03OGaribaldi

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03OGaribaldi R EVISTA SÊLO ⌖ O GOLPE


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Quando Fátima acorda ainda é muito cedo. Ela pega um Marlboro vermelho (como a nossa pele) e acende. Senta de pernas abertas em uma cadeira – vai se levantar em breve pra passar mais um café – e pede que o grupo entre para el taller. Quem acredita que o primeiro é que marca? Também o segundo pode ser delicioso. Fátima distribui tapas. Os poemas não são ruins, mas é preciso tempo. É preciso também música e desenho. Um pouco de cachimbo e cânhamo. Um pouco de encontro e afetação. Um pouco de voz viva ecoando pelas salas em que Fátima entra para ouvir e ser um pouco dos poemas. A vida é um não caber e essa é a 03OGaribaldi.

Socos e pontapés, OGaribaldi.

Juiz de Fora, maio de 2015.

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MANIFESTO

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Fátima Toledo – Imagem do Google


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SUMÁRIO

O POEMA III.MARÍLIA NO MUNDO A COISA ESTRANHA A VIAGEM INTERIOR DE UM POETA MURAKAMI ME TROUXE AQUI O CORRESPONDENTE DE SAÍDA QUEM ESTÁ EQUIPE

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O POEMA CAPÃO REVISITADO ADRIANO SMANIOTTO Não sei de que bairro você é. Eu sou do Capão da Imbuia, lado leste da cidade, onde não há prédios nem playgrounds, e a serra ao longe ensina lições de repúdio à Curitiba. anote aí: 25º26´ de latitude 49º12´ de longitude mais a vontade de estar longe e essa eterna incompletude O pai dizia: “é a última bola de capotão que eu compro, não vá por no macadame” como é que eu ia explicar pra galera nosso time tinha jogo o Alviverde do Capão a camisa verde abacate foi a camisa feia mais linda que eu já vesti foi o Sergião que tingiu o Everaldo me derrubou

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eu levantei orgulhoso e falei pro Leco bater cabeceei de peixinho 1xO pra nós até hoje vale mais que um mundial O Pancho segurou tudo no gol Hoje ele está morto Hoje é um ontem que reinvento a todo custo A Fernandinha era linda hoje é prostituta colocamos quinze bombas caseiras no muro da casa dela só pra ela nunca mais nos chacotear Eu mesmo de soltador de foguete na casa do vizinho Ascendi pra professor Tenho vizinho que diz que eu Até escrevinhei uns livros Capão da Imbuia Sempre comigo Capão, você me ensinou a rebeldia e a revolução época de ameixas, madeixas e améns quem tinha dread não curtia sertanejo cabelo era cabelo com 15 eu e o Marcelo deixamos meu padrinho dizia que eu era veado

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minha mãe falou, ele é poeta, o corte é igual ao Castro Alves, meu padrinho disse: O Castro Alves era o Castro Alves, eu aceitei aquilo como um desafio a Jussara e as bandas punks e darks meus poemas na parede do bar da dona Dinica onde fiz minha carteirinha de sinuca oficial Mercearia Dalke o falecido seu Pedro mostrava mulher transando com cavalo quando a gente ia comprar doce de amendoim um dia de porre eu caguei bem no buraco da fechadura dele fiz só para alegrar meu amigo quando descemos do madrugueiro minha vida, minha risada, minha poesia Foi o capão que me privou de ser um burocrata, O capão me salvou. Eu estou limado, Foi minha triagem, Essa é minha escola Maria Aguiar O Marcelo mandou uma carteira do segundo andar

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O Mamed assustava a gente só com o nariz O Guidas e o Marinho guentaram o Daniel Cortamos a orelha da Ana Paula puxamos o brinco dela em quatro O Luisinho, o Denilsinho e o Rodela... Naquela tarde passei a mão na guria ela me pegou na corrida tomei um tapa mas até hoje foi a melhor bunda proibida que peguei Capão, o time do Almir era o mais temido do grêmio ele foi me ver num recital ficou orgulhoso quando me vê de longe ele grita FALA POETA, já a dona da espelunca não queria nem que a poesia existisse Capão foi a minha ascese meu ás, minha catequese a gente ia na missa das dez o grêmio já tava jogando eu olhava admirado nem sabia que ali do lado de fora 30 anos antes minha mãe tinha admirado o camisa 7 meu pai,

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ponta direita e primeiro tesoureiro hoje só tem a igreja e as lembranças toda grama e toda areia viraram sobrados da gente que nunca viu a mangueira aqui atrás de casa nem o lago, nem meu avô João Rosa, cego, cuidando do seu gado Capão, você é aquele carrapeta da TZL subindo com a bandeira do Charles Chaplin, era domingão a fogueteira debulhou lá em cima, todos vimos, você é a Caça-Balões, a Amizade, a Cobras do Ar e é claro a Pirâmide e a Turma da Bruxa que foram as minhas turmas Capão, meus vizinhos, meus amigos, minhas invenções e travessuras Capão, Um dia, bacana estrangeiro, Vai aprender a soletrá-lo:

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A-r-r-u-i-a c-a-p-ã-o d-a i-m-b-u-i-a, Capão, eu estou ficando velho. Por isso vim aqui cantá-lo, acho que você um dia, eu não queria, vai ter que acabar,

Capão, talvez esta estranha vida seja um arremedo daquela infância genuína, você é o meu Recife de Bandeira, a minha Lisboa de Pessoa, toda uma vida inteira graça, glória e ruína, minha essência verdadeira.

©Renão – Fátima Toledo 02 | 2015

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III.MARÍLIA por Anelise Freitas Novamente aquele barulho. Ao longo do dia Marília já havia ouvido aquele barulho cerca de quatro vezes, sem contar na hora do almoço, enquanto comia pequenos pãezinhos e engolia um pouco de chá. Enquanto estava no trabalho aquele barulho parecia fazer mais sentido: um carimbo atingindo constantemente uma folha de papel. Em casa poderia parecer loucura, mas ali, no trabalho, aquele barulho do carimbo atingindo constantemente uma folha de papel parecia conter muita verdade. Agora já passa das 15h e Marília pode ter algum conforto: hora da pausa, leitura e mais um pouco de chá. As folhas são tão macias, enquanto essas palavras soam tão duras. O livro tem um cheiro bom, mas o carimbo não para de atingir constantemente uma folha de papel. Em casa acende um cigarro e começa a digitar mais uma carta. É preciso sentar à máquina com ao menos dois litros de chá e alguns cigarros. As cartas se acumulam sem resposta e é preciso não deixá-las ali, sem um destino. Marília digita as letras, que formam palavras e se encadeiam sintaticamente, mas não há sentido. No dia seguinte é preciso depositá-las para que cheguem ao destinatário. Ao entrar no prédio das correspondências não consegue ver, mas escuta os carimbos atingindo constantemente uma folha de papel ou um envelope que será levado, provavelmente, a sua casa. Mais uma pilha de cartas chega ao seu endereço. É preciso sentar à máquina com ao menos dois litros de chá e alguns cigarros. As cartas se acumulam sem resposta e é preciso não deixá-las ali, sem um destino. Marília digita as letras, que formam palavras e se encadeiam sintaticamente, mas não há sentido. No dia seguinte é preciso depositá-las para que cheguem ao destinatário. A máquina se nega a escrever, pifou. Não há desespero em seus olhos, mas a boca é trêmula e as mãos

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suam. Como escrever essa carta? Como? Pega um livro, acende mais um cigarro, bebe outro litro de chá, escuta os carimbos atingindo constantemente uma folha de papel ou um envelope (é preciso ouvir algo além desses carimbos). Não! Acabou, não há como escrever sem essa máquina. Amanhã não chegará mais nenhuma carta! Não! No dia seguinte Marília sai mais cedo do trabalho e acende mais um cigarro. Pega um táxi, mas a cidade está engarrafada e os carimbos atingem constantemente uma folha de papel, um envelope ou outra coisa qualquer. É preciso descer ali mesmo. Estica sua bengala, coloca os óculos escuros, anda pela passarela em relevo e alguém lhe oferece ajuda para atravessar a rua. Não pode ver, mas do outro lado a placa da loja diz: “conserta-se máquinas de escrever”. Hoje não vai poder escrever, mas pela tarde deve chegar mais uma carta de Marília. 16

©Isabela D’Ávila – Juiz de Fora | 2012


NO MUNDO com Igor Werneck Imagine abrir os olhos e encontrar a pessoa amada posando diante de você, com todos os adornos possíveis ou sem nenhum, vestida de maneira qualquer ou nua. Olhando para o modelo, você desenha uma figura retilínea, tendo certeza de que possui dois braços, duas pernas e uma cabeça. Você é agora um artista? Os elementos essenciais, é claro, estarão lá, mas sem o detalhamento característico as curvas pessoais, a sombra e o carvão esfumaçados nos cantos sem luz, a dança da iluminação no cabelo, a fotografia instantânea da expressão facial – o que você possui é, apenas ainda, uma figura de palitos. Traduzir é, sempre, esse equilíbrio entre o apelo simbólico às recorrências e o detalhamento ad infinitum que a linguagem permite. Nas palavras de Paulo Bezerra, no prefácio da premiada tradução de Crime e Castigo: “a tradução nos obriga a ir às últimas consequências, ao fundo do poço à procura do sentido mais próximo de determinada palavra ou expressão nas circunstâncias concretas da sua enunciação”. Traduzir o Futurismo é ter certa predileção por esse mergulho profundo na circunstância da enunciação, ou, melhor ainda, se lembrar de quando éramos crianças e gostávamos dos quebra-cabeças, das imagens em cadeia pelas quais a lógica dos encaixes ia criando tecido. Mergulhar no desconhecido para encontrar o novo, como defende Baudelaire: “às profundezas do abismo, céu ou paraíso, isso importa? / mergulhar no desconhecido para encontrar o ignoto”. Antes da denominação genérica de “Cubo-Futuristas”, que atravessaria o século XX e assinaria a contribuição russa para o pensamento vanguardista, se formava o grupo “Hylaea”, no inverno de 1910, pelos irmãos David, Nikolay e

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Vladímir Burliuk, Benedict Livshits, Vasily Kamensky, Velimir Khlebníkov, Vladímir Mayakóvski e Aleksei Krutchenykh (esses dois últimos com entrada em 1911). Com a junção de Krutchenykh e Maiakóvski, o grupo se viu munido de um novo fôlego e, com isso, apostou em um programa mais radical em relação à linguagem, tomando como base os trabalhos em filologia de Aleksander Potebnia e formulando assim o conceito de Zaum’, ou seja: um tipo de linguagem que se formularia atrás (za) da mente (um’), isto é, um modelo de língua totalmente inédito, sem os princípios e parâmetros da gramática natural. Publicado em 1913, “A palavra como ela mesma” inaugura uma nova direção estética de desenvolvimento da palavra como tal; entre as muitas combinações abstrusas de montagem e remontagem do signo, o grafema poético seria cunhado em partes ligadas pela mera associação sonora, harmônica e imagética, fornecendo à sintaxe pressão necessária para o rompimento da linguagem tradicional e hegemônica: “Nós acreditamos que linguagem precisa ser, acima de tudo, língua”. É também no supracitado manifesto que Krutcheonykh, tido pelos poetas nacionais como aquele que “melhor sentiu a língua russa”, lança seu mais famoso poema transracional “Dyr, Bul, Shiyl”, no qual opera com a pedra fundamental da teoria da não referencialidade da poesia, cara aos formalistas russos. Nesse trabalho, também, se encontram afirmações do conceito de coloração e discussões acerca do dinamismo das formas e do metro característico russo, trabalhados a posteriori por Iuri Tinianov, em seus inúmeros ensaios e artigos relacionados ao tema. No que concerne à tradução, procuramos conservar o que há de mais conciso e arejado na língua russa. A ausência de determinados conectivos, artigos e a presença pouco pigmentada de algumas locuções verbais, principalmente no tempo presente, faz com que o mergulho no experimento cerebral futurista seja um

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desafio um tanto maior do que as habilidades de quem o traduz, mas o efeito encantatório, quase demiúrgico, é sentido em cada escolha de palavras, em cada simbiose de radicais e em cada nova referência criada. Dessa forma, chamamos a atenção para as diversas notas de rodapé encontradas ao longo do trabalho, que, em certa medida, modulam bem o campo líquido de operação das palavras pensadas para nascerem e morrerem nesse mesmo texto. Certas escolhas, como Bayatch’ e Retchetvortsy, a primeira com tradução livre para “acordeão” ou, dependendo da raiz, “sentimento de calma e sossego por conta de se ouvir poesia” – e a segunda, podendo ser traduzida como “inventor de discursos ou palavras” – são exemplos da inventividade morfossemântica do Futurismo Russo. No primeiro caso, optamos pela composição do termo “charme”, por conta da união foto semântica da imagem musical (representada por acordeão, um instrumento bastante comum no país) e da imagem do sujeito que opera calmaria por meio de versos (como descrito nas notas de rodapés), assim sendo, compomos a imagem de uma espécie de “modo de dizer tipicamente poético”, mas que se assemelharia a um contexto erótico de encantamento e magia, tal como em charm, do inglês, mas que dificilmente, no contexto presente, se sustentaria como “encanto”. Tudo isso apenas comprova o quão infinito é o processo de tradução de uma obra, principalmente se inserida no contexto técnico-científico do início do século XX. Esperamos que o leitor possa encontrar no presente manifesto um apoio ao muitas vezes obscuro caminho da Teoria da Literatura e que, caso se sinta encorajado, amplie seu horizonte linguístico-cultural com a beleza das linhas russas. Prefácio à Tradução Igor Werneck

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СЛОВО КАК ТАКОВОЕ О художественных произведениях 1. Чтоб писалось и смотрелось во мгновение ока! (пение, плеск, пляска, разметывание неуклюжих построек, забвение, разучивание, В. Хлебников, А. Крученых, Е. Гуро; в живописи В. Бурлюк и О. Розанова). 2. Чтоб писалось туго и читалось туго неудобнее смазных сапог или грузовика в гостиной (множество узлов, связок и петель и заплат, занозистая поверхность, сильно шероховатая. В поэзии Д Бурлюк, В. Маяковский, Н. Бурлюк и Б. Лившиц, в живописи Бурлюк, К. Малевич). У писателей до нас инструментовка была совсем иная, например: По небу полуночи ангел летел И тихую песню он пел... 20

Здесь окраску дает бескровное пе... пе... Как картины, писанные киселем и молоком, нас не удовлетворяют и стихи, построенные на па-па-па пи-пи-пи ти-ти-ти и т. п. Здоровый человек такой пищей лишь расстроит желудок. Мы дали образец иного звука и словосочетания: дыр, бул, щыл, убещур скум вы со бу р л эз (Кстати, в этом пятистишии более русского национального, чем во всей поэзии Пушкина).


Не безголосая, томная, сливочная тянучка поэзии (пасьанс... пастила..), а грозное баячь: Каждый молод, молод, молод, В животе чертовский голод. Так идите же за мной... За моей спиной Я бросаю гордый клич Этот краткий спич! Будем кушать камни, травы, Сладость, горечь и отравы. Будем лопать пустоту, Глубину и высоту. Птиц, зверей, чудовищ, рыб, Ветер, глины, соль и зыбь. (Д. Бурлюк) До нас предъявлялись следующие требования языку: ясный, чистый, честный, звучный, приятный (нежный) для слуха, выразительный (выпуклый, колоритный, сочный). Впадая в вечно игривый тон наших критиков, можно их мнения о языке продолжить, и мы заметим. что все их требования (о, ужас!) больше приложимы к женщине как таковой, чем к языку как таковому. В самом деле: ясная, чистая (о, конечно!) честная. (гм!.. гм!..), звучная, приятная, нежная (совершенно правильно!), наконец, сочная, колоритная вы... (кто там? Входите!). Правда, в последнее время женщину старались превратить в вечно женственное, прекрасную даму, и таким образом юбка делалась мистической (это не должно смущать непосвященных, - тем более!..). Мы же думаем, что язык должен быть прежде всего языком, и если уж напоминать что-нибудь, то скорее всего пилу или отравленную стрелу дикаря. Из вышеизложенного видно, что до нас речетворцы слишком много разбирались в человеческой "душе" (загадке духа, страстей и чувств), но плохо знали, что душу создают баячи, а так как мы, баячи будетляне, больше думали о слове, чем об затасканной предшественниками

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"Психее", то она умерла в одиночестве, и теперь в нашей власти создать любую новую... Захотим ли? Нет!.. Пусть уж лучше поживут словом как таковым, а не собой. Так разрешаются (без цинизма) многие роковые вопросы отцов, коим и посвящаю следующее стихотворение: поскорее покончить недостойный водевиль о, конечно этим никого не удивишь. жизнь глупая шутка и сказка старые люди твердили... нам не нужно указки и мы не разбираемся в этой гнили... Живописцы будетляне любят пользоваться частями тел, разрезами, а будетляне речетворцы разрубленными словами, полусловами и их причудливыми хитрыми сочетаниями (заумный язык). Этим достигается наибольшая выразительность и этим именно отличается язык стремительной современности, уничтоживший прежний застывший язык (см. подробнее об этом в моей статье "Новые пути слова") (в книге "Трое"). Этот выразительный прием чужд и непонятен выцветшей литературе до нас, а равно и напудренным эгопшютистам (см. "Мезонин поэзии"). Любят трудиться бездарности и ученики. (Трудолюбивый медведь Брюсов, пять раз переписывавший и полировавший свои романы Толстой, Гоголь, Тургенев), это же относится и к читателю. Речетворцы должны бы писать на своих книгах: прочитав, разорви! А. КРУЧЕНЫХ и В. ХЛЕБНИКОВ (1913)

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A PALAVRA COMO ELA MESMA Sobre as obras de arte: 1. Para escrever e perceber em um piscar de olhos! (Cantando, espirrando, dançando, construções desajeitadas, esquecimento, prática, V. Khlebnikov, A. Krutchonykh, E. Guro; na pintura: V. Burliuk e A. Rozanov). 2. Para escrever e ler os inconvenientes enquanto se apertam as botas, ou enquanto houver um caminhão na sala de estar (a pluralidade de nós, ligamentos e loops e patches, superfície acidentada é mais difícil. Na poesia: A. Burliuk, Vladímir Maiakóvski, Nikolai Burliuk e B. Livshits, na pintura: Burliuk, Malevitch). A instrumentação dos escritores era bem diferente, por exemplo: No céu da meia noite um anjo voou, E cantou uma música tranquila... Aqui há cor sem derramamento de sangue to... tr... Como pinturas, geleias feitas à mão e leite, não nos satisfazem, também, os versos construídos em: Pa-pa-pa Pi-pi-pi Ti-ti-ti Etc.

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À pessoa saudável, tal alimento vai apenas perturbar o estômago. Damos um exemplo de outro som e frases: дыр, бул, щыл, убещур скум вы со бу р л эз 1

(A propósito, nessa quintilha há mais do nacionalismo russo do que em toda a poesia de Pushkin). Essa não é uma poesia sem voz, languida e cremosa, como uma bala de café, mas um formidável charme2: Todo mundo é jovem, jovem, jovem, Em um estômago diabolicamente faminto. Sigam-me, então... Lanço um apelo orgulhoso Esse discurso breve! 1

Poema Zaum’, em linguagem transracional, criado pelo futurista Krutchionykh, na ocasião do presente manifesto. Os sons, em transliteração aprovada pelo Instituto Pushkin, na Rússia, se dão: Dyr, Bul, Shiyl, Ubeshiur Skum Vy So Bu r l éz Баячь (Bayatch’): Palavra com raiz dupla, sendo a primeira ‘Bayan’ (acordeão), e a segunda ‘Bayukat’ (calmaria, ou calmaria por conta de se ouvir poesia); além disso, há a derivação ‘Obayanie’, que significa charme, isto é, um ‘homem encantador, uma pessoa que tem seu próprio tipo de poesia’. 2

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Comeremos pedras, ervas, Adocicadas, amargas e venenosas. Vamos estourar o vazio, Profundo e alto. Pássaros, animais, monstros, peixes, Vento, argilas, sal e ondulação. (D. Burliuk) Para nós, os seguintes requerimentos à linguagem foram impostos: limpeza, pureza, honestidade, sonoridade, suavidade na audição, expressão (convexa, pitoresca, suculenta). Caindo no tom eternamente brincalhão dos nossos críticos, é possível continuar suas opiniões sobre linguagem, e notaremos que seus requerimentos (oh, horror!) são mais aplicáveis à mulher como ela é do que à linguagem como ela é. Realmente: limpa, pura (oh, é claro!), a honesta. (uhm!.. uhm!) sonora, gratificante, suave (perfeitamente!) pelo menos, suculenta, pitoresca... (quem está aí? Entre!). Entretanto, recentemente a mulher foi julgada para ser transformada em ‘eternamente feminina’, fina senhora, e, assim, tornou-se a ‘saia mística’ (que não deve confundir os não-iniciados, especialmente!). Nós acreditamos que linguagem precisa ser, acima de tudo, língua, e se é para rememorar alguma coisa, que seja uma serra ou uma seta envenenada do selvagem.

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No que foi dito acima, é visível que, para nós, o enunciador3 entendeu muito bem o ‘espírito’ humano (paixões e sentimentos), mas compreendeu parcamente como criar um espírito brando do estilo, e nós – os escravos do amanhã4 pensamos na palavra, mais do que os desgastados antecessores “psique” (ela morreu sozinha) e agora está em nós o poder para criar qualquer novo... Se vamos querer? Não!... Deixe a palavra viver melhor assim, mas não nós mesmos. Eles são tão resolvidos (sem cinismo), muitas perguntas fatais de pais a quem eu dedico o seguinte poema:

Para terminar um pouco mais rápido O vaudeville indigno – Oh, é claro Não surpreenderá ninguém com ele. vida piada boba e conto de fadas pessoas velhas vem e vão não é necessário para nós, os ponteiros e não entendemos esta tal decadência...

Речетворцы (Retchetvortsy): Criador de discurso ou de palavras – “Retch’” (discurso) e “tvorit’” (criar), na forma arcaica (tvortsy), poderia denominar um termo mais antigo, caído em desuso. 4 Баячи будетляне (Bayatchi Budetlyane): algo como ‘futurescravos’, ou escravos do amanhã. Se referia ao grupo ‘Гилея’ (Hylaea), de Moscou, que durou de 1910 até 1914 e se transformou no primeiro grupo Cubo-Futurista da vanguarda futurista, na Rússia. 3

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Os pintores do amanhã gostam de usar partes de corpos, cortes, e os enunciadores do amanhã usam palavras cortadas, meias palavras e suas combinações bizarras e estranhas (a linguagem abstrusa). Esse tipo de construção atinge a maior das expressividades, e a língua difere nela do pronto presente, a língua ‘endurecida’ que destruiu a antiga (veja em mais detalhes no meu artigo “novas maneiras da palavra”, no livro “Troe”). Essa expressão receptiva é estranha e fica pouco claro para a desbotada literatura. Falta o talento e os pupilos gostam de trabalhar (o trabalho duro de Bryusov, Tolstoi copiando e polindo cinco vezes as novelas, Gogol, Turgeniev), o mesmo tipo de trabalho pertence ao leitor. O enunciador deveria ter escrito em seus livros: Tendo lido, caia fora! 27

A. Krutchonykh e V. Khlebnikov (1913)

©Renão – Fátima Toledo 02 | 2015


A COISA ESTRANHA ASTRONAUTA AUGUSTO GUIMARAENS CAVALCANTI

ele corre por bares & avenidas persegue cartazes & outdoors anda pelas ruas que já esqueceu o nome navega por todos os futuros velhos 28

seus movimentos anunciam galáxias com os olhos a brincar pelas frestas deixando as madrugadas fora do ar com suas asas queimando nas calçadas de sol quem se ilumina por dentro é um astronauta dançando pela gravidade do chão acende seus cigarros com luas de fumaça anjo terrestre com o fogo nas mãos


ARMANDO FREITAS FILHO A VIAGEM INTERIOR DE UM POETA por Ramon Nunes Mello “toda viagem / se faz por dentro / como as estações / se fabricam, invisíveis / a partir do vento / silenciosas / como quando um pensamento / muda de tempo e de marcha / distraído de si, e entra / em outro clima / com a cabeça no ar:”

Os versos do livro Longa Vida (1982), do poeta Armando Freitas Filho, traduzem um pouco do percurso de sua obra, onde “toda viagem é interior”. E também “anterior”, pois sua poética é fundamentada pelos seus pares, principalmente por poetas que o próprio Armando elegeu como “Santíssima Trindade’”: Manuel Bandeira (1886-1968), João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) este último, considerado o “pai” de sua poesia.

Com mais de cinco décadas de dedicação à literatura, e 75 anos de vida, Armando Freitas Filho pratica diariamente o fazer poético em sua “oficina”, no segundo andar da casa na Urca onde mora desde 1969. Cristina, com quem é casado há 33 anos, o filho mais novo, Carlos, de 22, são testemunhas do labor do autor, que já produziu dezenas de livros. O processo criativo do poeta foi registrado por Walter Carvalho, que filmou o documentário, ainda inédito, Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície, sobre a vida e obra.

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Desde sua estreia com Palavra (1963) - que aliás foi entregue, por recomendação de Cleonice Berardinelli, a Manuel Bandeira que considerou o livro do aspirante a poeta “interessantíssimo” -, Armando publicou obras importantes para a lírica brasileira, como, por exemplo: De corpo presente (1975), À mão livre (1979), Paissandu Hotel (1986), Cabeça de Homem (1991), Números Anônimos (1994), Fio Terra (2000) e Numeral Nominal (2003). Os títulos estão juntos em Máquina de escrever – poesia reunida e revista, publicado em 2003, em comemoração aos quarenta anos de sua produção.

O poeta e ensaísta Sebastião Uchoa Leite (1935-2003), em texto crítico sobre os versos de Armando, afirmou que “assim como na teoria astrofísica o Universo está em contínua expansão, a poesia de Armando Freitas Filho nos remete para um microcosmo – o da relação entre dois signos (poesia/vida) interligados – que nos parece em processo contínuo de irradiação para um universo mais amplo e diversificado”.

Consciente dessa “autobiografia poética” que, em 2009, Armando lançou Lar, - o “livro da memória” – considerado pelo próprio autor, a mais relevante seleta de sua obra: “Lar, é o livro mais importante que já escrevi. Por quê? Porque é um livro onde a veste está mais rasgada. Literatura é sempre uma veste. Esse livro é o que mostra mais o coração”.

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Mais recente, em 2013, comemorando cinco décadas de carreira, lançou o volume de inéditos Dever, onde está presente a própria investigação sobre sua trajetória poética, percepção da passagem dos anos sobre o corpo, o senso de finitude e a consciência do tempo – por último, tema caro ao poeta e apontado como elemento fundamental para entendimento da obra, pela crítica Viviane Bosi.

Para a professora e ensaísta Heloisa Buarque de Hollanda, idealizadora da antologia 26 poetas hoje (que em 1975 evidenciou a “poesia marginal” de autores como Chacal, Torquato Neto e Ana Cristina Cesar) é categórica ao afirmar que “Armando é, antes de mais nada, um grande poeta”.

“E isso não é coisa que se diga a toda hora. Um grande poeta, como Armando, é aquele que alia talento e sensibilidade com um árduo artesanato diário, disciplinado, insatisfeito, ganhando assim perícia, músculos e controle de seu instrumento, a palavra. Esse é o dia a dia de Armando (sou testemunha), cuja poesia encanta mas exige também do leitor algum exercício a mais de cumplicidade com o poeta.”, analisa Heloisa, amiga pessoal de Armando há algumas décadas, partindo para a confidência: “Armando é andarilho, tem uma sensibilidade gastronômica bastante peculiar, pensa com muito humor (mas nem sempre assim se expressa), é hipocondríaco e tem um sentido de amizade rara nos dias de hoje. Esqueci de dizer que, até algum tempo atrás o poeta Armando escrevia em pé. Como sua poesia.”

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Armando Freitas Filho além poeta de respeito e sensibilidade notável, é o “guardião” da obra de Ana Cristina Cesar, desde do suicídio em 1983, sendo responsável pela republicação e organização de toda a obra da amiga, inspiração de inúmeros poemas.

Dando continuidade no fio dessa teia literária, a jovem poeta Alice Sant’Anna, que assinou em parceria Armando Freitas Filho o livro Pingue-Pongue (2012), retratou a amizade entre os Ana C. e Armando no poema ‘quando armando e ana se conheceram’ (Rabo de Baleia, 2013):

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©Isabela D’Ávila – Juiz de Fora | 2014


“passou a usar tênis depois que ela disse / que lhe caíam bem os tênis / com uma pequena argola branca / cobrindo aquele osso do pé como se chama / ela própria sempre em seu par fúcsia / não era bem rosa era mais / cor de morango / esperava na ponte perto do pilotis / vestia sempre cores fortes e cabelos / enquanto as outras naquela época em seus coques tão polidas / um anel bruto que ela tinha e não tirou dos dedos / perguntou se ele queria ficar com o anel / era grande de prata imagino unissex / que ele gostava de rodar quando se encontravam / rodar o anel no ar / mas não quis ficar com ele ou talvez / não tenha entendido a urgência da pergunta / feita assim como quem / não quer nada / o anel talvez tivesse ficado guardado / em uma caixa de joias e enferrujasse / esquecido de tão precioso ou pelo contrário se arranhasse / com o uso diário é possível / que ainda não tenham inventado / uma maneira eficiente de se conservar / anéis ou argolas do tênis / prata de um azul-celeste ou era fúcsia’”

Que a vida do poeta Armando Freitas Filho seja cada vez mais longa, uma viagem repleta de versos. Para que possamos apreciar seus poemas - bela lição de humildade – e a olhar as coisas em busca de novos ângulos. Afinal, a viagem é anterior, mas contínua.

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©Otávio Campos – Fátima Toledo 02


MURAKAMI ME TROUXE AQUI por Laura Assis

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Leio a última frase de O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, fecho o livro e me sento na frente do computador. Abro o navegador e, digitando apenas a letra “y” e apertando o enter, chego na página inicial do Youtube. No campo de busca, escrevo “Le mal du pays”. Escolho o segundo vídeo, cujo título é “Liszt Années de pèlerinage - I. Suisse - 8. Le mal du pays” e, enquanto soam os primeiros acordes da interpretação de Lazar Berman, começo a escrever este texto. Uma mulher presa em uma roda gigante avista a janela do seu apartamento e vê a si mesma lá dentro. Um homem em um avião escuta uma canção dos Beatles e lembra de uma promessa que fez à namorada de seu melhor amigo. Uma mulher tenta escapar de um engarrafamento e desce uma escada de emergência que a


transporta para um universo paralelo. Um homem obcecado pela construção de estações passa horas observando as chegadas e partidas dos trens e não tem para onde ir. Um homem sofre um acidente misterioso na infância e adquire a habilidade de conversar com gatos. Certas cenas dos romances de Haruki Murakami me lembram sempre uma frase de Sérgio Sant’Anna: “Entre todas as histórias possíveis, certamente já terá acontecido alguma como esta.” Tsukuru Tazaki é o construtor de estações que não tem nenhum lugar para onde queira ir. E entre tantas histórias impossíveis, talvez essa seja uma das mais possíveis. Neste livro Murakami se distancia um pouco – mas não completamente – dos elementos fantásticos ou surreais que marcam outros de seus romances e se concentra na crua realidade da tristeza e da solidão. Depois de experimentar uma amizade profunda e duradoura com um grupo de mais quatro amigos no ensino médio, Tsukuru perde seu lugar no mundo quando esses mesmos amigos um dia o informam que nunca mais querem vê-lo. Sem justificativas ou possibilidade de argumentação, Tsukuru é removido do grupo. E é aí que se dá o início de seu processo de esmaecimento, exatamente o ponto no qual o romance começa: “De julho do segundo ano da faculdade até janeiro do ano seguinte, Tsukuru Tazaki viveu pensando praticamente só em morrer”. A palavra “esmaecer” tem origem no latim “exmagare”, que em português resultou também em “esmagar”. “Exmagare” teria o sentido de “tirar a força de alguém”, ou algo próximo a isso. Entretanto, hoje no português, enquanto “esmagar” tem o sentido de uma destruição ativa, “esmaecer” está ligado a palavras que denotam mais passividade, com um significado mais próximo de “esmorecer” e “desaparecer”, por exemplo. Alguns dicionários trazem como primeiro sentido de “esmaecer”: “desbotar, perder a cor”.

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Entretanto, o esmaecimento de Tsukuru é uma condição que, para ele, mesmo antes de ser expulso, já era inerente à sua existência dentro daquele grupo de amigos, uma vez que ele era único cujo sobrenome não remetia ao nome de uma cor: “O dos dois rapazes era Akamatsu – ou ‘pinheiro vermelho’ – e Ômi – ‘mar azul’. O das garotas, Shirane – ‘raiz branca’ – e Kurono – ‘campo preto’. Somente Tazaki não se encaixava nessa coincidência. Por isso Tsukuru se sentiu um pouquinho excluído desde o início. (...) Como se fosse algo natural, os quatro logo passaram a se chamar pelo nome de cor: Vermelho, Azul, Branca e Preta. Somente ele permaneceu Tsukuru.”.

Enquanto escrevo os parágrafos anteriores, pesquiso palavras em alguns dicionários etimológicos e procuro e copio citações do livro, a música, que tem apenas seis minutos e oito segundos, acaba. Dou play novamente e volto a escrever. Mas, antes de digitar qualquer coisa, aumento o volume.

A metáfora da ausência de cor no sobrenome é tão importante quanto a história do primeiro nome do protagonista. O nome “Tsukuru” significa “construtor” e tem duas possibilidades de ideograma, com sentidos muito parecidos, mas enquanto um tem uma ideia mais ligada à criatividade, o outro tem uma significação mais ligada ao comum e prosaico e foi essa segunda opção a escolhida pelo pai do protagonista. Tsukuru, o construtor comum e com sobrenome incolor, definido como aquele que não tinha peculiaridades ou nada que o diferenciasse de todo mundo, se encontrou no mundo quando se sentiu parte daquele grupo de cinco amigos e, ao perder isso, perdeu também a si mesmo.

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O livro se constrói então na busca que Tsukuru empreende dezesseis anos depois do telefonema que comunica sua exclusão do grupo. Entretanto, mais do que procurar respostas, ele vai passar – ou peregrinar – pelos anos, lugares e pessoas que o fizeram ser quem é. E é a partir disso que ele vai tentar entender sua existência, suas experiências e memórias. Entre essas memórias, há uma música que sempre era tocada ao piano pela amiga Branca e que – como Tsukuru descobre muito tempo depois – é um trecho de uma composição de Liszt chamada “Le mal du pays”, expressão francesa de difícil tradução, mas que estaria próxima do inglês “homesick” e no mesmo campo semântico de palavras do português como “melancolia”, “nostalgia” e “saudade”. Ou, no universo do livro, a falta que faz tudo aquilo que não deveria ter se perdido no fluxo do tempo.

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Acho que terminei o texto. Devo ter escutado a música mais ou menos oito ou dez vezes. Volto ao Youtube para dar play mais uma vez enquanto releio o que escrevi, mas antes resolvo dar uma olhada nos comentários do vídeo. Vejo que eles estão tomados por leitores do mesmo livro sobre o qual acabei de escrever. Inglês, francês, espanhol e japonês são os idiomas que consigo identificar. Alguns agradecem ou elogiam o autor, outros contam que estão lendo ou leram o livro, ressaltam como o tema e os personagens têm relação com a música ou transcrevem citações do romance. Mas a maioria apenas informa: Murakami me trouxe aqui.


O CORRESPONDENTE Frederico Spada traduz Maria Borio Come si forma la neve come si forma il vetro come la differenza di temperatura tra qui e fuori diventa la mia famiglia, il vetro mastica, il fuoco mastica come il fumo arriva dalle case calde, dal cemento che esala o dagli uccelli neri. Dietro alle grate di ferro ci sono i vetri opachi, dietro i vetri c’era il magazzino, c’è una scuola materna con i bambini del paese, c’ero io a trovare nell’erba sotto le finestre, ci sono io ascoltandoli adesso come fossi una mamma che fa ripartire gli uccelli neri da un palmo. Eppure vorrei dargli quello che dà un padre, il padre concentrato a difendere e aumentare, piantare altri alberi, conoscere l’archivio. La tradizione è una strana orma che il centro del mio corpo lascia alle congestioni atmosferiche con un’idea inverosimile perché contava l’erba e vedeva le grate per sapere come si tenevano alla terra e al muro.

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Molti anni fa ero in mezzo a quei bambini e pensavo di non esserlo. Molti anni avanti mi diranno l’opposto e l’identico, come si vede, come si forma la neve come si forma il vetro, come accade sempre dentro, nessuno l’aspetta.

** Como se forma a neve como se molda o vidro como a diferença de temperatura entre aqui e lá fora se torna minha família, o vidro mastiga, o fogo mastiga, como a fumaça chega das casas aquecidas, do cimento que exala ou dos pássaros negros. Atrás das grades de ferro há vidros opacos, atrás dos vidros havia o depósito, há uma escola infantil com as crianças da região, aí estava eu a descobrir na relva sob as janelas, aí estou eu escutando-as agora como se fosse uma mãe que afugenta os pássaros negros com as mãos. Contudo gostaria de lhes dar o que dá um pai, o pai atento a defender e aumentar, plantar outras árvores, conhecer o arquivo. A tradição é um estranho rastro que o centro de meu corpo deixa no céu fechado com uma ideia inverossímil

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porque contava a relva e observava as grades para saber como se seguravam à terra e à parede. Faz muitos anos estava em meio àquelas crianças e pensava em não estar. Muitos anos depois como se vê, me dirão o mesmo e o contrário como se forma a neve como se molda o vidro, como acontece sempre dentro, ninguém o espera.

⌖ Come si trova l’immutabile, chi appoggia la testa sul seno, chi crede il padre in molti. Accorgersi che un frammento di giornata ha detto “per ogni centesimo” e il frammento successivo “il denaro non ha peso”. Accorgersi del resto nelle parole di un uomo che crede in te col sangue e il desiderio di una spiaggia tirando ai fianchi il cartone e la plastica, la plastica che diventa carne, la carne che è già un figlio. Così penso i processi di un’ora, armi microscopiche che tengono i polsi. E infine vederlo lì, saperlo felice, sapere di sé sempre meno restituendosi a un punto,

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trasformando la corsa in un’altra persona, nella verità tua mentre muori con la plastica e le rocce, unico sopra il mare. Saperlo lì, non sapersi. Tutta la violenza del mondo d’improvviso annullata.

** Como se encontra o imutável, quem repousa a cabeça sobre o seio, quem crê o pai em muitos. Perceber que uma parte do dia disse “qualquer centavo”, e a parte seguinte, “o dinheiro não pesa”. Perceber o resto nas palavras de um homem que acredita em ti com o sangue e o desejo de uma praia lançando ao largo o papelão e o plástico, o plástico que se torna carne, a carne que é já um filho. Assim penso os processos de uma hora, armas microscópicas que mantêm os pulsos. E, finalmente, vê-lo ali, sabê-lo feliz, saber de si sempre menos retornando a um ponto, transformando a corrida em uma outra pessoa, na verdade tua enquanto morres com o plástico e as rochas, único sobre o mar.

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Sabê-lo ali, não saber. Toda a violência do mundo subitamente anulada.

⌖ Quasi alla fine, dove puoi arrivare come puoi, che qualche decennio ha dato la via ai titoli, alla rappresentazione – quando invece non c’è più e ci sei, riconoscersi è personale. Le tue mani sono carte, i tuoi occhi sono fari, dal primo all’ultimo momento sei una storia, non ti menti, non rappresenti, il piacere e il dovere finché vive o esplode o è la stessa tua faccia dei trent’anni. Ma stanotte atterro come un aereo, batto sulle foglie, sui rami, sui tronchi – la foresta meravigliosa si è spaccata, piante aguzze ti prendono.

** Quase no fim, aonde se chega como se pode, quando algumas décadas abriram caminho aos títulos, à representação – quando, ao contrário, mais não há e aqui está você, reconhecer-se é pessoal. As suas mãos são mapas, os seus olhos são faróis,

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do primeiro ao último momento você é uma história, não mente para si, não representa, o prazer e o dever até quando viver ou explodir ou ser a mesma a sua cara de trinta anos. Mas esta noite aterrisso como um avião, bato sobre as folhas, sobre os ramos, sobre os troncos – a floresta maravilhosa se abriu, os espinhos o prendem.

⌖ E’ possibile che altri segni ti raggiungano come terre lontane di cui pronunci i nomi a metà e a seguire l’imperfetta lezione che sta male dentro la memoria dove sono passati quindici anni. Ho più chiara negli occhi la copertina del mensile con il paesaggio lucido e la cornice gialla. Riporto tutto al semplice come potessi toccare con le mani la pelle di chi vive ai confini del deserto freddo. Tocco quello stesso odio che raggiunge tutti e con nomi diversi annaspa, la pietà ai meridiani schiariti ora dopo ora mentre il sole si sposta ai vari gradi, la pietà che si forma,

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l’odio che in qualcuno è inespugnabile. Dico la lezione a memoria, dico male, a queste e a quelle longitudini le differenze esistono, continuano e cambiano. E’ il grado del sole, del vento, della donna con il volto di terra rossa sulla copertina del mensile, delle immagini proiettate. E così gli uomini che tirano in alto i mostri o li abbattono sono uomini, e i paesi sono paesi e diversi e nel diverso cerchi le sentinelle che ci salvano, che portano a un centimetro dall’acqua. Poi sulla lunga strada interna mi chiedo se era più facile toccare la pelle attraverso la carta.

** É possível que outros sinais te alcancem como terras distantes de que pronuncias os nomes pela metade e acompanhando a imperfeita lição que vai mal dentro da memória quando se passaram quinze anos. Tenho mais clara nos olhos a capa do mensário com a paisagem lúcida e a moldura dourada. Simplifico tudo novamente como se pudesse tocar com as mãos a pele

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de quem vive nos confins do frio deserto. Toco aquele mesmo ódio que alcança a todos e com nomes diversos se confunde, a piedade nos límpidos meridianos ora depois ora enquanto o sol se move vários graus, a piedade que se forma, o ódio que em alguém é inexpugnável. Digo a lição de memória, digo mal, nestas e naquelas longitudes as diferenças existem, continuam e se alteram. É o grau do sol, do vento, da mulher com o rosto de terra vermelha sobre a capa do mensário, das imagens projetadas. E, assim, os homens que lançam ao alto os monstros ou os abatem são homens, e os países são países e diversos – e no diverso buscas as sentinelas que nos salvam, que levam a um centímetro da água. Em seguida, sobre a longa estrada interior, me pergunto se era mais fácil tocar a pele através do papel.

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Soppesi la mia vocazione, non esagero, poi parli dei passi più veri, non ci credo. Così vale adesso la conta di gradi e virtù, come mi hai chiesto e ancora chiedi chi siamo, cose di vento, cose che chiamano.

** Pesas minha vocação, não exagero, depois falas de passos mais reais, não creio nisso. Assim vale agora a soma de graus e virtudes, como me perguntaste e ainda perguntas quem somos, coisas de vento, coisas que chamam.

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DE SAÍDA CAFÉ PORTO ANELITO DE OLIVEIRA

Queria que a morte me encontrasse bêbado. Queria estar iludido com a existência como conseguimos nos iludir bêbados. Tenho lembranças leves de quando me sentia bêbado, embora nunca tenha estado totalmente bêbado. Quando li “Le bateau ivre” aos ouvidos na voz de Augusto de Campos, 1993, talvez, concluí que nunca se sabe exatamente o que é estar bêbado. Não estaria totalmente dentro da verdade se dissesse agora que aprendi com “Le bateau ivre” o que é estar bêbado. Nunca estive bêbado depois nem antes de “Le bateau ivre” na minha língua na voz de Augusto. Nunca estive bêbado antes de “Le bateau ivre”, de Rimbaud e de Augusto. Estar bêbado foi e continua a ser um projeto para mim. Lembro das noites nas ruas de Engenheiro Navarro, Montes Claros e Belo Horizonte, Lembro-me das tardes no Labareda, deitado à beira da piscina, sentindo-me livre na idéia de estar bêbado.

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Era e é apenas uma idéia – estar bêbado, nunca estive, e não estou agora, bêbado. Nunca tive a graça de estar bêbado, nunca atingi o nirvana, o transe, a transcendência animalesca do estar bêbado. E, então, é um fato: nunca cheguei a ter a consciência sem nada, o esvaziamento escuro, de um animal. Os animais são bêbados, os animais não sabem onde moram, os animais não sentem o peso absurdo do sentido. Sinto-me pesado, absurdamente pesado, como um homem incapaz de assumir sua própria verdade como morte. Saber que a própria verdade é a morte já é assumir a impossibilidade de assumir a si mesmo. Por um instante, beber nos dá a ilusão de que podemos assumir o que realmente somos. A mim, nunca escaparam certas imagens do que realmente somos desligados da embriaguez, daquele mundo de pessoas bêbadas. Como bêbadas, eram vistas pela gente normal como coisas nojentas, como a carniça da cidade. Mas eram alegres, engraçadas, vibrantes , essas pessoas, ao contrário daqueles que as condenavam. Quando não estavam bêbados, aqueles vagabundos e vagabundas eram tão estúpidos como aqueles hipócritas que os condenavam. Os hipócritas os condenavam para que fossem hipócritas também, para que não fossem espontâneos como os animais. Havia um momento em que os bêbados e as bêbadas se tornavam figuras normais, evangélicos, católicos, trabalhadores, cidadãos. Cada comunidade de bêbados convertida, regenerada, deixava a cidade mais triste, mais triste.

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Certamente, a repressão aos bêbados era a imagem de uma cidade infeliz que se impunha - sem urros, sem ruas. A cidade passava a ser o contrário do que as pessoas realmente eram, a negação da verdade. A cidade, então, tornou-se a casa dos hipócritas, dos que bebem o que os bêbados de antigamente se negavam a beber. Quando penso na cidade, penso na infelicidade do mundo, ou melhor: na infelicidade como mundo. Posso não saber ao certo o que falo neste instante em que não sei ainda o que é estar bêbado. Talvez tenha passado a vida a procurar entender o que é um estado de inconsciência, que implica entender o que é a consciência. Ó a produtividade capitalista dos conceitos, ó os lucros exorbitantes dos laboratórios estadunidenses, dos médicos e das farmácias! Não sei o que é estar bêbado tanto quanto não sei o que é estar lúcido tampouco o que é estar drogado por qualquer droga. Passava pelo Rossio lisboeta noite dessas e um sujeito disse próximo haxixe – ou ouvi haxixe, algo assim, um som assim. Nada entendi, nada me encantou, assim como nada entendi diante daquela narrativa do amigo sobre maconha naquele tempo jovem – ele, ali, irradiante por ter, finalmente, fumado o seu primeiro baseado! Ora, quem estava consciente? Ele? Eu? Agora estou aqui: atravessado pelo desespero de estar vivo. Onde estará ele? Dormindo como um anjo.

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Não, não, eu pensava em Pessoa, em Sá-Carneiro, em Álvaro de Campos, em Baudelaire, em Rimbaud e, agora, em António Ramos Rosa. Eu pensava, andando três noites pelo Rossio, Chiado, Mouraria, Baixa, por ali – eu pensava nos incuráveis desesperados. Onde está a consciência? Onde está a referência do que chamam de inconsciência? Fora do mundo, claro. A voz que condena bêbados, drogados, loucos, é a mesma voz que condena o pobre como um projeto malogrado de Deus, como um deus assustadoramente feio. Sou pobre, profundamente pobre, e não posso me expressar senão como mancha no rosto do mundo. Se o mundo tem algum sentido para mim não é outro senão o de ser o suporte para o que sou, o céu branco onde bôrra, porra nenhuma, derramo, derramo-me, líquido vertiginoso. Sólido, preciso, não me inscrevo no mundo, sim, aqueles bêbados, meus irmãos, não se inscreveram no mundo solidamente. Eles – Lião, Tião, Boi – nunca chegaram ao mundo, que nunca se abriu para eles – eles estiveram fora do mundo. Eu quis entrar no mundo, eu quero entrar no mundo, e tenho, desde sempre, a idéia do mundo como uma grande muralha. O mundo é tudo aquilo que não se abre pra que eu possa entrar, o mundo é um obstáculo ao meu estar no mundo - e nunca estive no mundo, nunca estive no mundo. Pensar no mundo, para mim, é pensar na injustiça, especialmente: o sentido do mundo é a injustiça.

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Que me importam, por isso mesmo, as vozes do mundo, as vozes que se impõem como vozes do mundo, as vozes dos donos do mundo?

Não quero, mas já reverbero Álvaro de Campos: não sou nada, não posso querer ser nada. De fato: não sou nada. Bêbado, drogado, mas também sóbrio, eficiente, não posso querer ser nada, não tenho direito a ser qualquer coisa de mais para o mundo, o mundo é a negação radical do que sou. Por isso mesmo penso em vocês, bêbados de Engenheiro Navarro, Bocaiúva, Montes Claros, Belo Horizonte, bêbados que vi na vida. Por isso mesmo penso em vocês nesta madrugada no Porto, 28 de fevereiro de 2013, meus irmãos que vi bêbados no mundo e soube ali, em plena infância, que jamais poderia ser um de vocês. Bêbados, fumantes, baderneiros, que povoaram minha infância, eu sabia ali que não poderia estar jamais na sua constelação, que não poderia atingir tamanha animalidade. Admito minha incompetência para sair de mim – por isso admirei Arnaldo Antunes cantando há muitos anos “Fora de si” e fico pensando agora naquela dizendo “se jogue” na noite – não sei me jogar. Hoje, enquanto anoitecia, pensava em Sá de Miranda: “Comigo me desavim”. Ao longo da vida, assim me vejo: esse “comigo” é o mundo – Talvez bêbado, morra comigo.

Café Porto - Porto (Portugal), Madrugada de 28/02/13

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©Renão – Fátima Toledo 02 | 2015


QUEM ESTÁ ANELITO DE OLIVEIRA (Brasil, 1970) é autor de Transtorno (2012, poesia) e A aurora das dobras (2013, ensaio), entre outros. Editou o Suplemento Literário de Minas Gerais (1999-2003), criou e editou o jornal Não (1994-95) e a revista Orobó (1997-1999) e edita, no momento, o Kadernu de Ynwenssões (www.revistaorobo.blogspot.com). Blog: www.anelitodeoliveira.blogspot.com. Email: anelitodeoliveira@globomail.com . MARIA BORIO nasceu em Perugia (Itália), graduou-se em letras modernas e é doutora em literatura italiana. Escreveu sobre Vittorio Sereni e Eugenio Montale e publicou a monografia Satura. Da Montale alla lirica contemporanea (Fabrizio Serra Editore, 2013). Seus poemas estão publicados em Almanacco dello specchio (Mondadori, 2009), em Poesia (Crocetti, 2012), nas revistas Atelier, L’Ulisse e Italian Poetry Review e no site “Le parole e le cose”. Uma coletânea de seus textos faz parte do XII Quaderno italiano di poesia contemporanea, organizado por Franco Buffoni (Marcos y Marcos, 2015). É redatora-chefe da seção de poesia da revista Nuovi Argomenti. IGÔR WERNECK é aluno do curso de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Entusiasta e aspirante a tradutor da língua e literatura russa, embarca esse ano ainda para graduação sanduíche na Universidade Estatal de Tomsk, em cidade homônima, na Sibéria. RENAN DUARTE (assina Renão) nasceu em Ipatinga (MG), mas atualmente vive em Juiz de Fora (JF) onde cursa da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Seus desenhos, feitos no último encontro Fátima Toledo, ilustram essa edição.

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FREDERICO SPADA SILVA é doutorando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Mantém o canal Juiz de Fora – História lírica, com depoimentos de poetas ligados à cidade (http://goo.gl/kkmqfE) e é autor de Arqueologias do olhar (Funalfa, 2011) e Coleção de Ruínas (Edições Macondo, 2014)

ADRIANO SMANIOTTO nasceu em Curitiba (PR) em setembro de 1975. Publicou os livros de poemas Arcano (Editora Ócios do Ofício, 1995); primeiro poeta a ser publicado na Coleçâo Sapatos Tortos (FCC, 1997); Regra de três (parceria com David Nadalini e Fernando Koproski (Editora Ocios do Ofício, 1998); Vinte vozes de uma mesma veia (Ed. do Autor, 1999) e Versejar a voz do ser é ser de si algoz (Fundação Cultural de Curitiba/Imprensa Oficial do Paraná, Curitiba, 2000).. O poema publicado nessa edição faz parte do livro Nova Poesia, a ser publicado este ano, de maneira alternativa, por Rafael Valter. 55

OTÁVIO CAMPOS cursa mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Publicou dois livros de poemas: Distância (Aquela Editora, 2013) e a plaquette Amanhã tomo um vôo a Budapeste (Edições Macondo, 2014). Desde 2011 edita a revista Um Conto. ANELISE FREITAS é poeta e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Já publicou o livro de poemas Vaca contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011) e, em 2013, uma plaquette editada pela autora, chamada O tal setembro. Em 2015 publicou Pode ser que eu morra na volta, pela Edições Macondo.

RAMON NUNES MELLO nasceu em 1984 em Araruama/RJ; é jornalista e poeta. É autor dos livros de poemas Vinis mofados (2009) e Poemas tirados de notícias de jornal (2011).


ISABELA D’ÁVILA nasceu em 1975 na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente vive em Juiz de Fora e é fotógrafa parceira da Casa Empiria. LAURA ASSIS nasceu em Juiz de Fora (1985) e cursa doutorado em Literatura na PUC-Rio. Tem poemas publicados nas revistas Lado 7 e Um Conto. Participou da Antologia de Poesia Plástico Bolha (Organograma, 2014). Em 2014 publicou seu primeiro livro, Depois de rasgar os mapas (Aquela Editora). AUGUSTO GUIMARAENS CAVALCANTI é poeta, carioca, tricolor, nascido em 1985, e integra o coletivo poético Os Sete Novos. Em 2006 lançou seu primeiro livro Poemas para se ler ao meio-dia (7Letras) (com prefácio de Heloísa Buarque de Hollanda e orelha de Zé Celso Martinez). Em 2010 foi a vez de Os tigres cravaram as garras no horizonte (Editora Circuito) (com prefácio de Cláudio Willer e pósfácio de Alberto Pucheu). Também é autor de Fui para Bulgária procurar Campos de Carvalho (7Letras).

©Renão – Fátima Toledo 02 | 2015

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QUEM SÃO PRODUÇÃO EDITORIAL Casa Empiria

CURADORIA Anelise Freitas REVISÃO Otávio Campos CONSELHO CONSULTIVO

Anderson Pires da Silva (UFJF / Brasil) André Capilé (PUC Rio / Brasil) Danilo Lovisi (Université Paris Diderot - Paris 7 / França) Laura Assis (PUC Rio / Brasil) Otávio Campos (UFJF / Brasil) Pedro Craveiro (Faculdade de Letras da Universidade do Porto / Portugal)

O SÊLO ⌖ O GARIBALDI é uma parceria entre a Casa Empiria e as Edições Macondo.

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Casa

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Empiria

Editorial facebook.com/casaempiria casaempiria.wordpress.com edicoesmacondo.wordpress.com


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