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04OGaribaldi REVISTA SÊLO ⌖ O GOLPE
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Revista disponibilizada gratuita e virtualmente. Produzida pela Casa Empiria. Envie seus textos para o e-mail casaempiria@gmail.com, mas antes consulte as diretrizes e colunas exclusivas no site www.ogaribaldirevista.wordpress.com. Ajude-nos a continuar publicando conteĂşdo sobre literatura.
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Setembro é um mês de coisas tristes, mas também é mês de adubar. O fim estava próximo; acabou, mas é fênix. Começamos daqui, nesse tratado sobre a tristeza, para respirar todo o ar de um lugar que ainda não existe. Editando as linhas como quem dirige 1 carro 1 ponto 0, ano 78, saímos do transe. Quando a vida não cabe a vida só cabe. Venha ver o circo rodar pela cidade, porque as nuvens saem do lugar.
Chegando, OGaribaldi.
Juiz de Fora, setembro de 2015.
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MANIFESTO
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© Isabela D’Avila 2015 JF PARQUE MUNICIPAL
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SUMÁRIO
O POEMA D.R. ONDE TERMINA O DIA A COISA ESTRANHA NO MUNDO CORRESPONDENTE POEMA SAÍDA QUEM ESTÁ EQUIPE
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O POEMA XLI MARIANA BASÍLIO
A Igor Stravinsky
Três movimentos.
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Foto de Aëla Labbé
Um primeiro ato – a nascer. Era o compasso de um céu que se abria, nas garatujas de um pardal a rodear sutilezas. Tocavam-me. A tocar uma primeira impressão um sonho de infância a tocar o que não se tem. Eu era menina. Eu era menino. E pulava com meus órgãos a saltar
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o câmbio das estações, a pular as cordas e os nós que os adultos eram em si. Uma primeira nota. Um primeiro tom. Ouvia-se os meus berros ao longe, porque a minha infância era um aquário incendiário eu buscava os artifícios em fogos de água para que notassem o meu crescimento os anelares em meus dedos, para que me vissem como uma criatura de vestido
a vestir o crescimento com os cabelos penteados eu cantava a cantar águas de março eu simplesmente uma sintonia de perdas e ganhos aos dez – dos anos do tempo do brio faceiro de minha infância 90. O segundo ato doeu-me mais. A suportar o insuportável, vi um mundo cruel de percevejos dominadores que pisoteavam os elefantes porquanto se comia do bem o mal rastelava em nossos terrenos que naufragavam enquanto eu era uma jovem um jovem uma sombra a se perder e sorrir inocente nas calçadas cruas nas ruas repletas de bêbados e equilibristas
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um tom agudo eu falava eu pedia
clemência mas a vida simplesmente passava em preto e branco. Mas os olhos, não. Os olhos eram coloridos Os olhos regalavam-se de segunda a sexta-feira os olhos esculpiam o mundo em meu sonho de juventude e eu me rasgava toda quando conhecia os clarões de relâmpago que se passavam em meu desejo de existência e Rimbaud me tirava o sono em noites me tirava as pupilas em pícaras aos dezesseis – dos medos. dos causos, dos montes estrelares a me libertar
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lareiras. O TERCEIRO trágico ato ocorreu-me esta manhã. Notei que envelhecia desesperadamente mais cinco anos por noite mais dez anos por estrofe! Eu tinha a idade de um dinossauro e saltava as janelas da imaginação como se pudesse correr corroendo as esferas das casas em busca de uma busca que não se sabe e se quer buscar mais do que a própria vida e a poesia ah, a poesia abraçava-me as orelhas quentes para que o efeito do sol me cobrisse devagar o fundo dos sonhos – mesmo que deles surgissem um conjunto galáctico
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me chamando a fugir louca e nua eternamente
eu sei mais cinco anos por noite passaria mais cem anos! por livro para que o crescimento de uma velha mulher que eu era, do velho homem que eu era se desse e se estabelecesse em cordilheiras impenetráveis. A MÚSICA hoje toca mais alto é um fim é um começo eu sinto a cidade a calar meus ombros e amasso amasso os papéis da memória e sou coxas amassadas
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sou coxas a cruzar os oceanos de farelos dos pães benditos pães de um Deus que me beija a testa e me flecha o coração, assim durmo e acordo profundamente hoje.
Em três movimentos o pavimento de meu
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peito se abriu em cravos em três movimentos o pavimento se ruiu e se encantou nas luzes da noite, piscando ao longo das casas no último lugar que se escalaria em minha alma. Em três movimentos.
[D.R.] por Farley Rocha
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ONDE TERMINA O DIA por Mariana Mello
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M
eu dia terminou há anos, num lugar que não me lembro exatamente onde ficava. Só me lembro das paredes verdes, dos lençóis timbrados,
dos fios, tubos e bolsas plásticas penduradas em hastes metálicas. Me lembro do barulho da televisão. Alguém gritava GOOOOOOOL. Me lembro do elevador do terceiro andar, do sofá com estampa colorida, do corredor bege e do cheiro que inundou o quarto quando abriram a caixa de esfihas para a gente comer. Só que agora não faz diferença. O dia acabou naquele local que meu cérebro fez questão de esquecer. Mas graças aos céus, ele não me deixou esquecer de você. Como poderia? A gente passou tantos anos juntos, demos tantas risadas
juntos, caminhamos por tantos caminhos juntos. E olha que nem era preciso fazer tudo o que você fez por mim. E você fez mesmo assim. Ninguém mandou, ninguém precisou. Você fez por vontade própria e eu nunca vou ser capaz de agradecer. A menos que um dia eu consiga falar a língua do além, a menos que eu espere a hora chegar. Aí sim eu vou poder te contar tudo o que aconteceu depois que o dia terminou. Você nem disse adeus, não é? Você já sabia que essa palavra significa muito, e que no fundo, ninguém vai embora em definitivo. Poxa, tinha uma quantidade de coisas que você sabia e que infelizmente ninguém mais vai saber. Quisera eu conhecer os nomes de todas as bandas de rock. Quisera eu saber 17
inventar engenhocas como você inventava. Quisera eu ter o cuidado com as pessoas que você tinha. Quisera eu saber contar piadas como você contava. Mas como diz aquele imenso clichê, querer não é poder. Mas se eu pudesse, me lembraria mais aquele lugar. Pena que na minha cabeça só ficaram alguns fragmentos. O dia? 9 de julho. O signo do zodíaco? Câncer. A flor do jardim? Violeta. O parque? Da saudade. O nome? Era o de um rei coração de leão. O parentesco? Irmão da mãe, o único. É só do bendito lugar que não consigo me lembrar. Um dia eu talvez consiga, num dia em que eu não esteja cansada demais para cansar você. Num dia que talvez termine em outro lugar menos terrível. Num dia que eu provavelmente irei me lembrar de onde o dia foi terminar.
A COISA ESTRANHA HOMELESS: MUITO & POUCO por Catarina Souza y Silva
noprincípiomuitoe entãovaificandotu do me iopratrás&sem sentido porquenãoépouco &vocêpercebequeé poucodentrodotal muito
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NO MUNDO com Jorge Pereira
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DESTINO Y SOLEDAD
En aquella tarde remota, nos acordamos de la primera vez que nos conocimos. Era el año 1975, y la lluvia caía fría y leve en los árboles del campo. Cecília me besó y desde entonces hemos estado juntos. Yo creo en la idea de que existían entre nosotros algunos puntos que permitieron una conexión entre las almas. Pero ahora que ella murió, resta en mí una especie de destino fragmentado. El mundo es cada vez más enigmático.
© Isabela D’Avila 2015 JF UFJF
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CORRESPONDENTE Marcus Groza traduz Gabriela Clara Pignataro
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SUDESTADA
Salí a cortar los campos llené la casa de flores no necesito mover las piedras
para traer hacia mí la montaña, el sólo traspaso de los cuerpos modifica la fisonomía del paisaje
No intento alterar la dirección del sembrado para cambiar la cosecha 22
puedo extraer el deseo de raíz y trasplantarlo en la tierra que yo elija
No me es preciso mover las piedras: soy la montaña compacta por fuera líquida por dentro
no estoy sobreviviendo me muevo sobre el tiempo como el magma potencia de fuego, protege el cristal hasta la ruptura que descubra el brillo necesario para correr de noche 23
sobre el suelo ácido del río sin lastimarnos
La sudestada fuè una cachetada somos un barrio encendiendo sus luces para ver la tormenta que lavará el hielo
y la sangre en la entrada de nuestras casas
Salí a cruzar los campos un coyote me comió ahora escribe sacudiéndose el polvo del desierto mientras 24
el vapor de la ducha lo inunda todo, dejo de escuchar mi forma para ser el anillo cayendo en el volcán, mi perro ladrándole a las noticias en la radio.
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Sudestada
saĂ a cortar os campos enchi a casa de flores nĂŁo necessito mover as pedras para trazer atĂŠ mim
a montanha o simples transpassar dos corpos já modifica a fisionomia da paisagem
Não pretendo alterar a direção da semeadura para mudar a colheita posso extrair 26
o desejo de raíz e transplantá-lo para uma terra da minha escolha
não preciso mover as pedras: sou a montanha compacta por fora líquida por dentro
não estou sobrevivendo me movo sobre o tempo como o magma potência de fogo protege o cristal até a ruptura que descobre o brilho necessário para correr de noite 27
sobre o solo ácido do rio sem nos ferirmos
A sudestada foi uma bofetada somos um bairro acendendo suas luzes para ver a tormenta que lavará o gelo
e o sangue na entrada de nossas casas
saí a cruzar os campos um coiote me comeu agora escreve sacudindo a poeira do deserto enquanto 28
o vapor do banho o inunda todo deixo de escutar minha forma para ser o anel caindo no vulcão meu cachorro latindo para as notícias do rádio
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© Isabela D’Avila 2015 JF MORRO DO IMPERADOR (visão do São Mateus)
POEMA O AMOR FAZ DA GENTE UM ESCRAVO DE UGANDA A SERVIÇO DE IDI AMIN DIEGO MORAES
O silêncio da paz está no seu peito Quando deito minha cabeça nele de madrugada Quando deito de crimes que cometi pela manhã Defendendo estelionatários no fórum de São Paulo Só Franz Kafka sabe o quanto é doloroso ser advogado Nesta cidade empestada de psicopatas Nesta metrópole que se mata por 1 real Te vejo nua Resplandecente Lendo os poemas daquele búlgaro logo pela manhã Tomo banho Visto meu terno cheio de sangue Você diz “passa na farmácia e compra pílulas novas. Minha menstruação atrasou. Você precisa gozar fora esse mês. Um bebê agora foderia tudo”
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Encho minha bolsa com processos pesados Como o do maníaco que matou 27 médicos do SUS Por vingança Por não terem atendido seu filho com asma numa tarde chuvosa de domingo Você pisca da cozinha Manda beijos Pede que pegue sua mãe no salão de beleza E leve para casa da sua tia Só deus sabe o quanto odeio sua mãe Relevo 31
Passo a terceira marcha no meu Honda Civic Ignoro as besteiras que ela fala com as unhas pintadas de vermelho e a cabeça cheia de bobes imitando dignamente a dona Florinda Canto mentalmente Belchior enquanto sua mãe não para de falar num casamento chique Poderia chutá-la agora mesmo do carro, mas estragaria tudo Não nego as coisas que minha mulher pede O amor faz da gente um escravo de Uganda A serviço de Idi Amin.
SAÍDA ORGANISMO NOTÍVAGO por Rodrigo Rocha e Mário José dos Santos
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C
heguei ao curso de Filosofia da universidade por caminhos tortuosos; depois de mil voltas, cheguei. Logo na entrada, já em algumas conversas prévias, fiquei sabendo que deveria ir procurar saber sobre o professor que agora vos apresento como motivo destas passagens. Mário José dos Santos é uma figura inenarrável. Simples e ao mesmo tempo um complexo de atitudes, gestos, palavras, movimentos, que não poderíamos por agora fazer passar de um breve esboço, como se diz pelos corredores do andar: “Mario é um amor de pessoa”. Exímio contador de causos, pescador de grandes feitos, que pode a qualquer momento surpreendê-lo com uma citação pitagórica tão viva quanto o
enlace das peripécias do anzol, e que, como todo grande sujeito, transita entre o popular e o erudito sem que cause outras impressões que não sejam exatamente as impressões de uma inteligência sonora e sempre concatenada. Pois bem, cheguei e não sabia como fazê-lo sem atropelar os bois, como chegar a sua sala junto aos poleiros das corujas. Fazia lá uma disciplina com ele, mas escutava que o grande lance era mesmo conhecer sua sala, bater um papo diretamente, entre os intervalos, tomar um café, ouvi-lo de maneira mais descontraída. Daí, um belo dia distribuiu para nós, alunos, uma cópia de um dos textos que havia confeccionado mais recentemente, quando então veio à ideia, mastigando por duas ou três semanas, o desenho do seguinte plano: escrever diálogos com seus textos de interlocução. O objetivo era devolvê-los para que pudéssemos ler e revisar, contando com sua famosa receptividade. Numa troca de horário, na espreita, entreguei o escrito. E me surpreendi, pois, no final de semana seguinte, Mário bateu em meu ombro, no meio de uma reunião, dizendo que já estava com o texto corrigido e pontuado: — Passa lá depois que seu texto já está na minha sala — em tom suave, inconfundivelmente tranquilo, me encorajando, enfim, a chegar mais perto. Fui e, de lá pra cá, afinei estes diálogos textuais mais e mais, descobrindo um autor honesto, de maneira que pudesse promover as variações filosofantes para os temas que trata tão particularmente, finalizando um plano feliz. O objetivo, desde o início, era expandir as conversas para apontamentos criativos. Inclusive, várias vezes me li e reli, confrontei ideias, retomei e talhei. Espero que o brilho de todo este processo de aproximação, que envolveu tanto a leitura dos textos quanto esta agradabilíssima amizade, atinja seus (re)cantos.
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FILOSOFIA E ESTÓRIA por Mário José dos Santos
Como é salutar, abrir os olhos, qualquer manhã, não importa se repleta de sol ou nublada e lembrar-se de um sonho bom ou da real possibilidade de retomar os projetos de vida ensejados. Como é reconfortante esse borbulhar da vida interior, rasgando os diques das dificuldades e dos desafios inerentes à condição humana. É preciso vibrar para poder viver. Essa experiência, viver, quando elevada ao nível da consciência, é, sem dúvida, uma das mais complexas. Há aqueles que confundem dificuldades reais com impossibilidades imaginárias. Onde buscar e como renovar, então, as forças imprescindíveis para sustentar-se frente aos desafios que o viver impõe de forma inevitável? Não há como fugir à responsabilidade de ser livre e ter que escolher entre entregar os pontos ou sacudir o medo e recontar os degraus de uma conquista árida que ainda não terminou. Fato é que viver bem não é fácil, seja qual for a circunstância que nos é dada. O sol está para o corpo, como o Bem está para a vida interior. Mas, viver bem é mais difícil do que bronzear o corpo. Faz parte das minhas reminiscências uma estória de duas moscas que sobrevoavam, no curral de uma fazenda, uma lata de leite e, por descuido, ali caíram. As duas iniciaram uma luta desesperada pela sobrevivência. Nadam, batem as asinhas frágeis o quanto podem. Nadam e… nada. Estavam ambas, no entender de suas minúsculas inteligências, fadadas à morte iminente. Uma delas, bem pessimista, como sói acontecer entre seres humanos tão diferentes, declara: é o fim, não há
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mais o que fazer. A outra, movida ainda à esperança (combustível cada vez mais raro), mais confiante, otimista, acreditando na possibilidade de sobreviver, bate com mais intensidade as asas. Essa persistência foi premiada. De tanto bater as asas contra o leite gordo, formou-se uma consistente bolinha de manteiga. Equilibrou-se sobre ela, secou as asinhas cansadas, deitou por alguns segundos os olhos consternados sobre a amiga semimorta e partiu para a vida reconquistada. A estória é simples, mas seu ensinamento é profundo e denso de significado. Tem muito a ver com a postura que assumimos diante das provações e tropeços que perfilam de forma inexorável a existência humana. É inegável o quadro de fragilidade, de impotência e de pequenez a que estamos submetidos. Não há como crescer, como realizar-se e manter-se num nível razoável de serenidade sem as necessárias provisões e providências. Pensa-se com avareza, fala-se em profusão e decide-se com medo. A falação, o mais das vezes, esconde o vazio das próprias convicções. A filosofia, nessa oportunidade, nos remete a um campo mais seguro. Ela gosta de falar sobre o que é e não sobre as aparências e o que parece ser. Quer dizer. É preciso ver bem. Com clareza. É essa a nossa realidade? Confortável ou incômoda, no momento, ela terá um desfecho que depende em tudo da ousadia de continuar batendo as asas da confiança e da coragem. Vir à tona ou submergir no leite da problemática existencial requer atitudes sábias e estas só acontecem nos momentos de sadia reflexão. Muitas pessoas estão ficando cada vez mais intranqüilas, temerosas e agressivas. Abandonaram a visão histórica, progressiva e adotaram como norma de vida o fatual, o efêmero e o passageiro. Vejam como se pode recarregar um espírito combalido. “Há homens que lutam por um dia e são bons; há outros que lutam por um ano e são melhores; há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons e há homens que lutam toda uma vida. Só esses últimos são imprescindíveis”. A filosofia adverte: não basta decorar e repetir um pensamento desse quilate. É urgente vivê-lo.
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ENTRE DUAS MOSQUINHAS CAÍDAS NA LATA DE LEITE por Rodrigo Rocha
Dia desses tive o prazer de me encontrar com um daqueles textos que, na raridade da sua clareza, convida para que possamos refletir filosoficamente. Recolhi do texto um sentido que, no ressoar dessas minhas palavras, instigadas pelas outras, faço desdobrar-se; o autor, professor Mario José dos Santos1, traçara um ponto de contato entre “Filosofia e Estória”, titulo do seu artigo. A proposta, cumprida singularmente, conta uma fabulosa passagem entre duas mosquinhas, que ao encontrar-se com uma situação adversa, reagem de maneiras bem diferentes, à dificuldade encontrada. Uma delas, pelo melhor saber e coragem, enquanto a outra, lamuriosa, entrega-se pelo caminho. A estória resume, no fundo, uma sabedoria infinita, que diz: maior é aquele que livre pode escolher a vida, com todo vigor e determinação, para sobrevoar acima dos rasteiros ramos secos da planície do deserto, ligeiro. No âmago da cena criada, a escolha, é o ponto de fuga para nós, uma possibilidade do prometido para esta reflexão. A filosofia, na medida em que vem nos dizer sobre a condição de ser para liberdade, coloca a escolha, como ponto determinante em qualquer uma das ações que empregamos no mundo. É preciso escolher, e na escolha de cada um, vai à impressão daquilo que se é. E mais, na ação, o Eu, se transforma, e transforma igualmente seu redor. Portanto, a inércia dos corpos, das atitudes, da não presença, se esteriliza em uma incapacidade de transformação. Transformação que acompanha o ritmo da própria vida. O Movimento que leva-me cair, leva-me também a levantar, e incentiva-me no SANTOS, Mario José dos, Filosofia e estória, Texto retirado http://www.ufjf.br/filosofia/complementos/artigos-2/filosofia-e-estoria/ 22 de abril de 2015. 1
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prosseguir. A beleza desta harmonia está em uma dinâmica intrínseca deste complexo que chamamos ser humano. Agora, sejamos sinceros, o ser humano comporta mazelas terríveis, que na doença se intensificam até assemelhar-se a própria morte, que é a última e finalíssima parada da sua trilha, até antes mesmo da hora marcada. Inventor genioso de escapes poderá tentar a distância de si mesmo, criando distorções para seu crescimento que serão muito impertinentes. Como coloca o professor, somos capazes de confundir “dificuldades reais com impossibilidades imaginárias”. Isto significa que a dissimulação acaba por criar inversões de valores que colocam pequenos pesos no altar de adoração do não querer, e converte todo potencial de superação no mínimo, relevando como principal motivo para seu definhar, barreiras incontornáveis e intransponíveis, feitas contraditoriamente da raspa de seu espirito, que leva a não mais “bater as asinhas, com leite pelo nariz”. Ficam pelo caminho, mesmo os gigantes, que, só não podem ser, porque a imagem distorcida que criam de si mesmos não comporta pequenas atitudes que devem tomar na ocorrência dos momentos. Muitas são as mentes sobrecarregadas de prometidas horas de um segundo tempo, que saltam das suas mãos eternamente, e ficam transtornadas, e se cansam de tentar. Urge o “tornar-se o que se é”, passam os fracos, seguem os destemidos. Mas não nos enganemos, nem sempre estamos aptos para dizer quem está ou não contaminado, justo porque a natureza desta doença pode tomar as mais variadas formas, tornando mais complicado o diagnóstico de cada caso. É como no poema de Paulo Henriques Brito: “Há doenças que são mais que doenças,/ que não apenas são à vida infensas/ como oferecem algumas recompensas/ que tornam mais urgente e mais difícil/ o já por vezes inviável ofício/ de habitar o íngreme edifício.”2
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BRITO, Paulo Henriques, Tarde, Companhia das letras, 2007.
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© Isabela D’Avila 2015 JF MORRO DO IMPERADOR (visão do São Mateus)
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QUEM ESTÁ FARLEY ROCHA (Espera Feliz, 1982) é autor de Mariposas ao Redor (2011, formato bookblog) e colunista do Portal Espera Feliz (www.portalesperafeliz.com.br). MARIANA MELLO (s.n., 1991) é, além de escritora, blogueira e tradutora. Graduada em Jornalismo e atualmente estuda tradução na Universidade Federal de Juiz de Fora. Assina como M.M Drack.. DIEGO MORAES (Manaus, 1982) é um escritor brasileiro. Publicou os livros A fotografia do meu antigo amor dançando tango (2012), A solidão é um deus bêbado dando ré num trator (2013), ambos pela editora Barteblee, e Um bar fecha dentro da gente (2015), livro de poesias publicado pela Douda Correria, de Lisboa. MARIANA BASÍLIO (Bauru, 1989) é pedagoga, mestre em Educação e poeta. Autora do livro-poção Nepente (Giostri Editora), escreve atualmente a segunda obra, sombras & luzes – dedicada ao lusitanismo surreal de Herberto Helder. Tem poemas publicados em revistas e fanzines do Brasil e de Portugal, como Efémera, Inefável, Conexão Literatura, Limbo, Subversa, Raimundo, Garupa e mallarmargens. AËLA LABBÉ (Brittany, 1986) é francesa, dançarina e fotógrafa. A partir de um acidente ficou impossibilitada de dançar, o que a levou a se envolver com fotografia. A partir daí criou diferentes mundos registrando-os em diversos abismos humanos, abismos imagéticos em que a artista define como “pedaços de memória”. RODRIGO ROCHA (Juiz de Fora, 1990) é aluno do curso de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Conservatório Estadual de Música Haidèe França Americano. Atualmente trabalha na conclusão de seu primeiro livro de poemas. É colunista do site desta revista.
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JØRGE PEREIRA (Recife, 1994), escritor pernambucano, colabora com a Revista SubVersa de literatura luso-brasileira (Portugal) e com a Revista Flaubert (Brasil). Publicou contos e poemas em coletâneas de autores ibero-americanos no México e na Espanha, e colaborou com curadoria artística para o “Escrever nas Margens em Portugal” e com o “Espacio cultural Violeta”, no Chile. Em 2015, lançará seu primeiro livro de poesia bilíngue, L’ànima de les coses, pela editora Sucesso. MÁRIO JOSÉ DOS SANTOS (s.n., s.d.) possui graduação em Filosofia pela Faculdade D. Bosco de Filosofia Ciências e Letras (1973) e mestrado em Filosofia, pela Universidade Federal de Juiz de Fora(1988). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Juiz de Fora, atuando, principalmente nos temas de antropologia e subjetividade. MARKUS GROZA (s.n., s.d.) é palavrero, professor e devoto do céu violado. Autor dos livros Do Buraco à Poça (Patuá, 2013) e Sossego Abutre (Patuá, 2015). Graduado em Filosofia (USP), mestre em Artes (UNESP), atualmente é doutorando em Artes Cênicas (UNIRIO) e coeditor da Revista Abate (www.revistasauva.com.br). GABRIELA CLARA PIGNATARO (Buenos Aires, 1985) escreve, é atriz e fotógrafa. Publicou La última oleada se llevó todo menos esto (Editorial Subpoesía 2013), Eso que no se parte es una respuesta (Difusión Alterna 2014), Muta (Nulu Bonsai 2014). Atualmente, trabalha no projeto La belleza random de los días de investigação fotográfica analógica e em seu primeiro romance. Escreve resenhas, poemas e ensaios em lasalvajelucidez.tumblr.com e principalmente observa e respira. ISABELA D’ÁVILA nasceu em 1975 na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente vive em Juiz de Fora e é fotógrafa parceira da Casa Empiria. CATARINA SOUZA Y SILVA (s.n., 1983) é incompleta.
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QUEM SÃO
PROJETO EDITORIAL Casa Empiria CAPA Mundo Novo, por Isabela D’Avila EDIÇÃO Anelise Freitas REVISÃO Otávio Campos CONSELHO CONSULTIVO ANDERSON PIRES DA SILVA (UFJF / Brasil) ANDRÉ CAPILÉ (PUC Rio / Brasil) DANILO LOVISI (Université Paris Diderot - Paris 7 / França) LAURA ASSIS (PUC Rio / Brasil) OTÁVIO CAMPOS (UFJF / Brasil) PEDRO CRAVEIRO (Faculdade de Letras da Universidade do Porto / Portugal)
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Casa ► Empiria ATELIÊ DE CONTEÚDO EM PRODUÇÃO EDITORIAL
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