06OGaribaldi - Edição de Aniversário

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06OGaribaldi // EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO //

EDIÇÃO DE 1

REVISTA DE POESIA // SÊLO

⌖ O GOLPE


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n Quando é que poderemos ver novamente tantas mulheres escritoras juntas? Sempre, assim esperamos. A Garibaldinha comemora seu primeiro aniversário ao som de muitos poemas, de muitas mulheres, de muitos Brasis. O verão chegou derretendo nossas ideias tropicais, enquanto um bando de praias contemporâneas anuncia altas ondas altas. O fim já passou. Brigamos com a morte. Somos fortes como o vento.

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Começamos sempre, om este tratado sobre a vida da tristeza, editando como quem domina o tempo entre o cano quente de uma arma e a carne atingida, breve. Esse foi nosso primeiro ano, não somos Orpheu. Não venha dizer que você sabe o que fazer a partir: de: agora. Parabéns, OGaribaldi. Juiz de Fora, fevereiro de 2016

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MANIFESTO

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SUMÁRIO

TERRA AFLITA CARTA DO NÃO, AMOR A CORRESPONDENTE QUE ELEGANTES! SALTO ORNAMENTAL CANTATA PRA MNEMOSYNE EU QUERO DA INOCÊNCIA UM POEMA DE DOIS POEMAS DE TURISMO CHEGO EM 5 MINUTOS, E VOCÊ DE SAÍDA QUEM ESTÁ QUEM SÃO

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TERRA AFLITA DENISE FREITAS

Reconheço muito antes de mim acerca de cada um de nós as aflições dessa terra em terços tristes. Uma porção de dor e de beleza retalhada. Um mundo – novo – irremediavelmente decomposto, território ocupando séculos intermináveis, desfazendo dúzias de gerações, e o colorido delas, até então represadas nessa vida nem ainda a meio e já exausta, pálida e costumada à falha. Bem depois do início, esse continente, onde o que se compreende é somente ninharia tostão-furado-intruso expensas do anonimato e da fome, com seus milhões de zeros comprimidos aos quais, para cada um, atribuiu-se um vago nome e um rosto só fonema. Irrelevância que de forma alguma o suporta ou dele se encarrega.

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CARTA DO NÃO, AMOR JULIANA GERVASON de muito longe cheguei aqui e caminhei por várias trilhas não deixei rastro ou despedidas fui de soslaio por essa vida calei carinhos e me desfiz não houve um laço que aceitei qual fugitiva neguei-me a todos não houve um homem a quem amei fiz pouco caso de muitas juras não aceitei declarações andei contrária a muitos abraços busquei refúgio nas multidões nunca sozinha me encontraram estive sempre a meu dispor só eu comigo me acompanhava não caí na armadilha de um novo amor neguei os beijos e os orgasmos rejeitei futuros que por um triz prometiam a chance de ser feliz fui seca, infértil, alheia e áspera ninguém deixei se aproximar não coube a mim nem a esperança do amor do outro deixar ficar lutei mais forte a cada investida a dor servia para me transformar não fui terreno para outra vida tão pouco porto para nenhum pesar segura, estranha, e empedernida matei dezenas de acarinhar um assovio de despedida minha mais doce canção de ninar sorvi muito mais do que há nessa vida porque eu soube me amuralhar não coube ao outro em minha defesa colher sustento no meu passar neguei rejeitei e fiz pouco caso de cada um que ousou se aproximar e porque já fui muito ferida não creio mais no verbo amar

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A CORRESPONDENTE MARCELA BATISTA TRADUZ MARCELA BATISTA

DEEP BLUE Não vamos mais pensar na ausência. Desde que estou aqui a te esperar, parece que nada mudou; ou ainda não percebia o que se passava, quando o carro virou a rua do Espírito Santo pela última vez. Depois daqueles sóis de inverno, a vida nunca mais foi a mesma naquela pequena cidade que se formava dentro de mim. Imaginava poder para sempre sair pelas tardes azuladas, caminhando distraidamente pelas pedras incrustadas com tanto esmero nas ruas apertadas, segurando nas paredes para conter o peso da ausência. Porque é ela que sempre permanece e açoita a carne. Obstrui os espaços que estavam a te aguardar no café de sempre, à mesma hora dos calafrios de fim de tarde, anunciando a noite severa que se encaminhava. Enquanto te esperava, remexia o açúcar dentro da xícara, assim como fazíamos na ocasião do primeiro dia, aos pés dos Leões. Cheguei a me perder naquela antiga fábrica abandonada, transformada em palco para os falsos cristãos, como nós, Cris mais eu, sentados naquela cantina estudantil, esperando a conta da bebida, pensando sobre a história da humanidade e o que nos tinha levado até ali. Aquele assunto despertava meu interesse, sinceramente; mas não via a hora que pudéssemos atravessar todas as ruas e becos da cidade, a ver a noite cair e despejar sobre nós o seu luto totalmente despido. Saímos da cantina e entramos em um tempo sem volta, pelo menos para mim, ao que parece, visto que bastou a você uma ou duas voltas ao redor de 2000 mil anos de existência para compreender que tudo aquilo era, de fato, passagem. Está certo: muita coisa aquele templo havia presenciado; o que não diminuía também o nosso tempo ali, afinal tínhamos quarenta e muitos anos, somadas as nossas vidas. Estava a devanear sobre as pessoas que passam pelas bordas na nossa, esperando uma condução, na fila da própria vida, quando interrompi a colher e meus pensamentos aéreos. O café havia esfriado, juntamente com a sua imagem, com a sua presença. Você não era mais imbatível muralha; nem os Leões infinitos daquela antiga fábrica de massas; você era como aquele café que, muito remexido, acabava por esfriar, sem mesmo derreter o açúcar pendente.

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E não mais queria sair dali. Apenas continuava por dias consecutivos dias a me dedicar na laborosa atividade de colher, bem fundo nos seus talos, o calo que me dava conforto e calor. Lembro-me de como é estacionar bem próxima do seu colo, com seus pelos bagunçando minha cabeça, desmedida, desvairada. Enquanto enxugava as lágrimas de dor e pulsão, doíam-me as mordidas áperas nas maçãs mais próximas, junto às minhas orelhas salgadas do balanço daquela tormenta que era o seu membro. E isso me bastava. A lembrança já me tremiam às pernas, pela maresia talvez, daqueles mares nunca navegados que você se transformara. Como bêbada desci as ruas estreitas, das paredes recheadas, encostei, esfreguei e lambi o dedo indicador. Logo o gosto ocre se desfez na minha língua: não era chocolate; era tijolo gasto, passado. A primeira porta que se abriu a minha frente foi a de Jesus. Aquela figura bordada a azulejos, situada nos fundos de um beco. Só me aprazia olhar porque no fundo, eu acreditava naquele azul celestial. Embora você não acredite em Deus, aquela figura acalentava toda a noite, com sua compaixão desmedida, os maus espíritos que andavam soltos pela cidade. E você não faça mais assim, pensava enquanto acendia o fogo, preparando meu último chá da noite, seguido de alguns cigarros. Quando pensar em sair dessa frieza, não olhe somente para minhas mãos passivas; deixe ainda sua febre nas minhas feridas abertas, ávidas e operantes fissuras.

⌖ DEEP BLUE No vamos más a pensar en la ausencia. Desde que estoy aquí, esperándote, a mí me parece que nada ha cambiado; o aún no había notado lo que pasaba, cuando el carro viró la calle de Espírito Santo por última vez. Después de aquellos soles de invierno, la vida nunca más fue la misma en aquella pequeña cuidad que todavía se formaba dentro de mí. Imaginaba poder salir para siempre por las tardes azuladas, caminando sin hacer nada, por las piedras incrustadas con tanto cuidado en las calles estrechas, apoyándome en las paredes para soportar el peso de la ausencia. Porque es ella que siempre continua y azota la carne. Obstruye los espacios que estaban esperándote en el café de siempre, a la misma hora de los escalofríos de fin de tarde, anunciando la noche severa que se encaminaba. Mientras te aguardaba, revolvía el azúcar dentro de la taza, cómo hacíamos en la ocasión del primer día, a los pies de Leões. Llegué a

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perderme en aquella antigua fábrica abandonada, transformada en escenario para los falsos cristianos, como nosotros, sentados en aquella cantina estudiantil, esperando la cuenta de la bebida, pensando sobre la historia de la humanidad y en lo que nos había llevado hasta allí. Aquél asunto despertaba mi interés, sinceramente; pero mal podía esperar la hora en que pudiésemos atravesar todas las calles y callejones de la ciudad, a ver la noche caer y vaciar sobre nosotros su luto totalmente desnudo. Salimos de la cantina y entramos en un tiempo sin vuelta, por lo menos para mí, al parecer, visto que te ha bastado una o dos vueltas alrededor de 2000 mil años de existencia para comprender que todo aquello era, de hecho, pasaje. Está correcto: mucha cosa aquél templo había atestiguado; lo que tampoco disminuía nuestro tiempo allí, al final teníamos cuarenta y muchos años, añadidas nuestras vidas. Estaba soñando despierta acerca de las personas que pasan por los rebordes en nuestra vida, esperando una conducción, en la línea de la vida propia, cuando interrumpí la cuchara y mis ideas atmosféricas. El café ya había enfriado, juntamente con su imagen, con su presencia. No eras más imbatible muralla; ni los Leões infinitos de aquella vieja fábrica de masas; eras sino aquél café que, muy revuelto, terminó para el enfriamiento, sin aún derretir el azúcar pendiente. No más quería salir de allí. Sólo continuaba por días consecutivos siendo fiel en la laborosa tarea de coger, bien hondo en sus tallos, el callo que me daba comodidad y calor. Me acuerdo de cómo es estacionar bien junto a su cuello, con sus pelos alborozando mi cabeza, inmoderada, desvariada. Mientras secaba las lágrimas de dolor e impulso, me dolían las mordidas ásperas en las mejillas más próximas, junto a mis orillas saladas por el balanceo de aquella tormenta que era su bajo miembro. Y eso me bastaba. El acuerdo ya me ondeaba las piernas, por el vaivén tal vez, de aquellos mares nunca navegados que te habías cambiado. Como borracha descendí por las calles estrechas, de las paredes rellenadas, me recliné, refregué y lamí el índice. Luego el gusto ocre se deshizo en mi lengua: no era chocolate, sino ladrillo gasto, pasado. La primera puerta que se abrió delante de mí fue la de Jesús. Aquella figura bordada de azulejos, ubicada en los fondos de un callejón. Solo me apetecía mirar porque, en mi íntimo, creía en aquel azul celestial. Aún que no creas en Dios, aquella figura calentaba toda la noche, con su compasión inmoderada, los malos espíritus que suelen andar sueltos por la ciudad. Y tú, no lo hagas más de ese modo, pensaba en cuanto encendía el fuego, preparando mi último té de la noche, seguido de algunos cigarrillos. Cuando pienses en salir de esta frialdad, no mires apenas mis manos pasivas; deja, aún, su fiebre en mis heridas descubiertas, ávidas y eficaces fisuras.

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QUE ELEGANTES! JÚLIA DE CARVALHO HANSEN

Que elegantes! Os animais. Ah! deixar-se pelos músculos. Viver discreta entre as sombras. Não se preocupar com folhagens riscando, raspando, umedecendo e rosnando levar a vida! Correr correr, correr. Descansar. Entretanto eu aqui a entender que não se conhece natureza que nunca há paisagem e é com isso que lentamente nos pomos a acender a brasa lenta desfazemos em cinzas essa cultura. Quer dizer, ter pela cintura plumas, ser pela ampla ampliação dos rios com várzeas. Cobrir de penachos os “achos” ao abrir das estrelas cantar, gritar, trinar febris (tão meus) compassos. Não dizer nada nem saber dançar. Esquecer, esquecer — lembrar.

poema de Seiva veneno ou fruto (Chão da Feira, 2016) de Júlia de Carvalho Hansen.

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SALTO ORNAMENTAL ALICE SANT’ANNA

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os poucos segundos diante da câmera não fariam jus aos anos (uma vida inteira) de ensaios e dores musculares e alimentação regrada e tantas outras privações os poucos segundos mostram a atleta no trampolim ela se prepara para o salto ornamental que quem sabe vai lhe render uma medalha uma vaga nas olimpíadas a consideração de alguém tanta coisa o treinador apreensivo finge


tranquilidade no telão vai dar certo já fizemos isso infinitas vezes ela se prepara para o mergulho pensa que o melhor é não pensar em nada transmitir coragem e autoconfiança os fotógrafos bastante entediados sem conseguir entender o que dá a certos atletas um décimo a mais um a menos no fim das contas é só um pulo na piscina a não ser que erre feio que caia de costas ou de barriga que uma perna vá pro lado que um braço não fique junto ao corpo a não ser que o mergulho seja bruto e suba muita água a não ser que seja algo menos que perfeito o passo de dança ensaiado em cada milímetro que começa com um sorriso e termina com a piscina recebendo a atleta sem alarde sem ondas na água quase como se nada tivesse acontecido a atleta se prepara é dada a largada na hora do salto sabe-se lá o que se passa na cabeça enquanto finge não passar nada em sua concentração budista e sua serenidade de plástico ela corre com destreza no trampolim e mergulha na água de cabeça sem o mortal as três piruetas a manobra prevista que treinou a vida toda e lhe valeria uma medalha ou anunciantes ou um aumento sobretudo a admiração de alguém ela esquece não teve vontade deu um branco vai entender mergulhou de cabeça na água assim como se estivesse de férias no telão a expressão incrédula do treinador o zero gordo dos jurados os fotógrafos finalmente entretidos

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CANTATA PRA MNEMOSYNE NINA RIZZI

"you have to kill to stay alive" iron maiden

17 finalmente li o poema "quando eu tinha seis anos" era o paraíso. mesa para quatro, comida pra dois os meus olhos correndo as antigas avenidas. solidão. tão espessa a chuva, para tão curto encontro, senhor - senhor, era como chamava, em mania senhor, era o que escorria fogo dos lábios. o poema inesquecível, chuva de zeus sobre dânae os dedos perdidos em algum buraco. ponte preta, manicaca. tão perenes os traumas, pra o dilaceramento tão breve, senhor.


EU QUERO ANNA MANCINI

eu quero é o anti-ontem, o contra-ontem, o incontido contínuo, o que não, o que nunca, o melhor e o mais de todos, o melhor e o mais de mim, o anti-eu e o anti-todos, o extraterrestre e sua nave, agora entendo que medo é desejo, longe de mim querer o passado repetido, longe de mim e perto, que entre ar e carne pele é detalhe, entre ontem e o contrário eu sou detalhe, então eu quero o certo e o avesso namorando entre fina película, a borda extrema que de tanta fuga cai nos braços de sua antítese, eu quero o ontem e o contrário feito banda de moebius, o tempo virado do avesso, pegar quem serei e forçar sua mão a segurar minha criança, dobrar o tempo assim tudo se encosta, tudo se encostar e isso ser tolerável, fazer do contínuo um origami, ele vai ser um passarinho muito fofo e estático na minha mesa até as 18h

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DA INOCÊNCIA CAROLINA BARRETO

19 No abatedouro das línguas não vibra palavra encaroçada: doce no tacho, olhar de criança cobrindo ossos de galinha no chão de domingo - anúncio de dança: amarelinha goiabada e o gosto do verbo nos dedos


UM POEMA DE CARLA DIACOV

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é de ser inédito o amor cada vez que fosse de ser for traçado de ladeira ameixa castanha bueiro castanha ameixa cimo ou baixo


matar alguém sob os cílios de alguém é também de ser inédito o fio correr o fio de sangue tocar-se de pois veja que vejo o vermelho como o caco é de refletir inédito e flecha inédita nenhuma causa de desejo sem olho nela causa que não o olho causa que ninguém planta aduba e faz crescer é de ser inédito o amor cada vez que for que vir sentir a nuca fria distante tão à palma solta às linhas tranças inédito notar a canseira nas pálpebras dos carneiros mais baixos inéditos de rancores mais baixos encaracolados de chifres baixos cimos pesados inéditos de nortear a portinhola sem o laço causa que ninguém planta oxida e faz danar uma relíquia inédita é de ser inédito o amor cada vez e então morrer e então doer só então doer metódico inédito doer

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DOIS POEMAS DE ADELAIDE IVÁNOVA APAGAMENTO "Tough I'm past one hundred thousand miles I'm feeling very still" David Bowie "Ver uma paisagem, tal como ela é quando não estou ali..." Simone Weil eu tenho falado de você há alguns anos espalho lendas a seu respeito com o intuito inadequado de embelezar a minha própria biografa hoje quando falei de você no bar não aconteceu nada demais seu nome foi mencionado por mim como tem sido há sete anos você que representa ao mesmo tempo útero e exílio que me fez ao mesmo tempo fugir de casa e voltar pra casa seu nome foi mencionado nesse dia como foi em quase todos os outros a diferença foi que hoje só havia a linguagem e eu já não tinha mais para onde ir enquanto eu dizia seu nome.

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14 de janeiro de 2016


SOBRE UMA FOTO NO HUFNGTON POST, EM 01 DE NOVEMBRO DE 2015

de que adianta esse pôster de madonna na parede da cozinha indicando de qual lado estou se na papua nova guiné continuam linchando mulheres a quem chamam de bruxa a papua pode até ser guiné mas nisso não tem nada de nova e se for para queimar uma mulher por bruxaria que queimem logo todas de que adianta beyoncé avisando que vai sentar o rabo na cara do boy e de que adianta eu me inspirar nisso para fazer igual ou parecido se na papua nova guiné sentam senhoras em telhas de brasilit e com elas amordaçadas abrem nacos de carne e sangue que na foto escorria pelas rugas da telha pelas rugas das costas da mulher essa mulher de cabelo curto e preto de costas na foto parecia a minha mãe eu perdi o controle não consegui mais almoçar e sei que não vou conseguir dormir mas de que adianta minha insônia e meu jejum e esse poema se na papua nova guiné não iriam entendê-lo e mesmo a compreensão dele não salvaria a vida da mulher e mesmo no brasil onde se pode entendê-lo já se sabe que poemas tal qual leis não mudam nada tudo sobre isso já foi legislado e dito em todas as línguas também em português mas meu deus de que adiantaria meu silêncio? de quem estaria meu silêncio a serviço?

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TURISMO LAURA ASSIS

Eu tinha acabado de chegar de São Paulo e, por não saber o que fazer, liguei o computador. A primeira notícia que apareceu, num site que abri sem perceber, falava da Síndrome Japonesa ou Parisiense. Parece que ainda não há uma unanimidade em relação ao nome, mas o que importa é que essa síndrome existe e muitos turistas japoneses precisam de tratamento psicológico depois de visitar Paris. De acordo com o médico entrevistado, um terço dos pacientes se recupera imediatamente, outro terço sofre recaídas e o restante desenvolve psicoses, apresentando episódios de alucinações, taquicardia, desilusão, ansiedade, frustração e mania de perseguição. A embaixada do Japão

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em Paris tem até uma linha telefônica criada especialmente para atender os japoneses que surtam durante sua estada. Mas como assim alguém pode se tornar psicótico só por visitar uma cidade? Parece que o confronto entre expectativa e realidade e a decepção de não encontrar exatamente o que se esperava provocam uma espécie de choque, e essas pessoas passam dias trancadas em seus quartos de hotel, torcendo para que chegue logo o dia de retornar (isso quando os delírios não são tão fortes a ponto de exigirem intervenção psiquiátrica imediata). Enfim: eu voltei de São Paulo sem maiores sequelas, nada que pudesse ser diagnosticado, tratado ou removido cirurgicamente, assim como já voltei de vários outros lugares sem apresentar nenhum quadro psicopatológico ou transtorno mental aparente. Mas fiquei pensando: como deve ser sentir uma cidade te destruir. O incômodo começa por dentro ou por fora? Você pega o metrô e mesmo assim dor te alcança? A realidade se despede antes ou depois da última esquina? Os primeiros sintomas aparecem ainda no avião ou estrada? Não sei. Por enquanto minha única recaída tem sido voltar para casa.

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CHEGO EM 5 MINUTOS, E VOCÊ ANA GUADALUPE

chego em 5 minutos, e você no ônibus todo mundo apoia e chacoalha na rua de passagem no máximo cumprimento no trabalho esperança e medo lazer só de vez em quando mas tudo indica que estamos chegando em casa e é na última esquina que quase não dá tempo cada um entra minúsculo pela porta e triplica de tamanho num segundo primeiro tiramos a bolsa os sapatos aqui onde somos gigantescos importantes mesmo aqui onde ninguém nos ignora você fala um pouco dos seus problemas eu falo dos meus problemas o triplo

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DE SAÍDA MARÍLIA GARCIA

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queria falar das pedras vulcânicas neste lugar descreva ela diz escreva sobre o tom e a cor e como foi chegar — mas antes vi o cinza a lataria do avião cinza escuro e gasta você vê o bico estacionado e pensa que não vai conseguir entrar numa máquina cinza escuro e gasta


lembra a guerra lembra um avião de caça lembra que um dia precisei subir num avião de hélice mas o pior mesmo é quando você está no alto e vê que ela está gasta tem uns reflexos luminosos que poderiam ser brilho luz sol refletindo mas na verdade é como se o bico do avião tivesse batido em pássaros que atravessam as nuvens lá no alto ou o bico contra pedras de gelo a 10 mil pés de altura “atenção agora atravessamos os 10mil pés de altura” ouve o piloto e ali já pode algo talvez ouvir música um filme pensar no que acontece quando uma máquina começa a voar e você está dentro dela essa semana nevou demais ouve a senhora ao lado dizer eles jogam sal na rua para poder andar sobre a neve dirigir é sempre a maior tensão por causa dos veados que atravessam correndo que atravessam os anos que vão passando que atravessam as nuvens como a gente não sabe o que pensar quando chega numa cidade assim descreva ela diz “já reparou que as cidades são velhas ou futuristas?” estou no 20o andar de um prédio que dá para uma enorme antena quando cheguei e vi pensei que fosse uma cidade futurista cheia de arranha-céus prateados mas ela é toda baixinha por causa dos terremotos com ruínas de mais de dois mil anos os prédios baixinhos e as construções de pedras vermelhas as paredes de um tom vermelho escuro e fechado você quis dizer “tijolos”? ele pergunta quando você tenta explicar o que são paredes vermelhas não são pedras de origem vulcânica tezontle

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QUEM ESTÁ

DENISE FREITAS nasceu em Rio Grande (RS) em 1980. Escritora e Professora; escreveu os livros Veio (2014), Mares inversos (2010) e Misturando Memórias (2007); está entre os autores que compõem a Coletânea de poesia gaúcha contemporânea (Assembleia Legislativa do RS, 2013) e a Antologia poética: Moradas de Orfeu (Letras Contemporâneas, 2011); possui publicações em diversas revistas, dentre as quais, Revista Sibila, Germina Literatura, Musa Rara, Artistas Gaúchos, Revista Modo de Usar. CAROLINA BARRETO é mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora, tendo se graduado em Letras nessa mesma instituição. Atualmente, é doutoranda em Estudos Literários do PPGLetras da UFJF. É autora de Voragens (FUNALFA, 2012) e coautora, junto com André de Freitas Sobrinho, de Dois (não Pares) (FUNALFA/Anome Livros, 2009). Participou da antologia de poemas Portuguesia: contraantologia (Anome livros, 2009), organizada por Wilmar Silva, e da antologia de contos Só agora vejo crescer em mim as mãos de meu pai (Edições Pasárgada, 2010), organizada por Ozias Filho. MARÍLIA GARCIA nasceu no Rio de Janeiro e atualmente mora em São Paulo. É tradutora e autora dos livros 20 poemas para o seu walkman (2007), engano geográfico (2012), Um teste de resistores (2014) e Paris não tem centro (2015). @ANAGUADALUPE nasceu em 1985 e curte poesia. ANNA MANCINI é Manzanna (e vice-versa), trabalha com ilustração, design e quadrinhos. Publica desde 2013 trabalhos autorais e

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independentes. Esta edição da O Garibaldi é ilustrada por ela, que também escreveu o poema da página 18. ADELAIDE IVÁNOVA nasceu no Recife, em 1982, mas, atualmente, vive em Cologne, na Alemanha. É jornalista, escritora, poeta e fotografa. Entre suas publicações estão os compêndios de poemas Polaróides (e negativos das mesmas imagens) (Cesárea Editora, 2014) e O Martelo (Douda Correria, 2016). JÚLIA DE CARVALHO HANSEN nasceu em São Paulo em 1984. É formada em Letras pela USP e mestre em Estudos Portugueses pela Universidade nova de Lisboa. Tem três livros publicados: cantos de estima (São Paulo, Selo de Estimas e Grama, 2009); alforria blues ou Poemas do Destino do Mar (Belo Horizonte, Chão da Feira, 2013) e O túnel e o acordeom (Lisboa, não edições, 2013). É uma das editoras das Edições Chão da Feira CARLA DIACOV nasceu em São Bernardo do Campo, em 1975. Com formação em teatro (de 1995 até 2000) pôs-se a escrever e esde então é só o que faz. Vez ou outra se atraca com alguma pintura ou desenho. Tem poemas publicados na COYOTE (editada pela Kan com distribuição pela Illuminuras/Brasil) e em vários sítios na internet. Afora seus tantos blogues (nichosdamortaquasemenoria.blogspot.com.br), tumblrs, plataformas digitais em geral, é uma devotada integrante do site Escrioras Suicidas, tem um bom apanhado na revista Germina Literatura, na Mallarmargens e publicou na Revista Usina, na Revista Ellenismos e, através de seu selo, Ellenismos Livros, tem o e-book FAZER A LOCA. Também publicou no jornal RevelO, nas revistas Diversos Afins, Elefante de Menta, Cruviana (terceira edição), Zunái, Musa Rara, Randomia, Modo de Usar e no site Cronópios. Recentemente agregou poemas inéditos a Vida Secreta #2 e à eletrônica portuguesa, Enfermaria 6. Integra coletâneas 70 Poemas para Adorno (fruto do Festival Literário de Madeira/2015), Antologia Poética 29 de Abril – O Verso da Violência (Editora Patuá, 2015) e a ESCRIPTONITA mitologia-remix & super-heróis de gibi (Patuá, 2016). Pela Douda Correria, Amanhã alguém morre no samba (2015). JULIANA GERVASON é, por natureza, mineira e caseira. Por amor, corredora e orientadora. Por formação e vocação, pesquisadora, professora, especialista, mestre e doutora em literatura. Perdoe-me tanto laquê (2013) foi seu primeiro livro de poemas, e em 2015 lançou o Notícias boas que nunca chegam nunca (Chiado Editora). Tem outras

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publicações em antologias poéticas e livros acadêmicos. Atualmente leciona no Programa de Mestrado em Letras do CESJF e coordena um grupo de pesquisa sobre literatura contemporânea. Respira literatura e vive dentro e fora dos livros. NINA RIZZI nasceu em São Paulo, em 1983. Historiadora, tradutora e poeta, vive atualmente em Fortaleza/ CE (Brasil). Tem poemas, textos e traduções publicados em diversas revistas, jornais, suplementos e antologias. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada(tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014), Romério Rômulo: ¡Ah, si yo fuera Maradona! (versão em espanhol, Edições Dubolsinho, 2015); Os poemas integram o livro geografia dos ossos (a ser publicado em 2016 pela Douda Correria, Portugal). Edita a Revista Ellenismos – Diálogos com a Arte, e escreve seus textos literários no quandos. ALICE SANT’ANNA nasceu em 1988 no Rio de Janeiro. Em 2008, publicou seu primeiro livro de poesia, Dobradura (7 Letras). Em 2012, lançou, em parceria com Armando Freitas Filho, a plaquete independente Pingue-Pongue. Seu livro Rabo de baleia (Cosac Naify) recebeu o prêmio APCA de título de poesia de 2013. Em dezembro de 2014, lançou outra plaquete, “Ilha da decepção”, com fotografias de seu pai, Alexandre Sant’Anna. Lançou também as plaquetes Pra não ficar na gaveta e Bichinhos de luz, em tiragens limitadas. Seus poemas estão em várias antologias, como a espanhola Otra Línea de Fuego – Quince poetas brasileñas ultracontemporáneas, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda e traduzida por Teresa Arijón. LAURA ASSIS nasceu em Juiz de Fora (1985) e cursa doutorado em Literatura na PUC-Rio. Tem poemas publicados nas revistas Lado 7 e Um Conto. Participou da Antologia de Poesia Plástico Bolha (Organograma, 2014). Em 2014 publicou seu primeiro livro, Depois de rasgar os mapas (Aquela Editora). MARCELA BATISTA é aluna do curso de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente se prepara para ingressar no mestrado em Estudos Literários, pela mesma instituição.

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QUEM SÃO

PROJETO EDITORIAL Editora Matinta CAPA//ILUSTRAÇÕES Anna Mancini EDIÇÃO Anelise Freitas REVISÃO Otávio Campos CONSELHO ANDERSON PIRES DA SILVA ANDRÉ CAPILÉ LAURA ASSIS OTÁVIO CAMPOS

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Segunda edição impressa desta revista de poesia. Produzida pela Matinta Editora e distribuída pela Casa Empiria. Ajude-nos a continuar publicando conteúdo sobre poesia. Consulte o site www.ogaribaldirevista.wordpress.com, acesse as primeiras cinco edições e envie seus textos. E-mail: casaempiria@gmail.com


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BOOKS & CO.

facebook.com/editoramatinta editoramatinta.wordpress.com editoramatinta@gmail.com


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