninguém e mais, às vezes alguns não se encaixam nessas “categorias”, porém, têm uma inteligência incrível que, se tivessem melhores

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condições de estudos, poderiam se tornar grandes cientistas, prefeitos e, dependendo do seus dons, poderiam conquistar ou alcançar patamares inimagináveis. A sociedade tem a necessidade de rotular tudo que é certo ou errado, tudo que é arte ou rabisco e julga aquilo que seria “normal”. Essa mesma sociedade tem dificuldade em aceitar pessoas iguais a mim e a você que está lendo. Você que tem o dom e que vai ser o futuro da nossa nação, lute por ela, nunca desista, porque um dia você chega lá!

Dênis Junior


Rua Professor Oscar Barreto Filho, 252 - Pq. América

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Na a d a r b e u Q ! Tem !

Márcio Nogueira - Supervisor de Cultura: (11) 59249135 / (11) 5925-4943 marcionogueira@ prefeitura.sp.gov.br

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Espaço que oferece oficinas, atividades, cursos e eventos gratuitos para a comunidade, todos os dias da semana.

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Casa de cultura

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pagode da 27

espaco cia humbalada Um espaço dedicado para apresentações teatrais e musicais (11) 5661-6534 - Sede (11) 98858-1717 - Cristiane Rosa (11) 97680-2315 - Malu Chrisostomo humbalada@terra.com.br

Um grupo de samba que toca todos os domingos, também recebendo várias convidados para se juntarem a roda. O espaço é aberto para todo o público Rua Manoel Guilherme dos Reis, Grajaú. (Antiga Rua 27)

Av. Jequirituba, 83 - Jd. Primavera (em frente à estação de trem Primavera-Interlagos)

21


Charge - helen sefer

Equipe Um Giro pelo Graja


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